DE: Maria Dolores POR: Francisco Cândido ... - Portal Luz Espírita
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57 – CORAÇÃO E VIDA<br />
E falava que eu era uma rosa entre as rosas,<br />
Fosse para enfeitar as festas deleitosas<br />
Ou estender no mundo o aroma da alegria...<br />
Minhas aspirações caíram, uma a uma,<br />
Minha mãe não me quis em profissão alguma,<br />
Vestia-me, orgulhosa, o corpo esbelto e fino,<br />
Dizia que brilhar traçava-me o destino...<br />
Casei-me, tive um filho e, depois de dez anos,<br />
Troquei meu lar feliz por prazeres mundanos,<br />
Meu esposo rogava o meu regresso em vão.<br />
Meu filho fez-se logo um belo rapagão,<br />
Vendo-me as aventuras, certo dia,<br />
Ele, menino e moço, veio visitar-me,<br />
Condenou-me os costumes sem alarme,<br />
Falou e lamentou-se em voz severa,<br />
De conhecer por mãe a mulher má que eu era...<br />
De cabeça alterada em cocaína,<br />
Revoltei-me, ataquei-o...Atrás de uma cortina<br />
Apanhei um revolver no meu quarto,<br />
Voltei à sala e apertei o gatilho,<br />
Num tiro certo, assassinei meu filho!...<br />
Depois de vê-lo morto, junto a mim,<br />
Voltei a arma contra o próprio peito<br />
E matei-me por fim!...<br />
Em seguida, a pausa demorada,<br />
Contou a própria vida e deu o próprio nome...<br />
Na pavorosa mágoa que a consome<br />
A mulher prosseguia, consternada:<br />
— Nunca mais vi ninguém das pessoas que amei<br />
Para mim, tudo é noite e a noite me carrega<br />
Porque vivo sozinha, triste e cega<br />
Decerto obedecendo alguma lei<br />
Que não sei compreender nem explicar...<br />
A enfermeira caiu em pranto ardente<br />
E indagou da mulher, amargamente:<br />
— E se encontrasses neste mar de trevas<br />
Nos furacões de dor a que te levas<br />
A mãe que te entregou à rebeldia,<br />
Teu coração que chora a perdoaria?<br />
— Nada tenho a perdoar —<br />
Disse a pobre atada ao sofrimento —<br />
Minha mãe era um anjo em forma de mulher,