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Aspectos clínicos e neuropatológicos da síndrome de ... - SciELO

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Síndrome <strong>de</strong> Wernicke-Korsakoff<br />

Zubaran, C. et al.<br />

A suscetibili<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal à <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> Wernicke-Korsakoff<br />

po<strong>de</strong> estar relaciona<strong>da</strong> às diferenças<br />

individuais nos sistemas enzimáticos <strong>da</strong> tiamina.<br />

Diferentes níveis <strong>de</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong> foram encontrados<br />

entre o pirofosfato <strong>de</strong> tiamina (TPP), que age como<br />

coenzima e a transcetolase, uma enzima relaciona<strong>da</strong><br />

com o metabolismo <strong>da</strong> glicose no cérebro 14 .<br />

Apesar disto, poucas evidências permanecem para<br />

suportar a hipótese <strong>de</strong> uma anormali<strong>da</strong><strong>de</strong> genética<br />

<strong>da</strong> trascetolase nos pacientes com Wernicke-Korsakoff<br />

3 , sugerindo a participação <strong>de</strong> fatores não genéticos<br />

para explicar as diferenças entre estes pacientes<br />

e os controles hígidos 34 . Em um estudo imunoquímico<br />

e enzimático com fibroblastos <strong>de</strong> pacientes<br />

com <strong>síndrome</strong> Wernicke-Korsakoff, a transcetolase<br />

apresentou-se cataliticamente <strong>de</strong>feituosa, mas imunoquimicamente<br />

normal 27 .<br />

É notável que em torno <strong>de</strong> um terço dos pacientes<br />

parecem ser resistentes ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

patologia, a <strong>de</strong>speito do consumo substancial <strong>de</strong> álcool,<br />

sugerindo uma vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> altamente variável<br />

para a patologia 31 .<br />

ACHADOS FISIOLÓGICOS<br />

Há evidência <strong>de</strong> uma associação entre o déficit<br />

cognitivo e diminuição do fluxo hemisférico cerebral,<br />

bem como entre anormali<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais e per<strong>da</strong>s<br />

cognitivas específicas. O tempo <strong>de</strong> trânsito<br />

vascular cerebral dos pacientes com doença <strong>de</strong><br />

Alzheimer e psicose <strong>de</strong> Korsakoff é lentificado 23 .<br />

Fluxo sangüíneo cerebral diminuído foi encontrado<br />

em pacientes alcoolistas crônicos, com melhora<br />

em to<strong>da</strong>s as estruturas corticais e subcorticais <strong>de</strong><br />

pacientes com psicose <strong>de</strong> Korsakoff após tratamento<br />

com tiamina e abstinência alcoólica 20 .<br />

PATOLOGIA<br />

O achado mais comum nos estudos <strong>de</strong> necrópsia<br />

são alterações microscópicas nos corpos mamilares 8,16 .<br />

Buscando avaliar o impacto do consumo “mo<strong>de</strong>rado”<br />

<strong>de</strong> álcool no cérebro, pesquisadores avaliaram<br />

medi<strong>da</strong>s cerebrais como peso cerebral, espaço<br />

pericerebral e volume ventricular <strong>de</strong> bebedores mo<strong>de</strong>rados<br />

(30-80g <strong>de</strong> álcool/dia), alcoolistas (mais <strong>de</strong><br />

80g <strong>de</strong> álcool/dia), alcoolistas com cirrose, alcoolistas<br />

com encefalopatia <strong>de</strong> Wernicke e grupo-controle<br />

<strong>de</strong> abstêmios ou bebedores <strong>de</strong> até 20g álcool/dia.<br />

Embora não tenham encontrado diferença estatisticamente<br />

significativa entre as medi<strong>da</strong>s cerebrais <strong>de</strong><br />

bebedores “mo<strong>de</strong>rados” e grupo-controle, há uma<br />

tendência sugerindo per<strong>da</strong> <strong>de</strong> tecido cerebral, com<br />

