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Lindsay Waters. Inimigos da esperança, por Ana Elisa Ribeiro

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governo para vali<strong>da</strong>ção e reconhecimento de cursos de graduação, contam­se as obras <strong>da</strong><br />

biblioteca, especula­se sobre a relação livros/alunos, mas muitas vezes não se questiona quais<br />

dessas obras foram efetivamente consulta<strong>da</strong>s e estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Alunos compram livros? Mesmo<br />

quando desenvolvem seus doutoramentos? Não raro é possível testemunhar centros<br />

universitários privados encherem estantes de obras novinhas, sem qualquer sinal de uso,<br />

apenas para receberem avaliadores do Ministério <strong>da</strong> Educação. O que fazer diante disso?<br />

<strong>Waters</strong>, em tom inflamado, abor<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> problemas como as relações de poder entre colegas e<br />

as publicações eletrônicas, nova saí<strong>da</strong> para a publicação inadverti<strong>da</strong> de qualquer coisa que se<br />

faça sob a rubrica <strong>da</strong> pesquisa acadêmica. Para o autor, é preciso pensar, inclusive em<br />

silêncio, antes de espalhar pelo mundo tanta irreflexão.<br />

(...) temos uma situação obviamente injusta, na qual pessoas com poucas<br />

publicações estão na condição de cobrar de seus ‘colegas’ mais jovens<br />

realizações <strong>da</strong>s quais eles mesmos nunca foram capazes. (...) A única<br />

justificativa que os mais velhos têm para proceder dessa forma é que eles<br />

podem agir assim, o que é de enlouquecer, uma vez que aumentar<br />

exigências não tem intrinsecamente na<strong>da</strong> a ver com pesquisa acadêmica. (p.<br />

56)<br />

Qual é a relação entre pensamento, erudição e publicação? Essa é a questão central do livro,<br />

que não oferece respostas prontas, apesar do tom taxativo <strong>da</strong> discussão que apresenta.<br />

Certamente, este ensaio causou fúria no meio acadêmico norte­americano e causaria, de<br />

qualquer forma, aqui ou em países que adotaram políticas produtivistas na área acadêmica.<br />

“Por que presumimos – sim, presumimos – que haja uma correlação entre loquaci<strong>da</strong>de e o<br />

exercício <strong>da</strong> inteligência que convém a um professor?” (p. 83) Para <strong>Waters</strong>, há exemplos de<br />

pensadores maravilhosos que nunca publicaram na<strong>da</strong>. E para quem critica o editor de Harvard,<br />

o argumento é de que não se vive mais fora desse sistema.<br />

“Ora, no mundo acadêmico, o que temos é uma cacofonia” (p. 84), vozes que não soam<br />

harmônicas e parecem não dizer na<strong>da</strong>. Um barulho feio que torna difícil qualquer distinção<br />

entre o bom e o que parece bom. O ruim sumido entre palavras encontra<strong>da</strong>s em dicionários<br />

antigos. Sobre isso, <strong>Waters</strong> adianta que<br />

A alfabetização pode ser um bem comum, mas – como tantos outros bens<br />

comuns – não tem lugar próprio. E os contribuintes estão muito insatisfeitos<br />

com os professores, <strong>por</strong>que não gostam do que lêem sobre determinados<br />

luminares, empregados <strong>por</strong> universi<strong>da</strong>des im<strong>por</strong>tantes, cuja fala obscura e<br />

impenetrável mais parece entulho. Melhor jogar todos eles no lixo. (p. 24)<br />

Além do não ter algo a dizer, há ain<strong>da</strong> a linguagem enruga<strong>da</strong> de textos que parecem cortinas<br />

de fumaça. Impenetráveis, gabam­se <strong>da</strong> pouca legibili<strong>da</strong>de como se ela lhes loteasse melhor<br />

os parcos leitores possíveis. Se é que esses eventuais “leitores” o são e se é que não estejam,<br />

também, fingindo um diálogo que não há. A publicação de obras deixa de ser contribuição<br />

Hipertextus (www.hipertextus.net), n.2, Jan.2009

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