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FUNDAMENTOS<br />

HISTÓRICO-FILOSÓFICOS<br />

DA EDUCAÇÃO<br />

1


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

SOMESB<br />

Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.<br />

Presidente ♦<br />

Vice-Presidente ♦<br />

Superintendente Administrativo e<br />

Financeiro ♦<br />

Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦<br />

FTC - EaD<br />

Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância<br />

Diretor Geral ♦<br />

Diretor Acadêmico ♦<br />

Diretor de Tecnologia ♦<br />

Diretor Administrativo e Financeiro ♦<br />

Gerente Acadêmico ♦<br />

Gerente de Ensino ♦<br />

Gerente de Suporte Tecnológico ♦<br />

Coord. de Softwares e Sistemas ♦<br />

Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦<br />

Coord. de Produção de Material Didático ♦<br />

Gervásio Meneses de Oliveira<br />

William Oliveira<br />

Samuel Soares<br />

Germano Tabacof<br />

Pedro Daltro Gusmão da Silva<br />

Waldeck Ornelas<br />

Roberto Frederico Merhy<br />

Reinaldo de Oliveira Borba<br />

André Portnoi<br />

Ronaldo Costa<br />

Jane Freire<br />

Jean Carlo Nerone<br />

Romulo Augusto Merhy<br />

Osmane Chaves<br />

João Jacomel<br />

EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:<br />

♦PRODUÇÃO ACADÊMICA♦<br />

Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Autor ♦ Jorge Bispo<br />

Supervisão ♦ Ana Paula Amorim<br />

♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦<br />

Designer ♦ João Jacomel<br />

Revisão Final ♦ Idalina Neta<br />

Estagiários ♦ Delmara Brito, Francisco França Júnior, Israel Dantas e<br />

Lucas do Vale<br />

Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource<br />

copyright © FTC EaD<br />

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/<strong>02</strong>/98.<br />

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,<br />

da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância.<br />

www.ftc.br/ead<br />

2


UMA VISÃO CRÍTICA DA EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE A<br />

CONTEMPORANEIDADE<br />

ÍNDICE<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

07<br />

A EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE E DA IDADE MÉDIA:<br />

EM BUSCA DA ESSÊNCIA DO HOMEM<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

07<br />

A Tradição Grega<br />

Ideal Formativo e organização da educação grega<br />

Principais Educadores Gregos<br />

A Tradição Romana<br />

Ideal formativo e organização da educação romana<br />

Os Principais Educadores Romanos<br />

A Tradição Medieval<br />

Queda do Império Romano e as Bases do Cristianismo<br />

Ideal formativo e organização da Educação Medieval<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

07<br />

07<br />

09<br />

13<br />

13<br />

15<br />

18<br />

18<br />

18<br />

A EDUCAÇÃO DO MUNDO RENASCENTISTA À CONTEMPORANEIDADE:<br />

EM BUSCA DO RACIONALISMO<br />

O Humanismo Cristão no Processo Educativo<br />

A Educação Protestante de Martinho Lutero<br />

A Educação Jesuítica<br />

O Renascimento e A Educação Moderna<br />

O Surgimento da Escola Moderna<br />

Principais Educadores da Modernidade<br />

O Iluminismo e o Processo Educativo<br />

A Organização Educacional<br />

Principais Educadores do Iluminismo<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

21<br />

21<br />

21<br />

22<br />

24<br />

24<br />

25<br />

27<br />

27<br />

27<br />

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA<br />

○<br />

○<br />

31<br />

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

31<br />

O que é Filosofia<br />

Entendendo A Origem e o Conceito<br />

O Papel do Filósofo e o Ato de Filosofar<br />

As Formas de Abordar O Mundo<br />

O que é Educação<br />

Filosofia da Educação<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

31<br />

31<br />

35<br />

36<br />

38<br />

42<br />

3


A FORMAÇÃO CRÍTICA E A NECESSIDADE DE UMA<br />

POSTURA ÉTICA DO EDUCADOR<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

45<br />

Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

Educação e Ideologia: A Luta Pelo Poder<br />

O Conhecimento<br />

A Necessidade de Uma Nova Ética Na Educação<br />

Atividade Orientada<br />

Glossário<br />

Referências Bibliográficas<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

45<br />

47<br />

49<br />

53<br />

55<br />

57<br />

4


Apresentação da disciplina<br />

Caro(a) Aluno(a),<br />

Estamos dando início aos nossos estudos de Fundamentos<br />

Histórico e Filosóficos da Educação que tem como objetivo geral analisar<br />

a Educação enquanto um objeto crítico e reflexivo. Enfocaremos<br />

historicamente seus aspectos sociais e políticos, da Antigüidade ocidental<br />

até e contemporaneidade em suas relações com o Estado, sociedade e<br />

cultura, bem como o estudo do desenvolvimento do processo educacional:<br />

práticas educativas, principais teóricos e a organização do ensino no<br />

contexto das sociedades. Abordaremos também as principais interfaces<br />

da filosofia com a educação e seus principais teóricos, bem como os<br />

pressupostos filosóficos para a construção do conhecimento.<br />

Essa disciplina possui 72 horas e encontra-se dividida em dois<br />

grandes blocos temáticos, sendo que cada bloco será trabalhado em quatro<br />

semanas.<br />

O primeiro bloco temático intitula-se “uma Visão Crítica da<br />

Educação da Antigüidade à Contemporaneidade” e será desenvolvido a<br />

partir dos temas “A Educação da Antigüidade e da Idade Média: em Busca<br />

da Essência do Homem” e “A Educação do Mundo Renascentista à<br />

Contemporaneidade: em Busca do Racionalismo”<br />

No segundo Bloco Temático, que recebe o nome de “Filosofia e<br />

Educação: Em Busca da Consciência”, estudaremos mais dois temas:<br />

“Filosofia e Educação” e “A Formação Crítica e a Necessidade de Uma<br />

Postura Ética do Educador”.<br />

Todo o material didático dessa disciplina foi estruturado para<br />

potencializar sua aprendizagem, por isso leia, atentamente, todos os textos<br />

e realize todas as atividades propostas, a fim de tirar um excelente proveito<br />

desse módulo disciplinar.<br />

A vida sempre nos oferece desafios, e a transposição das barreiras<br />

é a única forma de atingirmos o sucesso. Assim, por maior que sejam as<br />

dificuldades. Não desistam nunca dos seus objetivos.<br />

Desejamos discernimento, iniciativa e realização!!!<br />

Prof. Jorge Bispo<br />

5


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

6


UMA VISÃO CRÍTICA DA<br />

EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE A<br />

CONTEMPORANEIDADE<br />

A EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE E DA IDADE<br />

MÉDIA: EM BUSCA DA ESSÊNCIA DO HOMEM<br />

A Tradição Grega<br />

No mundo ocidental, a Grécia é<br />

um país que se destaca pela sua<br />

importância cultural, pois é da cultura<br />

grega que se origina, em grande parte,<br />

nossa pedagogia e nossa educação.<br />

Resumindo em um esquema geral,<br />

essas seriam as principais<br />

características da cultura grega:<br />

Ideal Forma<br />

ormativ<br />

tivo e organização da educação grega<br />

valorização do Homem;<br />

exaltação da inteligência crítica;<br />

valorização do trabalho intelectual;<br />

valorização do ideal de cidadão;<br />

defesa de uma educação integral (física, intelectual, ética e estética);<br />

valorização da competição na sociedade.<br />

Na Grécia existiram diversas formas de educação, abaixo, conversaremos sobre<br />

os principais períodos educativos.<br />

EDUCAÇÃO HERÓICA<br />

A educação grega heróica tinha como principal meta formar<br />

futuros guerreiros e heróis, baseando-se nos conceito de honra,<br />

valor, sacrifício e bravura, tudo isso resumia a mentalidade<br />

grega, existia o ideal máximo chamado de areté. Além disso,<br />

estimulava-se a competição entre os alunos, enfatizando<br />

ideais como superioridade. Caracterizavam assim o espírito<br />

de emulação (desejo de se sobressair entre os demais,<br />

de ser sempre o melhor). As obras literárias fundamentais<br />

para compreender a educação desse período são Ilíada e<br />

Odisséia, de Homero.<br />

Os jovens eram educados com bastante rigor,<br />

dedicavam-se aos exercícios com armas e do corpo. (arco<br />

e flecha, educação física, jogos cavalheirescos), ao mesmo<br />

tempo, estudavam artes musicais (lira e canto), oratória e<br />

por fim estudavam boas maneiras.<br />

7


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

A educação feminina limitava-se ao aprendizado das artes domésticas.<br />

Essa educação não ocorria ainda em escolas ou instituições formais de ensino,<br />

o espaço reservado para tais atividades eram as áreas livres dos palacetes<br />

pertencentes à elite econômica.<br />

Para refletir...<br />

Até aqui vimos que o ideal de formação na Grécia era<br />

voltado para a virtude, você acha que a educação da<br />

atualidade poderia adotar ainda parte desse ideal?<br />

O Pensador<br />

Rodin (1840-1917)<br />

EDUCAÇÃO ESPAR<br />

ARTAN<br />

ANA<br />

Esparta, localizada na península do Peloponeso, foi uma das<br />

cidades-estado que mais se destacaram na Grécia Antiga.<br />

Caracterizava-se por ser extremamente militarizada. A educação<br />

tinha caráter totalitário e não perdia de vista os interesses do<br />

Estado, o qual exigia do cidadão sacrifício e obediência acima de<br />

tudo, isso se refletia, em termos pedagógicos, na severidade, cultivo<br />

ao amor à Pátria e na dureza. A educação espartana também era<br />

esportiva e artística (eles praticavam dança e música), sendo<br />

que o maior destaque recaía sobre os exercícios militares que<br />

não excluía as mulheres. O processo educativo ainda não se<br />

dava em escolas formais, mas sim em grandes<br />

acampamentos.<br />

EDUCAÇÃO ATENIENSE<br />

Vimos que Esparta se deteve no governo e na educação<br />

autoritária. Atenas, ao contrário, alcançou a vida política<br />

democrática (sobretudo no século VII a.C.). Vale<br />

lembrar que tal democracia era restrita a uma<br />

pequena elite econômica, contemplando apenas<br />

os homens. Surge aqui a vida urbana da Pólis.<br />

O espírito da educação ateniense pode<br />

ser resumido na idéia de kalokaghatia<br />

(educação moral e estética reunidas)<br />

aliada aos valores cívicos e ao espírito<br />

democrático. A educação era mais social<br />

(ficava a cargo de particulares) que estatal.<br />

O processo educativo externo iniciava-se aos sete anos e compreendia duas etapas:<br />

física e musical/poética. As mesmas eram ministradas nos campos (escolas particulares)<br />

e nos ginásios (escolas estatais). Aos dezoito anos, os jovens ingressavam numa espécie<br />

de serviço militar, onde aprendiam artes bélicas. Depois disso, os homens podiam<br />

prosseguir nos estudos mais elevados, nas academias de cultura superior, nas quais<br />

estudavam Retórica Filosofia e Ciência.<br />

8


EDUCAÇÃO HELENÍSTICA<br />

Imaginem se no mundo atual, o Brasil fosse conquistado por uma grande potência<br />

mundial (EUA ou França, por exemplo) com certeza a nossa cultura sofreria mudanças.<br />

Isso foi o que aconteceu com a Grécia no período helenístico.<br />

Alexandre Magno (Rei da Macedônia), dominou a Grécia no século IV a.C e, a<br />

partir daí a cultura grega se universalizou, ampliou-se e tornou-se multicultural. Nessa<br />

época a paidéia transformou-se em enciclopédia.<br />

A educação passou a valorizar o aspecto intelectual ao invés dos aspectos físicos<br />

e estéticos. A leitura, o cálculo e a escrita experimentaram grande desenvolvimento, mas<br />

o método era de memorização.<br />

Se a memorização ainda era valorizada, a disciplina era bastante rigorosa e os<br />

castigos corporais eram considerados como algo natural. A escola dos grammátikos foi<br />

a que mais cresceu, nela estudava-se: literatura clássica, poesia e história. No ensino<br />

superior (Universidade de Atenas e no Museu de Alexandria), as<br />

matérias de ensino dividiam-se em:<br />

humanistas (gramática, retórica e filosofia ou dialética);<br />

e realistas (aritmética, música, geometria e astronomia).<br />

O ensino privado ainda existia, mas possuía uma dimensão bastante restrita, os<br />

pedagogos passam a ser mais bem remunerados e ganham um certo prestígio social.<br />

