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CASA RODANTE

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PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2016<br />

www.metrojornal.com.br {FOCO} 03|<br />

O<br />

berro foi ficando alto,<br />

cada vez mais próximo:<br />

“EeeeeeeeeeEEEEEE!”.<br />

Lá vinha Timtim, três anos,<br />

correndo pelo estacionamento<br />

perto do Colégio Militar,<br />

em Porto Alegre. A mãe dele,<br />

Genifer Gerhardt, 32 anos,<br />

gritou: “U-hu! Tô aqui na janela!”.<br />

O menino, de cabelos<br />

loiros encaracolados e energia<br />

inesgotável subiu a escada<br />

e entrou na casa, na verdade<br />

um motor-home verde<br />

com flores pintadas e paredes<br />

de madeira. A pergunta<br />

ao guri era se ele queria viajar.<br />

“Não!”, respondeu. Pudera.<br />

Fazia uns dez dias que havia<br />

voltado de viagem. Que foi<br />

longa. Durou um ano.<br />

Então, por ora o menino<br />

queria mais era debater<br />

sobre qual o melhor herói,<br />

se o Homem de Ferro ou o<br />

Capitão América. O Hulk,<br />

não. “O Hulk é esmagado!”,<br />

quer dizer, o Hulk bate muito<br />

nos outros, segundo Timtim,<br />

que brincava com bonequinhos<br />

de papel dos<br />

heróis colados nos dedos.<br />

Timtim é o apelido de Valentim.<br />

Valente, aos dois anos<br />

percorreu 19,5 mil km por 18<br />

Estados do país. Durante dois<br />

meses, duas amigas de Genifer<br />

estiveram juntas porque o<br />

grupo foi contemplado com o<br />

Prêmio Funarte de Teatro Myriam<br />

Muniz. O projeto acabou,<br />

e com ele o dinheiro do<br />

prêmio. Os outros dez meses<br />

foram todos para mãe e filho.<br />

Para sustentar a família,<br />

Genifer, nascida em Santa<br />

Cruz do Sul, lançou mão de<br />

seus dotes artísticos. Formada<br />

em teatro pela UFBA (Universidade<br />

Federal da Bahia), passou<br />

a se apresentar por onde<br />

andava. Via Facebook, a dupla<br />

começou a ficar conhecida.<br />

Uma rede se criou para<br />

recepcioná-los, convites pipocaram.<br />

Uma conta informada<br />

na internet recebia valores<br />

de colaboradores. Genifer<br />

também vendia bonecos inspirados<br />

em quem conhecia<br />

no caminho e um livro de sua<br />

autoria sobre maternidade.<br />

Na verdade, não precisava de<br />

muito. Sem IPTU, IPVA, hospedagem,<br />

os custos se limitavam<br />

a diesel, comida e plano<br />

de internet para o celular<br />

Vida sobre rodas<br />

Casa rodante. Mochileira convicta, artista por amor e por formação, Genifer Gerhardt<br />

uniu viagem e arte e mudou sua vida, sobrevivendo de suas apresentações na estrada<br />

Pessoas são o legado das viagens<br />

O interior do motor-home: não falta nada do que é necessário para uma casa<br />

Genifer e Timtim percorreram 19,5 mil km ao longo de 18 Estados brasileiros durante um ano em um motor-home | FOTOS: JOÃO MATTOS/ESPECIAL<br />

Apresentação em Campinarana, na Bahia | NATHÁLIA MIRANDA/ARQUIVO PESSOAL<br />

– média mensal de R$ 1 mil.<br />

A vida ficou nômade meio<br />

que por genética. O pai, Alfonso<br />

Dimperio, 64, veterinário,<br />

todo ano vinha com a ideia de<br />

que a família devia se mudar.<br />

E assim acontecia – hoje, vive<br />

no Tocantins. A mãe, Ruth<br />

Gerhardt, 62, é artesã, mora<br />

em Porto Alegre e legou o lado<br />

artístico. “Ela começou me<br />

vendo trabalhar. Depois queria<br />

fazer teatro e trabalhar<br />

com comunidades menos favorecidas”,<br />

recordou Ruth.<br />

Sobre as viagens, admite que<br />

fica com o coração apertado.<br />

Mas apoia. “Acho ótimo, apesar<br />

de ficar assim, preocupada.”<br />

Durante a viagem recente,<br />

celular e Skype ajudaram<br />

na comunicação.<br />

Quilômetro após quilômetro<br />

pelo Brasil, Genifer nunca<br />

teve sobressaltos de insegurança.<br />

A única medida repetida<br />

era parar em postos de<br />

combustíveis 24 horas ou residências.<br />

Diz que é preciso<br />

confiar no destino. O veículo,<br />

uma velha D-20 comprada<br />

por R$ 50 mil, estragou inúmeras<br />

vezes. “Sempre furava<br />

o pneu perto de uma borracharia,<br />

estragava o carro<br />

em frente a uma oficina. Perrengues<br />

a gente passou muitos,<br />

mas nunca pensei em<br />

Recordações fotográficas de viagem e boneco feito pela artista decoram o veículo<br />

