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2 <strong>Folha</strong><br />
povoitauna.com<br />
Opinião<br />
O baile de formatura<br />
Itaúna | Sábado, 10 de setembro de 2016 | Edição 1207<br />
Ponta da Caneta<br />
Sérgio Tarefa<br />
Causus<br />
...<br />
O Taxi do<br />
Benevides<br />
estacionado<br />
na porta<br />
do clube<br />
recusou a<br />
transportá-<br />
-lo, tamanho<br />
era o<br />
mal cheiro.<br />
Anis José Leão<br />
Jornalista<br />
...<br />
No seu,<br />
eu virei<br />
também”.<br />
Mas sua<br />
memória<br />
falhou, e ele<br />
respondeu<br />
presente.<br />
- “Cê acha que este baile vai ser bão?” – Indagava<br />
o Fidélis enquanto a tesoura do Mauro<br />
Barbeiro picotava o seu ralo couro cabeludo.<br />
- “Baile de formatura sempre é bom,<br />
principalmente este que é das normalistas<br />
da Escola Normal e ainda por cima, no Clube<br />
do União Operária”.<br />
O Mauro era um dos mais conceituados<br />
barbeiros da cidade naquela época e tinha três<br />
grandes paixões: o Fluminense Futebol Clube,<br />
a cantora Ângela Maria e o Clube Recreativo<br />
União Operária, onde era um dos mais respeitados<br />
pés de valsa. Naquele sábado estava ansioso,<br />
pois fora convidado por uma sobrinha,<br />
que estava se formando, para dançar a valsa<br />
da meia-noite no baile de formatura no clube<br />
de sua predileção. Não via a hora de fechar a<br />
barbearia e ir direto ao tintureiro buscar o seu<br />
terno de linho branco S-120.<br />
- “Ô Zé do Dezy, para de beber rapaz. Não<br />
se esqueça do baile de hoje no União. Já são<br />
quase oito horas da noite e a turma combinou<br />
de ir junto” - falava meio preocupado o Zé da<br />
Telefônica, numa roda com o Carlos Alberto,<br />
Ronaldo Nogueirinha, Zé de Paula e outros<br />
mais. Sem dar muita atenção ao seu interlocutor<br />
o Zé do Dezy gritava de sua mesa lá no<br />
bar do Automóvel Clube: - “Ô Zé da Ramira,<br />
traz mais um cuba, mas vê se capricha no rum<br />
desta vez, hem? E vai tratando de preparar o<br />
meu PF com bastante macarrão e ovo frito<br />
que daqui eu vou direto pro baile do União.<br />
Já eram quase onze horas da noite, a<br />
orquestra já tocava há uma hora e o salão<br />
estava repleto de associados, formandos e<br />
convidados sacolejando um gostoso samba<br />
fox-trote. Êta conjunto ajeitado - exclamava<br />
o Dionas Barbeiro, que num impecável terno<br />
preto risco de giz, rodopiava salão a fora,<br />
dando uma verdadeira aula de como dançar<br />
bem. Pena que daqui a pouco o conjunto vai<br />
Não sei explicar direito, ele tinha um<br />
carinho diferente comigo, fazia-me sentir<br />
à vontade no meio da turma toda, como se<br />
houvesse já um papel designado para eu<br />
fazer no filme de todos os dias; era (como<br />
eu), doido com a língua inglesa, ele cantava<br />
o Frank Sinatra noite e dia, com um vozeirão<br />
bem no fundo da goela, à maneira que<br />
os negros cantam seus “spirituals” e seus<br />
“souls”, lá no tedioso sul norte-americano;<br />
ele exigia que um bom lugar na furreca<br />
sem freio coubesse à minha figurinha,<br />
guiava aquela meleca pela cidade toda, sem<br />
carteira, sem lenço e sem documento drumondiano;<br />
punha-me apelidos adocicados,<br />
tartamudeava palavras em árabe, como<br />
se quisesse dizer que era um dos meus;<br />
gracejava, sem qualquer ponta de malícia,<br />
das silabadas que minha mãe pronunciava<br />
no seu linguajar abstruso; inventava piadas<br />
a meu respeito, como a que conto já: dia 7<br />
de setembro, o Colégio Santana desfilando<br />
pela Silva Jardim, minha mãe e meu pai à<br />
janela enfeitada com guirlandas e azáleas, a<br />
turma marchando, peito pra frente, barriga<br />
pra trás, minha mãe explode de alegria no<br />
ouvido de meu pai – “saba’a, que gracinha,<br />
nosso anisinho único de basso certo”;<br />
aceito por ele em caráter definitivo, nunca<br />
precisei mostrar meu arsenal de ciência<br />
