02-fundamentoshistoricofilosoficosdaeducacao
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FUNDAMENTOS<br />
HISTÓRICO-FILOSÓFICOS<br />
DA EDUCAÇÃO<br />
1
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
SOMESB<br />
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.<br />
Presidente ♦<br />
Vice-Presidente ♦<br />
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FTC - EaD<br />
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2
UMA VISÃO CRÍTICA DA EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE A<br />
CONTEMPORANEIDADE<br />
ÍNDICE<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
07<br />
A EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE E DA IDADE MÉDIA:<br />
EM BUSCA DA ESSÊNCIA DO HOMEM<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
07<br />
A Tradição Grega<br />
Ideal Formativo e organização da educação grega<br />
Principais Educadores Gregos<br />
A Tradição Romana<br />
Ideal formativo e organização da educação romana<br />
Os Principais Educadores Romanos<br />
A Tradição Medieval<br />
Queda do Império Romano e as Bases do Cristianismo<br />
Ideal formativo e organização da Educação Medieval<br />
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18<br />
A EDUCAÇÃO DO MUNDO RENASCENTISTA À CONTEMPORANEIDADE:<br />
EM BUSCA DO RACIONALISMO<br />
O Humanismo Cristão no Processo Educativo<br />
A Educação Protestante de Martinho Lutero<br />
A Educação Jesuítica<br />
O Renascimento e A Educação Moderna<br />
O Surgimento da Escola Moderna<br />
Principais Educadores da Modernidade<br />
O Iluminismo e o Processo Educativo<br />
A Organização Educacional<br />
Principais Educadores do Iluminismo<br />
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27<br />
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA<br />
○<br />
○<br />
31<br />
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
31<br />
O que é Filosofia<br />
Entendendo A Origem e o Conceito<br />
O Papel do Filósofo e o Ato de Filosofar<br />
As Formas de Abordar O Mundo<br />
O que é Educação<br />
Filosofia da Educação<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
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3
A FORMAÇÃO CRÍTICA E A NECESSIDADE DE UMA<br />
POSTURA ÉTICA DO EDUCADOR<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
45<br />
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
Educação e Ideologia: A Luta Pelo Poder<br />
O Conhecimento<br />
A Necessidade de Uma Nova Ética Na Educação<br />
Atividade Orientada<br />
Glossário<br />
Referências Bibliográficas<br />
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57<br />
4
Apresentação da disciplina<br />
Caro(a) Aluno(a),<br />
Estamos dando início aos nossos estudos de Fundamentos<br />
Histórico e Filosóficos da Educação que tem como objetivo geral analisar<br />
a Educação enquanto um objeto crítico e reflexivo. Enfocaremos<br />
historicamente seus aspectos sociais e políticos, da Antigüidade ocidental<br />
até e contemporaneidade em suas relações com o Estado, sociedade e<br />
cultura, bem como o estudo do desenvolvimento do processo educacional:<br />
práticas educativas, principais teóricos e a organização do ensino no<br />
contexto das sociedades. Abordaremos também as principais interfaces<br />
da filosofia com a educação e seus principais teóricos, bem como os<br />
pressupostos filosóficos para a construção do conhecimento.<br />
Essa disciplina possui 72 horas e encontra-se dividida em dois<br />
grandes blocos temáticos, sendo que cada bloco será trabalhado em quatro<br />
semanas.<br />
O primeiro bloco temático intitula-se “uma Visão Crítica da<br />
Educação da Antigüidade à Contemporaneidade” e será desenvolvido a<br />
partir dos temas “A Educação da Antigüidade e da Idade Média: em Busca<br />
da Essência do Homem” e “A Educação do Mundo Renascentista à<br />
Contemporaneidade: em Busca do Racionalismo”<br />
No segundo Bloco Temático, que recebe o nome de “Filosofia e<br />
Educação: Em Busca da Consciência”, estudaremos mais dois temas:<br />
“Filosofia e Educação” e “A Formação Crítica e a Necessidade de Uma<br />
Postura Ética do Educador”.<br />
Todo o material didático dessa disciplina foi estruturado para<br />
potencializar sua aprendizagem, por isso leia, atentamente, todos os textos<br />
e realize todas as atividades propostas, a fim de tirar um excelente proveito<br />
desse módulo disciplinar.<br />
A vida sempre nos oferece desafios, e a transposição das barreiras<br />
é a única forma de atingirmos o sucesso. Assim, por maior que sejam as<br />
dificuldades. Não desistam nunca dos seus objetivos.<br />
Desejamos discernimento, iniciativa e realização!!!<br />
Prof. Jorge Bispo<br />
5
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
6
UMA VISÃO CRÍTICA DA<br />
EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE A<br />
CONTEMPORANEIDADE<br />
A EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE E DA IDADE<br />
MÉDIA: EM BUSCA DA ESSÊNCIA DO HOMEM<br />
A Tradição Grega<br />
No mundo ocidental, a Grécia é<br />
um país que se destaca pela sua<br />
importância cultural, pois é da cultura<br />
grega que se origina, em grande parte,<br />
nossa pedagogia e nossa educação.<br />
Resumindo em um esquema geral,<br />
essas seriam as principais<br />
características da cultura grega:<br />
Ideal Forma<br />
ormativ<br />
tivo e organização da educação grega<br />
valorização do Homem;<br />
exaltação da inteligência crítica;<br />
valorização do trabalho intelectual;<br />
valorização do ideal de cidadão;<br />
defesa de uma educação integral (física, intelectual, ética e estética);<br />
valorização da competição na sociedade.<br />
Na Grécia existiram diversas formas de educação, abaixo, conversaremos sobre<br />
os principais períodos educativos.<br />
EDUCAÇÃO HERÓICA<br />
A educação grega heróica tinha como principal meta formar<br />
futuros guerreiros e heróis, baseando-se nos conceito de honra,<br />
valor, sacrifício e bravura, tudo isso resumia a mentalidade<br />
grega, existia o ideal máximo chamado de areté. Além disso,<br />
estimulava-se a competição entre os alunos, enfatizando<br />
ideais como superioridade. Caracterizavam assim o espírito<br />
de emulação (desejo de se sobressair entre os demais,<br />
de ser sempre o melhor). As obras literárias fundamentais<br />
para compreender a educação desse período são Ilíada e<br />
Odisséia, de Homero.<br />
Os jovens eram educados com bastante rigor,<br />
dedicavam-se aos exercícios com armas e do corpo. (arco<br />
e flecha, educação física, jogos cavalheirescos), ao mesmo<br />
tempo, estudavam artes musicais (lira e canto), oratória e<br />
por fim estudavam boas maneiras.<br />
7
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
A educação feminina limitava-se ao aprendizado das artes domésticas.<br />
Essa educação não ocorria ainda em escolas ou instituições formais de ensino,<br />
o espaço reservado para tais atividades eram as áreas livres dos palacetes<br />
pertencentes à elite econômica.<br />
Para refletir...<br />
Até aqui vimos que o ideal de formação na Grécia era<br />
voltado para a virtude, você acha que a educação da<br />
atualidade poderia adotar ainda parte desse ideal?<br />
O Pensador<br />
Rodin (1840-1917)<br />
EDUCAÇÃO ESPAR<br />
ARTAN<br />
ANA<br />
Esparta, localizada na península do Peloponeso, foi uma das<br />
cidades-estado que mais se destacaram na Grécia Antiga.<br />
Caracterizava-se por ser extremamente militarizada. A educação<br />
tinha caráter totalitário e não perdia de vista os interesses do<br />
Estado, o qual exigia do cidadão sacrifício e obediência acima de<br />
tudo, isso se refletia, em termos pedagógicos, na severidade, cultivo<br />
ao amor à Pátria e na dureza. A educação espartana também era<br />
esportiva e artística (eles praticavam dança e música), sendo<br />
que o maior destaque recaía sobre os exercícios militares que<br />
não excluía as mulheres. O processo educativo ainda não se<br />
dava em escolas formais, mas sim em grandes<br />
acampamentos.<br />
EDUCAÇÃO ATENIENSE<br />
Vimos que Esparta se deteve no governo e na educação<br />
autoritária. Atenas, ao contrário, alcançou a vida política<br />
democrática (sobretudo no século VII a.C.). Vale<br />
lembrar que tal democracia era restrita a uma<br />
pequena elite econômica, contemplando apenas<br />
os homens. Surge aqui a vida urbana da Pólis.<br />
O espírito da educação ateniense pode<br />
ser resumido na idéia de kalokaghatia<br />
(educação moral e estética reunidas)<br />
aliada aos valores cívicos e ao espírito<br />
democrático. A educação era mais social<br />
(ficava a cargo de particulares) que estatal.<br />
O processo educativo externo iniciava-se aos sete anos e compreendia duas etapas:<br />
física e musical/poética. As mesmas eram ministradas nos campos (escolas particulares)<br />
e nos ginásios (escolas estatais). Aos dezoito anos, os jovens ingressavam numa espécie<br />
de serviço militar, onde aprendiam artes bélicas. Depois disso, os homens podiam<br />
prosseguir nos estudos mais elevados, nas academias de cultura superior, nas quais<br />
estudavam Retórica Filosofia e Ciência.<br />
8
EDUCAÇÃO HELENÍSTICA<br />
Imaginem se no mundo atual, o Brasil fosse conquistado por uma grande potência<br />
mundial (EUA ou França, por exemplo) com certeza a nossa cultura sofreria mudanças.<br />
Isso foi o que aconteceu com a Grécia no período helenístico.<br />
Alexandre Magno (Rei da Macedônia), dominou a Grécia no século IV a.C e, a<br />
partir daí a cultura grega se universalizou, ampliou-se e tornou-se multicultural. Nessa<br />
época a paidéia transformou-se em enciclopédia.<br />
A educação passou a valorizar o aspecto intelectual ao invés dos aspectos físicos<br />
e estéticos. A leitura, o cálculo e a escrita experimentaram grande desenvolvimento, mas<br />
o método era de memorização.<br />
Se a memorização ainda era valorizada, a disciplina era bastante rigorosa e os<br />
castigos corporais eram considerados como algo natural. A escola dos grammátikos foi<br />
a que mais cresceu, nela estudava-se: literatura clássica, poesia e história. No ensino<br />
superior (Universidade de Atenas e no Museu de Alexandria), as<br />
matérias de ensino dividiam-se em:<br />
humanistas (gramática, retórica e filosofia ou dialética);<br />
e realistas (aritmética, música, geometria e astronomia).<br />
O ensino privado ainda existia, mas possuía uma dimensão bastante restrita, os<br />
pedagogos passam a ser mais bem remunerados e ganham um certo prestígio social.<br />
Principais Educadores Gregos<br />
SÓCRATES (469-399 a.C.)<br />
Filósofo nascido em Atenas, considerado o maior<br />
representante da pedagogia do Ocidente. Como educador<br />
pretendeu despertar e estimular a busca pessoal da verdade,<br />
ou seja, despertar o conhecimento de si próprio.<br />
Sócrates acreditava que o autoconhecimento era o início do<br />
caminho para se atingir o verdadeiro saber, convidava seus<br />
discípulos para um mergulho em si mesmo, em suas aulas, os<br />
alunos não recebiam os conteúdos prontos de maneira passiva,<br />
pelo contrário, buscava que o aluno construísse os mesmos.<br />
Esse grande pensador grego foi acusado de desrespeitar<br />
os deuses e de corromper a juventude. Foi condenado à morte e,<br />
apesar da possibilidade de fugir da prisão, preferiu seguir fiel à sua missão e escolheu<br />
morrer.<br />
Não deixou nada escrito. O que herdamos foi o testemunho de seus<br />
contemporâneos, especialmente do seu mais importante discípulo, Platão.<br />
9
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
Para refletir...<br />
O que você acha do ideal socrático de<br />
estimular o aluno a produzir o seu próprio<br />
conhecimento?<br />
PLATÃO (427-347 a.C.)<br />
Principal discípulo de Sócrates foi um Importante filósofo<br />
de Atenas, nascido em uma família rica, esteve em contato<br />
com as personalidades mais importantes de sua época.<br />
Entre as várias obras que deixou, destacam-se:<br />
República, Alegoria da caverna, Sofista e Leis. Através delas,<br />
estudou a tarefa central de toda educação; “elevar o espírito”<br />
e fazer com que as pessoas saiam do mundo “aparente”,<br />
fazendo elas olharem para a luz do “verdadeiro ser”. Segundo<br />
Platão, somente com o cumprimento desta tarefa existiria<br />
educação, única coisa que o homem pode levar para a<br />
eternidade. Para se alcançar este objetivo ele dizia ser<br />
necessário “converter” a alma. Assim a educação seria a<br />
“arte da conversão”.<br />
Para refletir...<br />
Atualmente, você consideraria um “mundo de<br />
ilusões” aquilo que a televisão divulga, através de<br />
alguns comerciais, novelas e outros programas?<br />
ARISTÓTELES (384-322 a.C)<br />
Um dos maiores filósofos da história de toda a<br />
Antigüidade. Nascido na Macedônia, estudou na Academia<br />
de Atenas, onde permaneceu estudando e ensinando por<br />
mais de vinte anos. Aristóteles, ao contrário do seu mestre<br />
(Platão), não era idealista, pregava de maneira mais racional<br />
e dizia que as idéias estão nas coisas, como sua própria<br />
essência. Era também realista em sua concepção educacional,<br />
afirmando que três fatores principais determinariam o<br />
desenvolvimento espiritual do homem: disposição inata, hábito<br />
e ensino. Com isso, mostrava-se favorável à medidas<br />
educacionais “condicionantes.” Acreditava que o homem podia<br />
tornar-se a criatura mais nobre, assim como podia tornar-se também<br />
o pior de todos os seres. Outra tese sua é de que aprendemos fazendo<br />
e de que nos tornamos mais justos agindo justamente.<br />
10
Abaixo acompanhe um quadro resumo sobre os principais educadores gregos<br />
EDUCADOR PRESSUPOSTO MÉTODO<br />
SÓCRATES<br />
PLATÃO<br />
ARISTÓTELES<br />
Autoconhecimento do<br />
educando.<br />
Elevação do “espírito” do<br />
educando.<br />
Hábitos virtuosos e<br />
orientação racional para<br />
os alunos.<br />
Diálogo crítico, dividido em duas<br />
etapas: ironia e maiêutica.<br />
Dialético a partir de etapas precisas<br />