Principais Educadores Gregos<br />

SÓCRATES (469-399 a.C.)<br />

Filósofo nascido em Atenas, considerado o maior<br />

representante da pedagogia do Ocidente. Como educador<br />

pretendeu despertar e estimular a busca pessoal da verdade,<br />

ou seja, despertar o conhecimento de si próprio.<br />

Sócrates acreditava que o autoconhecimento era o início do<br />

caminho para se atingir o verdadeiro saber, convidava seus<br />

discípulos para um mergulho em si mesmo, em suas aulas, os<br />

alunos não recebiam os conteúdos prontos de maneira passiva,<br />

pelo contrário, buscava que o aluno construísse os mesmos.<br />

Esse grande pensador grego foi acusado de desrespeitar<br />

os deuses e de corromper a juventude. Foi condenado à morte e,<br />

apesar da possibilidade de fugir da prisão, preferiu seguir fiel à sua missão e escolheu<br />

morrer.<br />

Não deixou nada escrito. O que herdamos foi o testemunho de seus<br />

contemporâneos, especialmente do seu mais importante discípulo, Platão.<br />

9


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

Para refletir...<br />

O que você acha do ideal socrático de<br />

estimular o aluno a produzir o seu próprio<br />

conhecimento?<br />

PLATÃO (427-347 a.C.)<br />

Principal discípulo de Sócrates foi um Importante filósofo<br />

de Atenas, nascido em uma família rica, esteve em contato<br />

com as personalidades mais importantes de sua época.<br />

Entre as várias obras que deixou, destacam-se:<br />

República, Alegoria da caverna, Sofista e Leis. Através delas,<br />

estudou a tarefa central de toda educação; “elevar o espírito”<br />

e fazer com que as pessoas saiam do mundo “aparente”,<br />

fazendo elas olharem para a luz do “verdadeiro ser”. Segundo<br />

Platão, somente com o cumprimento desta tarefa existiria<br />

educação, única coisa que o homem pode levar para a<br />

eternidade. Para se alcançar este objetivo ele dizia ser<br />

necessário “converter” a alma. Assim a educação seria a<br />

“arte da conversão”.<br />

Para refletir...<br />

Atualmente, você consideraria um “mundo de<br />

ilusões” aquilo que a televisão divulga, através de<br />

alguns comerciais, novelas e outros programas?<br />

ARISTÓTELES (384-322 a.C)<br />

Um dos maiores filósofos da história de toda a<br />

Antigüidade. Nascido na Macedônia, estudou na Academia<br />

de Atenas, onde permaneceu estudando e ensinando por<br />

mais de vinte anos. Aristóteles, ao contrário do seu mestre<br />

(Platão), não era idealista, pregava de maneira mais racional<br />

e dizia que as idéias estão nas coisas, como sua própria<br />

essência. Era também realista em sua concepção educacional,<br />

afirmando que três fatores principais determinariam o<br />

desenvolvimento espiritual do homem: disposição inata, hábito<br />

e ensino. Com isso, mostrava-se favorável à medidas<br />

educacionais “condicionantes.” Acreditava que o homem podia<br />

tornar-se a criatura mais nobre, assim como podia tornar-se também<br />

o pior de todos os seres. Outra tese sua é de que aprendemos fazendo<br />

e de que nos tornamos mais justos agindo justamente.<br />

10


Abaixo acompanhe um quadro resumo sobre os principais educadores gregos<br />

EDUCADOR PRESSUPOSTO MÉTODO<br />

SÓCRATES<br />

PLATÃO<br />

ARISTÓTELES<br />

Autoconhecimento do<br />

educando.<br />

Elevação do “espírito” do<br />

educando.<br />

Hábitos virtuosos e<br />

orientação racional para<br />

os alunos.<br />

Diálogo crítico, dividido em duas<br />

etapas: ironia e maiêutica.<br />

Dialético a partir de etapas precisas<br />

para o processo educacional.<br />

Lógico, partindo da percepção do<br />

objeto, memorização do percebido<br />

e inter-relação entre os mesmos.<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. Faça um comentário sobre o lema socrático conhece-te a ti mesmo, procurando<br />

relacioná-lo com a educação atual:<br />

2.<br />

Descreva em linhas gerais o método de ensino de Sócrates. Você acha que nos<br />

dias atuais ele ainda seria válido? Justifique a sua resposta.<br />

11


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

3.<br />

A Alegoria da Caverna traz representações importantes para um<br />

educador. Pensando como tal, responda as proposições que se encontram<br />

logo após o texto.<br />

MITO DA CAVERN<br />

VERNA<br />

Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea.<br />

Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de<br />

sorte que tudo o que vêem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e<br />

por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que<br />

se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas<br />

figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa<br />

que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas<br />

estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que vêem são a única coisa<br />

que existe.<br />

Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela<br />

prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na<br />

parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. O que você<br />

acha que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda<br />

do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a<br />

precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca sua<br />

visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sai da caverna,<br />

terá mais dificuldade ainda para enxergar devido a abundância de luz. Mas depois de esfregar<br />

os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos:<br />

verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passavam de<br />

imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os<br />

animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos<br />

animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver<br />

as sombras refletidas na parede.<br />

Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza,<br />

desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda<br />

continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar.<br />

Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam<br />

de tremulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam<br />

para a parede da caverna e dizem que aquilo que vêem é tudo o que existe. Por fim,<br />

acabam matando-o.<br />

Extraído do livro Mundo de Sofia de Jostein Gaarder. Cia da Letras, 2000, p.104/105.<br />

a. De acordo com Platão, qual seria tarefa central da educação?<br />

12


. O que seria a luz exterior do sol?<br />

c. Explique o que Platão pensava sobre a democracia.<br />

A Tradição Romana<br />

Nasce uma nova forma de educar: a educação prática dos romanos<br />

Ideal forma<br />

ormativ<br />

tivo o e organização da educação romana<br />

Você já ouviu falar da Itália? Pois é, Roma<br />

ocupava a área que atualmente é conhecida como<br />

Itália e muitas outras regiões da Europa. A Civilização<br />

Romana tem início em dois mil a.C, quando a porção<br />

central da península itálica foi povoada por diversos<br />

povos: entre eles destacamos italiotas, gregos, latinos<br />

e etruscos.<br />

E os romanos faziam o que para se<br />

sustentar? Diversas coisas, falaremos aqui sobre as<br />

principais. Na economia destacava-se o pastoreio e<br />

as atividades comerciais. A principal fonte de riqueza<br />

eram os impostos cobrados das colônias (países<br />

dominados pelos romanos). E como as pessoas viviam<br />

em Roma? A sociedade era patriarcal (os pais tinham<br />

poderes absolutos) e, era dividida em classes: de um<br />

lado a nobreza por nascimento, chamados de<br />

patrícios que eram geralmente proprietários das terras e do outro, os plebeus, maioria absoluta<br />

da população, estes se subdividiam em dois grandes seguimentos: os homens livres<br />

(camponeses, artesãos e comerciantes) e os escravos. Sendo que dentre os plebeus<br />

sobressaía-se um grupo específico, os clientes, protegidos das famílias patrícias que prestavam<br />

serviços às mesmas. Agora que a gente já conhece a economia e a sociedade romanas,<br />

vamos ver, em linhas gerais, as principais características culturais desta civilização:<br />

valorização da vontade e da ação humanas;<br />

cultivo dos ideais de domínio e de espírito prático;<br />

afirmação da importância da família;<br />

defesa de uma educação realista e estatal, amor pelas normas jurídicas.<br />

13


EDUCAÇÃO HERÓICO-PATRÍCIA<br />

A educação heróico-patrícia ocorreu nos primeiros anos da<br />

Fundamentos República e era voltada para as pessoas mais ricas, ou seja, aos<br />

Histórico- patrícios. Este tipo de educação almejava divulgar os valores da<br />

Filosóficos nobreza de sangue. A família era a instituição mais respeitada e<br />

da Educação dava plenos poderes ao pai.<br />

Depois dos sete anos as meninas continuavam no lar<br />

aprendendo serviços domésticos e os meninos passam a ser educados pelo<br />

pai que enfatizam a consciência histórica e o patriotismo.<br />

Os meninos acompanhavam os pais às sessões dos tribunais, do<br />

senado e às festas. Além disso, eles aprendiam a cuidar da terra, fortalecendo<br />

os músculos ao trabalharem com a pá e o arado.<br />

Essa educação estava mais preocupada com a formação jurídicomoral<br />

e física. Era uma pedagogia da ação, para a vida cotidiana, tomando<br />

como base o amor a pátria e a conscientização histórica.<br />

EDUCAÇÃO DE INFLUÊNCIA GREGA<br />

A República iniciou-se no século VI a.C., representando os interesses dos patrícios<br />

(únicos a terem acesso aos cargos políticos). Mais ou menos no século V a.C. uma parcela<br />

dos plebeus enriqueceu e passou a lutar por direitos políticos através da criação do Tribunato<br />

da Plebe e da Lei das Doze Tábuas.<br />

Foi no período republicano que Roma experimentou sua política expansionista,<br />

ocupando diversas regiões, esse fato ocasionou grande desenvolvimento do comércio romano.<br />

Em meados do século III a.C. a educação romana experimentou profundas mudanças. A<br />

educação ficou mais complexa, as escolas cresceram em número e em qualidade. O<br />

ensino tanto podia ser ministrado tanto em grego como em latim e dividia-se em três graus<br />

de ensino: elementar, médio e superior.<br />

A escola elementar ou ludi magister, recebia alunos de 7 anos, seu programa de<br />

estudos era: leitura, escrita, cálculo e o estudo de algumas canções. A disciplina era muito<br />

rigorosa e os castigos físicos uma constante. Já a escola secundária ou grammaticus começava<br />

aos 12 e prosseguia até os 16 anos. Aí estudava-se gramática latina, literatura, geografia,<br />

aritmética, geometria e astronomia. O ensino superior desenvolveu-se no decorrer do século<br />

I a.C, os estudantes dessas escolas eram da elite econômica e estudavam política, direito e<br />

filosofia. A educação física era muito valorizada, sendo que a ênfase recaía nas artes marciais,<br />

com o intuito de preparar os soldados.<br />

Vejamos na tabela abaixo uma síntese da educação desse período:<br />

GRAU DE ENSINO CARACTERÍSTICAS DISCIPLINAS<br />

Elementar ou ludi<br />

magister<br />

recebia alunos a partir dos 7 anos;<br />

disciplina muito rigorosa, castigos<br />

físicos constantes.<br />

leitura, escrita, cálculo,<br />

canções.<br />

Médio ou<br />

grammaticus<br />

Superior<br />

começava aos 12 anos, disciplina um<br />

pouco menos rígida.<br />

estudantes membros da elite<br />

econômica, ensino voltado para a<br />

erudição.<br />

gramática latina, literatura,<br />

geográfia, aritmética,<br />

geometria e astronomia.<br />

política, direito e filosofia.<br />

14


EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO<br />

Em 27 a.C. Otávio (Imperador Romano entre os anos 27 a.C. e 14 d.C.) recebe o<br />

título de Augusto (título honorífico) e implanta o Império, nessa época ocorreram várias<br />

melhorias (construção de templos, aquedutos, termas, estradas, edifícios públicos, portos<br />

e estradas). As artes são incentivadas e a literatura sofre clara influência dos gregos.<br />

O processo educativo desta época se distinguiu do anterior apenas pela maior<br />

organização e converteu-se numa educação pública, com a criação das escolas<br />

municipais no século I a.C. Vespasiano (Imperador Romano entre 69-74) libera os<br />

professores do ensino médio e superior do pagamento de impostos.<br />

Para refletir...<br />

Nesse tópico vimos que os romanos valorizavam<br />

muito à família, você acha que na educação atual, uma<br />

valorização semelhante traria alguma melhoria para o<br />

processo educacional?<br />

Principais Educadores Romanos<br />

Boa erudição para falar bem em público: o espírito dos educadores romanos.<br />

CÍCERO (106- 46 a.C.)<br />

Marco Túlio Cícero, Orador e político romano, nascido<br />

numa região próxima a Roma. Estudou literatura grega,<br />

literatura latina e retórica com os melhores mestres da época,<br />

aprofundou-se no estudo das leis e nas doutrinas filosóficas.<br />

Valorizava a fundamentação teórica e filosófica do<br />

discurso, apaixonado defensor da educação integral,<br />

afirmava que o orador deveria ter erudição, conhecer a<br />

cultura geral, aprofundar-se na formação jurídica, na<br />

argumentação filosófica e, conhecer e desenvolver<br />

habilidades literárias e teatrais<br />

Seus textos não se ocupam apenas da filosofia, mas<br />

também de temas sociais.<br />

Não só pela extensão, mas pela originalidade e<br />

variedade de sua obra, Cícero é considerado o maior<br />

dos escritores romanos e o que mais influenciou os<br />

oradores modernos. Além de ser o maior orador do seu tempo,<br />

foi também, o mestre das letras mais completo de toda a<br />

Antigüidade ocidental.<br />

15


QUINTILIANO (35-96)<br />

Marco Fábio Quintiliano nasceu na Espanha.<br />

Fundamentos Estudou retórica com os maiores mestres de seu<br />

Histórico- tempo e lecionou em Roma durante vinte anos. É<br />

Filosóficos considerado um dos pedagogos mais brilhantes do<br />

da Educação<br />

mundo antigo.<br />

Sua mais significativa obra foi De<br />

institutione oratória (escrita no ano de 95), publicada em 12<br />

volumes, nessa obra, o autor apresentou diretrizes para a<br />

formação cultural dos romanos, desde a infância até a maturidade.<br />

Defendia muito a necessidade de dominar os aspectos técnicos<br />

da educação, sobretudo a formação do orador.<br />

Dizia que o ideal educacional da eloqüência (falar com o<br />

público de maneira convincente) associada à sabedoria, seria a fórmula perfeita para<br />

educar uma pessoa.<br />

Valorizava também a psicologia como instrumento para se conhecer a<br />

individualidade do aluno. Pelo que pudemos ver até então, Quintiliano, não se prendia<br />

apenas às discussões teóricas, pelo contrário, defendia o uso de técnicas de diversas<br />

ciências para a melhoria da educação.<br />

Por falar em melhoria educacional, um aspecto que não se pode esquecer é que<br />

ele também defendia o lúdico no processo ensino-aprendizagem, dizendo que<br />

intercalando recreação com as atividades didáticas, o ensino seria mais<br />

prazeroso.<br />

Achava o estudo em grupo fundamental para<br />

o favorecimento da emulação (busca pelos melhores<br />

postos na escola e na sociedade) e no estímulo<br />

intelectual dos alunos. Incluiu na sua pedagogia<br />

exercícios físicos moderados. Por outro lado não<br />

esqueceu da formação intelectual vigorosa, pois<br />

para ele, o estudo da gramática devia estimular<br />

nos alunos uma escrita clara e elegante.<br />

O trabalho de Quintiliano atravessou as<br />

barreiras do tempo e das fronteiras, fazendo com que sua obra<br />

retornasse com vigor na época do Renascimento em diversos países de língua latina.<br />

