ERIC HOBSBAWM – militante histórico
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US40:Andes 36 12/07/11 12:52 Página 170<br />
Memória <strong>militante</strong><br />
perderam algo. Os vencedores pensam que a<br />
história terminou bem porque eles estavam<br />
certos, ao passo que os perdedores perguntam<br />
por que tudo foi diferente, e esta e uma questão<br />
muito mais relevante (HOBSBAWN, 2002b).<br />
Apesar de se considerar derrotado quanto ao<br />
projeto de construção de uma sociedade socia -<br />
lista, dentro de uma visão internacionalista, causa<br />
que ocupou maior parte de sua vida, Eric Hobs -<br />
bawm mantém a sua postura de um histo riador<br />
determinado a lutar pela construção de um mun -<br />
do diferente do atual, criticando o de sen volvi -<br />
mento capitalista e o “socialismo existente”, fa -<br />
zendo observações contundentes sobre o possí -<br />
vel futuro da humanidade, se as coisas continua -<br />
rem no mesmo diapasão do in cremento econô -<br />
mico que não leva em consideração a continui -<br />
dade da vida do ser humano e da natureza, pois,<br />
como afirmou:<br />
Não sabemos para onde estamos indo. Só<br />
sabemos que a história nos trouxe até este pon -<br />
to e porquê. Contudo, uma coisa é clara. Se a<br />
humanidade quer ter futuro reconhecível, não<br />
pode ser pelo prolongamento do passado ou do<br />
presente. Se tentarmos construir o terceiro mi -<br />
lê nio nessa base, vamos fracassar. E o preço do<br />
fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da<br />
sociedade é a escuridão (HOBSBAWN, 1995).<br />
A despeito da afirmação pessimista do histo -<br />
riador reproduzida na citação acima, ele não ab -<br />
di ca de sua esperança em mudar o futuro, co lo -<br />
can do o devir <strong>histórico</strong> na responsabilidade do<br />
ser humano, incitando a humanidade a não acei -<br />
tar o discurso que pretende ser único, na inter -<br />
pretação do caminho a ser percorrido pela socie -<br />
dade mundial, na medida em que esse discurso<br />
dominante tenta inculcar nas pessoas a compre -<br />
en são de que só existe uma trajetória para a so -<br />
ciedade mundial, que é a de seguir, de maneira<br />
indubitável, a lógica do mercado e do desenvol -<br />
vimento pelo desenvolvimento, conclamando to -<br />
dos a não abandonarem a luta por um mundo no -<br />
vo, pautado na democracia e na justiça social,<br />
pois “.... A injustiça social ainda precisa ser de -<br />
nun ciada e combatida. O mundo não vai me -<br />
lhorar sozinho” (HOBSBAWN, 2002a, p. 455).<br />
A persistência na esperança da construção de<br />
uma sociedade mundial diferente da que vivemos<br />
hoje, demonstrada pelo historiador Eric J. Ho bs -<br />
bawm, nos leva a continuar acreditando que a<br />
pra tica <strong>militante</strong> dos atores sociais é de fun da -<br />
mental importância para a construção de uma<br />
his tória que vá em direção à instituição de uma<br />
so ciedade mundial embasada nos princípios da<br />
solidariedade, da democracia e da harmonia com<br />
a natureza. Enfim, uma sociedade socialista.<br />
NOTAS<br />
1 Jornal Folha de São Paulo, Cadernos Mais, 19/ 12/ 1999.<br />
2 Este ano Eric Hobsbawm completa 90 anos de vida e<br />
militância.<br />
3 Judia alemã de nome Maria Bergner, conhecida po liti -<br />
camente por Olga Benário, nasceu em Munique, no ano<br />
de 1908. Inicia sua militância comunista junto a uma or -<br />
ga nização estudantil secundarista, em 1923. No ano de<br />
1926, filia-se ao Partido Comunista Alemão. Em 1935,<br />
chega ao Brasil com o objetivo de auxiliar Luís Carlos<br />
Prestes na articulação da revolução comunista no Brasil.<br />
No ano de 1936, foi capturada juntamente com o seu ma -<br />
ri do Carlos Prestes pela polícia de Getúlio Vargas e, logo<br />
depois, foi entregue à Gestapo, que levou para um campo<br />
de concentração, na Alemanha, onde foi executada, em<br />
1942, pelos nazistas.<br />
REFERÊNCIAS<br />
<strong>HOBSBAWM</strong>, Eric. Tempos Interessantes: uma vida<br />
no século XX. São Paulo: Companhia das Letras,<br />
2002a. p. 133.<br />
______ citação retirada da contracapa da obra “Pessoas<br />
Extra ordinárias <strong>–</strong> Resistência, Rebelião e Jazz”.<br />
São Paulo: Comp. das Letras, 2002b.<br />
______ Era dos Extremos: o breve século XX. São Pau -<br />
lo: Comp. das Letras, 1995. p. 562.<br />
KAYE, Harvey J. Los Historiadores Marxistas Britâ -<br />
nicos: un análisis introductorio. Zaragoza: Univer -<br />
si dad, Prensas Universitárias, 1989, 121.<br />
SADER, Emir. Hobsbawm dialoga com o século 21.<br />
Jornal Estado de S. Paulo, Caderno 2, 25 jun. 2000.<br />
THOMPSON, E. P. As Peculiaridades dos Ingleses e ou -<br />
tros artigos. Org. Antonio Luigi Negro e Sérgio Sil -<br />
va. Campinas: Editora UNICAMP, 2001. p. 29.<br />
170 - DF, ano XVII, nº 40, julho de 2007 Universidade e sociedade