para o processo educacional.<br />
Lógico, partindo da percepção do<br />
objeto, memorização do percebido<br />
e inter-relação entre os mesmos.<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. Faça um comentário sobre o lema socrático conhece-te a ti mesmo, procurando<br />
relacioná-lo com a educação atual:<br />
2.<br />
Descreva em linhas gerais o método de ensino de Sócrates. Você acha que nos<br />
dias atuais ele ainda seria válido? Justifique a sua resposta.<br />
11
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
3.<br />
A Alegoria da Caverna traz representações importantes para um<br />
educador. Pensando como tal, responda as proposições que se encontram<br />
logo após o texto.<br />
MITO DA CAVERN<br />
VERNA<br />
Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea.<br />
Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de<br />
sorte que tudo o que vêem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e<br />
por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que<br />
se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas<br />
figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa<br />
que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas<br />
estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que vêem são a única coisa<br />
que existe.<br />
Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela<br />
prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na<br />
parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. O que você<br />
acha que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda<br />
do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a<br />
precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca sua<br />
visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sai da caverna,<br />
terá mais dificuldade ainda para enxergar devido a abundância de luz. Mas depois de esfregar<br />
os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos:<br />
verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passavam de<br />
imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os<br />
animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos<br />
animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver<br />
as sombras refletidas na parede.<br />
Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza,<br />
desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda<br />
continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar.<br />
Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam<br />
de tremulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam<br />
para a parede da caverna e dizem que aquilo que vêem é tudo o que existe. Por fim,<br />
acabam matando-o.<br />
Extraído do livro Mundo de Sofia de Jostein Gaarder. Cia da Letras, 2000, p.104/105.<br />
a. De acordo com Platão, qual seria tarefa central da educação?<br />
12
. O que seria a luz exterior do sol?<br />
c. Explique o que Platão pensava sobre a democracia.<br />
A Tradição Romana<br />
Nasce uma nova forma de educar: a educação prática dos romanos<br />
Ideal forma<br />
ormativ<br />
tivo o e organização da educação romana<br />
Você já ouviu falar da Itália? Pois é, Roma<br />
ocupava a área que atualmente é conhecida como<br />
Itália e muitas outras regiões da Europa. A Civilização<br />
Romana tem início em dois mil a.C, quando a porção<br />
central da península itálica foi povoada por diversos<br />
povos: entre eles destacamos italiotas, gregos, latinos<br />
e etruscos.<br />
E os romanos faziam o que para se<br />
sustentar? Diversas coisas, falaremos aqui sobre as<br />
principais. Na economia destacava-se o pastoreio e<br />
as atividades comerciais. A principal fonte de riqueza<br />
eram os impostos cobrados das colônias (países<br />
dominados pelos romanos). E como as pessoas viviam<br />
em Roma? A sociedade era patriarcal (os pais tinham<br />
poderes absolutos) e, era dividida em classes: de um<br />
lado a nobreza por nascimento, chamados de<br />
patrícios que eram geralmente proprietários das terras e do outro, os plebeus, maioria absoluta<br />
da população, estes se subdividiam em dois grandes seguimentos: os homens livres<br />
(camponeses, artesãos e comerciantes) e os escravos. Sendo que dentre os plebeus<br />
sobressaía-se um grupo específico, os clientes, protegidos das famílias patrícias que prestavam<br />
serviços às mesmas. Agora que a gente já conhece a economia e a sociedade romanas,<br />
vamos ver, em linhas gerais, as principais características culturais desta civilização:<br />
valorização da vontade e da ação humanas;<br />
cultivo dos ideais de domínio e de espírito prático;<br />
afirmação da importância da família;<br />
defesa de uma educação realista e estatal, amor pelas normas jurídicas.<br />
13
EDUCAÇÃO HERÓICO-PATRÍCIA<br />
A educação heróico-patrícia ocorreu nos primeiros anos da<br />
Fundamentos República e era voltada para as pessoas mais ricas, ou seja, aos<br />
Histórico- patrícios. Este tipo de educação almejava divulgar os valores da<br />
Filosóficos nobreza de sangue. A família era a instituição mais respeitada e<br />
da Educação dava plenos poderes ao pai.<br />
Depois dos sete anos as meninas continuavam no lar<br />
aprendendo serviços domésticos e os meninos passam a ser educados pelo<br />
pai que enfatizam a consciência histórica e o patriotismo.<br />
Os meninos acompanhavam os pais às sessões dos tribunais, do<br />
senado e às festas. Além disso, eles aprendiam a cuidar da terra, fortalecendo<br />
os músculos ao trabalharem com a pá e o arado.<br />
Essa educação estava mais preocupada com a formação jurídicomoral<br />
e física. Era uma pedagogia da ação, para a vida cotidiana, tomando<br />
como base o amor a pátria e a conscientização histórica.<br />
EDUCAÇÃO DE INFLUÊNCIA GREGA<br />
A República iniciou-se no século VI a.C., representando os interesses dos patrícios<br />
(únicos a terem acesso aos cargos políticos). Mais ou menos no século V a.C. uma parcela<br />
dos plebeus enriqueceu e passou a lutar por direitos políticos através da criação do Tribunato<br />
da Plebe e da Lei das Doze Tábuas.<br />
Foi no período republicano que Roma experimentou sua política expansionista,<br />
ocupando diversas regiões, esse fato ocasionou grande desenvolvimento do comércio romano.<br />
Em meados do século III a.C. a educação romana experimentou profundas mudanças. A<br />
educação ficou mais complexa, as escolas cresceram em número e em qualidade. O<br />
ensino tanto podia ser ministrado tanto em grego como em latim e dividia-se em três graus<br />
de ensino: elementar, médio e superior.<br />
A escola elementar ou ludi magister, recebia alunos de 7 anos, seu programa de<br />
estudos era: leitura, escrita, cálculo e o estudo de algumas canções. A disciplina era muito<br />
rigorosa e os castigos físicos uma constante. Já a escola secundária ou grammaticus começava<br />
aos 12 e prosseguia até os 16 anos. Aí estudava-se gramática latina, literatura, geografia,<br />
aritmética, geometria e astronomia. O ensino superior desenvolveu-se no decorrer do século<br />
I a.C, os estudantes dessas escolas eram da elite econômica e estudavam política, direito e<br />
filosofia. A educação física era muito valorizada, sendo que a ênfase recaía nas artes marciais,<br />
com o intuito de preparar os soldados.<br />
Vejamos na tabela abaixo uma síntese da educação desse período:<br />
GRAU DE ENSINO CARACTERÍSTICAS DISCIPLINAS<br />
Elementar ou ludi<br />
magister<br />
recebia alunos a partir dos 7 anos;<br />
disciplina muito rigorosa, castigos<br />
físicos constantes.<br />
leitura, escrita, cálculo,<br />
canções.<br />
Médio ou<br />
grammaticus<br />
Superior<br />
começava aos 12 anos, disciplina um<br />
pouco menos rígida.<br />
estudantes membros da elite<br />
econômica, ensino voltado para a<br />
erudição.<br />
gramática latina, literatura,<br />
geográfia, aritmética,<br />
geometria e astronomia.<br />
política, direito e filosofia.<br />
14
EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO<br />
Em 27 a.C. Otávio (Imperador Romano entre os anos 27 a.C. e 14 d.C.) recebe o<br />
título de Augusto (título honorífico) e implanta o Império, nessa época ocorreram várias<br />
melhorias (construção de templos, aquedutos, termas, estradas, edifícios públicos, portos<br />
e estradas). As artes são incentivadas e a literatura sofre clara influência dos gregos.<br />
O processo educativo desta época se distinguiu do anterior apenas pela maior<br />
organização e converteu-se numa educação pública, com a criação das escolas<br />
municipais no século I a.C. Vespasiano (Imperador Romano entre 69-74) libera os<br />
professores do ensino médio e superior do pagamento de impostos.<br />
Para refletir...<br />
Nesse tópico vimos que os romanos valorizavam<br />
muito à família, você acha que na educação atual, uma<br />
valorização semelhante traria alguma melhoria para o<br />
processo educacional?<br />
Principais Educadores Romanos<br />
Boa erudição para falar bem em público: o espírito dos educadores romanos.<br />
CÍCERO (106- 46 a.C.)<br />
Marco Túlio Cícero, Orador e político romano, nascido<br />
numa região próxima a Roma. Estudou literatura grega,<br />
literatura latina e retórica com os melhores mestres da época,<br />
aprofundou-se no estudo das leis e nas doutrinas filosóficas.<br />
Valorizava a fundamentação teórica e filosófica do<br />
discurso, apaixonado defensor da educação integral,<br />
afirmava que o orador deveria ter erudição, conhecer a<br />
cultura geral, aprofundar-se na formação jurídica, na<br />
argumentação filosófica e, conhecer e desenvolver<br />
habilidades literárias e teatrais<br />
Seus textos não se ocupam apenas da filosofia, mas<br />
também de temas sociais.<br />
Não só pela extensão, mas pela originalidade e<br />
variedade de sua obra, Cícero é considerado o maior<br />
dos escritores romanos e o que mais influenciou os<br />
oradores modernos. Além de ser o maior orador do seu tempo,<br />
foi também, o mestre das letras mais completo de toda a<br />
Antigüidade ocidental.<br />
15
QUINTILIANO (35-96)<br />
Marco Fábio Quintiliano nasceu na Espanha.<br />
Fundamentos Estudou retórica com os maiores mestres de seu<br />
Histórico- tempo e lecionou em Roma durante vinte anos. É<br />
Filosóficos considerado um dos pedagogos mais brilhantes do<br />
da Educação<br />
mundo antigo.<br />
Sua mais significativa obra foi De<br />
institutione oratória (escrita no ano de 95), publicada em 12<br />
volumes, nessa obra, o autor apresentou diretrizes para a<br />
formação cultural dos romanos, desde a infância até a maturidade.<br />
Defendia muito a necessidade de dominar os aspectos técnicos<br />
da educação, sobretudo a formação do orador.<br />
Dizia que o ideal educacional da eloqüência (falar com o<br />
público de maneira convincente) associada à sabedoria, seria a fórmula perfeita para<br />
educar uma pessoa.<br />
Valorizava também a psicologia como instrumento para se conhecer a<br />
individualidade do aluno. Pelo que pudemos ver até então, Quintiliano, não se prendia<br />
apenas às discussões teóricas, pelo contrário, defendia o uso de técnicas de diversas<br />
ciências para a melhoria da educação.<br />
Por falar em melhoria educacional, um aspecto que não se pode esquecer é que<br />
ele também defendia o lúdico no processo ensino-aprendizagem, dizendo que<br />
intercalando recreação com as atividades didáticas, o ensino seria mais<br />
prazeroso.<br />
Achava o estudo em grupo fundamental para<br />
o favorecimento da emulação (busca pelos melhores<br />
postos na escola e na sociedade) e no estímulo<br />
intelectual dos alunos. Incluiu na sua pedagogia<br />
exercícios físicos moderados. Por outro lado não<br />
esqueceu da formação intelectual vigorosa, pois<br />
para ele, o estudo da gramática devia estimular<br />
nos alunos uma escrita clara e elegante.<br />
O trabalho de Quintiliano atravessou as<br />
barreiras do tempo e das fronteiras, fazendo com que sua obra<br />
retornasse com vigor na época do Renascimento em diversos países de língua latina.<br />
16
1.<br />
Leia a citação abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
“<br />
Há, pois em Roma, uma ciência do direito, seu conhecimento<br />
é um precioso bem, ao qual aspiram muitos jovens romanos: abre<br />
uma promissora carreira; mas ainda que a eloqüência, o direito<br />
aparece como uma panacéia, o meio de distiguir-se e ascender.<br />
Surgem naturalmente, para atender a esse desejo, o mestre de direito<br />
(magister iuris) e o ensino do direito.<br />
”<br />
(J. Marrou apud ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 69)<br />
a. Levando-se em conta que a citação é da época Imperial romana, por que podemos afirmar<br />
que o direito era uma carreira promissora?<br />
b. Explique a originalidade do ensino do direito para a cultura romana.<br />
2.<br />
Compare a pedagogia de Quintiliano com a de Cícero, em seguida escreva sobre o<br />
tipo de homem que cada um desses educadores tinham em mente.<br />
17
A Tradição Medieval<br />
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
O poder cultural da Igreja Católica se estabelece no mundo<br />
ocidental e vai marcar profundamente a vida das pessoas.<br />
Queda do Império Romano e<br />
as Bases do Cristianismo<br />
No século V, o Império Romano do Ocidente caiu diante dos povos bárbaros.<br />
Estava fundada assim uma “nova ordem” na vida social européia: a Idade Média. Esse<br />
fato vai modificar completamente a base educacional até então existente.<br />
Em meio à destruição do Império Romano, a Igreja Católica<br />
conseguiu manter-se como instituição social. Solidificou sua<br />
organização e espalhou o cristianismo, preservando ainda, muitos<br />
elementos da cultura greco-romana.<br />
Foi dessa maneira que a Igreja passou a<br />
desempenhar um papel muito importante. Os<br />
únicos letrados da época eram os monges.<br />
Vale ressaltar que nem os nobres nem os<br />
servos sabiam ler. E o que é que isso tem a<br />
