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IN MEMORIAM JOSÉ SARAMAGO - Alia Vox

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<strong>IN</strong> <strong>MEMORIAM</strong> <strong>JOSÉ</strong> <strong>SARAMAGO</strong><br />

<strong>Alia</strong> <strong>Vox</strong> wants to pay tribute to the great<br />

Portuguese writer and Nobel Prize José Saramago,<br />

who collaborated with <strong>Alia</strong> <strong>Vox</strong> giving his personal<br />

view of the Seven Words of Christ for the Haydn<br />

DVD AVDVD9868 and CD AVSA9854 recording.<br />

AS SETE PALAVRAS DO HOMEM<br />

José Saramago<br />

PRIMEIRA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, aqui me tens. Aqui me tens, finalmente, neste monte escalvado a que<br />

chamam Gólgota e aonde, passo a passo, vieste encaminhando a minha vida a fim de que<br />

todas as profecias fossem cumpridas. Sou o da cruz alta, a que está ao centro, e os homens<br />

que me fazem companhia, um de cada lado, são dois ladrões vulgares, daqueles que se<br />

contentam com roubar pouco, que se fossem dos que roubam muito de certeza não viriam<br />

aqui crucificados. O que está à minha direita protesta que não quer morrer, grita como um<br />

doido furioso, dá arrancos com o corpo como se pretendesse arrancar a cruz do chão e fugir<br />

com ela às costas, ao outro já o vejo resignado, tem a cabeça descaída, apenas geme. Penso<br />

que terei de lhe dizer alguma coisa que o console antes que isto se acabe. O bom que tem este<br />

lugar para os condenados é ser Jerusalém a última imagem que levam da vida.<br />

Não estamos sós. Entre os soldados romanos, os doutores da lei, os chefes dos sacerdotes, os<br />

anciãos, e a gente comum que acudiu ao espectáculo, distingo, embora mal porque as dores


me estão nublando os olhos, minha mãe com algumas mulheres, e também, sim, está também<br />

Maria Madalena. E está João, mas aos outros não os vejo, terão fugido. À morte deveria<br />

assistir-se em silêncio, não este clamor de insultos, esta gritaria, este ódio insensato, estas<br />

palavras de escárnio: “Salva-te a ti mesmo se és o rei dos judeus, lá está aquele que deitava<br />

abaixo o templo e tornava a reconstruí-lo em três dias, que desça agora da cruz para nós<br />

vermos e acreditarmos nele”.<br />

Deus, Pai, Senhor, era isto necessário? Não te bastava a simples morte? Já que terei de perder<br />

a vida, perdoa-lhes tu o alvoroto, porque não sabem o que fazem. E eu? Virei a saber o que fiz<br />

no mundo? E tu, Deus, Pai, Senhor, tens a certeza de que tudo o que fizeste foi bem feito?<br />

SEGUNDA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, não sei como o poderei confessar, tão confundido e humilhado sinto o meu<br />

espírito. Compadecido do sofrimento do ladrão manso, não encontrei nada melhor para o<br />

consolar que prometer-lhe o paraíso. “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”, foram as<br />

minhas formais palavras. Mas logo me perguntei se a soberba, ou o orgulho, ou a vaidade, foi<br />

o que me levou a prometer algo que não estava em meu poder dar. Antes, numa das suas<br />

fúrias, o ladrão bravo tinha-me invectivado: “Então não és o Messias? Salva-te a ti mesmo e a<br />

nós!” Mas o ladrão manso repreendeu-o com estas justas palavras, em verdade inesperadas<br />

em pessoa da sua condição: “Não tens temor a Deus, tu que estás a sofrer a mesma<br />

condenação? Nós estamos aqui a pagar o justo castigo pelos actos que temos praticado, mas<br />

este não fez nada de mal”. E foi aí, Deus, Pai, Senhor, que caí em tentação: “Hoje mesmo<br />

estarás comigo no paraíso”, disse. Como pude eu esquecer-me do Juízo Universal que, esse<br />

sim, há-de separar o trigo do joio, o bom do mau, o virtuoso do pecador? Como pude esquecer<br />

o que disse o profeta: “Eu, o Senhor, penetro no íntimo do homem, e examino o seu coração,<br />

e a cada um dou segundo o seu procedimento.”? De todo modo, sou escravo da minha<br />

promessa, este homem irá comigo, comigo se apresentará à tua porta, e tu, Deus, Pai, Senhor,<br />

se quiseres receber-me a mim, terás também de recebê-lo a ele, porque eu, sozinho, não<br />

entrarei. Honra a promessa que fiz, já que neste suplício me desonraste.<br />

TERCEIRA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, quando, para castigar a prosápia dos homens que estavam levantando<br />

aquela torre com a intenção de chegar ao céu, lhes desordenaste a linguagem, talvez não<br />

tenhas pensado em todas as consequências do acto a que foste movido por uma ira semelhante<br />

à do dono da vinha quando dá por que os meliantes se dispõem a assaltá-la. Talvez este<br />

pensamento, na aparência fora de lugar, seja fruto do delírio, da angústia e das terríveis dores<br />

que me trespassam, mas, nesta hora última da minha passagem pela terra, não estaria bem que<br />

entre pai e filho ficassem coisas caladas. Aquela mulher que além vês, entre João e Maria<br />

Madalena, é minha mãe, tu o saberás melhor que ninguém. Nunca vi que lhe tivesses dado<br />

atenção em todos estes anos, mas não é disso que quero falar. O meu pensamento é outro.<br />

Quando confundiste a linguagem dos homens, houve palavras que se perderam, outras que<br />

tomaram caminhos desviados, outras que deixaram de pertencer a quem, tempos atrás, havia<br />

sido seu legítimo proprietário. Houve uma época, talvez na idade de ouro, falando a língua<br />

que tu confundiste, em que as mulheres podiam ser tão justas e piedosas quanto os homens<br />

fossem capazes de o ser, mas já não o eram quando eu vim ao mundo, porque, em hebraico,<br />

por exemplo, para justo e piedoso não há formas femininas equivalentes. Tendo eu que nascer<br />

forçosamente de uma mulher, como foi possível, Deus, Pai, Senhor, não teres reparado que


ela não podia ser digna de me gerar, uma vez que não era piedosa nem justa? Rogar-te-ei que<br />

mo expliques quando nos encontrarmos.<br />

Não vejo nenhum dos meus irmãos. E aquele João, já não sei eu bem se é o meu discípulo, se<br />

o filho de Zebedeu, que tem o mesmo nome. Como quer que seja, vou dizer a frase que de<br />

mim se espera: “Mulher, aí tens o teu filho. João, aí tens a tua mãe.” Oxalá se dêem bem.<br />

QUARTA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, as palavras atropelam-se na minha cabeça, a ponto de já não saber se serão<br />

realmente minhas ou se as terei lido ou ouvido em alguma parte, e agora não faça mais que<br />

repeti-las de maneira mecânica, como uma criancinha que a duras penas aprende a falar. Pelo<br />

menos, tenho a certeza de que as palavras que irei proferir me sairão da boca somente para<br />

que se possa anunciar amanhã que as escrituras foram cumpridas uma vez mais. Escuta-as e<br />

diz-me se não tenho razão: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Quem me ouvir<br />

pensará que esta é a primeira vez que tu abandonas alguém e que por isso é de justiça que a<br />

pergunta seja lançada aos quatro ventos do alto desta cruz, como um aviso às pessoas. Mas tu,<br />

Deus, Pai, Senhor, desde o princípio do mundo que criaste não tens feito outra coisa que<br />

abandonar-nos. Recorda aqueles a quem, por causa de uma maçã e uma serpente, expulsaste<br />

do paraíso terrenal, recorda o espírito vingativo com que puseste diante da porta os querubins<br />

e uma espada de fogo para que eles não pudessem regressar. Crês tu, Deus, Pai, Senhor, que<br />

ao menos uma vez na vida, e em muitos casos todos os dias e a todas as horas, a espécie<br />

humana não teve motivos para fazer esta mesma pergunta: “Meu Deus, meu Deus, por que me<br />

abandonaste”? Que estás longe, dirás, que não podes acudir a tudo, que o homem foi feito<br />

para que governasse a sua vida sem depender de deus ou deuses, mas em teu nome, quando<br />

não tu mesmo, há quem afirme que nascemos servos e servos seremos até ao fim da vida<br />

porque tu és a causa primeira e porque, ao mesmo tempo que nos vai abandonando um a um,<br />

nos manténs agarrados na tua mão. Eu próprio te fiz a pergunta e tu não respondeste. Razão<br />

tinha aquele que disse que Deus é o silêncio do universo e o homem o grito que dá sentido a<br />

esse silêncio. Acabe-se o homem e tudo se acabará. Abandonados já estamos, eles, eu, talvez<br />

também tu, que nem a ti próprio te podes valer. Até para alegadamente salvar a humanidade<br />

tiveste que derramar o meu sangue.<br />

QU<strong>IN</strong>TA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, ainda que possa parecer extraordinário, ou mesmo incrível, que alguém à<br />

beira da morte, tal eu estou, sinta sede e imagine ter tempo e forças para beber um vaso de<br />

água, foi isto o que acabou de suceder. Talvez, em realidade, eu não tivesse autêntica sede,<br />

talvez tivesse sido apenas a recordação súbita da frescura de uma água que para sempre iria<br />

perder, a sensação de senti-la a descer por uma garganta que em breve se cerraria, o que me<br />

fez soltar aquele grito: “Tenho sede!” Sem que eu o esperasse, quase imediatamente uma<br />

esponja molhada me tocou a boca e o sabor da água misturada com vinagre me restituiu por<br />

um instante o alento. Olhando para baixo vi um homem que segurava uma cana, esta a que<br />

veio atado o misericordioso socorro, porque bem sabemos, os que nunca tivemos gelo para<br />

refrescar a água nas canículas do verão, que juntar-lhe um pouco de vinagre é remédio<br />

infalível para as piores sedes. O homem baixou a cana, tornou a empapar a esponja, e outra<br />

vez ma fez chegar aos lábios. Depois, porque os soldados romanos se acercavam com as suas<br />

lanças e faziam gestos ameaçadores, o homem retirou-se, segurando a cana ao ombro e


levando o balde da água e vinagre na outra mão. Foi isto o que se passou e não qualquer outra<br />

história que venha a contar-se no futuro, como se o sofrimento de quem foi condenado a<br />

morrer na cruz não fosse já bastante para encher o livro. Talvez a alguém se lhe ocorra<br />

escrever, e por todos os modos repetir, que quiseram dar-me vinho misturado com fel ou com<br />

mirra. Não é verdade.<br />

E agora, Deus, Pai, Senhor, peço-te um último favor. Que não faças esperar este homem até<br />

ao dia do Juízo Final, que o chames a ti no preciso momento em que morrer, e que tu mesmo<br />

o vás receber à porta do paraíso. Reconhecê-lo-ás facilmente. Leva uma cana ao ombro e um<br />

balde com água e vinagre na outra mão.<br />

SEXTA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, tudo está cumprido. A cruz em que me pregaram não tardará a ter um<br />

cadáver nos seus braços, tal como, desde o princípio do mundo, foi por ti decidido que<br />

haveria de suceder. Será, por ser a minha, suficiente esta morte para a salvação da<br />

humanidade? Para salvá-la de quê ou de quem? De si mesma? Do inferno que tu mesmo<br />

fabricaste, uma vez que não havia mais ninguém que o pudesse fazer? Sou eu o cordeiro que<br />

