128 ANOS
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T2 TRAINSPOTTING<br />
BRUNO CARMELO<br />
Quando comparado com tantos<br />
filmes cult que ganham sequências<br />
e refilmagens em Hollywood, T2<br />
Trainspotting possui algumas vantagens:<br />
primeiro, ele chega aos cinemas<br />
21 anos depois do original, ou seja,<br />
o projeto não foi impulsionado pelo<br />
timing comercial. Segundo, a sequência<br />
é baseada num livro realmente<br />
previsto para continuar a história dos<br />
jovens drogados dos anos 1990, com<br />
uma longa passagem do tempo que se<br />
adequa às duas décadas separando as<br />
produções. Terceiro, temos a mesma<br />
equipe, o mesmo diretor, os mesmos<br />
atores e os mesmos personagens, garantindo<br />
a integridade da franquia.<br />
O roteiro traz o retorno de Renton<br />
(Ewan McGregor) à cidade natal,<br />
supostamente feliz e bem-sucedido,<br />
demonstrando aos colegas seu<br />
saudável vício em atividades esportivas.<br />
Este homem rejuvenescido encontra<br />
Spud (Ewen Bremner) ainda dependente<br />
de heroína, Sick Boy (Jonny<br />
Lee Miller) rancoroso quanto ao roubo<br />
no passado e Begbie (Robert Carlyle)<br />
prestes a sair da prisão. Mas como<br />
as tramas do escritor Irvine Welsh<br />
não se sustentam em otimismo, logo<br />
descobrimos que a situação de Renton<br />
é mais complicada do que parece. Os<br />
quatro voltam às drogas e ao crime,<br />
ora em cooperação, ora competindo<br />
uns com os outros.<br />
Como continuação, T2 Trainspotting<br />
apresenta um desenvolvimento<br />
plausível do quarteto principal. O humor<br />
corrosivo se mantém, além da estética<br />
multicolorida, barulhenta e ágil<br />
que Danny Boyle havia criado para<br />
o original. Nada disso impressiona<br />
atualmente, de modo que o segundo<br />
filme não tem a menor chance de<br />
repetir o impacto ou a relevância cultural<br />
de seu antecessor. A fragmentação<br />
excessiva da imagem enchia os<br />
olhos da juventude pré-redes sociais,<br />
mas hoje em dia, parece comportada<br />
perto de alguns vídeos do YouTube.<br />
Boyle não está preocupado em se reinventar,<br />
em trazer a gangue à linguagem<br />
cinematográfica do sécuo XXI.<br />
Ele prefere fornecer um pouco mais<br />
do mesmo, com qualidade e domínio<br />
na direção.<br />
O filme funciona melhor como<br />
homenagem. A trama inclui dezenas<br />
de referências, citações e trechos copiados<br />
do primeiro filme. Algumas<br />
falas são lidas tal qual no projeto<br />
anterior, outras são adaptadas aos<br />
tempos contemporâneos – caso do<br />
famoso monólogo “Escolha a vida”,<br />
em curiosa releitura, mas filmado<br />
com uma imobilidade decepcionante.<br />
Boyle não tem problema em ser comparado<br />
com o original, pelo contrário,<br />
ele convida à constante comparação.<br />
O espectador que nunca tiver visto<br />
Trainspotting – Sem Limites deve ficar<br />
perdido diante da segunda parte.<br />
Assim, T2 Trainspotting constitui<br />
um eficiente produto de nicho de<br />
duas horas de duração, concebido<br />
para resgatar o amor por um filme<br />
que parecia tão subversivo em 1996.<br />
A sequência, domesticada e previsível,<br />
ainda diverte do começo ao fim,<br />
embora pareça branda nas imagens<br />
de sexo e drogas. Mas o que seria necessário<br />
para causar estrondo hoje em<br />
dia? Talvez este projeto deva ser lido<br />
como sintoma do momento em que se<br />
insere: este é um filme-choque para<br />
quem não se choca com mais nada,<br />
trama-tabu para a época em que todos<br />
os fetiches e drogas estão disponíveis<br />
na Internet. É a crítica de costumes no<br />
século em que toda crítica social pode<br />
ser transformada em algo cool, autoconsciente<br />
e inofensivo.<br />
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