Revista - Sintrasem - Layout e Diagramação (prévia).
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38dias<br />
ABRIL DE 2017<br />
SINTRASEM<br />
VITÓRIA DOS TRABALHADORES DO<br />
SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DE<br />
FLORIANÓPOLIS!<br />
NONO NONONO NONO NONONO NONO NONONO<br />
Exerite con es rem<br />
vendescia doluptaes ene<br />
vendic temperae et adit<br />
eum hilibus, corporecta<br />
voluptibus sitiit.<br />
Exerite con es rem<br />
vendescia doluptaes ene<br />
vendic temperae et adit<br />
eum hilibus, corporecta<br />
voluptibus sitinve rovit.<br />
Exerite con es rem<br />
vendescia doluptaes ene<br />
vendic temperae et adit<br />
eum hilibus, corporecta<br />
voluptibus sitinve rovit.
8<br />
PRESIDENTE<br />
Alex Santos<br />
Professor<br />
DIRETOR DO DEPTO. CIVIL<br />
Aline Homem<br />
Técnica de enfermagem<br />
SUPLENTE<br />
Ro Soldatelli<br />
Professora<br />
SECRETARIA GERAL<br />
Mateus Mendes<br />
Técnico de Enfermagem<br />
DIRETOR FINANCEIRO<br />
Márcio B. Nascimento<br />
Motorista COMCAP<br />
DIRETOR DO DEPTO. EDUCAÇÃO<br />
Ana Claudia da Silva<br />
Professora<br />
DIRETOR DO DEPTO. EDUCAÇÃO<br />
Carlos Eduardo Corrêa<br />
Professor<br />
DIRETOR DO DEPTO. EDUCAÇÃO<br />
Marquezan Renato Pereira<br />
Professor<br />
DIRETOR DO DEPTO. CIVIL<br />
Estácio Rosa<br />
Operacional<br />
DIRETOR DO DEPTO. CIVIL<br />
Elizângela Pereira<br />
Bibliotecária<br />
DIRETOR DO DEPTO. COMCAP<br />
Erziana Marcolino<br />
Margarida<br />
DIRETOR DO DEPTO. COMCAP<br />
Fabiana Paiva<br />
Margarida<br />
DIRETOR DO DEPTO. COMCAP<br />
Carlos Dal Jovem<br />
Capina<br />
SUPLENTE<br />
Claudia Rosa Batista<br />
Professora<br />
SUPLENTE<br />
Cláudio Vigânigo (Cadinho)<br />
Gari<br />
SUPLENTE<br />
Kleber Rischter<br />
Operacional<br />
SUPLENTE<br />
Franciele Machado<br />
Auxiliar de sala<br />
SUPLENTE<br />
Wagner Muniz<br />
Motorista na Secretaria de Saúde<br />
<strong>Revista</strong> 38 dias/<strong>Sintrasem</strong> - Projeto gráfico: Fernando Robleño | Jornalistas responsáveis:
índice<br />
2 TRAJETÓRIA DA GREVE<br />
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6 NACIONAL<br />
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7 MÍDIA<br />
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9 MEMÓRIA<br />
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11 JURÍDICO<br />
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12 COMUNIDADE<br />
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14 ARTE E CULTURA<br />
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17 A LUTA CONTINUA<br />
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editorial<br />
NENHUM<br />
DIREITO<br />
A MENOS<br />
O<br />
ano de 2017 já é sinônimo de luta, resistência e vitória entre<br />
os servidores municipais de Florianópolis. Durante trinta e oito<br />
dias assistentes sociais, técnicos de enfermagem, enfermeiros,<br />
médicos, dentistas, farmacêuticos, bibliotecários, professores, auxiliares<br />
de sala, supervisores escolar, orientadores educacionais, diretores<br />
e coordenadores das unidades da educação, assistência e saúde, vigias,<br />
motoristas, auxiliares administrativos, cozinheiras, auxiliares de<br />
serviço gerais, calceteiros, coveiros, soldadores, agentes de combate a<br />
endemias, agentes comunitários de saúde, atendentes de consultório<br />
odontológico, técnicos em higiene dental e prótese dentária, engenheiros,<br />
arquitetos, fiscais, educadores sócias, fonodiólogos, nutricionistas,<br />
psicólogos, veterinários, dentre tantos outros, ocuparam as ruas<br />
da capital para em conjunto com a população dizer não a retirada de<br />
direitos e ao desmonte do serviço público.<br />
O resultado desta mobilização foi uma greve forte que não se intimidou<br />
com os diversos ataques vindos do executivo, judiciário e da mídia<br />
burguesa que apostavam no recuo do movimento. A resposta foi a<br />
unidade e organização da categoria com assembleias e atos massivos,<br />
panfletagens, reuniões e diálogos recíprocos com as várias comunidades<br />
de Floripa que se somaram a luta compreendendo que o pacote<br />
de maldades de Gean Loureiro (PMDB) era um ataque a toda cidade. O<br />
prefeito recuou e nós vencemos!<br />
A revista que ora apresentamos reúne um pouco das nossas memórias<br />
e de nossa organização para enfrentar os inimigos do serviço público<br />
na luta por nenhum direito a menos. É também um registro do<br />
belo combate que permitiu a construção de uma das maiores greves<br />
na história de nossa categoria.<br />
Essas memórias apontam caminhos para as possibilidades de organização<br />
da classe trabalhadora no combate a todos os ataques impostos<br />
pelos governos subalternos ao capitalismo que tem como foco central<br />
o desmonte do serviço público. A luta vale a pena e sempre valerá!<br />
Trabalhador unido, jamais será vencido! Por nenhum direito a menos!<br />
Diretoria do <strong>Sintrasem</strong><br />
1 SINTRASEM - 38 DIAS
VITÓRIA DOS TRABALHADORES DO<br />
SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DE<br />
FLORIANÓPOLIS!<br />
Unidade na construção das greves de massas para enfrentar o ajuste fiscal<br />
A<br />
maior greve em adesão dos<br />
trabalhadores do serviço público<br />
municipal de Florianópolis<br />
chegou ao fim após 38<br />
dias de luta. Com um quadro de greve<br />
expressivo desde o início da mobilização,<br />
nos últimos dias o movimento<br />
contava com a participação de mais<br />
de 9 mil trabalhadores, representando<br />
95% da categoria.<br />
Eleito com uma diferença de 1.153<br />
votos para a segunda colocada, representando<br />
menos de 1% dos votos<br />
válidos, Gean Loureiro (PMDB) assumiu<br />
a Prefeitura Municipal de Florianópolis<br />
com um discurso copiado do<br />
Presidente Ilegítimo Michel Temer<br />
(PMDB): “vou fazer um governo de<br />
austeridade!” No primeiro dia de governo,<br />
contrariando o que havia dito<br />
uma semana antes na mídia, Gean<br />
Loureiro afirmou não ter dinheiro<br />
para pagar os salários de dezembro,<br />
dívida de seu antecessor, César Souza<br />
Júnior (PSD).<br />
No dia 5 de janeiro os trabalhadores<br />
da PMF realizaram sua primeira<br />
assembleia, declarando estado de<br />
trajetória da greve<br />
pacote de maldades de Gean Loureiro”.<br />
A assembleia decidiu por continuar<br />
em estado de greve pela retirada<br />
desse pacote, tendo em vista que<br />
seis projetos atingiam diretamente<br />
os direitos dos servidores públicos,<br />
inclusive colocando em risco o serviço<br />
público municipal. Os outros projetos<br />
visavam conceder benesses ao<br />
O <strong>Sintrasem</strong>, sindicato da categoria,<br />
galgou o difícil caminho de construir<br />
a unidade de diversas forças políticas<br />
e de todos os trabalhadores em<br />
torno de uma pauta: Nenhum direito<br />
a menos! Pela revogação das leis que<br />
retiram direitos dos servidores municipais!<br />
Relatamos a seguir o desenvolvimento<br />
dessa luta e seu desfecho.<br />
Com um quadro de greve expressivo desde<br />
o início da mobilização, nos últimos dias o<br />
movimento contava com a participação de<br />
mais de 9 mil trabalhadores<br />
greve para cobrar o pagamento dos<br />
salários atrasados. Nova assembleia<br />
aconteceu no dia 11 de janeiro. O<br />
Prefeito apresentou um calendário<br />
de pagamento, e realizou o depósito<br />
