04 www. <strong>Destak</strong> .pt 2ª Feira · 16 de Março de 2009 Em <strong>Destak</strong> 123RF COMPORTAMENTO Os insultos e as agressões no trânsito fazem todos os anos 300 vítimas nos EUA. Recurso à buzina (43%), insultos (36%) e gestos ofensivos (11%) são os actos mais comuns, segundo um relatório da AutoVantage. Em Portugal, nem a PSP nem a Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária dispõem de tal informação estatística. IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII COMPORTAMENTO Stress, pressão e trânsito motivam insultos e comportamentos violentos nas estradas portuguesas Condutores 123RF estãocadavez maisviolentos A frustração profissional e económica e o stress são factores que motivam as agressões que se verificam nas estradas, explica ao <strong>Destak</strong> um especialista. Muitos portugueses optam por levar armas nos carros. IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII PATRÍCIA SUSANO FERREIRA pferreira@destak.pt Daniel estava atrasado para um encontro, mas à sua frente deslocava- -seumcarroqueteimavaem fazer ziguezagues e não ter a certeza do caminho que era melhor. Tentou ultrapassá-lo, mas este cortou-lhe a passagem,quaseprovocandooseu despiste.Ojovemde25anos acabou por perder a cabeça e numa rotunda bloqueou-lhe o caminho. «Estava cego e acabei por perder toda a razão quando saído carro e lhe partiacanadonarizcomuma cotovelada. Ele nem teve tempo de sair», relembra. Pegounocarroeseguiuviagem. «Acredito que ele tenha ido directo até às urgências e a seguir à polícia, mas até hoje ninguém me contactou.» Esta é apenas uma das inúmeras histórias de violência e insultos que o <strong>Destak</strong> descobriu entre os condutores portugueses. Muitas delas terminaramnaesquadradapolícia mais próxima e outras até numa maca de hospital. Ostresseapressãododia-a-dia Hora de ponta, pressa para chegar ao trabalho, um chefe quenãogostadeatrasos,etc. É normal que o dia da maioria dos portugueses, que vivem perto dos grandes centros urbanos, não comece da melhor maneira. Mas se não começa bem, por norma, ter- mina ainda pior, com novas filas de trânsito para regressar ao tão desejado lar. Se juntarmos à hora de pontaosnervosàflordapele ou a crise financeira mundial, pode imaginar-se quais são as palavras evocadas pelos condutores que viajam à nossa frente quando um outro automobilista o ultrapassa e lhe atrasa em três segundos o regresso a casa. Mas se uns optam por palavras de fúria e asneiras, outros passam à «Saído carro e parti-lhe a cana do nariz com umacotovelada. [...] Ele deve ter ido directo às urgências» prática, vendo na agressão a melhor saída para solucionar uma atitude menos correcta de outro condutor. Armas frequentes nos carros Tacosdebasebol,barrasde ferro, gás pimenta, marretas e até pistolas são algumas das armas que ocupam um lugar especial dentro dos carros dos portugueses com quem o IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII Estradassão palcodestress Apesar de não existirem dados estatísticos que mostrem que a violência nas estradas tem vindo a aumentar, a verdade é que este tipo de comportamento «é mais frequente com o stress, o aumento decarrosnaestrada, o trânsitoeafrustraçãoprofissional eeconómica, factorescaracterísticos do nosso tempo». Por norma,oserhumanoreageaestas ameaças com «ataques físicos ou verbais», seja na estrada ou noutro sítio, diz ao <strong>Destak</strong> o psicólogo Carlos Lopes Pires. IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIPUB <strong>Destak</strong> falou. Têm consciênciadequeoportedealgumas delas é ilegal, mas mesmo assim não as dispensam. João lembra, como se fosse hoje, o dia em que um condutor em fúria atravessou à sua frente a carrinha e cortou os dois sentidos da rua. Tirou um pé de cabra e começou a ameaçá-lo. No entanto, «deve ter-lhe dado um rasgo de lu- IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII Equandoconduziréasuaprofissão? Se as pessoas que usam o automóvel para chegar ao trabalho já são afectadas diariamente pela fúriadeoutroscondutores,imagine-se aqueles cuja profissão é conduzir. Falamos de motoristas de autocarros e taxistas. Muitas vezessãoacusadosdeadoptarem cidez ao aperceber-se que havia mais de 30 pessoas a assistir ao incidente. Deu meia volta, entrou na viatura e desapareceu». Mas não são só as ameaças eagressõesquemarcamo quotidiano dos condutores portugueses. Todos os dias nos cruzamos nas estradas compessoasquesesentem poderosas por conduzirem umamáconduçãoeatitudesmenos correctas, no entanto, há que salientarofactodepassarem todosos diasmaisdeoitohorasatrásdeum volante. Além de serem constantementealvodeinsultos,aindavivem na pele a impaciência de condutores que lhes travam a passagem e um carro de alta cilindrada e até protegidas por estarem atrásdovolanteequedecidem seguir-nos. Catarina não esquece a perseguição de que foialvoquandoregressavaa casa. O condutor «de um carro veloz» não ficou contente com a sua ultrapassagem e seguiu-a quase até casa enquanto a ameaçava com gestos. Na perseguição, desde queestacionam mal,deixando-os parados durante longos minutos com dezenas de pessoas impacientes nos bancos de trás. Afonso,condutordaVimecahámaisde quatro anos, lamenta que cada vez haja «menos civismo e educaçãonasestradasportuguesas». Lisboa até Massamá, tentou por várias vezes empurrá-la para fora da faixa de rodagem, mas «por sorte» ela conseguiu evitar o pior. Tirou a matrícula e ainda pensou em apresentar queixa na polícia, mas a sensação de que a denúncia não iria resultar na punição do seu autor, fê-ladesistirdaideiaeesquecer o caso.
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