Marca <strong>Sagrado</strong> Fui matricula<strong>da</strong> no <strong>Colégio</strong> com três anos e só abandonei a instituição quando terminei o 12ºAno, com 18 anos. Passei 15 anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> no <strong>Colégio</strong>; ao longo <strong>de</strong>ste período estabeleci amiza<strong>de</strong>s duradouras, e encontrei o reforço <strong>de</strong> valores essenciais que também me foram transmitidos em casa, e que hoje sustentam uma metodologia <strong>de</strong> trabalho e uma relação com os outros basea<strong>da</strong> na honesti<strong>da</strong><strong>de</strong>, rigor, trabalho árduo e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ultrapassar limitações. Completado o 12ºAno no <strong>Colégio</strong>, fiz uma licenciatura em Teatro, pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora. Há menos <strong>de</strong> um mês, terminei um mestrado intensivo <strong>de</strong> 11 meses no Departamento <strong>de</strong> Performance Studies, na New York University (USA). Dividi<strong>da</strong> entre o estudo, concepção e organização <strong>de</strong> projectos artísticos, pretendo continuar a minha formação académica (doutoramento) e o trabalho no Festival Escrita na Paisagem, um projecto artístico baseado no Alentejo, no qual colaboro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006. É claro para mim que as aprendizagens que fiz no <strong>Colégio</strong> foram e continuam a ser essenciais no meu percurso. Rita Valente Quando vou a Lisboa, poucas vezes tenho tempo para conseguir visitar to<strong>da</strong>s as pessoas <strong>de</strong> quem tenho sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s. No entanto, faço sempre questão <strong>de</strong> tentar visitar a Irmã Helena Silva, minha professora <strong>de</strong> matemática no 9º ano, e ocasionalmente consigo também passar pelo <strong>Colégio</strong>. São visitas <strong>de</strong> nostalgia, amiza<strong>de</strong> e gratidão. Quando terminei o 12º ano em 1999 e ingressei no Instituto Superior Técnico para tirar o curso <strong>de</strong> Engenharia Electrotécnica, não imaginava a marca que o <strong>Colégio</strong> me <strong>de</strong>ixaria, e a importância <strong>de</strong>ssa marca no meu progresso pessoal e profissional. Escrevo estas palavras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cambridge, olho para o fim <strong>da</strong> tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> chuva sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e lembro-me <strong>da</strong>s manhãs <strong>de</strong> Inverno quando chegava <strong>de</strong> mochila carrega<strong>da</strong> para mais um dia <strong>de</strong> aulas. Só aqui cheguei porque passei pelo nosso <strong>Colégio</strong>. A exigência com que me <strong>de</strong>parei na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> não me apanhou surpreendido pois sabia estu<strong>da</strong>r, apren<strong>de</strong>r e explorar. A atenção aos <strong>de</strong>talhes, absolutamente necessária para conseguir perceber a sério o que se está a fazer, tinha sido em mim inculca<strong>da</strong> no meus anos no <strong>Colégio</strong>. Aquilo que eu em tempos tinha classificado como irrelevâncias – como por exemplo centrar o traço <strong>de</strong> fracção no sinal <strong>de</strong> igual <strong>de</strong> uma equação (obrigado Irmã!), expressar claramente os passos que me levaram a um raciocínio, ou escrever bem Português – <strong>de</strong> repente surgiram como vantagens <strong>de</strong> imensa importância. Sei <strong>de</strong> vários colegas meus, em diversos cursos, que sentiram o mesmo. Nos meus dois últimos anos do curso tive oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar essa <strong>riqueza</strong> pe<strong>da</strong>gógica quando <strong>de</strong>i aulas <strong>de</strong> Probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e Estatística, também no Técnico. As aulas que <strong>de</strong>i foram um reflexo <strong>da</strong>s aulas que recebi no <strong>Colégio</strong>. Quando me formei fui trabalhar numa consultora, analisando factores <strong>de</strong> risco financeiro. Algum tempo mais tar<strong>de</strong>, fui aceite para fazer um doutoramento na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cambridge na área <strong>de</strong> Neurociência (uma mistura <strong>de</strong> Neurologia e Matemática). No meu tempo <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>nte naquela que é a melhor universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Europa, estabeleci duas empresas <strong>de</strong> tecnologia, uma ONG para analisar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino superior em países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, fui senior officer <strong>da</strong> mais