13.08.2013 Views

Os Lais de Bretanha - USP

Os Lais de Bretanha - USP

Os Lais de Bretanha - USP

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

660<br />

De Cavaleiros e Cavalarias. Por terras <strong>de</strong> Europa e Américas<br />

tão e da Suite du Merlin29 . Por outro lado, é ainda possível consi<strong>de</strong>rar que as peças fossem traduzidas<br />

separadamente do contexto narrativo ou mesmo compostas, no caso <strong>de</strong> B 2 e B 5, a partir das indicações<br />

<strong>de</strong> episódios in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e nesse caso precisaríamos do nome do tradutor ou compositor das peças30 .<br />

Infelizmente, tal solução não está à vista, dada a documentação literária e histórica <strong>de</strong> que dispomos,<br />

<strong>de</strong> modo que teremos <strong>de</strong> nos ater, por enquanto, ao exame da segunda, ou seja, contentarmo-nos com<br />

a anonímia das composições, da nossa perspectiva, ainda que não do ponto <strong>de</strong> vista do compilador do<br />

Cancioneiro: consi<strong>de</strong>rarmos, portanto, a hipótese <strong>de</strong> a atribuição a personagens romanescas presente nas<br />

rubricas correspon<strong>de</strong>r a uma concepção autoral diferente da nossa.<br />

Temos, portanto, <strong>de</strong> nos perguntar como esses conceitos se confi guravam no contexto teórico e<br />

prático dos séculos diretamente envolvidos, isto é, os meados do XIV, para o Con<strong>de</strong> D. Pedro, e o XII<br />

e XIII, para a elaboração e difusão da matéria <strong>de</strong> <strong>Bretanha</strong>, cujos ecos se acolhem no Livro <strong>de</strong> Cantigas<br />

e no Livro <strong>de</strong> Linhagens.<br />

<strong>Os</strong> comentários medievais, conhecidos como accessus ad auctores (“introdução aos autores”),<br />

começam no século XII a <strong>de</strong>senvolver uma refl exão e uma linguagem crítica sobre todos os tipos <strong>de</strong><br />

textos – sagrados e profanos, usados nos cursos <strong>de</strong> gramática ou teologia –, tendo como primeiro e importantíssimo<br />

item o exame da vida do poeta (vita poetae) 31 . Com ampla difusão, continuaram a exercer<br />

infl uência durante os séculos XIII, XIV e XV. O item <strong>de</strong>dicado ao exame da vida do autor (vita auctoris)<br />

chegou mesmo a refl etir-se na composição das vidas dos trovadores provençais, cujo primeiro elenco<br />

data <strong>de</strong> meados do século XIII32 .<br />

O termo auctor, por sua vez, teve o seu signifi cado atravessado pelo conceito <strong>de</strong> auctoritas, como<br />

esclarece M.-D. Chenu:<br />

29 <strong>Os</strong> fragmentos <strong>de</strong> traduções conhecidos: o do Livro <strong>de</strong> Tristan e o do Livro <strong>de</strong> Merlin, ambos <strong>de</strong> reduzida extensão, não nos<br />

oferecem pistas relevantes para nenhum dos lais incluídos em B e Va . A respeito dos fragmentos, cf. M. Serrano y Sanz,<br />

“Fragmento <strong>de</strong> una Version Galaico-portuguesa <strong>de</strong> Lanzarote <strong>de</strong>l Lago (Manuscrito <strong>de</strong>l Siglo XIV)”, In: Boletín <strong>de</strong> la Real<br />

Aca<strong>de</strong>mia Española, XV (1928), pp. 307-314; J. L. Pensado Tomé, Fragmento <strong>de</strong> un Livro <strong>de</strong> Tristán galaico-portugués,<br />

Anejo XIV <strong>de</strong> Cua<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Estudios Gallegos, Santiago <strong>de</strong> Compostela, 1962; A.-J. Soberanas, “La version galaïcoportugaise<br />

