ROUBE COMO UM ARTISTA
Roube%20como%20um%20artista_%2010%20dicas%20-%20Austin%20Kleon
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“Eu tenho olhado tempo demais para os retângulos planos<br />
e brilhantes das telas de computador. Torço para que nos<br />
deem mais tempo para fazer coisas no mundo real...<br />
plantar uma planta, passear com os cachorros, ler um livro<br />
de verdade, ir à ópera.” – Edward Tufte<br />
Quando eu participava de workshops de escrita criativa na faculdade, tudo que fazíamos tinha que<br />
estar em espaçamento duplo e em fonte Times New Roman. E o que eu produzia era simplesmente<br />
horrível. Escrever deixou de ser divertido para mim. O poeta Kay Ryan constata: “Antigamente, antes<br />
das disciplinas de escrita criativa, um workshop era um lugar, geralmente um porão, onde se serrava,<br />
martelava, perfurava ou esboçava alguma coisa.” O escritor Brian Kiteley gosta de manter seus<br />
workshops leais ao sentido original da palavra: “um cômodo iluminado, arejado, cheio de<br />
ferramentas e materiais brutos onde a maioria do trabalho é feito usando as mãos”.<br />
Foi só quando comecei a trazer ferramentas analógicas de volta ao meu processo, que fazer<br />
coisas tornou-se divertido de novo e meu trabalho começou a melhorar. Para o meu primeiro livro,<br />
Newspaper Blackout, tentei fazer com que o processo empregasse minhas mãos o máximo possível.<br />
Cada poema naquele livro foi feito com um artigo de jornal e uma caneta marca-texto. O processo<br />
envolvia a maioria dos meus sentidos: a sensação do jornal impresso nas minhas mãos, a visão de<br />
palavras desaparecendo debaixo dos meus traçados, o leve chiado da ponta de feltro da caneta, o<br />
odor dos vapores da caneta – havia uma espécie de magia em tudo isso. Quando estava fazendo os<br />
poemas, não parecia um trabalho. Era como brincar.<br />
O computador é muito bom para editar suas ideias, e é muito bom para deixá-las prontas para<br />
publicar e lançá-las ao mundo, mas não é muito bom para gerar ideias. Há várias oportunidades para<br />
pressionar a tecla delete. O computador estimula o perfeccionista perturbado em nós – começamos a<br />
editar ideias antes de tê-las. O cartunista Tom Gauld diz que fica longe do computador até ter feito a<br />
maior parte da elaboração para suas tiras, porque, assim que o computador entra em cena, “as coisas<br />
já se encontram no rumo inevitável da finalização. Enquanto no meu caderno de esboços as<br />
possibilidades são infinitas”.<br />
Quando chegou a hora de organizar Newspaper Blackout, eu escaneei todos os poemas e os<br />
imprimi pequenos, cada um do tamanho de um quarto de uma folha de papel. Então os espalhei pelo<br />
meu escritório, rearranjei em pilhas e depois em um monte cuja ordem copiei de volta para o<br />
computador. Foi assim que o livro foi feito – primeiro mãos, depois computador, depois mãos e<br />
depois computador. Um tipo de loop analógico-digital.