Abel te sacrificava, ao mesmo tempo que desprezavas o trigo e o centeio que Caim te<br />

oferecia? Porquê? Não terás sido tu, Deus, Pai, Senhor, quem armou a mão de Caim para que<br />

na primeira página da história dos homens se anunciasse já o futuro que lhes estava guardado,<br />

sangue, morte, destruição e tortura desde esse dia e para sempre? E porquê ficou o crime de<br />

Caim sem castigo? Porquê teve Abel de morrer? Conhecerás tu, Deus, Pai, Senhor, o<br />

sentimento do remorso? Porquê, contra a simples justiça, prosperou o assassino, ao ponto de<br />

fundar uma cidade e ter descendência como qualquer homem comum, com as mãos limpas de<br />

sangue alheio? Sem querer faltar ao respeito, foste e serás sempre um deus dúplice, com duas<br />

caras, dois pesos e duas medidas.<br />

Não creio que a minha morte vá servir para que os homens se salvem nem que, sem ela, se<br />

perdessem mais do que já estão. Não imaginas, Deus, Pai, Senhor, como os seres humanos<br />

são complicados e difíceis de entender. Seja como for, fiz tudo o que tinhas ordenado. Por<br />

isso está morrendo um homem nesta cruz.<br />

SÉTIMA PALAVRA<br />

Deus, Pai, Senhor, nas tuas mãos entrego o meu espírito, que a carne que o continha, essa,<br />

ficará agarrada a este madeiro enquanto o que de mim resta não for levado ao túmulo, donde<br />

ao terceiro dia ressuscitarei, se foram certas as palavras que puseste na minha boca para que<br />

as ouvissem os que me seguiam. Censurou-mas Pedro, que me chamou de parte e disse:<br />

“Deus te livre de tal. Uma coisa assim nunca te há-de suceder.” E eu respondi-lhe: “Sai da<br />

minha frente, Satanás. Impedes-me o caminho, porque não entendes as coisas à maneira de<br />

Deus, mas à maneira dos homens.” Foi isto o que eu lhe disse, mas agora, Deus, Pai, Senhor,<br />

agora que o meu espírito já deve ter chegado às tuas mãos, permite-me que procure, também<br />

eu, entender as coisas à maneira dos homens. Poderá o meu corpo, sem um espírito que o<br />

anime, levantar-se e sair do sepulcro, arredando a pedra que lhe tapa a entrada? E outra<br />

pergunta mais. Que sucederá comigo durante esses três dias? Apodrecerei? Será já com os<br />

primeiros sinais de podridão na cara e nas mãos que me apresentarei diante de Maria<br />

Madalena? Vivi no mundo como homem durante trinta anos, primeiro criança, depois


adolescente, depois adulto, até este dia. Se te digo coisas que estás farto de saber, é para que<br />

compreendas por que razão aparecerei a Maria Madalena antes que a qualquer outro.<br />

Acabámos. Representei o meu papel o melhor que podia. O futuro dirá se o espectáculo valeu<br />

a pena. E agora, Deus, Pai, Senhor, uma última pergunta: Quem sou eu? Em verdade, em<br />

verdade, quem sou eu?


LES SEPT PAROLES DE L’HOMME<br />

José Saramago<br />

PREMIÈRE PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, me voici. Me voici, enfin, sur ce mont aride que l’on nomme Golgotha<br />

jusqu’où tu as guidé pas à pas ma vie afin que s’accomplissent toutes les prophéties. Je suis<br />

celui de la haute croix, celle du centre, et les hommes qui me tiennent compagnie, de chaque<br />

côté sont deux vulgaires voleurs, de ceux qui se contentent de dérober peu, parce que s’ils<br />

étaient de ceux qui volent beaucoup, je suis sûr qu’ils ne finiraient pas crucifiés. Celui qui est à<br />

ma droite proteste car il ne veut pas mourir, il crie comme un fou furieux, il secoue son corps<br />

comme s’il voulait arracher la croix du sol et fuir avec elle sur son dos. Je vois l’autre résigné,<br />

il a la tête penchée et geint seulement. Je pense que je vais devoir lui prodiguer quelque parole<br />

de consolation avant que cela ne finisse. Ce qui est bien dans ce lieu pour les condamnés, c’est<br />

que Jérusalem sera la dernière image qu’ils garderont de la vie.<br />

Nous ne sommes pas seuls. Entre les soldats romains, les docteurs de la loi, les chefs des<br />

prêtres, les vieillards et le tout venant qui s’est déplacé pour le spectacle, je distingue, quoique<br />

assez mal, car les douleurs me brouillent la vue, ma mère avec quelques femmes et aussi, oui il<br />

y a aussi Marie Madeleine. Et puis il y a Jean, mais les autres je ne les vois pas, ils auront fui.<br />

On devrait assister à la mort en silence, pas cette clameur d’insultes, cette criaillerie, cette<br />

haine insensée, ces mots de raillerie : « Sauve-toi, toi-même, si tu es le roi des juifs, voilà celui<br />

qui allait démolir le temple et le reconstruire en trois jours, qu’il descende maintenant de la<br />

croix pour que tous le voient et qu’on croit en lui ».<br />

Dieu, Père, Seigneur, était-ce bien nécessaire ? Une mort simple ne te suffisait-elle pas ?<br />

Puisque je dois perdre la vie, pardonne-leur le vacarme, car ils ne savent pas ce qu’ils font. Et<br />

moi ? J’arriverai à savoir ce que j’ai fait en ce monde ? Et toi, Dieu, Père, Seigneur, sauras-tu<br />

vraiment ce que tu as fait ?<br />

DEUXIEME PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, je ne sais comment je vais pouvoir le confesser, tant je sens mon esprit<br />

confus et humilié. Compatissant à l’égard du voleur docile, pour lui offrir une consolation je<br />

n’ai rien trouvé de mieux que de lui promettre le paradis : « aujourd’hui même, tu seras avec<br />

moi au paradis » ont été formellement mes mots. Mais après, je me suis demandé si la<br />

prétention, ou l’orgueil, ou la vanité, ne m’avait pas conduit à promettre quelque chose qu’il<br />

n’était pas en mon pouvoir d’offrir. Auparavant, le voleur rebelle m’avait défié : « n’es-tu pas<br />

le Messie ? Sauve-toi toi-même et sauve-nous aussi ! » Mais le voleur docile le reprit par ces<br />

justes paroles, vraiment inespérées chez une personne de sa condition : « Ne crains-tu pas<br />

Dieu, toi qui souffres la même condamnation ? Nous, nous sommes ici pour payer le juste<br />

châtiment pour les actions que nous avons effectuées, mais lui, il n’a fait aucun mal. » Et c’est<br />

ainsi que ça s’est passé.<br />

Dieu, Père, Seigneur, quand j’ai succombé à la tentation, j’ai dit : « aujourd’hui même, tu<br />

seras avec moi au paradis ». Comment ai-je pu oublier le Jugement Universel ? Celui qui<br />

séparera le grain de l’ivraie, le bien du mal, ce qui est vertu et ce qui est péché ? Comment ai-


je pu oublier ce que le prophète a rapporté ? « Moi, le Seigneur, j’entre au plus intime de<br />

l’homme, j’examine son cœur, et à chacun je donnerai selon ses actes » ? Quoiqu’il en soit, je<br />

suis esclave de ma promesse, cet homme viendra avec moi, il se présentera devant ta porte et<br />

toi, Dieu, Père, Seigneur, si tu veux me recevoir moi, tu devras aussi le recevoir lui, parce que<br />

seul, je n’entrerai pas. Honore la promesse que j’ai faite, car avec ce supplice, tu m’as<br />

déshonoré.<br />

TROISIEME PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, quand pour punir la vantardise des hommes qui élevaient cette fameuse<br />

tour dans l’intention d’atteindre le ciel, tu désordonnas leur langage, peut-être n’avais-tu pas<br />

tenu compte de toutes les conséquences de l’acte auquel tu te livrais, poussé par une colère<br />

semblable à celle du propriétaire de la vigne lorsqu’il découvre que des délinquants<br />

s’apprêtent à l’assaillir. Cette pensée peut-être, en apparence hors de propos, est-elle le fruit<br />

du délire, de l’angoisse et des terribles douleurs qui me meurtrissent ? Mais en cette heure<br />

ultime de mon passage sur terre, il ne serait pas bon qu’entre père et fils, restent des choses<br />

passées sous silence. Cette femme que tu vois là-bas, entre Jean et Marie Madeleine, c’est ma<br />

mère, tu dois le savoir mieux que quiconque. Je n’ai jamais vu qu’au cours de ces années, tu<br />

lui aies prêté la moindre attention, mais ce n’est pas de ça dont je veux te parler. Mon idée est<br />

autre. Quand tu as embrouillé la langue que parlaient les hommes, certains mots se perdirent,<br />

d’autres prirent des chemins détournés, d’autres cessèrent d’appartenir à qui en était le<br />

légitime propriétaire par le passé. Il fut une époque, peut-être à l’âge d’or, quand on parlait la<br />

langue que tu as embrouillée, où les femmes pouvaient être aussi justes et pieuses que<br />

pouvaient l’être les hommes, mais elles ne l’étaient plus quand je suis venu au monde, car en<br />

hébreu, par exemple, pour juste et pieux, il n’existe pas de formes féminines équivalentes.<br />

Devant naître forcément d’une femme, comment est-il possible, Dieu, Père, Seigneur, que tu<br />

ne te sois pas rendu compte qu’elle n’était pas digne de m’engendrer, vu qu’elle n’était ni<br />

pieuse ni juste ? Je te prie de bien vouloir me l’expliquer lorsque nous nous rencontrerons.<br />

Je ne vois aucun de mes frères. Et ce Jean, je ne sais plus si c’est mon disciple, si c’est le fils<br />

de Zébédée, qui a le même nom. Quoiqu’il en soit, je vais prononcer la phrase qu’on attend de<br />

moi : « Femme, tu as ici ton fils. Jean, tu as ici ta mère ». Pourvu qu’ils s’entendent.<br />