dos salários da maioria dos servidores.<br />
Ou seja, parecia resolvido o<br />
problema do pagamento de salários.<br />
Porém, no mesmo dia o Prefeito enviou<br />
para a Câmara Municipal de Florianópolis<br />
(CMF) 36 projetos de lei<br />
apelidados pelo <strong>Sintrasem</strong> como “o<br />
setor empresarial da cidade: perdão<br />
de pagamento de dívidas contraídas,<br />
renúncia fiscal, liberação para construir<br />
sem alvarás de licenciamento<br />
ambiental e semelhantes.<br />
No dia 16 de janeiro nova assembleia<br />
com deliberação de greve foi<br />
realizada. O “pacote de maldades”<br />
seria votado em regime de Urgência<br />
Urgentíssima, em um rito que duraria<br />
no máximo 15 dias, passando por<br />
cima do Regimento Interno da Câma-<br />
Servidores protestam<br />
contra o pacote de<br />
maldades do prefeito<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
2
trajetória da greve<br />
A população pôde<br />
entender que Gean<br />
estava atacando<br />
o serviço público<br />
e os direitos dos<br />
servidores públicos<br />
ra. Essa assembleia teve um sabor especial,<br />
devido a algumas peculiaridades.<br />
A grande maioria dos servidores<br />
presentes fazia parte do quadro civil<br />
da prefeitura, pois os trabalhadores<br />
do magistério estavam de férias. E<br />
foi talvez pensando que a ausência<br />
dos trabalhadores da educação fragilizaria<br />
o movimento,que o Prefeito<br />
colocou em votação o “pacote de<br />
maldades” em janeiro. No entanto, a<br />
mobilização da base impulsionada<br />
por membros da direção do sindicato<br />
e do conselho deliberativo da entidade<br />
teve como resultado a construção<br />
de uma assembleia com a presença<br />
de mais de 5 mil trabalhadores. E a<br />
votação para deliberar pelo início<br />
de uma greve foi tomada por unanimidade:<br />
estava iniciada a greve pela<br />
retirada do “pacote de maldades” do<br />
Prefeito Gean Loureiro (PMDB).<br />
Entre os dias 17 e 23 de janeiro, o<br />
<strong>Sintrasem</strong> procurou se articular com<br />
várias entidades sindicais e outros<br />
movimentos sociais, por meio do Fórum<br />
de Lutas em Defesa dos Direitos,<br />
do qual participavam representantes<br />
das centrais sindicais CUT, CTB, CSP/<br />
CONLUTAS e INTERSINDICAL, além de<br />
outros agrupamentos políticos, como<br />
a Unidade Classista, ligada ao PCB.<br />
Esta articulação garantiu a mobilização<br />
da sociedade contra o “pacote de<br />
maldades”, e a construção de um Ato<br />
Público e de uma Assembleia Popular<br />
para o dia 23 de janeiro em frente à<br />
Câmara Municipal.<br />
No dia 24 de janeiro ocorreu a votação<br />
e a aprovação de todas as leis que<br />
retiravam nossos direitos, enviadas<br />
para a Câmara Municipal pelo prefeito<br />
Gean Loureiro. Os trabalhadores da<br />
COMCAP, empresa pública responsável<br />
pela coleta de resíduos sólidos e<br />
pela limpeza da cidade, paralisaram<br />
suas atividades e aderiram ao ato realizado<br />
pelos servidores da PMF, que<br />
se concentravam em frente à Câmara<br />
desde as 7 horas da manhã. A pressão<br />
exercida sobre os vereadores e o prefeito<br />
não foi suficiente para barrar a<br />
votação, e o projeto que retirava importantes<br />
direitos conquistados ao<br />
longo de anos pelos trabalhadores do<br />
serviço público municipal foi aprovado<br />
por 12 votos contra 11. Enquanto<br />
a votação acontecia, do lado de fora<br />
a Guarda Municipal e a Polícia Militar<br />
reprimiam a manifestação com spray<br />
de pimenta, bombas de gás lacrimogênio,<br />
tiros de balas de borrachas, e<br />
batendo com cassetetes. Os trabalhadores<br />
presentes reagiram à violência,<br />
Servidores votam, por<br />
unanimidade, a favor da<br />
greve<br />
atirando cadeiras sobre os policiais e<br />
os colegas guardas municipais.<br />
A assembleia seguinte foi marcada<br />
para o dia 26 de janeiro, e além<br />
da continuidade da greve tinha entre<br />
os encaminhamentos a suspensão da<br />
greve por tempo determinado, até o<br />
dia 6 de fevereiro, quando os trabalhadores<br />
do magistério retornariam<br />
de suas férias, e se unificariam aos<br />
trabalhadores de todos os setores na<br />
greve. Tanto a direção do sindicato<br />
quanto o conselho deliberativo defenderam<br />
esta posição, pois estavam<br />
preocupados com a reação dos trabalhadores<br />
diante da ameaça de corte<br />
do salário no final do mês de janeiro.<br />
Mas a assembleia rejeitou a suspensão<br />
da greve por tempo determinado<br />
por ampla maioria, indicando que<br />
aqueles trabalhadores estavam dispostos<br />
a enfrentar todas as adversidades<br />
que encontrassem pela frente.<br />
A partir daí teve início uma nova<br />
fase da greve. A mobilização foi descentralizada,<br />
e diversas atividades foram<br />
realizadas em diferentes bairros<br />
da cidade, incluindo panfletagem de<br />
cartas abertas. Desta forma a população<br />
compreendeu as mentiras que<br />
estavam sendo ditas pelo prefeito. O<br />
movimento ganhou fôlego, e o prefeito<br />
recém-empossado teve sua imagem<br />
ainda mais desgastada.<br />
No dia 07 de fevereiro foi realizada<br />
uma assembleia que pode ser<br />
considerada uma das maiores já realizadas<br />
pelos servidores municipais<br />
de Florianópolis. Cerca de 9 mil trabalhadores<br />
votaram unanimemente<br />
pela continuidade da greve e pela<br />
adesão do magistério no movimento.<br />
Pela primeira vez o ano letivo não foi<br />
iniciado nas unidades educativas municipais.<br />
E a cidade parou para acompanhar<br />
a passeata de quase três horas<br />
de duração, que ocupou a Avenida<br />
Beiramar Norte e ficará para sempre<br />
marcada na memória de quem a viu e<br />
de quem a vivenciou.<br />
O Prefeito Gean Loureiro, guiado<br />
pela política de austeridade do<br />
3 SINTRASEM - 38 DIAS
trajetória da greve<br />
A Guarda Municipal e a<br />
Polícia Militar reprimiram a<br />
manifestação com spray de<br />
pimenta<br />
PMDB, atacou os trabalhadores do<br />
serviço público municipal de todas<br />
as formas. Entrou com ação na justiça<br />
pedindo a ilegalidade da greve. O TJ<br />
decretou que a greve era ilegal, que<br />
os grevistas deveriam voltar ao trabalho,<br />
e que em caso de descumprimento<br />
desta determinação o sindicato receberia<br />
multa de 30 mil reais por dia.<br />
Como a greve continuou o Procurador<br />
Geral do Município, Diogo Nicolau<br />
Pitsíca, ingressou na justiça pedido<br />
de prisão e destituição da diretoria<br />
do SINTRASEM e intervenção da justiça<br />
no sindicato. Um verdadeiro absurdo!<br />
A Esquerda Marxista e a Corrente<br />
Marxista Internacional (CMI) deram<br />
início a uma campanha internacional<br />
em defesa das liberdades democráticas<br />
e pelo atendimento das reivindicações<br />
do sindicato. Mais de 500<br />
entidades enviaram moções para os<br />
e-mails do Prefeito, do Procurador e<br />
da Desembargadora. Essa campanha<br />
fortaleceu a mobilização, pois mostrou<br />
à nossa categoria solidariedade<br />
de trabalhadores e trabalhadoras de<br />
vários cantos do Brasil, e do mundo,<br />
como Rússia, EUA, Paquistão, França,<br />
Argentina, Bélgica, entre outros. Além<br />
das moções, no dia 16 de fevereiro<br />
mais de 25 entidades sindicais, movimentos<br />
sociais e organizações de<br />
juventude, além da direção nacional<br />
da CUT e Luciana Genro, liderança do<br />
