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do lixo à cidadania – catadores: de problema ... - Inclusive Cities

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DE LEÔNIA À ÂNDRIA – A CAMINHADA DA CIDADANIA A PARTIR DO LIXO 1Sonia Maria Dias 2“ kublai perguntou para Marco:- Você, que explora em profundida<strong>de</strong> e é capaz <strong>de</strong> interpretar os símbolos, saberia me dizerem direção a qual <strong>de</strong>sses futuros nos levam os ventos propícios?- Por esses portos eu não saberia traçar a rota nos mapas nem fixar a data da atracação. (...)Se digo que a cida<strong>de</strong> para a qual ten<strong>de</strong> a minha viagem é <strong>de</strong>scontínua no espaço e notempo, ora mais rala, ora mais <strong>de</strong>nsa, você não <strong>de</strong>ve crer que po<strong>de</strong> parar <strong>de</strong> procurá-la.Po<strong>de</strong> ser que enquanto falamos ela esteja afloran<strong>do</strong> dispersa <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s confins <strong>do</strong> seuimpério (...)”As Cida<strong>de</strong>s Invisíveis, Ítalo CalvinoQuais são as possibilida<strong>de</strong>s existentes <strong>de</strong> transformação <strong>do</strong> <strong>lixo</strong>? Quais as respostas que a cida<strong>de</strong>po<strong>de</strong> dar aos sonhos <strong>de</strong> conquista da <strong>cidadania</strong> plena daqueles que vivem <strong>do</strong>s resquícios, das sobras<strong>do</strong> nosso consumismo voraz? Essas são questões que nos últimos anos vêm ocupan<strong>do</strong> o centro <strong>do</strong>s<strong>de</strong>bates em torno <strong>do</strong> tema <strong>lixo</strong> e <strong>cidadania</strong>.Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leônia, <strong>de</strong>scrita por Ítalo Calvino em As Cida<strong>de</strong>s Invisíveis, a opulência é medidapelas coisas “...que to<strong>do</strong>s os dias são jogadas fora para dar lugar às novas”. A amplitu<strong>de</strong> da crisesócio-ambiental contemporânea nos convoca a repensar nosso mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, arepensar nossas cida<strong>de</strong>s, a rever nossos estereótipos e a re-significar nossos conceitos, a aban<strong>do</strong>naro “padrão Leônia” <strong>de</strong> viver.É nesse contexto que o <strong>lixo</strong> vem sen<strong>do</strong> atualmente associa<strong>do</strong> à <strong>cidadania</strong>, trazen<strong>do</strong> à cena pública osignifica<strong>do</strong> contemporâneo <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> reciclagem, enquanto mais <strong>do</strong> que uma açãotransforma<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> um objeto usa<strong>do</strong> em algo novo mas, fundamentalmente, enquanto expressão daconsciência sócio-ambiental, que possibilita geração <strong>de</strong> trabalho e renda e o exercício da <strong>cidadania</strong><strong>de</strong> setores em vulnerabilida<strong>de</strong> social, tais como os cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> recicláveis e os carroceiros <strong>do</strong>entulho.1 Publica<strong>do</strong> em: DIAS, S.M. Prudência ecológica. In: Revista <strong>do</strong> Legislativo. nº 39- janeiro/<strong>de</strong>zembro 2005, BeloHorizonte.2 Socióloga; Especialista em Gerenciamento <strong>de</strong> Resíduos Sóli<strong>do</strong>s pela Kitakyushu University, Japão; Mestre emGeografia, UFMG; Doutoranda em Ciências Humanas, UFMG; integrante <strong>do</strong> Fórum Estadual Lixo & Cidadania.1


Estimativas <strong>do</strong> Banco Mundial apontam que cerca <strong>de</strong> 2% da população das cida<strong>de</strong>s da Ásia e daAmérica Latina sobrevivem da catação. A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> catação, ilustra uma área que vem sen<strong>do</strong>paulatinamente explorada, que é o potencial gera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> reciclagem. Nospaíses <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> terceiro mun<strong>do</strong>, a reciclagem ainda se sustenta mais no trabalho informal <strong>de</strong>ssesegmento <strong>do</strong> que na consciência ecológica – ainda incipiente – da população. A complexida<strong>de</strong> eintensida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> catação varia <strong>de</strong> país para país, <strong>de</strong> local para local, mas, em geral, ascondições <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>sumanas, a super- exploração <strong>do</strong>s intermediários da reciclagem, opreconceito da população local e a falta <strong>de</strong> incentivo e <strong>de</strong> apoio <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público