QUATRIEME PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, les paroles se bousculent dans ma tête, au point que je ne sais plus si ce<br />

sont les miennes ou si je les ai lues ou entendues quelque part, et maintenant je ne fais que les<br />

répéter de manière mécanique comme un enfant qui apprend à grand-peine à parler. J’ai au<br />

moins l’assurance que les mots que je vais proférer ne sortiront pas de ma bouche dans le seul<br />

but d’annoncer demain que les écritures ont été accomplies une fois de plus. Ecoute-les et dismoi<br />

si je n’ai pas raison : « Mon Dieu, mon Dieu, pourquoi m’as-tu abandonné ? » Qui<br />

m’entend pensera que c’est la première fois que tu abandonnes quelqu’un et ce n’est donc que<br />

justice que la question soit lancée aux quatre vents du haut de cette croix, comme un<br />

avertissement aux gens. Parce que toi, Dieu, Père, Seigneur tu ne fais rien d’autre que nous<br />

abandonner. Souviens-toi de ceux que, par la faute d’une pomme et d’un serpent, tu expulsas<br />

du paradis terrestre, souviens-toi d’avec quel esprit vindicatif tu plaças devant la porte les<br />

chérubins et une épée de feu pour qu’ils ne puissent plus revenir ? Crois-tu, Dieu, Père,<br />

Seigneur, qu’au moins une fois dans la vie, et dans bien des cas tous les jours et toutes les


heures, l’espèce humaine n’ a pas de bons motifs pour te poser la même question : « Mon<br />

Dieu, mon Dieu, pourquoi m’as-tu abandonné ? » Tu es loin, diras-tu, tu ne peux pas porter<br />

secours partout, et l’homme fut créé pour gouverner sa vie sans dépendre de Dieu ou des<br />

dieux. Mais en ton nom, quand ça n’a pas été toi-même, il s’en est trouvé pour affirmer que<br />

nous naissons esclaves et esclaves nous resterons à vie, parce que tu es la Cause Première de<br />

toute chose et parce que, en même temps que tu nous abandonnes un à un, tu nous maintiens à<br />

ta main. Je t’ai moi-même posé la question et tu ne m’as pas répondu. Il avait raison celui qui<br />

a dit que Dieu est le silence de l’univers et l’homme le cri qui donne un sens à ce silence.<br />

L’homme finira et tout finira. Abandonnés nous le sommes déjà, eux, moi, peut-être toi aussi,<br />

qui n’y arrives pas par toi-même. Même pour soi-disant sauver l’humanité tu as dû verser<br />

mon sang.<br />

C<strong>IN</strong>QUIEME PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, quoique cela paraisse extraordinaire, et même incroyable, que<br />

quelqu’un au bord de la mort, comme je le suis, ait soif et croit avoir le temps et la force de<br />

boire un verre d’eau, c’est pourtant ce qui vient de se passer. Il est possible qu’en réalité, je<br />

n’aie pas ressenti une véritable soif, possible que ce n’ait été que le souvenir subit de la<br />

fraîcheur d’une eau que j’allais perdre à jamais, la sensation de la sentir parcourir une gorge<br />

qui allait se fermer d’ici peu, qui m’ait fait lancer ce cri : « J’ai soif ». Contre toute attente, (et<br />

sans que je m’y attende), presque immédiatement, une éponge mouillée toucha ma bouche et<br />

le goût de l’eau mélangée au vinaigre me rendit le souffle durant un instant. Regardant vers le<br />

bas, je vis un homme qui brandissait une canne à laquelle était attaché le secours<br />

miséricordieux, car nous savons parfaitement, comme ceux qui n’ont jamais eu de glace pour<br />

rafraîchir l’eau lors des canicules de l’été, que mettre un peu de vinaigre dans l’eau est un<br />

remède infaillible pour la pire des soifs. L’homme descendit la canne, imprégna de nouveau<br />

l’éponge et la porta de nouveau à mes lèvres.<br />

Ensuite, parce que les soldats romains s’approchaient avec leurs lances et faisaient des gestes<br />

menaçants, l’homme se retira, la canne sur l’épaule et le seau d’eau vinaigrée dans l’autre<br />

main. C’est ce qui s’est passé et aucune autre de ces histoires qui se conteront à l’avenir,<br />

comme si la souffrance de celui qui fut condamné à mourir sur la croix n’était pas une histoire<br />

suffisante pour remplir un livre. Peut-être qu’il viendra à l’idée de quelqu’un d’écrire et de<br />

répéter sur tous les tons qu’ils ont voulu me donner du vin mélangé à du fiel ou de la myrrhe.<br />

Ce n’est pas vrai.<br />

Et maintenant, Dieu, Père, Seigneur, je te demande une dernière faveur. Ne fais pas attendre<br />

cet homme jusqu’au jour du Jugement Dernier, appelle-le à toi au moment précis où il va<br />

mourir, et va le recevoir à la porte du paradis. Tu le reconnaîtras facilement. Il porte une<br />

canne sur l’épaule et un seau d’eau vinaigrée dans l’autre main.<br />

SIXIEME PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, tout est consommé. La croix où ils m’ont cloué ne tardera pas à avoir un<br />

cadavre sur les bras, comme, depuis le commencement du monde, tu as décidé qu’il en serait<br />

ainsi. Sera-t-elle suffisante cette mort, du fait que c’est la mienne, pour sauver l’humanité ?<br />

Pour la sauver de quoi ou de qui ? D’elle-même ? De l’enfer que tu as toi-même fabriqué,


puisque personne d’autre ne pouvait le faire ? Est-ce moi l’agneau qu’Abel te sacrifiait, tandis<br />

que tu dédaignais le blé et le seigle que Caïn t’offrait ? Pourquoi ?<br />

Ne serait-ce pas toi, Dieu Père, Seigneur, qui aurais armé le bras de Caïn ? Afin que dès la<br />

première page de l’histoire des hommes, s’annonce le futur qui les attendait : sang, mort,<br />

destruction et torture, depuis ce jour et à jamais ? Et pourquoi le crime de Caïn est-il resté<br />

impuni ? Pourquoi a-t-il fallu qu’Abel meurt ? Dieu, Père, Seigneur, connais-tu le remords ?<br />

Pourquoi, contre toute justice, l’assassin a-t-il prospéré, au point de former une ville et d’avoir<br />

une descendance comme n’importe quel homme normal, aux mains propres du sang d’autrui ?<br />

Sans vouloir te manquer de respect, tu seras toujours un dieu duplice, à deux visages, deux<br />

poids et deux mesures.<br />

Je ne crois pas que ma mort puisse servir à sauver les hommes, ni que sans elle, ils ne puissent<br />

se perdre davantage qu’ils ne le sont déjà. Tu n’imagines pas, Dieu, Père, Seigneur, combien<br />

les êtres humains sont compliqués et difficiles à comprendre. Quoiqu’il en soit, j’ai fait tout<br />

ce que tu avais ordonné. Pour cela un homme est en train de mourir sur la croix.<br />

SEPTIEME PAROLE<br />

Dieu, Père, Seigneur, entre tes mains, je remets mon esprit, afin que la chair qui le contenait,<br />

elle, reste suspendue au bois le temps que ce qui reste de moi soit déposé dans le tombeau,<br />

d’où je ressusciterai au troisième jour, si les paroles que tu as mises dans ma bouche sont<br />

certaines afin que ceux qui me suivaient les entendent. Pierre me les censura, quand il me prit<br />

à part et me dit : « Dieu t’en délivre. Jamais une telle chose n’arrivera ». Et moi je lui<br />

répondis : « Arrière Satan, tu entraves mon chemin, car tu ne comprends pas les choses selon<br />

les desseins de Dieu mais à la manière des hommes. »<br />

C’est ce que je lui ai dit, mais maintenant Dieu, Père, Seigneur, que mon esprit est entre tes<br />

mains, permets que moi aussi je cherche à comprendre les choses à la manière des hommes.<br />

Mon corps pourra-t-il, sans être animé par un esprit, se lever et sortir du sépulcre, en<br />

déplaçant la pierre qui en obstrue l’entrée ? Et encore une question. Que va-t-il m’arriver<br />

durant ces trois jours ? Est-il possible que je me corrompe ? Avec les premiers signes de<br />

dégradation sur le visage et les mains, devrais-je me présenter devant Marie Madeleine ? J’ai<br />

vécu comme un homme durant trente ans, d’abord enfant, puis adolescent, et adulte jusqu’à<br />

aujourd’hui. Si je te dis des choses que tu es fatigué de savoir, c’est pour que tu comprennes<br />

pour quelle raison j’apparaîtrai d’abord à Marie Madeleine avant personne d’autre.<br />

Finissons. J’ai joué mon rôle aussi bien que j’ai pu. L’avenir dira si ce spectacle a valu la<br />

peine. Et maintenant, Dieu, Père, Seigneur, une ultime question : Qui suis-je ? En vérité, en<br />

vérité, qui suis-je ?<br />

Traduction: Irène Bloc


LAS SIETE PALABRAS DEL HOMBRE<br />

José Saramago<br />

PRIMERA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, aquí me tienes. Aquí me tienes, por fin, en este monte árido al que le dan<br />

el nombre de Gólgota, y hasta el que, paso a paso, fuiste encaminando mi vida para que se<br />

cumplieran todas las profecías. Soy el de la cruz alta, la que está en el centro, y los hombres<br />

que me hacen compañía, uno a cada lado, son dos ladrones vulgares, de los que se contentan<br />

con robar poco, porque si fueran de los que roban mucho estoy seguro de que no acabarían<br />

crucificados. El que está a mi derecha protesta porque no quiere morir, grita como un loco<br />

furioso, zarandea su cuerpo como si quisiera arrancar la cruz del suelo y huir con ella cargada<br />

sobre sus espaldas, al otro ya lo veo resignado, tiene la cabeza caída, sólo gime. Pienso que<br />

tendré que decirle alguna palabra de consuelo antes de que esto acabe. Lo bueno que tiene<br />

este lugar para los condenados es que será Jerusalén la última imagen que se llevarán de la<br />

vida.<br />

No estamos solos. Entre los soldados romanos, los doctores de la ley, los jefes de los<br />

sacerdotes, los ancianos, y la gente común que ha acudido al espectáculo, distingo, aunque de<br />

mala manera porque los dolores me nublan los ojos, a mi madre con algunas mujeres, y<br />

también, sí, también está María Magdalena. Y está Juan, pero a los otros no los veo, habrán<br />

huido. A la muerte debería asistirse en silencio, no este clamor de insultos, este griterío, este<br />

odio insensato, estas palabras de escarnio: “Sálvate a ti mismo si eres el rey de los judíos, ahí<br />

está ése que de iba a derrumbar el templo y volvía a reconstruirlo en tres días, que baje ahora<br />

de la cruz para que lo veamos y creamos en él”.<br />

Dios, Padre, Señor, ¿era esto necesario? ¿No te bastaba con la simple muerte? Ya que tendré<br />

que perder la vida, perdónales tú el alboroto, porque no saben lo que hacen. ¿Y yo? ¿Llegaré a<br />

saber lo que hice en el mundo? Y tú, Dios, Padre, Señor ¿sabrás realmente lo que has hecho?<br />