PSOL, se uniram aos trabalhadores<br />
municipais, participando de um grande<br />
ato que parou o centro de Florianópolis.<br />
Foi sob essa pressão que a<br />
Desembargadora Vera Lúcia Copetti<br />
do TJ recusou o pedido de prisão dos<br />
dirigentes e intervenção no sindicato.<br />
Contudo, aumentou a multa pelo descumprimento<br />
da liminar para 100 mil<br />
reais por dia.<br />
A entrada dos trabalhadores do magistério<br />
na greve elevou a qualidade<br />
do movimento, e não foi apenas pelo<br />
maior número de pessoas participando<br />
das assembleias. A presença desses<br />
trabalhadores na greve permitiu a<br />
realização de mais de 50 reuniões em<br />
diversos bairros da cidade, estabelecendo<br />
diálogos entre os servidores<br />
e os usuários do serviço público. Foi<br />
explicado à população que o Prefeito<br />
Gean Loureiro estava governando<br />
para os ricos da cidade, contrariando<br />
seu próprio discurso de campanha. A<br />
população pôde entender que Gean<br />
estava atacando o serviço público e<br />
os direitos dos servidores públicos<br />
com o objetivo de privatizar os serviços<br />
e repassar mais dinheiro público<br />
para os empresários da cidade. O prefeito<br />
chegou a receber o apoio público<br />
de trinta entidades patronais que<br />
pagaram matérias de duas páginas<br />
inteiras nos principais jornais do estado<br />
de Santa Catarina, defendendo<br />
as medidas do Prefeito e criticando<br />
duramente a greve dos trabalhadores<br />
municipais.<br />
A resposta foi o desenvolvimento<br />
de uma campanha que se espalhou<br />
pela cidade: #Fora Gean! Nenhum direito<br />
a menos! Estas eram as palavras<br />
de ordem que os trabalhadores e a<br />
juventude da cidade de Florianópolis<br />
A votação para deliberar pelo início de uma<br />
greve foi tomada por unanimidade: estava<br />
iniciada a greve pela retirada do “pacote de<br />
maldades” do Prefeito Gean Loureiro (PMDB)<br />
entoavam em várias ocasiões. O Prefeito<br />
já estava tendo dificuldades de<br />
transitar pela cidade sem ser hostilizado<br />
por transeuntes.<br />
A greve radicalizou! Negociações<br />
nas quais o Prefeito tentava impor a<br />
retirada de direitos eram rechaçadas<br />
pelos grevistas. A OAB tentou intervir,<br />
agendando uma reunião entre o<br />
<strong>Sintrasem</strong> e o prefeito, e a direção<br />
do sindicato se recusou a participar<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
4
trajetória da greve<br />
desta reunião, que aconteceria na<br />
sede da própria OAB. O movimento<br />
dos trabalhadores da PMF tinha uma<br />
a Comissão de Negociação, eleita em<br />
assembleia e formada por seis representantes<br />
de organizações políticas<br />
que intervém na base da categoria,<br />
como Esquerda Marxista, CSP/Conlutas,<br />
Intersindical, Tribuna Classista,<br />
Unidade Classista e O Trabalho. Foi<br />
deixado claro que era diretamente<br />
com esta comissão que o prefeito deveria<br />
se reunir, sem intermediários.<br />
No mesmo dia a Comissão foi convidada<br />
para uma reunião no Gabinete<br />
do Prefeito. Estes representantes tiveram<br />
a oportunidade de apresentar<br />
todos os pontos das leis aprovadas,<br />
mostrando os prejuízos para os trabalhadores<br />
e os riscos de acabar com o<br />
serviço público.<br />
O que ficou claro nessa reunião é<br />
que o Prefeito Gean Loureiro estava<br />
antecipando as medidas que Michel<br />
Temer, também do PMDB, está propondo<br />
junto ao Congresso Nacional: a<br />
PEC da terceirização, o congelamento<br />
dos investimentos públicos, as reformas<br />
da previdência e trabalhista.<br />
Continuamos firmes e resolutos em<br />
nossa posição política: a greve continua<br />
pela revogação do pacote de<br />
maldades!<br />
No dia 21 de fevereiro fomos surpreendidos<br />
com a intimação da Desembargadora<br />
Vera Lúcia Copetti<br />
que, a pedido do Prefeito Municipal,<br />
abriu uma mesa de negociações entre<br />
as duas partes, agendada para o dia<br />
22 de fevereiro.<br />
O resultado da forte mobilização,<br />
com uma greve massificada e o diálogo<br />
direto com a população, foi a<br />
revogação da maioria absoluta das<br />
medidas que atacavam os trabalhadores<br />
e o serviço público municipal.<br />
O apoio das mídias independentes,<br />
como Desacato, Maruim, Catarinas,<br />
O salto de<br />
qualidade na<br />
consciência<br />
política de nossa<br />
categoria parece<br />
ser uma inspiração<br />
para que outras<br />
categorias<br />
construam a<br />
unidade<br />
Diário do Centro do Mundo, entre outros,<br />
também foi fundamental na disputa<br />
da opinião pública com a mídia<br />
burguesa.<br />
A proposta que surgiu na mesa do<br />
dia 22 fevereiro foi apresentada no<br />
mesmo dia para a categoria, que decidiu<br />
interromper a assembleia até o<br />
dia seguinte, dando a cada trabalhador<br />
da prefeitura o tempo necessário<br />
para entender e analisar a proposta<br />
encaminhada. No dia 23 de fevereiro<br />
a assembleia continuou, e a proposta<br />
foi avaliada pelos mais de 3 mil trabalhadores<br />
presentes. O clima era de<br />
euforia, e o sentimento era de vitória<br />
da nossa estratégia, da nossa persistência,<br />
da nossa capacidade de organização.<br />
Desde o início desta última<br />
assembleia, no dia anterior, mais de<br />
50 perguntas foram direcionadas<br />
à mesa, que respondeu pacientemente.<br />
Foram 21 falas de avaliação<br />
da greve e da proposta. Todos<br />
unânimes pela aceitação e saída<br />
da greve. A votação expressou essa<br />
unidade. Dos presentes apenas 9<br />
companheiros votaram contrários.<br />
Encerramos a greve, mas permanecemos<br />
em estado de greve, estado<br />
de máximo alerta, acompanhando<br />
a tramitação até a aprovação da<br />
lei acordada. Também decidimos<br />
por aderir ao dia nacional de paralisação,<br />
convocado pela Confetam<br />
e CNTE, em 15 de março, contra as<br />
reformas da previdência e trabalhista.<br />
O salto de qualidade na consciência<br />
política de nossa categoria parece<br />
ser uma inspiração para que outras<br />
categorias construam a unidade para<br />
enfrentarmos juntos o ajuste fiscal<br />
do Presidente ilegítimo Michel Temer.<br />
Viva a luta de classes! Viva a classe<br />
trabalhadora! Viva o socialismo!<br />
VIVA A CLASSE<br />
TRABALHADORA!<br />
5 SINTRASEM - 38 DIAS
nacional<br />
Lá E Cá<br />
Os ataques aos direitos dos trabalhadores<br />
em nível nacional e local<br />
Os ataques de Gean Loureiro<br />
(PMDB) têm muito a<br />
ver com os do ex-prefeito<br />
César Souza Júnior (PSD)<br />
e com as políticas do governador<br />
Raimundo Colombo (PSD). Ao mesmo<br />
tempo, todas essas medidas são<br />
semelhantes à linha de austeridade<br />
proposta devagar e gradualmente<br />
pelo governo do PT (Lula e Dilma) e<br />
aplicada ferozmente pelo ilegítimo<br />
Michel Temer (PMDB). Não se trata,<br />
claro, de uma coincidência. As siglas<br />
podem ser diferentes, os nomes e<br />
os modos de aplicar também, mas<br />
seguem todos uma mesma tendência:<br />
Os políticos serventes da elite<br />
se articulam para jogar tudo na conta<br />
do povo, mesmo que a culpa da<br />
crise seja dos ricos!<br />
Os cortes e ataques que sentimos<br />
em Floripa - com material faltando<br />
em postos de saúde, condições de<br />
trabalho precarizadas, atendimen-<br />
GREVE RECEBEU APOIO DE<br />