16


1.<br />

Leia a citação abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

“<br />

Há, pois em Roma, uma ciência do direito, seu conhecimento<br />

é um precioso bem, ao qual aspiram muitos jovens romanos: abre<br />

uma promissora carreira; mas ainda que a eloqüência, o direito<br />

aparece como uma panacéia, o meio de distiguir-se e ascender.<br />

Surgem naturalmente, para atender a esse desejo, o mestre de direito<br />

(magister iuris) e o ensino do direito.<br />

”<br />

(J. Marrou apud ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 69)<br />

a. Levando-se em conta que a citação é da época Imperial romana, por que podemos afirmar<br />

que o direito era uma carreira promissora?<br />

b. Explique a originalidade do ensino do direito para a cultura romana.<br />

2.<br />

Compare a pedagogia de Quintiliano com a de Cícero, em seguida escreva sobre o<br />

tipo de homem que cada um desses educadores tinham em mente.<br />

17


A Tradição Medieval<br />

Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

O poder cultural da Igreja Católica se estabelece no mundo<br />

ocidental e vai marcar profundamente a vida das pessoas.<br />

Queda do Império Romano e<br />

as Bases do Cristianismo<br />

No século V, o Império Romano do Ocidente caiu diante dos povos bárbaros.<br />

Estava fundada assim uma “nova ordem” na vida social européia: a Idade Média. Esse<br />

fato vai modificar completamente a base educacional até então existente.<br />

Em meio à destruição do Império Romano, a Igreja Católica<br />

conseguiu manter-se como instituição social. Solidificou sua<br />

organização e espalhou o cristianismo, preservando ainda, muitos<br />

elementos da cultura greco-romana.<br />

Foi dessa maneira que a Igreja passou a<br />

desempenhar um papel muito importante. Os<br />

únicos letrados da época eram os monges.<br />

Vale ressaltar que nem os nobres nem os<br />

servos sabiam ler. E o que é que isso tem a<br />

ver com a educação? É justamente disso que<br />

falaremos abaixo.<br />

Ora, se a Igreja ficou sendo a única<br />

instituição organizada depois da queda do Império Romano, ela passou a dar as cartas no<br />

jogo do Poder e , acreditando que Saber é Poder, a mesma controlou a Educação, os<br />

princípios morais e jurídicos da sociedade medieval.<br />

O conhecimento passou a ser extremamente valorizado, assim nas bibliotecas<br />

dos mosteiros era executado um trabalho cauteloso e paciente dos monges copistas.<br />

Quem eram esses monges copistas? Tradutores experientes que passavam para o latim<br />

(idioma dos romanos, adotado pela Igreja) textos selecionados da literatura e da filosofia<br />

grega. Você deve estar a se perguntar: que mal há nisso? Em se traduzir textos a partir<br />

de um trabalho meticuloso? Ora o que acontecia era que esses conhecimentos não<br />

eram partilhados com o grande público. Deste modo, havia um controle rigoroso, com<br />

relação às leituras permitidas ou proibidas, com a finalidade de preservar o poderio da<br />

Igreja.<br />

Ideal forma<br />

ormativ<br />

tivo e organização<br />

da Educação Medieval<br />

A partir do século VIII, os Feudos se espalharam pela Europa, houve um<br />

enfraquecimento acentuado do comércio, provocando atraso econômico. Esse cenário<br />

dificultou o aprendizado das pessoas, e mesmo na Igreja muitos padres se descuidaram<br />

da formação intelectual. Por outro lado, o Estado (enfraquecido) ainda iria precisar do<br />

Clero culto para a execução e organização dos trabalhos administrativos.<br />

As escolas medievais não possuíam o formato das escolas que conhecemos hoje,<br />

as aulas podiam ser ministradas ao ar livre e a maioria esmagadora delas era ligada á<br />

Igreja Católica (escolas monacais e catedralícias). E o que se ensinava nessas escolas?<br />

O conteúdo do ensino era o estudo clássico, isto é, as “artes do homem livre”, bem<br />

diferente das “artes mecânicas do homem servil”. Essas artes eram baseadas em algumas<br />

18


disciplinas, que vinham desde os tempos dos sofistas gregos. Na Idade Média elas<br />

constituíram o trivium e o quadrivium.<br />

O trivium (gramática, retórica e dialética), corresponderia atualmente ao ensino<br />

médio era mais comum e de caráter mais popular, encontrava-se abaixo do quadrivium<br />

(geometria, aritmética, astronomia e música) que seria uma categoria superior de ensino.<br />

Assim o conteúdo de ensino passou a ser chamado de “as sete arte liberais e dividiamse<br />

em o trivium e o quadrivium, que estão brevemente resumidos na tabela abaixo:<br />

TRIVIUM<br />

Estudo de gramática, retórica e<br />

dialética corresponderia atualmente ao<br />

ensino médio era mais comum e de<br />

caráter mais popular, menos complexo<br />

que o quadrivium.<br />

QUADRIVIUM<br />

Estudo de geometria, aritmética,<br />

astronomia e música, era considerada como<br />

uma categoria superior de ensino.<br />

Geralmente só a elite econômica tinha<br />

acesso ao mesmo.<br />

Apesar de fortemente ligadas ao catolicismo, as escolas monacais e catedralícias,<br />

de início, educavam os burgueses, mas em seguida estes procuraram uma educação<br />

que atendesse aos objetivos da vida prática. Alterações importantes no<br />

sistema educacional só vão ocorrer por volta do século XI, com o<br />

fortalecimento do comércio, isso resulta em algumas coisas<br />

importantes para a educação. Uma delas foi o surgimento das<br />

escolas seculares. Com efeito, o desenvolvimento do comércio<br />

faz brotar novamente a necessidade de se aprender a ler,<br />

escrever e calcular. Nessas escolas burguesas, acontece<br />

uma forte contestação à Igreja, pois as mesmas se opunham<br />

ao ensino puramente religioso. Na verdade essas escolas<br />

queriam uma proposta ativa, que atendesse aos interesses<br />

da classe burguesa.<br />

A educação medieval vai sofrer mudança<br />

novamente por volta do século XII, pois a sociedade vai<br />

ficando cada vez mais complexa. Assim houve ampliação<br />

dos estudos (filosofia, teologia, leis e medicina);<br />

surgimento de mestres especializados; exigência de<br />

provas para a aquisição dos títulos de bacharel,<br />

licenciado e doutor e por fim o surgimento das<br />

universidades.<br />

Por outro lado, na época medieval a maior parte<br />

das mulheres não tinham acesso à educação<br />

formal. Apesar de trabalharem arduamente ao lado<br />

do marido, continuariam analfabetas. As meninas<br />

nobres aprendiam alguma coisa em seu próprio castelo,<br />

ocasião em que recebiam aulas de artes domésticas. Quando surgiram as escolas<br />

seculares, as meninas burguesas, começaram a ter acesso à educação. Porém nos<br />

mosteiros (alunas internas) e nos educandários (alunas externas) as meninas aprendem a<br />

ler, escrever, fazer artes da miniatura executar cópia de manuscritos (raramente).<br />

Já que somos educadores ou futuros educadores, é bom nos perguntar quem eram<br />

esses mestres medievais? Os pedagogos – no sentido exato da palavra – não aparecem<br />

na época medieval. As questões pedagógicas eram objeto de reflexão de qualquer pessoa<br />

que se dedicasse à interpretação dos textos sagrados, na preservação dos princípios<br />

19


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

religiosos, no combate à heresia e na conversão dos infiéis. A principal<br />

função da educação era a salvação da alma e a vida eterna.<br />

Por conseguinte, no final do período medieval, com a ampliação do<br />

comércio e por influência da burguesia, começam a haver transformações<br />

que irá determinar os novos rumos da ciência, da literatura, da educação.<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. Faça um comentário sobre os valores educacionais cultivados durante a Idade Média<br />

e sua validade ou não para o mundo atual:<br />

2.<br />

Qual era a importância do conhecimento e como se deu a gestão do mesmo por<br />

parte da Igreja Católica no período Medieval?<br />

MAIS ALGUMAS QUESTÕES PARA VOCÊ PENSAR:<br />

Questão I:<br />

Leia a citação abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

A educação do homem medieval ocorreu de acordo com os<br />

grandes acontecimentos da época, entre eles a pregação apostólica<br />

do século I depois de Cristo [...] surge um novo tipo histórico de<br />

educação, uma nova visão de mundo e de vida. As culturas<br />

precedentes , fundadas no heroísmo, no aristocratismo e na<br />

existência terrena foram substituídas pelo poder de Cristo, critério<br />

de vida e verdade [...]<br />

GADOTTI, 20<strong>02</strong>, pp. 51-52<br />

“<br />

”<br />

20


1.<br />

Proposições sobre a citação :<br />

Você saberia citar mais alguns dos grandes acontecimentos que o autor se<br />

refere na linha dois do texto?<br />

2.<br />

A partir das informações do texto e nos estudos desenvolvidos no tema 1 deste<br />

primeiro bloco temático, faça uma comparação entre a educação greco-romana e a<br />

medieval assinalando suas mudanças e permanências:<br />

A EDUCAÇÃO DO MUNDO RENASCENTISTA À<br />

CONTEMPORANEIDADE: EM BUSCA DO RACIONALISMO<br />

O Humanismo Cristão No Processo Educativo<br />

A retomada dos valores greco-romanos acontece<br />

no período entre os séculos XV e XVI e é denominado<br />

de Renascimento, que provoca um movimento<br />

conhecido como humanismo. Por conseguinte, nas<br />

primeiras décadas do século XVI, o movimento de<br />

Reforma Religiosa, detona com toda a sua força, dando<br />

lugar a profundas mudanças político-religiosas.<br />

O Nascimento de Vênus<br />

BOTTICELLI, Têmpera sobre tela (1485)<br />

A EDUCAÇÃO PROTESTANTE DE MARTINHO LUTERO (1483-1546)<br />

Alemão da região da Saxônia se tornou mestre em Filosofia, Mais<br />

tarde, ingressou no convento dos agostinianos, onde em 1507 ordenouse<br />

sacerdote e posteriormente doutorou-se em teologia.<br />

O movimento de Reforma Religiosa, inicia-se na Alemanha<br />

durante o século XVI e foi liderado por Martinho Lutero. Esse<br />

movimento se estendeu não só pelo território alemão, mas por boa<br />

parte da Europa central e do norte.<br />

21


A educação encontrou local privilegiado na Reforma por ser utilizada<br />

como um importante mecanismo para a divulgação da nova religião<br />

protestante. Tanto é que um dos primeiros pressupostos da Reforma é oferecer<br />

Fundamentos iguais condições para todos os homens lerem e<br />

Histórico- interpretarem a Bíblia.<br />

Filosóficos No entanto, a primeira conseqüência desse<br />

da Educação movimento na área educacional, foi a fundação da<br />

educação pública moderna, medida que visava<br />

reagir contra o poderio da educação católica, já que esta última<br />

se dedicava às escolas confessionais pagas. Vejamos a seguir<br />

as principais propostas da Reforma Protestante para o campo<br />

educacional:<br />

aspirava a implantação da escola primária para todos, para camponeses e artesãos;<br />

defendia a educação pública e universal, sugerindo ainda que as autoridades de<br />

cada cidade assumissem tal tarefa;<br />

condenava a aplicação de castigos físicos e crítica a erudição e a ênfase na<br />

retórica da Escolástica;<br />

propunha uma educação mais moderna e pragmática, incluindo no currículo:<br />

exercícios físicos, jogos e canto.<br />

A reação dos católicos foi imediata que propuseram a criação de ordens religiosas.<br />

Assim a Ordem dos jesuítas viria a exercer grande influência não só na concepção da escola<br />

tradicional européia como também na constituição do homem brasileiro.<br />

A EDUCAÇÃO JESUÍTICA<br />

A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loyola (1491-1556)<br />

em 1534. Foi a mais poderosa organização da Igreja<br />

católica durante muitos séculos e ainda na atualidade<br />

ocupa posição de destaque no Vaticano. As principais<br />

mudanças propostas durante a Contra-Reforma<br />

estão listadas abaixo:<br />

Concilio de Trento (1545-1564);<br />

Fundação da Companhia de Jesus<br />

(1534);<br />

Restabelecimento do Tribunal da<br />

Inquisição (1538).<br />

Na educação, exerceu grande influência, pois substituiu a ação de outras instituições<br />

católicas que entraram em decadência por conta da Reforma Protestante, a exemplo<br />

das escolas monásticas e catedralícias. De certa forma foram os colégios e as<br />

universidades dos jesuítas que, nesta época, vão ser os mecanismos mais importantes<br />

para conter a saída de fiéis do catolicismo.<br />

A educação dos jesuítas é regida pelo Ratio Studiorum. Como era a organização<br />

dos jesuítas no campo educacional? Para começar existia uma forte hierarquia nos<br />

22


colégios: cada estabelecimento era um dirigido por um Reitor, auxiliado por um Prefeito de<br />

estudos, que era quem de dirigia a instituição e fiscalizava os professores. Geralmente, os<br />

colégios dividiam-se em duas alas:<br />

1<br />

2<br />

estudos inferiores;<br />

estudos superiores (de caráter teológico e diplomava em nível universitário).<br />

E o que os alunos estudavam? A base estava nos clássicos. Os Estudos assim<br />

estavam divididos:<br />

Inferiores: latim e grego, gramática e matemática;<br />

Superiores: teologia, filosofia e retórica.<br />

Essa pedagogia vai reinar no Brasil Colônia por mais de 300 anos. O método de ensino<br />

consistia no seguimento de alguns passos: preleção, explicação, repetição e composição.<br />

A escola jesuítica enfatizava a, memorização e dava especial importância à<br />

retórica e à redação, assim como à leitura dos clássicos e às artes cênicas. Entre os<br />

alunos a emulação e os castigos físicos eram constantes, castigava-se ou premiava-se<br />

de acordo com a disciplina e o rendimento escolar, o professor era considerado o detentor<br />

de todo o saber e o transmissor absoluto dos conteúdos, cabendo aos alunos obedecêlo<br />

em todas as circunstâncias.<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. Compare a proposta educacional de Lutero com a da Companhia de Jesus,<br />

destacando as semelhanças e as diferenças entre as mesmas.<br />

2.<br />

Explique porque durante os séculos XVI e XVII a religião influenciou de maneira efetiva<br />

os rumos da educação, inclusive o Brasil.<br />

23


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

O Renascimento e a Educação Moderna<br />

Uma nova visão de mundo se estabelece: a educação do sujeito<br />

racional.<br />

O Surgimento da escola moderna<br />

A partir do Renascimento, o espírito religioso medieval começou a cair,<br />

seu prestígio diminuiu, a Igreja perdeu o sua função de explicar o mundo dos<br />

homens. Assim o próprio homem procurava<br />

explicar a realidade que o cercava. Imagine que você<br />

durante muitos anos vivesse preso em uma sala fechada, e<br />

agora tivesse a oportunidade de viver em um campo aberto;<br />

provavelmente a sensação seria muito boa e as<br />

possibilidades de experimentar coisas emocionantes<br />

também. Essa analogia serve para explicar como o<br />

homem renascentista se sentia na área conhecimento;<br />

agora eles tinham um campo aberto para correr, investigar<br />

e chegar as suas conclusões, sem o medo imposto pelos<br />

dogmas religiosos.<br />

Essa nova maneira de encarar a doutrina religiosa<br />

auxiliou a evolução das ciências humanas. O homem, desenvolvendo o pensar crítico,<br />

substitui uma visão direcionada pela possibilidade da indagação.<br />

Esse procedimento representa a tendência ao antropocentrismo isto é, o resgate<br />

da dimensão humana sob todos os aspectos. Um deles é entender o sujeito do<br />

conhecimento, questão predominante na Idade Moderna. René Descartes, Francis Bacon,<br />