SEGUNDA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, no sé como podré confesarlo, tan confundido y humillado siento mi<br />

espíritu. Compadecido del ladrón manso, para consolarlo no encontré nada mejor que<br />

prometerle el paraíso: “Hoy mismo estarás conmigo en el paraíso”, fueron mis formales<br />

palabras. Pero luego me he preguntado si la soberbia, o el orgullo, o la vanidad, me han<br />

inducido a prometer algo que no estaba en mis manos ofrecer. Antes, en uno de sus ataques de<br />

furia, el ladrón bravo me había retado: “¿No eres el Mesías? ¡Sálvate a ti mismo y salvamos a<br />

nosotros!”. Pero el ladrón manso lo reprendió con estas justas palabras, en verdad inesperadas<br />

en una persona de su condición: “¿No tienes temor de Dios, tú que estás sufriendo la misma<br />

condenación? Nosotros estamos aquí para pagar el justo castigo por los actos que hemos<br />

practicado, pero éste no ha hecho ningún mal”. Y así fue.<br />

Dios, Padre, Señor, cuando caí en la tentación: “Hoy mismo estarás conmigo en el paraíso”,<br />

dije: ¿cómo pude olvidarme del Juicio Universal que, ése sí, separará el trigo de la paja, lo<br />

bueno de lo malo, lo virtuoso de lo pecador? ¿Cómo pude olvidar lo que dijo el profeta: “Yo,<br />

el señor, penetro en lo íntimo del hombre, y examino su corazón, y a cada uno le doy según su


proceder”? De todos modos, soy esclavo de mi promesa, este hombre vendrá conmigo, se<br />

presentará ante tu puerta, y tú, Dios, Padre, Señor, si quieres recibirme a mí, tendrás también<br />

que recibirlo a él, porque yo, solo, no entraré. Honra la promesa que he hecho, ya que con este<br />

suplicio me has deshonrado.<br />

TERCERA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, cuando, para castigar la jactancia de los hombres que estaban levantado<br />

aquella torre con la intención de llegar al cielo, les desordenaste el lenguaje, quizá no tuviste<br />

en cuanta todas las consecuencias del acto en el que incurriste inducido por una ira semejante<br />

a la del dueño de la viña cuando descubre que los maleantes se disponen a asaltarla. Tal vez<br />

este pensamiento, en apariencia fuera de lugar, sea fruto del delirio, de la angustia y de los<br />

terribles dolores que me laceran, pero, en esta hora última de mi paso por la tierra, no sería<br />

bueno que entre padre e hijo quedaran cosas silenciadas. Aquella mujer que ves allí, entre<br />

Juan y María Magdalena, es mi madre, tu debes de saberlo mejor que nadie. No he visto<br />

nunca, a lo largo de estos años, que le hayas dado alguna atención, pero no es de esto de lo<br />

que te quiero hablar. Mi pensamiento es otro. Cuando confundiste la lengua que hablaban los<br />

hombres, hubo palabras que se perdieron, otras que tomaron caminos desviados, otras que<br />

dejaron de pertenecer a quien, tiempo atrás, era su legítimo propietario. Hubo una época, tal<br />

vez en la edad de oro, cuando se hablaba el idioma que tú confundiste, en que las mujeres<br />

podían ser tan justas y piadosas como pudieran serlo los hombres, pero ya no lo eran cuando<br />

yo vine al mundo, porque, en hebraico, por ejemplo, para justo y piadoso no existen formas<br />

femeninas equivalentes. Teniendo que nacer forzosamente de una mujer, ¿como es posible,<br />

Dios, Padre, Señor, que no te dieras cuanta de que ella no era digna de engendrarme, puesto<br />

que no era piadosa ni justa? Te ruego que me lo expliques cuando nos encontremos.<br />

No veo a ninguno de mis hermanos. Y ese Juan, ya no sé si es mi discípulo, si es el hijo de<br />

Zebedeo, que tiene el mismo nombre. Sea como sea, voy a decir la frase que de mí se espera:<br />

“Mujer, ahí tienes a tu hijo. Juan, ahí tienes a tu madre.” Ojala se entiendan.<br />

CUARTA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, las palabras se atropellan en mi cabeza, hasta el punto de que ya no sé si<br />

son mías o si las he leído u oído en alguna parte, y ahora no hago nada más que repetirlas de<br />

manera mecánica, como un niño que a duras penas aprende a hablar. Por lo menos, tengo la<br />

seguridad de que las palabras que voy a proferir no saldrán de mi boca sólo para que mañana<br />

se pueda anunciar que las escrituras fueron cumplidas una vez más. Escúchalas y dime si no<br />

tengo razón: “Dios mío, Dios mío, ¿por qué me has abandonado?” Quien me oiga pensará que<br />

ésta es la primera vez que tú abandonas a alguien y por eso es de justicia que la pregunta se<br />

lance a los cuatro vientos desde lo alto de esta cruz, como un aviso a la gente. Porque tú,<br />

Dios, Padre, Señor, desde el principio del mundo no vienes haciendo otra cosa que no sea<br />

abandonarnos. Recuerda a quienes, por culpa de una manzana y una serpiente, expulsaste del<br />

paraíso terrenal, recuerda el espíritu vengativo con que pusiste ante la puerta a los querubines<br />

y una espada de fuego para que no pudieran regresar. ¿Crees tú, Dios, Padre, Señor, que al<br />

menos una vez en la vida, y en muchos casos todos los días y a todas las horas, la especie<br />

humana no ha tenido motivos para hacerte esta misma pregunta: “Dios mío, Dios mío,<br />

¿porqué me has abandonado?” Que estás lejos, dirás, que no puedes acudir a todo, que el<br />

hombre fue creado para que gobernase su vida sin depender de dios o de dioses, pero en tu


nombre, cuando no tú mismo, hay quien afirme que nacimos siervos y siervos seremos hasta<br />

el fin de la vida, porque tú eres la causa primera y porque, al mismo tiempo que nos vas<br />

abandonando uno a uno, nos mantienes sujetos con tu mano. Yo mismo te he hecho la<br />

pregunta y no me has respondido. Tenía razón aquel que dijo que Dios es el silencio del<br />

universo y el hombre el grito que da sentido a ese silencio. Se acabará el hombre y todo se<br />

acabará. Abandonados ya estamos, ellos, yo, tal vez tú también, que ni a ti mismo te puedes<br />

valer. Incluso para supuestamente salvar a la humanidad has tenido que derramar mi sangre.<br />

QU<strong>IN</strong>TA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, aunque pueda parecer extraordinario, o incluso increíble, que alguien a la<br />

vera de la muerte, como yo estoy, sienta sed y crea tener tiempo y fuerzas para beber un vaso<br />

de agua, es esto lo que acaba de pasar. Quizá, en realidad, yo no haya sentido auténtica sed,<br />

quizá fuera el recuerdo súbito de la frescura de un agua que voy a perder para siempre, la<br />

sensación de sentirla recorriendo una garganta que en breve se cerrará, lo que me ha hecho<br />

lanzar ese grito: “Tengo sed”. Sin que lo esperara, casi inmediatamente una esponja mojada<br />

me tocó la boca y el sabor del agua mezclada con vinagre me restituyó el aliento durante un<br />

instante. Mirando hacia abajo vi a un hombre que sostenía una caña, ésta en la que venía atado<br />

el misericordioso socorro, porque de sobra sabemos, los que nunca hemos tenido hielo para<br />

refrescar el agua en las canículas del verano, que echarle al agua un poco de vinagre es<br />

remedio infalible para la peor sed. El hombre bajó la caña, volvió a empapar la esponja, y otra<br />

vez me la hizo llegar hasta los labios. Después, porque los soldados romanos se acercaban con<br />

sus lanzas y hacían gestos amenazadores, el hombre se retiró, sujetando la caña sobre un<br />

hombro y acarreando el cubo de agua con vinagre en la otra mano. Esto es lo que ha pasado y<br />

no ninguna de las historias que se contarán en el futuro, como si el sufrimiento de quien fue<br />

condenado a morir en la cruz no fuese suficiente para llenar el libro. Tal vez a alguien se le<br />

ocurra escribir, y repetirlo de todos los modos y maneras, que quisieron darme vino mezclado<br />

con hiel o con mirra. No es verdad.<br />

Y ahora, Dios, Padre, Señor, te pido un último favor. Que no hagas esperar a este hombre<br />

hasta el día del Juicio Final, que lo llames a ti en el preciso momento en que muera, y que tú<br />

mismo vayas a recibirlo a la puerta del paraíso. Lo reconocerás fácilmente. Lleva una caña al<br />

hombro y un cubo con agua y vinagre en la otra mano.<br />

SEXTA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, todo está cumplido. La cruz donde me clavaron no tardará en tener un<br />

cadáver en sus brazos, tal como, desde el principio del mundo, tú decidiste que tendría que<br />

suceder. ¿Será, por ser la mía, suficiente esta muerte para la salvación de la humanidad? ¿Para<br />

salvarla de qué o de quién? ¿De sí misma? ¿Del infierno que tú mismo fabricaste, ya que no<br />

había nadie más que pudiera hacerlo? ¿Soy yo el cordero que Abel te sacrificaba, mientras<br />

que tú despreciabas el trigo y centeno que Caín te ofrecía? ¿Por qué? ¿No serías tú, Dios,<br />

Padre, Señor, quien armó la mano de Caín para que en la primera página de la historia de los<br />

hombres se anunciara ya el futuro que les esperaba, sangre, muerte, destrucción y tortura<br />

desde ese día y para siempre? ¿Y por qué el crimen de Caín quedó sin castigo? ¿Por qué tuvo<br />

que morir Abel? ¿Conoces tú, Dios, Padre, Señor, el remordimiento? ¿Por qué, contra la clara<br />

justicia, prosperó el asesino, hasta el punto de fundar una ciudad y tener descendencia como


cualquier hombre corriente, con manos limpias de sangre ajena? Sin querer faltarte el respeto,<br />

siempre has sido y serás un dios dúplice, con dos caras, dos pesos y dos medidas.<br />

