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18 - LAMPIAO DA ESQUINA EDICAO 14 - JULHO 1979

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[LITERATURA]<br />

segredo<br />

de<br />

Mário<br />

Andrade<br />

Mário de Andrade, fundador do dest'airispno<br />

paulistano e da macunaimidade brasileira, é<br />

uma figura são importante que, como não<br />

podia d,'iar de ser, continua discuzidí,ssimo e<br />

sua biografia íntima miszeriosíssïma. Oswaid de<br />

4ndradt', fundador da antropofagia universal e<br />

universitária, casou-se e teve filhos e ninj,,ém<br />

ti' preocupa com sua vida intima. Os dois<br />

'e desentenderam, por questões de idéias -<br />

'nus nuo 3v reconciliaram, por motivos pessoais.<br />

rez,enttozh0s não faltam mas também não<br />

aliam r,iuências. Vejam o que diz o professor<br />

1nionio Cândido: ''('nt fato comentado 'iti'<br />

quele tempo era a briga entre Mário e Oswald<br />

de Andrude, ocorrida se não me engano por volta<br />

de 7929, depois de escaramuças anteriores.<br />

Nunca mais fizeram as pazes. embora tivessem<br />

untes sido o maior amigo um do outro, desde o<br />

momento em que Oswa/d descobriu lt'terariamente<br />

Mário (que conhecia desde 1917) e viu<br />

nele a realização do que aspirava em matéria de<br />

reforma, como deixou patente no famoso arsigi.<br />

"O meu poeta futurista" (1921). Por que<br />

motivo brigaram, nunca perguntei nem eles me<br />

disseram. Sei que houve uma ruptura maior,<br />

ficando de um lado Mário, Paulo Prado, Antonio<br />

de Alcântara Machado: de outro, Oswald,<br />

Raul Bopp.,,"<br />

Questões de idéias, E Antonio Cândido<br />

acrescenta: "Contava-se que Oswald fazia sobre<br />

o antigo amigo piadas ie'rri,'eis e dtt'erridas-que<br />

corriam mundo. Mas eu só ouvi falar dele no<br />

plano intelectual, com discrição e naturalidade.<br />

talvez porque o tempo da virulência tivesse passado<br />

quando estreitamos relações. Lamento não<br />

ter anotado as coisas que medisse, pois esqueci<br />

e maior arte delas e a memória vai deformando<br />

o resto. ''p -<br />

Motivos pessoais. Não é curioso? Nos meios<br />

intelectuais todo mundo comenta a tida "não<br />

intelectual' de Mário. Mas por escrito ninguém<br />

sabe nada, Antonio Cândido diz que as piadas<br />

de Oswald eram "terríveis", mas "esqueceu",<br />

por "discrição", naturalmente. Todos os que<br />

conheceram Mário mais de perto ficam cheios<br />

de dedos quando filam na sua akkz "purticular"<br />

Já Aracv Amara! ji mais objetiva: "Ê só ler<br />

todas as páginas da "Antropofagia" no Diário<br />

de S. Paulo para se ter esclarecida a razão Io<br />

rompimento Mário-Oswald (apesar de para<br />

muitos "ainda permacer obscura"). "; ".,,uma<br />

ironia mordaz que Mário finalme,iie não mais<br />

suportaria, rompendo em definitivo com<br />

Oswald".<br />

.%s tais provoca çoes de Oswald, registradas <br />

,su Revista de Antropofagia (2.° dentição). São<br />

do tipo desta: ''Os sr,s . .'llc'antara Machado (o<br />

Gag) C,,u,inhs, que nunca voou) e Mário de An -<br />

' /ri],](- (o nosso miss Suo Paulo traduzido em<br />

masculino)..," ou desta: "Não gostei, porém,<br />

das amarguras que Mário pós no seu mingua.<br />

Minga o nao queremos, Mário. Queremos amor.<br />

Aquele amor goslosíssimo que t'ot'i botou nas<br />

estrofes do CABO MACHADO. telas sem o incenso<br />

doi ouro d.' ,Ça,tta Efigênia. com a pimenta<br />

de Macunaima, com que você queimou<br />

os beiços gu1isos da Santa Madre Igreja."<br />

Cimo se vê. Oswald zombava de duas coisas em<br />

Muno: a religiosidade e... (as reticências ficam<br />

por conta da discrição ''intelectual"). Depois<br />

disso, que tal reler. sem ironia e sem hipocrisia,<br />

dois piei-mas de Mário (Glauco Mattoso)<br />

Cabo Machado<br />

Cabo Machado é cor de jambo,<br />

Pequenino que nem todo brasileiro que se preza.<br />

Cabo Machado é moço bem bonito.<br />

É como se a madrugada andasse na minha frente.<br />

Entreabre a boca encarnada num sorriso perpétuo<br />

Adonde alumia o Solde oiro dos dentes<br />

Obturados com um luxo oriental<br />

Cabo Machado marchando<br />

É muito pouco marcial.<br />

Cabo Machado é dançarino, sincopado,<br />

Marcha vem- cá mulata.<br />

Cabo Machado traz a cabaça levantada<br />

Olhar dengoso pros lados<br />

Segue todo rico de jóias olhares quebrados <br />

Que se enrabicharam pelo posto dele<br />

Epela cor- de.-jambo.<br />

Cabo Machado é delicado gentil.<br />

Educação francesa mesureira.<br />

Cabo Machado é doce que nem mel<br />

E polido que nem manga-rosa.<br />

Cabo Machado é bem o representante duma terra <br />

Cuja Constituço proíbe as guerras de conquista<br />

E recomenda cuidadosamente o arbitramento,<br />

Só não bulam com ele!<br />

Mais amor menos confiança!<br />

Cabo Machado toma um jeito de rasteira...<br />

Mas traz unhas bem tratadas<br />

Mãos transparentes frias,<br />

Não rejeita o bom- tom do pó-de-arroz<br />

Se vê bem que prefere o arbitramento.<br />

E tudo acaba em dança!<br />

Por isso Cabo Machado anda maxixe.<br />

Cabo Machado.. bandeira nacional!<br />

Moda<br />

dos<br />

quatro<br />

rapazes<br />

Nós somos quatro rapazes<br />

Dentro duma casa vazia.<br />

Nós somos quatro amigos<br />

íntimos<br />

Dentro duma casa vazia.<br />

Nós fomos ver quatro irmãos<br />

Morando na casa vazia.<br />

Meu Deus! si uma saia entrasse<br />

A casa toda se encheria!<br />

Mas era uma vez quatro<br />

amigos íntimos...<br />

Página 12<br />

9E5sq4l9a<br />

*<br />

APPAD<br />

tie<br />

da parada da diversidade<br />

Centro de Documentação<br />

Prof. Dr. Luiz Mott<br />

GRUPODIGNI<strong>DA</strong>DE

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