profana pra fazer parte daquela comunidade<br />
de rapazes que jogava bola no quintal<br />
parar para as formandas dançarem a valsa.<br />
Complementava.<br />
No balcão do bar, próximo ao salão, o Zé<br />
do Dezy, já bem jantado, tomava mais um<br />
daqueles cubas caprichados, quando veio<br />
àquele mal estar e aquela vontade de vomitar.<br />
Segurou a primeira vez olhando aflito<br />
para o banheiro dos homens, mas viu que<br />
dificilmente chegaria lá a tempo. Olhou para<br />
a sacada, mas ela estava apinhada de casais<br />
de namorados e ele corria o risco de atingir<br />
alguém. Custando a segurar, disparou rumo à<br />
escada de saída já com os olhos lacrimejando<br />
e as bochechas estufadas, e o jantar de duas<br />
horas antes prestes a sair. No meio da escada,<br />
subia todo garboso o Mauro Barbeiro trajando<br />
o seu impecável terno branco de puro linho irlandês<br />
S-120, rumo ao salão para dançar com<br />
uma das formandas, sua sobrinha, a valsa da<br />
meia-noite. Neste momento, o Zé do Dezy,<br />
que já não aguentava mais segurar a pressão<br />
que vinha do estômago soltou a primeira<br />
golfada de uma mistura de macarrão, feijão<br />
preto e ovo, que atingiu em cheio o peito e o<br />
ombro do prestigiado barbeiro. As duas outras<br />
seguintes atingiram a calça branca e o sapato<br />
de verniz marron.<br />
- Pare o baile, pare o baile – esbravejava<br />
o até então sorridente e pacato barbeiro, ao<br />
mesmo tempo em que o Zé do Dezy, ainda<br />
se refazendo do mal estar, lhe estendia uma<br />
nota de cem:<br />
- “Isto é para o senhor lavar o terno, seu<br />
Mauro”!<br />
O Taxi do Benevides estacionado na porta<br />
do clube recusou a transportá-lo, tamanho<br />
era o mal cheiro. A solução foi colocá-lo na<br />
carroceria da camionete do Jaques Antunes,<br />
que Silva Jardim abaixo, tentava levá-lo em<br />
casa a tempo de trocar de roupa e voltar para<br />
dançar a tão esperada valsa da meia noite........<br />
Mério, obrigado meu chapa<br />
do Dr. Coutinho; trocadilhista herdeiro<br />
de vezo paterno, não perdia ocasião de<br />
tracejar uma frase de paródia, de alegoria,<br />
de metáfora de carteiro e de poeta neruda;<br />
bom, leal, era aplicadíssimo no estudo,<br />
não poupava suor para aprender uma lição,<br />
sabia o que queria e não brincava em<br />
serviço; foi paixão de muita moça bonita e<br />
carinhosa, das que fazem o homem gemer<br />
sem sentir dor; formou-se na arte dentária,<br />
botou consultório na terrinha, graceja com<br />
a morte, dizendo que “nossa classe está<br />
sendo chamada”, quando Deus leva um<br />
Acir Porto, um Marco Helênio Pereira, um<br />
Dalmo Coutinho, um Juarez Coutinho, mas<br />
tanto ele quanto eu ainda não fomos porque<br />
sempre deixamos de responder à chamada.<br />
Esse bom amigo, de quem sempre recordo<br />
um passado de bondade, de carinho,<br />
que me aceitou para sempre sem que eu<br />
tivesse de sacar da pistola para mostrar que<br />
os brutos também amam, esse cara é o Mério<br />
Alves de Sousa, sem tir-te nem guar-te.<br />
(até aqui é republicação da Itaunesca n. 6)<br />
À beira- túmulo de Guaracy Nogueira e<br />
Heleno Coutinho, proferi fala de homenagem<br />
e despedida. Mério estava presente e,<br />
assim que nos abraçamos, ele disse: “No<br />
seu, eu virei também”. Mas sua memória<br />
falhou, e ele respondeu presente.<br />
Sei-o numa boa morada do Pai.<br />
Amém!<br />
A nojenta guerra<br />
das pesquisas<br />
e a imprensa<br />
barranqueira<br />
de “cozinha”<br />
Com prazos curtos e a propaganda restrita, as eleições municipais<br />
deste ano, que vão acontecer no próximo dia 2 de outubro, se transformaram<br />
em uma incógnita e as estratégias para saber a movimentação<br />
do eleitor e as tendências do seu voto estão centradas de forma<br />
mais agressiva nas coletas de dados, ou seja, nas pesquisas eleitorais.<br />
São várias e feitas, algumas vezes, por institutos sérios e, na maioria<br />
