Contos Desta e Doutra Vida - O Consolador
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- Louvável propósito, mas, na preservação da saúde orgânica, é justo repousar, nos moldes<br />
em que os outros descansam, a fim de que a vida no corpo nos ofereça rendimento para o<br />
melhor.<br />
- Faço, porém, muito mais... Tenho o leito eriçado de pregos, castigando a volúpia da carne...<br />
- Nobre intento, sem dúvida... Entretanto, vale mais combater a nós mesmos, na prestação<br />
de serviço ao próximo, para que a nossa luta não seja vã...<br />
Silenciando o pupilo, indagou o chefe:<br />
- E a tarefa de que te incumbiste?<br />
- Mestre – replicou o mensageiro, desapontado -, sinceramente devo dizer que os cuidados<br />
na apresentação da virtude me tomam o tempo todo...<br />
Nisso, belo cavalo de alvo pêlo entrou no átrio da casa, conduzindo pobre ferido, cujas<br />
últimas energias o deserto esgotara...<br />
O velho orientador comandou as providências iniciais de socorro e, trazendo o discípulo à<br />
frente do soberbo animal que escarvava o solo, falou com bondade:<br />
- Pois olha, meu filho, este cavalo igualmente mora no retiro da Natureza, não se expressa<br />
em linguagem humana, veste-se todo em cabelos cor de neve, come apenas a erva do chão,<br />
dorme ao relento, é calçado de cravos perfurantes e não passa de um cavalo... Mesmo<br />
assim, é o companheiro dos viajantes fatigados e, ainda agora, acaba de arrebatar um<br />
mercador prestimoso à sepultura de areia...<br />
Em seguida, demandou o interior para confortar o recém-chegado, deixando o aprendiz a<br />
meditar quanto à vontade da virtude vazia.