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D Grau - 2ª Edição

Já saiu a segunda edição da D Grau, a revista do NFEF-FCUL! Descobre a revista que preparámos para ti!

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2° Edição | 2021


D Grau

Dº ou “D Grau” é a revista anual do NFEF-FCUL

(de todos e) para todos.

É livre e conta com a participação de

todos aqueles que queiram contribuir:

independentemente do curso e da faculdade

contamos com a ajuda daqueles que estejam

interessados!

Se também gostarias de participar, não

hesites em escrever-nos! Podes participar em

qualquer parte do processo da criação/edição

da revista: enviando artigos, ilustrações,

editando, entre tantas atividades onde podes

deixar a tua marca!

Adoraríamos contar com a tua ajuda!

Desde já o nosso obrigado a todos os que

tornaram mais uma edição possível!

2


O início deste 5º ano da história do Núcleo de Física e Engenharia Física da

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa foi vincadamente marcado

por mudança. Mudança, pois foi o primeiro ano que começou com

condicionantes (não) presenciais a priori. Mudança também pois foi a primeira

vez que uma nova geração de estudantes - além daqueles que fundaram

esta nossa “família” - tomou as rédeas desta mui nobre organização.

Apesar do clima de mudança, uma das palavras-chave que pretendemos

imprimir neste mandato foi a ideia de continuação.

O foco da equipa sempre foi claro: garantir a representação dos estudantes

que por estes cursos passam bem como continuar a desenvolver os projetos

que se têm mostrado relevantes e bem sucedidos no seio da nossa

comunidade.

É com esta ideia em mente que damos continuidade à revista do NFEF-

FCUL, avançando mais um degrau. Nesta segunda edição, incluímos um

artigo resultante da colaboração com uma empresa, não ficámos

indiferentes ao tempo que vivemos incluindo um artigo com testemunhos

de alunos que viveram o início do seu percurso académico em plena pandemia

e muito mais. Acreditem ou não esta revista vai até fazer-vos viajar no

tempo e esperamos que seja do vosso agrado!

Este trabalho é realizado de alunos para alunos. O núcleo somos nós, e enquanto

houver alunos e vontade de ajudar, haverá NFEF-FCUL!

O Presidente

Ricardo Pires

3


4

A Física em Economia e

a Física da Economia



Vamos começar por encher um copo

transparente com água da torneira e

trazer para junto do computador. Deixe

a água descansar e olhe com atenção para

o interior do copo. Há umas bolhinhas quase

microscópicas que deambulam no meio do

fluido como se estivessem vivas, certo? Agora

passemos para o computador e vamos a

https://finance.yahoo.com/quote/JPM

e repare no gráfico que indica a evolução do

tempo. O que tem uma coisa a ver com outra?

No início do séc. XX, a questão da bolhinha

dentro de água era um mistério, tal como

a evolução dos preços nos mercados. Mas um

jovem francês resolveu fazer a tese de doutoramento,

debruçando-se na analogia entre o

movimento da bolhinha – conhecido por movimento

Browniano – e o preço de um bem

num mercado organizado, como uma bolsa

[1].

Na altura, o movimento Browniano acabou

por ter um impacto muito maior noutro

domínio. Passados uns poucos anos, Einstein

usou-o para demonstrar teoricamente a natureza

corpuscular da matéria, ligando o movimento

da bolhinha aos choques com partículas

muito mais pequenas – as moléculas da

água –, e o fenómeno ficou intimamente ligado

à Física, sendo hoje algo de incontornável

na Física Estatística e, também, na matemática

dos processos estocásticos – que podemos

encarar como sequências, no tempo, de

variáveis aleatórias sobre o mesmo espaço de

amostragem.

Temos de entender que nada disto foi

feito recorrendo a Excel ou à internet, nenhuma

pessoa a trabalhar sobre estes assuntos

que requerem o tratamento de uma quantidade

grande de dados tinha acesso a computadores.

Mas um físico pouco interessado

em temas clássicos da Física, M. Osborne, foi

comprar todos os dias o Wall Street Journal e

registar os preços das ações. Chegou, pois,

à conclusão de que os preços não seguiam

um movimento browniano, mas os logaritmos

dos preços estariam próximos, i.e., a variação

percentual desse preço. Tal trouxe uma racionalidade

económica à analogia, o que fez com

que alguns dos grandes nomes da Economia

dos anos 1960 começassem a olhar para esta

coisa da bolhinha com interesse. No início

dos anos 1970, usando a formulação da Física

[1] Louis Bachelier

Louis Jean-Baptiste Alphonse Bachelier (Le Havre, 11

de março de 1870 — Saint-Malo, 26 de abril de 1946)

foi um matemático francês. É considerado um precursor

da teoria moderna das probabilidades e fundador

da matemática financeira. Em sua tese Théorie de la

spéculation, defendida em 29 de março de 1900, ele

introduziu a utilização em finanças do movimento

browniano (descoberto pelo biólogo Robert Brown), que

é a base da maioria dos modelos matemáticos usados

em finanças, por exemplo a fórmula de Black-Scholes

(1973). Suas obras não fo-ram reconhecidas enquanto

ele viveu. Benoît Mandelbrot, matemático nascido em 1924, foi um dos primeiros

a reconhecer o pioneirismo de Bachelier nas probabilidades e na matemática financeira

(ver, por exemplo, seu livro Les objets fractals).

Fonte: Wikipedia

6


Estatística, conseguiu-se finalmente montar

uma equação diferencial para uma função de

um objeto económico cujo logaritmo do preço

segue um processo estocástico. Esta função

era uma coisa importante para aquilo que

se chama de “derivados”, isto é, instrumentos

financeiros que “vivem” de outros instrumentos

financeiros, estes sim com preço no mercado

organizado.

Isto trouxe uma (lenta) revolução nas finanças.

Afinal era de Físicos que os mercados

financeiros precisavam para fazer aqueles

cálculos e para desenhar esses instrumentos

financeiros “complexos”, os derivados. A “bolhinha”,

que no início do século era uma curiosidade

torna-se, nas décadas de 1980 e 1990,

o alfa e o ómega da finança moderna, representando

um domínio da matemática próprio

e o fundamento de boa parte daquilo a que se

chama de “econometria”. Juntando a necessidade

das finanças com o fim da Guerra Fria,

Wall Street passa a ser o destino preferencial

dos físicos americanos, muito porque um dos

criadores da tal equação diferencial tinha formação

em Física e saiu da academia para a

Goldman Sachs, começando a recrutar equipas

de Físicos para trabalhar consigo, sendo

depois copiado pelos bancos concorrentes.

Esta foi a forma como os Físicos invadiram

Wall Street, e ainda hoje são muito

procurados, mas a analogia da bolhinha tinha

uma questão. Se olharmos para o que foi

dito acima, recordar-se-á que foi convidado a

deixar “a água descansar”. Isto porque a formulação

do movimento Browniano se baseia

em processos estocásticos e só conseguimos

dominar os processos estocásticos que

são sequências de variáveis aleatórias que

residem num e no mesmo espaço de probabilidade.

Em Física, isto traduz-se para oscilações

num sistema em equilíbrio térmico. Do

ponto de vista matemático, seria demasiado

denso para explicar aqui, mas precisamos que

o espaço não cresça e, se os vários objetos

estiverem ligados, essa ligação não pode mudar

no tempo. O que não seria um problema,

não se desse o caso de a economia ser um

universo em inflação – sempre a crescer – e

que não se passa nas pessoas, passa-se entre

as pessoas (na ligação entre elas). O que isto

significa é que a analogia da bolhinha funciona

em variações muito pequenas, mas deixa

7


O dólar zimbabueano, normalmente abreviado como Z$, foi a moeda nacional do Zimbabwe entre os anos de 1980 e 2009.

Em julho de 2007, devido ao colapso da economia do pais, era considerada uma das moedas mais desvalorisadas do mundo e com

200 mil Z$ apenas era possívrl comprar pouco mais de um quilo de açucar.

Em janeiro de 2009 foram emitidas notas da família “trillion dollar” com valores nominais de 10, 20, 50 e 100 triliões de dólares

zimbabueanos.

de funcionar quando as variações são grandes

e é aí que se perde muito dinheiro.

Ora, sistemas em inflação já não é um

problema da Física muito simples – vai cair no

domínio da Relatividade Geral e um problema

em que todos os componentes podem estar

ligados uns aos outros vamos cair no domínio

do problema quântico a N-corpos. Por

outras palavras, como a analogia da bolhinha

não funcionou, vamos cair no mais complicado

dos problemas da Física: a ligação entre a

Relatividade Geral – o universo onde há gravidade

– e o mundo quântico.

E é por aqui que hoje a ligação entre a

Física e a economia ganha uma atratividade

especial, se pensarmos na economia como

um universo físico que conseguimos “ver”

por inteiro e onde não precisamos de montar

telescópios de dimensão planetária para olhar

para um objeto a 55 milhões de anos-luz. Mas

mais: os dados que este universo económico

produz são numa quantidade e qualidade

fantástica. Assim, mais do que andarmos à

procura de analogias da Física para o mundo

económico, torna-se muito mais eficiente

considerar o mundo económico como um

universo Físico por direito próprio. Ou, ainda

mais interessante, começarmos a pensar a Física

de sistemas com inflação como uma forma

genérica de atacarmos, quer a economia,

quer a Física e o texto (outro sistema com inflação).

Olharmos para o texto como exemplo

de sistema em inflação é útil para conseguirmos

explicar o problema nos seus detalhes.

Pensemos numa palavra e no que ela significa.

