parabéns festas de caneças - Nova Odivelas
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8 <strong>Nova</strong> <strong>Odivelas</strong> 10 Setembro 2010<br />
ACTUALIDADE<br />
MÚSICA<br />
Jovem <strong>de</strong> <strong>Odivelas</strong> à conqu<br />
Henrique Ribeiro<br />
henrique_ribeiro@simpruspress.pt<br />
Tem 25 anos mas já se<br />
afirma no mundo musical.<br />
E quando dizemos mundo<br />
é mesmo mundo. Estuda<br />
em Espanha, on<strong>de</strong> já <strong>de</strong>u<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> concertos, gravou<br />
CD em França, tocou<br />
na Coreia do Sul representando<br />
Portugal num evento<br />
internacional. Chama-se<br />
Ana Maria Santos, é <strong>de</strong> Caneças<br />
e é mais uma jovem<br />
Odivelense a orgulhar o<br />
seu concelho.<br />
Sabemos que as gran<strong>de</strong>s carreiras<br />
e os gran<strong>de</strong>s feitos<br />
por vezes começam por episódios<br />
bem simples. Assim também<br />
aconteceu com Ana Santos.<br />
Aos seis anos nunca tinha pegado<br />
num instrumento, mas, durante<br />
umas férias no Algarve, um amigo<br />
do pai, ao ver a Ana e a irmã<br />
disse-lhe «Tens umas filhas tão<br />
novas, <strong>de</strong>viam ir para a banda» referindo-se<br />
à Banda Musical e Artística<br />
da Charneca do Lumiar,<br />
on<strong>de</strong> pertencia.<br />
A irmã não gostou muito da i<strong>de</strong>ia<br />
«Preferia o <strong>de</strong>sporto», mas a Ana<br />
ficou entusiasmada. «Podíamos ir<br />
lá ver um ensaio», disse ao pai e lá<br />
foram assistir ao ensaio da banda.<br />
«Fiquei entusiasmada e muito fascinada.<br />
Lembro-me <strong>de</strong> chegar lá,<br />
era um Sábado à noite e a banda<br />
estar a ensaiar. Nunca tinha tido<br />
um contacto assim nem ouvido<br />
uma banda, era muito pequenina,<br />
e foi o máximo. O Maestro, Joaquim<br />
Serra Saraiva, que adoro, é<br />
PUB<br />
uma pessoa maravilhosa. Pôs-me<br />
logo a fazer umas Claves <strong>de</strong> Sol,<br />
aquilo entusiasmou-me e lá fiquei».<br />
Naquela altura Ana Santos ainda<br />
não via a música como uma futura<br />
profissão mas a semente estava<br />
colocada naquela menina <strong>de</strong><br />
seis anos. Depois <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong><br />
aprendizagem, ainda sem instrumentos,<br />
e cheia <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong><br />
sobre que instrumento iria tocar,<br />
«O senhor Serra lá me aparece com<br />
uma requinta, que é um clarinete,<br />
mais pequenino, porque eu era<br />
muito pequenina, tinha uns <strong>de</strong>dinhos<br />
muito pequeninos, não era<br />
fácil ele dar-me outro tipo <strong>de</strong> instrumento».<br />
Ficou muito entusiasmada<br />
e começou a tocar… na<br />
banda da Charneca.<br />
Estava quase a fazer 10 anos<br />
quando os seus pais se mudaram<br />
para Caneças e a Ana ingressou na<br />
banda da Socieda<strong>de</strong> Musical e<br />
Desportiva local, embora o carinho<br />
que sentia pela banda <strong>de</strong> origem<br />
tivesse levado a que nunca se<br />
<strong>de</strong>sligasse <strong>de</strong>la e ao longo dos<br />
anos, embora na banda <strong>de</strong> Caneças,<br />
fez muitos concertos na sua<br />
primeira casa musical e noutras<br />
bandas «On<strong>de</strong> tinha amigos e que<br />
precisavam <strong>de</strong> uma ajuda. Pediamme<br />
para ir e ia, até ao Norte do país<br />
fui». Na banda <strong>de</strong> Caneças esteve<br />
11 anos. Apenas saiu aos 21<br />
quando foi continuar a sua formação<br />
em Barcelona.<br />
Clarinete. Foi o maestro que com a<br />
sua escolha <strong>de</strong>terminou o instrumento<br />
que viria a apaixonar Ana<br />
Santos, mas terá sido a escolha<br />
certa? «Acho que sim. Agora<br />
olhando para trás, acho que sim,<br />
embora pense que nenhum músico<br />
escolhe o seu instrumento. Começamos<br />
na música com muito pouca<br />
ida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a escolha é difícil. Não<br />
conheço nenhum que diga “eu escolhi<br />
tocar isto”. É sempre porque a<br />
família escolhe, ou como no meu<br />
caso o senhor Serra <strong>de</strong>via ter falta<br />
<strong>de</strong> clarinetes lá na banda… Depois<br />
ao longo do percurso acabamos<br />
por nos apaixonar por esse instrumento.<br />
Pelo menos no meu caso foi<br />
assim. Nunca pensei em tocar<br />
outro instrumento».<br />
Aos onze anos, ainda no ensino<br />
preparatório entrou para o Conservatório<br />
Metropolitano <strong>de</strong> Música<br />
<strong>de</strong> Lisboa, na classe do<br />
professor Etienne Lamaison «Que<br />
foi o meu professor durante todo o<br />
ensino no conservatório e na Aca<strong>de</strong>mia<br />
