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Ouvido Afinado - Canto pra Viver

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Um deles é um método de incitação: explicamos aos participantes que iriam ouvir<br />

um trecho musical cantado em fonemas (sílabas) artificiais desprovidos de sentido (para<br />

que isso não influenciasse a resposta). Pedimos que indicassem o mais rapidamente<br />

possível se o acorde que terminava a sequência musical era cantado no fonema /di/ ou /du/.<br />

Focalizamos assim sua atenção nessa ordem e estudamos como a realização dessa tarefa era<br />

perturbada pelo tipo de acorde apresentado no fim da sequência. A diferença de função<br />

musical entre esses dois acordes é muito tênue e pensamos que apenas os músicos seriam<br />

sensíveis a ela.<br />

A ÁREA DE BROCA, NO LADO ESQUERDO DO CEREBRO, É RESPONSÁVEL<br />

PELA LINGUAGEM VERBAL E POR PROCESSAR A SINTAXE DA MÚSICA<br />

Embora a tarefa experimental não requeira absolutamente que se preste atenção à<br />

música, mostramos que a rapidez da identificação do fonema dependia da função musical<br />

do acorde: os tempos de identificação dos fonemas /di/ e /du/ mais curtos foram observados<br />

para os acordes de tônica. Em outras palavras, embora os ouvintes estivessem atentos ao<br />

fonema, reagiam com rapidez quando o acorde que o acompanhava era tônico, mais comum<br />

na música ocidental. Ao contrário, quando o fonema correspondia a um acorde que não<br />

havia sido antecipado inconscientemente, era porque o cérebro antecipara um acorde<br />

correspondendo às regras musicais usuais.<br />

EXPERT SEM SABER<br />

O mesmo tipo de teste pode ser feito pedindo que os participantes decidam com a<br />

maior rapidez possível se um acorde contém ou não uma nota dissonante, se as notas que o<br />

constituem são tocadas juntas ou, ainda, se o acorde é tocado com um timbre de piano<br />

elétrico ou de piano acústico. Vários estudos que realizamos mostraram que os ouvintes<br />

adultos ocidentais são implicitamente sensíveis a tênues diferenças de funções musicais.<br />

Além disso, o processamento cognitivo se efetua de forma bastante rápida, e as respostas<br />

continuam idênticas mesmo quando a música é tocada em andamento acelerado.<br />

As aptidões musicais dos ouvintes sem formação explícita se revelaram<br />

surpreendentes em numerosos outros estudos, quaisquer que fossem os aspectos da<br />

percepção que abordamos, e isso mesmo quando foram elaboradas situações experimentais<br />

complexas concebidas para enganar seu ouvido musical.<br />

Assim, num outro tipo de experimento, apresentamos peças musicais (melodias ou<br />

sequências de acordes) que interrompíamos ao acaso; os participantes deviam avaliar numa<br />

escala de 1º a 7º grau de acabamento da melodia no momento da parada. Esse método<br />

permite avaliar a precisão com a qual o ouvinte segue o desenrolar de um trecho cuja<br />

complexidade fizemos variar. Pensávamos encontrar diferenças evidentes entre ouvintes<br />

profissionais e iniciantes. Mas os resultados dos dois grupos foram igualmente bons,<br />

inclusive quando as peças testadas eram complexas (como um prelúdio em mi maior de<br />

Chopin).

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