Rev. Saú<strong>de</strong> Pública, 30 (6), 1996 605<br />

peso cerebral reduzido, aumento do volume ventricular<br />

e do espaço pericerebral, sendo maior a per<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> substância branca 17 .<br />

A substância branca é forma<strong>da</strong> <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />

70% <strong>de</strong> água, 20% <strong>de</strong> lipídios e 10% <strong>de</strong> proteína<br />

39 , sendo que a maioria <strong>de</strong>stes dois últimos elementos<br />

está combina<strong>da</strong> na forma <strong>de</strong> membranas<br />

(mielina particularmente). Lesões <strong>de</strong>smielinizantes<br />

mostram aumento do conteúdo <strong>de</strong> água e <strong>de</strong>créscimo<br />

no conteúdo <strong>de</strong> lipídio, invertendo o processo que<br />

ocorre durante a maturação cerebral 12 . O padrão <strong>de</strong><br />

alteração dos conteúdos <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> lipídio <strong>da</strong> substância<br />

branca cerebral <strong>de</strong> pacientes alcoolistas é semelhante<br />

ao padrão <strong>de</strong> alteração do envelhecimento<br />

e ao padrão <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong>smielinizantes observados<br />

no estudo supracitado 17 .<br />

Ratos expostos ao álcool por cinco meses apresentaram<br />

uma redução significativa <strong>da</strong>s ramificações<br />

<strong>de</strong>ndríticas no hipocampo, que reverteu após dois<br />

meses <strong>de</strong> abstinência 37 .<br />

Estudos <strong>clínicos</strong> e neuroradiológicos indicam que<br />

déficits <strong>clínicos</strong> e retraimento cerebral (“brain shrinkage”)<br />

são reversíveis em uma proporção <strong>de</strong> alcoolistas,<br />

preferencialmente jovens, seguindo um período<br />

prolongado <strong>de</strong> abstinência alcoólica 6, 47 . Deve haver<br />

duas alterações patológicas na substância branca<br />

como resultado do abuso <strong>de</strong> álcool: um componente<br />

irreversível <strong>de</strong>vido à morte neuronal, similar ao padrão<br />

observado na <strong>de</strong>generação walleriana 9 e um<br />

componente reversível, caracterizado por alterações<br />

sutis, <strong>de</strong> difícil i<strong>de</strong>ntificação por exames histológicos<br />

<strong>de</strong> material humano 17 .<br />

Em 131 casos <strong>de</strong> encefalopatia <strong>de</strong> Wernicke diagnosticados<br />

por autópsia, com maioria <strong>de</strong> alcoolistas,<br />

somente 26 pacientes foram diagnosticados durante a<br />

vi<strong>da</strong> 16 , levantando a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que o <strong>da</strong>no cerebral<br />

tiamina-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte possa existir em muitos alcoolistas<br />

antes <strong>de</strong> ser suspeitado 31 . A hipótese <strong>de</strong> um<br />

<strong>da</strong>no cerebral cumulativo po<strong>de</strong>ria explicar por que a<br />

memória é tão notoriamente afeta<strong>da</strong> em muitos alcoolistas<br />

e por que a psicose <strong>de</strong> Korsakoff não respon<strong>de</strong><br />

tão bem à tiamina. Dois tipos <strong>de</strong> lesão po<strong>de</strong>riam estar<br />

presentes muito antes <strong>de</strong> existir indícios <strong>clínicos</strong> para<br />

<strong>de</strong>tectá-las: as lesões corticais, com possível per<strong>da</strong><br />

neuronal, <strong>de</strong>vido a neurotoxici<strong>da</strong><strong>de</strong> provoca<strong>da</strong> pelo<br />

álcool, e a patologia <strong>de</strong> regiões basais do cérebro, agrava<strong>da</strong>s<br />

pela <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> tiamina 31 .<br />

DIAGNÓSTICO<br />

O diagnóstico clínico <strong>da</strong> encefalopatia <strong>de</strong> Wernicke,<br />

<strong>da</strong> psicose <strong>de</strong> Korsakoff ou <strong>da</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> Wernicke-Korsakoff<br />

ain<strong>da</strong> não está sob domínio médi-

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