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VERSAO COM CAPA E TUDO - prestar atencao se for imprir direto essa - meio oficio

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

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Copyright © 2020 – Ponto de Cultura – Culturas Étnicas em Foco

Todos os direitos reservados.

Ronda Alta, RS.

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

APRESENTAÇÃO

Esta é uma publicação do Ponto de Cultura “Culturas Étnicas em Foco”

mantido pela Sociedade Comunitária Navegantes/Ronda Alta-RS. É bom dizer

que o projeto inicial era contar com a parti-cipação das escolas do município,

porém, com a pandemia do Covid 19, que fez com que as aulas fossem suspensas,

foi preciso modificar o projeto. Tem como conteúdo alguns aspectos históricos

do Município que estão relacionados a água. Primeiro, foi a origem do

nome “Ronda Alta” que originou-se do local onde os tropeiros que por aqui

passavam faziam suas paradas, onde havia uma pequena lagoa localizada junto ao

caminho. Posteriormente, foi a construção da Usina Hidroelétrica do Rio Passo

Fundo que exerceu grandes mudanças, não só geográficas, mas, também, obrigou

muitos ribeirinhos deixarem suas terras. Trouxe também, a possibilidade de

ao longo da sua margem, o surgimento de espaços que atraem turistas da região.

Valério Bernardi

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

ÍNDICE

1 RONDA ALTA, NOSSA TERRA 9

2 RONDA ALTA, SEU NOME E O TROPEIRISMO 11

3 RONDA ALTA E SUAS ÁGUAS 15

4 RELATO DE ADÃO JOSÉ APOLINARIO 19

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1 Ronda Alta, Nossa Terra

O território de Ronda Alta, município situado ao norte do Rio Grande

do Sul, constituiu-se de diversas formas. Inicialmente terra de indígenas e posseiros,

posteriormente registrada ou legitimada por paulistas e uruguaios e, mais

tarde, território reconstruído após conflitos e lutas pela terra, promovidos por

colonos sem terra, expropriados da mesma pela entrada do capitalismo no campo.

Assim, o latifúndio passa a ser retalhado através da colonização pública e

privada, com a presença do Estado e com a chegada de imigrantes oriundos das

colônias velhas (Serra Gaúcha) que, forçados pelas circunstâncias (número de

filhos e pequena área para cultivo) vão empurrando a fronteira agrícola e se estabelecendo

no município. Assim também, através dos assentamentos conquistados

na luta pela terra. Terra também reservada aos indígenas, usurpada dos

mesmos por um longo período e devolvida através da conquista na legislação

brasileira, a partir da Constituição de 1988. Território este, que se reconstrói na

medida em que serviu de palco, como campo concreto de enfrentamento entre

camponeses e latifundiários; camponeses e Estado e latifundiários e Estado.

Constitui-se num símbolo representativo da luta de classes no campo. Cristaliza

importantes vitórias, entre algumas remotas, num processo de reforma agrária.

Da ronda do gado saiu o nome de nosso município, ronda de gado bovino e

gado muar, paradas para descanso e alimentação do gado e dos tropeiros. Aqui

se fazia a “ronda” do gado à noite. Inicialmente este local chamou-se Rondinha

do Campo. Em função da semelhança do nome Águas da Rondinha, uma localidade

próxima, hoje município de Rondinha, alterou-se o nome para Ronda Alta

por estar numa altitude maior.