delas, por “particulares” ou institutos de fundo de quintal sem metodologia<br />
adequada, o que pode não apresentar dados reais no dia ou<br />
semana da coleta dos dados. O fato é que os candidatos travam uma<br />
briga surda em função das pesquisas e as tentativas de manipulação<br />
do eleitor começam em função dos resultados apontados. Cria-se então<br />
uma rede de fofoca que faz com que os dados sejam levados de<br />
forma controversa até o eleitor menos informado. Somado a isso as<br />
notícias veiculadas pelos jornais locais, com destaque para um que<br />
está completamente manipulado e ensandecido, contribuem para<br />
tumultuar ainda mais o quadro eleitoral.<br />
Preocupa-me o fato do jornalismo local,<br />
(...)<br />
A presunção<br />
de que há<br />
repercussão<br />
e essas comprometem<br />
interesses é<br />
hilária, pois<br />
os interesses<br />
estão exatamente<br />
na<br />
burra que<br />
sustenta o<br />
“calepino”.<br />
Renilton<br />
Gonçalves Pacheco<br />
até em função da realidade política nacional,<br />
não levar muito a sério a matéria política.<br />
É que para se ter boa leitura é preciso<br />
estar diante de bom conteúdo editorial,<br />
com critérios mais uma vez jornalísticos e<br />
menos políticos. E se a política precisa prevalecer,<br />
o conteúdo precisa ser levado mais<br />
a sério, porque assim o leitor também está<br />
sendo levado a sério. Em minha opinião,<br />
no jornalismo, a presunção não deve estar<br />
presente porque ela “mata”, literalmente, o<br />
poder do jornalista de transmitir a notícia<br />
com isenção e impede o editor de definir<br />
o que é matéria jornalística de matéria que<br />
ele presume ser de interesse do leitor. Ter a<br />
presunção de que se está fazendo um bom<br />
jornalismo é pior que ter a certeza de que<br />
se não consegue fazê-lo, por simples falta<br />
de conhecimento ou por incompetência<br />
mesmo.<br />
A máxima do jornalista Alberto Dines<br />
encaixa em Itaúna como uma luva: “A sociedade<br />
que aceita qualquer jornalismo<br />
não merece jornalismo melhor”. Ultimamente<br />
existe tanta porcaria no mercado<br />
editorial itaunense que diria serem feitos em baiúcas. A presunção<br />
de que há repercussão e essas comprometem interesses é hilária,<br />
pois os interesses estão exatamente na burra que sustenta o “calepino”.<br />
Credibilidade, é sempre a palavra usual quando se quer<br />
mostrar que a publicação aguça o interesse do leitor, sem usar artifícios<br />
de marketing. Essa, é difícil, pois demanda tempo, seriedade,<br />
trabalho, empenho e principalmente postura sequencial. A palavra<br />
credibilidade chega mesmo a ser pejorativa quando é grafada em<br />
qualquer lugar ou por qualquer um, porque para que se tenha credibilidade<br />
é preciso que o leitor saiba quem, qual e onde. Não é o<br />
caso, ainda. Quando o foco são interpretações e se tem a coragem<br />
de citar Nietzsche, é porque não se sabe mesmo o que é jornalismo.<br />
Mas aí está mais uma “interpretação” que contraria tudo que se tentou<br />
dizer, interpretar o que é de fato, é diferente de interpretar profissionalmente.<br />
A presunção volta à baila quando se pretende estar<br />
atualizado com a política de sua cidade. O que é estar atualizado?<br />
É saber das “maracutáias” e ajudar a encobrí-las? Ou é sufruir do<br />
conteúdo amontoado na burra em detrimento do conforto do povo?<br />
Concordo que só está bem informado aquele que procura versões<br />
dos acontecimentos, mas afirmo que para se estar bem informado<br />
é preciso antes de tudo ética. E essa, para se ter, é preciso formação<br />
de caráter. Sem essa, não se faz nada, muito menos jornalismo<br />
sério. Quanto à pretensão de alguns jornais de ser a única fonte da<br />
verdade, creio ser mesmo dispensável, porque a verdade só tem<br />
uma face e não depende de interpretação.<br />
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