ver com a educação? É justamente disso que<br />
falaremos abaixo.<br />
Ora, se a Igreja ficou sendo a única<br />
instituição organizada depois da queda do Império Romano, ela passou a dar as cartas no<br />
jogo do Poder e , acreditando que Saber é Poder, a mesma controlou a Educação, os<br />
princípios morais e jurídicos da sociedade medieval.<br />
O conhecimento passou a ser extremamente valorizado, assim nas bibliotecas<br />
dos mosteiros era executado um trabalho cauteloso e paciente dos monges copistas.<br />
Quem eram esses monges copistas? Tradutores experientes que passavam para o latim<br />
(idioma dos romanos, adotado pela Igreja) textos selecionados da literatura e da filosofia<br />
grega. Você deve estar a se perguntar: que mal há nisso? Em se traduzir textos a partir<br />
de um trabalho meticuloso? Ora o que acontecia era que esses conhecimentos não<br />
eram partilhados com o grande público. Deste modo, havia um controle rigoroso, com<br />
relação às leituras permitidas ou proibidas, com a finalidade de preservar o poderio da<br />
Igreja.<br />
Ideal forma<br />
ormativ<br />
tivo e organização<br />
da Educação Medieval<br />
A partir do século VIII, os Feudos se espalharam pela Europa, houve um<br />
enfraquecimento acentuado do comércio, provocando atraso econômico. Esse cenário<br />
dificultou o aprendizado das pessoas, e mesmo na Igreja muitos padres se descuidaram<br />
da formação intelectual. Por outro lado, o Estado (enfraquecido) ainda iria precisar do<br />
Clero culto para a execução e organização dos trabalhos administrativos.<br />
As escolas medievais não possuíam o formato das escolas que conhecemos hoje,<br />
as aulas podiam ser ministradas ao ar livre e a maioria esmagadora delas era ligada á<br />
Igreja Católica (escolas monacais e catedralícias). E o que se ensinava nessas escolas?<br />
O conteúdo do ensino era o estudo clássico, isto é, as “artes do homem livre”, bem<br />
diferente das “artes mecânicas do homem servil”. Essas artes eram baseadas em algumas<br />
18
disciplinas, que vinham desde os tempos dos sofistas gregos. Na Idade Média elas<br />
constituíram o trivium e o quadrivium.<br />
O trivium (gramática, retórica e dialética), corresponderia atualmente ao ensino<br />
médio era mais comum e de caráter mais popular, encontrava-se abaixo do quadrivium<br />
(geometria, aritmética, astronomia e música) que seria uma categoria superior de ensino.<br />
Assim o conteúdo de ensino passou a ser chamado de “as sete arte liberais e dividiamse<br />
em o trivium e o quadrivium, que estão brevemente resumidos na tabela abaixo:<br />
TRIVIUM<br />
Estudo de gramática, retórica e<br />
dialética corresponderia atualmente ao<br />
ensino médio era mais comum e de<br />
caráter mais popular, menos complexo<br />
que o quadrivium.<br />
QUADRIVIUM<br />
Estudo de geometria, aritmética,<br />
astronomia e música, era considerada como<br />
uma categoria superior de ensino.<br />
Geralmente só a elite econômica tinha<br />
acesso ao mesmo.<br />
Apesar de fortemente ligadas ao catolicismo, as escolas monacais e catedralícias,<br />
de início, educavam os burgueses, mas em seguida estes procuraram uma educação<br />
que atendesse aos objetivos da vida prática. Alterações importantes no<br />
sistema educacional só vão ocorrer por volta do século XI, com o<br />
fortalecimento do comércio, isso resulta em algumas coisas<br />
importantes para a educação. Uma delas foi o surgimento das<br />
escolas seculares. Com efeito, o desenvolvimento do comércio<br />
faz brotar novamente a necessidade de se aprender a ler,<br />
escrever e calcular. Nessas escolas burguesas, acontece<br />
uma forte contestação à Igreja, pois as mesmas se opunham<br />
ao ensino puramente religioso. Na verdade essas escolas<br />
queriam uma proposta ativa, que atendesse aos interesses<br />
da classe burguesa.<br />
A educação medieval vai sofrer mudança<br />
novamente por volta do século XII, pois a sociedade vai<br />
ficando cada vez mais complexa. Assim houve ampliação<br />
dos estudos (filosofia, teologia, leis e medicina);<br />
surgimento de mestres especializados; exigência de<br />
provas para a aquisição dos títulos de bacharel,<br />
licenciado e doutor e por fim o surgimento das<br />
universidades.<br />
Por outro lado, na época medieval a maior parte<br />
das mulheres não tinham acesso à educação<br />
formal. Apesar de trabalharem arduamente ao lado<br />
do marido, continuariam analfabetas. As meninas<br />
nobres aprendiam alguma coisa em seu próprio castelo,<br />
ocasião em que recebiam aulas de artes domésticas. Quando surgiram as escolas<br />
seculares, as meninas burguesas, começaram a ter acesso à educação. Porém nos<br />
mosteiros (alunas internas) e nos educandários (alunas externas) as meninas aprendem a<br />
ler, escrever, fazer artes da miniatura executar cópia de manuscritos (raramente).<br />
Já que somos educadores ou futuros educadores, é bom nos perguntar quem eram<br />
esses mestres medievais? Os pedagogos – no sentido exato da palavra – não aparecem<br />
na época medieval. As questões pedagógicas eram objeto de reflexão de qualquer pessoa<br />
que se dedicasse à interpretação dos textos sagrados, na preservação dos princípios<br />
19
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
religiosos, no combate à heresia e na conversão dos infiéis. A principal<br />
função da educação era a salvação da alma e a vida eterna.<br />
Por conseguinte, no final do período medieval, com a ampliação do<br />
comércio e por influência da burguesia, começam a haver transformações<br />
que irá determinar os novos rumos da ciência, da literatura, da educação.<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. Faça um comentário sobre os valores educacionais cultivados durante a Idade Média<br />
e sua validade ou não para o mundo atual:<br />
2.<br />
Qual era a importância do conhecimento e como se deu a gestão do mesmo por<br />
parte da Igreja Católica no período Medieval?<br />
MAIS ALGUMAS QUESTÕES PARA VOCÊ PENSAR:<br />
Questão I:<br />
Leia a citação abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
A educação do homem medieval ocorreu de acordo com os<br />
grandes acontecimentos da época, entre eles a pregação apostólica<br />
do século I depois de Cristo [...] surge um novo tipo histórico de<br />
educação, uma nova visão de mundo e de vida. As culturas<br />
precedentes , fundadas no heroísmo, no aristocratismo e na<br />
existência terrena foram substituídas pelo poder de Cristo, critério<br />
de vida e verdade [...]<br />
GADOTTI, 20<strong>02</strong>, pp. 51-52<br />
“<br />
”<br />
20
1.<br />
Proposições sobre a citação :<br />
Você saberia citar mais alguns dos grandes acontecimentos que o autor se<br />
refere na linha dois do texto?<br />
2.<br />
A partir das informações do texto e nos estudos desenvolvidos no tema 1 deste<br />
primeiro bloco temático, faça uma comparação entre a educação greco-romana e a<br />
medieval assinalando suas mudanças e permanências:<br />
A EDUCAÇÃO DO MUNDO RENASCENTISTA À<br />
CONTEMPORANEIDADE: EM BUSCA DO RACIONALISMO<br />
O Humanismo Cristão No Processo Educativo<br />
A retomada dos valores greco-romanos acontece<br />
no período entre os séculos XV e XVI e é denominado<br />
de Renascimento, que provoca um movimento<br />
conhecido como humanismo. Por conseguinte, nas<br />
primeiras décadas do século XVI, o movimento de<br />
Reforma Religiosa, detona com toda a sua força, dando<br />
lugar a profundas mudanças político-religiosas.<br />
O Nascimento de Vênus<br />
BOTTICELLI, Têmpera sobre tela (1485)<br />
A EDUCAÇÃO PROTESTANTE DE MARTINHO LUTERO (1483-1546)<br />
Alemão da região da Saxônia se tornou mestre em Filosofia, Mais<br />
tarde, ingressou no convento dos agostinianos, onde em 1507 ordenouse<br />
sacerdote e posteriormente doutorou-se em teologia.<br />
O movimento de Reforma Religiosa, inicia-se na Alemanha<br />
durante o século XVI e foi liderado por Martinho Lutero. Esse<br />
movimento se estendeu não só pelo território alemão, mas por boa<br />
parte da Europa central e do norte.<br />
21
A educação encontrou local privilegiado na Reforma por ser utilizada<br />
como um importante mecanismo para a divulgação da nova religião<br />
protestante. Tanto é que um dos primeiros pressupostos da Reforma é oferecer<br />
Fundamentos iguais condições para todos os homens lerem e<br />
Histórico- interpretarem a Bíblia.<br />
Filosóficos No entanto, a primeira conseqüência desse<br />
da Educação movimento na área educacional, foi a fundação da<br />
educação pública moderna, medida que visava<br />
reagir contra o poderio da educação católica, já que esta última<br />
se dedicava às escolas confessionais pagas. Vejamos a seguir<br />
as principais propostas da Reforma Protestante para o campo<br />
educacional:<br />
aspirava a implantação da escola primária para todos, para camponeses e artesãos;<br />
defendia a educação pública e universal, sugerindo ainda que as autoridades de<br />
cada cidade assumissem tal tarefa;<br />
condenava a aplicação de castigos físicos e crítica a erudição e a ênfase na<br />
retórica da Escolástica;<br />
propunha uma educação mais moderna e pragmática, incluindo no currículo:<br />
exercícios físicos, jogos e canto.<br />
A reação dos católicos foi imediata que propuseram a criação de ordens religiosas.<br />
Assim a Ordem dos jesuítas viria a exercer grande influência não só na concepção da escola<br />
tradicional européia como também na constituição do homem brasileiro.<br />
A EDUCAÇÃO JESUÍTICA<br />
A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loyola (1491-1556)<br />
em 1534. Foi a mais poderosa organização da Igreja<br />
católica durante muitos séculos e ainda na atualidade<br />
ocupa posição de destaque no Vaticano. As principais<br />
mudanças propostas durante a Contra-Reforma<br />
estão listadas abaixo:<br />
Concilio de Trento (1545-1564);<br />
Fundação da Companhia de Jesus<br />
(1534);<br />
Restabelecimento do Tribunal da<br />
Inquisição (1538).<br />
Na educação, exerceu grande influência, pois substituiu a ação de outras instituições<br />
católicas que entraram em decadência por conta da Reforma Protestante, a exemplo<br />
das escolas monásticas e catedralícias. De certa forma foram os colégios e as<br />
universidades dos jesuítas que, nesta época, vão ser os mecanismos mais importantes<br />
para conter a saída de fiéis do catolicismo.<br />
A educação dos jesuítas é regida pelo Ratio Studiorum. Como era a organização<br />
dos jesuítas no campo educacional? Para começar existia uma forte hierarquia nos<br />
22
colégios: cada estabelecimento era um dirigido por um Reitor, auxiliado por um Prefeito de<br />
estudos, que era quem de dirigia a instituição e fiscalizava os professores. Geralmente, os<br />
colégios dividiam-se em duas alas:<br />
1<br />
2<br />
estudos inferiores;<br />
estudos superiores (de caráter teológico e diplomava em nível universitário).<br />
E o que os alunos estudavam? A base estava nos clássicos. Os Estudos assim<br />
estavam divididos:<br />
Inferiores: latim e grego, gramática e matemática;<br />
Superiores: teologia, filosofia e retórica.<br />
Essa pedagogia vai reinar no Brasil Colônia por mais de 300 anos. O método de ensino<br />
consistia no seguimento de alguns passos: preleção, explicação, repetição e composição.<br />
A escola jesuítica enfatizava a, memorização e dava especial importância à<br />
retórica e à redação, assim como à leitura dos clássicos e às artes cênicas. Entre os<br />
alunos a emulação e os castigos físicos eram constantes, castigava-se ou premiava-se<br />
de acordo com a disciplina e o rendimento escolar, o professor era considerado o detentor<br />
de todo o saber e o transmissor absoluto dos conteúdos, cabendo aos alunos obedecêlo<br />
em todas as circunstâncias.<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. Compare a proposta educacional de Lutero com a da Companhia de Jesus,<br />
destacando as semelhanças e as diferenças entre as mesmas.<br />
2.<br />
Explique porque durante os séculos XVI e XVII a religião influenciou de maneira efetiva<br />
os rumos da educação, inclusive o Brasil.<br />
23
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
O Renascimento e a Educação Moderna<br />
Uma nova visão de mundo se estabelece: a educação do sujeito<br />
racional.<br />
O Surgimento da escola moderna<br />
A partir do Renascimento, o espírito religioso medieval começou a cair,<br />
seu prestígio diminuiu, a Igreja perdeu o sua função de explicar o mundo dos<br />
homens. Assim o próprio homem procurava<br />
explicar a realidade que o cercava. Imagine que você<br />
durante muitos anos vivesse preso em uma sala fechada, e<br />
agora tivesse a oportunidade de viver em um campo aberto;<br />
provavelmente a sensação seria muito boa e as<br />
possibilidades de experimentar coisas emocionantes<br />
também. Essa analogia serve para explicar como o<br />
homem renascentista se sentia na área conhecimento;<br />
agora eles tinham um campo aberto para correr, investigar<br />
e chegar as suas conclusões, sem o medo imposto pelos<br />
dogmas religiosos.<br />
Essa nova maneira de encarar a doutrina religiosa<br />
auxiliou a evolução das ciências humanas. O homem, desenvolvendo o pensar crítico,<br />
substitui uma visão direcionada pela possibilidade da indagação.<br />
Esse procedimento representa a tendência ao antropocentrismo isto é, o resgate<br />
da dimensão humana sob todos os aspectos. Um deles é entender o sujeito do<br />
conhecimento, questão predominante na Idade Moderna. René Descartes, Francis Bacon,<br />
John Locke, David Hume, dentre outros, são filósofos que discutem a teoria do<br />
conhecimento e ocupam-se com o problema do método, isto é, com os procedimentos<br />
da razão na investigação de uma determinada realidade.<br />
Através da ciência moderna, foram se constituindo, então, uma nova teoria da<br />
mente, uma nova visão do saber e uma nova imagem do mundo que imprimiriam no<br />
mundo uma mudança radical no âmbito da educação. Hoje em dia é bastante comum<br />
