30.04.2013 Views

direitos sociais, organização de interesses e corporativismo no brasil

direitos sociais, organização de interesses e corporativismo no brasil

direitos sociais, organização de interesses e corporativismo no brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DIREITOS SOCIAIS E CORPORATIVISMO NO BRASIL<br />

e participativa. É sabido que a participação em associações envolve, em<br />

qualquer lugar, apenas parcelas mi<strong>no</strong>ritárias da população. Entretanto, as<br />

organizações <strong>de</strong> interesse tornaram-se parte importante da vida nacional.<br />

Hoje, as relações <strong>de</strong> trabalho <strong>no</strong> meio rural são intermediadas por sindicatos.<br />

Os gover<strong>no</strong>s têm <strong>de</strong> se haver com associações <strong>de</strong> servidores, as administrações<br />

locais com as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bairro, e assim por diante. Nas favelas<br />

cariocas, além da polícia, das igrejas e do crime organizado é sempre<br />

possível encontrar uma associação <strong>de</strong> moradores. Negociar um pacto<br />

social requer, entre outras coisas, uma ampla sala <strong>de</strong> reuniões para abrigar<br />

a numerosa representação sindical patronal e <strong>de</strong> empregados.<br />

O aumento da vida associativa criou formas que se aproximam do<br />

<strong>corporativismo</strong> "societário" ou neo<strong>corporativismo</strong> (Schmitter, 1974,<br />

1978). Na verda<strong>de</strong>, o termo é aqui empregado apesar da sua relativa imprecisão<br />

conceitual. Com efeito, para alguns autores, entre os quais o próprio<br />

Schmitter, a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> <strong>corporativismo</strong> se aplica apenas às organizações<br />

<strong>de</strong> interesse constituídas a partir <strong>de</strong> clivagens ocupacionais e que,<br />

a<strong>de</strong>mais, caracterizam-se por serem únicas na sua jurisdição, <strong>de</strong> filiação<br />

compulsória, não competitivas, hierarquicamente or<strong>de</strong>nadas, reconhecidas<br />

pelo Estado e <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> mo<strong>no</strong>pólio da representação (Schmitter,<br />

1978:10-11). Neste sentido preciso, apenas os organismos sindicais — patronais<br />

e <strong>de</strong> empregados — mereceriam tal qualificação. Entretanto, como<br />

observa Offe, ao interagirem diretamente com as agências governamentais<br />

típicas do Estado intervencionista, os grupos <strong>de</strong> interesse ten<strong>de</strong>m<br />

a assumir status e funções públicas ou semipúblicas, que os aproximam<br />

do mo<strong>de</strong>lo neocorporativo e os diferenciam do padrão pluralista e competitivo<br />

<strong>de</strong> atuação, característico dos grupos <strong>de</strong> pressão 10 .<br />

No entanto, a capacida<strong>de</strong> ampliada <strong>de</strong> <strong>organização</strong> da socieda<strong>de</strong> não<br />

aumentou o enraizamento social dos partidos. De fato, aquela extensa, diversificada<br />

e complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizações <strong>de</strong> interesse constituiu-se e<br />

funciona com gran<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência frente ao sistema partidário, ainda<br />

que com ele estabeleça conexões. Estas não são, porém, <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a <strong>de</strong>finirlhes<br />

o perfil social, i<strong>de</strong>ológico ou programático, à maneira do que ocorreu<br />

com os partidos social-<strong>de</strong>mocratas europeus. Nem chegam a constituir<br />

"<strong>interesses</strong> especiais" fortemente representados <strong>no</strong> interior dos partidos,<br />

à maneira americana. No presente, a relação <strong>de</strong> <strong>interesses</strong> e partidos<br />

é fluida, precária e pouco institucionalizada. On<strong>de</strong> excepcionalmente o<br />

inverso ocorre — na secção paulista do PT — a tensão é gran<strong>de</strong> entre o<br />

primado das <strong>de</strong>mandas particulares, típico dos movimentos <strong>sociais</strong>, e a<br />

lógica da agregação hierarquizada <strong>de</strong> <strong>interesses</strong>, que caracteriza os partidos.<br />

Em suma, à maior <strong>organização</strong> da socieda<strong>de</strong> não correspon<strong>de</strong>m partidos<br />

mais fortes na socieda<strong>de</strong>. Ao contrário, parecem estar se cristalizando<br />

dois sistemas diversos e pouco articulados entre si. De um lado, um<br />

complexo sistema <strong>de</strong> intermediação <strong>de</strong> <strong>interesses</strong> que ten<strong>de</strong> ao mo<strong>de</strong>lo<br />

neocorporativista. De outro lado, um sistema <strong>de</strong> partidos cuja lógica continua<br />

sendo prioritariamente a disputa e a acomodação <strong>de</strong> <strong>interesses</strong> das<br />

elites regionais. As consequências possíveis <strong>de</strong>ssa dualida<strong>de</strong> para a expres-<br />

56<br />

(10) Diz ele: "Corporativismo<br />

é um conceito que<br />

não <strong>de</strong>screve uma situação,<br />

mas antes um 'eixo'<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Em<br />

outras palavras, os sistemas<br />

políticos ten<strong>de</strong>m a<br />

ser mais ou me<strong>no</strong>s corporativistas,<br />

mais ou me<strong>no</strong>s<br />

avançados <strong>no</strong> processo<br />

<strong>de</strong> corporativização, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da medida em<br />

que se atribua status público<br />

a grupos <strong>de</strong> interesse<br />

organizados." (Offe,<br />

1983:136).<br />

(11) Para o Brasil, ainda é<br />

válida a observação feita<br />

por Sartori a propósito<br />

dos países lati<strong>no</strong>america<strong>no</strong>s:<br />

"...os estados<br />

lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s são<br />

sem dúvida formados —<br />

isto é, diferenciados e caracterizados<br />

pela estabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> interações — mas<br />

um <strong>de</strong> seus subsistemas, o<br />

partidário, raramente adquiriu<br />

durante seus ciclos<br />

vitais intermitentes, consolidação<br />

estrutural (...)<br />

Em particular, e concretamente,<br />

um sistema partidário<br />

torna-se estruturado<br />

quando contém partidos<br />

<strong>de</strong> massa solidamente entrincheirados"<br />

(Sartori,<br />

1982:273).<br />

(12) O <strong>de</strong>bate sobre a <strong>no</strong>va<br />

Constituição ainda está<br />

em curso e as opiniões<br />

estão muito longe <strong>de</strong><br />

coincidirem. Mario<br />

Brockmann Machado afirma<br />

que a Constituinte<br />

produziu antes um programa<br />

<strong>de</strong> gover<strong>no</strong> do que<br />

um texto constitucional<br />

capaz <strong>de</strong> moldar uma or<strong>de</strong>m<br />

jurídica estável. Uma<br />

opinião mais positiva po<strong>de</strong><br />

ser encontrada em B.<br />

Lamounier e A. <strong>de</strong> Souza<br />

(1989).<br />

(13) Um quadro completo<br />

dos <strong>direitos</strong> <strong>sociais</strong> na<br />

<strong>no</strong>va Constituição po<strong>de</strong><br />

ser encontrado em Ary<br />

Ribeiro (1988).<br />

(14) Para uma interessante<br />

avaliação dos <strong>direitos</strong><br />

sindicais na <strong>no</strong>va Constituição,<br />

ver Rodrigues<br />

(1988:47-53).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!