A Identidade de Gênero Gótica em A Sauna de Lygia Fagundes Telles
A Identidade de Gênero Gótica em A Sauna de Lygia Fagundes Telles
A Identidade de Gênero Gótica em A Sauna de Lygia Fagundes Telles
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
syst<strong>em</strong> of various syst<strong>em</strong>s which intersect with each other and partly overlap, using concurrently<br />
different options, yet functioning as one structured whole, whose m<strong>em</strong>bers are in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt.” 3<br />
Por enfatizar a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intersecções dos sist<strong>em</strong>as e sua maior complexida<strong>de</strong><br />
estrutural, s<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar uma uniformida<strong>de</strong> postulada, e fornecendo maior<br />
espaço às “<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns”, a teoria polissistêmica <strong>de</strong> Even-Zohar possibilita a integração <strong>de</strong> objetos<br />
(proprieda<strong>de</strong>s, fenômenos) que, anteriormente, passavam <strong>de</strong>spercebidos ou eram simplesmente<br />
rejeitados pela pesquisa s<strong>em</strong>iótica. A partir <strong>de</strong>ssa integração, qualquer seção isolável da cultura<br />
passa a ser estudada <strong>em</strong> correlação com outras seções para um melhor entendimento <strong>de</strong> sua<br />
natureza e função. Sendo assim, para enten<strong>de</strong>r uma cultura oficial faz-se necessário o estudo <strong>de</strong><br />
uma cultura não oficial; para compreen<strong>de</strong>r o que é, como, e <strong>de</strong> que se constitui uma língua padrão,<br />
é preciso estudar suas variantes não-padrão; e, segundo a mesma lógica, para estudar os textos <strong>de</strong><br />
prestígio <strong>de</strong> um polissist<strong>em</strong>a cultural literário, os cânones, torna-se essencial o estudo <strong>de</strong> textos<br />
menos prestigiados, pertencentes a outros sist<strong>em</strong>as, mas que se contrapõ<strong>em</strong>, criam intersecções<br />
ou mesmo se sobrepõ<strong>em</strong> a aqueles consi<strong>de</strong>rados prestigiados, não apenas <strong>de</strong> maneira sincrônica,<br />
mas também diacrônica.<br />
Tendo discorrido a respeito da teoria polissistêmica <strong>de</strong> Even-Zohar, po<strong>de</strong>-se, finalmente,<br />
compreen<strong>de</strong>r o gênero literário Gótico como parte <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a periférico, incluído no sist<strong>em</strong>a<br />
da literatura popular inglesa. Literatura que atua <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um polissist<strong>em</strong>a maior que, por sua<br />
vez, engloba um sist<strong>em</strong>a central correspon<strong>de</strong>nte à literatura inglesa canônica; sendo “canônico”<br />
um termo formulado por Viktor Shklovskiy, nos anos 20, <strong>em</strong> oposição a “não-canônico”;<br />
po<strong>de</strong>ndo ser usado também o termo “oficial”, <strong>de</strong>rivado da distinção feita, tanto por Bakhtin<br />
quanto Lotman, entre “estrato oficial” e “estrato não-oficial” da cultura (EVEN-ZOHAR, 2005).<br />
Sendo assim, <strong>de</strong> acordo com a concepção acima <strong>de</strong>scrita, é possível observar que, apesar <strong>de</strong><br />
o Gótico ter sido consi<strong>de</strong>rado como um subgênero e apontado, <strong>de</strong> maneira pejorativa, como<br />
precursor <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> massa, ele influenciou, a partir <strong>de</strong> seu sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> literatura popular,<br />
diversos outros gêneros subseqüentes, pertencentes tanto ao sist<strong>em</strong>a periférico quanto ao central<br />
da literatura britânica, expandindo, sincrônica e diacronicamente, sua influência a produções<br />
literárias e, posteriormente, também cin<strong>em</strong>atográficas e culturais <strong>de</strong> todo o mundo.<br />
Sobreviveu, portanto, até os nossos dias, mesmo após ter sido consi<strong>de</strong>rado extinto como<br />
gênero no começo do século XIX, justamente por suas características <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a periférico, que<br />
lhe permitiam lidar com t<strong>em</strong>as proibidos às obras canônicas <strong>de</strong> sua época e por abrir espaço para<br />
lidar com os t<strong>em</strong>ores da socieda<strong>de</strong>, com aquilo que é indizível, negado e reprimido por ela.<br />
Especificamente no que tange às características do Gótico Inglês, David Punter, <strong>em</strong> The<br />
Literature of Terror, A History of Gothic fictions from 1765 to the present day, enumera as<br />
seguintes:<br />
“an <strong>em</strong>phasis in portraying the terrifying, a common insistence on archaic settings, a prominent<br />
use of the supernatural, the presence of highly stereotyped characters and the att<strong>em</strong>pt to <strong>de</strong>ploy<br />
and perfect techniques of literary suspense…”4<br />
3 “um sist<strong>em</strong>a múltiplo, um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> vários sist<strong>em</strong>as que se intersectam uns com os outros e se sobrepõ<strong>em</strong><br />
parcialmente, usando diferentes opções concorrent<strong>em</strong>ente, mas funcionando como um todo estruturado, cujos<br />
m<strong>em</strong>bros são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.” (tradução minha)<br />
4 “uma ênfase <strong>em</strong> retratar o aterrorizante, uma insistência comum quanto a cenários arcaicos, um uso pro<strong>em</strong>inente do<br />
sobrenatural, a presença <strong>de</strong> personagens altamente estereotipados e a tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver e aperfeiçoar técnicas<br />
<strong>de</strong> suspense literário…” (tradução minha)<br />
2