PROJETO DE MESTRADO alterado_1 - LERF - USP
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1. Introdução<br />
Inúmeros cientistas têm ultimamente voltado sua atenção para as florestas<br />
tropicais, possuidoras de mais da metade das espécies da biota mundial (Wilson, 1997;<br />
Gentry, 1992; Toledo, 1987), mas cuja sobrevivência está ameaçada por rápida<br />
destruição, que já as reduziu a apenas 7% da superfície terrestre (Myers, 1997).<br />
Ecossistemas como esse, que abrigam elevados índices de espécies endêmicas, são<br />
considerados áreas prioritárias de conservação (Myers et al. 2000). Em 1988, algumas<br />
destas áreas foram denominadas “hotspots de biodiversidade” (Myers, 1988),<br />
estabelecendo 25 deles na Terra, sendo a Mata Atlântica o quarto mais ameaçado<br />
(Myers et al. 2000).<br />
Segundo Wilson (1997), uma área correspondente a 99% da cobertura da Mata<br />
Atlântica do Brasil já foi devastada em decorrência de fatores como o desmatamento, a<br />
industrialização e a agricultura extensiva (Myers, 1997), mais praticados a partir de<br />
1950, além da elevada densidade populacional registrada na área (MMA, 2002). Tal<br />
devastação ameaça também um rico patrimônio histórico e diversas comunidades<br />
tradicionais, que constituem parte importante da identidade cultural do país (MMA,<br />
2002) e que, segundo Plotkin (1988), estão desaparecendo mais rapidamente do que as<br />
florestas em que habitam.<br />
No litoral brasileiro, são encontrados cinco tipos de comunidades tradicionais de<br />
modos de vida muito semelhantes, porém, de distintas origens (Diegues e Arruda 2001;<br />
Willems, 2003), caracterizadas por possuírem conhecimentos, práticas e crenças<br />
intimamente relacionados a processos adaptativos, perpetuados através de transmissão<br />
cultural sobre as relações entre os seres vivos e seu ambiente (Berkes, 1999), como, por<br />
exemplo, os caiçaras, no litoral sudeste, e os descendentes de açorianos em Santa<br />
Catarina.<br />
Na região do litoral norte do Paraná ao litoral sul do Rio de Janeiro, os caiçaras<br />
são habitantes rurais nativos da Floresta Atlântica, descendentes de índios e<br />
portugueses, que sobrevivem hoje da agricultura de pequena escala, da pesca e da<br />
extração de recursos do ambiente, como plantas empregadas para fins alimentares e<br />
medicinais (Begossi, 1998). Segundo Willems (2003), esta dependência dos recursos<br />
naturais para a sobrevivência atribui aos caiçaras um caráter altamente adaptativo ao<br />
ambiente no qual estão inseridos.