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

2 Ronda Alta, Seu Nome E O Tropeirismo

Quando falamos do nome de Ronda Alta nos reportamos ao tropeirismo

e a passagem do gado que por aqui criou ponto de parada, de descanso e

pouso, e que após ser invernado nos campos de Cruz Alta, Passo Fundo, Vacaria,

seguiam viagem também para o Goio-en com destino a Sorocaba-São Paulo

em que eram comercializados para outras regiões do Brasil, principalmente para

a região do ouro. Esse gado foi abrindo caminhos que deram origem às estradas

como o caminho para o Goio-en, rumo a Nonoai cruzando o rio Uruguai, ou

rumo a Vacaria e Lages. Ronda Alta conta com aproximadamente 10.633 habitantes,

e seu nome carrega o descanso de tropeiros que se utilizavam da tranquilidade

e hospitalidade destas terras para pernoitar. O lugar escolhido pelos tropeiros

localizava-se na Fazenda Sarandi, no quilômetro 71 da Rodovia RS 324,

que liga Ronda alta a Passo Fundo, a 5 km da cidade. Esse local serviu para o

descanso dos tropeiros e das tropas. Era o lugar propício, por ter abundante

pastagem e duas sangas que convergiam para o mesmo lugar, formando uma

espécie de cercamento natural, onde os animais podiam ser soltos bastando fazer

a “ronda no alto”, para que os animais não fugissem. O tropeirismo contava com

a necessidade que houvesse água no caminho para saciar a sede das tropas e

tropeiros, mas elas serviram também como cerca natural para conter as tropas.

Assim foi no local escolhido como parada para tropas e tropeiros em terras de

nosso município. A primeira “picada” aqui aberta, neste território, foi para permitir

a passagem de uma linha telegráfica que ligava o sul do país ao Estado de

São Paulo, por volta do ano de 1900. Orientados por essa linha telegráfica, por

aqui passavam os tropeiros vindos da Argentina e região das Missões, conduzindo

gado bovino e muar até Sorocaba/São Paulo.

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Figura 1: Local onde os tropeiros faziam a ronda, dando origem ao nome da

cidade.

O tropeirismo foi um ciclo econômico, social e cultural. Um dos principais

responsáveis pela formação da identidade do povo gaúcho, desde os

primórdios de sua ocupação europeia pelos jesuítas na região missioneira (1626)

e posteriormente por paulistas, lagunistas e portugueses que se estabeleceram

inicialmente nos Campos de Viamão, formando as primeiras estâncias oficiais

(1732), mediante doação de sesmarias. Os tropeiros, sobretudo os seus auxiliares

– capatazes e camaradas – desenvolviam uma atividade trabalhosa e arriscada,

pois atravessavam extensos sertões com diversos perigos como feras bravias ou

adoecimento das tropas e rasgavam a solidão das campinas até os cantos mais

distantes do Rio Grande, obrigando os tropeiros a andarem armados e muito

bem municiados de mantimentos. (Trindade, p.58) As águas eram necessárias no

caminho dos tropeiros, mas também às vezes, apresentavam perigos na passagem

das tropas, com transpor o rio Uruguai. Por isso, o gado seguia para as feiras

de Sorocaba no final da primavera e verão, quando as pastagens e os dias

eram melhores e mais propícios às longas jornadas. ... “ Era importante marchar

com vagar, parando nos lugares onde houvesse bom pasto para chegarem ao

destino “com boas carnes” numa expressão antiga. ... pousos com boas pastagens

não faltavam, embora na extensa faixa de sertão houvesse maior

dificuldade, devido aos trechos de muita mata. (...) Entre os Campos Gerais e

Sorocaba os tropeiros encontravam pousos próximos a um riacho ou lajeadinho.

E inúmeras rondas terrenos com fechos naturais, bons para a guarda dos animais

durante os pernoites, e havia muitas rondas ao longo do caminho dos tropeiros,

“todas muito boas e capazes de pernoitar qualquer grande tropa ou boiada”.

(Trindade, p. 59-60). Muitos tropeiros, (aqueles que arrebanhavam o gado xucro

e mulas, tropeando-os até Sorocaba) ligaram o território sulino ao centro da-

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

Colônia e progressivamente ocupavam as terras, fixando-se como fazendeiros. O

comércio das tropas era feito por dois caminhos: um por Palmeira das Missões

através de Nonoai, cruzando o rio Uruguai no passo do Goio-en e outro por

Passo Fundo e Lagoa Vermelha, daí seguindo para os campos de Santa Catarina

e do Paraná. Nos campos de Passo Fundo a Nonoai havia, além de paradas,

“rondas”, um controle para cobrança de impostos das tropas de cavalos e

muares que por ali passassem. Nesse controle, em que a parada era obrigatória,

distribuía-se uma guia que devia ser paga em Nonoai. Em Pontão havia uma

invernada, onde se arrebanhavam as tropas com animais comprados nas fazendas

das redondezas. Enfim, tocando por terra era melhor, ia-se descansando. O

animal ia-se refazendo, comendo, chegava magro igual, mas porque era distante,

passava por dois estados, quase três. A tropa para sair do Rio Grande, tinha que

pegar Guia de Exportação para Localidades Brasileiras numa Coletoria, como a

de Cruz Alta ou a de Nonoai. Depois nas divisas, passava no Posto Fiscal e ia

recebendo o visto. Nessas ocasiões se contava a tropa (Zanela, p. 121)