Uma palavra isolada não faz sentido. Quando

queremos explicar o significado de uma palavra

temos que a envolver num contexto para

que a possamos definir. Por outras palavras,

uma palavra – passo a redundância – não é

um objeto que se defina por si própria, mas

por todas as outras palavras que a rodeiam,

isto é, por todos os objetos da mesma natureza

que a acompanham na formação de um

texto. Podemos, desta forma, olhar para um

texto como algo que vai sempre crescendo

e que tem dois tipos de objetos a compô-lo:

as palavras, as massas do universo texto, as

ligações entre as palavras e o campo que se

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forma entre elas. Ao contrário da bolhinha no

copo de água, onde era fundamental que não

existissem ligações, num sistema inflacionário

estas ligações são a parte importante da

história.

Voltemos agora para a economia cuja

explicação é mais complicada pelo facto de

nós, seres humanos, sermos também objetos

deste universo. Se pensarmos no assunto, tal

como as palavras, a economia é feita por nós,

massas, e pelas ligações entre nós que são as

trocas que, tal como nas palavras, geram uma

espécie de campo.

Pausa! Mas campo sem espaço? Campo

é, por definição, uma função no espaço. O

que é o espaço numa economia ou num texto?

Interessante, como as palavras só interagem

com outras palavras e os objetos económicos

com outros que tais. O que significa

espaço neste universo? Repare-se que para

um objeto económico interagir com outro

não necessita do espaço geométrico que é

ocupado pelo objeto biológico que o encerra.

Tão depressa o faz com outro na China ou no

Seixal. Assim, precisamos de redefinir espaço

nestes universos em inflação e, talvez, vir a

redefinir a noção de espaço onde vivemos.

Pois, mas começámos por ter qualquer

coisa que funciona mal – os processos estocásticos

derivados do movimento Browniano

– e acabamos a querer redefinir espaço?

O problema que surge quando começamos a

encarar a economia como um universo físico

em si mesmo é que os Físicos também não

gostam muito de sistemas que crescem com

a interação entre os componentes do sistema.

Em boa parte da Física, temos um espaço de

fundo 3D (4D se pensarmos no tempo) onde

os fenómenos ocorrem e nós construímos

leis que explicam o comportamento dos corpos

e/ou dos campos nesse espaço. Ou seja,

saímos de uma abordagem que tem os seus

problemas, para uma abordagem que é todo

um problema.

Hoje, a investigação mais interessante

no domínio do mundo económico está intimamente

ligada à mais recente investigação

no domínio da Física Teórica e da Inteligência

Artificial, da ligação entre um sistema que se

comporta microscopicamente com a álgebra

da mecânica quântica e globalmente com as

curvaturas da Relatividade Geral. Tudo o que

de melhor um Físico com vontade de investigar

poderia esperar. Mas há um mercado a

funcionar enquanto lemos isto, que não está

à espera que acabemos de ligar as pontas

todas para continuar. Por isto mesmo, os conhecimentos

dos processos estocásticos em

Física Estatística continuam a ser o melhor

que temos “em produção”. A ida dos Físicos

para a banca de investimento continua a ser

devida ao domínio do movimento Browniano,

das equações de Fokker-Plank e de Langevin

ao qual todo o Físico se deve agarrar pelo

brilhantismo que encerram, sabendo, no entanto,

que não está correto, que o sistema só

numa aproximação grosseira se poderia comportar

assim. É uma aproximação grosseira,

mas ainda é o melhor que há.

Tudo isto são excelentes notícias para

os Físicos, porque se é verdade que o passado

foi em grande medida criado por eles, a

solução do futuro terá que passar necessariamente

por eles também.

[1] L. BACHELIER

Théorie de la spéculation

Annales scientifiques de l’É.N.S. 3e série,

tome 17 (1900), p. 21-86

João Pires da Cruz

Partner, Closer Consulting

9


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A viagem do

tempo nos ecrãs



Nestes tempos de pandemia e isolamento,

muitos de nós voltamo-nos para diversas

formas de entretenimento para nos

distrairmos da realidade – seja pela música,

televisão, cinema, podcasts ou qualquer outra.

Esta não foi uma decisão consciente da minha

parte, mas durante a quarentena consumi

muito mais ficção científica do que o habitual,

especialmente filmes e séries sobre viagem

no tempo, que é um dos enredos de sci-fi

mais comuns.

Com isto e todo o meu tempo livre, comecei

a perguntar-me: desde quando somos

fãs de viagem no tempo? Como este conceito,

tão abstrato e teórico na física, se traduz

para os ecrãs?

E assim começa a minha pequena jornada

de descobrir um pouco mais sobre a

história da viagem no tempo no cinema e na

televisão. Permitam-me apresentar-vos uma

pequena timeline (com o perdão da piada) de

algumas obras importantes sobre este tema.

1921: A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court

O posto de primeiro filme a tratar de

viagem no tempo no seu enredo é ocupado

por este filme mudo, baseado num livro homónimo

de Mark Twain, de 1889.

A Connecticut Yankee conta a história

de Martin Cavendish, um homem americano

que volta no tempo para a Inglaterra medieval,

para a corte do Rei Arthur.

No filme, o personagem principal sonha

que viaja no tempo para a corte do Rei

Arthur após ter lido o livro de Twain que serviu

de base para a história. Pode argumentar-se

que isto não é, realmente, viagem no tempo,

uma vez que tudo acontece apenas num sonho.

No entanto, o enredo conta com algumas

situações que agora consideramos clássicas

para filmes de viagem no tempo – como, por

exemplo, o personagem do presente ter que

usar os seus conhecimentos modernos para

livrar-se de problemas e fascinar as pessoas

do passado.

É difícil saber muito sobre este filme,

uma vez que, ironicamente, parte dele foi perdida

dos arquivos com o passar do tempo.

1963 –1986; 2005 – Atualmente: Doctor Who

12

Doctor Who é um marco na cultura

pop. Originalmente exibida de 1963 até 1986,

e depois revivida em 2005, acompanha as

aventuras do Doctor, um alienígena humanoide

que viaja no tempo e no espaço com os

seus amigos humanos.

A série teve 26 temporadas na primeira

época de exibição, e desde 2005 teve mais

treze, sem falar nas obras derivadas (spinoffs).

A viagem no tempo é tão corriqueira

em Doctor Who que mal nos choca. Também


não é muito explicada – sabemos que quase

tudo é possível através da máquina do tempo

do Doctor, a TARDIS, mas não sabemos como

ela funciona além de alguns comentários vagos

sobre tunelamento quântico.

Os paradoxos foram bastante utilizados

durante a série. Na primeira temporada

depois da série ter sido renovada em 2005

temos uma inversão do clássico paradoxo

do avô no episódio “Father’s Day”, quando a

companheira humana do Doctor, Rose Tyler,

volta no tempo e evita a morte do seu próprio

pai, alterando toda a sequência de eventos

que a leva a conhecer o alienígena e a sua

máquina, gerando, assim, um paradoxo que

quase destrói o universo.

Aqui a viagem no tempo é usada no seu máximo,

explorando as confusões que poderiam

surgir nestas situações, e causando todo o

tipo de emoções no espetador.

1968: Planeta dos Macacos

Le Planète des Singes, de Pierre Boulle,

foi o livro que deu origem ao universo de

Planeta dos Macacos, que, atualmente, inclui

franquias de filmes e outras obras derivadas.

Olhemos para o filme de 1968: um grupo de

astronautas acorda após terem hibernado

numa viagem a velocidades próximas da da

luz. Eles encontram-se num planeta habitado

por macacos, no qual os humanos são tratados

como animais. No final do filme (spoilers!),

um dos astronautas encontra os vestígios da

Estátua da Liberdade, descobrindo que este

planeta estranho na realidade é a Terra no futuro,

após uma guerra nuclear.

A viagem no tempo neste filme realmente

faz sentido! Devido à alta velocidade

da viagem na nave, a dilatação do tempo prevista

pela Teoria da Relatividade faz com que

pouco tempo se passe para os astronautas,

mas séculos se passaram na Terra!

Esta é uma explicação coerente (em

teoria, pelo menos), e é também uma maneira

interessante de introduzir algumas ideias

da relatividade para uma audiência leiga.

O enredo também é repleto de crítica

social, que é um aspeto importante de muitas

obras de ficção científica: os cenários inovadores,

revolucionários e, até, exagerados,

apresentados em sci-fi, forçam-nos a encarar

a nossa realidade e os nossos problemas por

um novo ângulo.

13


2004: Primer

2014: Interstellar

Este filme independente, pouco conhecido,

merece a sua citação nesta lista

de filmes pela sua complexidade. Aqui, dois

engenheiros acidentalmente inventam uma

máquina do tempo quando uma de suas experiências

apresenta um comportamento estranho.

Primer, à primeira vista, não parece ser

grande coisa, mas não julguem um filme pela

sua capa – ou orçamento. Neste filme, temos

de tudo – interferência no passado, encontros

entre diferentes versões de uma mesma

pessoa, linhas do tempo que se sobrepõem, e

muito mais.

Outra característica interessante do

filme é que ele quase não tem cenas explicativas,

em que os personagens expõem em

palavras simples o que está a acontecer. Durante

todo o filme eles usam termos técnicos

e vocabulário científico, contribuindo para a

complexidade do enredo e tornando a experiência

de assistir o filme mais interessante

para aqueles que percebem do assunto.

14

Interstellar pode ser razoavelmente

recente, mas já é adorado pelos fãs de sci-fi

como um clássico.

Num futuro não muito distante, as reservas

naturais da Terra estão a esgotar-se.

Então, uma equipa de cientistas é mandada

numa missão através de um buraco de minhoca

para encontrar planetas habitáveis nos

quais a humanidade pode prosperar.