desistir”, afirma. “Aprendi a<br />

confiar que alguma coisa vai<br />

acontecer. Não sei o que é o<br />

amanhã, mas eu confio.”<br />

Todo mundo que toma<br />

a estrada tem um motivo.<br />

Quem assistiu a filmes como<br />

“Livre” ou “Na Natureza Selvagem”<br />

sabe que a insatisfação<br />

com aspectos da vida de<br />

hoje são incentivadores para<br />

se largar ao mundo. Com Genifer<br />

não foi diferente. Ela teve<br />

empregos “normais” e se<br />

deu conta, nas pessoas ao redor<br />

dela e internamente, que<br />

a vida passava rápido demais.<br />

“As pessoas estão muito aceleradas.<br />

É uma velocidade que<br />

corrompe, a gente esquece as<br />

coisas fundamentais. Eu estava<br />

acelerada, e é difícil puxar<br />

o freio de mão”, diz. “Quando<br />

se está em viagem, um dia vira<br />

um mês”, compara.<br />

O projeto com as amigas<br />

foi o estopim, mas antes, ainda<br />

sem filho, ela já havia feito<br />

um longo mochilão pelo Brasil.<br />

Agora, na capital gaúcha,<br />

aproveita para absorver os<br />

aprendizados. Voltará a viajar<br />

“enquanto fizer sentido”. Se<br />

não fizer, será hora de parar.<br />

ANDRÉ<br />

MAGS<br />

METRO PORTO ALEGRE<br />

Em Porto Alegre, Genifer<br />

quer aproveitar a pausa para<br />

construir alguns bonecos<br />

inspirados nas pessoas que<br />

conheceu na viagem. Com a<br />

mãe por perto, poderá deixar<br />

Timtim sob os cuidados dela<br />

e se dedicar à tarefa. “Em viagem,<br />

acaba que se conhece<br />

gente inevitavelmente”, diz.<br />

No assunto “gente”, a artista<br />

costuma citar o Nordeste, para<br />

o qual às vezes se olha torto.<br />

“Queria falar do Nordeste<br />

com outro olhar. Enxergar as<br />

pessoas de um lugar que achamos<br />

muito diferente do nosso<br />

como pessoas como nós.”<br />

Todo o Sul e o Nordeste,<br />

São Paulo, Minas Gerais, Tocantins,<br />

Goiás, Mato Grosso,<br />

Mato Grosso do Sul: esta é a<br />

lista dos locais percorridos.<br />

Nesse universo, é difícil destacar<br />

um lugar. Com a ressalva,<br />

Genifer recorda de Cariri,<br />

no Ceará. “Lá, eles têm a cultura<br />

popular dos brincantes,<br />

que são pessoas que brincam<br />

o tempo todo”, resumiu, lembrando<br />

da alegria da cidade.<br />

Mas o legado são as pessoas.<br />

A convivência com tanta<br />

gente diferente transformou<br />

o pequeno Timtim em um<br />

menino falante que se arrisca<br />

até no inglês. “Here I am! Here<br />

I am!”, canta.<br />

Ao nos despedirmos, Timtim<br />

acenava na saída do estacionamento<br />

que serve de pouso<br />

provisório ao motor-home.<br />

Seu novo companheiro de<br />

conversa era um morador de<br />

rua que passava por ali. Ajoelhado<br />

na altura do pitoco, o<br />

homem sorria, feliz com a<br />

atenção recebida. ANDRÉ MAGS<br />

Brasília.<br />

Sartori pede<br />

ajuda para a<br />

segurança<br />

Em reunião ontem com o<br />

ministro da Justiça e Cidadania,<br />

Alexandre de Moraes,<br />

em Brasília, o governador José<br />

Ivo Sartori pediu por mais<br />

ajuda da União ao Estado.<br />

Além da Força Nacional, que<br />

já atua em Porto Alegre, Sartori<br />

disse que “equipamentos,<br />

coletes balísticos e viaturas<br />

são bem-vindos”. Ele<br />

salientou ao ministro que o<br />

Rio Grande do Sul chamou<br />

quase 2 mil policiais civis e<br />

militares aprovados em concurso<br />

público e concederá<br />

abono de permanência para<br />

militares da reserva para<br />

frear a redução da tropa.<br />

Ainda ontem em seu giro<br />

por Brasília, o governador<br />

se reuniu com os ministros<br />

chefe da Casa Civil, Eliseu<br />

Padilha, e dos Transportes,<br />

Maurício Quintella Lessa.<br />

Sartori comemorou o anúncio<br />

da concessão do aeroporto<br />

Salgado Filho e disse que é<br />

hora de preparar a concessão<br />

de rodovias estaduais (veja<br />

mais na página 8). METRO POA<br />

Ciclone<br />

Defesa Civil<br />

mantém alerta<br />

Depois de dez cidades gaúchas<br />

enfrentarem problemas<br />

com as chuvas ontem,<br />

a Defesa Civil alerta<br />

para a possibilidade de novos<br />

temporais até a manhã<br />

de hoje. Os ventos podem<br />

chegar a 100 km/h.<br />

Ontem, pelo menos 96<br />

mil pessoas ficaram sem<br />

luz no Estado. Em Pelotas,<br />

um homem morreu na<br />

queda de postes de luz, segundo<br />

o jornal Diário Popular.<br />

METRO POA E BANDNEWS<br />

Sistema prisional<br />

Aprovada troca de<br />

área por prisões<br />

A Assembleia Legislativa<br />

aprovou ontem o projeto<br />

de lei do governo estadual<br />

que autoriza a troca<br />

do imóvel da FDRH (Fundação<br />

para o Desenvolvimento<br />

de Recursos Humanos),<br />

situado entre as<br />

avenidas Borges de Medeiros<br />

e Praia de Belas, com<br />

a Cia. Zaffari. A medida<br />

permitirá que a empresa<br />

construa unidades prisionais<br />

para o Estado. Com isso,<br />

o governo espera criar<br />

mil novas vagas para presos.<br />

METRO POA

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