John Locke, David Hume, dentre outros, são filósofos que discutem a teoria do<br />

conhecimento e ocupam-se com o problema do método, isto é, com os procedimentos<br />

da razão na investigação de uma determinada realidade.<br />

Através da ciência moderna, foram se constituindo, então, uma nova teoria da<br />

mente, uma nova visão do saber e uma nova imagem do mundo que imprimiriam no<br />

mundo uma mudança radical no âmbito da educação. Hoje em dia é bastante comum<br />

nos perguntarmos qual o método utilizado por tal professor? Sua didática é boa? Isso<br />

começou a se construir na idade moderna, ou seja a ação científica e pedagógica passou<br />

a contar com opções diferenciadas do modelo tradicional. Passaram então, os pedagogos<br />

a se interessarem, cada vez mais, pelo método e realismo em educação.<br />

Apesar disso, maioria das instituições educativas ainda permaneciam<br />

tradicionais,embora assumissem uma nova feição. Vejamos algumas de suas principais<br />

características:<br />

ênfase na formação moral;<br />

renovação do pensamento educativo;<br />

novos métodos de teorização;<br />

uso de línguas modernas;<br />

revalorização da educação física.<br />

Essa pedagogia moderna contrariava a educação Antiga/Medieval, excessivamente<br />

formal, retórica e conteudista. Ela Preferia usar o rigor das ciências naturais (física, biologia,<br />

etc.) a permanecer na tendência literária e estética própria do humanismo renascentista.<br />

A pedagogia moderna começa a exigir uma didática, que possa partir da compreensão<br />

das coisas. Os educadores leigos e religiosos se empenham na organização da escola.<br />

A escola moderna propunha o seguinte: descobrir uma forma de ensinar mais<br />

acelerada e mais segura.<br />

24


Principais Educadores da Modernidade<br />

João Amós Comênio (1592-1670)<br />

Nascido na Moravia, vai propor um sistema articulado de<br />

ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens ao<br />

saber. O maior educador e pedagogo do século XVII produz<br />

uma obra fecunda e sistemática, cujo principal livro é Didática<br />

magna. Principais propostas de Comênio:<br />

*<br />

*<br />

educação realista e permanente;<br />

método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga;<br />

ensinamento a partir de experiências cotidianas;<br />

conhecimento de todas as ciências e de todas as artes;<br />

ensino unificado.<br />

Segundo ele, seriam assim distribuídas.<br />

Para ele o processo educativo teria as seguintes fases: Escola Materna cultivaria<br />

os sentidos e ensinaria a criança a falar; a Escola Elementar desenvolveria a língua<br />

materna, a leitura e a escrita, incentivando a imaginação e memória, além do canto, das<br />

ciências sociais e da aritmética. A Escola latina se destinaria, sobretudo ao estudo das<br />

ciências. Para os Estudos Universitários recomendava trabalhos práticos e viagens. Aí<br />

se formariam os guias espirituais e os funcionários. À Academia só deveriam ter acesso<br />

os mais capazes.<br />

Assim, Comênio deseja ensinar “tudo a todos”. Atingir o ideal de uma educação<br />

ideal.<br />

John Locke (1632-1704)<br />

Inglês que criticava em sua teoria pedagógica o racionalismo<br />

de Descartes, desenvolve uma concepção da mente infantil e da<br />

educação.<br />

Locke valorizava:<br />

a educação física;<br />

o estudo da contabilidade e escrituração comercial;<br />

as línguas modernas e o cálculo.<br />

*<br />

Para ele a finalidade da educação se concentrava no caráter, muito mais<br />

importante que a formação intelectual. Enfim, propõe o tríplice desenvolvimento físico,<br />

moral e intelectual. Segundo Locke, devia-se evitar a escola, onde a criança pudesse<br />

ser bem acompanhada ou vigiada.<br />

Ao contrário de Comênio, Locke não defendia a universalização da educação,<br />

sua pedagogia era elitista, pois a formação dos que irão governar e daqueles que<br />

serão governados devia ser distinta.<br />

Com efeito, no século XVII, o empenho é imenso na tentativa de institucionalizar<br />

a escola. Efetivamente, o direito do ensino ainda pertence à Companhia de Jesus, que<br />

adentra o século XVIII com mais de 600 colégios distribuídos pelo mundo. Mesmo<br />

sendo organizados e competentes, os jesuítas representam o ensino tradicional mais<br />

conservador.<br />

25


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

Entretanto surgem outras congregações religiosas, desenvolvendo<br />

um trabalho mais apropriado ao espírito moderno. Podemos citar os<br />

oratorianos, e os jansenistas, que se opõem aos jesuítas.<br />

Por conseguinte as academias do século XVI, não são escolas<br />

institucionalizadas, mas se propõe a atender aos interesses da nobreza na<br />

formação cavalheiresca de seus filhos. Há uma intensificação dessas<br />

academias, no século XVII, pois elas representam a mudança dos padrões<br />

conservadores no ensino, para uma concepção mais realista.<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.“Ensinar tudo a todos”, esse era um dos lemas de Comênio, explique em que medida<br />

a proposta dele se mostrava inovadora para a época.<br />

2.<br />

2.”Um professor deve amar seu aluno”<br />

LOCKE, J. O autocontrole é um elemento vital na educação. In: GADOTTI, 20<strong>02</strong>, p. 86.<br />

a. Faça um comentário sobre a afirmação de Locke.<br />

b. Na sua opinião este pensamento é ainda válido?<br />

26


O Iluminismo e o processo educativo<br />

E surgem as luzes do conhecimento ocidental, será que realmente iluminava-se a<br />

vida das pessoas de maneira igual?<br />

A Organização Educacional<br />

Apesar dos progressos evidentes que discutimos no conteúdo anterior com relação<br />

ao processo educativo, é bom salientar que os mesmos ainda são limitados, pois não<br />

existia ainda um plano global ou mesmo uma teoria educacional que realmente merecesse<br />

ser chamada de avançada.<br />

Os movimentos de reforma educacional eram isolados e dependiam<br />

de grupos de voluntários ou mesmo de pessoas que aspiravam objetivos<br />

bem limitados e sem perspectivas mais abrangentes. Por conseguinte,<br />

na segunda metade do século XVIII, muitos desses esforços não oficiais<br />

(que não erma do Governo) entraram em decadência.<br />

E quem eram as pessoas que tinham acesso a esse sistema de<br />

ensino? Infelizmente “as luzes” não conseguiam mudar ainda a realidade<br />

dos mais pobres, assim o sistema educacional estava fundamentado<br />

numa estrutura rígida de classes sociais, ou seja os mais ricos é que<br />

estudavam mais, tanto em qualidade como em quantidade.<br />

Mas as rápidas transformações intelectuais, econômicas, sociais<br />

e políticas no Ocidente solicitavam novas perspectivas no processo<br />

educativo e o movimento Iluminista nesse sentido ajudou na reação da<br />

sociedade contra o autoritarismo religioso e político e, em menor escala,<br />

contra as diferenças sociais. No núcleo desse movimento encontra-se<br />

uma fé inabalável na ciência, na razão humana e no próprio homem.<br />

Assim sendo, no final do século XVIII, a educação começa a dar sinais de um<br />

direcionamento para a cidadania, mas era bastante evidente ainda as diferenças de classe<br />

nessa educação: a classe dirigente receberia instrução para governar e a classe trabalhadora<br />

seria educada o bastante para trabalhar, em outras palavras o sistema educacional ainda<br />

não era democrático. Essa escola em nível de infra-estrutura já começava a se parecer<br />

com as escolas que conhecemos na atualidade: vão estar divididas em classes de pessoas<br />

mais ou menos da mesma faixa etária, vai dispor as carteiras dos alunos em filas, vai<br />

contar com prédios próprios para a prática pedagógica, as aulas vão ser ministradas por<br />

profissional qualificado e vai estar submetida a um sistema nacional de ensino público.<br />

Para refletir...<br />

Na sua opinião por que o movimento conhecido<br />

como Iluminismo foi importante para a educação?<br />

Principais educadores do Iluminismo<br />

A Pedagogia de Rousseau (1712-1778)<br />

O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, nasceu em Genebra, na<br />

Suíça. Suas principais obras são: Discurso sobre a origem da desigualdade<br />

entre os homens, Do contrato social, e Emílio ou Da educação (1762).<br />

27


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

“O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Comumente se<br />

costuma dizer que Rousseau foi um revolucionário na pedagogia, já que delineou<br />

um método liberal de educação com a finalidade de desenvolver a criança sem<br />

destruir seu estado “natural”. O núcleo central dos interesses pedagógicos passa<br />

a ser a criança e não mais o professor.<br />

Também, ressalta a especificidade da criança, que não deve ser<br />

encarada como um adulto em miniatura.<br />

Principais propostas da pedagogia de Rousseau:<br />

homem ser educado para si mesmo e não mais para Deus ou para a vida<br />

social;<br />

educação afastada do artificialismo das convenções sociais, espontânea original;<br />

recusa o intelectualismo;<br />

valoriza os sentidos, as emoções, os instintos e os sentimentos;<br />

valoriza a experiência, o ensino ativo voltado para a vida, para a ação;<br />

teme a educação que põe a criança em contato com os vícios e a hipocrisia.<br />

A pedagogia de Rousseau, incentiva o controle no mundo físico e nas relações<br />

com as pessoas. Alguns teóricos acham que a educação de Rousseau é elitista, pois ele<br />

defende que a criança seja acompanhada por um preceptor, procedimento próprio dos<br />

ricos. Outros o acusam de estar defendendo uma educação individualista ao separar o<br />

aluno da sociedade: estaria.<br />

A Pedagogia de Kant<br />

Immanuel Kant (1724-1804), maior representante do<br />

Iluminismo alemão, realizou em suas obras a análise das<br />

possibilidades do conhecimento da razão humana situando<br />

os limites e as condições nas quais a razão pode conhecer o<br />

mundo.<br />

Kant dá à educação grande importância podemos<br />

verificar isso nas obras mais clássicas, a Crítica da razão<br />

pura, na qual desenvolve a crítica do conhecimento, e<br />

a Crítica da razão prática, que faz o exame da<br />

moralidade. O problema do conhecimento humano é uma das mais importantes questões<br />

levantadas por Kant.<br />

Ele retoma o debate entre os racionalistas e os empiristas. Condena os empiristas,<br />

segundo os quais tudo o que conhecemos vem dos sentidos, e discorda dos racionalistas,<br />

para os quais tudo o que pensamos vem de nós. Segundo ele, o conhecimento é uma<br />

súmula dos conteúdos particulares dados pela experiência e da estrutura da razão. O<br />

conhecimento acontece na relação sujeito e objeto.<br />

Em suas investigações defende:<br />

a não probabilidade de conhecermos realidades que não passam pelo<br />

conhecimento sensível;<br />

não ser possível dizer nada sobre a alma humana e sobre Deus, pois eles<br />

superam a nossa capacidade de entendimento;<br />

ser impossível provar a existência de Deus.<br />

28


Kant fundamentou a moral na autonomia da razão humana, isto é, na idéia de que<br />

as normas morais devem brotar da razão humana.<br />

Portanto, cabe a educação, ao desenvolver a faculdade da razão, constituir o<br />

caráter moral.<br />

O principal problema do processo educativo consiste em conciliar a submissão ao<br />

livre-arbítrio da criança. Para ele é nos primeiros anos da infância que a criança encontrase<br />

na fase pré-moral. Assim sendo, não há necessidade de inculcar-lhe a moral.<br />

Contudo, na medida em que a criança começa a crescer, o processo de formação<br />

deve tornar-se mais formal e incluir:<br />

a paciência,<br />

a disciplina e<br />

o cultivo das dimensões cognitivas e morais.<br />

É o progresso sistemático desse desenvolvimento controlado da criança em<br />

processo de maturação que Kant procura se dedicar. A disciplina deve inculcar-se a<br />

partir dos cinco ou seis anos de idade.<br />

O impacto de Kant sobre o processo educativo foi profundo, tanto que no século<br />

XX serão reexaminados por vários autores na área da moral e da educação, entre eles<br />

estão Piaget e Habermas.<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.Identifique as principais propostas de Kant para a educação.<br />

2.<br />

Faça um comentário sobre as seguintes afirmações:<br />

a. “Não se deve fornecer conhecimentos prontos ao aluno, mas ensiná-lo como adquiri-lo,<br />

quando necessário.”<br />

ROSSEAU<br />

29


. “O professor deve acrescentar gentileza em as suas aulas e, por meio de<br />

uma certa ternura em sua atitude, deixar perceber à criança que ela é amada”.<br />

Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

JONH LOCKE apud GADOTTI, 20<strong>02</strong>, p. 86<br />

3.<br />

Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

A ESCOLA E A DIVISÃO CAPITALISTA DO TRABALHO<br />

Tudo o que acontece dentro da escola - incluindo a escola primária – só pode ser explicado através<br />

do que ocorre fora dos muros escolares, isto é, pela divisão social do trabalho.<br />

A divisão capitalista do trabalho caracteriza-se hoje por uma crescente dissociação o trabalho<br />

manual e o trabalho intelectual. De um lado, há uma massa de trabalhadores manuais e empregados<br />

subalternos (operários, funcionários do comércio de escritórios, pessoal de serviços), condenados a realizar<br />

tarefas fragmentadas e rotineiras. De outro, uma minoria de quadros intelectuais, encarregados das tarefas<br />

de criação e planejamento.<br />

A escola capitalista contribui, por sua vez, para reproduzir e aprofundar essa polarização das<br />

qualificações. De fato, a escola alimenta os dois pólos do mercado de trabalho, através de dois fluxos bem<br />

distintos. Em uma extremidade, ela forma um pequeno número de quadros intelectuais nas melhores<br />

escolas secundárias, desembocando nas universidades. Na outra ponta, a escola orienta a formação de<br />

massas trabalhadoras mais ou menos qualificadas e condenadas a vender-se por um salário irrisório aos<br />

donos das grandes corporações industriais, das cadeias de lojas ou dos escritórios.<br />