O filme usa a relatividade como um

elemento extremamente importante no seu

enredo, e alguns dos conceitos principais são

explicados de maneira didática no filme – nomeadamente,

quando o grupo de astronautas

viaja para um planeta orbitando um buraco

negro, no qual uma hora corresponde a sete

anos na Terra.

O físico estado-unidense Kip Thorne,

que em 2017 recebeu o Nobel da Física pela

sua contribuição para o estudo de ondas gra-

vitacionais, participou no processo criativo

do filme, e trabalhou para garantir a precisão

científica do enredo, mas claro que foram necessárias

algumas liberdades artísticas.


1985, 1989, 1990: Trilogia Back to the Future

O clássico dos clássicos! Em Back to

the Future, o adolescente Marty McFly viaja

na máquina do tempo inventada pelo seu

amigo cientista “Doc” Brown, que nada mais

é do que um carro DeLorean adaptado. A viagem

no tempo aqui acontece usando um reator

nuclear para gerar energias muito altas,

permitindo que o DeLorean viaje no tempo.

No primeiro filme, o enredo central é

que Marty volta para 1955, encontra os seus

pais ainda adolescentes, e sem querer altera a

linha do tempo, colocando em risco sua própria

existência.

Este género de paradoxo, já mencionado

na secção sobre Doctor Who, é aqui

demonstrado de uma maneira muito menos

dramática, e a sua única consequência é que

Marty e os seus irmãos lentamente deixam

de existir. Além disso, os filmes jogam com as

consequências das alterações do passado de

maneira muito simples, e servem quase como

um easter egg.

No segundo filme, Marty viaja para o

futuro longínquo de 2015, onde encontra carros

voadores, sapatos que se ajustam automaticamente

aos pés, hologramas, e skates

2020: Tenet

voadores. Não é preciso dizer que ficámos

todos muito dececionados quando no real

2015 nada disso aconteceu. Temos aqui um

perigo da ficção científica: criar grandes expectativas

para o futuro.

O último filme na nossa lista seleta

continua a tendência de filmes com enredos

complexos. Tenet, do mesmo diretor de Interstellar,

usa novamente conceitos da física

para explorar uma narrativa cheia de adrenalina.

Dessa vez, o foco é sobre a segunda Lei da

Termodinâmica, que determina que a entropia

do universo tende a aumentar, definindo

assim a sentido única da seta do tempo. Mas

o que aconteceria se pudéssemos “inverter”

a entropia?

Em Tenet, esta tecnologia de “entropia

invertida” é apresentada ao nosso Protagonista,

um agente da CIA de nome desconhecido,

na forma de objetos que se movem sozinhos,

viajando para trás no tempo. Acredita-se que

estes objetos foram enviados para o presente

como vestígios de uma Terceira Guerra Mun-

15


dial num futuro próximo, e o Protagonista é

recrutado para tentar evitá-la.

Com uma sinopse dessas, não é de espantar

que Tenet seja um filme difícil de digerir

na primeira vez em que se assiste, mas o

conceito científico que serve de base para o

seu enredo é usado de maneira visualmente

apelativa e criativa.

Enquanto os primeiros filmes desta lista

usam viagem no tempo apenas como um

elemento de narrativa, e não como um fenómeno

da física teórica, vemos um aumento

gradual e significante na complexidade dos

enredos deste tipo.

1989: Bill and Ted’s

Excellent Adventure

Esta comédia, da mesma época que

Back to the Future, traz dois adolescentes palermas

que estão prestes a reprovar a História.

Eles são salvos por Rufus, um homem do

futuro que os leva a viajar pelo passado da

humanidade para conhecerem figuras históricas,

assegurando assim que eles não reprovem.

Menções Honrosas

Talvez isso aconteça por causa dos enormes

avanços científicos que estão sempre a acontecer.

Cada vez mais nos deparamos com

avanços científicos que nos surpreendem,

encantam e assustam, tornando-se assim

terreno fértil para a ficção. A isto soma-se

também uma maior ânsia por entender estas

inovações, assim como as suas consequências.

A ficção científica é um meio que pode ser

usado para levar a ciência a um público maior,

não só para ensinar e educar, mas também

para explorar as mais vastas ideias, com a ajuda

da arte. É um grande universo do “E se…?”.

2017 – 2020: Dark

A Netflix surpreendeu-nos com esta

série alemã. Após a morte do seu pai, o jovem

Jonas Kahnwald volta para a sua cidade natal

e tenta reconectar-se com sua antiga vida.

Entretanto, quando uma criança desaparece,

segredos e mistérios da cidade ressurgem, e

Jonas encontra-se preso num complexo enredo

sobre o qual ele não tem nenhum controlo.

A viagem no tempo, aqui aliada a dramas

familiares, é o artifício principal do enredo.

16


1991 (livros), 2014

(série): Outlander

Claire Randall, uma enfermeira

de combate, reencontra-se finalmente

com o seu marido após os dois terem

servido na Segunda Guerra Mundial.

Eles decidem ir de férias para a

Escócia, mas a viagem do casal é interrompida

quando Claire atravessa

um portal que a leva para a Escócia do

século XVIII. Aqui a viagem no tempo

ocorre através de magia, e assim

Outlander não é efetivamente uma

obra de sci-fi (de maneira semelhante

ao que se passa com A Connecticut

Yankee).

2001: Donnie Darko

Donnie, um adolescente introvertido,

começa a ter visões estranhas e episódios de

sonambulismo, onde vê uma misteriosa figura

vestida de coelho que lhe diz que o mundo

vai acabar em 28 dias. Depois disso, as visões

de Donnie levam-no a participar de uma série

de eventos cada vez mais estranhos. Embora

não pareça, tudo está ligado a viagem no

tempo e paradoxos.

Maria Eduarda Pimentel

17


18

Porque é que um físico deve

andar de bicicleta ?


Ilustração criada por pikisuperstar - www.freepik.com


Se há uma coisa que eu amei aprender

no curso de Engenharia Física, é o facto

de que por vezes os mecanismos mais simples

estão repletos de nuances. Isso é o caso

da bicicleta, que com o tempo continua a ter

um conjunto de engenheiros a trabalhar em

novos modelos. Utilizada no seio das cidades

europeias como principal meio de transporte

- em que a maior parte dos utilizadores não

são físicos - pretendo-vos mostrar o porquê

de o deverem fazer e incentivar outros a fazê-lo.

Nesta análise vou particularizar muitas

vezes na cidade de Lisboa, não só por ser

aquela onde se situa a FCUL, mas também

por partilhar muitas características com outras

cidades europeias cicláveis.

O que existe hoje é ineficiente !

Cerca de 370 mil carros entram em Lisboa

diariamente, a maioria deles particulares,

outra parte serviços de transporte, distribuição

e toda uma outra panóplia de serviços.

Dou-vos agora a primeira pista de ineficiência:

Apenas 1.5 lugares

por carro estão ocupados !

Vamos então fazer o exercício de engenheiro

e dizer que carros particulares são

cerca 300 mil.

O que significa que estamos a transportar

cerca de 200 mil pessoas que entram

e saem de Lisboa por carros particulares

Outros meios de transporte para transportar 200mil pessoas

Meio de

Transporte

Quantidade

Necessária

Investimento Emissões CO 2

g/km/pessoa

Volume

m 2 /pessoa

Autocarro c/ 85 lugares 3528 117.5 M€ 7 0.35

Carro c/ 1.5 pessoas 200000 2998.5 M€ 116 3.56

Carro cheio c/ 5 pessoas 60000 900 M€ 35 1.4

Mota cheia (125cc) 150000 750 M€ 41 0.6

Bicicleta 200000 100 M€ 0 0.876

Triciclo movido a gatos 300000 - 0 -

*Considerou-se o preço médio dos autocarros como 50k€, carros 15k€, mota 5k€ e bicicleta 500€

20

Isto representa muitos fatores negativos,

como por exemplo o espaço ocupado

pelos automóveis, que retira espaços fulcrais

na cidade que poderiam ser designados para

árvores, esplanadas, ciclovias, maiores passeios

ou mais casas.

Reparem na pergunta que vocês podem

fazer agora que de todo não é um caminho

que eu quero que façam porque já tenho

um dado para contra-argumentar:

Mas um carro fica num lugar durante

um determinado tempo e depois muda,

não é?

Sim, sem dúvida. Aliás, o que mais vemos

é que durante dias de trabalho, os carros

ocupam espaços na cidade e que depois

voltam para zonas de habitação. Isto fazendo

as contas, dá que em média os carros ficam

estacionados 92% do tempo. Para mim isto


é extremamente ineficiente, poderiam haver

pessoas a utilizado entretanto valorizando assim

esse meio muito mais.

Para além disso, os veículos por mil

habitantes têm vindo a aumentar: passaram

de 584 para 682 de 2010 para 2019, o que na

atualidade cultural pode ser visto como um

indicador de aumento de qualidade de vida.

É esta atualidade que eu proponho que temos

de mudar, é ineficiente e nós físicos não o podemos

ser.

Um dos piores fatores, é aquele que se

deixa mais de lado quando se faz uma escolha

pessoal, as emissões de gases de estufa.

Nas nossas cidades existem máquinas que

chegam a 200km/h quando o limite é muitas

vezes 50km/h. Para quê um carro com toda

esta potência se o objetivo é chegar do ponto

A ao B seguro? Porque podemos.

Podemos pôr a vida dos outros em causa,

o que não falta em Portugal são acidente

rodoviários, mas não acaba aqui. As emissões

na cidade de Lisboa estão a crescer com o aumento

destes carros e a qualidade do ar, logo

da vida, está piorar.