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

3 Ronda Alta E Suas Águas

O terreno/relevo da região em que está Ronda Alta é de planalto da

Bacia do Paraná, apresentando superfície irregular e com altitudes superiores a

300 metros. Abrange metade da Região Sul do Brasil, estendendo-se do Rio

Grande do Sul até o Paraná. O terreno é de formação basáltica e fendas denominadas

de falhamentos que se esparrama, como lençóis, evidenciando-se como

derrame e dando origem a um solo de coloração vermelha. As transformações

recentes no território de Ronda Alta referem-se à construção da usina do rio

Passo Fundo no início de seu funcionamento, entre a segunda metade da década

de 1950 até 1973, às últimas seções de colonização estadual e aos assentamentos

de reforma agrária, promovidos pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, a

partir dos anos 60 até os últimos assentamentos promovidos pelo governo federal,

no final da década de 1980. As questões referentes ao assentamento de agricultores

no Toldo da Serrinha e a sua retomada pelos indígenas são tratadas como

questões atuais (Rückert, p. 33). A malha hidrográfica é composta pela Bacia

do rio Uruguai, com destaque para os rios da Várzea e Passo Fundo. Sua grande

vazão é usada para geração de energia, pois seus rios correndo para o norte,

atingindo o rio Uruguai em seu curso superior, caracteriza-se por vales profundos

e dissecação do relevo. São rios são regidos por condições de chuvas mensais

equilibradas, que regulam o seu curso. Em 1950, a Companhia Estadual de

Energia Elétrica (CEEE) realizou estudos para o aproveitamento das águas do

rio Passo Fundo, para a construção de uma barragem a fim de fornecer energia

elétrica para os estados do sul do Brasil. O local escolhido foi Vila Alegre, hoje

município de Entre Rios do Sul, com recursos do governo federal e estadual,

através da Empresa Eletrosul. A Usina Hidrelétrica de Passo Fundo entrou em

funcionamento em 1973, com duas unidades geradoras, de 110.000 KW cada

uma. A bacia hidrográfica do reservatório compreende 2.300 quilômetros quadrados

localizados nos municípios de Três Palmeiras, Ronda Alta, Campinas do

Sul, Jacutinga e Entre Rios do Sul. As águas represadas atingiram 404 propriedades

rurais forçando centenas de famílias a retirarem-se e a serem assentadas

em outras regiões como Mato Grosso do Sul ou receberem indenização direta da

terra agrícola.

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Figura 2: Os diversos Loteamentos e Balneários de Ronda Alta, às margens do

Rio Passo Fundo.

Além da diversidade na produção e no comércio, Ronda Alta é acariciada

por grandes belezas naturais. As verdes matas espalhadas pelo território embelezam

ainda mais as grandes águas do alagado do rio Passo Fundo que cobre

parte do território. As belezas trazem turistas e admiradores que buscam o sossego

do interior nos balneários, pontos que realçam o encanto das calmas águas

também dos riachos e pequenas cascatas espalhados por aqui. Hoje, em torno do

alagado da barragem, nosso município comporta uma área de turismo visitada e

habitada por turistas dos municípios de Sarandi, Palmeira das Missões, Carazinho,

Constantina, Nonoai e Ronda Alta, que permanecem nesses locais, especialmente

em épocas de férias de verão. Vários loteamentos existem nesse entorno

das águas da barragem: Passo da Entrada, De Marco, Águas Claras, Rancho

Branco, Navegantes, Parque das Águas, Primavera e outros. Em suas águas ocorrem

pescarias, passeios de barco e jet-ski e procissões de barcos em homenagem

a padroeira de Ronda Alta Nossa Senhora dos Navegantes..