são alguns <strong>do</strong>selementos comuns em quase to<strong>do</strong>s os lugares on<strong>de</strong> esta ativida<strong>de</strong> está presente. Além disso, oschama<strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> resíduos sóli<strong>do</strong>s têm significa<strong>do</strong>, via <strong>de</strong> regra,privatizações o que, conseqüentemente, implica em extinção das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho para osetor informal, como registra a literatura especializada (Birkbeck, 1978; Furedy, 1984) 3 .No entanto, as últimas décadas vêm presencian<strong>do</strong>, em várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, um processo <strong>de</strong>organização <strong>do</strong> segmento <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res informais da reciclagem em cooperativas ou associações,que, em muitos casos, vêm se engajan<strong>do</strong> em diversos projetos <strong>de</strong> reciclagem em parceria comadministrações locais. Na Colômbia, por exemplo, a ONG Fundación Social lançou, em 1991, oPrograma <strong>de</strong> Reciclagem Nacional que congrega em torno <strong>de</strong> 100 cooperativas <strong>de</strong> reciclagem,sen<strong>do</strong> a Co-operativa Recuperar, com base em Me<strong>de</strong>llin, uma das mais expressivas <strong>do</strong> país. Criadaem 1983, a Recuperar tem 1.000 membros, sen<strong>do</strong> 60% <strong>de</strong>les mulheres. 4 Os “ Zanballen”, umacomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20.000 mil cata<strong>do</strong>res no Cairo, Egito, também têm uma complexaorganização. Em Metro Manila, nas Filipinas, um grupo <strong>de</strong> mulheres cata<strong>do</strong>ras foi quem puxou aorganização <strong>do</strong> Linis Ganda Programme. No Brasil, várias cooperativas <strong>de</strong> cata<strong>do</strong>res foramfundadas nos últimos anos, como por exemplo a Coopamare <strong>de</strong> São Paulo.Em Minas Gerais, o surgimento da Associação <strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Papel, Papelão e MaterialReaproveitável <strong>de</strong> Belo Horizonte – a ASMARE 5 -, em 1990, trouxe à cena “novos sujeitos sociais”que <strong>problema</strong>tizaram a postura histórica em relação aos cata<strong>do</strong>res como sujeito incapaz <strong>de</strong> intervir3 BIRKBECK, C. Self-employed proletarians in an informal factory: the case of Cali´s garbage dump. In: WorldDevelopment Journal. Vol.6, N°.9/10, p.1173-1185, 1978. e FUREDY, C. Sócio-political aspects of the recovery abdrecycling of urban wastes in Ásia. In: Conservation and recycling, Vol.7, N° 2-4, p.167-173, 1984.4 MEDINA, M. Co-operatives for waste recyclers.In: COAD, A. Private Sector Involvement in Solid WasteManagement- Avoiding Problems and Building on Successes. Eschborn: Deutsche Gesellschaft fur TechnischeZusammenarbeit (GTZ), 2005.5 A partir <strong>de</strong> um trabalho sócio-pedagógico <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela Pastoral <strong>de</strong> Rua da Arquidiocese <strong>de</strong> Belo Horizonte nofinal da década <strong>de</strong> 80.2


nas ações que lhe diz respeito, ou seja como sujeito porta<strong>do</strong>r apenas <strong>de</strong> mazelas e <strong>de</strong>ficiências. 6 Aimplementação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> resíduos sóli<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forte cunho cidadão, a partir <strong>de</strong> 1993, através<strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Coleta Seletiva <strong>de</strong> Belo Horizonte em Parceria com a ASMARE pelaSuperintendência <strong>de</strong> Limpeza Urbana – SLU- contribuiu na atribuição <strong>de</strong> “status público” (Offe,1989) 7 à este segmento empenha<strong>do</strong> na construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva enquanto agentesambientais. 8 Belo Horizonte também foi pioneira na incorporação <strong>do</strong>s carroceiros <strong>do</strong> entulho daconstrução civil, através <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Correção Ambiental, da SLU, que implantou duasestações <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong> entulho e várias estações <strong>de</strong> recebimento <strong>de</strong> pequenos volumes <strong>de</strong>entulho on<strong>de</strong> os carroceiros que trabalham no recolhimento <strong>de</strong>sse resíduo po<strong>de</strong>m fazer a correta<strong>de</strong>posição <strong>do</strong> mesmo 9 .Esses projetos funcionam como mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>monstrativos das possibilida<strong>de</strong>s integrativas a partir dagestão <strong>de</strong> resíduos