ENTIDADES NACIONAIS E<br />
INTERNACIONAIS<br />
De várias partes do mundo chegaram<br />
moções em defesa do movimento<br />
grevista de Florianópolis.<br />
O sindicato recebeu mensagens<br />
desde a Espanha, Canadá, França,<br />
Bélgica, El Salvador, Iraque, Alemanha,<br />
Grã Bretanha, Dinamarca, entre<br />
outras nacionalidades. Importantes<br />
entidades e movimentos no Brasil<br />
também se pronunciaram condenando<br />
a tentativa de criminalização<br />
dos dirigentes sindicais, como<br />
to prejudicado, direitos restringidos e<br />
plano de carreira ameaçado - seguem<br />
o mesmo modelo proposto em Brasília!<br />
O congelamento dos gastos públicos<br />
(na PEC 55, aprovada pelo Senado),<br />
os cortes de direitos e privatizações<br />
de serviços públicos (PLP257/15), o<br />
sucateamento do SUS e a reforma na<br />
educação são tentativas de destruir o<br />
que temos de público e entregar tudo<br />
para a iniciativa privada! É a mesma<br />
cartilha aplicada por Gean Loureiro<br />
com seu pacote de maldades, derrotado<br />
pela força e união dos servidores<br />
municipais.<br />
Os ataques vão muito além da intenção<br />
de destruir o serviço público:<br />
para manter suas elevadas taxas de<br />
lucro (que seguem crescendo, mesmo<br />
na crise), os grandes empresários<br />
pressionam os políticos submissos<br />
para a destruição das garantias trabalhistas<br />
mínimas, o desmonte da CLT,<br />
o fim da Previdência Pública – é isso<br />
por exemplo, CUT Nacional, MST,<br />
CONFETAM, FETRAM/SC, CNQ-CUT,<br />
CUT-SC, Sindicato dos Petroleiros<br />
do RJ, APP Curitiba Norte, SINTE-SC,<br />
SINSEJ (Joinville), Fábrica Ocupada<br />
Flaskô, Ocupação Vila Soma (Sumaré),<br />
Associação de Moradores do<br />
Adhemar Garcia (Joinville), DCE do<br />
IELUSC. Além de diretores do Sindicato<br />
dos Ferroviários da Bahia, do<br />
Sindicato dos Ferroviários de Bauru<br />
e MS, do Sindicato dos Vidreiros de<br />
SP, da Federação Nacional dos Petroleiros,<br />
PCB, Partido Obreiro da<br />
Argentina, CSP Conlutas, CTB, dentre<br />
outros.<br />
que significam a Reforma Trabalhista<br />
e a da Previdência propostas por<br />
Temer!<br />
A mídia tradicional, financiada<br />
pelo mercado financeiro, promove<br />
a agenda do novo governo como<br />
se fosse a solução para o Brasil.<br />
Não contam para a população que<br />
enquanto se planeja regredir mais<br />
de 50 anos em nossas conquistas<br />
trabalhistas, empresas como a<br />
Vale, que fatura um dinheirão sobre<br />
nossas riquezas naturais, deve aos<br />
cofres públicos mais de 40 bilhões<br />
– que, como outras estatais, foi sucateada<br />
deliberadamente para ser<br />
vendida a preço de banana. Não se<br />
noticia também o grande esquema<br />
de gasto do dinheiro público que é<br />
a Dívida Pública – sem auditoria ou<br />
qualquer tipo de controle, ela consome<br />
cerca de metade de todo o orçamento<br />
do país todo ano e mesmo<br />
assim segue crescendo sem parar! A<br />
grande mídia também não informa<br />
que uma minoria detém a maioria<br />
da riqueza do país: Com base em<br />
dados do Imposto de Renda Pessoa<br />
Física foi possível constatar que os<br />
50% dos brasileiros mais pobres<br />
detinham 2% da riqueza, 36,99%<br />
ficavam com 10,60% e 13,01%<br />
com 87,40%. Uma parcela menor<br />
entre os mais ricos, 0,21%, era dona<br />
de 40,81% do total.<br />
Os ataques dos ricos e poderosos<br />
chegam por muitos lados: a<br />
grande mídia manipula, a Polícia<br />
reprime protestos, o Congresso<br />
aprova o que interessa à classe<br />
rica. É necessária muita articulação<br />
para que a classe trabalhadora<br />
consiga colocar na rua toda<br />
a força que tem! Com unidade e<br />
organização, os trabalhadores e<br />
trabalhadoras podem fazer frente<br />
aos ataques, defender os direitos<br />
e conquistar avanços – foi o que a<br />
grande greve municipal em Florianópolis<br />
provou e é o que devemos<br />
aplicar em todo o país! Trabalhador<br />
unido jamais será vencido!<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
6
memória<br />
O SINDICATO SOMOS<br />
NÓS - A LUTA DOS<br />
MUNICIPÁRIOS TEM<br />
HISTÓRIA<br />
Entrevistas com dois profissionais da rede sindicalizados desde a instituição<br />
da entidade rememoram a história da organização na capital catarinense<br />
Pedro Cabral<br />
Professor<br />
“A memória te une, o esquecimento<br />
distancia”, envereda-se Pedro<br />
nas histórias sindicais. “O que<br />
mudou radicalmente na concepção<br />
da prefeitura foi que nos transformamos<br />
em uma categoria de municipários,<br />
saímos do nosso umbigo<br />
de magistério ou civil. As nossas<br />
greves se pautam em discussões<br />
de um ou outro setor, a luta se tornou<br />
uma discussão conjunta. A necessidade<br />
de priorização da luta é<br />
um ganho de entendimento para<br />
os municipários. Ano passado nos<br />
pautamos principalmente no plano<br />
de cargos e salários do civil, em<br />
outros anos, no magistério. Somos<br />
municipários!”<br />
Antes mesmo do sindicato ser<br />
sindicato, Pedro Cabral estava mobilizado<br />
com outros trabalhadores<br />
da rede municipal de ensino na<br />
Associação dos Educadores Municipais<br />
de Florianópolis. O professor<br />
de artes, a alguns meses da aposentadoria,<br />
não sabe ao certo quando<br />
foi que a associação dos educadores<br />
e dos trabalhadores do quadro<br />
civil e Comcap se juntaram em uma<br />
instituição só, traz consigo as experiências<br />
dos quase 30 anos de<br />
<strong>Sintrasem</strong> ao lado de servidoras e<br />
7 SINTRASEM - 38 DIAS<br />
servidores sindicalizados desde o<br />
princípio, assim como ele.<br />
- Na associação não se tinha<br />
muita clareza do papel da organização.<br />
A movimentação era muito<br />
incipiente, a ideia de classe, de que<br />
era possível fazer diferente sem<br />
depender de bondade de governo.<br />
Essa ideia não era presente nem<br />
para mim nem para o povo todo. Era<br />
uma relação entre professores da<br />
prefeitura.<br />
O Sindicato dos Trabalhadores<br />
no Serviço Público de Florianópolis<br />
foi fundado em 1988, conquista de<br />
lutas pelo direito à organização sindical.<br />
Pedro conta que a turma começou<br />
então a levantar campanhas<br />
de filiação para estimular a entrada<br />
de mais gente. Quem tinha entrado<br />
passava nas escolas para pedir para<br />
que os demais se unissem ao movimento.<br />
“A gente usava a frase: o<br />
sindicato somos nós”.<br />
Desde lá, nesses anos todos, algumas<br />
pautas não saíram da agenda<br />
dos trabalhadores, como o plano de<br />
cargos e salário e a previdência social,<br />
e muitas novidades ganharam<br />
vez. “A gente saiu de uma salinha<br />
para um salão, depois para um casão<br />
e hoje a gente tá nessa estrutura<br />
maravilhosa. Não se faz sindica-<br />
lismo com boa vontade, se faz com<br />
profissionais, com organização, com<br />
sede, estrutura.”<br />
Para Pedro, que participou desse<br />
processo, a greve contra o Pacote de<br />
Maldades de Gean Loureiro (PMDB)<br />
está em sua lista dos “três motivos<br />
de muito orgulho por fazer parte da<br />
rede”. Segundo ele, essa última greve,<br />
a que impulsionou a criação do<br />
estatuto do magistério e da eleição<br />
direta para diretores foram as mais<br />
importantes que faz parte. “A gente<br />
permaneceu na luta com clareza de<br />
cair de pé.”
