Resolução espontânea da lesão alça de balde do menisco ... - RBO
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Introdução<br />
As lesões meniscais po<strong>de</strong>m ocorrer isola<strong>da</strong>s ou em associação<br />
com lesões ósseas ou ligamentares. Uma <strong>da</strong>s lesões meniscais<br />
menos frequentes é a <strong>lesão</strong> em <strong>alça</strong> <strong>de</strong> bal<strong>de</strong> (AB), que consiste<br />
em uma <strong>lesão</strong> vertical ou oblíqua com extensão longitudinal<br />
e <strong>de</strong>slocamento medial <strong>do</strong> fragmento, normalmente <strong>da</strong><br />
parte central <strong>do</strong> <strong>menisco</strong>, cuja incidência varia <strong>de</strong> 9% a 24%<br />
<strong>do</strong>s casos. A <strong>lesão</strong> AB tem gran<strong>de</strong> importância clínica, uma<br />
vez que o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> um fragmento <strong>do</strong> <strong>menisco</strong> po<strong>de</strong><br />
provocar bloqueio articular, exigin<strong>do</strong> tratamento cirúrgico. Na<br />
literatura, encontra-se apenas uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> <strong>lesão</strong> AB com<br />
resolução <strong>espontânea</strong>, porém sem associação com ligamento<br />
cruza<strong>do</strong> anterior (LCA). O diagnóstico é feito pelo uso <strong>da</strong> RMN.<br />
A incidência <strong>de</strong> <strong>lesão</strong> meniscal em pacientes com instabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> LCA tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>scrita na literatura varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> 35% a 97%.<br />
Observamos que 82% <strong>do</strong>s pacientes apresentam <strong>lesão</strong> meniscal<br />
associa<strong>da</strong> e acreditamos que o tempo <strong>de</strong>corri<strong>do</strong> entre a <strong>lesão</strong><br />
inicial e a cirurgia <strong>de</strong> reconstrução seja o principal fator que<br />
contribuiu para esse alto índice <strong>de</strong> associação. 1-4<br />
O LCA atua como estabiliza<strong>do</strong>r mecânico, restringin<strong>do</strong> a<br />
anteriorização e a rotação <strong>da</strong> tíbia em relação ao fêmur. Sua<br />
principal função é prevenir o <strong>de</strong>slocamento anterior <strong>da</strong> tíbia<br />
em relação ao fêmur, no mecanismo <strong>de</strong> rotação interna e<br />
externa <strong>do</strong> joelho e na restrição <strong>do</strong> estresse em valgo e varo.<br />
Funcionalmente, a maior vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> LCA ocorre em<br />
mecanismos rotacionais, visto que 70% <strong>da</strong>s rupturas foram<br />
relaciona<strong>da</strong>s a esse mecanismo. À incidência <strong>de</strong> 0,24 <strong>lesão</strong><br />
<strong>do</strong> LCA a ca<strong>da</strong> 1.000 indivíduos saudáveis ao ano, a ruptura <strong>do</strong><br />
ligamento <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> sobrecarga máxima, apesar <strong>de</strong> ser<br />
resistente, principalmente durante as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s esportivas e,<br />
na maioria <strong>da</strong>s vezes, limita ou impe<strong>de</strong> a prática <strong>da</strong>s mesmas;<br />
to<strong>da</strong>via, po<strong>de</strong>m não influenciar na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> esportiva prévia<br />
<strong>do</strong> paciente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>da</strong> resposta <strong>do</strong> paciente à <strong>lesão</strong>. 5-6<br />
Relato <strong>de</strong> caso<br />
Paciente, NNR, <strong>de</strong> 17 anos, 85 kg, 1,75 cm, feodérmico,<br />
queixava-se <strong>de</strong> que havia um ano e meio havia torci<strong>do</strong> o<br />
joelho direito, ao firmar a perna no chão, durante uma luta<br />
<strong>de</strong>sportiva <strong>de</strong> Karate, sem trauma direto. Evoluiu com <strong>do</strong>r e<br />
e<strong>de</strong>ma imediatamente após o trauma e intensa incapacitância<br />
e <strong>do</strong>r medial <strong>do</strong> joelho direito. Fez uso <strong>de</strong> AINE, até a melhoria<br />
<strong>da</strong> <strong>do</strong>r, e uso <strong>de</strong> compressas frias no local. Após uma<br />
