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Documento completo - SeDiCI - Universidad Nacional de La Plata

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FÁBIO VERGARA CERQUEIRA<br />

i<strong>de</strong>ntificarem a harmonia <strong>de</strong>ssa com aquela que reina sobre o cosmos. É a música<br />

da lýra, assim, acompanhando vozes melífluas, que melhor imita a melodia celestial<br />

das esferas.<br />

Havia um <strong>de</strong>bate pedagógico intenso, resultante dos preceitos acima<br />

expostos, que culmina na con<strong>de</strong>nação filosófica do ensino da aulós aos jovens,<br />

como po<strong>de</strong>mos verificar em Platão e Aristóteles.<br />

A título <strong>de</strong> avaliação da amplitu<strong>de</strong> social <strong>de</strong>sse discurso que <strong>de</strong>precia a<br />

arte da aulética, ressaltemos a ressonância intelectual que <strong>de</strong>ve ter tido o <strong>de</strong>bate<br />

público sobre o caráter dos instrumentos, a partir da encenação, na meta<strong>de</strong> do<br />

séc. V, das peças Mársias <strong>de</strong> Melaníppi<strong>de</strong>s e Argos <strong>de</strong> Telestes, sob influência<br />

das quais ocorreu uma disseminação do interesse pelos mitos referentes à invenção<br />

do aulós por Atena e à disputa musical entre Apolo e o sátiro frígio. Os resultados<br />

se fizeram sentir na crescente representação <strong>de</strong>ssas narrativas míticas sobre<br />

monumentos figurados a partir da meta<strong>de</strong> do séc. V, tendência inaugurada<br />

possivelmente pelo grupo Atena-Mársias <strong>de</strong> Míron, colocado em <strong>de</strong>staque na<br />

Acrópole <strong>de</strong> Atenas, com estátuas em tamanho natural. A análise global da<br />

iconografia referente a esses mitos, da segunda meta<strong>de</strong> do séc. V e séc. IV,<br />

revela-nos que entre os artistas estabeleceu-se uma tradição <strong>de</strong> ‘codificação’<br />

<strong>de</strong>sse ‘complexo mítico’, inserindo numa única narrativa, linear e seqüenciada, os<br />

fatos narrados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a invenção do aulós por Atena até o escalpelamento <strong>de</strong><br />

Mársias por Apolo. O fato mais significativo que a análise quantitativa da cerâmica<br />

nos fornece é a evidência <strong>de</strong> uma enorme popularida<strong>de</strong>, no final do quinto século<br />

e no quarto século, da lenda respeitante ao concurso musical entre o citaredo<br />

olímpico, Apolo, e o aulçtés frígio, Mársias. Essa po<strong>de</strong> ser atestada tanto na arte<br />

ática, como na italiota e etrusca.<br />

Por que teria havido este gran<strong>de</strong> interesse pelo conflito entre Apolo e<br />

Mársias entre os pintores <strong>de</strong> vaso da virada do séc. V para o IV? A resposta<br />

parece ser simples. Os artistas, sensibilizados pela discussão sobre o valor e caráter<br />

da lýra e do aulós, resolvem tomar partido. Registram, simbolicamente, seu<br />

<strong>de</strong>sapreço pelo aulós e sua admiração pela lýra. Vários fatores po<strong>de</strong>m ter<br />

convergido nessa tomada <strong>de</strong> posição favorável à lýra: o orgulho ático, o <strong>de</strong>sprezo<br />

pelos tebanos, a influência do pitagorismo, a afirmação étnica em relação à barbárie,<br />

ou até mesmo uma estrutura antropológica profunda, inconsciente, que <strong>de</strong>marca<br />

as fronteiras da «cultura» e da «natureza», o domínio do humano e do animal ou<br />

monstruoso, o mundo dos vivos e dos espíritos.<br />

44 / ANA M. GONZÁLEZ DE TOBIA. EDITORA.

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