memória<br />
Sidnei Batista (Nanico)<br />
Farmacêutico<br />
Nanico atua no Centro de Saúde,<br />
na Trindade. Farmacêutico da<br />
prefeitura desde 1985, vivenciou<br />
no trabalho a retomada das liberdades<br />
democráticas posterior à<br />
ditadura militar. Ele se recorda que<br />
durante o regime de exceção servidores<br />
públicos eram proibidos de<br />
se filiar em sindicatos. “A associação<br />
tinha caráter recreativo, não<br />
tinha como fazer reivindicações. A<br />
organização sindical foi permitida<br />
com a constituição cidadã. O sindicato<br />
é político.”<br />
temos instâncias<br />
que enraízam<br />
o sindicato na<br />
base, o conselho<br />
deliberativo<br />
com encontros<br />
mensais, doze<br />
diretores<br />
liberados e o<br />
Congresso do<br />
<strong>Sintrasem</strong><br />
Logo após a organização a categoria<br />
instituiu o período de negociação<br />
salarial. “A gente sempre<br />
teve que recorrer para recuperar<br />
salário.” Ele conta que na década<br />
de 90 a inflação era tão alta que<br />
foi preciso acordar uma espécie<br />
de gatilho, quando chegasse a um<br />
limite, o salário era reajustado,<br />
mesmo dentro de um mês. “Foi a<br />
década perdida, de arrocho salarial,<br />
tudo aumentando de preço.”<br />
Depois teve o mandato de Ângela<br />
Amin (PP), que segundo ele, foi<br />
um dos mais difíceis em termos de<br />
mobilização da classe devido à ascensão<br />
neoliberal - época de privatizações<br />
e liberalismo econômico -<br />
no mundo.<br />
Para Nanico uma das principais<br />
lutas travadas pelos servidores<br />
nesses anos todos foi para instituir<br />
o Plano de Cargos e Salários do civil.<br />
Recorda-se bem das duas maiores<br />
greves do <strong>Sintrasem</strong>, entre elas,<br />
a contra o Pacotão de Maldades.<br />
Ele considera que essa última chamou<br />
a atenção da cidade por causa<br />
da alta adesão da categoria que<br />
reivindicava nada mais que a manutenção<br />
de conquistas históricas,<br />
a defesa do Sistema Único de Saúde<br />
e do serviço público como um<br />
todo. Para chegar nesse ponto de<br />
envolvimento, com mais de 90%<br />
da categoria nas ruas, ele aposta<br />
em algumas motivações:<br />
“Acho que tem a ver com a própria<br />
história do sindicato. Sempre<br />
tivemos forças de esquerda participando<br />
e diretorias de luta - apenas<br />
uma vez passou uma chapa mais<br />
conservadora. Assim não ficamos<br />
só no economicismo. A política<br />
está mais compreendida entre nós<br />
como atividade da humanidade,<br />
não simplesmente partidária. Passamos<br />
por um período de ditadura<br />
em que não se podia ter partidos.<br />
Além disso temos instâncias que<br />
enraízam o sindicato na base, o<br />
conselho deliberativo com encontros<br />
mensais, doze diretores liberados<br />
e o Congresso do <strong>Sintrasem</strong>,<br />
em que participam dirigentes, conselheiros<br />
e delegados da base.”<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
8
mídia<br />
Servidores votam, por<br />
unanimidade, a favor da<br />
greve<br />
O PODER DA<br />
BURGUESIA TEM VOZ<br />
NA MÍDIA NEGÓCIO<br />
9 SINTRASEM - 38 DIAS<br />
Ao noticiar na capa do diário<br />
o final da greve antes da assembleia<br />
que deliberou pela<br />
continuidade do movimento<br />
no dia 26 de janeiro, o Notícias<br />
do Dia escancarou como funciona<br />
o jornalismo-negócio. A jogada se<br />
passou desta forma: O vereador Katumi<br />
(PSD) enviou um whatsapp aos<br />
repórteres das duas imprensas da<br />
capital com as informações de que<br />
as trabalhadoras e os trabalhadores<br />
sairiam da greve. A mensagem<br />
foi entregue anexada a uma cópia<br />
de um documento assinado pela<br />
mesa de negociação sindical. Entretanto,<br />
o documento, como bem<br />
sabia a prefeitura, representava a<br />
contraproposta oficial do executivo<br />
e passaria ainda pela avaliação dos<br />
trabalhadores em assembleia no dia<br />
seguinte.<br />
O caso pode parecer pouco, mas<br />
não é. Cada vez que a mídia serve<br />
de porta voz dos interesses partidários<br />
e privados presta um desserviço<br />
à população que é negada aos seus<br />
direitos, constitucionalmente garantidos,<br />
de acesso à informação e<br />
à expressão. A capa do ND daquele<br />
dia repercutiu em uma baixa adesão<br />
à assembleia e milhares de torpedos<br />
circulando pelos aplicativos de mensagens<br />
da categoria propagando as inverdades<br />
divulgadas – afinal, se deve<br />
confiar em quem senão nos jornais?<br />
Os grupos RBS e RIC são os proprietários<br />
dos únicos jornais impressos<br />
que circulam na abrangência da<br />
grande Florianópolis e também dos<br />
canais da televisão aberta mais assistidos<br />
na região. Como qualquer outra<br />
empresa, esses grupos visam lucros e<br />
dependem do dinheiro da venda de<br />
anúncios, principalmente provenientes<br />
do governo.
mídia<br />
No dia 16 de fevereiro, por exemplo,<br />
os veículos de informação publicaram<br />
o anúncio de página inteira Manifesto<br />
em defesa do futuro da cidade pago<br />
por 33 entidades privadas em defesa<br />
da prefeitura contra a greve dos servidores.<br />
No dia seguinte o Notícias do<br />
Dia publica uma reportagem em que<br />
as principais fontes entrevistadas são<br />
as mesmas entidades e o prefeito –<br />
sem avisar, porém, que o texto fazia<br />
parte de um bônus pelo anúncio que<br />
custou alguns milhares de reais.<br />
Alguns repórteres se esforçaram<br />
pela realização de uma cobertura<br />
mais completa com informações precisas<br />
e entrevistas com as diferentes<br />
visões sobre os fatos, dando o seu<br />
melhor mesmo diante do acúmulo de<br />
funções nas redações esvaziadas dos<br />
grandes jornais. A linha editorial do<br />
jornal, porém, serve aos grandes empresários,<br />
incluindo os donos dos dois<br />
grupos hegemônicos de mídia. Assim<br />
as escolhas de pauta, angulação, edição<br />
dos materiais e os espaços daqueles<br />
colunistas que trabalham como<br />
boca de aluguel de seus superiores,<br />
como Cacau Menezes e Moacir Pereira,<br />
seguem a linha editorial do grupo.<br />
os veículos de informação<br />
publicaram um anúncio de<br />
página inteira pago por 33<br />
entidades privadas em defesa<br />
da prefeitura contra a greve<br />
dos servidores.<br />
Neste cenário a mídia independente<br />
se torna essencial. Como exemplo<br />
positivo de outro modo de pensar o<br />
jornalismo e a comunicação, diversos<br />
grupos estão atuando no estado e no<br />
país. Os portais Desacato, Catarinas,<br />
MARUIM e Farol Reportagem cumprem<br />
a agenda local enquanto Brasil<br />
de Fato, Diário do Centro do Mundo,<br />
Agência Pública de Jornalismo Investigativo,<br />
Nexo, entre outros portais,<br />
cobrem o nacional. O consumo e estímulo<br />
destes grupos é importante<br />
para o crescimento do jornalismo e<br />
para a ampliação dos debates que<br />
constroem a nossa realidade.<br />
A comunicação do próprio sindicato<br />
precisa também ser destacada no<br />
processo – é necessário fortalecê-la e<br />
garantir seu alcance para toda a categoria,<br />
possibilitando repasses das<br />
informações verdadeiras.<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
10
jurídico<br />
A BATALHA É<br />
NA RUA<br />
Os limites do judiciário nas lutas sociais<br />
A<br />
prefeitura acionou a justiça<br />
durante a greve diversas<br />
vezes para tentar<br />
desmobilizar a categoria<br />
com ameaças de criminalização<br />
da organização sindical, desconto<br />
de ponto, prisão dos dirigentes.<br />
Esta prática usual do judiciário<br />
pelo poder executivo e, às<br />
vezes legislativo, interfere em<br />