semana retornou aos treinos <strong>de</strong> Karate, fazen<strong>do</strong> apenas<br />
algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, porque já havia instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> articular,<br />
falseamento ao flexionar a articulação sobre o próprio peso,<br />
apresentava também dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em rotação <strong>do</strong> joelho, bem<br />
como agachamentos e sensação <strong>de</strong> que a articulação “sairia <strong>do</strong><br />
lugar”. Apresentava melhoria <strong>da</strong> <strong>do</strong>r após o alongamento <strong>da</strong><br />
articulação to<strong>da</strong> vez que havia essa sensação <strong>de</strong> <strong>do</strong>r segui<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> falseamento e uma subluxação <strong>da</strong> articulação. Ao exame<br />
clínico, o paciente apresentava <strong>do</strong>r medial à mobilização,<br />
bloqueio em extensão a 45° e sinal <strong>da</strong> gaveta anterior positivo<br />
(grau III), teste <strong>de</strong> Lachman (grau III), apresentan<strong>do</strong> subluxação<br />
Rev Bras Ortop. 2013;48(1):100-103 101<br />
com estalo no pivot shif test. Na RMN havia rotura em <strong>alça</strong><br />
<strong>de</strong> bal<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>menisco</strong> medial com <strong>de</strong>slocamento <strong>do</strong> fragmento<br />
para a região intercondilar, rotura <strong>do</strong> <strong>menisco</strong> lateral, <strong>de</strong>rrama<br />
articular, condropatia grau II fêmur-patelar, rotura <strong>do</strong> LCA (Figs.<br />
1 e 2).<br />
O cirurgião ortopédico <strong>de</strong>cidiu fazer a reconstrução<br />
ligamentar por meio <strong>do</strong> tendão <strong>do</strong> músculo semitendinoso por<br />
artroscopia e restauração <strong>do</strong> <strong>menisco</strong>. O paciente optou por<br />
fazer tratamento conserva<strong>do</strong>r, no tocante ao fortalecimento<br />
<strong>da</strong> musculatura, por meio <strong>do</strong>s exercícios propioceptivos,<br />
fortalecimento <strong>da</strong> musculatura extensora e exercícios aeróbicos<br />
sem impacto, como natação e ciclismo. Durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />
ano o paciente abdicou <strong>de</strong> seus treinos <strong>de</strong> Karate, <strong>de</strong>dican<strong>do</strong>-se<br />
apenas à reabilitação e fazen<strong>do</strong> uma educação <strong>de</strong> hábitos<br />
<strong>de</strong>sportivos. Nesse intervalo <strong>de</strong> um ano, ele repetiu a ressonância<br />
magnética <strong>do</strong> joelho direito, apresentan<strong>do</strong> discreta alteração <strong>de</strong><br />
sinal com irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s contornos <strong>da</strong> superfície inferior<br />
<strong>do</strong> <strong>menisco</strong> lateral, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> estar relaciona<strong>do</strong> com rotura<br />
antiga, rotura radial junto à raiz <strong>do</strong> corpo posterior <strong>do</strong> <strong>menisco</strong><br />
medial, rotura completa junto à origem <strong>do</strong> ligamento cruza<strong>do</strong><br />
anterior, discreta con-droplastia troclear. Nesse perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
um ano a <strong>lesão</strong> <strong>de</strong> <strong>alça</strong> <strong>de</strong> bal<strong>de</strong> se regenerou completamente,<br />
apesar <strong>de</strong> permanecer rotura cicatricial <strong>do</strong> LCA, sem prejudicar<br />
as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s diárias <strong>do</strong> paciente após sua reestrutração <strong>de</strong><br />
hábitos <strong>de</strong>sportivos, não apresentan<strong>do</strong> <strong>do</strong>r articular, bem como<br />
bloqueio, somente algum falseamento <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a rotura antiga<br />
<strong>do</strong> LCA (Figs. 3 e 4).<br />
Fig. 1 - RMN <strong>do</strong> joelho direito evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> a <strong>lesão</strong> em <strong>alça</strong><br />
<strong>de</strong> bal<strong>de</strong> em um corte longitudinal.