Todos os olhares para Curitiba Todo ano no fim de janeiro a cidade de Angoulême, na França, recebe um volume considerável de turistas. O que atrai tanta gente é um festival internacional de histórias em quadrinhos, realizado lá há décadas e hoje o principal da Europa. A importância do evento confunde-se com o município que o abriga. Angoulême tornou-se sinônimo do tema tanto no antigo continente quanto nas Américas. Curitiba viveu dias de Angoulême em julho de 2011, ocasião da Gibicon, primeiro encontro internacional de quadrinhos realizado na capital paranaense. Sediados em diferentes pontos culturais do centro, os debates, as mesas e as exposições projetaram ainda mais a cidade, tanto dentro quanto fora do país. Pessoas de diferentes estados migraram para lá, ansiosas por um contato mais direto com autores, editores e pesquisadores do tema. Não saíram decepcionadas. Repetir sistematicamente a Gibicon significa consagrar essa vocação, inaugurada no ano passado, na edição zero do evento. Assim como Piracicaba tornou-se a capital do humor desde a década de 1970, Curitiba tem todos os atributos para fazer às vezes no quesito quadrinhos. O caminho para isso já começa a ser traçado em 2012, com mais uma realização do encontro, desta vez em outubro – entre os dias 25 e 28. Evento de porte, repete o que há de melhor em outros encontros similares vistos no mundo, mas, registre-se, sem deixar de lado a integração da cidade em torno do evento e a produção local de histórias em quadrinhos. A Gibicon alia com singularidade a realidade paranaense, nacional e internacional. Basta ler a lista de convidados para substantivar essa afirmação. Da Itália, virão alguns de seus principais autores, o grande Liberatore, o roteirista Moreno Burattini PAULO RAMOS | OPINIÃO e o desenhista Fabio Civitelli. Da vizinha argentina, dois de seus principais talentos contemporâneos: Eduardo Risso e Salvador Sanz. Da Alemanha, o inovador Mawil e a maravilhosa Isabel Kreitz. Do Brasil, o rol de autores é ainda maior. Há nomes que se confundem com a história dos quadrinhos no país, como Fernando Gonsales e Watson Portela, e expoentes da nova geração, casos de Laudo, Renato Guedes, Victor Cafaggi, João Montanaro e Danilo Beyruth. De Curitiba, podem ser “ Foto: divulgação A Gibicon, evento de porte, repete o que há de melhor em outros encontros similares vistos no mundo. ” citados Carlos Magno, Benett, Pryscila Vieira, Solda, Pablo Meyer, Andre Ducci, Guilherme Caldas, DW. Há muitos outros autores, como a leitura dos nomes convidados ilustra. Trata-se de uma reunião sempre bem-vinda. Discutir histórias em quadrinhos é uma atividade necessária, como também o é fazê-lo com outras manifestações culturais – o cinema de Gramado, a literatura de Paraty, a animação de São Paulo. Colocar os quadrinhos de Curitiba nesse circuito significa projetar a cidade também nesse tema. Ganha o município. E ganham todos os que apreciam quadrinhos dentro e fora do país. PAULO RAMOS Jornalista, professor de Letras da Universidade Federal de São Paulo, doutor em Letras pela USP, pós-doutor em Linguística pela Unicamp. Líder do Getexto e pesquisador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP. Autor e coorganizador de diversos livros, entre eles Bienvenido – Um Passeio pelos Quadrinhos Argentinos, e A Leitura dos Quadrinhos, pelos quais recebeu o Troféu HQMix. CURITIBA APRESENTA : : OUTUBRO 2012 5