sua autonomia. Em entrevista, o<br />
advogado do <strong>Sintrasem</strong> André de<br />
Moura Ferro falou sobre algumas<br />
questões relacionadas a isso que<br />
surgiram durante o movimento,<br />
demonstrando os limites da<br />
aposta no judiciário para as lutas<br />
sociais. A vitória das trabalhadoras<br />
e trabalhadores nesta greve<br />
foi devido à unidade da categoria<br />
que se manteve no movimento<br />
por 38 dias.<br />
Durante a nossa greve alguns<br />
trabalhadores contestaram a falta<br />
do uso da ferramenta jurídica<br />
para argumentar contra as irregularidades<br />
cometidas pela prefeitura<br />
e em seus projetos de lei.<br />
Quais os limites para o combate<br />
por via judicial em nossa realidade?<br />
O governo municipal, ao se ver<br />
em maioria na Câmara de Vereadores,<br />
atropelou o regimento da<br />
casa para aprovar as medidas impopulares<br />
no menor espaço de<br />
tempo possível. Assim, os vereadores<br />
atrelados ao governo fizeram<br />
de tudo para impedir que os<br />
afetados pelos projetos, inclusive<br />
os servidores municipais, fossem<br />
ouvidos e aprovaram as medidas<br />
a toque de caixa. O vereador Lino<br />
Peres (PT) chegou a ingressar com<br />
uma ação judicial para barrar os<br />
projetos. Na ação o vereador Lino<br />
afirmou com justeza que os procedimentos<br />
adotados violavam<br />
os direitos democráticos de audiências<br />
públicas e de participação<br />
efetiva da oposição ao governo e<br />
ainda que vereadores que estavam<br />
legalmente impedidos votaram<br />
a favor dos projetos. Infelizmente<br />
o judiciário decidiu em<br />
não interferir, alegando que seria<br />
meramente uma questão interna<br />
da câmara de vereadores. Mesmo<br />
assim, as leis decorrentes desses<br />
episódios antidemocráticos ainda<br />
podem ser objetos de ações de<br />
inconstitucionalidade por vícios<br />
formais e materiais.<br />
Como a “justiça” foi usada pela<br />
prefeitura para ameaça e desmobilização<br />
da categoria nesta greve?<br />
Como tem sido a prática de anos da<br />
prefeitura, a primeira medida contra a<br />
organização e mobilização dos trabalhadores<br />
foi buscar a intervenção judicial,<br />
que é espantosamente rápida em<br />
atender e expedir ordens antigreves.<br />
Nessas decisões, o Tribunal de Justiça<br />
de Santa Catarina tem entendido<br />
como verdadeiras alegações da prefeitura<br />
sobre fatos que dependeriam<br />
de instrução probatória e tem interpretado<br />
o direito de greve de forma<br />
que o inviabiliza. Assim, o tribunal decidiu<br />
que os trabalhadores da educação<br />
infantil não têm o direito de aderir<br />
a uma greve e ainda decidiu intervir<br />
em questões internas da organização<br />
sindical e exigiu listas de presentes<br />
nas assembleias para decidir se a assembleia<br />
que deflagrou a greve tinha<br />
validade ou não. A prefeitura desejou<br />
ir mais além, pediu a instalação de um<br />
interventor judicial no sindicato e a<br />
prisão de seus diretores. Felizmente<br />
a greve terminou de forma negociada<br />
antes que o conflito se escalasse a<br />
esse ponto.<br />
Servidores protestam<br />
contra o pacote de<br />
maldades do prefeito<br />
11 SINTRASEM - 38 DIAS
comunidade<br />
A CONSTRUÇÃO<br />
DA LUTA NAS<br />
COMUNIDADES<br />
Os municipários não venceram<br />
sozinhos: só conquistamos<br />
o que conquistamos<br />
com o apoio recebido<br />
de toda a população! Participando<br />
de atos, mandando palavras de incentivo,<br />
se unindo aos trabalhadores<br />
em greve, ficando ao lado da<br />
cidade e contra o prefeito, o povo<br />
de Florianópolis deu um recado<br />
pro prefeito: A cidade não é dele! A<br />
cidade é nossa, trabalhadores das<br />
mais diversas áreas que dão duro<br />
todo dia, não dos ricos empresários<br />
e dos políticos que os servem.<br />
A mobilização de diversas comunidades<br />
foi fundamental para<br />
o desfecho vitorioso da greve. Atividades<br />
aconteceram no Centro,<br />
Comunidade do Maciço, Norte, Sul<br />
e Continente – por toda Floripa –<br />
e foram um demonstrativo muito<br />
forte tanto do apoio da população<br />
aos servidores quando ao repudio<br />
geral ao pacote de medidas e<br />
ataques de Gean Loureiro (PMDB):<br />
o povo entendeu o que estava em<br />
jogo e se levantou em defesa da cidade!<br />
O reconhecimento do trabalho<br />
dos servidores e servidoras e o<br />
apoio às lutas por parte da população<br />
não é novidade, mas nessa<br />
massiva greve, a mobilização popular<br />
atingiu novos patamares. Antes<br />
restritas a algumas unidades,<br />
as atividades deste ano envolveram<br />
diversos postos de trabalho,<br />
movimentando toda a comunidade<br />
do entorno. Além da importância<br />
para a vitória de agora, essa mobilização<br />
é fundamental por criar laços<br />
de articulação onde antes ainda<br />
não havia, fortalecendo o poder<br />
popular e dando mais condições<br />
para lutas futuras. Não só isso: conquistando<br />
as vitórias pelas quais<br />
se lutou, essa jornada serve de<br />
exemplo e inspiração, mostrando<br />
que podemos ganhar e avançar se<br />
estivermos juntos e organizados<br />
na mobilização.<br />
Com a derrota das medidas do<br />
prefeito Gean Loureiro (PMDB), o<br />
serviço público de Florianópolis<br />
sai fortalecido e o atendimento à<br />
população segue garantido, com<br />
a qualidade reconhecida e obtida<br />
graças ao esforço diário de milhares<br />
de servidores, apesar das precarizações<br />
e cortes de verbas feitos por<br />
diferentes gestões da prefeitura.<br />
A luta não se encerra por aqui:<br />
este foi apenas o primeiro grande<br />
embate com Gean, que ainda deve<br />
ter mais quase 4 anos de gestão. No<br />
entanto, o tom já foi dado: servidores<br />
e população não vão ficar parados<br />
enquanto a cidade é atacada!<br />
Com luta e unidade, as vitórias são<br />
conquistadas!<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
12
comunidade<br />
A SAGA DO SERVIÇO PÚBLICO<br />
Guerreiro (Assistente Social)<br />
Vocês já viram filmes de heróis<br />
de hollywood? Mesmo que seja<br />
totalmente anti-capitalista, mega-<br />
-ultra revolucionário e não assista<br />
filmes americanos, dá para entender<br />
o enredo e a analogia. “Nessa<br />
greve”, não foi preciso vestir fantasia<br />
para virar herói, todos fomos<br />
personagens principais da história!<br />
A cena clássica do fim desses filmes<br />
é, após a grande batalha, o mundo<br />
meio destruído, mas apesar disso,<br />
a liga de heróis (nossa assembleia)<br />
está ferida mas junta, com<br />
um sentimento de vitória por ter<br />
“derrotado” o mal... mas antes do<br />
fim, as vezes durante os créditos, os<br />
vilões dão sinal de vida, mostrando<br />
que logo atacarão novamente.<br />
Disse “nessa greve” e não “na última<br />
greve”, justamente por isso, todos<br />
sabemos que ainda vem muito<br />
chumbo grosso nos próximos capítulos...<br />
Precisamos ficar unidos, mesmo<br />
tendo muitas diferenças!<br />
Mas o clímax dos filmes não é o final,<br />
as duas melhores partes são<br />
quando os heróis descobrem seus<br />
superpoderes e estão aprendendo<br />
a usá-los e depois, quando os<br />
vilões estão quase vencendo e a<br />
população entra na batalha ao lado<br />
dos heróis e juntos, viram o jogo.<br />
No nosso caso, descobrimos e<br />
ainda estamos aprendendo a usar 3<br />
superpoderes. A qualidade do serviço<br />
público, que apesar de todo o<br />
desmonte e precarização, pela superação<br />
e compromisso da maioria<br />
dos servidores, se mantem como<br />
referência nacional em educação e<br />
saúde. O segundo superpoder foi o<br />
diálogo, a troca de informação pelos<br />
