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A FONTE DA DISCÓRDIA

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entrevista<br />

“Não consigo<br />

explicar por<br />

que, com<br />

as milhares<br />

de fontes<br />

das quais<br />

as pessoas<br />

dispõem hoje,<br />

uma grande<br />

porcentagem<br />

delas ainda<br />

opta por usar<br />

a Helvetica.<br />

“<br />

fi lme: essas foram as perguntas feitas<br />

com mais frequência.<br />

Mesmo quando mostramos “Helvetica”<br />

em festivais de cinema em que o público<br />

era formado não por designers, mas<br />

por pessoas que simplesmente gostam<br />

de documentários, a reação foi a mesma.<br />

Uma coisa que descobri foi que os estudantes<br />

de design gráfi co são exatamente<br />

iguais em todos os países – até<br />

sua aparência é igual. Eles usam as<br />

mesmas roupas. É uma rede verdadeiramente<br />

global de designers. Eu me<br />

senti como se estivesse mostrando o<br />

fi lme 90 vezes para o mesmo grupo de<br />

pessoas.<br />

Uma das coisas divertidas do filme<br />

é que ele mostra tantos usos diferentes<br />

da Helvetica. Qual é sua favorita?<br />

No cartaz da Copa do Mundo de Berlim.<br />

Estávamos passando de carro, por<br />

acaso, olhamos para cima e vimos um<br />

sujeito suspenso de cordas a 15 metros<br />

de altura, costurando as letras gigantes<br />

em Helvetica no cartaz da Copa do<br />

Mundo, que devia ter um quarteirão de<br />

comprimento. Quase todas as imagens<br />

de Helvetica que fi lmamos em cidades<br />

foram encontradas aleatoriamente, por<br />

puro acaso.<br />

A meta era encontrar usos interessantes<br />

da fonte ou pessoas interagindo<br />

com ela. A bandeira da Copa do Mundo<br />

foi um exemplo perfeito disso. Eu<br />

também queria encontrar a Helvetica<br />

em letras grandes, e as do cartaz estão<br />

entre as maiores que encontramos.<br />

O filme discute se a Helvetica pode<br />

continuar a ser neutra, depois de<br />

ser tão usada.<br />

É verdade que as fontes tipográfi cas<br />

vão acumulando bagagem em decorrência<br />

de como são usadas. Quando<br />

olho para a Helvetica, penso em American<br />

Airlines.<br />

Uma das coisas espantosas da Helvetica<br />

é que ela vem sendo usada há<br />

décadas, inclusive usada em excesso,<br />

mas, mesmo assim, ainda a vemos por<br />

toda parte. E alguns designers gráfi cos<br />

jovens, muito voltados ao futuro, ainda<br />

a usam da mesma maneira como ela<br />

era usada nos anos 1960.<br />

Não consigo explicar por que, com as<br />

milhares de fontes das quais as pessoas<br />

dispõem hoje, uma grande porcentagem<br />

delas ainda opta por usar a<br />

Helvetica.<br />

Como você financiou seu filme?<br />

Foi fi nanciado por meu próprio dinheiro,<br />

meus cartões de crédito, meus amigos<br />

e minha família. Uma fi rma canadense<br />

de design chamada Veer entrou<br />

como patrocinadora, quanto o projeto<br />

já estava perto de ser fi nalizado.<br />

Teria custado muito mais fazer o filme<br />

20 anos atrás?<br />

Provavelmente. Rodamos 60 horas de<br />

fi lme. Se tivéssemos fi lmado com película<br />

de celulóide, o custo teria sido<br />

maior. E o processo de edição custa<br />

muito menos hoje. Dá para fazê-lo<br />

num sistema Mac sofi sticado. A maior<br />

despesa ainda é a que se tem com as<br />

pessoas -conseguir um bom diretor de<br />

fotografi a, um bom editor e bons técnicos<br />

de som. Isso é algo que não muda.<br />

Se você quer fazer um ótimo trabalho,<br />

precisa chamar ótimas pessoas.<br />

Você já sabe qual será seu próximo<br />

projeto?<br />

Os fi lmes de música com os quais trabalhei,<br />

e “Helvetica”, com toda certeza,<br />

tratam da criatividade – do processo<br />

criativo – e também da comunicação.<br />

Acho que esses dois temas vão reaparecer<br />

em meu próximo fi lme.<br />

Nos últimos cinco a dez anos, percebe-se<br />

uma tendência nas pessoas em<br />

acharem que um documentário precisa<br />

ser político para valer a pena.<br />

Para mim, isso é lamentável. Há esse<br />

outro lado do cinema documental que<br />

analisa a criatividade e outras questões<br />

não ligadas à justiça social ou à guerra,<br />

que são igualmente merecedoras de<br />

análise. É como se não pudéssemos<br />

ter literatura de não-fi cção, como se<br />

nunca pudéssemos ter romances.<br />

HEL<br />

VET<br />

ICA.<br />

9

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