4 afalgarve 10.10
a propóSiTo do iTália-Sérvia As imagens de violência gratuita que há dias passaram em todas as televisões, captadas antes do jogo Itália-Sérvia da fase de apuramento para o Europeu de 2012, a disputar na Polónia e Ucrânia, são o exemplo claro de tudo aquilo que o futebol dispensa, por nada ter a ver com os valores do desporto. Mediático, popular, de acesso democrático, o futebol tornouse nos últimos anos o refúgio de frustrações sociais e modos de vida pouco consentâneos com a urbanidade ou o respeito pelos outros. Um dos países em que tal fenómeno atingiu maior expressão foi a Inglaterra, com os tristemente célebres “holigans” a deixarem a sua marca em vários acontecimentos desportivos, até as autoridades tomarem medidas duras de repressão a comportamentos de todo desprovidos de racionalidade. Ainda hoje muitos dos mais temidos desordeiros têm de apresentar-se nos postos das forças de segurança à hora dos jogos das suas equipas, como medida de precaução. A Holanda tomou medidas na mesma linha e conseguiu controlar a turbulência crescente que se registava, em particular na cidade de Roterdão, e agora foi a vez de suceder uma ocorrência pouco vista, pois os radicais adeptos sérvios acabaram por aproveitar uma deslocação da sua equipa nacional para espalharem violência e ódio. Esta gente não é adepta do futebol – aproveita-se do futebol para exteriorizar frustrações e problemas de ordem social, política ou racial, entre outras, e é bom que quem olha para tais fenómenos saiba claramente fazer essa destrinça, o que, infelizmente, nem sempre acontece. Em Portugal, a crispação verbal tem subido de tom e são vários os especialistas que admitem a possibilidade de, com o agravamento da crise económica que se anuncia, o futebol ser utilizado como escape de um diverso leque de frustrações. Estaremos preparados para a eventualidade de surgirem problemas de uma dimensão comparavelmente superior à dos incidentes da época passada na final da Taça da Liga, no <strong>Algarve</strong>? É bom que se diga que estes últimos acontecimentos resultaram de refregas entre as autoridades e claques organizadas, daquela gente que durante o jogo fica boa parte do tempo de costas para o mesmo, fazendo a sua festa, que não se deve confundir com a festa do futebol. Adeptos violentos e que não queiram viver a festa do futebol não são bem vindos aos estádios e a prevenção das autoridades deveria começar por aí – quem se desloca aos estádios alcoolizado ou sob o efeito de substâncias toxicodependentes e com comportamentos agressivos não faz falta ao jogo. Esses grupos de desordeiros têm um grupo de defensores que os considera parte importante da festa; mas estudos recentes apontam como uma das causas da crescente quebra do número de espectadores nos estádios a violência, a insegurança e a presença das claques. Ainda estamos, em Portugal, a tempo de tomar medidas dissuasoras antes que algo de muito grave aconteça: é tempo de agir, prevendo fenómenos de crescente crispação, para que os nossos estádios continuem a ser um espaço de festa e de comunhão de um ideal: a paixão pelo futebol. 5