mais diversos meios de comunicação,<br />
redes sociais, aplicativos, cartas,<br />
carro de som, passeatas, boi de<br />
mamão, maracatu e o velho e ainda<br />
eficiente tête-à-tête.<br />
Talvez dos 3 o superpoder mais<br />
importante, pois além de se contrapor<br />
aos maiores ataques feitos<br />
pelo aparato midiático dos inimigos,<br />
propiciou o fortalecimento do<br />
nosso terceiro superpoder, a união.<br />
Uma greve com uma super adesão,<br />
até companheiros de férias<br />
participando dos atos. Diretores<br />
de unidades escolares, coordenadores<br />
de CRAS, nem os médicos<br />
aceitaram negociar em separado.<br />
Foi usando a criatividade, dialogando<br />
em reuniões na comunidade,<br />
com a população que usa o<br />
serviço público e quer qualidade<br />
porque além de ser um direito,<br />
precisa dele, que ganhamos esse<br />
apoio e começamos a virar o jogo.<br />
Ainda estamos em estado de greve!<br />
Não deixem de usar os superpoderes!<br />
Vamos lutar pela qualidade<br />
do serviço público, não desconte nos<br />
usuários a precariedade das condições<br />
de trabalho, dialogue, às vezes<br />
falta quase tudo nos nossos locais<br />
de trabalho, mas conversando não<br />
vão faltar aliados. Usuários e servidores<br />
juntos somos invencíveis!<br />
Ah,e a continuação de nossa saga já<br />
tem data marcada: nossa data base é<br />
em Maio.<br />
Foi usando a<br />
criatividade,<br />
dialogando<br />
em reuniões na<br />
comunidade, com a<br />
população que usa<br />
o serviço público<br />
e quer qualidade<br />
porque além de ser<br />
um direito, precisa<br />
dele, que ganhamos<br />
esse apoio e<br />
começamos a virar o<br />
jogo.<br />
Servidores votam, por<br />
unanimidade, a favor da<br />
greve<br />
13 SINTRASEM - 38 DIAS
arte e cultura<br />
O ECOAR<br />
DE DEZ MIL<br />
VOZES<br />
A importância da Mística na Luta<br />
por Nenhum Direito a Menos<br />
A<br />
luta pelos direitos da classe<br />
trabalhadora nada mais é<br />
do que um ato de rebelar-<br />
-se. Rebelar significa encontrar<br />
novamente o belo, recuperar,<br />
reconstruir a beleza, guerreando.<br />
É nesse sentido que a comissão de<br />
mística em nosso movimento foi e<br />
é um elemento surpresa e imprescindível.<br />
Nessa vitoriosa greve de<br />
2017 a mística traduziu-se no aproveitamento<br />
da criatividade de nossa<br />
categoria. Por esse recurso, vários<br />
trabalhadores produziram cartazes<br />
com desenhos e mensagens, além<br />
de construírem ambientes de reflexão<br />
coletiva e de comunicação com<br />
a população. O destaque foi para<br />
as palavras de ordem, com versões<br />
políticas de músicas conhecidas, do<br />
Rock de Raul Seixas ao Funk crítico<br />
da Favela, além da inestimável contribuição<br />
da cultura do Maracatu.<br />
No entoar de nossas vozes não<br />
apenas dialogamos com a população,<br />
mas abrimos uma onda de tomada<br />
de posição em cada trabalhador<br />
e trabalhadora de nossa cidade.<br />
Nos grandes atos de rua no centro<br />
da cidade, como nas comunidades<br />
locais que inclusive criaram coreografias<br />
relacionadas diretamente as<br />
mensagens das músicas, a mística<br />
produziu um efeito contagiante de<br />
solidariedade de classe e inspirou<br />
cada trabalhador e trabalhadora a se<br />
manter firme pelos quase quarenta<br />
dias de batalha. “NENHUM DIREITO<br />
A MENOS”, de forma simples e objetiva<br />
começou a ser entoado ainda<br />
antes do início da greve, nos bastidores<br />
de uma escola no extremo<br />
norte da ilha quando do início dos<br />
trabalhos da nova gestão municipal<br />
que já apontava, em menos de duas<br />
semanas de governo, para o que viria.<br />
A greve acabou, mas a palavra de<br />
ordem “NENHUM DIREITO A MENOS”<br />
permanece ecoando em nossos corações<br />
e mantendo vivo o ávido<br />
espírito de luta dos trabalhadores<br />
e trabalhadoras do serviço público<br />
municipal de Florianópolis!<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
14
arte e cultura<br />
ARTE, LUTA,<br />
RESISTÊNCIA E<br />
CUIDADO<br />
Foram 38 dias de greve, 38 dias de<br />
mobilização, 38 dias de conscientização,<br />
38 dias de educação em saúde, 38 dias de<br />
união<br />
A<br />
arte é o remédio, e o melhor<br />
deles: Machado de Assis<br />
assim definiu, em 1908,<br />
o potencial terapêutico das<br />
práticas estéticas. Assim como na<br />
saúde, no campo das lutas populares<br />
a arte vem desempenhando<br />
múltiplos e transformadores papéis.<br />
Na histórica greve dos trabalhadores<br />
municipais de Florianópolis de<br />
2017, as manifestações artísticas<br />
ocuparam uma posição estratégica<br />
para consolidar o desfecho positivo<br />
em defesa dos serviços públicos.<br />
Arte para comunicar, arte para<br />
mobilizar, arte para sensibilizar, arte<br />
para descontrair, arte para traduzir,<br />
arte para politizar, arte para educar,<br />
arte para motivar, arte, enfim, para<br />
reenergizar o movimento quando a<br />
pressão fazia muitos quererem desistir.<br />
Foi assim quando o violeiro<br />
subiu no caminhão de som e acompanhou<br />
a passeata musicando as<br />
falas; quando o grupo de teatro se<br />
vestiu de luto e fez um cortejo fúnebre<br />
encenando a morte do serviço<br />
público; quando a escola resolveu<br />
colocar 40 carteiras na rua para uma<br />
aula pública; quando as professoras<br />
da creche levaram o boi-de-mamão<br />
pra praça do bairro; quando Maricota<br />
e Bernunça afirmaram sua posição<br />
de esquerda; quando a psicóloga<br />
convidou seu grupo de dança para<br />
uma reunião comunitária; quando<br />
médicos confeccionaram adesivos,<br />
bandeiras, camisetas e levaram<br />
seus instrumentos musicais para as<br />
passeatas; quando o baque do maracatu<br />
arrastou e encantou a multidão<br />
cansada e disposta; quando<br />
a fotografia reafirmou ser instrumento<br />
de luta; quando os vídeos se<br />
transformaram em vozes guerreiras<br />
reproduzidas na imensidão da virtualidade;<br />
quando a arte de cuidar<br />
se encontrou com a luta popular na<br />
Tenda do Cuidado, espaço de acolhimento<br />
e cura, concomitante às<br />
assembleias, organizado e oferecido<br />
aos companheiros e companheiras<br />
em mobilização.<br />
Nos 38 dias do movimento de<br />
greve, a arte foi síntese e catálise,<br />
15 SINTRASEM - 38 DIAS
arte e cultura<br />
Servidores protestam<br />
contra o pacote de<br />
maldades do prefeito<br />
foi o espontâneo e o ensaiado, o<br />
paradoxo das forças opostas que se<br />
complementam. Foi através da arte<br />
que nos sentimos mais vivos, mais<br />
próximos da nossa cultura e mais<br />
conectados às nossas raízes profundas.<br />
A arte foi um grande bálsamo,<br />
foi o remédio social que fortaleceu<br />
e manteve a saúde do complexo<br />
organismo dos trabalhadores e trabalhadoras<br />
municipais de Florianópolis.<br />
Foram 38 dias de greve, 38 dias<br />
de mobilização, 38 dias de conscientização,<br />
38 dias de educação<br />
em saúde, 38 dias de união, 38 dias<br />
de comunicação, 38 dias de comunitarização,<br />
38 dias de diálogo, 38<br />
dias de politização, 38 dias de saúde<br />
comunitária na veia, 38 dias de<br />
pé na rua, 38 dias de assembleias<br />
lotadas, 38 dias de disputa da opinião<br />
pública, 38 dias de inverdades<br />
na mídia conservadora, 38 dias de<br />
aprendizado, 38 dias de poder popular,<br />
38 dias de ativismo digital,<br />
38 dias de ampliação de consciência,<br />
38 dias de caminhadas, bicicletadas<br />
e passeatas, 38 dias de atos<br />
pela cidade inteira, 38 dias em defesa<br />
do que é mais essencial para<br />
uma cidade, 38 dias em defesa do<br />
serviço público, 38 dias em defesa<br />