Nacional Superior <strong>de</strong> Orquestra»<br />
on<strong>de</strong> se licenciou. A sua<br />
entrada para o conservatório não<br />
significou que Ana Santos já tivesse<br />
<strong>de</strong>cidido que o seu futuro<br />
profissional seria a música. «Acho<br />
que isso apareceu mais tar<strong>de</strong>. Fui<br />
para o conservatório porque o senhor<br />
Serra dizia ao meu pai que eu<br />
tinha talento e que <strong>de</strong>via ter mais<br />
formação que a que tinha na<br />
banda. Então fomos tentar…».<br />
Com o primeiro professor que teve<br />
no conservatório «A experiência foi<br />
Concertos em Seul<br />
Ana Santos foi seleccionada para participar no<br />
Euro Asia Chamber Music Festival, em Seul, na Coreia<br />
do Sul, que <strong>de</strong>correu em Agosto <strong>de</strong> 2010,<br />
on<strong>de</strong> apenas dois músicos representaram Portugal,<br />
com todos os custos <strong>de</strong> viagem e alojamento<br />
assegurados pela Embaixada <strong>de</strong> Portugal naquele<br />
país. «Tenho óptimas recordações da embaixada<br />
portuguesa, <strong>de</strong> quem só posso dizer bem. O<br />
embaixador foi maravilhoso e toda a experiência foi<br />
muito enriquecedora. Os músicos asiáticos têm características<br />
diferentes das nossas têm muita força a<br />
tocar, são muito concentrados, mas a integração foi<br />
fácil, apesar da barreira da língua. Eles falavam<br />
pouco inglês mas acabou por ser muito bom porque<br />
tínhamos <strong>de</strong> comunicar através da música». O navio<br />
escola Sagres estava em Seul nesta altura e o embaixador<br />
português teve a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> os levar lá a<br />
tocar. «Foi uma experiência inesquecível tocar <strong>de</strong>ntro<br />
muito difícil. Ele era um professor<br />
muito rígido para uma criança,<br />
mas <strong>de</strong>pois com o Etienne foi absolutamente<br />
fantástico. Tive essa<br />
sorte. Com o Etienne foi muito fácil<br />
e ele passou-me esse gosto pelo clarinete,<br />
ajudou-me a conhecer todo<br />
o reportório, toda a forma <strong>de</strong><br />
tocar… Foi aí que começou a crescer<br />
a minha paixão pelo clarinete e<br />
por tudo aquilo que fazia».<br />
Foi no conservatório que começou<br />
os seus concertos, fora das<br />
bandas filarmónicas. Tocou na<br />
Aula Magna e no Centro Cultural<br />
<strong>de</strong> Belém, entre outros locais.<br />
«Concertos que eram muito importantes<br />
apesar da nossa tenra ida<strong>de</strong>,<br />
13/14 anos».<br />
O conservatório tinha uma pequena<br />
orquestra e grupos <strong>de</strong> música<br />
<strong>de</strong> câmara e «Nós fazíamos<br />
muitas audições, na escola, para a<br />
família, que eram um bocadinho<br />
mais fáceis mas todos os finais <strong>de</strong><br />
período tínhamos concertos mais a<br />
sério». Esse período abriu novas<br />
perspectivas daquele mundo e<br />
preparou-a para o que viria a seguir.<br />
«Des<strong>de</strong> pequena que faço concertos<br />
mais a sério, vestida a rigor,<br />
com aquelas coisas dos músicos<br />
clássicos, em salas gran<strong>de</strong> e cheias<br />
<strong>de</strong> pessoas, que criam aquele nervosismo<br />
natural».<br />
Depois entrou na Aca<strong>de</strong>mia Nacional<br />
Superior <strong>de</strong> Orquestra on<strong>de</strong><br />
todos os meses havia dois, três<br />
concertos <strong>de</strong> orquestra. «Aí já<br />
temos um nome a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, já estamos<br />
no ensino superior e temos <strong>de</strong><br />
fazer as coisas mais a sério». Nesta<br />
altura Ana Santos começa a fazer<br />
concertos como profissional tocando<br />
não só em Portugal mas<br />
também noutros países.<br />
Nas suas voltas pelo mundo terá<br />
Ana Santos sentido choques<br />
quando encontrou públicos diferentes,<br />
outros músicos, outro tipo<br />
<strong>de</strong> gostos? «Foram sempre experiências<br />
muito boas, e enriquecedoras.<br />
A nível dos músicos por vezes é<br />
complicado. Não é uma profissão<br />
fácil, há rivalida<strong>de</strong>s, coisas que nem<br />
sempre são fáceis mas que se conse-<br />
do navio. Tínhamos <strong>de</strong> ter uns colegas a agarrar as<br />
partituras porque estava muito vento. Tinha imensa<br />
gente a assistir, porque coincidiu com uma visita ao<br />
navio. Os tripulantes ficaram muito felizes por terem<br />
dois portugueses a tocar a bordo. Queriam mandar<br />
sauda<strong>de</strong>s para Portugal e saber como nós estávamos<br />
e como estava Portugal porque há imensos meses<br />
que estavam no mar. Foi fantástico conhecer o capitão,<br />
com todas aquelas histórias <strong>de</strong> um típico capitão<br />
<strong>de</strong> barco».