Eis por que a escola não é única, mas dividida em duas redes de ensino: a rede primária/<br />

profissionalizante e a secundária/superior. Essas redes são estanques, heterogêneas, devido a seu programa<br />

de ensino diferenciado, assim como o estrato social de seus alunos.<br />

Visíveis com clareza a partir da escola secundária com sua preparação de fato, essas duas redes<br />

existem, no entanto, desde a escola primária. É justamente ali, em meio à obscuridade de uma escola<br />

aparentemente única e igual para todos, que a diferenciação se forma e deita raízes. De fato, é a escola<br />

primária que assegura, sob o manto da unidade e da democracia, o essencial da polarização social de uma<br />

geração escolar.<br />

Ora, tudo ocorre como se fosse absolutamente natural... Afinal, sabe-se que há enormes diferenças<br />

entre uma e outra escola; sabe-se ainda que os filhos de operários terão mais dificuldades que os outros<br />

alunos. Mas daí a admitir de forma exata e positiva que a escola primária é local onde se processa a<br />

polarização de classes e compreender as relações entre a escola e a exploração capitalista é dar um salto<br />

grande demais. Entre o curso preparatório e a linha de montagem, o caminho é longo...<br />

( ... ) A divisão capitalista do trabalho; a exploração dos trabalhadores; a extração da mais-valia; a<br />

desqualificação do trabalho; o vai-e-vem do desemprego; o exército industrial de reserva; a crescente<br />

dissociação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual: eis as verdadeiras causas que possibilitam<br />

explicar a estrutura e o funcionamento da escola capitalista. E é preciso procurar na organização capitalista,<br />

isto é fora da escola, as razões de sua divisão em duas redes de ensino, com a conseqüente polarização<br />

operada entre as crianças.<br />

30


No entanto, é esta a realidade e devemos encará-la de frente. A função real da escola não é em<br />

absoluto fazer desabrochar harmonicamente o indivíduo ou desenvolver aptidões pessoais; este é um<br />

sonho abstrato dos psicólogos. Ao contrário, o papel escola é produzir contingentes de mão-de-obra mais<br />

ou menos qualificada para o mercado de trabalho. É a estrutura do mercado de trabalho que pressiona a<br />

escola com toda a sua força, a ponto de imprimir sobre ela sua marca.<br />

BAUDELOT, Christian e ESTABLET, Roger. L’ecole primaire…un dossier. Apud<br />

GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. S. Paulo: Ática, 20<strong>02</strong>. p.197-198.<br />

4.<br />

Proposição acerca do texto<br />

a. Segundo Baudelot e Establet, qual seria o verdadeiro papel da escola numa<br />

sociedade?<br />

b. No texto existe uma posição clara do autor em relação ao papel que a escola vem<br />

desempenhando na nossa sociedade. Você concorda com a posição do autor? Argumente<br />

e justifique a sua resposta:<br />

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA<br />

CONSCIÊNCIA<br />

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO<br />

O que é Filosofia<br />

Entendendo a origem e o conceito<br />

Com certeza alguma vez em sua vida você já ouviu falar de um dos ramos do saber<br />

chamado Filosofia, não raramente, as pessoas têm uma péssima impressão sobre esta<br />

ciência, mas por que? No nosso entender existem basicamente dois fatores que explicam<br />

isso. No primeiro caso, os próprios especialistas da área, ou seja, os filósofos profissionais<br />

são os responsáveis por esta imagem negativa. Em primeiro lugar, porque muitos deles<br />

complicam as suas teorias a tal ponto que nós seres humanos “comuns”, não os entendemos<br />

ou não conseguimos ver sentido algum no que eles estão transmitindo com seus estudos.<br />

Isso ocorre por causa do emaranhado de conceitos e teorias complexas formuladas pelos<br />

mesmos, que exigem um alto grau de abstração para um entendimento satisfatório.<br />

31


Um outro fator que pode nos afastar da filosofia é a falsa idéia que<br />

Fundamentos outras pessoas (dessa vez os filósofos amadores) criaram em relação a este<br />

Histórico- ramo do saber: Trata-se de uma imagem muito simplista acerca da filosofia,<br />

Filosóficos veiculada amplamente por pessoas interessadas em fazer com que a<br />

da Educação sociedade não desenvolva o espírito reflexivo. Daí algumas considerações<br />

pejorativas aparecem com freqüência, tais como: “filosofia é qualquer tipo de<br />

teoria vazia que não presta para nada, apenas para complicar o que já era complicado”.<br />

Estas e outras questões pretendem ser respondidas ao longo do nosso curso. A seguir,<br />

tentaremos explicar e discutir os objetivos e a importância da Filosofia e você é nosso<br />

convidado.<br />

A Filosofia na verdade traduz o pensar, o sentir e o agir da vida humana na sua mais<br />

alta expressão (LUCKESI, 2000), ela não é de maneira nenhuma algo morto e, que não<br />

serve para nada e nem pura abstração vazia de sentido. A Filosofia surgiu na Grécia por<br />

volta do século VI a.C., a partir do trabalho dos filósofos que antecederam Sócrates. Isso<br />

assinalou a passagem da consciência mítica/religiosa para a consciência racional/ filosófica.<br />

Esse processo não ocorreu<br />

mecanicamente, nem de<br />

imediato o que exigiu dos seres<br />

humanos um amadurecimento<br />

intelectual. Esses dois tipos de<br />

consciência coexistiram na<br />

1<br />

Grécia, assim como,<br />

guardadas as devidas<br />

proporções, coexistem na<br />

nossa sociedade.<br />

Quando lemos um texto<br />

de filosofia, na verdade,<br />

estamos nos aproximando de<br />

2<br />

um entendimento que o autor<br />

construiu a partir da sua visão<br />

de mundo, esse trabalho foi<br />

construído a partir dos valores<br />

e aspirações que dão sentido<br />

3<br />

ao mundo.<br />

Nesse sentido pode-se<br />

afirmar que os filósofos,<br />

refletem também sobre o<br />

cotidiano dos seres humanos<br />

e podem organizar um quadro<br />

coerente e organizado para o<br />

entendimento da realidade que nos cerca.<br />

A filosofia clássica Antiga pode ser<br />

dividida em três grandes etapas:<br />

Período pré-socrático (sécs. VII e VI a.C.):<br />

os filósofos pré-socráticos discutem de forma<br />

racional sobre a natureza, distanciando-se das<br />

explicações míticas do período anterior. Dentre os<br />

pré-socráticos, podemos destacar dois: Heráclito<br />

e Parmênides.<br />

Período socrático ou clássico (sécs. V e<br />

IV a.C.): o núcleo cultural passa a ser Atenas; nesse<br />

período, destacam-se Sócrates, Platão, e<br />

Aristóteles; também, fazem parte os sofistas.<br />

Período pós-socrático (sécs. III e II a.C.):<br />

esse período é caracterizado pela expansão dos<br />

macedônios sobre os territórios gregos e formação<br />

do império de Alexandre Magno; após a morte do<br />

mesmo, começa a época helenista, marcada pela<br />

influência oriental.<br />

Na Idade Média (476 a 1453), as diversas abordagens da Filosofia continuaram<br />

metafísicas, ou seja entendia a educação como um processo de do aperfeiçoamento<br />

humano, no qual o indivíduo é estimulado a despertar as suas potencialidades. Assim<br />

acreditava-se em um “modelo” de Homem que a criança deveria alcançar, atualizando a<br />

essência que já existia em si, transformando-a em potência. Alguns filosófos se destacaram<br />

nesta época, destacaremos dois deles: São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.<br />

32


*<br />

Patrística<br />

A Patrística teve como principal figura Santo<br />

Agostinho (354-430), seu pensamento, reativa no cristianismo<br />

os princípios da clássica filosofia platônica mas<br />

salvaguardando as características originais da teologia e da<br />

moral cristã. A finalidade do processo educativo é constituída<br />

de conhecimento e fé.<br />

Ele aborda o processo educativo em três obras: Sobre<br />

o Educador (389), Sobre Aqueles que Ensinam<br />

ao Povo Simples (399) e Sobre a Doutrina<br />

Cristã. (397-426). A questão principal do<br />

processo educativo é o fato de o<br />

verdadeiro conhecimento ser inato,<br />

depositado na alma por Deus. Assim, é<br />

papel do mestre auxiliar o aluno, tornar<br />

revelada a verdade preexistente, latente,<br />

elevando-se acima do mundo material, que<br />

é simples aparência. O processo<br />

educativo implica em auxílio mútuo<br />

entre o mestre terrestre e o Deus.<br />

*<br />

Escolástica<br />

A Escolástica, estudo obrigatório dos teólogos. Nela a razão<br />

encontra-se a serviço da fé. Seu principal representante é Santo<br />

Tomás de Aquino (1225-1274), doutor da Escolástica que fez<br />

da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da fé cristã.<br />

Ela era lecionada nas escolas medievais. Os teólogos da<br />

Escolástica procuram amparar a fé na razão, com o fim de melhor<br />

justificar as crenças, converter a população que não<br />

era católica e ainda combater muçulmanos e<br />

judeus.<br />

Em sua vida Santo Tomás escreve<br />

uma obra importante para a educação: De<br />

Magistro, na qual ele afirma que a<br />

educação é vista como uma atividade<br />

potencializadora daquilo que já existe de<br />

maneira adormecida no aluno, esse<br />

processo se daria com o auxílio do<br />

mestre. Sem dúvida a filosofia<br />

medieval é fascinante, mas não<br />

podemos nos estender no assunto.<br />

33


Acompanhe abaixo um quadro comparativo entre a Escolástica e a<br />

Patrística:<br />

Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

Patrística<br />

Defesa dos dogmas<br />

católicos, luta no combate às<br />

heresias e na conversão dos<br />

considerados povos pagãos,<br />

filosofia dos padres.<br />

Escolástica<br />

Adaptação do pensamento<br />

aristotélico aos interesses da religião,<br />

tinha Jesus como o modelo de mestre<br />

e educador, o objetivo mais<br />

importante seria formar o homem na<br />

Fé, essa filosofia era usada nos<br />

colégios e universidades católicas<br />

(modelo tomista/aristotélico)<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. Explique as principais semelhanças e diferenças que existem entre as abordagens<br />

do real:<br />

2.<br />

Porque podemos afirmar que a filosofia é importante para a humanidade? Argumente<br />

e justifique a sua resposta:<br />

3.<br />

3.Descreva as principais diferenças entre a Patrística e a Escolástica:<br />

34


O Papel do Filósof<br />

ilósofo o e ato de Filosof<br />

ilosofar<br />

A principal tarefa do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela,<br />

descortinando seus significados mais profundos, ou seja descobrindo o que está por trás<br />

das aparências. Para o filósofo, refletir significa pensar de maneira organizada,<br />

sistemática e a partir de uma metodologia, o que já foi pensado. Nesse sentido, refletir,<br />

seria fazer o próprio pensamento retornar, para assim termos uma melhor compreensão,<br />

um maior entendimento de determinado assunto que se apresenta.<br />

A reflexão só é considerada uma atitude própria da Filosofia, quando é feita de<br />

forma radical, rigorosa e em conjunto. Assim, a filosofia é considerada radical porque<br />

investiga um problema até as suas raízes, ou seja quando investiga um problema não se<br />

preocupa apenas em entender somente o efeito,<br />

mas sim as causas, isto é as origens, a raiz que<br />

originaram aquele efeito. Daí conclui-se que a<br />

filosofia é radical enquanto explicita os fundamentos<br />

do pensar e do agir.<br />

Tendo em vista que a filosofia é um modo de<br />

pensar, um posicionamento frente as questões que o<br />

mundo nos apresenta, ela não pode ser considerada como<br />

um conjunto de saberes pronto e acabado, muito menos<br />

fechado em si mesmo. Desta forma o ato de filosofar<br />

começa por inventário dos valores (éticos, estéticos<br />

e morais) que dão rumo à nossa vida. Depois dessa<br />

primeira etapa é preciso criticar tais valores sob todos os ângulos, ou seja a sua base de<br />

sustentação, descobrir a sua essência. Na terceira etapa é necessário reconstruir os valores<br />

ou seja, construí-los criticamente para a orientação de nossas vidas em sociedade.<br />

Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

O filósofo<br />

Uma vez aceito o princípio de que todos os homens são “filósofos”, isto é, que entre os filósofos<br />

profissionais ou técnicos e os outros homens não há diferença qualitativa, mas apenas quantitativa (e<br />

neste caso quantidade tem um significado particular que não pode ser confundido com soma aritmética, já<br />

que indica maior ou menor homogeneidade. Coerência e logicidade, etc. [...]<br />

O filósofo profissional ou técnico não só pensa com maior rigor lógico, com maior coerência, com<br />

maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe<br />

explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do<br />

ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas de solução, etc. Tem, no<br />

campo do pensamento a mesma função que os especilistas nos diversos campos científicos.<br />

