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ILUSÕES - AVENTURAS DE UM MESSIAS INDECISO

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uma mistura perfeitamente pobre em vôos de cruzeiros, o Travel Air funciona<br />

por cinco horas, no máximo. Mas não oito horas, com decolagens e pousos.<br />

Ele continuava a voar firme, vôos e mais vôos, enquanto eu punha a<br />

gasolina comum no meu tanque central e um litro de óleo no motor. Havia uma<br />

fila de gente aguardando e parecia que ele não queria desapontá-los.<br />

Consegui me aproximar dele quando estava ajudando um casal a entrar na<br />

cabina da frente do avião. Procurei parecer o mais calmo e displicente possível.<br />

- Don, como vai de combustível Precisa de gasolina<br />

Fiquei parado junto à ponta da asa, com uma lata vazia de cinco galões na<br />

mão.<br />

Olhou-me profundamente nos olhos e franziu a testa, intrigado, como se eu<br />

tivesse perguntado se precisava de ar para respirar.<br />

- Não - disse ele, e senti-me como um menino atrasado de primeiro ano<br />

primário, nos fundos da sala de aula. - Não, Richard, não preciso de gasolina.<br />

Aquilo me aborreceu. Conheço alguma coisa a respeito de motores de avião<br />

e combustível.<br />

- Bem, então - disse-lhe, zangado - que tal um pouco de urânio<br />

Ele riu e me desarmou logo.<br />

- Não, obrigado. Eu o enchi no ano passado. Em seguida, estava na sua<br />

cabina e se foi com seus passageiros, naquela decolagem sobrenatural, em<br />

câmara lenta.<br />

Primeiro desejei que as pessoas fossem embora; depois, que saíssemos dali<br />

depressa, com ou sem gente; e, depois, que eu tivesse o juízo de sair dali sozinho,<br />

imediatamente. Só queria decolar e encontrar um campo grande e vazio, longe de<br />

qualquer cidade, e ficar sentado, pensando e escrevendo o que estava<br />

acontecendo em meu diário, tentando dar um sentido a tudo aquilo.<br />

Fiquei do lado de fora do Fleet, descansado até que Shimoda tornou a<br />

pousar. Fui até a sua cabina, sentindo a força do vento provocado pelo seu forte<br />

motor.<br />

- Acho que já voei bastante, Don. Vou andando, pousar fora das cidades e<br />

trabalhar um pouco menos, por algum tempo. Foi divertido voar com você. Nós<br />

nos veremos por aí, um dia desses, OK<br />

Ele nem piscou.<br />

- Mais um vôo e estarei com você. Esse camarada está esperando.<br />

- Está bem.<br />

O camarada esperava numa velha cadeira de rodas que tinha sido<br />

empurrada até o campo. Parecia estar amassado e torcido no assento, como que<br />

por alguma força de gravidade exagerada, mas queria voar. Havia 40 ou 50<br />

pessoas ali, umas de carro, outras a pé, querendo ver, curiosas, como Don levaria<br />

o homem da cadeira para o avião.<br />

Ele nem pensou no caso.<br />

- Quer voar<br />

O homem deu um sorriso torto e meneou a cabeça, meio de lado.

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