No creo que mi muerte vaya a servir para que los hombres se salven, ni que, sin ésta, se<br />

perdiesen más de lo que ya están. No te imaginas, Dios, Padre, Señor, qué complicado y<br />

difíciles de entender son los seres humanos. Sea como fuere, he hecho todo lo que habías<br />

ordenado. Por eso está muriendo un hombre en la cruz.<br />

SÉPTIMA PALABRA<br />

Dios, Padre, Señor, en tus manos encomiendo mi espíritu, que la carne que lo contenía, ésta,<br />

quedará prendida a la madera mientras lo que de mí permanezca no sea depositado en el<br />

túmulo, de donde resucitaré al tercer día, si son ciertas las palabras que pusiste en mi boca<br />

para que las oyeran quienes me seguían. Me las censuró Pedro, que me llamó aparte y me<br />

dijo: “Dios te libre de tal. Una cosa así jamás sucederá.” Y yo le respondí: “Apártate de mí,<br />

Satanás. Me entorpeces el camino porque no entiendes las cosas según los designios de Dios,<br />

y sí a la manera de los hombres.” Esto fue lo que le dije, pero ahora, Dios, Padre, Señor, ahora<br />

que mi espíritu ya estará en tus manos, permíteme que yo también busque entender las cosas a<br />

la manera de los hombres. ¿Podrá mi cuerpo, sin un espíritu que lo anime, levantarse y salir<br />

del sepulcro, moviendo la piedra que le tapará la entrada? Y otra pregunta más. ¿Qué sucederá<br />

conmigo durante estos tres días? ¿Me corromperé? ¿Con las primeras señales de corrupción<br />

en la cara y en las manos me presentaré ante María Magdalena? Viví en el mundo como<br />

hombre durante treinta años, primero niño, después adolescente, después adulto, hasta este<br />

día. Si te digo cosas que estás harto de saber, es para que comprendas por qué razón me<br />

apareceré a María de Magdalena antes que a nadie más.<br />

Acabamos. He representado mi papel lo mejor que podía. El futuro dirá si este espectáculo ha<br />

merecido la pena. Y ahora, Dios, Padre, Señor, una última pregunta: ¿Quien soy yo? En<br />

verdad, en verdad, ¿quién soy yo?


LES SET PARAULES DE L’HOME<br />

José Saramago<br />

PRIMERA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, aquí em tens. Aquí em tens finalment, en aquest pujol pelat anomenat<br />

Gòlgota, i vers el qual, pas a pas, has anat encaminant la meva vida perquè es complissin totes<br />

les profecies. Sóc el de la creu alta, la del centre, i els homes que em fan companyia, un a<br />

cada banda, són dos lladres vulgars, d’aquells que en tenen prou en robar una mica, ja que, si<br />

fossin d’aquells que roben molt, de ben segur que no acabarien pas aquí crucificats. El que és<br />

a la meva dreta protesta perquè no vol morir pas, crida com un foll furiós, sacseja el cos com<br />

si volgués arrencar la creu del terra i fugir amb ella carregada a les espatlles. A l’altre ja el<br />

veig resignat, té el cap cot, gairebé ja ni gemega. Crec que li hauré de dirigir alguna paraula<br />

de consol abans que això no s’acabi. L’únic de bo que té aquest lloc pels condemnats és que<br />

Jerusalem serà la darrera imatge que s’enduen de la vida.<br />

No estem pas sols. Entre els soldats romans, els doctors de la llei, els caps dels sacerdots, els<br />

ancians, i la gentola que ha vingut a l’espectacle, distingeixo, per bé que no gaire bé a causa<br />

dels dolors que m’ennuvolen els ulls, la meva mare amb algunes dones, i també hi ha Maria<br />

Magdalena. I Joan també hi és, però als altres no els veig, hauran fugit. A la mort s’hi hauria<br />

d’assistir en silenci, no entre aquesta bramor d’insults, aquesta cridòria, aquest odi sense cap<br />

sentit, aquests mots d’escarni: “Salva’t a tu mateix si ets el rei dels jueus, aquí hi ha aquell<br />

que anava a esfondrar el temple i el reconstruiria en tres dies, que ara baixi de la creu perquè<br />

ho veiem i creguem en ell.”<br />

Déu, Pare, Senyor, calia això? No en tenies prou amb una simple mort? Ja que he de perdre la<br />

vida, perdona’ls tu aquest aldarull perquè no saben el que es fan. I jo? Arribaré a saber què he<br />

fet en aquest món? I tu, Déu, Pare, Senyor, sabràs mai de debò que tot allò que feres fou ben<br />

fet?<br />

SEGONA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, no sé com podré confessar-ho, tan confós i avergonyit sento el meu<br />

esperit. Compadit del lladre mansoi, a fi de consolar-lo, no he trobat res millor que prometreli<br />

el paradís: “Avui mateix seràs amb mi al paradís”, han estat les meves paraules formals.<br />

Però tot just després m’he demanat si la supèrbia, o l’orgull, o la vanitat, no m’han induït a<br />

prometre una cosa que no és a les meves mans d’oferir. Abans, en un dels seus atacs de fúria,<br />

el lladre rabiós m’ha reptat: “No ets el Messies? Doncs salva’t a tu mateix i a nosaltres!” Però<br />

el lladre mansoi l’ha renyat amb aquestes justes paraules, en veritat inesperades en una<br />

persona de la seva condició: “Tu tampoc no tems Déu, tu que també et trobes en un mateix<br />

suplici? I encara nosaltres amb justícia, ja que rebem el que mereixen els nostres actes; aquest,<br />

en canvi, no ha fet res de mal.” I ha estat així, Déu, Pare, Senyor, que he caigut en la<br />

temptació: “Avui mateix seràs amb mi al paradís”, li he dit. Com m’he pogut oblidar del<br />

Judici Universal que, aquest sí, separarà el gra de la palla, allò bo d’allò dolent, allò virtuós<br />

d’allò que és pecador? Com m’he pogut oblidar del que va dir el profeta: “Jo, el Senyor,<br />

penetro els cors i examino l’interior dels homes, per pagar a cada un segons la seva<br />

conducta”? De totes maneres, sóc esclau de la meva promesa, aquest home vindrà amb mi,<br />

amb mi es presentarà davant la teva porta, i tu, Déu, Pare, Senyor, si em vols rebre a mi,


també l’hauràs de rebre a ell, perquè jo sol no entraré pas. Honra la promesa que he fet, ja que<br />

en aquest suplici m’has deshonrat.<br />

TERCERA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, quan, per castigar la presumpció dels homes que bastien aquella torre amb<br />

la intenció d’arribar al cel, els vas desendreçar el llenguatge, potser no vas tenir en compte<br />

totes les conseqüències de l’acte que vas dur a terme induït per una ira semblant a la de l’amo<br />

de la vinya quan descobreix que uns brètols es disposen a assaltar-la. Pot ser que aquest<br />

pensament, en aparença fora de lloc, sigui fruit del deliri, de l’angoixa i dels dolors terribles<br />

que m’estripen el cos, però, en aquesta darrera hora del meu pas per la terra, no fóra bo que<br />

entre pare i fill restessin coses sense dir. Aquella dona que veus allà, entre Joan i Maria<br />

Magdalena, és la meva mare, tu ho deus saber millor que cap altre. No he vist mai, tot al llarg<br />

d’aquests anys, que li hagis dispensat cap atenció, però no és pas d’això que vull parlar-te. El<br />

meu pensament és un altre. Quan vas confondre la llengua que parlaven els homes, hi va<br />

haver paraules que es van perdre, d’altres que prengueren camins desviats, d’altres que van<br />

deixar de pertànyer a qui, en temps passats, n’era el propietari legítim. Hi va haver una època,<br />

potser en l’edat d’or, quan hom parlava l’idioma que tu vas embarbussar, en què les dones<br />

podien ser tan justes i pietoses com ho poguessin ser-ho els homes, però quan jo vaig venir al<br />

món, ja no ho eren, perquè en hebreu, per exemple, per a dir just i pietós no existeixen formes<br />

femenines equivalents. Com que forçosament he hagut de néixer d’una dona, com és possible,<br />

Déu, Pare, Senyor, que no te n’adonessis que ella no era digna d’engendrar-me, ja que no era<br />

ni pietosa ni justa? Et prego que m’ho expliquis quan ens trobem.<br />

No veig cap dels meus germans. I aquest Joan, ja no sé si és el meu deixeble, si és el fill de<br />

Zebedeu, que té el mateix nom. Sigui com sigui, vaig a dir la frase que hom espera de mi:<br />

“Dona, aquí tens el teu fill. Joan, aquí tens la teva mare.” Tan de bo s’entenguin.<br />

QUARTA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, les paraules se m’atropellen dins el cap, fins al punt de ja no saber si són<br />

meves o si les he llegides o sentides a algun lloc, i ara no faig sinó repetir-les de manera<br />

mecànica, com un nen que amb prou feines aprèn a parlar. Almenys tinc la certesa que les<br />

paraules que vaig a proferir no sortiran de la meva boca només perquè demà es pugui<br />

anunciar que les escriptures s’han complert una vegada més. Escolta-les i digues-me si no tinc<br />

pas raó: “Déu meu, Déu meu, per què m’has abandonat?” Qui em senti pensarà que aquesta és<br />

la primera vegada que tu abandones algú, i per això és de justícia que la pregunta la llanci als<br />

quatre vents des del capdamunt d’aquesta creu com una advertència a la gent. Perquè tu, Déu,<br />

Pare, Senyor, des del principi del món no has fet res més que no sigui abandonar-nos.<br />

Recorda aquells que, per culpa d’una poma i una serp, vas expulsar del paradís terrenal,<br />

recorda l’esperit venjatiu amb què vas col·locar a la porta els querubins i una espasa de foc<br />

perquè mai no poguessin tornar. Tu creus, Déu, Pare, Senyor, que almenys un cop a la vida, i<br />

en molts casos tots els dies i a totes hores, l’espècie humana no ha tingut motius per fer-te<br />

aquesta mateixa pregunta: “Déu meu, Déu meu, per què m’has abandonat?” Que ets molt<br />

lluny, diràs, que no arribes a tot arreu, que l’home va ser creat perquè governés la seva vida<br />

sense dependre de déu o déus, però en nom teu, quan no tu mateix, hi ha qui afirma que<br />

naixem serfs i serfs serem fins al final de la vida, perquè tu ets la causa primera i perquè, al<br />

mateix temps que ens vas abandonant una a un, ens mantens ben agafats en la teva mà. Jo


mateix t’he fet la pregunta i no m’has contestat. Tenia raó aquell que va dir que Déu és el<br />

silenci de l’univers i l’home el crit que dóna sentit a aquell silenci. S’acabarà l’home i tot<br />

s’acabarà. Abandonats ja ho estem, ells, jo, potser tu també, que ni a tu mateix et pots valer.<br />

Fins i tot per suposadament salvar la humanitat has hagut de vessar la meva sang.<br />