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

Figura 3: Imagens das tradicionais festividades em homenagem à Nossa Senhora

dos Navegantes

.

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

4 Relato De Adão José Apolinario Que Foi

Morador Da Área Ocupada Pela

Represa Do Passo Fundo

Figura 4:

Adão José Apolinário.

Era uma manhã de segunda-feira, dia 25 de janeiro de 1966, em Campo

Cumprido, no interior de Espumoso; os ponteiros do relógio marcavam o aproximar

das 8 horas, assim como apontava no horizonte a chegada do ônibus que

Adão José Apolinario e sua família aguardavam com dez sacos de algodão contendo

tudo o que tinham. Era um veículo velho e marcado em cada traço pela

poeira da estrada; a família – Adão, sua mulher Matildes e as duas filhas pequenas,

Vera e Sônia – dividia o pequeno espaço com várias outras pessoas,

animais e grandes volumes de carga. Após o passar das horas e de inúmeras paradas,

chegaram ao seu destino por volta das 18h daquele mesmo fatídico dia: a

pequena cidade de Ronda Alta. Adão veio atrás de um sonho: um pedacinho de

terra para plantar. Naquela época faziam inscrições para o ganho de terra, porém

os inscritos deviam passar por uma entrevista, a qual tinha como um dos crité-

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rios morar na região. Adão aprendeu desde pequeno com seu pai sobre o erro

que era mentir; sendo assim, falando a verdade – que vinha de Campo Cumprido

– foi eliminado da seleção. Diz ele hoje: “Quem mentiu ganhou terra, eu falei a

verdade porque meu pai ensinou a não mentir, por isso não ga- nhei”. Naquele

tempo Ronda Alta era um município rodeado pelo mato característico da região,

nossa mata atlântica, e vascularizado pela estrada de chão que conectava as

poucas casas das 20 famílias que residiam no local. O centro do lugar destacavase

pela presença da velha Igreja de São Jorge, erguida por madeira e pela fé das

pessoas que ali viviam; além disso, havia um pequeno hospital também de madeira

para atender aquelas necessidades que não eram curadas com chá, benzedeiras

ou alguma crença popular. O comércio era alimentado por um popular Armazém

– onde vendiam-se mantimentos das mais variadas classes –, e pela loja

Martinelli, onde se podia comprar roupas e móveis, por exemplo (“secos e

molhados”). Nos primeiros seis meses, a família ficou na casa do sogro de Adão,

Ernesto Kaufmann, onde dividiam o espaço e os alimentos com mais nove pessoas.

No dia 27 de julho daquele mesmo ano, mudaram-se para um casebre

próximo da comunidade Subida Grande, onde foram trabalhar como arrendatários.

Toda a mudança para a “nova” residência foi realizada apenas em

uma viagem com uma carroça emprestada. Os primeiros anos da família foram

difíceis, tendo como companhia a fome durante os sonhos de várias noites. Certo

dia, a filha mais nova do casal, Sônia, teve um ataque de ansiedade pela ânsia

em comer pão de trigo, uma vez que havia visto uma vizinha ingerindo tal alimento

na sua frente durante uma visita em seu vizinho – acabou sendo levada ao

hospital por tal “ataque de bicha”, ou seja, diagnóstico de um ataque epilético

(sendo obrigada a tomar medicamentos durante um ano). O rancho onde viviam

tinha cerca de 125 m2, o qual era ocupado pelo casebre de moradia, por uma

estrebaria, e, por um paiol de milho e de outros produtos. Apoiado no chão

batido e sustentado por costaneira, o casebre era divido em uma cozinha e um

quarto – a única parte em que o chão era preenchido por tábuas. A família dormia

sobre camas de tarimba que se distribuíam no pequeno espaço do quarto. A

água era puxada a balde de uma vertente próxima totalmente pura. As roupas

eram lavadas em uma sanga que contornava todo o rancho, ilhando-o; as necessidades

eram feitas num local próximo aquela sanga, em algo parecido com uma

patente. Entre trabalhar como peão e trabalhar para a própria família, a rotina de

Adão lhe dava poucas horas de descanso; além de, como arrendatário, passar

dias limpando uma área de cerca de sete hectares – arrancando mato e derrubando

árvores na machadada – para então proceder com o plantio regular e arando

da terra com bois (no arrendamento cerca de 40% dos ganhos ficava para a

família), também investia horas no cultivo de feijão, arroz (graças a um banhado

próximo), batata-doce e milho-verde para o consumo fami-liar. Matildes, por sua

vez, preenchia os dias cuidando das filhas pequenas, lidando na roça e coletando

lenha para nutrir o fogo no jipão (fogão campeiro) nos dias frios do inverno.