GRAMSCI Apud ARANHA 20<strong>02</strong>, p. 109<br />

35


a. De acordo com o texto qual é a diferença básica entre o filósofo<br />

profissional e o não profissional?<br />

Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

b. Descreva como pensa o filósofo profissional?<br />

As formas de abordar o mundo<br />

São várias as formas pelas quais o homem entra em relação com o mundo que o<br />

rodeia, a depender das circunstâncias e necessidades, bem como do tipo de cultura em<br />

que ele está inserido.<br />

O homem, ao longo de sua existência na Terra, tem procurado<br />

conhecer o mundo através de várias formas: a mais antiga é a que<br />

ficou conhecida como consciência mítica, predominantemente<br />

religiosa e ligada a rituais mágicos, buscando soluções para os<br />

problemas concretos da humanidade geralmente a partir de apelos<br />

à divindades.<br />

Com o rompimento das organizações tribais e a crescimento<br />

das formas de organização humana, surge uma outra abordagem<br />

conhecida como do senso comum, nela as pessoas passam a<br />

reelaborar a herança cultural recebida da<br />

comunidade. Mais ou menos a partir do<br />

século XVII a parece a abordagem<br />

científica que através de toda uma<br />

metodologia vai estabelecer leis e teorias científicas afim de<br />

delimitar os seus objetos de estudo. Existe também uma outra<br />

abordagem do real que é a concepção filosófica, na qual se<br />

busca compreender o mundo criticamente parti do<br />

pensamento lógico e racional.<br />

36


Vejamos a seguir um quadro resumo com estas abordagens do real :<br />

AS FORMAS DE ABORDAR O MUNDO REAL<br />

MÍTICA<br />

Saber baseado na magia, busca de Segurança via forças<br />

ocultas;<br />

Presença de rituais mágicos no cotidiano.<br />

SENSO COMUM<br />

Saber fragmentado, espontâneo; não crítico, impreciso,<br />

incoerente;<br />

De início procura compreender o mundo com base na<br />

tradição dos costumes, na experiência social;<br />

Posteriormente pode se articular com interesses políticos,<br />

econômicos e religiosos.<br />

CIENTÍFICA<br />

Saber bem elaborado, objetivo, usa a experimentação,<br />

investigação de causa e efeito; coerente e intencional;<br />

Baseia-se na lógica; busca a utilização de métodos racionais<br />

e o desenvolvimento de teorias;<br />

FILOSÓFICA<br />

Compreensão crítica do mundo;<br />

Busca esclarecimentos coerentes, racionais e lógicos;<br />

Reflete sobre as questões buscando superar as aparências.<br />

As abordagens descritas anteriormente foram o resultado da experiência cultural da<br />

Humanidade e que foi construída ao longo de muitos anos. Cabe ressaltar que uma forma<br />

de abordar o real não invalida a outra. Por exemplo, aquilo que pensamos e desejamos<br />

primeiro se formata na esfera da imaginação, ou seja, nos pressupostos míticos, dessa<br />

forma, o mito serve de alicerce para o trabalho posterior da esfera da razão Não se trata de<br />

aceitar o mito de forma mecânica, afinal podemos, aceita-los ou recusa-los. Quando entramos<br />

em contato com os mitos, podemos usar a reflexão para entendermos os valores, a “moral<br />

da história” que existe em cada um deles e que fundamenta o mesmo, para a partir daí<br />

construirmos um determinado juízo de valor.<br />

37


O que é Educação<br />

O homem é um ser histórico-social, ou seja que efetiva suas relações<br />

Fundamentos mediante práticas culturais complexas ocorridas em determinado tempoespaço.<br />

Sendo assim, nenhuma pessoa consegue se esquivar do processo<br />

Histórico-<br />

Filosóficos educativo. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de uma maneira ou de outra,<br />

da Educação<br />

todos nós envolvemos partes da vida com ela.<br />

O ser humano constrói o seu lastro cultural<br />

a partir do trabalho (através do qual transforma a natureza e a<br />

si mesmo) e dos aspectos culturais (danças,jogos, relações<br />

familiares, etc). O aperfeiçoamento de suas atividades só é<br />

possível através da educação. Assim sendo a mesma é um<br />

fator importantíssimo para a socialização e humanização<br />

dos Homens.<br />

A educação pode ser formal ou informal. Aquela<br />

que acontece no cotidiano, que é realizada através do<br />

aprendizado empírico das tarefas ou seja construída no<br />

dia-a-dia é considerada a educação informal. Essa<br />

categoria é construída, sobretudo, pela observação e<br />

convivência entre os membros de uma sociedade, sem um planejamento prévio, sem local<br />

ou mesma hora determinada. Já a educação formal acontece através de pessoas<br />

especializada, procura selecionar os elementos essenciais para a sua transmissão,<br />

geralmente acontece com planejamento prévio e em local e hora definidos.<br />

Assim, a educação dentro de uma sociedade se revela como um instrumento de<br />

manutenção ou transformação social e não como um fim em si mesma. Deste modo, ela<br />

precisa de pressupostos, de conceitos que possam fundamentar e orientar os seus<br />

caminhos. A sociedade da qual ela está inserida precisa possuir alguns valores que possam<br />

nortear a sua prática.<br />

Portanto, entende-se que a<br />

educação é o processo de<br />

desenvolvimento integral do homem,<br />

isto é, de sua capacidade física,<br />

intelectual e moral, que tem como fim<br />

não só a formação de habilidades,<br />

mas também do caráter e da<br />

personalidade social.<br />

No processo educativo<br />

formal, a transmissão de valores e<br />

conhecimentos se materializa<br />

através da pedagogia (diversos<br />

processos sistematizados de métodos<br />

e diretrizes educacionais). Existiram diversas<br />

pedagogias ao longo da História da Educação. As que mais se destacaram no Brasil foram<br />

três:<br />

a Tradicional: nascida no século XVI;<br />

a Renovada: implantada no início do século XX<br />

a Tecnicista: iniciada na década de 1960.<br />

38


Segue abaixo um quadro comparativo resumido dessas pedagogias.<br />

CARACTERÍSTICAS TRADICIONAL RENOVADA TECNICISTA<br />

CONCEITO DE<br />

EDUCAÇÃO<br />

Assimilação de<br />

conhecimentos.<br />

Construção conjunta<br />

dos conhecimentos.<br />

Direcionamento dos<br />

conhecimentos para a<br />

área industrial.<br />

RELAÇÃO<br />

EDUCADOR /<br />

EDUCANDO<br />

Vertical, o professor<br />

é o transmissor do<br />

conhecimento.<br />

Professor facilitador<br />

do conhecimento, o<br />

aluno é o centro do<br />

processo.<br />

O professor<br />

racionaliza o saber<br />

científico e o aluno<br />

recebe, aprende e fixa<br />

as informações.<br />

FINALIDADE<br />

PRIMORDIAL DA<br />

EDUCAÇÃO<br />

O aluno aprender o<br />

que foi transmitido.<br />

Desenvolvimento<br />

das potencialidades<br />

dos alunos.<br />

Apropriação do saber<br />

científico, exigido pela<br />

sociedade moderna.<br />

MÉTODOS DE<br />

ENSINO<br />

Aula expositiva<br />

centrada no<br />

professor, leitura<br />

repetida, exercícios<br />

de fixação e cópias.<br />

Pesquisa, uso de<br />

vídeo, atividades<br />

lúdicas, aulas<br />

expositivas<br />

participadas.<br />

Aula expositiva,<br />

exercícios práticos,<br />

uso de vídeos, slides,<br />

ensino à distância.<br />

FORMAS DE<br />

AVALIAÇÃO<br />

MAIS<br />

UTILIZADAS<br />

Exames escritos e<br />

arguições com<br />

caráter punitivo.<br />

Seminários, estudo<br />

dirigido,avaliação<br />

escrita,<br />

autoavaliação.<br />

Provas objetivas, minitestes.<br />

CARACTERES<br />

GERAIS DA<br />

ESCOLA<br />

Disciplinadora,<br />

autoritária, rígida,<br />

desprazerosa.<br />

Democrática,<br />

responsável,<br />

interativa e<br />

prazerosa.<br />

Disciplinadora,<br />

racionalista e<br />

ordenada.<br />

É bom que se diga que não queremos que você veja com preconceito nenhuma das<br />

três pedagogias aqui resumidas, criticar as pedagogias,<br />

requer um alto nível de ponderação, pois se a pedagogia<br />

Tradicional não estimula o senso crítico e a criatividade<br />

dos alunos, a Renovada estimula o individualismo no<br />

educando, já a Tecnicista propicia a alienação do Ser<br />

Humano, cabe-nos a reflexão para encontrar uma forma<br />

de atuar na prática.<br />

39


E qual seria a finalidade básica da<br />

educação?<br />

Fundamentos<br />

Histórico- Esta é uma pergunta complexa, pois a finalidade<br />

Filosóficos pode variar bastante ao longo do tempo e a depender da<br />

da Educação cultura e da sociedade na qual se dá o processo<br />

educativo. Isso é o que tem mostrado a História da<br />

Educação: por exemplo, na Grécia dos tempos heróicos, a finalidade<br />

era formar guerreiros, na Grécia da época das cidades-estado, almejavase<br />

formar cidadãos. Em Roma, os esforços se concentravam na formação<br />

de cidadãos com espírito prático e assim sucessivamente.<br />

E na atualidade<br />

tualidade, , qual seria a<br />

finalidade básica da educação?<br />

Bom, responder a esta pergunta é um exercício bastante interessante. Num mundo<br />

globalizado é extremante difícil ponderarmos a finalidade exata da educação, pois as<br />

realidades de cada sociedade são distintas.<br />

Assim os objetivos educacionais em um país desenvolvido pode ter pontos em comum<br />

com os de um país em desenvolvimento, mas certamente não serão iguais e daí por diante.<br />

Portanto os fins da educação baseiam-se em valores permanentes (ética, estética, moral,<br />

conhecimento, etc) e em valores provisórios (necessidades humanas concretas). Estes<br />

valores provisórios se alteram conforme vamos alcançando os objetivos imediatos, ou seja<br />

enquanto nossa realidade concreta vai se modificando e as etapas vão<br />

avançando.<br />

A educação é um processo que dura a vida toda, não tendo idade<br />

para se iniciar e nem terminar, ela não pode se limitar à mera<br />

continuidade da tradição, pois ela supõe a possibilidade de rupturas,<br />

pelas quais a cultura se renova e o homem se aperfeiçoa,<br />

construindo assim a sua história.<br />

Tornar a Educação verdadeiramente integral e portanto<br />

realmente formativa do Ser Humano é, antes de mais nada,<br />

oferecer a todos instrumentos de crítica e reflexão acerca<br />

da sociedade em que vivemos, afim de que possamos<br />

superar as contradições e assim tornar a mesma mais justa,<br />

menos excludente e portanto menos violenta.<br />

Não é a prática educacional quem estabelece os<br />

seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica que permeia a<br />

educação, dentro de uma dada sociedade. As relações<br />

entre educação e filosofia parecem ser quase “naturais”.<br />

Enquanto a primeira trabalha com o desenvolvimento<br />

do Ser Humano e sobretudo das novas gerações,<br />

a segunda é a reflexão sobre o que e como<br />

devem ser estes Seres Humanos e a própria<br />

sociedade.<br />

40


[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. Redija um pequeno texto acerca da importância da educação na vida do Ser Humano:<br />

2.<br />

Faça um comentário comparando as pedagogias renovada e tradicional:<br />

3.<br />

É papel da Filosofia da Educação investir no esclarecimento das relações entre a<br />

produção do conhecimento e o processo da educação. Você acha que a educação na<br />

atualidade tem cumprido essa missão?<br />

41


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

Filosofia da educação<br />

Imaginem a análise<br />

vigorosa e radical da filosofia<br />

aliada ao processo educacional,<br />

sem dúvida é melhoria na<br />

qualidade da educação,<br />

vejamos então como tentar<br />

fazer isso.<br />

Enquanto reflexão filosófica, a Filosofia da<br />

Educação tem como tarefa básica buscar o<br />

sentido mais profundo do próprio sujeito no<br />

processo educacional, ou seja de construir a imagem do Homem<br />

em seu papel de sujeito/educando, nesse sentido deve ser uma disciplina<br />

que busque integrar as várias contribuições das ciências humanas. A relação entre Educação<br />

e Filosofia é bastante espontânea. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento<br />

dos homens de uma sociedade, a filosofia faz uma reflexão sobre o que e como devem ser<br />

ou desenvolver estes homens e esta sociedade, isto é, uma reflexão sobre os problemas<br />

que a realidade educacional apresenta.<br />

A função maior da filosofia da educação é contribuir para que o Ser Humano adote<br />

uma postura reflexiva no que tange à problemática educacional. É assim que a Filosofia da<br />

Educação passa a desenvolver uma tríplice tarefa:<br />

Antropológica- se preocupa com a idéia de Homem que se pretende forjar a<br />

partir das contribuições das ciências humanas;<br />

Epistemológica- discutir sobre o processo de produção, sistematização e<br />

transmissão do conhecimento);<br />

Axiológica- estuda as questões relacionadas ao valor que os homens atribuem<br />

às coisas, a sua valoração.<br />

Vejamos abaixo um quadro resumo elucidativo dessas três tarefas da Filosofia:<br />

ÁREAS DA FILOSOFIA QUE TRATAM DA BUSCA DO<br />

SENTIDO DA EXISTÊNCIA HUMANA<br />

Epistemologia<br />

Axiologia<br />

Antropologia<br />

Estuda as questões relacionadas ao conhecimento do ponto de<br />

vista crítico<br />

Trata das questões relacionadas ao agir humano calcado em<br />

valores<br />

Trata das questões relacionadas à condição da existência humana<br />

É também papel fundamental da Filosofia da Educação procurar construir uma<br />

imagem do Homem que se pode educar. Essa imagem que a Filosofia deve construir do<br />

homem só será consistente se for baseada nas condições reais de existência, isto é em<br />

suas mediações históricas e sociais concretas.<br />

42


Na história da humanidade existiram três grandes Concepções de Homem que a<br />

orientação pedagógica pretendeu formar ao longo da história:<br />

AS CONCEPÇÕES DE HOMEM<br />

Essencialista<br />

Homem<br />

compreendido a partir<br />

de uma natureza<br />

imutável;<br />

A perfeição de cada<br />

ser dependeria da<br />

realização plena das<br />

potencialidades<br />

internas.<br />

Naturalista<br />

Homem entendido<br />

enquanto organismo<br />

vivo, regido pelas leis<br />

da natureza;<br />

Homem<br />

compreendido a partir<br />

do dualismo mente e<br />

corpo;<br />

A supremacia seria<br />

do corpo, organismo<br />

vivo regido por leis da<br />

natureza.<br />

Histórico-social<br />

Homem enquanto uma<br />

entidade natural e<br />

histórica;<br />

A natureza humana<br />

determinada pelas<br />

condições objetivas de<br />

sua existência;<br />

O ser humano seria<br />

resultado de um<br />

processo de vir-a-ser.<br />

Além das análises antropológica (concepções de homem), epistemológica<br />

(conhecimento) e axiológica (valores) no processo educativo; a filosofia da educação tem a<br />

função de mediar a questão da interdisciplinaridade, através da qual se estabelece um elo<br />

