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LOCAL<br />

Jornal do Estado,<br />

POUSO ALEGRE, 09 A 11 DE SETEMBRO DE 2016<br />

Pela segunda vez a licitação para construir o Aeroporto Internacional de Cargas de Pouso Alegre não se realizou.<br />

Nenhum investidor mostrou-se interessado em apresentar proposta e participar do sonho alado de Perugini<br />

Aeroporto não desperta interesse de investidores<br />

3<br />

O GRANDE FIASCO<br />

Da redação<br />

jornaldoestado@gmail.com<br />

Foi mais uma vez frustrada<br />

a tentativa da Prefeitura Municipal<br />

em realizar a licitação<br />

para contratar investidores<br />

para assumir a construção do<br />

Aeroporto Internacional de<br />

Cargas de Pouso Alegre. Na<br />

modalidade de Concorrência<br />

Pública 001/2016, foi primeiramente<br />

marcada para 03 de<br />

junho, mas diante da falta de<br />

interessados em participar da<br />

disputa, foi transferida para<br />

a última segunda-feira, 5 de<br />

setembro, mas novamente<br />

não despertou qualquer interesse<br />

de nenhum investidor. No<br />

projeto o aeroporto seria construído<br />

e operado através de<br />

uma Parceria Público Privada<br />

(PPP), com investimento inicial<br />

de R$ 541,3 milhões.<br />

Idealizado pelo prefeito<br />

Agnaldo Perugini desde<br />

2013, quando aprovou o projeto<br />

de criação na Câmara<br />

Municipal e alardeou para todo<br />

o Brasil que Pouso Alegre teria<br />

um aeroporto de cargas que<br />

Foto do projeto do aeroporto de cargas<br />

rivalizaria com os maiores do<br />

País, com pista de pouso de<br />

mais de 5 mil metros e capacidade<br />

para acolher grandes<br />

aviões cargueiros, confirmase<br />

agora que os devaneios<br />

do chefe do Executivo eram<br />

maiores que o próprio aeroporto<br />

e inalcançáveis frente à<br />

conjuntura econômica atual.<br />

Projetado para ser<br />

construído às margens da<br />

Fernão Dias, imediações dos<br />

bairros Curralinho, Vergani<br />

e Cajuru, o projeto recebeu<br />

nome de “Aeroporto Internacional<br />

de Pouso Alegre Padre<br />

José Bento Ferreira de Mello”, e<br />

ganhou até patrono. Investido<br />

no cargo de secretário municipal<br />

de Desenvolvimento Industrial,<br />

embora nomeado muito<br />

tempo depois de idealizado<br />

o aeroporto, o ora candidato<br />

Ricardo Puccini, que disputa<br />

as eleições municipais pelo<br />

PV, partido da base de apoio<br />

do governo municipal, teve<br />

logo seu nome divulgado na<br />

imprensa aliada como o “pai<br />

do aeroporto internacional de<br />

cargas”, que brevemente seria<br />

construído em Pouso Alegre.<br />

Fiasco, por muitos, considerado<br />

de grandes proporções.<br />

Frente ao insucesso ridículo<br />

e vexatório que se consolidou<br />

na segunda-feira (5)<br />

com o não comparecimento<br />

de investidores à Concorrência<br />

001/2016 pela segunda<br />

tentativa, o Jornal do Estado<br />

indagou à Prefeitura:<br />

-Por que (quais os motivos)<br />

a PMPA não marcou nova<br />

licitação para receber propostas<br />

para a construção do<br />

aeroporto de carga de Pouso<br />

Alegre?<br />

-A desistência de realizar<br />

uma nova licitação significa o<br />

reconhecimento de que não<br />

haverá investidor interessado?<br />

-Dessa forma, a PMPA<br />

desiste do projeto de construir<br />

o aeroporto de cargas?<br />

A assessoria de comunicação<br />

do governo municipal<br />

informou que com relação<br />

à suspensão da licitação do<br />

Aeroporto Internacional de<br />

Cargas e Passageiros “Padre Senador<br />

José Bento Leite Ferreira<br />

de Mello” a Prefeitura de Pouso<br />

Alegre informa o que segue:<br />

Os grupos interessados<br />

em participar do processo<br />

licitatório pediram novo prazo<br />

para estudos técnicos ao projeto<br />

de PPP e também devido ao<br />

momento político e econômico<br />

que o país atravessa. Uma nova<br />

data será divulgada oportunamente.<br />

Perugini (E) idealizou o projeto que não sai do papel e Ricardo Puccini, então<br />