C<strong>IN</strong>QUENA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, tot i que sembli extraordinari, o fins i tot increïble, que algú com jo al<br />

llindar de la mort, tingui set i cregui tenir temps i forces per beure un got d’aigua, això és el<br />

que acaba de passar. Potser, en realitat, no hagi sentit pas autèntica set, potser només ha estat<br />

el record sobtat de la frescor d’una aigua que ara he de perdre per sempre, la sensació de<br />

sentir-la córrer per dins d’una gola que aviat es tancarà, el que m’ha empès a fer aquest crit:<br />

“Tinc set.” Sense esperar-m’ho, gairebé immediatament una esponja molla m’ha tocat la boca<br />

i el gust d’aigua barrejada amb vinagre m’ha restituït per un instant l’alè. He mirat cap a baix i<br />

he vist un home que aferrava una canya a la que havia lligat el socors misericordiós, perquè<br />

ho sabem molt bé, els que mai no hem tingut gel per refrescar l’aigua durant les canícules<br />

d’estiu, que posar una mica de vinagre a l’aigua és un remei infal·lible per a la pitjor set.<br />

L’home ha baixat la canya, ha tornat a amarar l’esponja, i de bell nou me l’ha fet arribar fins<br />

als llavis. Després, com que els soldats romans s’apropaven amb les seves llances i feien<br />

gestos amenaçadors, l’home s’ha enretirat, amb la canya sobre una espatlla i el cubell d’aigua<br />

amb vinagre a l’altra mà. Això és el que ha passat i no pas cap de les històries que<br />

s’explicaran en el futur, com si el patiment de qui ha estat condemnat a morir en creu no fos<br />

prou per a omplir un llibre. Potser a algú se li acudeixi escriure, i repetir-ho de totes les<br />

maneres i els modes, que van voler donar-me vi barrejat amb fel o mirra. No és pas veritat.<br />

I ara, Déu, Pare, Senyor, et demano un darrer favor. Que no facis esperar aquest home fins al<br />

dia del Judici Final, que el facis venir a tu just en el precís instant que mori, i que tu mateix<br />

surtis a rebre’l a la porta del paradís. El reconeixeràs fàcilment. Duu una canya a l’espatlla i<br />

un cubell d’aigua amb vinagre a l’altra mà.<br />

SISENA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, tot s’ha acomplert. La creu on m’han clavat no trigarà a tenir un cadàver<br />

als seus braços, tal com, des del principi del món, tu vas decidir que hauria de passar. Serà,<br />

perquè és la meva, suficient aquesta mort per salvar la humanitat? Per salvar-la de què o de<br />

qui? D’ella mateixa? De l’infern que tu mateix vas fabricar, ja que ningú més llevat de tu no<br />

ho hauria pogut fer? Sóc jo l’anyell que Abel et sacrificava, mentre que menyspreaves el blat i<br />

l’ordi que t’oferia Caïm? Per què? No fores pas tu mateix, Déu, Pare, Senyor, qui va armar la<br />

mà de Caïm perquè en la primera pàgina de la història dels homes s’anunciés ja el futur que<br />

els esperava, sang, mort, destrucció i tortura des d’aquell dia i per sempre? I per què el crim<br />

de Caïm va quedar impune? Per què va haver de morir Abel? Saps què és, tu, Déu, Pare,<br />

Senyor, el penediment? Per què, contra la justícia clara, l’assassí va prosperar fins al punt de<br />

fundar una ciutat i tenir descendència com qualsevol home que té les mans netes de sang<br />

aliena? Sense voler faltar-te al respecte, sempre has estat i seràs un déu doble, amb dos<br />

rostres, dos pesos, dues mides.<br />

No crec que la meva mort serveixi perquè els homes se salvin, ni que, sense aquesta, es perdin<br />

encara més del que ja ho estan. No t’imagines pas, Déu, Pare, Senyor, que complicats i


difícils d’entendre són els éssers humans. Sigui com sigui, he fet tot el que havies ordenat. Per<br />

això està morint un home en aquesta creu.<br />

SETENA PARAULA<br />

Déu, Pare, Senyor, a les teves mans encomano el meu esperit, que la carn que el contenia,<br />

aquesta, resterà aquí penjada a la fusta mentre que allò que romangui de mi no ho dipositin al<br />

túmul des d’on ressuscitaré al tercer dia, si mai són certes les paraules que em vas posar a la<br />

boca perquè les sentissin aquells que em seguien. Pere me les va censurar, que em va cridar a<br />

part i va dir-me: “Déu t’alliberi d’això. Una cosa així mai no ha de succeir.” I jo li vaig<br />

respondre: “Vés-te’n d’aquí, Satanàs! Em vols fer caure, perquè no veus les coses com Déu,<br />

sinó com els homes.” Això va ser el que vaig dir-li, però ara, Déu, Pare, Senyor, ara que el<br />

meu esperit ja deu haver arribat a les teves mans, permet-me que jo també cerqui d’entendre<br />

les coses a la manera dels homes. Podrà el meu cos, sense un esperit que l’animi, llevar-se i<br />

sortir del sepulcre, moure la pedra que cobrirà l’entrada? I encara una altra pregunta: Què serà<br />

de mi durant aquests tres dies? M’he de corrompre? Amb els primers senyals de corrupció al<br />

rostre i a les mans, m’he de presentar davant de Maria Magdalena? Vaig viure al món com a<br />

home durant trenta-tres anys, primer nen, després adolescent, després adult, fins a aquest dia.<br />

Si et dic coses que ja estàs tip de saber, és perquè entenguis per quina raó m’apareixeré a<br />

Maria Magdalena abans que a ningú més.<br />

Acabem. He representat el meu paper el millor que he pogut. El futur dirà si aquest espectacle<br />

ha valgut la pena. I ara, Déu, Pare, Senyor, una darrera pregunta: Qui sóc jo? En veritat, en<br />

veritat, qui sóc jo?<br />

Traducció: Manuel Forcano


THE SEVEN WORDS OF MAN<br />

José Saramago<br />

FIRST WORD<br />

God, Father, Lord - here I am. Here I am, at last, on this arid hill called Golgotha, the place to<br />

which you have been guiding me all my life, step my step, in fulfilment of the prophecies. I<br />

am the one hanging on the tall cross, the cross in the middle, and the men either side of me are<br />

two common thieves, small fry who do just a bit of thieving on the side. If they were thieves<br />

on a grand scale, I’m sure they wouldn’t have ended up here, crucified. The one on my right<br />

is protesting because he doesn’t want to die. He is shouting and ranting like a madman,<br />

writhing and twisting his body as if he were trying to wrench the cross out of the ground and<br />

escape with it on his back. The other one, though, looks more resigned. His head is hanging<br />

down, and all he does is groan. I think I’ll have to offer him some words of consolation before<br />

all this is over. The one good thing about this place is that the last thing condemned men see<br />

as they depart this life is Jerusalem.<br />

We are not alone here. Among the Roman soldiers, the doctors of the law, the chief priests,<br />

the elders, and the common people who have come to observe the spectacle, I can just make<br />

out my mother standing with some other women, although I can’t see very clearly, because<br />

my vision is blurred with pain, and yes, Mary Magdalene is there, too. And John, but I can’t<br />

see the others, they must have fled. Death should be witnessed in silence, not amid this<br />

clamour of insults, this shouting, this mindless hatred, these jeering words: “You who were<br />

going to destroy the Temple and build it again in three days, save yourself. If you are king of<br />

the Jews, come down from the cross. Show us, then we’ll believe in you!”<br />

God, Father, Lord, was all this necessary? Wasn’t it enough that I should die? But since I<br />

must lose my life, forgive them for this uproar, because they don’t know what they are doing.<br />

And what about me? Shall I ever know what I have done in the world? And what about you,<br />

God, Father, Lord? Do you really know what you have done?<br />

SECOND WORD<br />

God, Father, Lord, my spirit is so bewildered and ashamed, that I hardly know how to confess<br />

this. Taking pity on the mild-mannered thief, the only words of consolation I could find were<br />

to promise him paradise: “This day you will be with me in paradise”, I said. But then I<br />

wondered if it was arrogance, pride or vanity that made me promise something that was not in<br />

my power to give. Earlier, in one of his fits of rage, the angry thief challenged me, saying,<br />

“Aren’t you the Messiah? Then save yourself, and save us!” But, quite surprisingly for a man<br />

of his sort, the good thief wisely rebuked him with the words, “Don’t you fear God, since you<br />

are under the same sentence of condemnation? In our case it is just, because we are receiving<br />

the due reward of our deeds, but this man has done nothing wrong”. And so it was.<br />

God, Father, Lord, when I yielded to temptation and said, “This day you will be with me in<br />

paradise”, I thought, “how could I have forgotten the Last Judgement, which really will<br />

separate the wheat from the chaff, the good from the bad, the virtuous man from the sinner?<br />

How could I have forgotten the words of the prophet: “I, the Lord, search the mind and try the<br />

heart, to give to every man according to his ways”? In any case, I can’t get away from my<br />

promise. This man will come with me, he will come before your gates, and if you want to


eceive me, God, Father, Lord, you will have to receive him, too, because I won’t enter alone.<br />

Honour the promise I have made, since you have stripped me of my honour through this<br />

ordeal.<br />

THIRD WORD<br />

God, Father, Lord, when you punished the boastfulness of the men who presumed to build<br />

that tower with the intention of reaching heaven by confounding their language, perhaps you<br />

did not take into account all the consequences of an action that you committed out of anger,<br />

like that of the owner of a vineyard who discovers that his property is about to be ransacked<br />

by villains. Perhaps this apparently inappropriate thought is the result of the delirium, anguish<br />

and the terrible pains that sear my body, but in this final hour of my time on earth, nothing<br />

should be left unsaid and silenced between us, father and son. That woman you see there,<br />

standing between John and Mary Magdalene, is my mother, as you know better than anybody.<br />

Through all these years, I have never seen you show her any kindness, but that is not what I<br />

want to talk about. There is something else on my mind. When you confounded the language<br />

of men, some words were lost, some went astray, and others ceased to belong to their<br />

previous legitimate owners. Once upon a time, perhaps in the golden age when men spoke the<br />

language that you confounded, women could be as just and pious as men, but by the time I<br />

came into the world, that option was no longer open to them, because in Hebrew, for example,<br />

there are no equivalent feminine forms for the words “just” and “pious”. How could you have<br />

overlooked the fact, God, Father, Lord, that, being neither pious nor just, she was not worthy<br />

to give birth to me? I’d be grateful if you would explain that to me when we meet.<br />

