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ATLASHISTORICODEAMERICA3

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Sabem vosmecês qual a industria mais curiosa

do Rio de Janeiro? A do lixo, com laboratorio

nas ilhas da Sapucaia e do Bom Jesus. Para

ali vão todos os residuos da grande Capital.

O immenso acervo de lixo já aterrou parte do

mar circunvizinho, e ameaça emendar as duas

ilhas, transformando-as em um único banco de

immundicies accumuladas.

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Uns officiaes invalidos da patria, que residem

na Ilha do Bom Jesus, na face fronteira à da

Sapucaia, vendo imminente a invasão daquella

estrumeira até à frente de suas casas,

resolverão defender-se... a tiro! Quando os

lixeiros se approximão um pouco, elles agarrão

nas carabinas e fazem fogo. De polvora

secca, está visto, mas os lixeiros disparão em

todas as direcções, porque estão bem avisados

de que a terceira descarga é de bala.

Ri-me a valer, acompanhando as peripecias

deste sitio siu generis.

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Explorão aquelle monturo como se explora

uma empreza vasta, complicada e rendosa.

Uma verdadeira alfandega! São uns quarenta

ou cincoenta, muito unidos e amigos, e que

do Rio de Janeiro só conhecem a Sapucaia.

Dividem entre si, com todo o methodo e ordem,

os variados serviços das diversas repartições

do lixo. Tudo alli é aproveitado, renovado,

re-utilisado e revendido. Os viveres deteriorados

servem para o sustento da corporação.

O rancho é um alpendre, construido no meio

da Sapucaia; sobre a mesa figurão as victualhas

pescadas naquelle oceano de sujidades

e cacos, restos de carne secca, trechos de

bacalháo, raspas de goiabada, massas, frutas

verdoengas ou semi-podres, formando

tudo um conjuncto esquipatico de manjares

que elles devorão como se fosse leitão assado

com farofinha. Só comprão o sal e o party.

Como as moscas enxaméão alli em quantidade

prodigiosa, a illustre companhia se biparte

por accasião das refeições: emquanto uma

das turmas está a comer a outra occupa-se em

enxotar com grandes abanos os importunos

insectos. E transformão tudo em dinheiro. Trapos,

vendem às fabricas de papel; garrafas, às

ditas de cerveja; ferros e metaes, às fundições;

folhas de flandres, aos funileiros; cacos de

louça e crystaes, às fabricas de vidro. Só não

vendem os viveres deteriorados, com medo do

Instituto Sanitario. Comem-nos! (...)

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XX

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Os catadores no Rio de Janeiro durante

a primeira metade do século XIX

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História dos Catadores no Brasil

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