<strong>de</strong> la Suite du Merlin. Transcription du fragment du XIVe. siècle <strong>de</strong> la Bibliothèque <strong>de</strong> Catalogne, ms. 2434”, in<br />

Vox Romanica, 38, 1979, pp. 174-193; P. Lorenzo Gradín & J.A. Souto Cabo, Livro <strong>de</strong> Tristan e Livro <strong>de</strong> Merlin, Estudio,<br />

edición, notas e glosario, Santiago <strong>de</strong> Compostela, Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanida<strong>de</strong>s, 2001; I.<br />

Castro “O Fragmento Galego do Livro <strong>de</strong> Tristan”, In: D. Kremer (ed.), Homenaxe a Ramón Lorenzo. Vigo, Galaxia, 1997,<br />

vol. I, pp. 135-149 (também disponível online, com um anexo <strong>de</strong> 2007, contendo a “Colação dos Fragmentos Galegos<br />

com a ed. Ménard”: http://www.clul.ul.pt/fi les/ivo_castro/1998_Tristan_Galego.pdf, acesso em 3.8.2011); S. Gutiérrez<br />

García &P. Lorenzo Gradín, A Literatura Artúrica en Galicia e Portugal na Ida<strong>de</strong> Media, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong><br />

Compostela, 2001; L. Soriano Robles, “Los <strong>Lais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bretanha</strong> Gallego-portugueses y sus mo<strong>de</strong>los Franceses (Tristan en<br />

prose y Suite du Merlin <strong>de</strong> la Post-Vulgata artúrica”, op. cit.<br />

30 No caso <strong>de</strong> B 2 e B 5, essa tem sido a solução proposta por Entwistle, op. cit.; M.R. Lida <strong>de</strong> Malkiel, “Arthurian Literature<br />

in Spain and Portugal”, In: R.S. Loomis (ed.), ALMA, op. cit., pp. 406-418; L. Soriano Robles, op. cit. Esta última autora<br />

examina a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o autor (tradutor?) dos cinco lais se ter servido <strong>de</strong> um único códice, que incluísse tanto os lais<br />

B 1, B 3 e B 4, como os conteúdos narrativos que propiciaram a composição <strong>de</strong> B 2 e B 5: “Po<strong>de</strong>mos concluir, por tanto,<br />

que se conservan compilaciones que entrelazan ambos textos, la Suite du Merlin y el Tristan en prose y en vez <strong>de</strong> dos<br />

manuscritos diferentes, el anónimo adaptador gallego-portugués pudo manejar un único códice” (p. 44). Cf., ainda, H.<br />

Sharrer, “The Acclimatization of the Lancelot-Grail Cycle in Spain and Portugal”, op. cit., e S. Gutiérrez García, “O Marot<br />

Haja Mal-grado: <strong>Lais</strong> <strong>de</strong> <strong>Bretanha</strong>, Ciclos em Prosa e Recepción da Materia <strong>de</strong> Bretaña na Península Ibérica”, In: Boletín<br />

Galego <strong>de</strong> Literatura, Santiago <strong>de</strong> Compostela, 25, 2001, pp. 35-49.<br />

31 Cf., para maiores esclarecimentos e informações, os substanciosos estudos <strong>de</strong> A. J. Minnis, Medieval Theory of Authorship:<br />

Scholastic Literary Attitu<strong>de</strong>s in the Later Middle Ages, 2 ed. Phila<strong>de</strong>lphia, University of Pennsylvania Press, 1988; A. J.<br />

Minnis, A.B. Scott & D. Wallace (eds), Medieval Literary Theory and Criticism c. 1100-c.1375, Oxford, Clarendon Press,<br />

1991; J. B. Allen, The Ethical Poetic of the Later Middle Ages, Toronto, 1982.<br />

32 Minnis, Scott & Wallace, Medieval Literary Theory and Criticism, op. cit., p. 14.<br />

Marcia Mongelli - Congresso Cavalaria1.indd 660 14/03/2012 11:45:41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!