Acho que já fiz passar o meu ponto de

vista de ineficiência e espero ter-vos convencido.

Normalmente há sempre várias questões

no que toca à parte pessoal, ou seja, a maior

parte das pessoas deixa-se convencer pelos

factos mas reconhece que há outras barreiras

pessoais para o fazer.

Vou tentar responder a algumas delas

em formato de FAQ.

Lisboa tem muitas subidas, não é como outras

cidades, como é que isso se resolve?

Félix, R., 2012. Gestão da Mobilidade em Bicicleta - Necessidades, factores de preferência e ferramentas de suporte ao planeamento e

gestão de redes: o caso de Lisboa. MSc Thesis in Territorial Engineering. Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa.

21


A inclinação média em Lisboa é de 4%,

o que até é significativo, tendo em conta que

na maior parte dos países europeus é aproximadamente

0%.

No entanto, uma das frases que me

lembro mais de ouvir na cadeira de probabilidade

e estatística é “as médias são afetadas

pelos extremos”, e isso é o que se passa neste

caso. Grande parte da rede ciclável em Lisboa

tem gradientes de 0-3%, no entanto há

zonas como o Bairro Alto e o Castelo de São

Jorge que têm inclinações altíssimas, o que

influencia tudo isto.

Se quiseres analisar estes dados e

experimentar tu mexer neles, usa este

QR Code.

Reparem que na zona em torno da Cidade

Universitária, o gradiente é muito baixo.

Zonas de residência comuns como a Alameda,

Alvalade, Telheiras, Campo Grande, Entrecampos,

Campo Pequeno, Saldanha e mesmo

mais longínquas têm baixo declive.

500€ para mim é bastante para adquirir

uma bicicleta, existem alternativas?

Viver em Lisboa como estudante é um desafio financeiro, uma renda já é de loucos e o

passe para estudantes com o sub-23 até fica a um preço decente, menos de 25€ mensais. No

entanto, acho que mesmo assim andar de bicicleta é mais rápido, cómodo e barato para muitos.

Dou-vos algumas alternativas:

Gira

Espero que já tenham reparado na

quantidade de bicicletas financiadas pela

CML e pelos seus utilizadores existentes em

Lisboa. Para utilizar esta bicicleta pode pagar-se

15€ por mês ou 25€ por ano, que me

parece muito superior, e ter um acesso até

45min gratuito.

Para além disso, a maioria da frota é

elétrica, fazendo com que o problema da inclinação

desapareça.

A rede Gira está maior que alguma vez

já esteve, se ainda não sabem onde existe estações

vejam neste QR CODE à direita.

22


Selim

Se no entanto pretenderes uma bicicleta

para ti, podes ir buscar uma entre 10 a 30

euros em formato de empréstimo prolongado.

Esta é uma ótima iniciativa que potencia a

economia circular, uma vez que para além de

emprestar também recolhe e repara bicicletas.

Podes aprendar mais no QR CODE à

esquerda.

Programa de apoio à

aquisição de bicicleta do

Município de Lisboa

Este apoio permite reduzir o valor da

compra na compra de uma bicicleta em Lisboa,

basta estudar lá para obter este apoio e

adquirir uma bicicleta numa das lojas aderentes.

• Bicicletas convencionais: financia 50% do

valor da aquisição da bicicleta, até ao limite

de 100€;

• Bicicletas elétricas: financia 50% do valor

da aquisição da bicicleta, até ao limite de

350€;

Podem aprender mais no QR CODE à direita.

23


Então e quando chove?

No meu primeiro ano de mestrado, tive

a possibilidade de fazer Erasmus em Gent, a

cidade ciclável belga. Calhou um dia estar a

falar com o meu colega de casa, Warre, e fazer-lhe

exatamente essa pergunta, uma vez

que lá chove bastante. Ele prontamente me

respondeu:

“andamos à mesma e ficamos

molhados”

e riu-se na minha cara. E é verdade, quando

chove e precisam de sair vão, t-shirt e calções

e molham-se todos.

Não recomendo muito isso, mas compreendo

que este problema é sobretudo diferenças

culturais e de mentalidade. Mas por

falar em sobretudos, essa é a solução, roupa

adequada. Garanto-vos que é muito divertido.

pé de casa. Bem, se não tiveram a

confiança de andar na estrada até ela, então

podem andar de transportes até à vossa bicicleta

ou Gira. Por exemplo, se tiverem de ir de

comboio até Entrecampos, poderão depois

andar de Gira até à faculdade.

Mais questões?

Se quiserem ajuda, aprender mais deste tópico

ou até mexer com dados, aconselho-te

a visitar a página do Lisboa para Pessoas, lá

têm um Guia Bicicleta, no seguinte

QR CODE:

Então e ciclovias? A que

tenho ainda fica longe.

Ah! Aí apanharam-me, desde 2016

que se promete um aumento da rede ciclável

abertamente na Câmara Municipal de Lisboa.

Prometeu-se um aumento de 60 para 210 km

até 2018. Finalmente desde de 2019 é que se

começou a fazer um aumento significativo

desta rede mas em 2021 ainda não chegou

a 200 km, apesar de estar perto. Mas pode

acontecer que não tenham uma ciclovia ao

24

Tomás Sousa


Referências

• https://www.lisboa.pt/fileadmin/cidade_temas/mobilidade/documentos/Como_Pedala_

Lisboa.pdf

• https://lisboainteligente.cm-lisboa.pt/lxi-iniciativas/lx-data-lab/

• https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/111382/2/259610.pdf

• https://medium.com/@yanhann10/visualizing-bike-routes-1ce455643db9

• https://blog.altaplanning.com/level-of-traffic-stress-what-it-means-for-building-betterbike-networks-c4af9800b4ee

• https://blog.altaplanning.com/building-complete-and-connected-networks-a861710d5eeb

• https://blog.altaplanning.com/3-things-you-need-to-know-about-bike-transit-integration-130d477568c6

• https://ec.europa.eu/eurostat/web/products-eurostat-news/-/ddn-20210720-1

• https://www.real-world-physics-problems.com/bicycle-physics.html

• https://arxiv.org/pdf/2006.08352.pdf

• https://www.youtube.com/watch?v=N5SEb7KITXg&ab_channel=PeterSchwartz

• https://lisboa---cidade-de-15-minutos.webnode.pt/

• https://amensagem.pt/2021/02/27/lisboa-cidade-15-minutos-manuel-banza-procura-dados-para-resposta/

• https://pplware.sapo.pt/gadgets/swytch-e-bike/

• https://www.publico.pt/multimedia/interactivo/litio

• https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/society/20190313STO31218/emissoes-de-dioxido-de-carbono-nos-carros-factos-e-numeros-infografia

• https://www.carbonindependent.org/20.html

• https://calculator.carbonfootprint.com/calculator.aspx?tab=5

• https://www.vox.com/a/new-economy-future/cars-cities-technologies

• https://www.carris.pt/descubra/frota/autocarros-standard/

• https://www.pordata.pt/Portugal/Ve%C3%ADculos+rodovi%C3%A1rios+motorizados+por+mil+habitantes-3234

• https://www.bmj.com/content/329/7469/763.full?etoc=

• https://lisboaparapessoas.pt/mobilidade/bicicleta/

25


História

26

A morte só serve de lição,

Quando em vida não for

Prestada a devida atenção.

A pandemia de Covid-19 fez com que

todos os alunos da Faculdade de Ciências

da Universidade de Lisboa, no 2º semestre

de 2019/2020, tivessem aulas online. Foi um

semestre atípico, repleto de novos desafios,

desafios esses que, por certo, os tornaram

mais resilientes. A época de exames, a dura

quadra de avaliações, foi ainda mais conturbada,

pois todo o desgaste psicológico acumulado

ao longo desses meses fez-se sentir

na hora de olhar para quaisquer enunciados.

O verão entretanto passara, e a chegada de

um novo ano letivo despoletara um desejo

de aprender na academia como não se via há

imenso tempo, provavelmente desde a inauguração

da faculdade. Tudo parecia estar a

correr de acordo com as expectativas dos estudantes:

faculdade novamente aberta, minicampus

com jola ilimitada, e o NFEF-FCUL a

organizar eventos para todos os gostos, são

apenas alguns exemplos das várias coisas

boas que o início de 2020/2021 acarretava.

Ricardo Pires, sempre confiante e esperançoso,

tal como em todos os anos, afirmava

que este era, e passo a citar, ‘o Ano’.

Contudo, se acreditarmos no Destino e nas

três Irmãs que o tecem, o fino fio do Fado de

Ricardo na parte inferior da roda residia; é

que o então recém-eleito Presidente do NFEF

-FCUL teve a sua vida colhida às 18h39 do dia

30 de Setembro de 2020, algures no edifício

C8. Os seus sonhos mais pessoais perecem

juntamente com o seu corpo, mas a vontade

dos seus entes queridos em encontrar o

seu assassino jamais morrerá. Bem, verdade

seja dita, ao menos adivinhou que este era

‘o Ano’ - O Ano da Morte de Ricardo Pires.

Após várias semanas a investigarem o

caso, abordando praticamente todas as pessoas

e explorando cada recanto do C8, Rodrigo

Lopes e Miguel Pinto, membros do NFEF-

-FCUL, conseguiram identificar 2 suspeitos:

Ariana Dias e Gonçalo Fernandes. Estas foram

as principais informações que recolheram:

• Ariana Dias - Tem estado em Lisboa desde

o final de Agosto. Aparentemente, nutre

uma paixão secreta por arremesso de

facas, atividade à qual dedica grande parte

do seu tempo. Além disso, depois de

termos interrogado João Neves, também

do Departamento de Divulgação e Imagem

do NFEF-FCUL, notámos pelo seu

testemunho a existência de uma estranha

relação entre Ariana e Rafael Pinto: poucas

semanas antes do assassinato, ouviu uma

conversa telefónica entre os dois, na qual

Rafael, ao descobrir o gosto de Ariana pelo

arremesso de facas, pediu para começar a

treinar com ela.

