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Resumo:<br />
QUEM RI CONSENTE?<br />
Amós Coêlho da Silva *<br />
Este artigo tem por objetivo pôr em evidência a particularidade humana<br />
de rir e de participar da sátira como literatura. O espírito satírico, que se<br />
apresenta igualmente aos poetas gregos, censura alguns vícios. O nome<br />
latino Satura era uma representação dramática, uma forma antiga dos<br />
cantos fesceninos, fazendo nascer em Roma o estilo satírico com dupla<br />
perspectiva: a sátira moderna de Horácio e a sátira menipeia.<br />
Palavras-chave: sátira; sátira menipeia; ironia; paródia; melancolia.<br />
Introdução<br />
É nosso interesse uma característica peculiar ao Homem: o riso e sua<br />
expressão literária através da sátira. Muitos poetas satíricos não serão mencionados,<br />
mas mereceriam, porque formam uma lista canônica e universal.<br />
Tal atributo humano mereceu uma personifi cação no panteão helênico,<br />
que é Momo, do grego Mômos, a divindade da sátira: uma antropomorfi zação<br />
do sarcasmo. É feminina em Hesíodo (Teogonia, v. 214), é fi lha de Nix, a<br />
Noite, e irmã das Hespérides; o termo Momo liga-se ao verbo ‘mokãn’ ou<br />
‘mokasthai’, “ridicularizar, chasquear, zombar, escarnecer” (BRANDÃO,<br />
1994, p. 228). Foi ela quem, frente às queixas da Mãe-Terra, exausta pela<br />
multiplicação incessante dos mortais, aconselhou Zeus – depois da concepção<br />
frustrada da Guerra de Tebas, cujo fi m seria diminuir a superpopulação<br />
devastadora da Mãe-Terra –, a engendrar a Guerra de Troia pelo nascimento<br />
* Professor doutor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Abrafi l/Cifefi l).<br />
42 PHOÎNIX, RIO DE JANEIRO, <strong>15</strong>-1: 42-57, 2009.