Seção Dissertações e Teses - CCHLA/UFRN
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adaptar à nova realidade, uma impessoalização antes falsa que verdadeira,<br />
utilizando-se de caricaturas ou afetações, o indivíduo assume uma realidade<br />
que no fundo não combina com seu conteúdo original. De acordo com Sérgio<br />
Buarque,<br />
por meio dessa estandardização das formas exteriores da<br />
cordialidade, que não precisam ser legítimas para se manifestarem,<br />
revela-se um dos mais decisivos triunfos do espírito sobre a vida.<br />
Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua<br />
supremacia ante o social (HOLANDA, 1936, p. 102. Grifo do autor).<br />
A nova realidade impulsionada pela urbanização, industrialização e<br />
modernização das estruturas exigiria realidades diversas das que regulam as<br />
relações familiares, baseadas no afeto e no sangue, imperando novas relações<br />
padronizadas e artificiais. Nesse sentido, a civilidade, representada pela<br />
“máscara”, é um instrumento que permite ao indivíduo a impessoalização, a<br />
qual lhe garante a integração ao novo mundo.<br />
À medida que a cidade ganhava mais força no cenário nacional, a partir<br />
da desintegração do ruralismo, processo tardio no país, o mundo antigo se<br />
deteriorava, acompanhando a valorização não mais da família, mas do<br />
indivíduo, capaz de tomar decisões próprias e autônomas. Dessa forma, ao<br />
colocar a cordialidade como oposição à civilidade, Holanda percebe as<br />
dificuldades que o país tinha em se encaixar na modernidade. Por isso, a<br />
cordialidade é um conceito útil para entender a crise do passado brasileiro.<br />
Porém, como vimos, a discussão de que a forma ibérica é ainda muito<br />
presente, é importante para a compreensão do processo que vinha se<br />
desenvolvendo.<br />
Avelino Filho (1990, p. 6) aprofunda a oposição entre cordialidade e<br />
civilidade, indicando que esta objeção poderia cair na valorização do fundo<br />
emotivo em contraponto às relações sociais impessoais e artificiais: “tratar-se-<br />
ia, simplesmente, de valorizar a relação cordial em oposição à esterilização das<br />
emoções realizada pela racionalização advinda do capitalismo”. No entanto,<br />
Sérgio Buarque trata a cordialidade de forma objetiva, apreendendo-a como um<br />
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