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A expressão visual da matéria cavaleiresca: heráldica

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REJANE MARIA BERNAL VENTURA, A <strong>expressão</strong> <strong>visual</strong> <strong>da</strong> <strong>matéria</strong> <strong>cavaleiresca</strong>: <strong>heráldica</strong><br />

assim, uma casta hereditária 8 . A sagração de plebeus torna-se um fato de exceção. E isso deve-se a dois<br />

motivos principais. Primeiro, o recrutamento no grupo dos próprios cavaleiros favoreceria o controle<br />

de uma classe, a aristocracia <strong>da</strong> terra, acima de uma instituição que não era regra<strong>da</strong> por nenhuma norma<br />

de direito. E segundo, por uma questão econômica: para se obter o cavalo, o equipamento militar, a<br />

cerimônia e as festas de sagração, eram necessárias altas somas de dinheiro, o que deman<strong>da</strong>ria riqueza<br />

advin<strong>da</strong> somente dos possuidores de terra. Assim, para ser cavaleiro, seria preciso viver <strong>da</strong> generosi<strong>da</strong>de<br />

de um rico e poderoso senhor, ou então, viver dos próprios rendimentos de um patrimônio 9 .<br />

E é sob essas circunstâncias que o uso de insígnias passa a ser atributo hereditário do cavaleiro.<br />

Ele só pertence à Cavalaria por fazer parte <strong>da</strong> nobreza.<br />

A partir desse período no século XII e, mais tarde, no século XIII, muitas famílias demonstraram ter<br />

utilizado mais do que uma divisa ou ter alterado seus brasões de armas por vontade própria, devendo-se<br />

tal atitude ao recebimento de uma herança ou de um novo feudo, ou então, devido a uma nova conexão<br />

com outra linhagem estabeleci<strong>da</strong> por matrimônio. To<strong>da</strong>via, com certa frequência, os clãs mu<strong>da</strong>vam suas<br />

divisas apenas por um capricho.<br />

Os mais antigos exemplos do uso de procedimentos armoriais eram circunscritos a um limitado<br />

setor <strong>da</strong> nobreza, às grandes famílias cuja riqueza e amplas posses colocava-as à parte <strong>da</strong> classe dos<br />

cavaleiros comuns. As primeiras referências realmente sugerem que havia uma ligação direta entre o<br />

direito ao brasão de armas e a possessão ancestral de feudos e castelos, e que em batalha, somente aqueles<br />

contemplados com feudos e conduzindo um contingente portavam individualmente divisas distintivas.<br />

Foi possível observar uma mu<strong>da</strong>nça nessa prática ao longo do século XIII. O uso de sinetes armoriais<br />

por escudeiros e homens, que apesar de pertencer a famílias de classe <strong>cavaleiresca</strong> não haviam sido eles<br />

próprios armados cavaleiros, tornou-se muito mais comum10 .<br />

É preciso salientar, também, que do século XII em diante se criou uma proximi<strong>da</strong>de entre a<br />

grande nobreza e a classe <strong>cavaleiresca</strong> mais simples. Vínculos eram forjados e fun<strong>da</strong>mentados em ideais<br />

de patrocínio por um lado e serviço leal de outro. E os armoriais serviam de evidências simbólicas que<br />

reafi rmavam tais ligações e sua natureza específi ca.<br />

Após 1200, é possível constatar que famílias de classe <strong>cavaleiresca</strong> não tão ilustres passaram,<br />

igualmente, a estabelecer seus costumes armoriais, adotando insígnias numa escala em miniatura com<br />

intenção decorativa, como a arquitetura de castelos no projeto de suas casas de domínio feu<strong>da</strong>l. Tal<br />

atitude foi decorrência <strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> cultura literária <strong>da</strong> cavalaria para além <strong>da</strong>s cortes dos grandes<br />

nobres e também de seu glamour11 .<br />

1. UMA EMBLEMÁTICA DE DISTINÇÃO<br />

A Heráldica, além de servir originalmente para a preservação <strong>da</strong> alta aristocracia, veio a ser com o<br />

tempo uma emblemática de distinção, pelo orgulho de nascimento, posição e cultura <strong>da</strong> nobreza em seu<br />

mais extenso âmbito. De fato, nos últimos anos <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, as categorias de nobreza eram estendi<strong>da</strong>s<br />

para abarcar outras categorias além de cavaleiros, como escudeiros, gentis-homens, homens de armas<br />

e mesmo patrícios citadinos. O título para portar o brasão de armas era para a classe <strong>cavaleiresca</strong> mais<br />

simples um instrumento precioso para admissão no imponente círculo dos Cavaleiros ilustres. Onde<br />

quer que romances de cavalaria e amor cortês fossem lidos e recitados, e houvesse multidões reuni<strong>da</strong>s<br />

8 Michel Pastoureau, op. cit., p. 42-43.<br />

9 Idem, ibidem, p. 43.<br />

10 Maurice Keen, Chivalry. p. 127.<br />

11 Idem, p. 128.<br />

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