o artigo em formato PDF - Curso de Filosofia - UFC
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o contexto <strong>de</strong> atribuição, <strong>em</strong> uma escala com<br />
graus <strong>de</strong> exigência. 6 O mesmo po<strong>de</strong> ser dito<br />
<strong>de</strong> adjetivos como “alto”, “quente”, “cheio”, que<br />
também passam inquestionavelmente nos testes<br />
<strong>de</strong> gradabilida<strong>de</strong>.<br />
Segundo Stanley, porém, o verbo “saber”,<br />
quando ocorre <strong>em</strong> frases da forma “S sabe que p”<br />
– ou seja, quando ocorre <strong>de</strong> forma proposicional –<br />
não passa <strong>em</strong> tais testes. Por ex<strong>em</strong>plo, as seguintes<br />
frases parec<strong>em</strong> sintaticamente bizarras:<br />
14<br />
(c) Teófilo sabe muito que Lula é o atual<br />
presi<strong>de</strong>nte do Brasil.<br />
(d) Teófilo sabe mais que Glorinha que<br />
Lula é o atual presi<strong>de</strong>nte do Brasil.<br />
Ambas as frases soam sintaticamente probl<strong>em</strong>áticas.<br />
Há, <strong>de</strong> nossa parte, uma impressão<br />
<strong>de</strong> que não são gramaticalmente corretas. E<br />
isso ocorre <strong>de</strong>vido à introdução do modificador<br />
“muito”, na primeira frase, e da construção<br />
comparativa “mais que Glorinha”, na segunda<br />
frase. O verbo “saber”, quando ocorre <strong>de</strong> forma<br />
proposicional, não parece, portanto, admitir<br />
quer modificadores, quer a formação <strong>de</strong> construções<br />
comparativas. Mas, se o verbo “saber”,<br />
quando ocorre <strong>de</strong> tal forma, fosse s<strong>em</strong>anticamente<br />
constituído por requerimentos variáveis<br />
<strong>de</strong> acordo com o contexto <strong>de</strong> atribuição, <strong>em</strong><br />
uma escala com graus <strong>de</strong> exigência, seria<br />
<strong>de</strong> se esperar que admitisse modificadores e<br />
a formação <strong>de</strong> construções comparativas; ou<br />
seja, seria <strong>de</strong> se esperar que o verbo, quando<br />
ocorre <strong>de</strong> forma proposicional, passasse nos<br />
testes <strong>de</strong> gradabilida<strong>de</strong>. Como não passa <strong>em</strong><br />
tais testes, t<strong>em</strong>os uma razão para acreditar que<br />
o verbo “saber”, quando ocorre <strong>de</strong> tal forma,<br />
não é uma expressão s<strong>em</strong>anticamente constituída<br />
por requerimentos variáveis <strong>de</strong> acordo<br />
com o contexto <strong>de</strong> atribuição, <strong>em</strong> uma escala<br />
com graus <strong>de</strong> exigência. Como essa é uma das<br />
teses fundamentais do contextualismo acerca do<br />
conhecimento proposicional, tal posição sofre<br />
ar G u m e n t o S , Ano 2, N°. 3 - 2010<br />
<strong>de</strong> um sério probl<strong>em</strong>a, ao menos na versão que<br />
estamos aqui consi<strong>de</strong>rando.<br />
Porém, como diss<strong>em</strong>os <strong>de</strong> início, não<br />
estamos, aqui, comprometidos com a verda<strong>de</strong><br />
do contextualismo acerca do conhecimento<br />
proposicional. Nosso propósito é <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
um tratamento contextualista para o conhecimento<br />
do que algo é. Teríamos um probl<strong>em</strong>a<br />
<strong>em</strong> mãos, portanto, apenas se o verbo “saber”,<br />
quando ocorre <strong>em</strong> frases da forma “S sabe o<br />
que X é”, também não passasse nos testes <strong>de</strong><br />
gradabilida<strong>de</strong>, como não passa quando ocorre<br />
<strong>de</strong> forma proposicional. Mas, o verbo “saber”,<br />
quando ocorre nessas frases, claramente passa<br />
nos testes <strong>de</strong> gradabilida<strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>re as seguintes<br />
frases:<br />
(e) Sabino realmente sabe o que é o aço<br />
carbono.<br />
(f) Sabino sabe mais do que Teófilo o que<br />
é o aço carbono.<br />
Ao contrário <strong>de</strong> (c) e (d), e tal como (a) e<br />
(b), tais frases parec<strong>em</strong>, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista<br />
sintático, perfeitamente legítimas. E t<strong>em</strong>os, na<br />
primeira, a introdução do modificador “realmente”,<br />
ao lado do verbo “saber” e, na segunda,<br />
a formação <strong>de</strong> uma construção comparativa,<br />
“mais do que Teófilo”, envolvendo o verbo.<br />
Como as frases resultantes da introdução <strong>de</strong> um<br />
modificador ao lado do verbo, e da formação<br />
<strong>de</strong> uma construção comparativa envolvendo o<br />
verbo, são sintaticamente legítimas, o verbo “saber”,<br />
quando ocorre <strong>em</strong> frases da forma “S sabe<br />
o que X é”, claramente admite modificadores e a<br />
formação <strong>de</strong> construções comparativas. Isso significa<br />
que o verbo, quando ocorre <strong>de</strong> tal forma,<br />
passa nos testes <strong>de</strong> gradabilida<strong>de</strong>. T<strong>em</strong>os uma<br />
forte razão, portanto, para acreditar que “saber”,<br />
quando ocorre <strong>em</strong> expressões da forma “S<br />
sabe o que X é”, é uma expressão gradativa, no<br />
sentido <strong>de</strong> ser s<strong>em</strong>anticamente constituída, ao<br />
menos <strong>em</strong> parte, por requerimentos variáveis <strong>de</strong><br />
6 Mas, por que a admissão <strong>de</strong> modificadores, e a formação <strong>de</strong> construções comparativas, seria, por assim dizer, um sintoma <strong>de</strong> que<br />
uma expressão é gradativa? Por que seria <strong>de</strong> se esperar que uma expressão admitisse tais el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> forma a estar associada a<br />
requerimentos que pod<strong>em</strong> variar <strong>de</strong> acordo com o contexto <strong>de</strong> atribuição, <strong>em</strong> uma escala com graus <strong>de</strong> exigência? B<strong>em</strong>, se uma<br />
expressão admite, por ex<strong>em</strong>plo, um modificador como o advérbio ‘muito’ – como <strong>em</strong> ‘muito rico’ – a explicação natural para a<br />
modificação s<strong>em</strong>ântica obtida é que a introdução do advérbio coloca os requerimentos <strong>em</strong> um grau <strong>de</strong> exigência mais alto do que os<br />
atingidos pela expressão s<strong>em</strong> o modificador. Como o papel dos modificadores é gerar uma variação nos requerimentos <strong>em</strong> jogo – no<br />
grau <strong>de</strong> exigência dos requerimentos –, é natural supor que, se uma expressão está associada a requerimentos variáveis <strong>em</strong> graus <strong>de</strong><br />
exigência, ela admitirá modificadores. A explicação para a relação entre a formação <strong>de</strong> construções comparativas e a gradabilida<strong>de</strong><br />
segue uma linha s<strong>em</strong>elhante, mas, por razões <strong>de</strong> espaço, ter<strong>em</strong>os que <strong>de</strong>ixar para o leitor a tarefa <strong>de</strong> analisar tal relação.