sóli<strong>do</strong>s e vêm inspiran<strong>do</strong> não somente a organização <strong>de</strong> váriasassociações/cooperativas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res informais da reciclagem no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais e noresto <strong>do</strong> Brasil, como tem também cria<strong>do</strong> um clima <strong>de</strong> maior sensibilida<strong>de</strong> das administraçõesmunicipais para a importância da criação <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> incorporação <strong>do</strong> segmento <strong>de</strong>trabalha<strong>do</strong>res informais <strong>do</strong> <strong>lixo</strong>.As lições aprendidas a partir da parceria ASMARE/SLU, por exemplo, foi uma das fontes <strong>de</strong>inspiração para a constituição <strong>do</strong> Programa Lixo & Cidadania, cria<strong>do</strong> por iniciativa <strong>do</strong> UNICEF,em 1998. Tal programa tem como principal pressuposto a noção da gestão integrada <strong>do</strong>s resíduossóli<strong>do</strong>s 10 que po<strong>de</strong>ria ser assim sintetizada:6 Para um resgate <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> constituição da ASMARE ver: OLIVEIRA, M.V. A população <strong>de</strong> rua e suas relações<strong>de</strong> trabalho: os cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> papel em Belo Horizonte 1988-1989. Belo Horizonte: Departamento <strong>de</strong> História daPontifícia Universida<strong>de</strong> Católica, 1998. 120p. (Monografia).7 Me remeto aqui à análise <strong>de</strong> Offe das três dimensões <strong>de</strong> análise das organizações <strong>de</strong> interesse. OFFE, C. A atribuição<strong>de</strong> status público aos grupos <strong>de</strong> interesse. In: OFFE, C. Capitalismo <strong>de</strong>sorganiza<strong>do</strong>. São Paulo: Brasiliense, 1989.8 Para uma análise da parceria po<strong>de</strong>r público e ASMARE ver: (1) DIAS, S.M. et all. Coalisões para a mudança: avançose limites <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Coleta Seletiva <strong>de</strong> Belo Horizonte em Parceria com a Associação <strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Papel. In:FERNANDES, E. & RUGANI, J.M. CIDADE, MEMÓRIA E LEGISLAÇÃO: a preservação <strong>do</strong> patrimônio naperspectiva <strong>do</strong> direito urbanístico. Belo Horizonte: IAB-MG, 2002. ; (2) DIAS, S.M. & ANDRADE, H.S. StreetScavengers: Partners in the Selective Collection of Inorganic Materials in Belo Horizonte City. In: InternationalDirectory of Solid Waste Management 1998/9. The ISWA Yearbook. Lon<strong>do</strong>n: James & James, 1998.9 Para maiores informações sobre o trabalho realiza<strong>do</strong> com os carroceiros ver a publicação <strong>do</strong> Programa Gestão Públicae Cidadania: “Histórias <strong>de</strong> um Brasil que funciona”, publica<strong>do</strong> pela Escola <strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> São Pauloda Fundação Getúlio Vargas, Ciclo <strong>de</strong> Premiação 2000.10 Ver a publicação <strong>do</strong> Fórum Estadual Lixo & Cidadania “Coleta seletiva – um manual para cida<strong>de</strong>s mineiras”. Parauma discussão mais conceitual da noção <strong>de</strong> gestão integrada ver as publicações <strong>do</strong> Collaborative Working Group onSolid Waste Management no site: www. skat.ch .3


foco no uso <strong>de</strong> tecnologia apropriada no tratamento e disposição final <strong>do</strong>s resíduos sóli<strong>do</strong>s;foco na gestão participativa, ou seja, o <strong>problema</strong> <strong>do</strong>s resíduos sóli<strong>do</strong>s é um <strong>problema</strong> tanto<strong>do</strong> governo quanto da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve envolver to<strong>do</strong>s os setores;foco na inclusão social <strong>de</strong> grupos em vulnerabilida<strong>de</strong> social na perspectiva <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos com oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> trabalho e renda e <strong>de</strong>construção da <strong>cidadania</strong>;foco na mobilização social e educação ambiental da população com fins <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>valores e hábitos no trato com o <strong>lixo</strong>.A principal estratégia <strong>do</strong> Programa Lixo & Cidadania tem si<strong>do</strong> a criação <strong>do</strong>s Fóruns Lixo &Cidadania que – seja no âmbito nacional 11 , estadual ou municipal – é constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> representantes<strong>de</strong> diversos segmentos da socieda<strong>de</strong> civil, <strong>do</strong>s governos e da iniciativa privada e atua nos senti<strong>do</strong>spropositivo, <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> apoios e <strong>do</strong> monitoramento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> gestão integrada <strong>de</strong>resíduos sóli<strong>do</strong>s na perspectiva da inclusão social. 