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Diário Ilustrado - Hemeroteca Digital

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Manuel Correia, quando Tengarrinha, vindo da prisão, tentou recuperar o seu<br />

antigo emprego.<br />

Para trás ficaram algumas ousadias que começaram com a corajosa cobertura<br />

jornalística das eleições legislativas de 1961, muito participadas e vivas,<br />

prosseguiram com a prática de deixar “buracos” nas notícias que a Censura<br />

cortava e terminaram com a publicação, na primeira página, de um dos<br />

panfletos assinados por Henrique Galvão e Humberto Delgado, apelando à<br />

sublevação popular, lançados sobre Lisboa (e apanhado na rua por um dos<br />

redactores) em Novembro de 1961 por um avião da TAP que fazia a carreira<br />

Casablanca-Lisboa, desviado pelo oposicionista Palma Inácio.<br />

A Censura não perdoou esse desafio. “O jornal foi pesadamente multado e o<br />

Manuel Correia foi chamado ao Salazar. Nessa altura percebi que Salazar<br />

dirigia directamente a Censura, ele próprio presidia às reuniões, quer através<br />

do director da PIDE, quer dos inspectores que lhe davam informações”.<br />

Depois deste episódio, os irmãos Correia não arriscaram mais: passaram a<br />

dirigir um jornal mansinho, que morreu aos poucos. Na véspera do<br />

encerramento, era feito heroicamente (ou loucamente) apenas por dois<br />

jornalistas: Trabucho Alexandre e Dinis Machado.<br />

Tinham definitivamente terminado aqueles dias em que, a propósito da<br />

atribuição dos prémios mensais de reportagem (a administração distinguia<br />

mensalmente a melhor reportagem, atribuindo ao redactor um prémio<br />

pecuniário), alguém escreveu: “O nosso jornal é diferente. Não queremos fazer<br />

um diário de tesoura e cola mas combater pela verdade e pela justiça,<br />

descobrir e, agitando problemas, encontrar soluções. Temos, por nós,<br />

juventude e entusiasmo ilimitados. Temos vontade de acertar. E temos ainda,<br />

porque unidos nunca seremos demais, a noção do dever que deve nortear<br />

qualquer jornal digno deste nome: a camaradagem total e o respeito pela<br />

opinião dos outros”. 5<br />

Fontes e Bibliografia citadas:<br />

Entrevistas realizadas pelos autores com antigos jornalistas do <strong>Diário</strong> <strong>Ilustrado</strong><br />

e de outros jornais; Cabrera, Ana (2006): Marcello Caetano: Poder e Imprensa,<br />

Lisboa, Livros Horizonte; Palla, Maria Antónia (1989): “A renovação da<br />

imprensa, apesar da censura”, in Portugal Contemporâneo, António Reis<br />

(Direcção), Lisboa, Publicações Alfa, pp. 207-220; Rodrigues, Miguel Urbano<br />

(2002): O Tempo e o Espaço em que Vivi, I – Procurando um Caminho, Porto,<br />

Campo das Letras.<br />

5 <strong>Diário</strong> <strong>Ilustrado</strong>, 1 de Fevereiro de 1957, pág. 6.<br />

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