secretário de DesenvolvimentoI Industrial e agora disputando as eleições municipais<br />

pelo PV, partido de apoio ao prefeito, foi denomiando “Pai do Aeroporto”.<br />

Da redação<br />

jornaldoestado@gmail.com<br />

Quando da primeira<br />

tentativa sem êxito de<br />

licitar as obras do aeroporto,<br />

em junho deste ano,<br />

veja o que o Jornal do Estado<br />

publicou à época:<br />

Quando divulgou em<br />

toda a imprensa o que seria<br />

a maior conquista do seu<br />

governo – a construção de<br />

um aeroporto internacional<br />

em Pouso Alegre - o<br />

prefeito Agnaldo Perugini<br />

convenceu-se de que estaria<br />

cravando com destaque<br />

seu nome entre os administradores<br />

mais notáveis que<br />

comandaram o município.<br />

Convencido de que<br />

o Aeroporto Internacional<br />

seria o pódium administrativo,<br />

Perugini deu<br />

asas à imaginação e voou<br />

alto. Reuniu a equipe de<br />

apoio e lançou aos quatro<br />

ventos a ideia alada.<br />

E assim alguns<br />

trâmites legais tiveram início.<br />

Contatos com a Agência<br />

Nacional de Aviação Civil<br />

(ANAC) foram providenciados,<br />

editais lançados, bem<br />

como autorizada pela Câmara<br />

Municipal as ações<br />

necessárias à realização da<br />

grande obra, entre estas autorização<br />

para repassar aos<br />

investidores o aeroporto<br />

municipal ora existente.<br />

O sonho, então,<br />

ganhou nome. Antes mesmo<br />

de existir já foi denominado<br />

de “Aeroporto Internacional<br />

de Pouso Alegre<br />

Padre Senador José Bento<br />

Leite Ferreira de Mello”,<br />

em homenagem ao padresenador,<br />

político de outrora<br />

e que, embora já empreste<br />

seu nome à principal praça<br />

pública da cidade, também<br />

mereceu batizar o pretenso<br />

Aeroporto Internacional,<br />

a despeito de outros<br />

pouso-alegrenses ilustres,<br />

que também fazem jus a<br />

homenagens póstumas.<br />

A localização do<br />

aeroporto, às margens da<br />

Fernão Dias e ocupando<br />

áreas dos bairros Vergani,<br />

Curralinho e Cajuru, já<br />

desde 2013 declaradas zona<br />

aeroportuária, colocou em<br />

polvorosa proprietários<br />

rurais afetados pela desapropriação<br />

que em breve<br />

viria e cujo valor proposto<br />

pelas terras estaria defasado<br />

junto ao preço do<br />

mercado imobiliário. Os<br />

proprietários de áreas que<br />

seriam ocupadas pelo novo<br />

aeroporto então se mobilizam<br />

com abaixo-assinado<br />

para conseguir preços justos<br />

para suas propriedades.<br />

FARSA<br />

Embora o projeto do<br />

Aeroporto Internacional de<br />

Pouso Alegre seja cercado<br />

de grande otimismo pela<br />

administração, setores da<br />

sociedade o analisam sob<br />

ótica diferente. Jamais a ideia<br />

foi acatada com total credulidade,<br />

até mesmo por causa de<br />

antecedentes da própria administração<br />

municipal campeã<br />

de obras inacabadas e projetos<br />

que não saem do papel.<br />

A desconfiança que<br />

paira sobre a construção do<br />

Aeroporto Internacional de<br />

Pouso Alegre vem ganhando<br />

corpo a cada dia. Ora<br />

alimentada pela falta de credibilidade<br />

do Executivo, ora<br />

confirmada com os desencontros<br />

de informações e ações.<br />

Ainda na última semana<br />

foi mudada a data da realização<br />

da Concorrência Pública<br />

01/2016, prevista para o dia 3<br />

de junho (sexta-feira), para 05<br />

de setembro deste ano. O motivo<br />

é que não teve investidor<br />

interessado em participar da<br />

disputa pela construção do<br />

Aeroporto de Pouso Alegre.<br />

Orçado em R$ 541,3 milhões,<br />

o aeroporto iria operar<br />

por meio de uma Parceria Público<br />

Privada (PPP), ou seja,<br />

a empresa investidora disponibilizaria<br />

o capital e poderia<br />

explorar outros atividades<br />

no entorno do aeroporto por<br />

um período de 30 anos, além<br />

de receber a área de 350 mil<br />

metros quadrados do atual<br />

aeroporto municipal. Nenhuma<br />