nos perguntarmos qual o método utilizado por tal professor? Sua didática é boa? Isso<br />
começou a se construir na idade moderna, ou seja a ação científica e pedagógica passou<br />
a contar com opções diferenciadas do modelo tradicional. Passaram então, os pedagogos<br />
a se interessarem, cada vez mais, pelo método e realismo em educação.<br />
Apesar disso, maioria das instituições educativas ainda permaneciam<br />
tradicionais,embora assumissem uma nova feição. Vejamos algumas de suas principais<br />
características:<br />
ênfase na formação moral;<br />
renovação do pensamento educativo;<br />
novos métodos de teorização;<br />
uso de línguas modernas;<br />
revalorização da educação física.<br />
Essa pedagogia moderna contrariava a educação Antiga/Medieval, excessivamente<br />
formal, retórica e conteudista. Ela Preferia usar o rigor das ciências naturais (física, biologia,<br />
etc.) a permanecer na tendência literária e estética própria do humanismo renascentista.<br />
A pedagogia moderna começa a exigir uma didática, que possa partir da compreensão<br />
das coisas. Os educadores leigos e religiosos se empenham na organização da escola.<br />
A escola moderna propunha o seguinte: descobrir uma forma de ensinar mais<br />
acelerada e mais segura.<br />
24
Principais Educadores da Modernidade<br />
João Amós Comênio (1592-1670)<br />
Nascido na Moravia, vai propor um sistema articulado de<br />
ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens ao<br />
saber. O maior educador e pedagogo do século XVII produz<br />
uma obra fecunda e sistemática, cujo principal livro é Didática<br />
magna. Principais propostas de Comênio:<br />
*<br />
*<br />
educação realista e permanente;<br />
método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga;<br />
ensinamento a partir de experiências cotidianas;<br />
conhecimento de todas as ciências e de todas as artes;<br />
ensino unificado.<br />
Segundo ele, seriam assim distribuídas.<br />
Para ele o processo educativo teria as seguintes fases: Escola Materna cultivaria<br />
os sentidos e ensinaria a criança a falar; a Escola Elementar desenvolveria a língua<br />
materna, a leitura e a escrita, incentivando a imaginação e memória, além do canto, das<br />
ciências sociais e da aritmética. A Escola latina se destinaria, sobretudo ao estudo das<br />
ciências. Para os Estudos Universitários recomendava trabalhos práticos e viagens. Aí<br />
se formariam os guias espirituais e os funcionários. À Academia só deveriam ter acesso<br />
os mais capazes.<br />
Assim, Comênio deseja ensinar “tudo a todos”. Atingir o ideal de uma educação<br />
ideal.<br />
John Locke (1632-1704)<br />
Inglês que criticava em sua teoria pedagógica o racionalismo<br />
de Descartes, desenvolve uma concepção da mente infantil e da<br />
educação.<br />
Locke valorizava:<br />
a educação física;<br />
o estudo da contabilidade e escrituração comercial;<br />
as línguas modernas e o cálculo.<br />
*<br />
Para ele a finalidade da educação se concentrava no caráter, muito mais<br />
importante que a formação intelectual. Enfim, propõe o tríplice desenvolvimento físico,<br />
moral e intelectual. Segundo Locke, devia-se evitar a escola, onde a criança pudesse<br />
ser bem acompanhada ou vigiada.<br />
Ao contrário de Comênio, Locke não defendia a universalização da educação,<br />
sua pedagogia era elitista, pois a formação dos que irão governar e daqueles que<br />
serão governados devia ser distinta.<br />
Com efeito, no século XVII, o empenho é imenso na tentativa de institucionalizar<br />
a escola. Efetivamente, o direito do ensino ainda pertence à Companhia de Jesus, que<br />
adentra o século XVIII com mais de 600 colégios distribuídos pelo mundo. Mesmo<br />
sendo organizados e competentes, os jesuítas representam o ensino tradicional mais<br />
conservador.<br />
25
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
Entretanto surgem outras congregações religiosas, desenvolvendo<br />
um trabalho mais apropriado ao espírito moderno. Podemos citar os<br />
oratorianos, e os jansenistas, que se opõem aos jesuítas.<br />
Por conseguinte as academias do século XVI, não são escolas<br />
institucionalizadas, mas se propõe a atender aos interesses da nobreza na<br />
formação cavalheiresca de seus filhos. Há uma intensificação dessas<br />
academias, no século XVII, pois elas representam a mudança dos padrões<br />
conservadores no ensino, para uma concepção mais realista.<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1.“Ensinar tudo a todos”, esse era um dos lemas de Comênio, explique em que medida<br />
a proposta dele se mostrava inovadora para a época.<br />
2.<br />
2.”Um professor deve amar seu aluno”<br />
LOCKE, J. O autocontrole é um elemento vital na educação. In: GADOTTI, 20<strong>02</strong>, p. 86.<br />
a. Faça um comentário sobre a afirmação de Locke.<br />
b. Na sua opinião este pensamento é ainda válido?<br />
26
O Iluminismo e o processo educativo<br />
E surgem as luzes do conhecimento ocidental, será que realmente iluminava-se a<br />
vida das pessoas de maneira igual?<br />
A Organização Educacional<br />
Apesar dos progressos evidentes que discutimos no conteúdo anterior com relação<br />
ao processo educativo, é bom salientar que os mesmos ainda são limitados, pois não<br />
existia ainda um plano global ou mesmo uma teoria educacional que realmente merecesse<br />
ser chamada de avançada.<br />
Os movimentos de reforma educacional eram isolados e dependiam<br />
de grupos de voluntários ou mesmo de pessoas que aspiravam objetivos<br />
bem limitados e sem perspectivas mais abrangentes. Por conseguinte,<br />
na segunda metade do século XVIII, muitos desses esforços não oficiais<br />
(que não erma do Governo) entraram em decadência.<br />
E quem eram as pessoas que tinham acesso a esse sistema de<br />
ensino? Infelizmente “as luzes” não conseguiam mudar ainda a realidade<br />
dos mais pobres, assim o sistema educacional estava fundamentado<br />
numa estrutura rígida de classes sociais, ou seja os mais ricos é que<br />
estudavam mais, tanto em qualidade como em quantidade.<br />
Mas as rápidas transformações intelectuais, econômicas, sociais<br />
e políticas no Ocidente solicitavam novas perspectivas no processo<br />
educativo e o movimento Iluminista nesse sentido ajudou na reação da<br />
sociedade contra o autoritarismo religioso e político e, em menor escala,<br />
contra as diferenças sociais. No núcleo desse movimento encontra-se<br />
uma fé inabalável na ciência, na razão humana e no próprio homem.<br />
Assim sendo, no final do século XVIII, a educação começa a dar sinais de um<br />
direcionamento para a cidadania, mas era bastante evidente ainda as diferenças de classe<br />
nessa educação: a classe dirigente receberia instrução para governar e a classe trabalhadora<br />
seria educada o bastante para trabalhar, em outras palavras o sistema educacional ainda<br />
não era democrático. Essa escola em nível de infra-estrutura já começava a se parecer<br />
com as escolas que conhecemos na atualidade: vão estar divididas em classes de pessoas<br />
mais ou menos da mesma faixa etária, vai dispor as carteiras dos alunos em filas, vai<br />
contar com prédios próprios para a prática pedagógica, as aulas vão ser ministradas por<br />
profissional qualificado e vai estar submetida a um sistema nacional de ensino público.<br />
Para refletir...<br />
Na sua opinião por que o movimento conhecido<br />
como Iluminismo foi importante para a educação?<br />
Principais educadores do Iluminismo<br />
A Pedagogia de Rousseau (1712-1778)<br />
O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, nasceu em Genebra, na<br />
Suíça. Suas principais obras são: Discurso sobre a origem da desigualdade<br />
entre os homens, Do contrato social, e Emílio ou Da educação (1762).<br />
27
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
“O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Comumente se<br />
costuma dizer que Rousseau foi um revolucionário na pedagogia, já que delineou<br />
um método liberal de educação com a finalidade de desenvolver a criança sem<br />
destruir seu estado “natural”. O núcleo central dos interesses pedagógicos passa<br />
a ser a criança e não mais o professor.<br />
Também, ressalta a especificidade da criança, que não deve ser<br />
encarada como um adulto em miniatura.<br />
Principais propostas da pedagogia de Rousseau:<br />
homem ser educado para si mesmo e não mais para Deus ou para a vida<br />
social;<br />
educação afastada do artificialismo das convenções sociais, espontânea original;<br />
recusa o intelectualismo;<br />
valoriza os sentidos, as emoções, os instintos e os sentimentos;<br />
valoriza a experiência, o ensino ativo voltado para a vida, para a ação;<br />
teme a educação que põe a criança em contato com os vícios e a hipocrisia.<br />
A pedagogia de Rousseau, incentiva o controle no mundo físico e nas relações<br />
com as pessoas. Alguns teóricos acham que a educação de Rousseau é elitista, pois ele<br />
defende que a criança seja acompanhada por um preceptor, procedimento próprio dos<br />
ricos. Outros o acusam de estar defendendo uma educação individualista ao separar o<br />
aluno da sociedade: estaria.<br />
A Pedagogia de Kant<br />
Immanuel Kant (1724-1804), maior representante do<br />
Iluminismo alemão, realizou em suas obras a análise das<br />
possibilidades do conhecimento da razão humana situando<br />
os limites e as condições nas quais a razão pode conhecer o<br />
mundo.<br />
Kant dá à educação grande importância podemos<br />
verificar isso nas obras mais clássicas, a Crítica da razão<br />
pura, na qual desenvolve a crítica do conhecimento, e<br />
a Crítica da razão prática, que faz o exame da<br />
moralidade. O problema do conhecimento humano é uma das mais importantes questões<br />
levantadas por Kant.<br />
Ele retoma o debate entre os racionalistas e os empiristas. Condena os empiristas,<br />
segundo os quais tudo o que conhecemos vem dos sentidos, e discorda dos racionalistas,<br />
para os quais tudo o que pensamos vem de nós. Segundo ele, o conhecimento é uma<br />
súmula dos conteúdos particulares dados pela experiência e da estrutura da razão. O<br />
conhecimento acontece na relação sujeito e objeto.<br />
Em suas investigações defende:<br />
a não probabilidade de conhecermos realidades que não passam pelo<br />
conhecimento sensível;<br />
não ser possível dizer nada sobre a alma humana e sobre Deus, pois eles<br />
superam a nossa capacidade de entendimento;<br />
ser impossível provar a existência de Deus.<br />
28
Kant fundamentou a moral na autonomia da razão humana, isto é, na idéia de que<br />
as normas morais devem brotar da razão humana.<br />
Portanto, cabe a educação, ao desenvolver a faculdade da razão, constituir o<br />
caráter moral.<br />
O principal problema do processo educativo consiste em conciliar a submissão ao<br />
livre-arbítrio da criança. Para ele é nos primeiros anos da infância que a criança encontrase<br />
na fase pré-moral. Assim sendo, não há necessidade de inculcar-lhe a moral.<br />
Contudo, na medida em que a criança começa a crescer, o processo de formação<br />
deve tornar-se mais formal e incluir:<br />
a paciência,<br />
a disciplina e<br />
o cultivo das dimensões cognitivas e morais.<br />
É o progresso sistemático desse desenvolvimento controlado da criança em<br />
processo de maturação que Kant procura se dedicar. A disciplina deve inculcar-se a<br />
partir dos cinco ou seis anos de idade.<br />
O impacto de Kant sobre o processo educativo foi profundo, tanto que no século<br />
XX serão reexaminados por vários autores na área da moral e da educação, entre eles<br />
estão Piaget e Habermas.<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1.Identifique as principais propostas de Kant para a educação.<br />
2.<br />
Faça um comentário sobre as seguintes afirmações:<br />
a. “Não se deve fornecer conhecimentos prontos ao aluno, mas ensiná-lo como adquiri-lo,<br />
quando necessário.”<br />
ROSSEAU<br />
29
. “O professor deve acrescentar gentileza em as suas aulas e, por meio de<br />
uma certa ternura em sua atitude, deixar perceber à criança que ela é amada”.<br />
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
JONH LOCKE apud GADOTTI, 20<strong>02</strong>, p. 86<br />
3.<br />
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
A ESCOLA E A DIVISÃO CAPITALISTA DO TRABALHO<br />
Tudo o que acontece dentro da escola - incluindo a escola primária – só pode ser explicado através<br />
do que ocorre fora dos muros escolares, isto é, pela divisão social do trabalho.<br />
A divisão capitalista do trabalho caracteriza-se hoje por uma crescente dissociação o trabalho<br />
manual e o trabalho intelectual. De um lado, há uma massa de trabalhadores manuais e empregados<br />
subalternos (operários, funcionários do comércio de escritórios, pessoal de serviços), condenados a realizar<br />
tarefas fragmentadas e rotineiras. De outro, uma minoria de quadros intelectuais, encarregados das tarefas<br />
de criação e planejamento.<br />
A escola capitalista contribui, por sua vez, para reproduzir e aprofundar essa polarização das<br />
qualificações. De fato, a escola alimenta os dois pólos do mercado de trabalho, através de dois fluxos bem<br />
distintos. Em uma extremidade, ela forma um pequeno número de quadros intelectuais nas melhores<br />
escolas secundárias, desembocando nas universidades. Na outra ponta, a escola orienta a formação de<br />
massas trabalhadoras mais ou menos qualificadas e condenadas a vender-se por um salário irrisório aos<br />
donos das grandes corporações industriais, das cadeias de lojas ou dos escritórios.<br />
Eis por que a escola não é única, mas dividida em duas redes de ensino: a rede primária/<br />
profissionalizante e a secundária/superior. Essas redes são estanques, heterogêneas, devido a seu programa<br />
de ensino diferenciado, assim como o estrato social de seus alunos.<br />
Visíveis com clareza a partir da escola secundária com sua preparação de fato, essas duas redes<br />
