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Para além dos gêneros<br />

uma classificação imediata do seu conteúdo ou forma. Fortes<br />

e feéricos, reflexivos e altamente metafóricos – escapam aos<br />

rótulos da percepção literária habitual.<br />

Ainda assim, alguém poderá argumentar que o núcleo do<br />

texto apoia-se na figura da menina cortada de um lado e do<br />

outro, eixo de todo o discurso. Embora a história apareça<br />

apenas em um segmento, a situação é narrada com o espírito<br />

de parábola, distante de qualquer viés realista.<br />

O autor maneja uma série de imagens e metáforas (planta,<br />

raízes, mulher cortada, coluna vertebral, martelo),<br />

conseguindo imprimir um colorido poético ao texto, que<br />

extrapola o âmbito das especulações filosóficas. Ora, isso<br />

justificaria justamente o argumento de que “Introdução ao<br />

cotidiano” pertence à categoria do poema em prosa. Mesmo<br />

mantendo a inclinação filosófica, sua aposta maior vai em<br />

direção da poesia.<br />

Mas também será possível a contrapartida de considerar o<br />

mesmo texto em outra direção, como uma anotação abstrata,<br />

interessante sem dúvida, mas que ultrapassa o campo poético<br />

e resvala para o tom reflexivo. Considerá-lo, pois, como um<br />

poema em prosa, deixaria de dar importância a esse viés<br />

político e ativista que anima a voz do poeta.<br />

Qual dos dois argumentos terá mais razão? Fica em aberto.<br />

Photomaton & Vox destaca-se por ser um livro que cultiva a<br />

radicalidade da visão estética associada a uma escrita<br />

original. Livro raro e inquietante, é difícil de ser<br />

categorizado. Contribui para esse espírito a mistura de<br />

assuntos, ora de inspiração autobiográfica (o acidente de<br />

carro, a infância e a adolescência na ilha, as primeiras<br />

viagens etc.), ora tratando dos dilemas éticos e formais da<br />

poesia.<br />

De maneira contundente, Helder posiciona-se numa<br />

linhagem de autores que acreditam na palavra poética<br />

enquanto expressão da identidade pessoal, e não foge ao<br />

desafio: “Esta/ espécie de crime que é escrever uma frase<br />

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