• Gonçalo Fernandes - Fontes próximas do

Miguel ouviram falar de que, durante as

férias de verão, terá havido uma enorme

discussão entre o Ricardo e o Gonçalo por

causa do Appa ter colocado um presente


em cima dos ténis do presidente. Dizem

que o Ricardo não gostou e deu um valente

pontapé no cocó, o qual sujou o Appa

Evidências

todo, fazendo com que o Gonçalo ficasse

ressentido até hoje.

Com o Miguel a nadar em trabalhos,

o Rodrigo teve que conduzir a investigação

sozinho por algum tempo. Foi nesta altura

que, após abordar duas seguranças, descobriu

informações preciosas sobre o Gonçalo.

As seguranças recordaram-se de que tinham

ouvido um grito numa das salas do edifício C8

minutos antes da hora do assassinato. Tendo

esta pista em mãos, Rodrigo foi com as seguranças

até à sala de controlo, onde puderam

ter acesso às gravações das câmeras.

Foi com enorme espanto que o Rodrigo

viu as primeiras imagens: O Gonçalo encontrava-se

a trabalhar numa atividade laboratorial

de Física Experimental II quando, por

acidente, ocorre uma descarga elétrica de

110 V (relativos à terra), estando ela descalça.

Por ironia do destino, ou simplesmente para

serem vocês a resolver o resto do mistério, a

gravação parou assim que houve a descarga

elétrica, no momento em que o Gonçalo tinha

a mão numa bancada metálica a d = 2 m do

ponto de descarga elétrica, presente ao longo

da sala onde se encontrava.

Assumindo um campo elétrico constante

e uniforme e que o transporte dos eletrões

ao longo do corrimão é difusivo, sendo

o módulo da velocidade média dos eletrões

‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ =113 m/s e o tempo de relaxação τ =

1.904 x 10 -11 s, será que o choque elétrico foi

suficientemente forte para impedir o Gonçalo

de executar um possível assassinato? Ou será

que continua suspeita? Recorram às figuras

para tirar conclusões.

Tenham em consideração que a aceleração

média dos eletrões em metais tem 2

principais contribuições:

Para o termo de Dispersão e - e - devem utilizar

a aproximação ao tempo de relaxação.

Corrente Elétrica

Até 10mA

Dano Biológico

Dor e Contração Muscular

De 10 mA até 20mA

De 20mA até 100mA

De 100mA até 3A

Acima de 3A

Aumento das contrações

Musculares

Perda de Consciência

Fibrilação ventricular que

pode ser fatal

Paragem cardiaca,

queimaduras graves

Tabela que relaciona as consequências que a intensidade de corrente

elétrica provoca no ser humano. Para uma intensidade I << 10 mA, os

efeitos são negligenciáveis e ninguém grita por isso.

Boa Sorte!

Torso

100 Ω

Tornozelo

350 Ω

Cotovelo

200 Ω

Pulso

300 Ω

Joelho

150 Ω

Miguel Pinto Rita Reis Rodrigo Lopes

27


28

À conversa com

Paulo Silva



Paulo, começa por nos contar

um bocadinho quem és.

Eu já estive nos vossos sapatos. Estudei

aqui, em Ciências, até ao mestrado. A maior

parte do tempo da minha carreira profissional

foi a dar aulas, maioritariamente no ensino superior

- já dei aulas a todos os níveis de ensino

desde o terceiro ciclo do ensino básico.

Durante muito tempo estive na mesma

situação em que se encontram muitos alunos

recém-formados com posições a curto prazo

(bolsas, contratos temporários) e que tendem

a ser provisórias até aos 50 anos de idade -

basta olhar para os vossos professores. Digamos

que não é uma vida fácil. A dada altura

eu queria estabilidade por razões familiares e

outras e surgiu a oportunidade de vir trabalhar

para a FCUL, que era um ambiente que eu

já conhecia, o que junto ao facto das funções

necessárias para um técnico de laboratório

do departamento de física serem já minhas

conhecidas – passei muito tempo a dar aulas

experimentais e muitas vezes não havia

ninguém para dar apoio técnico, preparar os

laboratórios, resolver os problemas, etc. – eu

sabia exatamente o que era preciso, por já ter

sentido na pele, e achei que esta posição “seria

ouro sobre azul”.

Em que consiste o teu papel

nos laboratórios de física da

FCUL?

A minha função é manter os laboratórios

de ensino do departamento de física a

funcionar, no piso 4 do edifício C1 e algumas

instalações aqui no C8. Isso implica organizar

os espaços, por exemplo ao nível dos horários,

o que envolve uma grande dinâmica com

outros agentes da faculdade e nem sempre é

fácil.

Depois, é preciso que quando os professores

e os alunos chegam às aulas esteja

lá o material que faz falta e que funcione. A

minha principal função aqui é garantir que

quando as pessoas chegam às aulas as coisas

acontecem. Isso tem inúmeras subalíneas,

umas mais de preparação, outras de manutenção.

Desde relativamente cedo quando cá

cheguei comecei também a introduzir-me na

divulgação de imagem do departamento e da

faculdade (Dia Aberto, Ser Cientista, Descobre

a ULisboa, etc.). Ao nível da faculdade, há

algumas tarefas que não são de ninguém mas

que interessam a todos e como acredito no

trabalho da instituição sou muitas vezes voluntário

para as fazer – as últimas, por exemplo,

tiveram a ver com o centro de testes à

covid.

Como é que se vivia na FCUL

nos anos 80/90?

Eu cheguei à FCUL com 17 anos. Não

era este espaço. Aliás, aqui o C8 onde nos encontramos,

era, na altura, um grandessíssimo

baldio. Havia o C1 e tudo à volta era mato que

tínhamos que atravessar até Letras para ir à

cantina velha. Ainda me lembro de o C2 estar

a acabar de ser construído e haver muitas

30


reivindicações porque o edifício estava a ser

utilizado, mesmo antes de ser concluído.

Na altura, o Improp (ainda em formato jornal,

da AEFCL) era mesmo impróprio para consumo,

porque era muito reivindicativo. Houve

uma notícia do género:

“Escalada nas aulas de geologia”

porque os alunos tinham que subir de escadas

os 4 ou 5 pisos para chegarem às salas.

A maioria das aulas que eu tinha na licenciatura

eram na Rua da Escola Politécnica. Nos

anos finais, já eram sempre no Campo Grande.

Para além do barulho dos aviões, havia

também o barulho das máquinas a operar na

construção dos outros edifícios. Os primeiros

5 edifícios, “a nave”, foram feitos em cerca de

4 ou 5 anos e depois vieram os outros. Quando

eu saí do mestrado (em 1995), não tenho

muita ideia mas, acho que ainda não existiam

nem C6 nem C8.

Que experiências profissionais

tiveste antes de chegares à

FCUL?

Já dei aulas de física e química no ensino

secundário e no ensino profissional. A

maior parte do tempo foi a dar aulas no ensino

superior, onde comecei no ISEL. Para mim

foi uma grande escola porque eu era muito

novinho. Os meus alunos, muitos, eram mais

velhos do que eu e foi aí que aprendi a “estar

de chicote” numa aula. Eu achava que tinha

uma vocação mais fundamentalista do que

aplicada. Depois, surgiu a oportunidade de ir

para a Universidade do Algarve, onde estive

durante 5 ou 6 anos. Havia um curso de engenharia

física a começar (que, entretanto,

acabou por falta de alunos), mas aquele que

me interessava mais era o da formação básica

do ensino da física e da química. Após sair do

algarve estive uns anos no politécnico de Beja

também a dar aulas. À semelhança do que

acontece aqui, há a prestação de serviços docentes

a outros departamentos, ou seja, também

dava aulas a alunos de outras áreas, por

exemplo, agricultura, biologia marinha, etc.

Muitas vezes, existe algum preconceito

em relação a essas disciplinas, chamadas de

serviço. Eu apanhei muito bons alunos, verdadeiramente

interessados, e não me importei

nada de contribuir para a sua formação geral,

pelo contrário, deu-me muito prazer. Não interessa

se o aluno é de medicina, engenharia

hortofrutícola, ou se é de física. Por mais que

se faça o pino na aula, isto só funciona de uma

maneira: quem está a aprender quer aprender

e quem está a ensinar tem que fazer o melhor

possível para facilitar a aprendizagem do aluno.

Sentes falta do contacto direto

com os alunos nas aulas?

Aqui, dar aulas não é a minha função.

Ocasionalmente acontece, ao nível dos laboratórios

onde estou, e gosto dessa interação

com os alunos mas, obviamente, quando há

outra pessoa a dirigir a sua formação é de

todo inoportuno vir alguém de fora dizer para

fazer assim ou assado. Acontece, quando algum

professor me pede uma ajuda, mas não

me importo de não ter o contacto mais direto

com os alunos. Há uns tempos, em conversa

com uma colega, ela dizia:

“Há várias pessoas que contribuem

para fazer um bolo. É verdade que

aquele que apresenta o bolo tem a sua

importância mas, por trás de tudo, houve

o tipo que bateu os ovos, o que foi

comprar a farinha, etc…”.