existem, no entanto, desde a escola primária. É justamente ali, em meio à obscuridade de uma escola<br />
aparentemente única e igual para todos, que a diferenciação se forma e deita raízes. De fato, é a escola<br />
primária que assegura, sob o manto da unidade e da democracia, o essencial da polarização social de uma<br />
geração escolar.<br />
Ora, tudo ocorre como se fosse absolutamente natural... Afinal, sabe-se que há enormes diferenças<br />
entre uma e outra escola; sabe-se ainda que os filhos de operários terão mais dificuldades que os outros<br />
alunos. Mas daí a admitir de forma exata e positiva que a escola primária é local onde se processa a<br />
polarização de classes e compreender as relações entre a escola e a exploração capitalista é dar um salto<br />
grande demais. Entre o curso preparatório e a linha de montagem, o caminho é longo...<br />
( ... ) A divisão capitalista do trabalho; a exploração dos trabalhadores; a extração da mais-valia; a<br />
desqualificação do trabalho; o vai-e-vem do desemprego; o exército industrial de reserva; a crescente<br />
dissociação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual: eis as verdadeiras causas que possibilitam<br />
explicar a estrutura e o funcionamento da escola capitalista. E é preciso procurar na organização capitalista,<br />
isto é fora da escola, as razões de sua divisão em duas redes de ensino, com a conseqüente polarização<br />
operada entre as crianças.<br />
30
No entanto, é esta a realidade e devemos encará-la de frente. A função real da escola não é em<br />
absoluto fazer desabrochar harmonicamente o indivíduo ou desenvolver aptidões pessoais; este é um<br />
sonho abstrato dos psicólogos. Ao contrário, o papel escola é produzir contingentes de mão-de-obra mais<br />
ou menos qualificada para o mercado de trabalho. É a estrutura do mercado de trabalho que pressiona a<br />
escola com toda a sua força, a ponto de imprimir sobre ela sua marca.<br />
BAUDELOT, Christian e ESTABLET, Roger. L’ecole primaire…un dossier. Apud<br />
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. S. Paulo: Ática, 20<strong>02</strong>. p.197-198.<br />
4.<br />
Proposição acerca do texto<br />
a. Segundo Baudelot e Establet, qual seria o verdadeiro papel da escola numa<br />
sociedade?<br />
b. No texto existe uma posição clara do autor em relação ao papel que a escola vem<br />
desempenhando na nossa sociedade. Você concorda com a posição do autor? Argumente<br />
e justifique a sua resposta:<br />
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA<br />
CONSCIÊNCIA<br />
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO<br />
O que é Filosofia<br />
Entendendo a origem e o conceito<br />
Com certeza alguma vez em sua vida você já ouviu falar de um dos ramos do saber<br />
chamado Filosofia, não raramente, as pessoas têm uma péssima impressão sobre esta<br />
ciência, mas por que? No nosso entender existem basicamente dois fatores que explicam<br />
isso. No primeiro caso, os próprios especialistas da área, ou seja, os filósofos profissionais<br />
são os responsáveis por esta imagem negativa. Em primeiro lugar, porque muitos deles<br />
complicam as suas teorias a tal ponto que nós seres humanos “comuns”, não os entendemos<br />
ou não conseguimos ver sentido algum no que eles estão transmitindo com seus estudos.<br />
Isso ocorre por causa do emaranhado de conceitos e teorias complexas formuladas pelos<br />
mesmos, que exigem um alto grau de abstração para um entendimento satisfatório.<br />
31
Um outro fator que pode nos afastar da filosofia é a falsa idéia que<br />
Fundamentos outras pessoas (dessa vez os filósofos amadores) criaram em relação a este<br />
Histórico- ramo do saber: Trata-se de uma imagem muito simplista acerca da filosofia,<br />
Filosóficos veiculada amplamente por pessoas interessadas em fazer com que a<br />
da Educação sociedade não desenvolva o espírito reflexivo. Daí algumas considerações<br />
pejorativas aparecem com freqüência, tais como: “filosofia é qualquer tipo de<br />
teoria vazia que não presta para nada, apenas para complicar o que já era complicado”.<br />
Estas e outras questões pretendem ser respondidas ao longo do nosso curso. A seguir,<br />
tentaremos explicar e discutir os objetivos e a importância da Filosofia e você é nosso<br />
convidado.<br />
A Filosofia na verdade traduz o pensar, o sentir e o agir da vida humana na sua mais<br />
alta expressão (LUCKESI, 2000), ela não é de maneira nenhuma algo morto e, que não<br />
serve para nada e nem pura abstração vazia de sentido. A Filosofia surgiu na Grécia por<br />
volta do século VI a.C., a partir do trabalho dos filósofos que antecederam Sócrates. Isso<br />
assinalou a passagem da consciência mítica/religiosa para a consciência racional/ filosófica.<br />
Esse processo não ocorreu<br />
mecanicamente, nem de<br />
imediato o que exigiu dos seres<br />
humanos um amadurecimento<br />
intelectual. Esses dois tipos de<br />
consciência coexistiram na<br />
1<br />
Grécia, assim como,<br />
guardadas as devidas<br />
proporções, coexistem na<br />
nossa sociedade.<br />
Quando lemos um texto<br />
de filosofia, na verdade,<br />
estamos nos aproximando de<br />
2<br />
um entendimento que o autor<br />
construiu a partir da sua visão<br />
de mundo, esse trabalho foi<br />
construído a partir dos valores<br />
e aspirações que dão sentido<br />
3<br />
ao mundo.<br />
Nesse sentido pode-se<br />
afirmar que os filósofos,<br />
refletem também sobre o<br />
cotidiano dos seres humanos<br />
e podem organizar um quadro<br />
coerente e organizado para o<br />
entendimento da realidade que nos cerca.<br />
A filosofia clássica Antiga pode ser<br />
dividida em três grandes etapas:<br />
Período pré-socrático (sécs. VII e VI a.C.):<br />
os filósofos pré-socráticos discutem de forma<br />
racional sobre a natureza, distanciando-se das<br />
explicações míticas do período anterior. Dentre os<br />
pré-socráticos, podemos destacar dois: Heráclito<br />
e Parmênides.<br />
Período socrático ou clássico (sécs. V e<br />
IV a.C.): o núcleo cultural passa a ser Atenas; nesse<br />
período, destacam-se Sócrates, Platão, e<br />
Aristóteles; também, fazem parte os sofistas.<br />
Período pós-socrático (sécs. III e II a.C.):<br />
esse período é caracterizado pela expansão dos<br />
macedônios sobre os territórios gregos e formação<br />
do império de Alexandre Magno; após a morte do<br />
mesmo, começa a época helenista, marcada pela<br />
influência oriental.<br />
Na Idade Média (476 a 1453), as diversas abordagens da Filosofia continuaram<br />
metafísicas, ou seja entendia a educação como um processo de do aperfeiçoamento<br />
humano, no qual o indivíduo é estimulado a despertar as suas potencialidades. Assim<br />
acreditava-se em um “modelo” de Homem que a criança deveria alcançar, atualizando a<br />
essência que já existia em si, transformando-a em potência. Alguns filosófos se destacaram<br />
nesta época, destacaremos dois deles: São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.<br />
32
*<br />
Patrística<br />
A Patrística teve como principal figura Santo<br />
Agostinho (354-430), seu pensamento, reativa no cristianismo<br />
os princípios da clássica filosofia platônica mas<br />
salvaguardando as características originais da teologia e da<br />
moral cristã. A finalidade do processo educativo é constituída<br />
de conhecimento e fé.<br />
Ele aborda o processo educativo em três obras: Sobre<br />
o Educador (389), Sobre Aqueles que Ensinam<br />
ao Povo Simples (399) e Sobre a Doutrina<br />
Cristã. (397-426). A questão principal do<br />
processo educativo é o fato de o<br />
verdadeiro conhecimento ser inato,<br />
depositado na alma por Deus. Assim, é<br />
papel do mestre auxiliar o aluno, tornar<br />
revelada a verdade preexistente, latente,<br />
elevando-se acima do mundo material, que<br />
é simples aparência. O processo<br />
educativo implica em auxílio mútuo<br />
entre o mestre terrestre e o Deus.<br />
*<br />
Escolástica<br />
A Escolástica, estudo obrigatório dos teólogos. Nela a razão<br />
encontra-se a serviço da fé. Seu principal representante é Santo<br />
Tomás de Aquino (1225-1274), doutor da Escolástica que fez<br />
da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da fé cristã.<br />
Ela era lecionada nas escolas medievais. Os teólogos da<br />
Escolástica procuram amparar a fé na razão, com o fim de melhor<br />
justificar as crenças, converter a população que não<br />
era católica e ainda combater muçulmanos e<br />
judeus.<br />
Em sua vida Santo Tomás escreve<br />
uma obra importante para a educação: De<br />
Magistro, na qual ele afirma que a<br />
educação é vista como uma atividade<br />
potencializadora daquilo que já existe de<br />
maneira adormecida no aluno, esse<br />
processo se daria com o auxílio do<br />
mestre. Sem dúvida a filosofia<br />
medieval é fascinante, mas não<br />
podemos nos estender no assunto.<br />
33
Acompanhe abaixo um quadro comparativo entre a Escolástica e a<br />
Patrística:<br />
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
Patrística<br />
Defesa dos dogmas<br />
católicos, luta no combate às<br />
heresias e na conversão dos<br />
considerados povos pagãos,<br />
filosofia dos padres.<br />
Escolástica<br />
Adaptação do pensamento<br />
aristotélico aos interesses da religião,<br />
tinha Jesus como o modelo de mestre<br />
e educador, o objetivo mais<br />
importante seria formar o homem na<br />
Fé, essa filosofia era usada nos<br />
colégios e universidades católicas<br />
(modelo tomista/aristotélico)<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. Explique as principais semelhanças e diferenças que existem entre as abordagens<br />
do real:<br />
2.<br />
Porque podemos afirmar que a filosofia é importante para a humanidade? Argumente<br />
e justifique a sua resposta:<br />
3.<br />
3.Descreva as principais diferenças entre a Patrística e a Escolástica:<br />
34
O Papel do Filósof<br />
ilósofo o e ato de Filosof<br />
ilosofar<br />
A principal tarefa do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela,<br />
descortinando seus significados mais profundos, ou seja descobrindo o que está por trás<br />
das aparências. Para o filósofo, refletir significa pensar de maneira organizada,<br />
sistemática e a partir de uma metodologia, o que já foi pensado. Nesse sentido, refletir,<br />
seria fazer o próprio pensamento retornar, para assim termos uma melhor compreensão,<br />
um maior entendimento de determinado assunto que se apresenta.<br />
A reflexão só é considerada uma atitude própria da Filosofia, quando é feita de<br />
forma radical, rigorosa e em conjunto. Assim, a filosofia é considerada radical porque<br />
investiga um problema até as suas raízes, ou seja quando investiga um problema não se<br />
preocupa apenas em entender somente o efeito,<br />
mas sim as causas, isto é as origens, a raiz que<br />
originaram aquele efeito. Daí conclui-se que a<br />
filosofia é radical enquanto explicita os fundamentos<br />
do pensar e do agir.<br />
Tendo em vista que a filosofia é um modo de<br />
pensar, um posicionamento frente as questões que o<br />
mundo nos apresenta, ela não pode ser considerada como<br />
um conjunto de saberes pronto e acabado, muito menos<br />
fechado em si mesmo. Desta forma o ato de filosofar<br />
começa por inventário dos valores (éticos, estéticos<br />
e morais) que dão rumo à nossa vida. Depois dessa<br />
primeira etapa é preciso criticar tais valores sob todos os ângulos, ou seja a sua base de<br />
sustentação, descobrir a sua essência. Na terceira etapa é necessário reconstruir os valores<br />
ou seja, construí-los criticamente para a orientação de nossas vidas em sociedade.<br />
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1.<br />
O filósofo<br />
Uma vez aceito o princípio de que todos os homens são “filósofos”, isto é, que entre os filósofos<br />
profissionais ou técnicos e os outros homens não há diferença qualitativa, mas apenas quantitativa (e<br />
neste caso quantidade tem um significado particular que não pode ser confundido com soma aritmética, já<br />
que indica maior ou menor homogeneidade. Coerência e logicidade, etc. [...]<br />
O filósofo profissional ou técnico não só pensa com maior rigor lógico, com maior coerência, com<br />
maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe<br />
explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do<br />
ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas de solução, etc. Tem, no<br />
campo do pensamento a mesma função que os especilistas nos diversos campos científicos.<br />
GRAMSCI Apud ARANHA 20<strong>02</strong>, p. 109<br />
35
a. De acordo com o texto qual é a diferença básica entre o filósofo<br />
profissional e o não profissional?<br />
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
b. Descreva como pensa o filósofo profissional?<br />
As formas de abordar o mundo<br />
São várias as formas pelas quais o homem entra em relação com o mundo que o<br />
rodeia, a depender das circunstâncias e necessidades, bem como do tipo de cultura em<br />
que ele está inserido.<br />
O homem, ao longo de sua existência na Terra, tem procurado<br />
conhecer o mundo através de várias formas: a mais antiga é a que<br />
ficou conhecida como consciência mítica, predominantemente<br />
religiosa e ligada a rituais mágicos, buscando soluções para os<br />
problemas concretos da humanidade geralmente a partir de apelos<br />
à divindades.<br />
Com o rompimento das organizações tribais e a crescimento<br />
das formas de organização humana, surge uma outra abordagem<br />
conhecida como do senso comum, nela as pessoas passam a<br />
reelaborar a herança cultural recebida da<br />
comunidade. Mais ou menos a partir do<br />
século XVII a parece a abordagem<br />
científica que através de toda uma<br />
metodologia vai estabelecer leis e teorias científicas afim de<br />
delimitar os seus objetos de estudo. Existe também uma outra<br />
abordagem do real que é a concepção filosófica, na qual se<br />