I don’t see any of my brothers. And John, who is standing there - I no longer know if he is my<br />

disciple John, or if he is the son of Zebedee, who has the same name. Whoever he is, I am<br />

going to say the words that are expected of me: “Woman, behold your son. John, behold your<br />

mother.” I hope they make some sense.<br />

FOURTH WORD<br />

God, Father, Lord, the words are milling round in my head, and I’m no longer sure if they are<br />

mine or if I have read or heard them somewhere and now merely repeat them mechanically,<br />

like a child who is struggling to learn to talk. At least I can be certain that the words I am<br />

about to utter will not be spoken just so that tomorrow it can be announced that the scriptures<br />

have once again been fulfilled. Listen to them and tell me if I am mistaken: “My God, my<br />

God, why have you forsaken me?” Anyone listening to me will think that this is the first time<br />

you have forsaken someone and that it is fair for the question to be cast to the four winds from<br />

up here on this cross, like a warning to all the people. But the truth is, God, Father, Lord, that<br />

since the beginning of the world all you have ever done is forsake us. Just spare a thought for<br />

those whom, because of an apple and a serpent, you expelled from their earthly paradise,<br />

remember the vengeful spirit in which you placed cherubim and a flaming sword at the gate<br />

so that they could not get back in. Do you think, God, Father, Lord, that at least once in their<br />

lives, and in many cases every single day and every hour of every day, the human race has not<br />

had good reason to ask you the same question: “My God, my God, why have you forsaken<br />

me?” You are a long way away, you’ll say, and you can’t always be there to help, you’ll say<br />

that man was created to run his own life without relying on any god or gods, but it has been


said, if not by you, then by those who speak in your name, that we were born slaves and<br />

slaves we shall be to the end of our days, and you are the prime cause, because although you<br />

forsake us, one by one, you never release us from your grasp. I, too, have asked you the<br />

question and you have not answered me. Whoever it was that said “God is the silence of the<br />

universe and man the cry that fills that silence with meaning” was right. Mankind and<br />

everything else will come to an end. We are all already forsaken - we, they, I and perhaps<br />

even you. Perhaps you can’t even help yourself. Even supposedly to save mankind, you had to<br />

shed my blood.<br />

FIFTH WORD<br />

God, Father, Lord, although it might seem extraordinary, or even incredible, that somebody<br />

on the brink of death, as I am now, should feel thirsty and think they have time and strength<br />

enough to drink a cup of water, that is what has just happened. Perhaps, in fact, I am not<br />

really thirsty, perhaps it was just the sudden memory of the coolness of water that I am about<br />

to lose forever, the sensation of water trickling down my throat that will soon close, that made<br />

me cry out: “I thirst”. I didn’t expect it, but almost immediately I felt a wet sponge on my<br />

mouth, and the taste of water mixed with vinegar revived me for a moment. Looking down, I<br />

saw a man holding a reed, the one to which the merciful sponge was tied. All those of us who<br />

have never had ice to cool our water in the heat of summer know full well that a few drops of<br />

vinegar added to the water will quench the driest thirst. The man lowered the reed, soaked the<br />

sponge again, and once more raised it to my lips. Then, because the Roman soldiers were<br />

approaching with their spears and making threatening gestures, the man moved away,<br />

carrying the reed over his shoulder and holding the bucket of water and vinegar in the other<br />

hand.<br />

That is the way it really happened, not one of the stories that will be told in the future, as if<br />

the suffering of a man condemned to die on the cross weren’t enough to fill the book. Who<br />

knows, perhaps someone will take it into his head to write it all down and tell the story this<br />

way and that, saying that they wanted to give me wine mixed with gall or myrrh. But it isn’t<br />

true.<br />

And now, God, Father, Lord, I want to ask you one last favour. Don’t make him wait until the<br />

day of the Last Judgement. Call him to yourself the very moment that he dies, go and<br />

welcome him at the gates of paradise. You can’t miss him - he’ll be carrying a reed over his<br />

shoulder and a bucket of water and vinegar in the other hand.<br />

SIXTH WORD<br />

God, Father, Lord, all is accomplished. Soon, the cross to which they nailed me will be<br />

holding a corpse between its arms, just as you decided from the beginning of the world was to<br />

be my destiny. Is it possible that this death, simply because it is my death, will suffice for the<br />

salvation of mankind? From whom or what must men be saved? From themselves? From the<br />

hell that you yourself must have created, since there was nobody else to do it? Am I the lamb<br />

that Abel sacrificed to you, while you disdained Cain’s offerings of wheat and rye? Why?<br />

Wasn’t it you, God, Father, Lord, who put the weapon in Cain’s hand so that the very first<br />

page of man’s history might proclaim the future that awaited him - bloodshed, death,<br />

destruction and torment from that day forth and for ever more? And why did Cain’s crime go


unpunished? Why did Abel have to die? God, Father, Lord, do you feel any remorse? Why, so<br />

patently in the face of justice, did the murderer prosper to the point of founding a city and<br />

having children like an ordinary man with nobody’s blood on his hands? I don’t want to be<br />

disrespectful, but you always were and always will be a double-dealing god, with two faces,<br />

two sets of scales and two yardsticks.<br />

I don’t believe my death will save mankind, or that without my death mankind would be more<br />

doomed than it already is. You can’t imagine, God, Father, Lord, how complicated and<br />

unfathomable human beings are. In any case, I have done everything you commanded. And<br />

that is the reason why a man is dying on the cross.<br />

SEVENTH WORD<br />

God, Father, Lord, into your hands I commend my spirit, and this body that it inhabited will<br />

remain pinned to the cross until what remains of me is laid in the tomb, from which I shall<br />

rise on the third day, if the words you put into my mouth for my followers to hear are true.<br />

Peter rebuked me for them, taking me aside and saying, “God forbid! Such a thing will never<br />

happen to you.” And I answered him, “Get behind me, Satan. You are a hindrance to me,<br />

because you understand things not according to God’s `purpose, but according to man’s”.<br />

That is what I said to him, but now, God, Father, Lord, now that my spirit is in your hands,<br />

allow me to try and understand things like a man. Will my body, once the spirit has left it, be<br />

able to rise and leave the tomb, rolling away the stone that blocks its entrance? And I have<br />

another question. What will happen to me over the next three days? Will my flesh begin to<br />

rot? Shall I appear to Mary Magdalene with the first signs of corruption on my face and<br />

hands? I have lived in the world as a man for thirty years, first as a child, then a youth, and as<br />

an adult, until today. If I am telling you things that you already know, it’s just so that you will<br />

understand why I will appear to Mary Magdalene before anybody else.<br />

Let’s get it over with. I have played my part as best I could. Only the future can tell if this<br />

spectacle has been worthwhile. And now, God, Father, Lord, one last question: Who am I?<br />

Really and truly, who am I?<br />

Translation by Jacqueline Minett


LE SETTE PAROLE DELL’UOMO<br />

José Saramago<br />

PRIMA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, sono tuo. Sono tuo, finalmente, su questo monte arido che chiamano<br />

Golgota, e fino al quale, passo a passo, hai incamminato la mia vita affinché si compissero<br />

tutte le profezie. Sono quello della croce alta, quella che sta nel mezzo, e gli uomini che mi<br />

fanno compagnia, uno per lato, sono due volgari ladri, di quelli che si accontentano di rubare<br />

poco, perché se fossero di quelli che rubano molto sono sicuro che non sarebbero finiti in<br />

croce. Quello che sta alla mia destra protesta che non vuole morire, grida come un pazzo<br />

furioso, si dimena come se volesse strappare la croce dal suolo e fuggire con lei sulle spalle;<br />

l’altro lo vedo già rassegnato, ha la testa penzoloni, geme soltanto. Penso che dovrò dirgli<br />

qualche parola di conforto prima che tutto questo finisca. Il buono di questo posto, per i<br />

condannati, è che sarà Gerusalemme l’ultima immagine che porteranno con sé dalla vita.<br />

Non siamo soli. Tra i soldati romani, i dottori della legge, i capi dei sacerdoti, gli anziani e la<br />

gente comune che è accorsa allo spettacolo, distinguo, benché malamente perché i dolori mi<br />

offuscano gli occhi, mia madre con alcune donne, ed anche, sì, c’è anche Maria Maddalena. E<br />

c’è Giovanni, ma gli altri non li vedo, saranno fuggiti. Alla morte si dovrebbe assistere in<br />

silenzio, non tra questo clamore di insulti, questo schiamazzo, questo odio insensato, queste<br />

parole di scherno: “Salva te stesso, se sei il re dei Giudei. Eccolo lì quello che doveva<br />

distruggere il tempio e ricostruirlo in tre giorni; scenda ora dalla croce che lo vediamo e<br />

crediamo in lui.”<br />

Dio, Padre, Signore, era proprio necessario? Non ti bastava semplicemente la morte? Poiché<br />

dovrò perdere la vita, perdona loro lo schiamazzo, perché non sanno quello che fanno. E io?<br />

Arriverò a sapere quello che ho fatto nel mondo? E tu, Dio, Padre, Signore, saprai realmente<br />

quello che hai fatto?<br />

SECONDA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, non so come potrò confessarlo, tanto confuso e umiliato sento il mio<br />

spirito. Avendo compassione del ladro mite, per consolarlo non ho trovato niente di meglio<br />

che promettergli il paradiso. “Oggi stesso sarai con me in paradiso”, sono state le mie precise<br />

parole. Ma poi mi sono domandato se la superbia, o l’orgoglio, o la vanità, mi hanno indotto a<br />

promettere qualcosa che non era in mio potere offrire. Prima, in uno dei suoi attacchi di furia,<br />

il ladro rabbioso mi aveva sfidato: “Non sei il Messia? Salvati tu e salva noi!”. Ma il ladro<br />

mite lo ha ripreso con queste giuste parole, davvero inaspettate in una persona della sua<br />

condizione: “Non hai timore di Dio, tu che stai soffrendo la stessa condanna? Noi stiamo<br />

pagando la giusta pena per i delitti che abbiamo commesso, ma lui non ha fatto alcun male”.<br />

E così fu. Dio, Padre, Signore, quando sono caduto nella tentazione: “Oggi stesso sarai con<br />

me in paradiso”, ho detto. Come ho potuto dimenticarmi del Giudizio Universale che, quello<br />

sì, separerà il grano dalla paglia, il buono dal cattivo, il giusto dal peccatore? Come ho potuto<br />

dimenticare quello che ha detto il profeta: “Io, il signore, penetro nell’intimo dell’uomo, ed<br />

esamino il suo cuore, e a ciascuno do secondo la sua condotta?”. Ad ogni modo, sono schiavo<br />

della mia promessa; questo uomo verrà con me, si presenterà davanti alla tua porta, e tu, Dio,


Padre, Signore, se vuoi accogliermi, dovrai accogliere anche lui, perché io, solo, non entrerò.<br />

Onora la promessa che ho fatto, poiché con questo supplizio mi hai disonorato.<br />

