comunidades eclesiais de base no rio de janeiro - PUC-Rio
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Departamento <strong>de</strong> Teologia<br />
Aqui não tinha comercio, água, luz, calçamento e as casas eram inacabadas e muito pequenas.<br />
As coisas ficavam, <strong>no</strong> quintal, pois não cabiam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. No Pasmado, a casa era gran<strong>de</strong> tinha<br />
em cima e em baixo. O transporte aqui só tinha quatro lotações, que iam até Bangu. Era um<br />
<strong>de</strong>sespero, todos querendo chegar <strong>no</strong> horá<strong>rio</strong> ao trabalho, mas não havia condução.<br />
O emprego <strong>de</strong> meu marido era pertinho <strong>de</strong> casa. Não pegava condução. Agora ele é obrigado a<br />
vir em casa só <strong>no</strong>s finais <strong>de</strong> semana, pois ganha pouco.<br />
Houve gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo das autorida<strong>de</strong>s pelo povo. Não fomos consultados, fomos jogados<br />
como gado para um lugar sem o mínimo <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> vida.<br />
Muitas pessoas <strong>de</strong>ixaram seus empregos e muitas famílias foram <strong>de</strong>smanteladas pelo fato dos<br />
maridos terem que ficar lá embaixo, vindo só <strong>no</strong>s finais <strong>de</strong> semana”. (Srª. Rita)<br />
“Antes das remoções este lugar era completamente rural, havia vá<strong>rio</strong>s sítios com plantações<br />
<strong>de</strong> laranjas; on<strong>de</strong> muitas famílias tiravam seu sustento. Com as construções das casas habitacionais<br />
e a promessa do gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> fazer daqui um pólo industrial começaram a surgir pessoas que se<br />
diziam do<strong>no</strong>s das terras querendo <strong>de</strong>sapropriar as famílias que aqui plantavam e vivia há muito<br />
tempo para ven<strong>de</strong>rem os seus terre<strong>no</strong>s. Esta situação gerou muito conflito entre ambas as partes<br />
(posseiro e especulador)”. (Sr. Luís Severi<strong>no</strong>)<br />
Esse povo sabia que tudo estava errado mais não sabiam por on<strong>de</strong> começar para reverter<br />
aquela situação. Sentiam-se muitas vezes esquecidos por Deus, tal como o povo hebreu <strong>no</strong><br />
Egito.<br />
I. 3) O nascimento dos Círculos Bíblicos <strong>no</strong> Vicariato Oeste<br />
A Igreja Católica, na década <strong>de</strong> 60, vivia com entusiasmo e esperança esse sopro da<br />
re<strong>no</strong>vação trazida pelo Concílio Vatica<strong>no</strong> II (1962-1965). On<strong>de</strong> ela teria que voltar às fontes,<br />
perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los para ser fiel a Cristo. Algumas paróquias da<br />
periferia do Vicariato Oeste (1967-1968), inspiradas pelo Espírito Santo e com o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
re<strong>no</strong>vação proposto pelo Vatica<strong>no</strong> II, trouxeram para <strong>de</strong>ntro das suas realida<strong>de</strong>s este <strong>no</strong>vo<br />
jeito <strong>de</strong> ser Igreja.<br />
Assumindo com re<strong>no</strong>vado ardor e amor a missão <strong>de</strong> ser sal, fermento e luz um grupo <strong>de</strong><br />
padres 5 : Pe. Ni<strong>no</strong> Miraldi, Pe. Giacinto Micone, Pe. José Melchiori, Pe. Lúcio Zorzi, Pe. John<br />
Cribbin, Pe.Vicente Zambello, Pe. Fernando Sanches, Pe. Costanzo Bru<strong>no</strong> e Pe. Ma<strong>no</strong>el<br />
Maria Lozada, com o apoio <strong>de</strong> Dom Alberto Trevisan, sob a luz dos documentos do Concílio<br />
Vatica<strong>no</strong> II (Lumem Gentium, Gandiun et Spes, Dei Verbum e Sacrossantum Concíllium) e<br />
em comunhão com as Diretrizes e Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Pastoral da Diocese, <strong>de</strong>ram inicio a este <strong>no</strong>vo<br />
<strong>de</strong>safio. Juntos buscaram <strong>no</strong>vos caminhos pastorais, para ser uma Igreja mais fiel à práxis <strong>de</strong><br />
Cristo, ou seja, mais atenta aos problemas e sofrimentos do povo. Com este <strong>no</strong>vo jeito <strong>de</strong> ser<br />
Igreja, foram surgindo em algumas paróquias grupos que se reuniam nas casas (como nas<br />
primeiras <strong>comunida<strong>de</strong>s</strong> cristãs), comparando a realida<strong>de</strong> local, confrontando com a palavra <strong>de</strong><br />
Deus e juntos encontrando uma resposta concreta para inverter aquela situação. A Igreja agora<br />
se faz presente na vida daquele povo, orientando e articulando a caminhada.<br />
Os grupos em cada localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>no</strong>minavam-se com <strong>no</strong>mes diferentes. Na Paróquia<br />
Santa Clara, <strong>de</strong> Guaratiba “Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Base” (Pe. Giuseppe Melchiori e Pe. Lúcio<br />
Zorzi); na Paróquia Cristo Operá<strong>rio</strong> e Santo Cura D’Ars, <strong>de</strong> Vila Kennedy “Grupos do<br />
Evangelho” (Pe. Ni<strong>no</strong> Miraldi e Pe. Giacinto Miconi) e na Paróquia Nossa Senhora <strong>de</strong><br />
Guadalupe, em Guadalupe “Círculos Bíblicos” (Pe. Ma<strong>no</strong>el Maria Lozada).<br />
5<br />
Cf. figura 3. Fotografia extraída <strong>de</strong> uma pequena bibliografia, escrito pelo Pe. Lúcio Zorzi, em ocasião da<br />
morte <strong>de</strong> Pe. José Belchiori, em 28/11/94.