busca compreender o mundo criticamente parti do<br />
pensamento lógico e racional.<br />
36
Vejamos a seguir um quadro resumo com estas abordagens do real :<br />
AS FORMAS DE ABORDAR O MUNDO REAL<br />
MÍTICA<br />
Saber baseado na magia, busca de Segurança via forças<br />
ocultas;<br />
Presença de rituais mágicos no cotidiano.<br />
SENSO COMUM<br />
Saber fragmentado, espontâneo; não crítico, impreciso,<br />
incoerente;<br />
De início procura compreender o mundo com base na<br />
tradição dos costumes, na experiência social;<br />
Posteriormente pode se articular com interesses políticos,<br />
econômicos e religiosos.<br />
CIENTÍFICA<br />
Saber bem elaborado, objetivo, usa a experimentação,<br />
investigação de causa e efeito; coerente e intencional;<br />
Baseia-se na lógica; busca a utilização de métodos racionais<br />
e o desenvolvimento de teorias;<br />
FILOSÓFICA<br />
Compreensão crítica do mundo;<br />
Busca esclarecimentos coerentes, racionais e lógicos;<br />
Reflete sobre as questões buscando superar as aparências.<br />
As abordagens descritas anteriormente foram o resultado da experiência cultural da<br />
Humanidade e que foi construída ao longo de muitos anos. Cabe ressaltar que uma forma<br />
de abordar o real não invalida a outra. Por exemplo, aquilo que pensamos e desejamos<br />
primeiro se formata na esfera da imaginação, ou seja, nos pressupostos míticos, dessa<br />
forma, o mito serve de alicerce para o trabalho posterior da esfera da razão Não se trata de<br />
aceitar o mito de forma mecânica, afinal podemos, aceita-los ou recusa-los. Quando entramos<br />
em contato com os mitos, podemos usar a reflexão para entendermos os valores, a “moral<br />
da história” que existe em cada um deles e que fundamenta o mesmo, para a partir daí<br />
construirmos um determinado juízo de valor.<br />
37
O que é Educação<br />
O homem é um ser histórico-social, ou seja que efetiva suas relações<br />
Fundamentos mediante práticas culturais complexas ocorridas em determinado tempoespaço.<br />
Sendo assim, nenhuma pessoa consegue se esquivar do processo<br />
Histórico-<br />
Filosóficos educativo. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de uma maneira ou de outra,<br />
da Educação<br />
todos nós envolvemos partes da vida com ela.<br />
O ser humano constrói o seu lastro cultural<br />
a partir do trabalho (através do qual transforma a natureza e a<br />
si mesmo) e dos aspectos culturais (danças,jogos, relações<br />
familiares, etc). O aperfeiçoamento de suas atividades só é<br />
possível através da educação. Assim sendo a mesma é um<br />
fator importantíssimo para a socialização e humanização<br />
dos Homens.<br />
A educação pode ser formal ou informal. Aquela<br />
que acontece no cotidiano, que é realizada através do<br />
aprendizado empírico das tarefas ou seja construída no<br />
dia-a-dia é considerada a educação informal. Essa<br />
categoria é construída, sobretudo, pela observação e<br />
convivência entre os membros de uma sociedade, sem um planejamento prévio, sem local<br />
ou mesma hora determinada. Já a educação formal acontece através de pessoas<br />
especializada, procura selecionar os elementos essenciais para a sua transmissão,<br />
geralmente acontece com planejamento prévio e em local e hora definidos.<br />
Assim, a educação dentro de uma sociedade se revela como um instrumento de<br />
manutenção ou transformação social e não como um fim em si mesma. Deste modo, ela<br />
precisa de pressupostos, de conceitos que possam fundamentar e orientar os seus<br />
caminhos. A sociedade da qual ela está inserida precisa possuir alguns valores que possam<br />
nortear a sua prática.<br />
Portanto, entende-se que a<br />
educação é o processo de<br />
desenvolvimento integral do homem,<br />
isto é, de sua capacidade física,<br />
intelectual e moral, que tem como fim<br />
não só a formação de habilidades,<br />
mas também do caráter e da<br />
personalidade social.<br />
No processo educativo<br />
formal, a transmissão de valores e<br />
conhecimentos se materializa<br />
através da pedagogia (diversos<br />
processos sistematizados de métodos<br />
e diretrizes educacionais). Existiram diversas<br />
pedagogias ao longo da História da Educação. As que mais se destacaram no Brasil foram<br />
três:<br />
a Tradicional: nascida no século XVI;<br />
a Renovada: implantada no início do século XX<br />
a Tecnicista: iniciada na década de 1960.<br />
38
Segue abaixo um quadro comparativo resumido dessas pedagogias.<br />
CARACTERÍSTICAS TRADICIONAL RENOVADA TECNICISTA<br />
CONCEITO DE<br />
EDUCAÇÃO<br />
Assimilação de<br />
conhecimentos.<br />
Construção conjunta<br />
dos conhecimentos.<br />
Direcionamento dos<br />
conhecimentos para a<br />
área industrial.<br />
RELAÇÃO<br />
EDUCADOR /<br />
EDUCANDO<br />
Vertical, o professor<br />
é o transmissor do<br />
conhecimento.<br />
Professor facilitador<br />
do conhecimento, o<br />
aluno é o centro do<br />
processo.<br />
O professor<br />
racionaliza o saber<br />
científico e o aluno<br />
recebe, aprende e fixa<br />
as informações.<br />
FINALIDADE<br />
PRIMORDIAL DA<br />
EDUCAÇÃO<br />
O aluno aprender o<br />
que foi transmitido.<br />
Desenvolvimento<br />
das potencialidades<br />
dos alunos.<br />
Apropriação do saber<br />
científico, exigido pela<br />
sociedade moderna.<br />
MÉTODOS DE<br />
ENSINO<br />
Aula expositiva<br />
centrada no<br />
professor, leitura<br />
repetida, exercícios<br />
de fixação e cópias.<br />
Pesquisa, uso de<br />
vídeo, atividades<br />
lúdicas, aulas<br />
expositivas<br />
participadas.<br />
Aula expositiva,<br />
exercícios práticos,<br />
uso de vídeos, slides,<br />
ensino à distância.<br />
FORMAS DE<br />
AVALIAÇÃO<br />
MAIS<br />
UTILIZADAS<br />
Exames escritos e<br />
arguições com<br />
caráter punitivo.<br />
Seminários, estudo<br />
dirigido,avaliação<br />
escrita,<br />
autoavaliação.<br />
Provas objetivas, minitestes.<br />
CARACTERES<br />
GERAIS DA<br />
ESCOLA<br />
Disciplinadora,<br />
autoritária, rígida,<br />
desprazerosa.<br />
Democrática,<br />
responsável,<br />
interativa e<br />
prazerosa.<br />
Disciplinadora,<br />
racionalista e<br />
ordenada.<br />
É bom que se diga que não queremos que você veja com preconceito nenhuma das<br />
três pedagogias aqui resumidas, criticar as pedagogias,<br />
requer um alto nível de ponderação, pois se a pedagogia<br />
Tradicional não estimula o senso crítico e a criatividade<br />
dos alunos, a Renovada estimula o individualismo no<br />
educando, já a Tecnicista propicia a alienação do Ser<br />
Humano, cabe-nos a reflexão para encontrar uma forma<br />
de atuar na prática.<br />
39
E qual seria a finalidade básica da<br />
educação?<br />
Fundamentos<br />
Histórico- Esta é uma pergunta complexa, pois a finalidade<br />
Filosóficos pode variar bastante ao longo do tempo e a depender da<br />
da Educação cultura e da sociedade na qual se dá o processo<br />
educativo. Isso é o que tem mostrado a História da<br />
Educação: por exemplo, na Grécia dos tempos heróicos, a finalidade<br />
era formar guerreiros, na Grécia da época das cidades-estado, almejavase<br />
formar cidadãos. Em Roma, os esforços se concentravam na formação<br />
de cidadãos com espírito prático e assim sucessivamente.<br />
E na atualidade<br />
tualidade, , qual seria a<br />
finalidade básica da educação?<br />
Bom, responder a esta pergunta é um exercício bastante interessante. Num mundo<br />
globalizado é extremante difícil ponderarmos a finalidade exata da educação, pois as<br />
realidades de cada sociedade são distintas.<br />
Assim os objetivos educacionais em um país desenvolvido pode ter pontos em comum<br />
com os de um país em desenvolvimento, mas certamente não serão iguais e daí por diante.<br />
Portanto os fins da educação baseiam-se em valores permanentes (ética, estética, moral,<br />
conhecimento, etc) e em valores provisórios (necessidades humanas concretas). Estes<br />
valores provisórios se alteram conforme vamos alcançando os objetivos imediatos, ou seja<br />
enquanto nossa realidade concreta vai se modificando e as etapas vão<br />
avançando.<br />
A educação é um processo que dura a vida toda, não tendo idade<br />
para se iniciar e nem terminar, ela não pode se limitar à mera<br />
continuidade da tradição, pois ela supõe a possibilidade de rupturas,<br />
pelas quais a cultura se renova e o homem se aperfeiçoa,<br />
construindo assim a sua história.<br />
Tornar a Educação verdadeiramente integral e portanto<br />
realmente formativa do Ser Humano é, antes de mais nada,<br />
oferecer a todos instrumentos de crítica e reflexão acerca<br />
da sociedade em que vivemos, afim de que possamos<br />
superar as contradições e assim tornar a mesma mais justa,<br />
menos excludente e portanto menos violenta.<br />
Não é a prática educacional quem estabelece os<br />
seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica que permeia a<br />
educação, dentro de uma dada sociedade. As relações<br />
entre educação e filosofia parecem ser quase “naturais”.<br />
Enquanto a primeira trabalha com o desenvolvimento<br />
do Ser Humano e sobretudo das novas gerações,<br />
a segunda é a reflexão sobre o que e como<br />
devem ser estes Seres Humanos e a própria<br />
sociedade.<br />
40
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. Redija um pequeno texto acerca da importância da educação na vida do Ser Humano:<br />
2.<br />
Faça um comentário comparando as pedagogias renovada e tradicional:<br />
3.<br />
É papel da Filosofia da Educação investir no esclarecimento das relações entre a<br />
produção do conhecimento e o processo da educação. Você acha que a educação na<br />
atualidade tem cumprido essa missão?<br />
41
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
Filosofia da educação<br />
Imaginem a análise<br />
vigorosa e radical da filosofia<br />
aliada ao processo educacional,<br />
sem dúvida é melhoria na<br />
qualidade da educação,<br />
vejamos então como tentar<br />
fazer isso.<br />
Enquanto reflexão filosófica, a Filosofia da<br />
Educação tem como tarefa básica buscar o<br />
sentido mais profundo do próprio sujeito no<br />
processo educacional, ou seja de construir a imagem do Homem<br />
em seu papel de sujeito/educando, nesse sentido deve ser uma disciplina<br />
que busque integrar as várias contribuições das ciências humanas. A relação entre Educação<br />
e Filosofia é bastante espontânea. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento<br />
dos homens de uma sociedade, a filosofia faz uma reflexão sobre o que e como devem ser<br />
ou desenvolver estes homens e esta sociedade, isto é, uma reflexão sobre os problemas<br />
que a realidade educacional apresenta.<br />
A função maior da filosofia da educação é contribuir para que o Ser Humano adote<br />
uma postura reflexiva no que tange à problemática educacional. É assim que a Filosofia da<br />
Educação passa a desenvolver uma tríplice tarefa:<br />
Antropológica- se preocupa com a idéia de Homem que se pretende forjar a<br />
partir das contribuições das ciências humanas;<br />
Epistemológica- discutir sobre o processo de produção, sistematização e<br />
transmissão do conhecimento);<br />
Axiológica- estuda as questões relacionadas ao valor que os homens atribuem<br />
às coisas, a sua valoração.<br />
Vejamos abaixo um quadro resumo elucidativo dessas três tarefas da Filosofia:<br />
ÁREAS DA FILOSOFIA QUE TRATAM DA BUSCA DO<br />
SENTIDO DA EXISTÊNCIA HUMANA<br />
Epistemologia<br />
Axiologia<br />
Antropologia<br />
Estuda as questões relacionadas ao conhecimento do ponto de<br />
vista crítico<br />
Trata das questões relacionadas ao agir humano calcado em<br />
valores<br />
Trata das questões relacionadas à condição da existência humana<br />
É também papel fundamental da Filosofia da Educação procurar construir uma<br />
imagem do Homem que se pode educar. Essa imagem que a Filosofia deve construir do<br />
homem só será consistente se for baseada nas condições reais de existência, isto é em<br />
suas mediações históricas e sociais concretas.<br />
42
Na história da humanidade existiram três grandes Concepções de Homem que a<br />
orientação pedagógica pretendeu formar ao longo da história:<br />
AS CONCEPÇÕES DE HOMEM<br />
Essencialista<br />
Homem<br />
compreendido a partir<br />
de uma natureza<br />
imutável;<br />
A perfeição de cada<br />
ser dependeria da<br />
realização plena das<br />
potencialidades<br />
internas.<br />
Naturalista<br />
Homem entendido<br />
enquanto organismo<br />
vivo, regido pelas leis<br />
da natureza;<br />
Homem<br />
compreendido a partir<br />
do dualismo mente e<br />
corpo;<br />
A supremacia seria<br />
do corpo, organismo<br />
vivo regido por leis da<br />
natureza.<br />
Histórico-social<br />
Homem enquanto uma<br />
entidade natural e<br />
histórica;<br />
A natureza humana<br />
determinada pelas<br />
condições objetivas de<br />
sua existência;<br />
O ser humano seria<br />
resultado de um<br />
processo de vir-a-ser.<br />
Além das análises antropológica (concepções de homem), epistemológica<br />
(conhecimento) e axiológica (valores) no processo educativo; a filosofia da educação tem a<br />
função de mediar a questão da interdisciplinaridade, através da qual se estabelece um elo<br />
de ligação entre as diversas disciplinas, o que auxilia e muito o<br />
trabalho desenvolvido pela pedagogia. Assim espera-se que com o<br />
auxílio da filosofia, por exemplo, evite-se a supremacia dos “ismos”<br />
(capitalismo, psicologismo, etc.) ou seja de a educação ficar alienada<br />
e só enfocar determinada ciência na análise dos fenômenos<br />
pedagógicos. Por que isso é importante? Na nossa<br />
concepção todos os “ismos” se não forem devidamente<br />
analisados e ponderados, acabam por escravizar o<br />
pensamento humano, tornando o educador apenas um<br />
defensor ou um crítico feroz de determinada ciência, não<br />
fornecendo ao educando uma visão mais ampla da vida.<br />
O conhecimento, os valores e as relações humanas<br />