de ligação entre as diversas disciplinas, o que auxilia e muito o<br />

trabalho desenvolvido pela pedagogia. Assim espera-se que com o<br />

auxílio da filosofia, por exemplo, evite-se a supremacia dos “ismos”<br />

(capitalismo, psicologismo, etc.) ou seja de a educação ficar alienada<br />

e só enfocar determinada ciência na análise dos fenômenos<br />

pedagógicos. Por que isso é importante? Na nossa<br />

concepção todos os “ismos” se não forem devidamente<br />

analisados e ponderados, acabam por escravizar o<br />

pensamento humano, tornando o educador apenas um<br />

defensor ou um crítico feroz de determinada ciência, não<br />

fornecendo ao educando uma visão mais ampla da vida.<br />

O conhecimento, os valores e as relações humanas<br />

permeiam toda a existência humana, assim sendo a filosofia da educação ocupa lugar<br />

central para a prática pedagógica, pois é somente a partir do pensamento crítico-reflexivo<br />

que a educação se tornará mais eficaz, clara e coerente. A educação, quando imbuída dos<br />

ideais filosóficos não se ocupa em “formatar” os seres humanos de maneira homogênea,<br />

mais sim oferecer condições ideais para que o educando caminhe com as suas próprias<br />

pernas e encontre assim o seu próprio caminho que certamente não serão iguais, pois<br />

cada aluno tem o seu tempo, aspirações, valores e inteligências múltiplas. É justamente<br />

nesse ponto que reside a beleza da educação.<br />

43


Assim a filosofia da educação auxilia muito a<br />

pedagogia, mas não se deve confundir uma com a outra.<br />

Fundamentos Enquanto a pedagogia pode ser compreendida como<br />

Histórico- uma teoria geral da educação que se preocupa com<br />

Filosóficos a eficácia e a intencionalidade da práxis pedagógica;<br />

da Educação a filosofia acompanha reflexivamente os problemas<br />

ligados á educação, mediando a contribuição que as<br />

outras ciências podem fornecer para que o processo de ensino/<br />

aprendizagem se torne mais reflexivo e ao mesmo tempo mais<br />

objetivo. Em resumo a filosofia da educação busca a compreensão<br />

profunda de determinada realidade educacional de maneira vigorosa<br />

e integral.<br />

A reflexão sobre os problemas referentes à transmissão e construção do<br />

conhecimento é uma tarefa fundamental para a filosofia da educação.<br />

[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

Desafio aos educadores<br />

Um famoso filósofo alemão do século passado Frederico Nietzsch, tece uma crítica radical à civilização<br />

ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas o instinto da tartaruga. O que quer<br />

dizer isso? A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recollhe a cabeça para dentro da sua<br />

casca. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde, também na casca, os membros, tentando protegerse<br />

contra o desconhecido [...]<br />

Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticos da educação<br />

desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Temos educado os homens para aprenderem a se<br />

defender contra todas as ameaças externas, sendo apenas reativos [...]<br />

Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto da águia. A águia é o<br />

animal que voa acima das montanhas, que desenvolve os seus sentidos e habilidades, que aguça ouvidos,<br />

os olhos e competência para ultrapassar os perigos, alçando vôo acima deles. É capaz, também, de afiar<br />

as suas garras para atacar o inimigo no momento em que julgar mais oportuno [...]<br />

RODRIGUES apud SEVERINO, 1994 p. 24<br />

a. Com base no texto faça um comentário sobre que tipo de educação (métodos,<br />

pedagogia, objetivos, etc.) deve ser desenvolvida para formar “águias”:<br />

44


A FORMAÇÃO CRÍTICA E A NECESSIDADE DE UMA<br />

POSTURA ÉTICA DO EDUCADOR<br />

Educação e Ideologia: A Luta pelo Poder<br />

O mundo, entre outras coisas é constituído por valores<br />

materiais (bens de consumo, dinheiro, propriedades recursos<br />

naturais, etc.) e por valores imateriais ou simbólicos (conhecimento,<br />

educação, sentimentos, postura, etc.) A educação é constituída não só<br />

de prática técnica e política, mas também de prática simbolizadora, suas<br />

ferramentas são essencialmente símbolos, que desenvolve sua ação.<br />

Em função da subjetividade, o homem começa a produzir os bens<br />

culturais e a desfrutar deles. A atividade subjetiva acontece em função da<br />

capacidade que temos de representar simbolicamente os objetos de nossa<br />

experiência. A cultura, é o resultado do trabalho humano nas diversas esferas da nossa<br />

vida.<br />

A educação é uma prática cujos utensílios técnicos são especificamente simbólicos.<br />

Ela atua sobre o conjunto das demais mediações da existência, a partir dessa sua<br />

especificidade.<br />

Com efeito, a cultura é uma criação humana. Portanto, a educação é fundamental<br />

para a socialização do homem e sua humanização, é também um meio de distribuição de<br />

bens culturais, ou seja, ela torna possível a apropriação dos bens culturais já produzidos.<br />

Enquanto prática que lida com instrumentos simbólicos, a educação ainda atua nas<br />

dimensões individual e coletiva, correndo um duplo risco de se envolver nesse processo<br />

ideologizador. Assim, é pela educação, mesmo quando informal, que o indivíduo se apropria<br />

dos conteúdos culturais de seu grupo. Ela amplia seu trabalho empregando essencialmente<br />

esses conceitos e valores presentes na cultura em que se processa.<br />

Por outro lado, para manter sua ideologia, uma sociedade necessita reproduzi-la, e<br />

a educação é comumente considerada como uma das mais adequadas mediações para<br />

garantir essa reprodução. Ao lado da Religião, dos Partidos Políticos e das Forças<br />

Armadas, a Escola é um dos mais poderosos Aparelhos Ideológicos que se conhece,<br />

pois trabalha de maneira eficaz com a inculcação de valores e interesses de classe. Assim,<br />

fica evidente que as instituições educacionais constituem perfeitos aparelhos ideológicos<br />

para agirem em função do Estado.<br />

ELEMENTOS QUE CONSTITUEM O ESTADO<br />

ESSENCIAIS ACESSÓRIOS<br />

País- território fixo determinado<br />

População- povo<br />

Governo- poder- soberania<br />

Ordem- mínima essencial<br />

Pátria<br />

Nação<br />

Autoridade- legitimidade- eleições<br />

Reconhecimento – Constituição<br />

Fonte: LAGO, B. Curso de sociologia política. S. Paulo: Vozes, 1996<br />

45


A política, queiramos ou<br />

não, permeia a maior parte<br />

das atividades humanas, o<br />

Fundamentos tempo todo o homem mal<br />

Histórico- informado, que se diz<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

apolítico é facilmente<br />

manipulado e influenciado<br />

pelos donos do poder. Assim é<br />

hora de repensarmos a importância da mesma em<br />

nossas vidas. Desde que as sociedades humanas se tornaram mais complexas, o principal<br />

instrumento de disputa pelo poder deixou de ser a violência física e passou a ser a palavra,<br />

o discurso, a persuasão.<br />

A função principal da ideologia é camuflar, mascarar as contradições existentes<br />

nas sociedades, tais como as diferenças de classe, de raça e de gênero, apresentando a<br />

sociedade como algo harmônico e igualitário, pois a mesma é um conjunto de idéias,<br />

representações e de normas de conduta que induzem o homem a pensar de determinada<br />

maneira. Essa maneira de pensar geralmente é articulada pelas classes dominantes, ou<br />

seja, por quem está no poder.<br />

A ideologia facilita a coesão entre os homens e a aceitação apolítica de<br />

determinadas situações vantajosas para uns e de exploração para outros, estabelecendo<br />

a noção de que as coisas são como deveriam ser. A própria classe dominante sofre<br />

também a influência de sua própria ideologia na medida em que ele (o dominador) considera<br />

o seu papel de explorador como algo natural.<br />

O processo de alienação da consciência em relação à realidade objetiva, dá-se<br />

quando o Ser Humano elabora conteúdos explicativos e valorativos que julga válidos e<br />

verdadeiros com os quais pretende explicar e legitimar vários aspectos da vida cotidiana.<br />

Assim a própria consciência humana sai lesada e não se dá conta de que tais valores,<br />

idéais e conceitos tem um sentido que naquela situação está na contramão da objetividade<br />

real.<br />

Na escola, a ideologia desempenha um papel de destaque, para alguns cientistas<br />

sociais da corrente Crítico-reprodutivista, ela reproduz as desigualdades<br />

presentes na sociedade.<br />

Assim sendo a escola não é encarada como uma instituição<br />

realmente democrática, pois existiria uma escola para formar<br />

as elites econômicas (de qualidade, com estrutura<br />

pedagógica, profissionais bem pagos etc) e outra para<br />

formar as classes menos favorecidas (geralmente em<br />

condições inferiores). Na primeira a ideologia difundida seria<br />

a de como se tornar um membro da classe dominante e<br />

alcançar os mais altos postos na vida econômica e social.<br />

Mesmo sendo esta uma posição um tanto quanto extremada,<br />

há de se convir que existe muitos acertos nesta teoria.<br />

46


[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. “A função da ideologia é camuflar a divisão social entre as classes.” Você concorda<br />

com tal afirmação? Justifique a sua resposta:<br />

O conhecimento<br />

O que é conhecimento? Como podemos conhecer as coisas? Essas perguntas vêm<br />

perseguindo o homem há muitos anos, aliás há séculos. Dependendo da cultura, do momento<br />

histórico, do próprio saber acumulado, da estrutura socioeconômica, política e social, ou<br />

até mesmo em decorrência da evolução tecnológica, teremos as mais diversas respostas.<br />

Ao falarmos em conhecimento, estamos designando o ato de conhecer como uma<br />

relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o objeto conhecido. Portanto<br />

há dois elementos no ato de conhecer: o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser<br />

conhecido.<br />

Assim sendo o conhecimento pode ser considerado como a compreensão inteligível<br />

da realidade que o sujeito humano adquire através de sua confrontação com a realidade.<br />

Ele pode ser adquirido e construído em conversas, nos livros em jogos, etc. A raiz de todo<br />

conhecimento está na sua meta maior que é atingir o entendimento da verdade e não a<br />

simples e pura retenção de informações.<br />

Para sermos intelectualmente ativos, é necessário utilizarmos as informações<br />

adquiridas de maneira ativa para que assim entendamos o mundo exterior e o nosso interior<br />

(autoconhecimento). Vejamos a seguir as principais teorias do<br />

conhecimento constituídas no mundo moderno:<br />

A primeira dessas teorias foi o inatismo que teve como<br />

principal ícone teórico René Descartes (1596- 1650), que é<br />

considerado o pai da Filosofia Moderna, começou uma<br />

forma de reflexão que se opõe à tradição escolástica. Ao<br />

analisar o processo pelo qual a razão chega a verdade,<br />

Descartes utiliza o recurso da dúvida metódica. Para<br />

conhecermos a verdade, é necessário, em princípio,<br />

colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida,<br />

questionando tudo para criteriosamente analisarmos se<br />

existe algo na realidade de que possamos total certeza.<br />

Descartes insere uma ampla mudança no<br />

“Penso, logo existo”<br />

(Cogito, ergo sum)<br />

pensamento moderno, segundo a qual o sujeito tem a função<br />

ordenadora do conhecimento: O pensamento,<br />

47


sistematicamente dirigido, encontra inicialmente em si os critérios que<br />

permitirão estabelecer algo como verdadeiro.<br />

Por conseguinte, a ciência na era moderna, deixa de ser um saber<br />

Fundamentos contemplativo e passa a se afirmar como sinônimo de verdade e progresso.<br />

Histórico- Segundo o mesmo as idéias superiores derivam não do geral, mas do<br />

Filosóficos particular, ou seja as elas já se encontram no espírito e são comuns a uma<br />

da Educação<br />

natureza humana. O critério proposto para saber se tais idéias eram<br />

verdadeiras ou não seria um critério seguro do nosso espírito.<br />

Enquanto o inatismo de Descartes prioriza a razão, como ponto de partida de todo<br />

conhecimento, Locke se opõe a esse pensamento. O empirismo de John Locke, afirma<br />

que nada está no espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos.<br />

O empirismo, apesar de influenciado pelo inatismo, vai<br />

propor que o conhecimento só se efetiva a partir da experiência<br />

sensível, ou seja só depois de algum experimento poderia se<br />

elaborar o conhecimento. As duas fontes do conhecimento seria<br />

a sensação e a reflexão Locke foi o mais importante teórico dessa<br />

corrente do pensamento.<br />

A corrente interacionista é fruto das teorias progressistas<br />

de influência marxista e do construtivismo soviético que se utiliza<br />

da dialética, entendida como a lógica da contradição. Sujeito e<br />

objeto situam-se, por assim dizer, numa nova relação entre si, na<br />

qual nenhum dos dois prevalece, um dependendo do outro, só<br />

existindo enquanto pólo da relação.<br />

O sujeito se dá conta de que, embora condicionante da<br />

posição do objeto não pode integrá-lo; o objeto, por sua vez, por Jean Piaget<br />

mais autônomo que seja, não mais se impõe dogmaticamente ao<br />

sujeito como pura positividade.<br />

Temos abaixo um quadro resumo dessas teorias que marcaram a história do<br />

pensamento humano:<br />

AS FORMAS DO CONHECIMENTO<br />

Inatista<br />

Supremacia do<br />

sujeito;<br />

Sujeito: idéias inatas<br />

é a condição do<br />

conhecimento.<br />

Empirista<br />

Supremacia do<br />

objeto (do meio);<br />

Sujeito: tábula rasa<br />

(passivo);<br />

Conhecimento<br />

transmitido e recebido.<br />

Interacionista<br />

Não há contradição<br />

sujeito/objeto; homem/<br />

mundo.<br />

O conhecimento<br />

renova-se sempre.<br />

48


[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1. Na atualidade, a prática escolar que você tem tomado contato estimula a construção<br />

do conhecimento:<br />

2.<br />

Faça um comentário destacando as semelhanças e diferenças entre inatismo,<br />

empirismo e interacionismo:<br />

A necessidade de uma nova ética na educação<br />

Na nossa vida cotidiana, encontramos freqüentemente situações nas quais a nossa<br />

decisão depende daquilo que consideramos justo, bom ou moralmente correto. Assim, toda<br />

vez que isso ocorre, estamos diante de uma decisão que envolve um julgamento moral da<br />

realidade, a partir do qual vamos nos guiar.<br />

Portanto, a ação humana é uma ação carregada de valores, pois para homem, as<br />

coisas do mundo e as ações sobre o mundo não são indiferentes. O homem analisa a<br />

validade e legitimidade das suas ações.<br />

Com efeito, certas ações tornam-se objeto de valoração. Assim essa sensibilidade<br />

aos valores é denominada de consciência moral. Como vimos<br />

anteriormente o ramo da filosofia que estuda os valores é a<br />

axiologia. Dentre eles destaca-se a Ética (um dos temas<br />

transversais dos PCN’s). Se os valores são o alicerce de<br />

todas as nossas ações, é imprescindível reconhecer sua<br />

importância para a práxis educativa. Entretanto, os valores<br />

transmitidos pela sociedade nem sempre são claramente<br />

tematizados, e até mesmo muitos educadores não fundamentam<br />

sua prática em uma reflexão mais cuidadosa a respeito ética.<br />

Na atualidade existe uma crise sem precedentes quanto aos valores que orientam a<br />

vida em sociedade e nesse sentido alguns conceitos têm sido esvaziados do seu real valor.<br />

