28.04.2013 Views

Leia mais... - De Sambas e Congadas

Leia mais... - De Sambas e Congadas

Leia mais... - De Sambas e Congadas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Souza ainda ressalta que no século XIX, de uma<br />

maneira geral, a dança ocorrida no momento do<br />

cortejo fazia referência a uma batalha entre o rei<br />

cristão do Congo e outro reinado pagão, num enfrentamento<br />

cantado e dançado, dramatização na<br />

qual quem vencia era o soberano rei do Congo.<br />

Outro aspecto interessante a ser considerado é a<br />

presença de figuras no folguedo que remetem a<br />

Carlos Magno e seus cavalheiros, e a representação<br />

da conversão de infiéis ao cristianismo por<br />

meio das batalhas entre mouros e cristãos. Esta<br />

temática estava presente no livro “Carlos Magno<br />

e os Doze Pares de França”, publicado no Brasil<br />

em 1820, o qual foi usado como material para<br />

de catequese dos escravos (ver CORRÊA, 1981;<br />

DIAS, 2001).<br />

As <strong>Congadas</strong> e suas coroações dos reis<br />

negros contribuíram para a formação de uma<br />

identidade baseada na herança cultural africana,<br />

uma identidade negra católica. Contudo, como<br />

nos explica Souza (2005), foram dois os significados<br />

assumidos pelas <strong>Congadas</strong>, um relacionado à<br />

percepção por parte dos senhores e líderes ligados<br />

ao poder no período escravista, e outro que<br />

diz respeito aos negros escravizados. Para os primeiros,<br />

este significado desdobrava-se em uma<br />

concepção que atestava o domínio destes grupos<br />

~ 90 ~<br />

negros por parte do poder escravocrata. Já para<br />

a comunidade negra, as celebrações de coroação<br />

do rei do Congo representavam a configuração e<br />

o fortalecimento de uma identidade comum entre<br />

africanos de diferentes nações que, por meio<br />

destes festejos, se sentiam pertencentes a uma comunidade<br />

católica negra e, em âmbito <strong>mais</strong> geral,<br />

à sociedade brasileira. Nas palavras de Souza<br />

(2005, p. 90):<br />

A rememoração simbólica do reino<br />

africano católico afirmava uma “africanidade”,<br />

ou seja uma conexão com<br />

a África construída a partir do Brasil<br />

e da experiência aqui vivida, que indicava<br />

uma particularidade da comunidade<br />

negra, uma identidade própria<br />

que a distinguia mesmo quando adotava<br />

o catolicismo e outras tradições<br />

de origem portuguesa como a organização<br />

em irmandades leigas.<br />

<strong>De</strong>ssa maneira, de acordo com Paulo Dias<br />

(2001), além de haver certo controle social por<br />

parte do senhor, do branco que permitia a realização<br />

da festa, por outro lado, a celebração da<br />

Congada representava também visibilidade social<br />

para os negros, assim como possibilitava um mínimo<br />

de inserção social destes na sociedade colonial<br />

brasileira. Contudo, também por meio da<br />

coroação do rei do Congo a comunidade negra<br />

podia rememorar e celebrar elementos de sua<br />

cultura ancestral.<br />

No território brasileiro encontramos contemporaneamente<br />

diferentes tipos de <strong>Congadas</strong>,<br />

com estruturas de funcionamento diversificadas,<br />

tanto no que se refere aos personagens integrantes<br />

do cortejo, quanto à configuração musical e ins-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!