Cidade
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Lutcha<br />
Agenda da <strong>Cidade</strong> • Santo André<br />
Alma mestiça<br />
Quando os europeus saíram<br />
explorando o mundo, a maioria<br />
dos países descobertos e colonizados<br />
já eram habitados, mas o<br />
Arquipélago de Cabo Verde era<br />
desabitado e os portugueses<br />
usaram a Ilha de Santiago como<br />
entreposto de escravos e plantas<br />
que vinham para o Brasil. Hoje, a<br />
população de cabo-verdianos é<br />
de aproximadamente 1,3 milhão,<br />
dos quais apenas 550 mil vivem<br />
nas ilhas. O restante está espalhado<br />
pelo mundo.<br />
O desafio de preservar a<br />
cultura cabo-verdiana nesses<br />
meus 53 anos de vida no Brasil<br />
inclui Santo André. <strong>Cidade</strong>-irmã<br />
de São Nicolau, uma das 10 ilhas<br />
de Cabo Verde, acolhe cerca de<br />
300 imigrantes e descendentes.<br />
Porém os mais velhos estão<br />
falecendo e a nova geração<br />
não se interessa em manter a<br />
Associação Caboverdeana do<br />
Brasil, guardiã de nossa memória<br />
e referência de pesquisa de<br />
universidades brasileiras, que<br />
conta com o apoio do Consulado<br />
de Cabo Verde, em São Paulo, e<br />
da Embaixada de Cabo Verde, em<br />
Brasília<br />
Sabemos que nascemos mestiços.<br />
Falamos o dialeto crioulo,<br />
que significa mistura. A Lei Colonial<br />
nos obrigava a ter um nome<br />
português, no meu caso, Lucialina<br />
Maria Soares dos Reis, mas<br />
tínhamos também um nome no<br />
dialeto o meu é Lutcha.<br />
Gosto muito do que minha<br />
cidade de Santo André produz.<br />
Temos o Grupo Cultural Caboverdiano,<br />
que completa 20 anos<br />
em 2016 e representa a cidade<br />
ininterruptamente no Revelando<br />
São Paulo/Festival da Amizade<br />
desde 2007.<br />
Contamos com o Museu de<br />
Santo André Octaviano Gaiarsa<br />
como grande fomentador da<br />
pesquisa da diversidade cultural<br />
da cidade. Em 2007 organizamos<br />
a apresentação, no Teatro Municipal,<br />
de Cesária Évora, “Diva<br />
dos pés descalços” conhecida<br />
em todo o mundo, principalmente<br />
na Europa, vencedora do<br />
Grammy da World Music.<br />
Com a fundação do Grupo<br />
Kizomba Cultura e Arte, saí da<br />
minha zona de conforto e fui<br />
conhecer Santo André. Saí do<br />
meu próprio gueto e andei pelos<br />
bairros com peças teatrais que<br />
tratavam da discriminação. Passei<br />
a olhar a cidade com outros<br />
olhos e a sentir o pertencimento.<br />
Entendi que a cultura cabo-verdiana<br />
era importante para Santo<br />
André.<br />
Lutcha é técnica contábil aposentada,<br />
secretária Geral da Associação<br />
Caboverdeana do Brasil, Folclorista<br />
e Diretora de Artes do Grupo<br />
Cultural Caboverdiano.<br />
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