Eu não me importo de ser o tipo que

bate os ovos, desde que o bolo fique bom.

Infelizmente, as coisas não correm sempre

às mil maravilhas. Aliás, tu és aluno da faculdade,

já passaste pelos laboratórios, certamente

já tiveste alguma situação menos boa

mas, como diria o Martin Luther King, “I have

a dream!” e um dia vai-se conseguir organizar

e fazer com que tudo funcione melhor naqueles

laboratórios.

31


Qual é a tua opinião

acerca do ensino da física,

nomeadamente experimental,

em Ciências?

Em termos globais acho que estamos

bem. É uma queixa frequente dos alunos, o

facto de encontrarem aqui na faculdade um

ensino, nomeadamente experimental, chamar-lhe-ia,

um pouco retrógrada, o que eu

subscrevo. No entanto, desde os tempos em

que fui aluno, tenho a consciência (e os alunos

agora também deviam ter) de que uma formação

superior é um concurso de inúmeros

fatores que ocorrem naquele período e naquele

sítio, com as condições que é possível

reunir. Também há pessoas desinteressadas

mas, o grosso das que conheço estão interessadas

em fazer um bom trabalho. Quando os

alunos me dizem:

“Isto é uma experiência que já se fazia

um bocadinho antes da extinção dos

dinossauros”

eu respondo:

“Pois, mas um bocadinho antes da

extinção dos dinossauros, os poucos

mamíferos que já existiam tinham que

aprender a comer”

Há certos passos na nossa formação

que devemos dar para avançar e aprender.

Não importa se temos um laboratório todo

luzidio, pintado a ouro, com equipamento

de ponta com o qual, se calhar, não vamos

aprender assim tanto, ou se temos uma formação

experimental mais exótica. O que faz

a diferença na formação experimental duma

pessoa é a capacidade de ela olhar para um

problema e conseguir perceber de que forma

é que dá a volta. Desse ponto de vista, os nossos

laboratórios estão um bocadinho atrasados

porque são muito “dirigidos”. Numa fase

inicial isso é preciso – na primeira vez que se

entra num laboratório é preciso saber exatamente

o que fazer. Depois, quando os alunos

começam a ficar mais à vontade com a prática,

isto pode evoluir para uma situação mais

criativa, em que aprendem muito mais, mas

não é possível com turmas com cem alunos.

Já começa a acontecer nalgumas disciplinas

mais avançadas, professores que adotam estratégias

mistas em que a primeira parte do

semestre é mais preparatória, por exemplo

para aprender a mexer com o equipamento,

e a segunda um bocadinho mais criativa. Eu

acho que a médio prazo esta é a estrutura

com que devíamos evoluir ao nível dos primeiros

ciclos de estudo aqui no departamento

– lá está “I have a dream!”- um dia lá chegaremos.

32


Quais as maiores

dificuldades na manutenção

dos laboratórios?

São de várias naturezas. Começando pela

questão monetária, muitas vezes, é preciso

gastar dinheiro, por exemplo, para adquirir

novos equipamentos, e os orçamentos não

têm sido fáceis de gerir. Quando comecei a

trabalhar aqui, os departamentos eram informados

acerca dos orçamentos com alguma

antecedência – em março, abril já sabíamos

com o que contar. Este ano, os orçamentos

chegaram em meados de julho que dificulta

a gestão porque os prazos ficam muito curtos.

Além dos prazos e de não haver todo o

dinheiro que queremos, somos uma entidade

pública e, como tal, temos que cumprir regras

muito estritas em termos de aquisições de

material e equipamentos para os laboratórios

o que é uma tourada que me consome a mim

e a muitas outras pessoas, nomeadamente

nos serviços administrativos. Não podemos

por em causa as regras de contratação pública

do estado porque isso tem implicações

graves para os dirigentes da faculdade. Isso

para mim é uma dificuldade porque não consigo

fazer as compras de uma maneira direta

e muitas vezes os próprios professores não

percebem este lado. Outra dificuldade é que

temos falta de recursos humanos. Nos laboratórios

do C1, para além de mim, está apenas

o engenheiro João Martins. Penso que seriam

precisas, pelo menos, mais duas pessoas pera

se poder assegurar apoio às aulas, por exemplo,

das 8h às 20h e conseguir assegurar todas

as outras tarefas.

Nos últimos dois anos, qual a

tua opinião sobre o funcionamento

das aulas laboratoriais à

distância?

Podemos queixar-nos do que quisermos

nas aulas presenciais mas esta situação

veio comprovar que é muito complicado fazer

formação experimental online.

Ainda bem que muitos alunos conseguiram

acompanhar o modelo adotado mas

nem toda a gente tinha os meios necessários

para se ajustar a esta realidade. Diria que o

grosso das pessoas tenha as condições suficientes

mas, mesmo estas, ficaram prejudicadíssimas

com esta formação online. Não

obstante, há que reconhecer que houve um

esforço significativo por parte dos docentes

à frente dos laboratórios para conduzir

o melhor possível estas aulas e muitas vezes

os alunos não corresponderam a este esforço.

Nem tudo correu bem mas os professores

fizeram um esforço adicional, por exemplo,

para preparar sessões síncronas, responder

a mails com dúvidas dos alunos porque não

podiam responder à saída da sala, preparar e

gravar previamente aulas laboratoriais, etc. –

os alunos que não estão cá a ver estas coisas

a acontecer não têm esta perceção – para

depois haver muita desonestidade, o que me

chateia muito – já arranjei montes de problemas

pelos sítios onde passei à custa destas

coisas porque tendo a ser um bocadinho intransigente

com isto. Sempre houve o plágio

nos relatórios, usar integralmente os valores

e resultados de outros grupos ou de anos anteriores.

Depois, numa prova oral, os docentes

perguntam-se como é que os alunos do

grupo X que fez um relatório de 18 não conseguem

dizer 3 coisas seguidas…

Isto aconteceu nos últimos semestres

muito mais do que nos laboratórios presenciais.

A dada altura houve um grupo de professores

que levantou a ideia de constituir um

conjunto de kits para realizar algumas aulas

práticas à distância. Eu acreditei nisto desde

o início porque parecia a melhor opção face

à situação – é melhor o aluno ter algum material

que exige alguma iniciativa para fazer

as coisas porque não tem lá a todo o instante

alguém a dizer exatamente o que fazer. Eu

estava encarregue de distribuir e recolher os

kits e, de uma forma geral, acho que os alunos

aderiram. Não sei ainda muito bem qual o resultado

desta iniciativa mas tenho esperança

que tenha contribuído para que os alunos tenham

tido uma formação um bocadinho melhor.

Ricardo Pires

33


34

História e Aplicações dos

Aceleradores



36

Porque se constroem

aceleradores?

Os primeiros aceleradores de partículas

tiveram como principal motivação experiências

relacionadas com a Física Nuclear. No

início do século passado, Ernest Rutherford

(1871-1937) descobriu que ao fazer colidir as

partículas alfa (núcleos de 4He) resultantes

de decaimentos radioativos com outros átomos

e detetando os padrões de dispersão

destas mesmas partículas era possível perceber

que, no centro do átomo, existe um pequeno

e massivo elemento: o núcleo atómico.

A energia máxima das partículas alfa

que resultam da desintegração é da ordem de

10 MeV, comparável com as forças de ligação

nuclear. Experiências mais detalhadas exigem

um feixe de partículas mais energético e intenso.

A mecânica quântica diz-nos que existe

uma relação inversa entre o comprimento

de onda de uma partícula, λ, e o seu momento,

p, dada por

Onde h é a constante de Planck. Esta é

a chamada relação de De Broglie e evidencia

a dualidade onda-partícula, que consiste no

facto da matéria ter um caráter ondulatório

e as ondas terem um caráter corpuscular. A

energia de uma partícula, E, relaciona-se com

o seu momento através da seguinte expressão:

Onde c é a velocidade da luz no vazio.

O detalhe da análise de um padrão de dispersão

é da ordem do comprimento de onda

disperso: para numa experiência ser possível

analisar detalhes a uma menor escala, é necessário

ter um menor comprimento de onda.

Ora, da relação de De Broglie sabemos

que, se queremos um menor comprimento de

onda, necessitamos de aumentar o momento

das partículas, uma vez que h, tal como

o nome indica, é uma constante. A segunda

expressão apresentada diz-nos que um aumento

de momento se traduz num aumento

de energia. E chegamos assim a uma possível

resposta para a questão inicial: se queremos

experiências que nos permitam analisar

detalhes de pequena escala (escala atómica

ou, até mesmo, subatómica) necessitamos

de radiação com um comprimento de onda

da mesma escala e, consequentemente, de

partículas muito energéticas.

Por outro lado, a famosa equação de

Einstein que estabelece a equivalência entre

massa e energia (E=mc 2 ) diz-nos que as partículas

mais pesadas do universo apenas são

criadas a elevadas energias. Como veremos

mais à frente, a busca destas partículas massivas

é também uma motivação para a construção

de aceleradores.

Após uma breve explicação de alguns

motivos que levaram ao desenvolvimento

de aceleradores de partículas, analisaremos

agora mais a fundo algumas das aplicações

concretas deste tipo de equipamentos.

Aceleradores para

aplicações médicas

Na área da saúde, os aceleradores são

utilizados não só para o diagnóstico, mas também

para o tratamento de patologias. Num

exame denominado Tomografia por emissão

de positrões, também conhecido pela sigla

inglesa PET, são utilizados aceleradores para

produzir radioisótopos. Elementos estáveis

são irradiados com protões com energias tipicamente

entre 7 e 100 MeV, de modo a produzir

isótopos instáveis. Estes isótopos são

injetados no paciente e decaem emitindo um

positrão (eletrão com carga positiva), produzindo

dois fotões que são detetados durante

o exame.