antiga socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates do Reino Unido, e fui membro <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s secretas, filosóficas, económicas e religiosas. Conheci e conversei com chefes <strong>de</strong> estado, car<strong>de</strong>ais, donos <strong>de</strong> impérios, autores e actores, e fui convi<strong>da</strong>do para ir à Líbia analisar o sistema <strong>de</strong> ensino supe- rior do país. Hoje em dia investigo métodos inovadores <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> <strong>de</strong>mências (como a doença <strong>de</strong> Alzheimer) e estou a estabelecer um fundo <strong>de</strong> investimento em instrumentos <strong>de</strong> música raros (Stradivarius, etc) em conjunto com o xerife do con<strong>da</strong>do <strong>de</strong> Cambridgeshire. Como po<strong>de</strong>m ver não posso dizer que até agora tenha percorrido um caminho linear, mas assim o escolhi. Garanto-vos no entanto que só pu<strong>de</strong> saltar <strong>de</strong> campo em campo, relacionando-me com multidões <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> todo o género, do mais simples ao mais eminente, porque o <strong>Colégio</strong> me formou a pensar para lá <strong>de</strong> compartimentos e a tratar todos como irmãos. Mais que o saber conversar sobre quase qualquer assunto, o <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong>ixou em mim uma profun<strong>da</strong> marca espiritual no meu Catolicismo, que tem sido absolutamente fun<strong>da</strong>mental no meu percurso. Converso e janto com o Capelão <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> quem fiquei amigo, to<strong>da</strong>s as semanas. Só com um centro espiritual consegui não me diluir por entre tanta experiência. Fui abençoado com o <strong>Colégio</strong>. Peço-vos que nunca se esqueçam que também todos vocês o são. Boa viagem. João Pereira Não tenho a menor dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> parte do que sou hoje como pessoa e como profissional se fez nesses anos em que cresci no <strong>Sagrado</strong> – os anos «difíceis» <strong>da</strong> adolescência, que nesse colégio que ain<strong>da</strong> hoje reconhecemos como «nosso» passaram <strong>de</strong>pressa… e bem. Com risos, com lágrimas, com sonhos, com <strong>de</strong>sgostos, com dúvi<strong>da</strong>s, com fé, e com muita, muita amiza<strong>de</strong> – tanta que ain<strong>da</strong> hoje algumas <strong>da</strong>s minhas maiores amigas são do tempo do <strong>Sagrado</strong> (pois, nessa altura só havia rapazes até ao 4º ano…), e já lá vão trinta anos. Trinta anos em que cumpri o sonho que começou a nascer nas salas (hoje <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>s) a que chamávamos «cavalariças», o sonho <strong>de</strong> ser jornalista, <strong>de</strong> correr mundo, <strong>de</strong> contar histórias, <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> dizer/escrever o que está mal, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> algum modo, «aju<strong>da</strong>r» o mundo através do que via e escrevia. O sonho, claro, não se cumpriu exactamente como imaginava. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que a vi<strong>da</strong> é muito mais dura, muito mais inespera<strong>da</strong> e também muito mais gratificante do que supomos <strong>de</strong>ntro dos muros protegidos do colégio e <strong>da</strong> família. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, também, é que esses anos em que aí nos solidificamos são fun<strong>da</strong>mentais para aguentar os embates que nos esperam e para continuar a acreditar, apesar <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as crises, que a melhor coisa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é vivê-la. Sou jornalista na notícias magazine, a revista que sai aos domingos com o Diário <strong>de</strong> Notícias e o Jornal <strong>de</strong> Notícias. Depois <strong>de</strong> ter passado por outros meios <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> ter tido a sorte <strong>de</strong> viver experiências extraordinárias, estou hoje a escrever num meio que me permite reflectir sobre o que se passa à minha volta e partilhar essas experiências com meio milhão <strong>de</strong> portugueses. E que me permite – não menos importante – conseguir essa proeza difícil para as mulheres do século XXI, que é equilibrar uma vi<strong>da</strong> profissional intensa e absorvente com a vi<strong>da</strong> familiar. E sentir sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s do tempo em que no <strong>Sagrado</strong> imaginávamos como iríamos ser agora… Sofia Barrocas 6 | O L H A R E S | R E V I S T A D O C S C M | A B R - J U N 2 0 1 0 O L H A R E S | R E V I S T A D O C S C M | A B R - J U N 2 0 1 0 | 7