Henri Lacordaire (Deus e a Liberdade) – Teresa Maria Martins de ...
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<strong>Lacordaire</strong> está eufórico. Já vê tudo resolvido em três dias… “Quer por força” que tudo<br />
esteja resolvido em três dias e não resiste, antes <strong>de</strong> ter certezas, a enviar para o jornal<br />
católico “L”Univers” uma notícia, anunciando que o padre <strong>Lacordaire</strong> está em Roma<br />
on<strong>de</strong> se ocupa com o restabelecimento da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Domingos em França. Que não<br />
encontrou nenhuma dificulda<strong>de</strong> da parte da autorida<strong>de</strong> pontifical nem da parte dos<br />
Dominicanos mas antes aceitação universal. Que tenciona voltar <strong>de</strong> pressa para reunir<br />
homens <strong>de</strong> fé generosa que queiram ingressar com ele no noviciado.<br />
Esta impru<strong>de</strong>nte notícia, publicada em gran<strong>de</strong>s parangonas na primeira página do<br />
jornal, provocou variadas reacções <strong>de</strong> contentamento, receio, contrarieda<strong>de</strong>, censura.<br />
Dom Guéranger rejubilou mas outros amigos, como Mme Swetchine, ficaram chocados<br />
com tanta publicida<strong>de</strong> a um empreendimento tão arriscado que <strong>de</strong>veria ser levado a cabo<br />
com a maior discreção, quase em segredo. <strong>Lacordaire</strong> explica que toda a gente já sabia e<br />
que era melhor ser ele a dizer o que se passava do que se sujeitar a conjecturas caluniosas<br />
sobre o que estaria o padre <strong>Lacordaire</strong> a fazer em Roma. Esta notícia, no entanto, alertou<br />
o Governo e <strong>de</strong> facto começaram secretas movimentações políticas.<br />
Quando <strong>Lacordaire</strong> finalmente falou com os dois car<strong>de</strong>ais da Cúria, Lambruschini,<br />
Secretário <strong>de</strong> Estado, e Sala, Prefeito dos Bispos e dos religiosos, não podia imaginar o<br />
que por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>les já se estava a enovelar, com intrigas a surgirem entre eles, o<br />
representante do governo francês, indignado com aquela ilegalida<strong>de</strong>, o habilidoso internúncio<br />
em Paris, alguns Bispos franceses, cheios <strong>de</strong> dúvidas e receios em relação a<br />
iniciativas duvidosas daquele antigo partidário <strong>de</strong> Lamennais, o Mestre Geral da Or<strong>de</strong>m,<br />
<strong>de</strong>slizando por entre as hostes, ora sugerindo adiamentos ora avanços, a princesa<br />
Borghese <strong>de</strong>itando água na fervura, e até o Geral dos jesuítas, que, com o Padre<br />
Lamarche que navegava impávido sobre tudo isto, é dos que mantêm <strong>Lacordaire</strong> na<br />
esperança.<br />
Munido <strong>de</strong> um belo pergaminho que lhe <strong>de</strong>u o Mestre Geral e que contém o<br />
reconhecimento oficial da próxima restauração da Or<strong>de</strong>m no seu país <strong>de</strong> origem,<br />
<strong>Lacordaire</strong> voltou para França, <strong>de</strong>ixando para trás que se <strong>de</strong>senvencilhassem na batalha<br />
dos comunicados e contra-comunicados secretíssimos. (14 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1838).<br />
Quando chegou a Paris dois candidatos se apresentaram, chamados pelo anúncio do<br />
“L’Univers”, o padre Boutaud e o jóvem Hippolyte Réquédat, leigo, amigo <strong>de</strong> Buchez, o<br />
socialista que se tinha convertido à fé católica. São recebidos <strong>de</strong> braços abertos e é<br />
planeado imediatamente entrarem os três na Or<strong>de</strong>m na Primavera seguinte.<br />
<strong>Lacordaire</strong>, servido e também prejudicado pela fama que alcançou, pois já é uma figura<br />
<strong>de</strong> estatura nacional, sente que precisa elucidar a nação francesa sobre as razões <strong>de</strong>sta sua<br />
<strong>de</strong>cisão, o que o leva a meditar sobre uma brochura que a esclareça. Será a “Mémoire<br />
pour le rétablissement en France <strong>de</strong> l’Ordre <strong>de</strong>s Fréres Précheurs”. Neste escrito, dirigese<br />
ao seu país, pondo assim a opinião pública a seu favor para suplantar as inevitáveis<br />
oposições <strong>de</strong> todo o género. Não envereda pela controvérsia da legalida<strong>de</strong> ou ilegalida<strong>de</strong><br />
do que se intenta fazer, abertamente contra as duas Concordatas <strong>de</strong> 1801 e <strong>de</strong> 1817 e a<br />
Carta <strong>de</strong> 1830, mas faz, serenamente uma refllexão sobre os valores do estado <strong>de</strong> vida