Durante a noite, rotineiramente, as famílias do local se reuniam na casa de seus

vizinhos para um serão (filó) que geralmente durava até às 22h. Os adultos

tomavam chimarrão, enquanto as crianças brincavam de pega-pega, escondeesconde,

de caçar vagalumes ou, até mesmo, de pegar peixinhos no límpido rio

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

da região. Outra maneira de reunir as famílias era por meio das celebrações religiosas

que ocorriam uma vez por mês na Igreja da Subida Grande; eram datas

especiais celebradas pelo padre Guilherme durante a madrugada – o leite das

vacas era tirado só após as missas. Com o passar dos meses, a vida da família

melhorou consideravelmente, permitindo que a fome de muitos dias desse lugar

ao necessário para a satisfação de todos. Passou-se então à abundância de

comida, tanto em grãos quanto em carne de porco – conservada junto com as

latas de banha –, de galinha e de pato; além disso, havia o leite produzido pelas

vacas leiteiras. Além disso, com a melhora econômica, tornou-se possível a compra

de camas, colchões de ”clina”, cadeiras e até um fogão a lenha. Infelizmente,

Adão e sua família se mudaram para aquele local já sabendo que algum dia teriam

que sair, pois a água tomaria conta da região em função de uma barragem que

estava sendo construída: a barragem do Rio Passo Fundo; todavia, a informação

da saída propriamente dita – passada de vizinho em vizinho – impactou as

famílias que residiam na região, trazendo a insegurança da mudança para muitos,

pois representava a perda de um meio de produção e sustento seguro que haviam

cultivado durante vários anos. Em função disso, Adão comprou, com uma vaca,

um pequeno terreno na periferia da pequena cidade de Ronda Alta, e, por acordo,

seu sogro Ernesto construiu uma casa de madeira muito simples no local,

sem forro nem mata-junta nas paredes. No dia 27 de julho de 1970, após 3 anos

de muitas experiências, aprendizado, crescimento econômico e humano naquele

rancho, começaram a fazer a mudança para sua nova casa. Após 3 dias seguidos

de idas e vindas, movendo humildes móveis e animais em uma carroça – agora

comprada –, Adão e sua família finalmente deram início a um novo período

embebido na esperança de novas conquistas. Adão, contudo, continuou trabalhando

nas terras próximas ao seu antigo rancho, que agora jazia sob as águas

da represa, carregando em si dias de felicidade, tristeza, medos e conquistas de

sua família. Por muitos anos seu sustento veio da terra, trabalhando de peão dias

a fio em diferentes localidades; seu sonho até hoje (mesmo aposentado e com 80

anos), diz ele, é ter seu próprio pedaço de terra para plantar – um sonho que

ainda mostra evidente por meio de sorrisos de garoto matreiro, os quais são

expressos todas as vezes em que toma o rumo do terreno de seus netos, para

plantar e colher tudo aquilo que lhe dá vontade. Conta ele que, naquele tempo,

acreditavam que a barragem do Rio Passo Fundo teria importância por cerca de

50 anos; ironicamente, hoje, 50 anos após seu aparecimento, a seca está se

apoderando de seus limites, comprometendo o turismo local, e, ao mesmo tempo,

trazendo aos poucos os resquícios de um passado de luta.

Homenagem a Adão José Apolinario, de seu neto

Eduardo Apolinario Fumagalli / junho de 2020.

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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS

O Ponto de Cultura “Culturas Étnicas em Foco” é mantido

pela Sociedade Comunitaria Navegantes de Ronda Alta/RS.

Tem como Presidente o Sr. Aquiles Trezzi; Coordenador: Valério

Bernardi; e Colaboradores: Elizete Raimondi e Eduardo

Apolinário Fumagalli.

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