04.10.2017 Views

Fides 19 N1 - Revista do Centro Presbiteriano Andrew Jumper

Revista Fides Reformata 19 N1 (2014)

Revista Fides Reformata 19 N1 (2014)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

FIDES REFORMATA XIX, Nº 1 (2014): 95-110<br />

expostos e denuncia<strong>do</strong>s por meio das confissões, com suas formulações<br />

<strong>do</strong>utrinárias sobre <strong>do</strong>utrinas básicas como as da autoridade e suficiência das<br />

Escrituras, da justificação exclusivamente pela fé, <strong>do</strong> lugar das boas obras<br />

na salvação, da necessidade da santificação, da natureza e governo da igreja,<br />

<strong>do</strong> número e natureza <strong>do</strong>s sacramentos, etc. Da mesma forma, ainda hoje é<br />

através das suas confissões que as igrejas podem exigir de seus membros a<br />

lealdade aos princípios <strong>do</strong>utrinários que entendem ser bíblicos e convincentes,<br />

inclusive usan<strong>do</strong>-os como padrão para a disciplina eclesiástica, no que diz<br />

respeito à orto<strong>do</strong>xia.<br />

5. os limites da confessionalidade<br />

Uma última palavra deve ser dita com respeito aos limites da confessionalidade.<br />

Até onde vai a autoridade da igreja para exigir de seus membros<br />

obediência ou lealdade aos seus símbolos confessionais?<br />

Como já foi dito, é preciso reconhecer que as confissões não possuem<br />

a mesma autoridade intrínseca das Escrituras. Há uma diferença de natureza<br />

entre a revelação bíblica e a sua interpretação ou exposição encontrada nos<br />

cre<strong>do</strong>s e nas confissões. A primeira é revestida da autoridade divina outorgada<br />

pelo Espírito Santo no processo da inspiração. Em outras palavras, é inspirada,<br />

normativa e, por isso, infalível e inerrante na forma original em que foi<br />

dada (autógrafos). Este é um <strong>do</strong>s pressupostos da fé reformada. Já os cre<strong>do</strong>s<br />

e as confissões obviamente não têm esse caráter. São fruto <strong>do</strong> esforço sério e<br />

cuida<strong>do</strong>so de pessoas que se dedicaram ao trabalho de interpretar e expor as<br />

<strong>do</strong>utrinas encontradas na revelação, mas sem a garantia da infalibilidade que<br />

foi dada pelo Espírito quan<strong>do</strong> moveu ou “carregou” os homens que produziram<br />

as Escrituras. Aqueles foram homens que, como diz Pedro, “falaram<br />

da parte de Deus, movi<strong>do</strong>s pelo Espírito Santo” (1Pe 1.21). Esse processo<br />

naturalmente não ocorreu na produção <strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>s e das confissões. Mas nem<br />

por isso deixam de ser importantes, úteis e necessários como afirmação, exposição<br />

e padronização <strong>do</strong> que a igreja tem entendi<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong>s anos, ser<br />

o ensino bíblico que ela deve aceitar e praticar. Os autores bíblicos foram os<br />

porta<strong>do</strong>res da profecia (1Pe 1.21). Os autores <strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>s e confissões foram<br />

os seus intérpretes, pessoas a quem o Espírito concedeu o “<strong>do</strong>m da profecia”<br />

para explicá-la e interpretá-la segun<strong>do</strong> a “analogia da fé” 15 (Rm 12.6).<br />

15 Essa é a maneira como Calvino entende a expressão grega avnalogi,an th/j pi,stewj – “o <strong>do</strong>m<br />

de interpretar as Escrituras e aplicá-las à igreja”. Essa interpretação é a que faz mais justiça ao senti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> termo “analogia”, que significa proporção, não no senti<strong>do</strong> de medida ou extensão, mas de igualdade,<br />

congruência ou conformidade. Assim, a proporção da fé é a coerência que um texto das Escrituras mantém<br />

com os demais e deve nortear a sua interpretação. Fé aqui, então, deve ser entendida como o conjunto da<br />

revelação bíblica, que é o seu objeto ou conteú<strong>do</strong>. Ver nota <strong>do</strong> editor da versão em inglês <strong>do</strong> comentário<br />

de Romanos de Calvino, em Commentaries on the Epistle of Paul the Apostle to the Romans. Grand<br />

Rapids: Baker, p. 461, nota 1.<br />

107

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!