permeiam toda a existência humana, assim sendo a filosofia da educação ocupa lugar<br />
central para a prática pedagógica, pois é somente a partir do pensamento crítico-reflexivo<br />
que a educação se tornará mais eficaz, clara e coerente. A educação, quando imbuída dos<br />
ideais filosóficos não se ocupa em “formatar” os seres humanos de maneira homogênea,<br />
mais sim oferecer condições ideais para que o educando caminhe com as suas próprias<br />
pernas e encontre assim o seu próprio caminho que certamente não serão iguais, pois<br />
cada aluno tem o seu tempo, aspirações, valores e inteligências múltiplas. É justamente<br />
nesse ponto que reside a beleza da educação.<br />
43
Assim a filosofia da educação auxilia muito a<br />
pedagogia, mas não se deve confundir uma com a outra.<br />
Fundamentos Enquanto a pedagogia pode ser compreendida como<br />
Histórico- uma teoria geral da educação que se preocupa com<br />
Filosóficos a eficácia e a intencionalidade da práxis pedagógica;<br />
da Educação a filosofia acompanha reflexivamente os problemas<br />
ligados á educação, mediando a contribuição que as<br />
outras ciências podem fornecer para que o processo de ensino/<br />
aprendizagem se torne mais reflexivo e ao mesmo tempo mais<br />
objetivo. Em resumo a filosofia da educação busca a compreensão<br />
profunda de determinada realidade educacional de maneira vigorosa<br />
e integral.<br />
A reflexão sobre os problemas referentes à transmissão e construção do<br />
conhecimento é uma tarefa fundamental para a filosofia da educação.<br />
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1.<br />
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
Desafio aos educadores<br />
Um famoso filósofo alemão do século passado Frederico Nietzsch, tece uma crítica radical à civilização<br />
ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas o instinto da tartaruga. O que quer<br />
dizer isso? A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recollhe a cabeça para dentro da sua<br />
casca. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde, também na casca, os membros, tentando protegerse<br />
contra o desconhecido [...]<br />
Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticos da educação<br />
desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Temos educado os homens para aprenderem a se<br />
defender contra todas as ameaças externas, sendo apenas reativos [...]<br />
Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto da águia. A águia é o<br />
animal que voa acima das montanhas, que desenvolve os seus sentidos e habilidades, que aguça ouvidos,<br />
os olhos e competência para ultrapassar os perigos, alçando vôo acima deles. É capaz, também, de afiar<br />
as suas garras para atacar o inimigo no momento em que julgar mais oportuno [...]<br />
RODRIGUES apud SEVERINO, 1994 p. 24<br />
a. Com base no texto faça um comentário sobre que tipo de educação (métodos,<br />
pedagogia, objetivos, etc.) deve ser desenvolvida para formar “águias”:<br />
44
A FORMAÇÃO CRÍTICA E A NECESSIDADE DE UMA<br />
POSTURA ÉTICA DO EDUCADOR<br />
Educação e Ideologia: A Luta pelo Poder<br />
O mundo, entre outras coisas é constituído por valores<br />
materiais (bens de consumo, dinheiro, propriedades recursos<br />
naturais, etc.) e por valores imateriais ou simbólicos (conhecimento,<br />
educação, sentimentos, postura, etc.) A educação é constituída não só<br />
de prática técnica e política, mas também de prática simbolizadora, suas<br />
ferramentas são essencialmente símbolos, que desenvolve sua ação.<br />
Em função da subjetividade, o homem começa a produzir os bens<br />
culturais e a desfrutar deles. A atividade subjetiva acontece em função da<br />
capacidade que temos de representar simbolicamente os objetos de nossa<br />
experiência. A cultura, é o resultado do trabalho humano nas diversas esferas da nossa<br />
vida.<br />
A educação é uma prática cujos utensílios técnicos são especificamente simbólicos.<br />
Ela atua sobre o conjunto das demais mediações da existência, a partir dessa sua<br />
especificidade.<br />
Com efeito, a cultura é uma criação humana. Portanto, a educação é fundamental<br />
para a socialização do homem e sua humanização, é também um meio de distribuição de<br />
bens culturais, ou seja, ela torna possível a apropriação dos bens culturais já produzidos.<br />
Enquanto prática que lida com instrumentos simbólicos, a educação ainda atua nas<br />
dimensões individual e coletiva, correndo um duplo risco de se envolver nesse processo<br />
ideologizador. Assim, é pela educação, mesmo quando informal, que o indivíduo se apropria<br />
dos conteúdos culturais de seu grupo. Ela amplia seu trabalho empregando essencialmente<br />
esses conceitos e valores presentes na cultura em que se processa.<br />
Por outro lado, para manter sua ideologia, uma sociedade necessita reproduzi-la, e<br />
a educação é comumente considerada como uma das mais adequadas mediações para<br />
garantir essa reprodução. Ao lado da Religião, dos Partidos Políticos e das Forças<br />
Armadas, a Escola é um dos mais poderosos Aparelhos Ideológicos que se conhece,<br />
pois trabalha de maneira eficaz com a inculcação de valores e interesses de classe. Assim,<br />
fica evidente que as instituições educacionais constituem perfeitos aparelhos ideológicos<br />
para agirem em função do Estado.<br />
ELEMENTOS QUE CONSTITUEM O ESTADO<br />
ESSENCIAIS ACESSÓRIOS<br />
País- território fixo determinado<br />
População- povo<br />
Governo- poder- soberania<br />
Ordem- mínima essencial<br />
Pátria<br />
Nação<br />
Autoridade- legitimidade- eleições<br />
Reconhecimento – Constituição<br />
Fonte: LAGO, B. Curso de sociologia política. S. Paulo: Vozes, 1996<br />
45
A política, queiramos ou<br />
não, permeia a maior parte<br />
das atividades humanas, o<br />
Fundamentos tempo todo o homem mal<br />
Histórico- informado, que se diz<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
apolítico é facilmente<br />
manipulado e influenciado<br />
pelos donos do poder. Assim é<br />
hora de repensarmos a importância da mesma em<br />
nossas vidas. Desde que as sociedades humanas se tornaram mais complexas, o principal<br />
instrumento de disputa pelo poder deixou de ser a violência física e passou a ser a palavra,<br />
o discurso, a persuasão.<br />
A função principal da ideologia é camuflar, mascarar as contradições existentes<br />
nas sociedades, tais como as diferenças de classe, de raça e de gênero, apresentando a<br />
sociedade como algo harmônico e igualitário, pois a mesma é um conjunto de idéias,<br />
representações e de normas de conduta que induzem o homem a pensar de determinada<br />
maneira. Essa maneira de pensar geralmente é articulada pelas classes dominantes, ou<br />
seja, por quem está no poder.<br />
A ideologia facilita a coesão entre os homens e a aceitação apolítica de<br />
determinadas situações vantajosas para uns e de exploração para outros, estabelecendo<br />
a noção de que as coisas são como deveriam ser. A própria classe dominante sofre<br />
também a influência de sua própria ideologia na medida em que ele (o dominador) considera<br />
o seu papel de explorador como algo natural.<br />
O processo de alienação da consciência em relação à realidade objetiva, dá-se<br />
quando o Ser Humano elabora conteúdos explicativos e valorativos que julga válidos e<br />
verdadeiros com os quais pretende explicar e legitimar vários aspectos da vida cotidiana.<br />
Assim a própria consciência humana sai lesada e não se dá conta de que tais valores,<br />
idéais e conceitos tem um sentido que naquela situação está na contramão da objetividade<br />
real.<br />
Na escola, a ideologia desempenha um papel de destaque, para alguns cientistas<br />
sociais da corrente Crítico-reprodutivista, ela reproduz as desigualdades<br />
presentes na sociedade.<br />
Assim sendo a escola não é encarada como uma instituição<br />
realmente democrática, pois existiria uma escola para formar<br />
as elites econômicas (de qualidade, com estrutura<br />
pedagógica, profissionais bem pagos etc) e outra para<br />
formar as classes menos favorecidas (geralmente em<br />
condições inferiores). Na primeira a ideologia difundida seria<br />
a de como se tornar um membro da classe dominante e<br />
alcançar os mais altos postos na vida econômica e social.<br />
Mesmo sendo esta uma posição um tanto quanto extremada,<br />
há de se convir que existe muitos acertos nesta teoria.<br />
46
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. “A função da ideologia é camuflar a divisão social entre as classes.” Você concorda<br />
com tal afirmação? Justifique a sua resposta:<br />
O conhecimento<br />
O que é conhecimento? Como podemos conhecer as coisas? Essas perguntas vêm<br />
perseguindo o homem há muitos anos, aliás há séculos. Dependendo da cultura, do momento<br />
histórico, do próprio saber acumulado, da estrutura socioeconômica, política e social, ou<br />
até mesmo em decorrência da evolução tecnológica, teremos as mais diversas respostas.<br />
Ao falarmos em conhecimento, estamos designando o ato de conhecer como uma<br />
relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o objeto conhecido. Portanto<br />
há dois elementos no ato de conhecer: o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser<br />
conhecido.<br />
Assim sendo o conhecimento pode ser considerado como a compreensão inteligível<br />
da realidade que o sujeito humano adquire através de sua confrontação com a realidade.<br />
Ele pode ser adquirido e construído em conversas, nos livros em jogos, etc. A raiz de todo<br />
conhecimento está na sua meta maior que é atingir o entendimento da verdade e não a<br />
simples e pura retenção de informações.<br />
Para sermos intelectualmente ativos, é necessário utilizarmos as informações<br />
adquiridas de maneira ativa para que assim entendamos o mundo exterior e o nosso interior<br />
(autoconhecimento). Vejamos a seguir as principais teorias do<br />
conhecimento constituídas no mundo moderno:<br />
A primeira dessas teorias foi o inatismo que teve como<br />
principal ícone teórico René Descartes (1596- 1650), que é<br />
considerado o pai da Filosofia Moderna, começou uma<br />
forma de reflexão que se opõe à tradição escolástica. Ao<br />
analisar o processo pelo qual a razão chega a verdade,<br />
Descartes utiliza o recurso da dúvida metódica. Para<br />
conhecermos a verdade, é necessário, em princípio,<br />
colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida,<br />
questionando tudo para criteriosamente analisarmos se<br />
existe algo na realidade de que possamos total certeza.<br />
Descartes insere uma ampla mudança no<br />
“Penso, logo existo”<br />
(Cogito, ergo sum)<br />
pensamento moderno, segundo a qual o sujeito tem a função<br />
ordenadora do conhecimento: O pensamento,<br />
47
sistematicamente dirigido, encontra inicialmente em si os critérios que<br />
permitirão estabelecer algo como verdadeiro.<br />
Por conseguinte, a ciência na era moderna, deixa de ser um saber<br />
Fundamentos contemplativo e passa a se afirmar como sinônimo de verdade e progresso.<br />
Histórico- Segundo o mesmo as idéias superiores derivam não do geral, mas do<br />
Filosóficos particular, ou seja as elas já se encontram no espírito e são comuns a uma<br />
da Educação<br />
natureza humana. O critério proposto para saber se tais idéias eram<br />
verdadeiras ou não seria um critério seguro do nosso espírito.<br />
Enquanto o inatismo de Descartes prioriza a razão, como ponto de partida de todo<br />
conhecimento, Locke se opõe a esse pensamento. O empirismo de John Locke, afirma<br />
que nada está no espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos.<br />
O empirismo, apesar de influenciado pelo inatismo, vai<br />
propor que o conhecimento só se efetiva a partir da experiência<br />
sensível, ou seja só depois de algum experimento poderia se<br />
elaborar o conhecimento. As duas fontes do conhecimento seria<br />
a sensação e a reflexão Locke foi o mais importante teórico dessa<br />
corrente do pensamento.<br />
A corrente interacionista é fruto das teorias progressistas<br />
de influência marxista e do construtivismo soviético que se utiliza<br />
da dialética, entendida como a lógica da contradição. Sujeito e<br />
objeto situam-se, por assim dizer, numa nova relação entre si, na<br />
qual nenhum dos dois prevalece, um dependendo do outro, só<br />
existindo enquanto pólo da relação.<br />
O sujeito se dá conta de que, embora condicionante da<br />
posição do objeto não pode integrá-lo; o objeto, por sua vez, por Jean Piaget<br />
mais autônomo que seja, não mais se impõe dogmaticamente ao<br />
sujeito como pura positividade.<br />
Temos abaixo um quadro resumo dessas teorias que marcaram a história do<br />
pensamento humano:<br />
AS FORMAS DO CONHECIMENTO<br />
Inatista<br />
Supremacia do<br />
sujeito;<br />
Sujeito: idéias inatas<br />
é a condição do<br />
conhecimento.<br />
Empirista<br />
Supremacia do<br />
objeto (do meio);<br />
Sujeito: tábula rasa<br />
(passivo);<br />
Conhecimento<br />
transmitido e recebido.<br />
Interacionista<br />
Não há contradição<br />
sujeito/objeto; homem/<br />
mundo.<br />
O conhecimento<br />
renova-se sempre.<br />
48
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1. Na atualidade, a prática escolar que você tem tomado contato estimula a construção<br />
do conhecimento:<br />
2.<br />
Faça um comentário destacando as semelhanças e diferenças entre inatismo,<br />
empirismo e interacionismo:<br />
A necessidade de uma nova ética na educação<br />
Na nossa vida cotidiana, encontramos freqüentemente situações nas quais a nossa<br />
decisão depende daquilo que consideramos justo, bom ou moralmente correto. Assim, toda<br />
vez que isso ocorre, estamos diante de uma decisão que envolve um julgamento moral da<br />
realidade, a partir do qual vamos nos guiar.<br />
Portanto, a ação humana é uma ação carregada de valores, pois para homem, as<br />
coisas do mundo e as ações sobre o mundo não são indiferentes. O homem analisa a<br />