de uma cidade que acolha todas e<br />
todos, 38 dias pedagógicos, 38 dias<br />
de ensinamentos para vereadores<br />
e secretários municipais, 38 dias<br />
pra mostrar pra político que política<br />
se faz na rua e no diálogo com<br />
as pessoas, 38 dias botando a boca<br />
no trombone, 38 dias de desobediência<br />
civil. 38 dias pra desconstruir<br />
a politicagem, 38 dias pra barrar<br />
retrocessos sociais, 38 dias de humildade,<br />
38 dias de poesia, música,<br />
criatividade, dança e expressões<br />
da cultura popular. 38 dias de educação<br />
popular, 38 dias de povo,<br />
38 dias de resistência, 38 dias pra<br />
deixar claro que prefeito nenhum é<br />
dono de cidade, 38 dias de rebeldia<br />
consciente, 38 dias de SUS, 38 dias<br />
de luta, 38 dias pra entrar na história,<br />
38 dias pra mudar a história, 38<br />
dias pra se sentir no lado mais humano<br />
da história.<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
16
a luta continua<br />
VENCEMOS A<br />
GREVE, MAS OS<br />
ATAQUES E A LUTA<br />
CONTINUAM!<br />
A<br />
grande mobilização dos<br />
servidores em Florianópolis<br />
foi um exemplo de<br />
luta contra a austeridade<br />
e a política de jogar a conta<br />
da crise dos ricos em cima das<br />
costas dos trabalhadores. Muito<br />
esforço e dedicação garantiram a<br />
manutenção dos direitos e a derrota<br />
dos ataques do prefeito. No<br />
entanto, é necessário ter consciência<br />
de que não é fácil manter a<br />
organização da mobilização e que<br />
mais ataques vão vir, e como muita<br />
força!<br />
Por isso, agora é a hora de fortalecer<br />
nossa organização! Tanta<br />
luta só foi possível com um sindicato<br />
fortalecido - e um sindicato<br />
só é forte devido a força dos trabalhadores<br />
e trabalhadoras que o<br />
compõe. Os ataques aos direitos<br />
continuam e vem fortes - reformas<br />
da Previdência e Trabalhista,<br />
propostas pelo ilegítimo governo<br />
de Michel Temer (PMDB) são<br />
as bolas da vez. Mas se a ofensiva<br />
dos ricos está forte, é fichinha<br />
comparada à resistência dos trabalhadores<br />
e trabalhadoras!<br />
É necessário que a construção<br />
do sindicato se dê durante todo o<br />
ano, pois embora as greves sejam<br />
os momentos de maior demanda,<br />
a luta e a organização acontecem<br />
todo o ano, sem descanso. O primeiro<br />
passo é a filiação, fundamental<br />
para que o SINTRASEM<br />
continue forte e para que todos<br />
e todas sejam efetivamente representados!<br />
É muito importante<br />
também a participação nas atividades<br />
promovidas pelo sindicato<br />
- atos, reuniões, formações, assembleias.<br />
Os ataques não param<br />
e a mobilização<br />
dos trabalhadores<br />
também não!<br />
A participação e a filiação são<br />
importantes também para garantir<br />
a independência financeira do<br />
sindicato: com devolução do imposto<br />
sindical e arrecadando apenas<br />
as contribuições voluntárias dos<br />
trabalhadores o SINTRASEM responde<br />
apenas aos servidores. Nesta greve,<br />
as despesas chegaram a cerca de<br />
R$ 250 mil, gastos com tendas, cadeiras,<br />
som, material, alimentação,<br />
combustível para roteiros... Tudo financiado<br />
pelos próprios servidores.<br />
Os ataques não param e a mobilização<br />
dos trabalhadores também<br />
não! Vamos seguir juntos, construindo<br />
um SINTRASEM cada vez mais forte,<br />
enfrentando os ataques de nível<br />
municipal, estadual e federal com<br />
muita unidade e organização!<br />
A LUTA É PERMANENTE!<br />
Orandina Machado<br />
Professora aposentada<br />
No decorrer da trajetória do<br />
SINTRASEM, muitas conquistas<br />
foram alcançadas, tais como:<br />
Plano de Cargos Carreira e Salários;<br />
Vale Alimentação; Redução<br />
da Carga Horária de 8 para<br />
6 horas; Gratificação de Jornada<br />
para o Magistério(tendo em<br />
vista a impossibilidade de reduzir<br />
as horas em sala de aula);<br />
Reposição salarial de 100% da<br />
inflaçãodo ano anterior; Aumento<br />
Real de Salário, em cada<br />
Data Base, dentre tantas outras<br />
conquistas.<br />
Com o passar do tempo, cada<br />
governo foi intensificando<br />
suas posições de minar a classe<br />
trabalhadora, levando a Categoria<br />
a lutar de forma cada<br />
vez mais acirrada para manter<br />
os direitos conquistados, criando<br />
o lema: “Nenhum Direito a<br />
Menos!”.<br />
Nesta trajetória, quem atingiu<br />
“tempo de contribuição e<br />
idade” desvinculou-se de sua<br />
jornada de trabalho, mas permanecendo<br />
nos movimentos<br />
reivindicatórios junto à Categoria,<br />
pois tem a consciência<br />
política de que A LUTA é PER-<br />
MANENTE!<br />
17 SINTRASEM - 38 DIAS
MÚSICAS DA<br />
GREVE<br />
Caminhando, lutando e<br />
cantando...<br />
Vamos, vamos Lutar! Vamos, vamos<br />
Lutar! (Paródia com base na música<br />
“We Will Rock You” do grupo<br />
Queen)<br />
Vamos, vamos Lutar! Vamos, vamos<br />
Lutar!<br />
Agora Gean Loureiro preste Atenção,<br />
Na história dessa luta que não é em<br />
vão,<br />
Unidos nessa Greve Civil e Educação,<br />
Atacar nossos direitos nos dizemos<br />
NÃO!<br />
Vamos, vamos Lutar! 2X<br />
Ganhou a Eleição Prometendo Ajudar,<br />
Agora o sem vergonha quer nos<br />
atacar,<br />
Retirando direitos sem negociar<br />
Ferrando os servidores ao se aposentar<br />
Vamos, vamos Lutar! 2X<br />
Só a luta muda vida, aprendemos a<br />
lição<br />
Vamos até o fim não recuamos não!<br />
Pacote de maldades aqui não vai<br />
rolar<br />
Rumo a vitória custe o que custar!<br />
Nós não vamos pagar nada!<br />
(Paródia com base na música<br />
“Aluga-se” de Raul Seixas)<br />
A solução para Floripa eu vou dá<br />
Negócio bom assim ninguém nunca<br />
viu<br />
40 dicas de como ferrar<br />
O servidor do magistério e civil<br />
Nós não vamo paga nada<br />
Nós não vamo paga nada<br />
É Greve Sim; Tá na hora<br />
Greve Sim; Vamo embora<br />
Pra Rua pra enfrentar<br />
E esse projeto ele retirar ah ah ah<br />
ah<br />
Pros Banqueiros eu sei que eles<br />
vão gostar<br />
Os devedores eu quero perdoar<br />
Os Engenheiros sem licença ambiental<br />
E a Cidade só que vai se dar mal<br />
Nós não vamo paga nada<br />
Nós não vamo paga nada<br />
É Greve Sim<br />
Tá na hora Greve Sim<br />
Vamo embora<br />
Pra Rua pra enfrentar<br />
E esse projeto ele retirar ah ah ah<br />
ah<br />
Os Vereadores eu já vou comprar<br />
Até a Mídia vai ter o seu lugar<br />
Pros servidores como é que vai ficar?<br />
Já to com medo eles vão protestar<br />
Nós não vamo paga nada<br />
Nós não vamo paga nada<br />
É Greve Sim; Tá na hora<br />
Greve Sim; Vamo embora<br />
Pra Rua pra enfrentar<br />
E esse projeto ele retirar ah ah ah<br />
ah<br />
Gean fora da lei (Paródia<br />
baseada na música<br />
“Cowboy fora da lei” de<br />
Raul Seixas)<br />
Gean quer ser o pior prefeito<br />
Quer retirar nossos direitos<br />
E o serviço público acabar<br />
Já tem ajuda dos jornais<br />
Mentindo assim está demais<br />
Querendo o povo todo enganar<br />
Pra aposentar não leva nada<br />
Nossa carreira tá arruinada<br />
E todo servidor carrega a cruz<br />
Oh coitada da companheirada<br />
Deus nos livre dessa guarda<br />
Que abaixo de pimenta nos conduz<br />
Gean tu é besta pra tirar onda de<br />
herói<br />
Nossos direitos não se mói<br />
Nem destrói PCCV<br />
Katumi Kid só existe com o Gui<br />
Os dois ajudam nisso aí<br />
Mas vai ter volta pra vocês<br />
Sou manezinho, mas não só nenhum<br />
bocó!<br />
Olhó, lhó, lhó, lhó<br />
Sou manezinho, mas não sou nem<br />
um bocó<br />
Olhó, lhó, lhó, lho<br />
Serviço público é oq eu te de melhor!<br />
SINTRASEM - 38 DIAS<br />
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