14 CAPA A cada 10 homens casados, seis confessam a infidelidade. E acredite se quiser: as mulheres não ficam atrás e, no caso delas, a proporção é de quase cinco infiéis a cada dez. Os motivos para buscar as relações extraconjugais são muitos. Já o número de casais que conseguem reconstruir o relacionamento depois de uma traição é mínimo. <strong>Dia</strong> <strong>Melhor</strong> - Ano III - Edição 32 - Novembro de 2012
<strong>Dia</strong> <strong>Melhor</strong> - Ano III - Edição 32 - Novembro de 2012 15 Não é à toa que a comédia Trair e Coçar É Só Começar está entre os maiores sucessos do teatro brasileiro, há 23 anos em cartaz. Além do texto divertido e da produção acertada, que merecem todo o crédito, a peça versa sobre um tema atual. Atualíssimo. Afinal de contas, os brasileiros nunca traíram tanto. Ou pelo menos não de uma forma tão escancarada. Segundo pesquisa coordenada pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 60% dos homens e 47% das mulheres admitem já terem traído seus parceiros pelo menos uma vez. Outro estudo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo constatou que apenas um em cada quatro brasileiros casados espera que o parceiro seja fiel. Em outras palavras, estamos falando de um tempo em que a traição não só é uma prática comum, como é também socialmente aceita. A fidelidade, em si, já não parece ser um valor tão importante. “Acho que existe até certo modismo, uma pressão para que os mais jovens, especialmente, traiam. O discurso contemporâneo é o de que é preciso aproveitar a vida e isso implica em experimentar outras relações, com pessoas diferentes”, opina Arlete Gavranic, psicóloga, terapeuta sexual e coordenadora dos cursos de pós-graduação em terapia sexual do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática. Para a especialista, a traição também está muito ligada à questão da autoestima, principalmente no caso das mulheres. “Algumas pessoas traem para se vingar do parceiro, quando estão se sentindo extremamente magoadas ou desprezadas”, afirma. Outra justificativa comum para as traições é o desgaste natural do relacionamento e a falta de estímulo para o sexo. “Quando a relação esfria e há uma insatisfação com o parceiro, cresce o risco da traição. O desejo momentâneo por outra pessoa também pode levar à infidelidade”, observa a psiquiatra Fernanda Piotto Fralonardo, professora da Faculdade de Medicina do ABC. Virtual e real Qualquer que seja o fator motivador da traição, a verdade é que o desenvolvimento das tecnologias veio facilitar – e muito! – a vida dos infiéis, em especial os sites de relacionamento e as redes sociais. No Brasil, o site Ashley- O desgaste natural do relacionamento pode levarà traição, diz Fernanda Fralonardo, professora da FMABC madison.com, especializado em relacionamentos extraconjugais, já conta com 980 mil cadastrados. “O site foi lançado há um ano e, a cada dia, três mil novos cadastros são feitos por aqui. Nos Estados Unidos, demoramos cinco anos para atingir o mesmo número de pessoas”, comemora Eduardo Borges, diretor geral do site no Brasil. A rede permite que as pessoas se cadastrem de maneira absolutamente sigilosa e que conheçam parceiros num raio de 20 quilômetros, para se relacionar de maneira virtual, para uma noite de amor ou mesmo uma relação estável. “As pessoas também podem procurar parceiros em outras cidades. Uma pessoa que vive em São Paulo, mas viaja muito para o Rio de Janeiro, por exemplo, pode escolher ter um amante na cidade maravilhosa”, explica Borges. Para muitas pessoas, a traição virtual não conta. Para outras, mesmo o sexo descompromissado, sem um vínculo afetivo, não representa uma quebra no acordo de confiança estabelecido entre o casal. “Uma traição eventual pode acontecer, se a pessoa se sentir seduzida, inebriada etc. De modo geral, a traição que se mantém, quando o homem ou a mulher contam com um amante fixo, é a que precisa ser avaliada com mais cuidado”, diz Arlete. Perdoar ou não perdoar, eis a questão! Depois de consumada a traição, a reconstrução do relacionamento exige bastante dedicação. E a primeira decisão a ser tomada, quando a infidelidade é revelada ou descoberta, é se vale a pena continuar com a relação estável. Para a psicanalista Regina Lins, autora de O livro do amor, o sexo fora do casamento merece uma boa dose de tolerância. “A nossa cultura ensina que quem ama não tem vontade de continua