Outra aplicação médica bastante relevante

dos aceleradores é na Radioterapia,

onde estes são utilizados para tratar doenças

oncológicas. O objetivo deste tratamento é

destruir as células cancerígenas com radiação

ionizante, tentando preservar ao máximo


os tecidos saudáveis. A utilização de aceleradores

lineares permite fornecer eletrões

ou fotões de alta energia para que, quando

necessário, a radiação viaje até uma maior

profundidade no paciente. Existem diversas

marcas que fornecem máquinas industriais

que permitem acelerar eletrões até algumas

dezenas de MeV e, atualmente, existem também

aceleradores de protões utilizados para o

tratamento de cancro, a chamada Terapia de

protões. A utilização destas partículas apresenta

vantagens clínicas relativamente aos

eletrões/fotões, nomeadamente o facto de

permitir o tratamento de tumores localizados

e de não danificar tanto os tecidos saudáveis

e os órgãos vitais. No entanto, devido à sua

elevada massa, a aceleração de protões exige

instalações de maior dimensão, o que se traduz

num aumento do custo do tratamento

Aceleradores na indústria

Juntamente com as aplicações médicas,

a utilização de aceleradores na indústria

representa uma fração significativa das finalidades

dos equipamentos a operar. Uma das

finalidades dos aceleradores é a implantação

iónica em semicondutores, realizada por aceleradores

eletrostáticos. Este processo permite

que sejam inseridos iões específicos a

uma determinada profundidade no material,

por forma a dopar o material e cumprir determinados

requisitos para o incorporar num

circuito integrado.

Uma outra aplicação industrial de aceleradores

diz respeito à irradiação de alimentos

com vista à sua preservação, destruindo

microrganismos ou insetos, impedindo a germinação

de alguns vegetais e retardando o

amadurecimento de frutas e vegetais. Para

isso, são utilizados eletrões acelerados ou

raios-X. Este procedimento tem um grande

potencial económico e permite evitar aditivos

químicos que podem ter diversos efeitos

adversos para a saúde do ser humano ou até

evitar a necessidade de conservar os alimentos

a baixas temperaturas.

Mapa aéreo dos aceleradores de particulas em Geneva.

37


Imagem do interior do LHC - Large Hadron Colider

Aceleradores como

fontes de luz

Quando partículas leves com carga

viajam a velocidades próximas da luz são osciladas

por um campo magnético emitem radiação

de sincontrão, SR (do inglês synchrotron

radiation). Este fenómeno foi descoberto

nos anos 40 do século passado e, desde então,

diversas instalações foram contruídas em

todo o mundo. O baixo comprimento de onda

desta radiação é de especial interesse para

uma análise detalhada da estrutura e dos processos

da matéria. As aplicações englobam

áreas como física da matéria condensada,

química, ciência de materiais, medicina, entre

outras.

Os free-electron laser (FEL) são a

mais recente geração deste tipo de aceleradores

e são capazes de produzir SR de baixo

comprimento de onda, muito intensa e

com pulsos extremamente curtos, na ordem

dos femtosegundos. Isto significa que estes

aceleradores permitem não só ver detalhes a

uma pequena escala (derivado do baixo comprimento

de onda da radiação), mas também

registar “fotografias” com intervalos de tempo

muito reduzidos. Assim, é possível fazer

autênticos vídeos de processos químicos e

biológicos extremamente rápidos, tais como

capturar cada passo de uma reação química

vendo como cada átomo se move e como se

destroem e formam ligações.

Busca de “novas” partículas

O desenvolvimento dos aceleradores

tem sido fundamental para o progresso da física

de partículas. Um exemplo disso mesmo

é o Large Hadron Collider (LHC), neste momento

o mais recente acelerador do CERN. É

formado por um anel com 27 km, onde dois

feixes de partículas que viajam a velocidades

próximas da luz colidem. Existem 4 localizações

diferentes no acelerador onde as partículas

colidem, correspondentes às posições

de quatro detetores de partículas – ATLAS,

CMS, ALICE e LHCb. Em 2012, as experiências

ATLAS e CMS anunciaram que observaram

uma nova partícula na região de massa

de aproximadamente 125 GeV. Esta partícula

é consistente com o bosão de Higgs, prevista

pelo Modelo Padrão da física de partículas.

Rita Pestana

38


Referências

• https://inis.iaea.org/collection/NCLCollectionStore/_Public/26/002/26002812.pdf

• https://indico.cern.ch/event/279729/contributions/1626374/attachments/512354/707094/CAS2014-APPLICATIONS.pdf

• https://www.radiologyinfo.org/en/info/linac

• https://accelconf.web.cern.ch/e98/PAPERS/TUZ04A.PDF

• http://przyrbwn.icm.edu.pl/APP/PDF/114/a114z202.pdf

• https://www.psi.ch/en/swissfel/history-of-x-rays

• https://home.cern/science/accelerators/large-hadron-collider

Challenge

Dada uma aplicação T : N → N definida por

Tente provar que a seguinte afirmação é verdadeira ou falsa:

Qualquer que seja o número inteiro inicial n ≥ 1, se iterarmos

sucessivamente a função T chegaremos inevitavelmente ao

inteiro 1 após um número finito de passos

Exemplo: 214 → 101 iterações

214, 107, 322, 161, 484, 242, 121, 364, 182, 91, 274, 137, 412, 206, 103, 310, 155,

466, 233, 700, 350, 175, 526, 263, 790, 395, 1186, 593, 1780, 890, 445, 1336,

668, 334, 167, 502, 251, 754, 377, 1132, 566, 283, 850, 425, 1276, 638, 319,

958, 479, 1438, 719, 2158, 1079, 3238, 1619, 4858, 2429, 7288, 3644, 1822,

911, 2734, 1367, 4102, 2051, 6154, 3077, 9232, 4616, 2308, 1154, 577, 1732,

866, 433, 1300, 650, 325, 976, 488, 244, 122, 61, 184, 92, 46, 23, 70, 35, 106,

53, 160, 80, 40, 20, 10, 5, 16, 8, 4, 2, 1

Sugestão invertida:

ztalloc

39


40

Testemunhos

de alunos de 2° ano



Como correu o meu primeiro ano de faculdade?

Uma resposta seria apenas dizer que

correu bem. É simples, rápida e direta ao assunto,

mas ao mesmo tempo é uma análise

míope daquilo que foi um ano para muitos atípico.

Parece que depois de um ano e meio de

pandemia nada lhe ficou indiferente e o meu

primeiro ano de faculdade muito menos. Entrei

para a faculdade com diversas expectativas,

uma delas era viver o ambiente universitário,

sentir o que era ser um estudante no

meio de tantos outros que partilham gostos

e ambições comigo, a expectativa de fazer

grandes amigos que ajudar-me-iam no meu

percurso e eu no deles, esperava eu. E o que

eu tive, afinal de contas, foi um curso online.

É engraçado que, passado um ano de

faculdade, ainda só conheço pessoalmente

para aí dez dos meus colegas. Claro que

falo com muitos mais pela internet, mas por

muito que isso ajude não substitui a conversa

cara a cara e não substitui a reação espontânea

de desprezo que seria de esperar quando

eu conto uma das minhas quinhentas piadas

secas. Claro que posso imaginar qual seria a

cara que fariam e provavelmente não errava

assim tanto, mas lá está, não é a mesma coisa.

Estou a ser muito negativista e a pintar este

meu início de faculdade como se não tivesse

tido nada de bom, o que seria uma enorme

mentira, adorei a faculdade.

Começando pelas instalações, é uma

faculdade que não é muito bonita, mas tem

o seu charme e o seu conforto. Os professores

são espetaculares e nota-se que gostam

daquilo que fazem, estimulam o nosso conhecimento

e obrigam-nos a pensar provavelmente

mais do que alguma vez pensei na

minha vida. Quanto ao ambiente, não posso

falar muito, mas das vezes que estive na faculdade

não tenho nada a apontar. Conheci

pessoas cativantes e divertidas que fizeram

os meus dias certamente mais interessantes.

Sinto que posso pela primeira vez afirmar que

estou a fazer aquilo que gosto!

Quando entrei na universidade tinha

medo de ter escolhido mal, de ter achado que

na altura Engenharia Física era o caminho certo

mas na realidade não o ser, e agora com o

primeiro ano completo não posso estar mais

contente da minha escolha, as matérias são

fascinantes e algumas terrivelmente desafiantes,

algo que só lhes confere ainda mais

interesse!

Sempre fui alguém determinado e trabalhador,

encarei a faculdade como um desafio

que teria que superar e que para tal teria

de envolver imenso esforço e dedicação.

Assim fiz, empenhei-me e estaria a mentir se

dissesse que não houve momentos difíceis,

momentos em que pensava que se calhar

não tinha o que era necessário para ser bem

42


sucedido no curso que escolhi. Não o posso

dizer com toda a certeza, mas considero que

esta seja uma sensação que muitos dos alunos

que estão no primeiro ano de faculdade

sentem. Para estes tenho uma boa noticia…

Não se preocupem, vai melhorar! Continuem

a fazer o vosso trabalho, não baixem a cabeça

porque há de haver um dia em que acordam e

que as coisas começam a fazer sentido.