validade e legitimidade das suas ações.<br />
Com efeito, certas ações tornam-se objeto de valoração. Assim essa sensibilidade<br />
aos valores é denominada de consciência moral. Como vimos<br />
anteriormente o ramo da filosofia que estuda os valores é a<br />
axiologia. Dentre eles destaca-se a Ética (um dos temas<br />
transversais dos PCN’s). Se os valores são o alicerce de<br />
todas as nossas ações, é imprescindível reconhecer sua<br />
importância para a práxis educativa. Entretanto, os valores<br />
transmitidos pela sociedade nem sempre são claramente<br />
tematizados, e até mesmo muitos educadores não fundamentam<br />
sua prática em uma reflexão mais cuidadosa a respeito ética.<br />
Na atualidade existe uma crise sem precedentes quanto aos valores que orientam a<br />
vida em sociedade e nesse sentido alguns conceitos têm sido esvaziados do seu real valor.<br />
49
Qualquer vocábulo quando exageradamente utilizado faz com que seu<br />
sentido original perca a força. Assim tem acontecido com alguns conceitos<br />
importantes, tais como Justiça, Liberdade, Fraternidade e a Ética, que<br />
Fundamentos atualmente têm sido confundidos quanto aos seus verdadeiros significados.<br />
Histórico- Por que isso tem ocorrido? Ora de tanto se ouvir falar de tais conceitos, as<br />
Filosóficos pessoas passam a ter uma falsa impressão de já tê-los compreendido em<br />
da Educação<br />
sua verdadeira essência.<br />
Para o homem atual, os valores não estão pré-definidos e não são<br />
descobertos pelo acaso, mas vão sendo construídos ao longo de suas vidas tanto de forma<br />
coletiva como de forma individual, ou seja, o Homem educa-se pelo exemplo dos outros e<br />
pela suas próprias inclinações. Assim, como exigir de uma criança que ela não minta se<br />
alguém (que eu não quero falar naquele momento) ligar para a minha residência e aí eu<br />
orientar a criança a dizer que eu não estou em casa, quando na verdade estou? Como<br />
exigir de uma criança que ela não ache a corrupção algo comum se no meu relacionamento<br />
cotidiano com ela, repito uma frase mágica do tipo: se você passar de ano vai ganhar uma<br />
bicicleta.? Não seria mais correto orientá-la a passar de ano porque é o certo e não para<br />
que ela se acostume a cumprir o seu dever esperando sempre receber algo em troca?<br />
Mais uma vez cabe-nos a reflexão.<br />
No processo educacional, o resgate da ética é de<br />
fundamental importância uma vez que antes de tudo a<br />
verdadeira educação é um compromisso ético, ou seja é<br />
preciso que a relação professor-aluno seja calcada em<br />
valores positivos e verdadeiros, estes que constróem a<br />
dignidade humana. A escola é uma das instituições mais<br />
complexas de nossa sociedade, tendo em vista que as forças<br />
de dominação, degradação, alienação estão se<br />
consolidando em nossa sociedade de maneira alarmante e<br />
somente a partir de uma (re) educação da humanidade<br />
podemos aspirar a dias melhores.<br />
As condições de trabalho, ainda são muito degradantes, as relações de poder estão<br />
desvirtuadas e a distribuição dos bens materiais e simbólicos extremamente desiguais,<br />
nesse sentido se torna necessário um verdadeiro pacto social entre os educadores para o<br />
resgate da verdadeira cidadania, inclusive a partir de uma postura crítica em relação a sua<br />
própria atuação, a atuação da direção da instituição de ensino na qual trabalha e da postura<br />
de seus alunos em sala de aula.<br />
Muitos podem se perguntar o que a educação tema a ver com a ética? A resposta<br />
mais razoável é tudo, uma vez que a<br />
penas um ser humano educado<br />
pode educar outro e para<br />
se educar uma sociedade<br />
inteira é necessário<br />
termos a moralidade<br />
positiva denunciada em<br />
nosso agir cotidiano em<br />
quaisquer que sejam as<br />
condições materiais e imateriais que constituam a nossa realidade social. Os sistemas e<br />
códigos morais podem até variar, mas não a moralidade em si e nem a sensibilidade humana.<br />
A educação se tornará mais coerente e eficaz a partir do momento que estivermos<br />
capacitados para explicitar esses valores, ou seja, se desenvolvermos um trabalho reflexivo<br />
que esclareça as bases axiologia educacional.<br />
Analise o trecho abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
50
[ ]<br />
Agora é hora de<br />
TRABALHAR<br />
1.<br />
[...] Dificuldades constantes põem em risco a conduta ética do professor. A primeira<br />
e mais fundamental destas dificuldades é a perda do espaço ético, a perda do juízo<br />
prudencial [...] o dito sistema que não é ninguém concreto e, sim, pura abstração, ou algo<br />
impessoal, usurpou a possibilidade de o professor decidir sobre a conduta do aluno.<br />
Cabe ao professor cumprir normas e regulamentos [...] deste modo a burocracia transforma<br />
o professor num mero instrumento de aparente ordenamento neutro.”<br />
PAVIANI, J. Problemas de filosofia da educação. Petrópolis: Vozes, 1988, p.116)<br />
a. De acordo com o texto acima, qual a principal dificuldade ética enfrentada pelo<br />
professor na atualidade?<br />
b. Por que a burocracia do sistema pode levar o professor a se afastar de uma postura<br />
ética?<br />
2.<br />
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:<br />
O problema moral<br />
O problema moral não é um problema simples, nem como cega aceitação de<br />
regras de conduta que não são fornecidas já prontas do exterior, nem como a afirmação<br />
de uma liberdade radical para estabelecermos nós mesmos, sozinhos, os nossos valores<br />
e os nossos fins.<br />
O problema moral na vida de um homem, é feito de contradições vividas, sempre<br />
renovadas, entre as exigências da disciplina necessária à eficácia da nossa luta e o sentido<br />
de responsabilidade pessoal de cada um de nós tanto na elaboração quanto na aplicação<br />
das próprias leis da nossa combatividade.<br />
51
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
52
Atividade<br />
Orientada<br />
Caro (a) Aluno (a),<br />
Esta atividade deverá ser desenvolvida, por você, ao longo do desenvolvimento da<br />
disciplina, progressivamente, sob a assistência e orientação do tutor no ambiente de tutoria.<br />
Trata-se de uma atividade obrigatória que tem como objetivo auxiliar você a consolidar os<br />
conhecimentos acerca dos nossos conteúdos estudados, além se ser um dos nossos<br />
instrumentos de avaliação da aprendizagem.<br />
Como tal atividade consta de 04 etapas, leia atentamente o que se segue, a fim de<br />
compreender como você deverá proceder na realização da mesma.<br />
1<br />
Etapa Elabore um TEXTO DISSERTATIVO (mínimo de 15 linhas) sobre como podemos<br />
atuar, enquanto educadores, na construção de um mundo melhor, justificando o seu<br />
pensamento com argumentos pautados nos estudos que foram realizados na nossa disciplina<br />
e nos referenciais teóricos indicados.<br />
2<br />
Etapa Como você já teve uma noção básica em torno da história e da filosofia da educação<br />
do mundo ocidental, desde a Antigüidade até a era Moderna, por favor, elabore um TEXTO<br />
DISSERTATIVO (mínimo de 15 linhas) sobre o que vem a ser a História e a Filosofia<br />
da Educação, utilizando-se de argumentos baseados no que foi discutido em nossa<br />
disciplina e nos referenciais teóricos indicados.<br />
3<br />
Etapa Em papel metro ou cartolina e utilizando gravuras e/ou fotografias de revistas velhas,<br />
construa um CARTAZ que trate da importância e finalidade do estudo dos fundamentos<br />
histórico-filosóficos da educação, levando-se em conta as suas dimensões axiológica<br />
(valores), antropológica (humanidade) e epistemológica (conhecimento).<br />
Vale esclarecer que serão critérios avaliativos do cartaz: clareza, estética e<br />
capacidade de relação das gravuras com o conteúdo estudado.<br />
Agora em dupla, você deverá elaborar um trabalho escrito (mínimo de 10 linhas),<br />
53
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
seguindo as normas da ABNT, que se constitua numa “Linha do Tempo”<br />
com os principais representantes do pensamento pedagógico ocidental, ou<br />
da Antigüidade até a Idade Média, ou da Idade Moderna até o Iluminismo,<br />
destacando suas principais contribuições na área da educação, seu método<br />
pedagógico e suas principais obras.<br />
Vale salientar que, para realização do trabalho como um todo,<br />
esperamos que você cumpra cada etapa de forma progressiva, pois o mesmo trata-se de<br />
uma atividade de avaliação que almeja, não só atribuir-lhe uma “nota” ao final da disciplina<br />
mas, principalmente, contribuir com a consolidação de conhecimentos fundamentais à sua<br />
formação e atuação profissional.<br />
Desejamos discernimento, iniciativa e realizações.<br />
54
Glossário<br />
ALIENAÇÃO: Fragmentação da consciência, perda da individualidade, da consciência crítica,diluição<br />
da própria identidade.<br />
ARETÉ: Perfeição ou virtude de uma pessoa.<br />
BÁRBARO: Palavra usada para identificar todos os povos não romanos. Aqueles que usam barbas longas.<br />
CLERO: Classe social formada por aqueles que receberam ordens sacras, religiosos.<br />
CONHECIMENTO: É a relação que se estabelece entre um sujeito que conhece ou deseja conhecer<br />
algo e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.<br />
CRÍTICO-REPRODUTIVISTA: Teoria pedagógica difundida nos anos 70 que critica a ilusão liberal<br />
da Escola como instância de democratização, concluindo que ela reproduz as diferenças sociais.<br />
ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 236<br />
CULTURA: Um amplo e variado conjunto de conhecimentos e realizações que o homem desenvolve<br />
em sociedade, que é acessível a determinado grupamento humano. Associa-se às representações<br />
simbólicas, de produtos e de procedimentos apresentados pelo homem ao longo de sua história.<br />
EDUCAÇÃO: Prática social cujo fim é o desenvolvimento humano[..] de acordo com as necessidades<br />
e exigências de determinada sociedade em determinado tempo/espaço.<br />
CAVALCANTI, 2004, p.93<br />
EMPIRISMO: Doutrina filosófica moderna (séc XVII) segundo a qual conhecimento procede<br />
principalmente da experiência, principais representantes: Hume, Locke e Hume.<br />
ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 238<br />
ESCOLAS SECULARES: Escolas do século, do mundo, abertas a qualquer atividade não religiosa.<br />
ÉTICA: Qualidade da ação fundada em valores morais; pode também significar a área da Filosofia<br />
que trata da moralidade da ação humana e ainda pode ser considerada como a ciência do comportamento<br />
moral dos homens em sociedade.<br />
SEVERINO. 1999, p.138 e NALINI, 1999, p. 34<br />
FEUDO: Unidade produtiva da época Medieval, grande extensão de terra que pertencia a um<br />
senhor feudal.<br />
FILOSOFIA: Estudo que surgiu procurando desenvolver o logos (saber racional) em contraste com o<br />
mito (saber alegórico). Ela é um corpo de conhecimento, constituído a partir do esforço do ser humano para<br />
compreender o mundo e dar-lhe um significado compreensivo [...] é um instrumento de ação.<br />
LUCKESI, 2000, p.22.<br />
HERESIA: toda doutrina que fosse contrária aos dogmas da Igreja católica.<br />
HUMANISMO: Procura de uma imagem do homem e da cultura, em contraposição às concepções<br />
predominantemente teológicas da Idade Média e ao espírito autoritário delas decorrentes.<br />
ARANHA, 20<strong>02</strong>.<br />
IDEOLOGIA: conceitos e valores particulares de um grupo social passados a todos como se fossem<br />
universais.<br />
SEVERINO, 1996.<br />
55
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
INATISMO: Concepção segundo a qual as idéias ou os princípios já existem na<br />
mente dos indivíduos e portanto não surgem de fora para dentro.<br />
ARANHA, 20<strong>02</strong>, p. 238.<br />
LEI DAS DOZE TÁBUAS: Código Jurídico baseado em velhos costumes e em novas<br />
leis plebéias.<br />
LEIGO: Quem não é eclesiástico que não segue a carreira religiosa.<br />
NOBRE: Classe social que possuía privilégios de nascimento, geralmente eram proprietários de terras.<br />
RATIO STUDIORUM: Plano de estudos da Companhia de Jesus, aprovado em 1599, que ainda<br />
hoje é o método ministrado nos colégios jesuítas.<br />
LUZURIAGA, 2001, p. 118.<br />
SERVOS: Classe social que prestava serviços à nobreza e ao clero, não eram proprietários.<br />
SÍMBOLO: Um elemento adotado de forma convencional como representação de um outro<br />
elemento, ou seja, são mediações de que nos servimos para lidar com os objetos, com as circunstâncias<br />
e até mesmo com outros símbolos.<br />
TOTALITÁRIO: É a ação que centraliza todas as decisões e poderes em uma pessoa ou grupo de<br />
pessoas. Na educação isso se refletia na autoridade total e incontestável do mestre.<br />
TRIBUNATO DA PLEBE: Grupo de dez pessoas que representavam os plebeus na política romana.<br />
56
Referências<br />
Bibliográficas<br />
ARANHA, M. L. Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1997.<br />
___________________. História da Educação. São Paulo: Moderna, 20<strong>02</strong>.<br />
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 20<strong>02</strong>.<br />
GILES, Tomas R. História da Educação. São Paulo: EPU. 1987.<br />
LUCKESI, Cipriano. Filosofia da Educação. SP, Cortez, 1993.<br />
LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Cia Editora<br />
Nacional, 20<strong>02</strong>.<br />
SAVIANI, Demerval. Educação:do senso comum à consciência filosófica. 13ª ed. (rev.).<br />
São Paulo: Autores associados, 2000.<br />
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação. Construindo a Cidadania.São Paulo:<br />
FTD, 1994.<br />
57
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
Anotações<br />
58
Anotações<br />
59
Fundamentos<br />
Histórico-<br />
Filosóficos<br />
da Educação<br />
FTC - EaD<br />
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância<br />
Democratizando a Educação.<br />
www.ftc.br/ead<br />
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