BIOATIVOS 6 A ideia é que a Bioativos Group seja um centro de pesquisa e desenvolvimento para geração de vários negócios com parceiros. Da academia para o mercado Foto: Renato Rodrigues Com foco na extração de ingredientes de biomassas, Bioativos investe na produção em escala para a indústria farmacêutica, de cosméticos e alimentícia CIETEC.INFO
BIOATIVOS Toda vez que recebia um possível cliente no laboratório instalado na Incubadora USP/IPEN-Cietec, Luiz Fernando Mendes, Ph.D em Química Analítica, era preciso na apresentação acadêmica, mas escorregava na parte comercial do negócio. Afinal era um pesquisador nato, um estudioso da academia, que decidiu empreender quando fazia pós-doutorado na área de bioquímica. “Eu e meu sócio somos cientistas, entendíamos tudo sobre a produção de algas, mas zero sobre gestão de negócios”, lembra. “Procuramos o Cietec em busca de uma mentoria”. Lá se vão quatro <strong>anos</strong> desde que a Bioativos, fundada em <strong>20</strong>14, iniciou suas atividades no Hotel de Projetos da incubadora, para se tornar a maior iniciativa empreendedora da América Latina em tecnologia de fluidos sub e supercríticos (CO2, etanol, água etc.). O lado de cientistas eles não abandonaram, mas Mendes aprendeu que uma inovação só ganha força quando é aplicada e escalada. A produção de algas e ingredientes à base de algas para a fabricação de remédios e de cosméticos, que deu origem à empresa, teve um papel importante no início da Bioativos. Gerou ótimos resultados e abriu caminho para os pesquisadores receberem recursos do programa da Fapesp. “Nosso processo de extração de ativos das algas, como o betacaroteno, é muito inovador”, diz. “Além de origem natural, é mais seguro e 60% mais barato do que o ativo produzido à base de petróleo”. A novidade atraiu a atenção de gigantes do mercado, como a Natura. Embora ainda seja um dos grandes diferenciais da empresa, as algas são um negócio de nicho, cuja produção indoor é mais lenta do que a demanda do mercado por seus ativos. Entre <strong>20</strong><strong>16</strong> e <strong>20</strong>18, com a ajuda da professora Maria Ângela Meirelles, a Bioativos mais uma vez quebrou paradigmas e inovou. Criou um equipamento único, de baixo custo e alta eficiência para extração de nutrientes de algas e outras biomassas. “Se fizéssemos o equipamento na Austrália, único lugar com tecnologia mais próxima desse tipo de projeto, o custo seria de R$ 4,8 milhões”, diz Mendes. “O nosso, que é ágil, de fácil transporte e pode ser colocado dentro das indústrias, custa R$ 400 mil”. TURNING POINT A inovação deu uma virada nos negócios da Bioativos, que se transformou na primeira empresa a operar uma Refinaria 360º. “Aproveitamos tudo o que é possível de cada matéria-prima que chega para ser processada, seja inteira, na forma de subprodutos da agroindústria, a exemplo do bagaço da uva; extrativista, como o buriti ou a palha da cana que ninguém quer e é queimada”, afirma Mendes. “Usamos no processo o CO2, entre 40º e 60º, que extrai os ativos em uma única etapa e esteriliza a matéria-prima, aumentando o tempo de vida do produto”. Para se ter uma ideia, o lúpulo extraído pelo processo da Refinaria 360º tem durabilidade de nove <strong>anos</strong>, contra os <strong>12</strong> meses das versões disponíveis no mercado. O próximo passo será a criação de ácido láctico de origem vegetal, ideal para a preparação de produtos veg<strong>anos</strong>. Com o novo foco, o número de clientes cresceu e o faturamento que, em <strong>20</strong>17, foi de R$ 1<strong>20</strong> mil, este ano deve fechar em R$ 1,2 milhão. A perspectiva é até <strong>20</strong><strong>20</strong> ultrapassar os R$ 10 milhões, apenas na área de alimentos. “A ideia é que a Bioativos Group seja um centro de pesquisa e desenvolvimento para geração de vários negócios com parceiros”, afirma Mendes. “Nós entramos com a criação e eles com a distribuição e comercialização.” Paralelamente, a Bioativos, que já recebeu R$ 4 milhões em aportes e editais de inovação, planeja instalar uma fábrica para o fornecimento de ingredientes naturais, como óleos essenciais e extratos para indústrias de alimentos e de cosméticos. Para tanto, transferiu suas instalações para o TechnoPark de Campinas, numa área maior. A escolha do endereço tem uma explicação. “Sem a proximidade com a universidade, a pesquisa científica torna-se mais difícil e sem a pesquisa científica o negócio dificilmente teria sucesso, por conta da complexidade dos processos usados nos produtos”, assegura Mendes. 7 NOVEMBRO <strong>20</strong>18