Após ter escrito todo este texto sinto

que ainda há um grupo de pessoas, não menos

importantes que as outras, que negligenciei,

os alunos mais velhos! Alunos estes que

já se encontram mais à frente no seu percurso

universitário que eu e que já passaram por

situações e sensações que eu passei ou que

ainda vou passar, o que lhes confere uma sapiência

na arte de sobreviver à faculdade que

depois transmitem à malta menos experiente,

ou seja, eu e os meus colegas. Estas são as

pessoas com quem a conversa não tem que

ser tão formal como seria com um professor,

o que permite uma entreajuda maior, dado

que as cortesias muitas vezes só interferem

com a comunicação clara e direta. A estes

só posso agradecer por me terem ajudado a

entender como funcionam certos aspetos da

vida académica.

Considero que toquei em tudo aquilo

que para mim caracterizou o meu primeiro

ano na FCUL. Voltando ao início, porque tudo

na vida é um ciclo, teria que dizer que correu

bem, talvez até melhor do que aquilo que eu

estava à espera quando saí do secundário.

Fiz amigos com quem falo diariamente e com

quem me divirto, espero que para o ano possa

interagir com eles sem ser por um computador

e que possa verdadeiramente sentir na

pele o que é ser um estudante (algo em mim

me está a dizer para ter cuidado com aquilo

que desejo…).

Após a conclusão, gostava apenas

de deixar uma breve mensagem aos alunos

que vão entrar na faculdade e em específico

àqueles que vão ter uma cadeira de Álgebra

Linear: Boa sorte!

Rui Coito

43


Ano atípico

“Este é um ano atípico”

Esta expressão foi dita muitas vezes

este ano e traduz de forma coerente as experiências

deste ano letivo. A pandemia que o

país e o mundo enfrentavam trouxe desafios

à aprendizagem e aniquilou parcialmente as

experiências universitárias pelas quais muitos

esperavam, deixando-nos com substitutos

que de maneira simpática podemos dizer que

tentaram.

Enumerando um dos principais substitutos,

aulas online, gostaria de mencionar que

houve uma clara boa intenção dos docentes

para que as aulas online fossem tão eficazes

como as aulas presenciais e após este ano,

pode-se dizer que de boas intenções está o

inferno cheio. A adaptação feita por parte dos

docentes não foi a melhor, mas eles tentaram,

ou seja, para o leitor mais distraído, não resultou

da melhor maneira.

Este ano foi verdadeiramente um ano

atípico, porém, não posso concluir descontente.

Aprendi muito mais sobre Física do que

alguma vez ambicionei e por isso nunca me

senti tão certa das minhas escolhas como

agora. Conheci colegas que me incentivaram

e apoiaram e com quem pude estabelecer

verdadeiros laços de amizade, cujo termo

“colegas” de maneira nenhuma é um desperdício

de português. Para finalizar, apelo ao

leitor que entenda que isto foi tudo da minha

perspectiva pessoal, e que não leve nada do

que foi dito com uma maior seriedade do que

a necessária.

Bárbara Pereira

O Primeiro Ano em Física 20/21

Em setembro de 2020 entrei na universidade.

Tinha grandes expetativas, estudar

aquilo que realmente gostava, o ambiente

académico, construir uma perspetiva mais

aberta … E apesar de ter sido desafiante, estas

ambições foram cumpridas, em Física, na

FCUL.

Foi complicado iniciar o percurso académico

superior a meio de uma pandemia.

As aulas a partir de casa não ajudaram à concentração.

A interação virtual com os novos

colegas, mesmo com todas as redes sociais,

não foi idêntica à presencial. A própria ausência

do meio académico, tão característico

da faculdade, foi atípica. Esta etapa foi difícil

uma vez que tivemos de enfrentar todas estas

questões durante o nosso primeiro ano,

juntamente com a habitual mudança de para-

44


digma do ensino secundário para o superior.

O que tornou este ano ultrapassável foi

a atitude com que cada um de nós o enfrentou.

A vontade que todos tivemos para que

resultasse da melhor forma. O esforço que

os docentes e a própria faculdade desenvolveram

para tornar este ano o melhor possível

para todos.

Encontrei colegas incríveis, extraordinariamente

simpáticos e inclusivos, a maioria

dos professores sempre prontos a ajudar

e as associações de estudantes e núcleos

com atividades oportunas de integração e de

aprendizagem. A minha participação em associações,

como a Physis, e o envolvimento

em outros projetos no meio académico também

ajudou a desanuviar dos estudos, continuando

a contribuir significativamente para a

comunidade académica.

Considerei todas as unidades curriculares

relevantes como bases do percurso

científico, no entanto senti que a maioria dos

planos curriculares foram demasiado extensos

para os alunos aprenderem com qualidade.

Alguns métodos de avaliação poderiam

ter sido mais ajustados ao contexto atual e

determinadas disciplinas poderiam ser mais

organizadas, reduzindo as diferenças entre os

turnos lecionados.

Os alunos que aprenderam com sucesso

durante este ano são estudantes que

se adaptaram às circunstâncias adversas e à

experiência sem precedentes. Apesar de ter

sido uma vivência dura, emocional e psicologicamente,

saímos mais resilientes e preparados

para o futuro, que se espera mais brilhante.

Madalena Gamboa

1º ano na FCUL

Observatório de Lisboa - Fotografia de www.nit.pt

Escrevo apressadamente este texto, na

esperança de ainda conseguir ir a tempo de

assistir a parte de uma palestra de um investigador

no CERN. Ao refletir sobre a minha

experiência deste 1º ano, aquilo que se me

apresenta mais evidente são as magnitudes

que o meu mundo cresceu desde que terminei

o secundário.

Tinha ideia de que tal aconteceria, mas

- e entendia isto já na altura - não sabia o

quanto. Ainda hoje é difícil medir - se é que

este tipo de coisa é mensurável.

O último período do secundário foi estranho.

Em retrospectiva, poderia dizer que

tinha servido de test-trial para o primeiro ano

como universitário. Esta analogia cai comple-

45


46

tamente por terra se tomarmos em consideração,

apenas - que chega e bem - a exigência

motivacional e intelectual que comecei a

sentir para o final da terceira semana do primeiro

semestre, sensação da qual julgo que

não me livro tão cedo.

Durante muito tempo, pensei que os

valores pelos quais geria o meu estudo eram

aquilo que uma universidade pedia, mas oh!

Se estava errado. Não querendo particularizar

demais - presto esclarecimentos em pessoa,

foi por constatar que o tempo que tinha livre

não me permitia resolver todos os exercícios

que tinha a fazer - CDI I, ALGAna, CDI II, estou

a olhar para vocês! - que fui forçado a escolher

as minhas batalhas de forma mais inteligente.

Eis uma outra coisa que constatei e à

qual achei piada: sempre fui muito mais produtivo

nas bibliotecas da FCUL, do que em

casa. Aborrece-me pensar que, com o fim das

medidas sanitárias, elas provavelmente terão

menos espaço nos meus próximos anos...

Não estar à frente dos professores, no

meio de uma multidão de rostos, foi algo estranho.

Se em anos passados o choque da falta

de proximidade que os alunos tinham com

os professores era grande, este ano, para

quase todos, senti mesmo que não existia,

ou daí, talvez, que existia demais, porque me

sentia demasiado visível quando, com a câmera

ligada, no mar de nomes, colocava uma

questão.

Uma das coisas de que não me posso

queixar é de me ter sentido sozinho. Logo na

primeira semana pude identificar-me imenso

com os meus colegas. Não apenas ficou claro

que havia uma porção significativa de pessoas

que sabia discutir Física casualmente - o

que à partida pode parecer intimidante, mas,

com jeito, torna-se numa mais valia -, como

tínhamos uma data de outros gostos e experiências

em comum...

O meu círculo de amigos foi crescendo!

Com estas pessoas aprendi o valor de um

sistema de apoio que realmente inclui pessoas

com quem te dás e que têm vivências

semelhantes às tuas...

Não esperava que pudessem ser tão

importantes para que o curso fosse suportável.

Dito isto, é estranho imaginar, para o

4º semestre, uma universidade cheia de pessoas...

Um pouco “não natural”, até. Algo que

também me marcou profundamente, foi, insisto

mesmo, todo o ambiente proporcionado

pelos meus colegas mais velhos - “séniores”,

como lhes chamo.

Desde as atividades do núcleo, aos percursos

académicos mais originais e apaixonados

que conheci, às conversas mais encorajadoras

que tive com tantos daqueles com

quem me cruzei e de quem me sinto honrado

de chamar “amiga” ou “amigo”.

Tenho de ressaltar que fiz tudo isto

sem praxe, ainda que num ano onde a praxe

não terá sido típica -, mas que, portanto, se

derem oportunidades às pessoas, forçarem

expor-se, e as procurarem, ficarão bem.

A palestra a que me referi inicialmente

faz, na verdade, parte da Conferência Internacional

de estudantes de Física, a ICPS, um

evento que costuma ser presencial e reúne

uma data de nacionalidades sob um programa

sempre muito bem pensado.

Dificilmente estaria a participar se não

fizesse parte da Physis - a Associação Portuguesa

de Estudantes de Física. Tem sido mesmo

giro trabalhar com eles, fazer parte dessa

família e aprender com eles. É porque esta última

fez parte do meu ano que a menciono,

mas de igual forma podia mencionar o programa

de voluntariado d’As Noites no Observatório

de Lisboa, o Viver Astronomia e a família,

também diversa, que representa - entre

outros grupos de pessoas, outras atividades...

Daí dizer que o meu mundo cresceu,

expandiu para além do que eu alguma vez

imaginara - e com ele, posso dizer que também

eu cresci muito.

Este pode não ter sido o melhor ano

para as minhas avaliações, mas foi definitivamente

muito importante, e, num raciocínio

semelhante, estou grato pelos erros que cometi

e com os quais terei de viver.

Francisco Baldé



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