12Essa nova concepção da gestão <strong>do</strong> <strong>lixo</strong> representa um significativo avanço para o setor <strong>de</strong> resíduossóli<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> sempre houve o pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> uma abordagem tecnicista e administrativa, com umaforte prepon<strong>de</strong>rância da visão higienista como eixo nortea<strong>do</strong>r das ações. Alguns avanços em nívelestadual e nacional po<strong>de</strong>riam ser enumera<strong>do</strong>s a título ilustrativo <strong>de</strong>sse percurso que vem associan<strong>do</strong>o <strong>lixo</strong> à <strong>cidadania</strong>:Inclusão da exigência na Deliberação Normativa <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Política Ambiental <strong>de</strong>Minas Gerais –COPAM 052/1, da incorporação <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res em projetos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong>renda, <strong>de</strong> preferência na própria coleta seletiva implantada nos municípios.Inclusão da representação <strong>do</strong> Fórum Estadual Lixo e Cidadania no Grupo <strong>de</strong> Trabalho paraelaboração <strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> Política Estadual <strong>de</strong> Resíduos Sóli<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais.Lançamento pela Ministra <strong>do</strong> Meio Ambiente, Marina Silva, <strong>do</strong> Edital 04/2003 <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong>Nacional <strong>do</strong> Meio Ambiente – FNMA no valor <strong>de</strong> R$ 4 milhões para apoio às associações<strong>de</strong> cata<strong>do</strong>res.11 O Fórum Nacional Lixo & Cidadania foi cria<strong>do</strong> em 1998 por uma iniciativa <strong>do</strong> UNICEF, através da campanha“Criança no Lixo Nunca Mais”. Esse Fórum congrega 56 entida<strong>de</strong>s, entre elas a ABES, a ABRING, o MovimentoNacional <strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Recicláveis, o Ministério Público etc. Existem no país cerca <strong>de</strong> 23 Fóruns Estaduais Lixo &Cidadania e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> Fóruns Municipais. Cerca <strong>de</strong> 46 mil crianças já foram retiradas <strong>do</strong>s lixões no país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> acriação <strong>do</strong> Fórum Nacional Lixo & Cidadania.12 Para mais informações sobre o Fórum Lixo & Cidadania ver o site <strong>do</strong> Fórum Nacional: www.aguaevida.org.br(acessar o link <strong>do</strong> Fórum).4


Alguns avanços recentes nos dispositivos legais relativos ao setor <strong>de</strong> saneamento, já emvigor ou ainda em forma <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> lei, têm incidência sobre a dimensão <strong>do</strong> <strong>lixo</strong> e da<strong>cidadania</strong>. A gestão associada <strong>de</strong> serviços públicos, por exemplo, prevista pela Lei nº11.107– 2005 contém dispositivo que apresenta possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> celebração <strong>de</strong> convênios comcooperativas <strong>de</strong> cata<strong>do</strong>res.Reconhecimento da profissão <strong>de</strong> cata<strong>do</strong>r ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> incluída, em 2002, na classificação dasocupações no Brasil como cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> resíduos susceptíveis <strong>de</strong> serem recicla<strong>do</strong>s.Criação <strong>do</strong> Comitê Interministerial <strong>de</strong> Inclusão Social <strong>de</strong> Cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Lixo cria<strong>do</strong> peloGoverno Fe<strong>de</strong>ral em 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2003 13 com representação <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res, através <strong>do</strong>Movimento Nacional <strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Recicláveis.Des<strong>de</strong> 2003, os programas governamentais passaram a condicionar o repasse <strong>de</strong> recursosmunicipais à: erradicação <strong>do</strong>s lixões; elaboração <strong>de</strong> Planos <strong>de</strong> GIRSU (Gestão Integrada <strong>de</strong>Resíduos Sóli<strong>do</strong>s Urbanos) com componente <strong>de</strong> inclusão social; apoio à organização <strong>do</strong>scata<strong>do</strong>res e parceria com os mesmos na coleta seletiva e quan<strong>do</strong> necessário assinatura <strong>de</strong>TAC – Termos <strong>de</strong> Ajustamento <strong>de</strong> Conduta; a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>s princípios e conceitos <strong>do</strong> Programa“Lixo e Cidadania”.Esses são apenas alguns exemplos <strong>do</strong>s avanços obti<strong>do</strong>s no setor na última década e que indicamuma tendência à uma gestão voltada para a realização da <strong>cidadania</strong> daqueles que sobrevivem <strong>do</strong> <strong>lixo</strong>no Brasil. Mas essa associação <strong>do</strong> <strong>lixo</strong> à temática da <strong>cidadania</strong> não se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> uma forma aleatóriaou espontaneísta. Tal mudança se <strong>de</strong>u num contexto que se situa num momento on<strong>de</strong> tem havi<strong>do</strong> aconvergência <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> mobilização social <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res <strong>de</strong> recicláveis com to<strong>do</strong> um quadro<strong>de</strong> experimentações participativas no país.No entanto, a dimensão e gravida<strong>de</strong> da questão ambiental e social no país requer ainda um enormeesforço conjuga<strong>do</strong> para que os avanços obti<strong>do</strong>s, até agora, em relação a essa associação <strong>do</strong> <strong>lixo</strong> à<strong>cidadania</strong> possam se generalizar para to<strong>do</strong> o país e se consolidarem. É necessário uma gran<strong>de</strong>mobilização social da socieda<strong>de</strong> e vonta<strong>de</strong> política <strong>do</strong>s gestores públicos.E os Fóruns Lixo & Cidadania têm um importante papel a <strong>de</strong>sempenhar nesse senti<strong>do</strong> já que acoleta <strong>do</strong>s recicláveis que há décadas vem sen<strong>do</strong> realizada pelos cata<strong>do</strong>res vem sen<strong>do</strong> objeto, nosúltimos anos, <strong>do</strong> interesse especulativo <strong>de</strong> grupos liga<strong>do</strong>s ao setor priva<strong>do</strong> <strong>do</strong> saneamento. Daí<strong>de</strong>corre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se incentivar a formação <strong>de</strong> Fóruns Municipais Lixo & Cidadania no13 O Decreto s/nº <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2003 cria o Comitê Interministerial da Inclusão Social <strong>de</strong> Cata<strong>do</strong>res<strong>de</strong> Lixo, com as finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>: implementar o projeto interministerial "Lixo e Cidadania: Combate à FomeAssocia<strong>do</strong> à Inclusão <strong>de</strong> Cata<strong>do</strong>res e à Erradicação <strong>de</strong> Lixões".5


senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que uma articulação em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atores tão diversos como os governos, a socieda<strong>de</strong> civil ea iniciativa privada possam contribuir para mudar o cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação sócio-ambiental noEsta<strong>do</strong> e no país.De Leônia à Ândria. Na cida<strong>de</strong> imaginária <strong>de</strong> Ândria duas virtu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> caráter <strong>de</strong> seus habitantesmerecem ser recordadas, nos fala Ítalo Calvino: “... a confiança em si mesmos e a prudência.Convictos <strong>de</strong> que cada inovação na cida<strong>de</strong> influi no <strong>de</strong>senho <strong>do</strong> céu, antes <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>cisãocalculam os riscos e as vantagens para eles e para o resto da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s”. Para quepassemos da opulência <strong>de</strong> Leônia para a prudência ecológica <strong>de</strong> Ândria precisamos incorporar osmúltiplos olhares e as múltiplas falas <strong>do</strong>s atores da socieda<strong>de</strong> civil, <strong>do</strong> setor público e <strong>do</strong> setorpriva<strong>do</strong> num esforço conjuga<strong>do</strong> <strong>de</strong> reflexão e ação para a concretização <strong>de</strong> novos mun<strong>do</strong>spossíveis. Um mun<strong>do</strong> que torne visíveis outros tipos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s. Cida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> os princípios dasolidarieda<strong>de</strong> e da prudência sócio-ambiental sejam o dínamo re-alimenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> movimento davida.6

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