49


Qualquer vocábulo quando exageradamente utilizado faz com que seu<br />

sentido original perca a força. Assim tem acontecido com alguns conceitos<br />

importantes, tais como Justiça, Liberdade, Fraternidade e a Ética, que<br />

Fundamentos atualmente têm sido confundidos quanto aos seus verdadeiros significados.<br />

Histórico- Por que isso tem ocorrido? Ora de tanto se ouvir falar de tais conceitos, as<br />

Filosóficos pessoas passam a ter uma falsa impressão de já tê-los compreendido em<br />

da Educação<br />

sua verdadeira essência.<br />

Para o homem atual, os valores não estão pré-definidos e não são<br />

descobertos pelo acaso, mas vão sendo construídos ao longo de suas vidas tanto de forma<br />

coletiva como de forma individual, ou seja, o Homem educa-se pelo exemplo dos outros e<br />

pela suas próprias inclinações. Assim, como exigir de uma criança que ela não minta se<br />

alguém (que eu não quero falar naquele momento) ligar para a minha residência e aí eu<br />

orientar a criança a dizer que eu não estou em casa, quando na verdade estou? Como<br />

exigir de uma criança que ela não ache a corrupção algo comum se no meu relacionamento<br />

cotidiano com ela, repito uma frase mágica do tipo: se você passar de ano vai ganhar uma<br />

bicicleta.? Não seria mais correto orientá-la a passar de ano porque é o certo e não para<br />

que ela se acostume a cumprir o seu dever esperando sempre receber algo em troca?<br />

Mais uma vez cabe-nos a reflexão.<br />

No processo educacional, o resgate da ética é de<br />

fundamental importância uma vez que antes de tudo a<br />

verdadeira educação é um compromisso ético, ou seja é<br />

preciso que a relação professor-aluno seja calcada em<br />

valores positivos e verdadeiros, estes que constróem a<br />

dignidade humana. A escola é uma das instituições mais<br />

complexas de nossa sociedade, tendo em vista que as forças<br />

de dominação, degradação, alienação estão se<br />

consolidando em nossa sociedade de maneira alarmante e<br />

somente a partir de uma (re) educação da humanidade<br />

podemos aspirar a dias melhores.<br />

As condições de trabalho, ainda são muito degradantes, as relações de poder estão<br />

desvirtuadas e a distribuição dos bens materiais e simbólicos extremamente desiguais,<br />

nesse sentido se torna necessário um verdadeiro pacto social entre os educadores para o<br />

resgate da verdadeira cidadania, inclusive a partir de uma postura crítica em relação a sua<br />

própria atuação, a atuação da direção da instituição de ensino na qual trabalha e da postura<br />

de seus alunos em sala de aula.<br />

Muitos podem se perguntar o que a educação tema a ver com a ética? A resposta<br />

mais razoável é tudo, uma vez que a<br />

penas um ser humano educado<br />

pode educar outro e para<br />

se educar uma sociedade<br />

inteira é necessário<br />

termos a moralidade<br />

positiva denunciada em<br />

nosso agir cotidiano em<br />

quaisquer que sejam as<br />

condições materiais e imateriais que constituam a nossa realidade social. Os sistemas e<br />

códigos morais podem até variar, mas não a moralidade em si e nem a sensibilidade humana.<br />

A educação se tornará mais coerente e eficaz a partir do momento que estivermos<br />

capacitados para explicitar esses valores, ou seja, se desenvolvermos um trabalho reflexivo<br />

que esclareça as bases axiologia educacional.<br />

Analise o trecho abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

50


[ ]<br />

Agora é hora de<br />

TRABALHAR<br />

1.<br />

[...] Dificuldades constantes põem em risco a conduta ética do professor. A primeira<br />

e mais fundamental destas dificuldades é a perda do espaço ético, a perda do juízo<br />

prudencial [...] o dito sistema que não é ninguém concreto e, sim, pura abstração, ou algo<br />

impessoal, usurpou a possibilidade de o professor decidir sobre a conduta do aluno.<br />

Cabe ao professor cumprir normas e regulamentos [...] deste modo a burocracia transforma<br />

o professor num mero instrumento de aparente ordenamento neutro.”<br />

PAVIANI, J. Problemas de filosofia da educação. Petrópolis: Vozes, 1988, p.116)<br />

a. De acordo com o texto acima, qual a principal dificuldade ética enfrentada pelo<br />

professor na atualidade?<br />

b. Por que a burocracia do sistema pode levar o professor a se afastar de uma postura<br />

ética?<br />

2.<br />

Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />

O problema moral<br />

O problema moral não é um problema simples, nem como cega aceitação de<br />

regras de conduta que não são fornecidas já prontas do exterior, nem como a afirmação<br />

de uma liberdade radical para estabelecermos nós mesmos, sozinhos, os nossos valores<br />

e os nossos fins.<br />

O problema moral na vida de um homem, é feito de contradições vividas, sempre<br />

renovadas, entre as exigências da disciplina necessária à eficácia da nossa luta e o sentido<br />

de responsabilidade pessoal de cada um de nós tanto na elaboração quanto na aplicação<br />

das próprias leis da nossa combatividade.<br />

51


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

52


Atividade<br />

Orientada<br />

Caro (a) Aluno (a),<br />

Esta atividade deverá ser desenvolvida, por você, ao longo do desenvolvimento da<br />

disciplina, progressivamente, sob a assistência e orientação do tutor no ambiente de tutoria.<br />

Trata-se de uma atividade obrigatória que tem como objetivo auxiliar você a consolidar os<br />

conhecimentos acerca dos nossos conteúdos estudados, além se ser um dos nossos<br />

instrumentos de avaliação da aprendizagem.<br />

Como tal atividade consta de 04 etapas, leia atentamente o que se segue, a fim de<br />

compreender como você deverá proceder na realização da mesma.<br />

1<br />

Etapa Elabore um TEXTO DISSERTATIVO (mínimo de 15 linhas) sobre como podemos<br />

atuar, enquanto educadores, na construção de um mundo melhor, justificando o seu<br />

pensamento com argumentos pautados nos estudos que foram realizados na nossa disciplina<br />

e nos referenciais teóricos indicados.<br />

2<br />

Etapa Como você já teve uma noção básica em torno da história e da filosofia da educação<br />

do mundo ocidental, desde a Antigüidade até a era Moderna, por favor, elabore um TEXTO<br />

DISSERTATIVO (mínimo de 15 linhas) sobre o que vem a ser a História e a Filosofia<br />

da Educação, utilizando-se de argumentos baseados no que foi discutido em nossa<br />

disciplina e nos referenciais teóricos indicados.<br />

3<br />

Etapa Em papel metro ou cartolina e utilizando gravuras e/ou fotografias de revistas velhas,<br />

construa um CARTAZ que trate da importância e finalidade do estudo dos fundamentos<br />

histórico-filosóficos da educação, levando-se em conta as suas dimensões axiológica<br />

(valores), antropológica (humanidade) e epistemológica (conhecimento).<br />

Vale esclarecer que serão critérios avaliativos do cartaz: clareza, estética e<br />

capacidade de relação das gravuras com o conteúdo estudado.<br />

Agora em dupla, você deverá elaborar um trabalho escrito (mínimo de 10 linhas),<br />

53


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

seguindo as normas da ABNT, que se constitua numa “Linha do Tempo”<br />

com os principais representantes do pensamento pedagógico ocidental, ou<br />

da Antigüidade até a Idade Média, ou da Idade Moderna até o Iluminismo,<br />

destacando suas principais contribuições na área da educação, seu método<br />

pedagógico e suas principais obras.<br />

Vale salientar que, para realização do trabalho como um todo,<br />

esperamos que você cumpra cada etapa de forma progressiva, pois o mesmo trata-se de<br />

uma atividade de avaliação que almeja, não só atribuir-lhe uma “nota” ao final da disciplina<br />

mas, principalmente, contribuir com a consolidação de conhecimentos fundamentais à sua<br />

formação e atuação profissional.<br />

Desejamos discernimento, iniciativa e realizações.<br />

54


Glossário<br />

ALIENAÇÃO: Fragmentação da consciência, perda da individualidade, da consciência crítica,diluição<br />

da própria identidade.<br />

ARETÉ: Perfeição ou virtude de uma pessoa.<br />

BÁRBARO: Palavra usada para identificar todos os povos não romanos. Aqueles que usam barbas longas.<br />

CLERO: Classe social formada por aqueles que receberam ordens sacras, religiosos.<br />

CONHECIMENTO: É a relação que se estabelece entre um sujeito que conhece ou deseja conhecer<br />

algo e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.<br />

CRÍTICO-REPRODUTIVISTA: Teoria pedagógica difundida nos anos 70 que critica a ilusão liberal<br />

da Escola como instância de democratização, concluindo que ela reproduz as diferenças sociais.<br />

ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 236<br />

CULTURA: Um amplo e variado conjunto de conhecimentos e realizações que o homem desenvolve<br />

em sociedade, que é acessível a determinado grupamento humano. Associa-se às representações<br />

simbólicas, de produtos e de procedimentos apresentados pelo homem ao longo de sua história.<br />

EDUCAÇÃO: Prática social cujo fim é o desenvolvimento humano[..] de acordo com as necessidades<br />

e exigências de determinada sociedade em determinado tempo/espaço.<br />

CAVALCANTI, 2004, p.93<br />

EMPIRISMO: Doutrina filosófica moderna (séc XVII) segundo a qual conhecimento procede<br />

principalmente da experiência, principais representantes: Hume, Locke e Hume.<br />

ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 238<br />

ESCOLAS SECULARES: Escolas do século, do mundo, abertas a qualquer atividade não religiosa.<br />

ÉTICA: Qualidade da ação fundada em valores morais; pode também significar a área da Filosofia<br />

que trata da moralidade da ação humana e ainda pode ser considerada como a ciência do comportamento<br />

moral dos homens em sociedade.<br />

SEVERINO. 1999, p.138 e NALINI, 1999, p. 34<br />

FEUDO: Unidade produtiva da época Medieval, grande extensão de terra que pertencia a um<br />

senhor feudal.<br />

FILOSOFIA: Estudo que surgiu procurando desenvolver o logos (saber racional) em contraste com o<br />

mito (saber alegórico). Ela é um corpo de conhecimento, constituído a partir do esforço do ser humano para<br />

compreender o mundo e dar-lhe um significado compreensivo [...] é um instrumento de ação.<br />

LUCKESI, 2000, p.22.<br />

HERESIA: toda doutrina que fosse contrária aos dogmas da Igreja católica.<br />

HUMANISMO: Procura de uma imagem do homem e da cultura, em contraposição às concepções<br />

predominantemente teológicas da Idade Média e ao espírito autoritário delas decorrentes.<br />

ARANHA, 20<strong>02</strong>.<br />

IDEOLOGIA: conceitos e valores particulares de um grupo social passados a todos como se fossem<br />

universais.<br />

SEVERINO, 1996.<br />

55


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

INATISMO: Concepção segundo a qual as idéias ou os princípios já existem na<br />

mente dos indivíduos e portanto não surgem de fora para dentro.<br />

ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 238.<br />

LEI DAS DOZE TÁBUAS: Código Jurídico baseado em velhos costumes e em novas<br />

leis plebéias.<br />

LEIGO: Quem não é eclesiástico que não segue a carreira religiosa.<br />

NOBRE: Classe social que possuía privilégios de nascimento, geralmente eram proprietários de terras.<br />

RATIO STUDIORUM: Plano de estudos da Companhia de Jesus, aprovado em 1599, que ainda<br />

hoje é o método ministrado nos colégios jesuítas.<br />

LUZURIAGA, 2001, p. 118.<br />

SERVOS: Classe social que prestava serviços à nobreza e ao clero, não eram proprietários.<br />

SÍMBOLO: Um elemento adotado de forma convencional como representação de um outro<br />

elemento, ou seja, são mediações de que nos servimos para lidar com os objetos, com as circunstâncias<br />

e até mesmo com outros símbolos.<br />

TOTALITÁRIO: É a ação que centraliza todas as decisões e poderes em uma pessoa ou grupo de<br />

pessoas. Na educação isso se refletia na autoridade total e incontestável do mestre.<br />

TRIBUNATO DA PLEBE: Grupo de dez pessoas que representavam os plebeus na política romana.<br />

56


Referências<br />

Bibliográficas<br />

ARANHA, M. L. Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1997.<br />

___________________. História da Educação. São Paulo: Moderna, 20<strong>02</strong>.<br />

GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 20<strong>02</strong>.<br />

GILES, Tomas R. História da Educação. São Paulo: EPU. 1987.<br />

LUCKESI, Cipriano. Filosofia da Educação. SP, Cortez, 1993.<br />

LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Cia Editora<br />

Nacional, 20<strong>02</strong>.<br />

SAVIANI, Demerval. Educação:do senso comum à consciência filosófica. 13ª ed. (rev.).<br />

São Paulo: Autores associados, 2000.<br />

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação. Construindo a Cidadania.São Paulo:<br />

FTD, 1994.<br />

57


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

Anotações<br />

58


Anotações<br />

59


Fundamentos<br />

Histórico-<br />

Filosóficos<br />

da Educação<br />

FTC - EaD<br />

Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância<br />

Democratizando a Educação.<br />

www.ftc.br/ead<br />

60

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