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Foz do Iguaçu, terça-feira, 9 de outubro de 2018<br />
FIM DE LINHA<br />
Eleitorado "aposenta" três<br />
caciques políticos no Paraná<br />
Alvaro Dias, Roberto Requião e Beto Richa dominaram o Paraná<br />
durante muitos anos; agora saem enfraquecidos das urnas<br />
Alvaro Dias, Roberto Requião e Beto Richa: reprovados<br />
Adelino de Souza<br />
Freelancer<br />
Alvaro Dias, Roberto<br />
Requião e Beto Richa jamais<br />
sonhavam que teriam<br />
uma votação pífia, perdendo<br />
para novatos na política,<br />
como ocorreu nas eleições<br />
desse domingo (7). Os<br />
três entraram na disputa<br />
cantando vitória, mas acabaram<br />
derrotados.<br />
Embora tenha mais<br />
quatro anos para se divertir<br />
no Senado, Alvaro<br />
sofreu uma derrota acachapante.<br />
Político matreiro<br />
que começou em<br />
1968 como vereador aos<br />
23 anos, em 1970 chegou<br />
a deputado estadual.<br />
Quatro anos mais tarde<br />
chegaria a deputado federal<br />
com a maior votação<br />
do estado. A partir daí<br />
teve uma carreira ascendente,<br />
como governador e<br />
senador.<br />
Político ambicioso, sonhava<br />
com a Presidência da<br />
República desde que perdeu<br />
as prévias para Ulysses Guimarães<br />
em 1989. Neste ano,<br />
tendo mais quatro anos de<br />
mandato e nada a perder,<br />
decidiu lançar-se em uma<br />
aventura, atropelando o próprio<br />
irmão (Osmar) com<br />
chances de uma vitória. Resultou<br />
em uma votação medíocre<br />
(0,8%), perdendo até<br />
mesmo para o folclórico<br />
Cabo Daciolo.<br />
Deveria reconhecer a derrota<br />
nas urnas, mas votou<br />
em Londrina com ódio no<br />
coração, atribuindo a derrota<br />
à Rede Globo, e não<br />
aos "ventos da mudança".<br />
Terá mais quatro anos como<br />
senador, mas sua estrela<br />
murchou como balão estourado<br />
por alfinete.<br />
Roberto Requião<br />
Com toda arrogância<br />
que lhe é peculiar, o senador<br />
Roberto Requião foi<br />
mais feliz que Alvaro ao<br />
analisar a derrota. Requião<br />
estava nadando de braçadas<br />
com mais de 40% das<br />
intenções de voto. Em 48<br />
horas viu a eleição fugir pelos<br />
vãos dos dedos, como<br />
areia fina.<br />
Requião atribuiu a derrota<br />
às pesquisas eleitorais,<br />
"que me liquidaram com o<br />
voto útil em Oriovisto Guimarães".<br />
Em outra declaração,<br />
disse que foi o "efeito<br />
Bolsonaro" e "as infâmias e<br />
calúnias nas redes sociais<br />
dos últimos dias". Desta vez,<br />
não adiantou "abraçar até o<br />
Diabo para ganhar uma<br />
eleição".<br />
Requião terá de vestir o<br />
pijama mais cedo. Triste fim<br />
para um político que iniciou<br />
sua carreira como deputado<br />
estadual em 1982,<br />
com uma votação expressiva.<br />
Depois foi prefeito de<br />
Curitiba, governador por<br />
duas vezes, senador, mais<br />
uma vez governador e novamente<br />
senador em 2010.<br />
A estrela se apaga em dezembro<br />
de 2018.<br />
Política<br />
11<br />
Do auge à cadeia<br />
Sem uma história política longa como<br />
Alvaro e Requião, mas com uma carreira<br />
ascendente, Beto Richa teve o fim mais<br />
trágico porque foi parar na cadeia (junto<br />
com a esposa e um irmão) em plena<br />
campanha eleitoral.<br />
Beto começou em 1992 como candidato<br />
a vereador e elegeu-se em 1994<br />
deputado estadual. Depois foi prefeito<br />
de Curitiba por dois mandatos e repetiu<br />
a dose para governador. Uma carreira<br />
que parecia não ter fim.<br />
Poderia terminar seu mandato<br />
tranquilamente, mas decidiu concorrer<br />
ao Senado para não ficar sem mandato<br />
por dois anos. Foi a pior decisão de sua<br />
vida. Ao deixar o cargo para sua vice,<br />
Cida Borghetti, Beto Richa sofreu toda<br />
espécie de ingratidão, comandada por<br />
Ricardo Barros.<br />
Sem mandato, acabou exposto ao<br />
vexame de ser preso ainda de pijama,<br />
em seu luxuoso apartamento. Ganhou<br />
liberdade por parte de Gilmar Mendes,<br />
mas o MP e a Polícia Federal<br />
encontraram documentos que o<br />
envolvem com ilegalidades na Operação<br />
Rádio Patrulha e Quadro Negro.<br />
Beto Richa era o segundo colocado nas<br />
pesquisas, pertinho de Requião. Tão<br />
logo foi preso, os gráficos tiveram uma<br />
curva descendente, e ele acabou com<br />
melancólicos 3,7% dos votos, ao lado de<br />
candidatos nanicos. "Beto cresceu igual<br />
rabo de cavalo", comentou um<br />
adversário.<br />
"A vida do político é assim mesmo, altos<br />
e baixos. Eu preparei o meu espírito para<br />
esse momento", apontou Beto Richa,<br />
afirmando ainda ter sido abandonado<br />
por prefeitos e deputados. "Não tenho<br />
nenhuma mágoa de prefeito, de<br />
deputados. Muitos deputados, a imensa<br />
maioria também me abandonou. Como<br />
é que eu vou reclamar se eu tive quatro<br />
eleições muito bem sucedidas?",<br />
ponderou o ex-governador ao ser<br />
questionado por uma emissora de TV.<br />
Se Alvaro Dias e Roberto Requião<br />
precisam preocupar-se com o pijama<br />
que vestirão em final de carreira, Beto<br />
terá uma preocupação a mais: a de ser<br />
obrigado a vestir um uniforme<br />
alaranjado, como Eduardo Cunha e o<br />
próprio Lula. Os tempos são outros.<br />
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