empresa se interessou.<br />

Em nota, a administração<br />

municipal informou<br />

que o prazo “foi estendido<br />

em decorrência de questionamentos<br />

apresentados por<br />

empresas potencialmente<br />

interessadas em participar<br />

da concorrência, alegando a<br />

necessidade de prazo maior<br />

para analisarem o projeto e<br />

completarem as cotações dos<br />

itens solicitados no certame”.<br />

DESCONFIANÇA<br />

Se havia desconfiança<br />

na construção do Aeroporto<br />

Internacional em<br />

Pouso Alegre, esta foi acirrada<br />

pela inexistência de<br />

interessados em construir e<br />

operar o empreendimento.<br />

Quando foi projetado,<br />

um dos argumentos sobre a<br />

viabilidade operacional do<br />

Aeroporto de Pouso Alegre<br />

era de que os dois principais<br />

aeroportos de São Paulo<br />

(Guarulhos, na Capital e Viracopos,<br />

em Campinas) estariam<br />

com sua capacidade<br />

operacional saturada. Então,<br />

um aeroporto internacional<br />

em Pouso Alegre, cidade<br />

com logística distinta, geograficamente<br />

próxima dos<br />

grandes centros consumidores<br />

e exportadores do País,<br />

iria desafogar o movimento<br />

dos aeroportos paulistas.<br />

Esse argumento cai por<br />

terra quando, em consulta à<br />

ANAC, esta informou ao Jornal<br />

do Estado que os aeroportos<br />

de São Paulo não estão com<br />

capacidade de atendimento<br />

saciada. Segundo o órgão<br />

eles operam com 40 a 70% de<br />

sua capacidade. Então, sepulta<br />

de vez o argumento de<br />

que o aeroporto em Pouso<br />

Alegre iria atender o excedente<br />

da demanda paulista.<br />

SEM PROPOSTAS<br />

Não bastasse a forte<br />

desconfiança que paira sobre<br />

o Aeroporto Internacional,<br />

outros fatores aguçam o<br />

mistério. A própria administração<br />

municipal contribui<br />

para reforçar as incertezas,<br />

ao orlar o empreendimento<br />

pela falta de informações.<br />

Exemplo disso foi<br />

nesta terça-feira (6), quando<br />

o Jornal do Estado solicitou<br />

as seguintes informações<br />

à prefeitura e não<br />

obteve resposta da sua<br />

assessoria de imprensa:<br />

1 - Se foi concluído o<br />

licenciamento ambiental:<br />

a) Sim: informar quais<br />

licenças foram concedidas e<br />

aprovadas e por qual órgão.<br />

b) Não: informar o que<br />

está faltando para concluir<br />

o licenciamento ambiental.<br />

2 - Quando foi publicado<br />

o extrato do Edital<br />

de Licitação para a Concorrência<br />

Pública do Aeroporto<br />

e em que órgão oficial<br />

de imprensa (Diário<br />

Oficial da União ou outro).<br />

3 - Informar se<br />

houve empresa interessada<br />

em adquirir o Edital<br />

de Licitação e citar os<br />

nomes, caso haja alguma.<br />

4 - Informar sobre<br />

a desapropriação da área<br />

onde será construído o<br />

aeroporto, como está o processo<br />

de desapropriação.<br />

5 - Informar se a licitação,<br />

adiada para 5 de setembro,<br />

não estará em desacordo<br />

com a legislação eleitoral.<br />

6 - Quando as propostas<br />

forem analisadas, no<br />

dia 05 de setembro, haverá<br />

apresentação à imprensa?<br />

ENGODO<br />

Por tudo isso, segmentos<br />

mais céticos da sociedade<br />

desbancam toda argumentação<br />

difundida pelo<br />

governo Perugini em torno<br />

do Aeroporto Internacional.<br />

Para muitos a obra não<br />

sairá do papel e tudo não<br />

passa de mais um engodo<br />

do Executivo municipal. A<br />

conclusão é aclarada pelo<br />

calendário eleitoral, ao se<br />

recordar a prodigalidade<br />

da administração em ano<br />

eleitoral, quando inúmeras<br />

frentes de obras são a-<br />

bertas e não concluídas.<br />

Para esses, tudo<br />

não passa de um embuste,<br />

uma grande farsa. O nome<br />

do padre-senador José Bento<br />

Leite Ferreira de Mello já<br />

denomina o Aeroporto Internacional<br />

de Pouso Alegre,<br />

que existe somente no papel,<br />

sem nunca ter sido.

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