TERZA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, quando, per punire la iattanza degli uomini che avevano innalzato quella<br />

torre con l’intenzione di arrivare al cielo, confondesti la loro lingua, forse non hai messo in<br />

conto tutte le conseguenze dell’atto cui fosti indotto da un’ira simile a quella del padrone<br />

della vigna quando scopre che i malviventi si dispongono ad assaltarla. Forse questo pensiero,<br />

in apparenza fuori luogo, è frutto del delirio, dell’angoscia e dei terribili dolori che mi<br />

dilaniano, ma, in questa ora ultima del mio passaggio sulla terra, non sarebbe bene che tra<br />

padre e figlio rimanessero cose taciute. Quella donna che vedi lì, tra Giovanni e Maria<br />

Maddalena, è mia madre, lo devi sapere meglio di chiunque altro. Non ho mai visto, nel corso<br />

di questi anni, che le abbia prestato alcuna attenzione, ma non è di questo che ti voglio<br />

parlare. Il mio pensiero è un altro. Quando confondesti la lingua che parlavano gli uomini, ci<br />

furono parole che si persero, altre che presero strade diverse, altre che smisero di appartenere<br />

a chi, tempo addietro, era il loro legittimo proprietario. Ci fu un’epoca, forse nell’età dell’oro<br />

in cui si parlava la lingua che tu confondesti, in cui le donne potevano essere giuste e pie<br />

come potevano esserlo gli uomini; ma quando io venni al mondo non lo erano più, perché, in<br />

ebraico, per esempio, per giusto e pio non esistono forme femminili equivalenti. Dovendo<br />

nascere per forza da una donna, come è possibile, Dio, Padre, Signore, che non dessi<br />

importanza al fatto che non era degna di generarmi, dato che non era né pia né giusta? Ti<br />

prego che me lo spieghi quando ci incontreremo.<br />

Non vedo nessuno dei miei fratelli. E questo Giovanni, non so più se è il mio discepolo, se è il<br />

figlio di Zebedeo che ha lo stesso nome. Sia come sia, dico la frase che ci si aspetta di me:<br />

“Donna, ecco tuo figlio. Giovanni, ecco tua madre”. Speriamo che si intendano.<br />

QUARTA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, le parole mi si confondono in testa, al punto che non so più se sono mie o<br />

se le ho lette o sentite da qualche parte, ed ora non faccio altro che ripeterle in maniera<br />

meccanica, come un bambino che faticosamente impara a parlare. Per lo meno, ho la<br />

sicurezza che le parole che proferisco non usciranno dalla mia bocca solo perché domani si<br />

possa annunciare che le scritture si sono compiute una volta di più. Ascoltale e dimmi se non<br />

ho ragione: “Dio mio, Dio mio, perché mi hai abbandonato?”. Chi mi sente penserà che<br />

questa sia la prima volta che tu abbandoni qualcuno, e per questo è giusto che la domanda si<br />

diffonda ai quattro venti dall’alto di questa croce, come un avviso alla gente. Perché tu, Dio,<br />

Padre, Signore, dal principio del mondo non stai facendo altro se non abbandonarci. Ricorda<br />

quelli che, per colpa di una mela e di un serpente, cacciasti dal paradiso terrestre, ricorda lo<br />

spirito vendicativo con cui mettesti davanti alla porta i cherubini e una spada di fuoco, perché<br />

non potessero ritornare. Tu credi, Dio, Padre, Signore, che almeno una volta nella vita, ed in<br />

molti casi tutti i giorni e a tutte le ore, la specie umana non abbia avuto motivi per farti questa<br />

stessa domanda: “Dio mio, Dio mio, perché mi hai abbandonato?”. Che sei lontano, dirai, che<br />

non puoi badare a tutto, che l’uomo è stato creato perché governasse la sua vita senza<br />

dipendere da un dio o da dei, ma in tuo nome, se non tu stesso, c’è chi afferma che siamo nati<br />

servi e servi saremo fino al fine della vita, perché tu sei la causa prima e perché, nel momento<br />

stesso in cui ci abbandoni uno ad uno, ci mantieni sottomessi con la tua mano. Io stesso ti ho


fatto la domanda e non mi hai risposto. Aveva ragione colui che disse che Dio è il silenzio<br />

dell’universo, e l’uomo il grido che dà senso a questo silenzio. Finirà l’uomo e tutto finirà.<br />

Abbandonati siamo già, loro, io, forse anche tu, che neppure puoi rivolgerti a te stesso.<br />

Perfino per salvare – si suppone − l’umanità, hai dovuto spargere il mio sangue.<br />

QU<strong>IN</strong>TA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, benché possa sembrare straordinario, o perfino incredibile che qualcuno<br />

alla soglia della morte, come me, senta sete e creda di avere tempo e forze per bere un<br />

bicchiere d’acqua, questo è ciò che è appena successo. Chissà, in realtà, che io non abbia<br />

sentito autentica sete, chissà che fosse il ricordo improvviso della freschezza di un’acqua che<br />

sto per perdere per sempre, la sensazione di sentirla scorrere in una gola che tra poco si<br />

chiuderà, quello che mi ha fatto lanciare questo grido: “Ho sete”. Senza che me l’aspettassi,<br />

quasi immediatamente, una spugna bagnata mi ha toccato la bocca e il sapore dell’acqua<br />

mischiata con aceto mi ha ridato il respiro per un istante. Guardando verso il basso, ho visto<br />

un uomo che reggeva una canna, quella alla quale era legato il misericordioso soccorso,<br />

perché ben sappiamo, noi che non abbiamo mai avuto ghiaccio per rinfrescare l’acqua nelle<br />

canicole estive, che aggiungere all’acqua un po’ di aceto è rimedio infallibile per la peggiore<br />

sete. L’uomo abbassò la canna, tornò ad inzuppare la spugna, ed un’altra volta me la fece<br />

arrivare alle labbra. Poi, poiché i soldati romani si avvicinavano con le loro lance e facevano<br />

gesti minacciosi, l’uomo si ritirò, appoggiandosi la canna su una spalla e trasportando il<br />

secchio dell’acqua con l’aceto nell’altra mano. Questo è ciò che è successo e non alcun’altra<br />

delle storie che si racconteranno in futuro, come se la sofferenza di chi è stato condannato a<br />

morire in croce non fosse sufficiente per riempire il libro. Nel caso che a qualcuno avvenga di<br />

scrivere, e riferirlo in qualsiasi modo e maniera, che vollero darmi vino mischiato con fiele o<br />

con mirra. Non è vero.<br />

Ed ora, Dio, Padre, Signore, ti chiedo un ultimo favore. Che non faccia aspettare quest’uomo<br />

fino al giorno del Giudizio Finale; che lo richiami a te nel preciso istante della sua morte, e<br />

che tu stesso lo riceva alla porta del paradiso. Lo riconoscerai facilmente. Porta una canna alla<br />

spalla e un secchio d’acqua e aceto nell’altra mano.<br />

SESTA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, tutto è compiuto. La croce su cui mi hanno inchiodato non tarderà a<br />

tenere un cadavere tra le sue braccia, come, dall’inizio del mondo, tu decidesti che sarebbe<br />

dovuto succedere. Sarà sufficiente questa morte, essendo la mia, per la salvezza dell’umanità?<br />

Per salvarla da che cosa o da chi? Da se stessa? Dall’inferno che tu stesso hai fabbricato,<br />

poiché non c’era nessun’altro che potesse farlo? Sono io l’agnello che Abele ti sacrificava,<br />

mentre tu disprezzavi il grano e la segale che ti offriva Caino? Perché? Non sarai stato tu, Dio,<br />

Padre, Signore, ad armare la mano di Caino perché già nella prima pagina della storia degli<br />

uomini si annunciasse il futuro che li aspettava: sangue, morte, distruzione e tortura da quel<br />

giorno per sempre? E perché il crimine di Caino rimase senza punizione? Perché dovette<br />

morire Abele? Conosci tu, Dio, Padre, Signore, il rimorso? Perché, chiaramente contro<br />

giustizia, prosperò l’assassino, fino al punto di fondare una città ed avere discendenza come<br />

qualunque uomo normale con le mani pulite di sangue altrui? Senza volere mancarti il<br />

rispetto, sempre sei stato e sarai un dio duplice, con due volti, due pesi e due misure.


Non credo che la mia morte serva perché gli uomini si salvino, né che, senza di essa, si<br />

perderebbero più di quanto già non lo siano. Non t’immagini, Dio, Padre, Signore, che<br />

complicati e difficili da capire siano gli esseri umani. Comunque sia, ho fatto tutto quello che<br />

avevi ordinato. Per questo sta morendo un uomo sulla croce.<br />

SETTIMA PAROLA<br />

Dio, Padre, Signore, nelle tue mani affido il mio spirito. La carne che lo conteneva, questa<br />

rimarrà attaccata al legno finché ciò che rimane di me non sia stato deposto nel sepolcro, di<br />

dove resusciterò il terzo giorno, se sono certe le parole che mettesti nella mia bocca affinché<br />

le sentissero quelli che mi seguivano. Me le censurò Pietro che mi chiamò da parte e mi disse:<br />

“Dio te ne scampi. Una cosa simile non avverrà mai”. E io gli risposi: “Allontanati da me,<br />

Satana. Tu mi ostacoli il cammino perché non capisci le cose secondo i disegni di Dio, bensì<br />

alla maniera degli uomini”. Questo fu ciò che gli dissi, ma ora, Dio, Padre, Signore, ora che il<br />

mio spirito sarà già nelle tue mani, permettimi che anch’io cerchi capire le cose alla maniera<br />

degli uomini. Potrà il mio corpo, senza uno spirito che lo animi, alzarsi ed uscire dal sepolcro,<br />

muovendo la pietra che chiuderà l’entrata? E un’altra domanda. Che cosa succederà di me<br />

durante questi tre giorni? Mi corromperò? Con i primi segni di corruzione nel viso e nelle<br />

mani mi presenterò davanti a Maria Maddalena? Sono vissuto nel mondo come uomo per<br />

trent’anni, prima bambino, poi adolescente, poi adulto, fino a questo giorno. Se ti dico cose<br />

che ti dà fastidio sentire, è perché capisca per quale ragione apparirò prima a Maria<br />

Magdalena che a chiunque altro.<br />

Concludiamo. Ho svolto la mia parte quanto meglio ho potuto. Il futuro dirà se questo<br />

spettacolo è valso la pena. E ora, Dio, Padre, Signore, un’ultima domanda: Chi sono io? In<br />

verità, in verità, chi sono io?<br />

Traduzione: Luca Chiantore - MUSIKEON.NET


DIE SIEBEN WORTE DES MENSCHEN<br />

José Saramago<br />

ERSTES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, hier bin ich. Hier bin ich endlich, auf diesem trockenen Berge, Golgotha<br />

genannt, zu welchem du Schritt für Schritt mein Leben geführt hast, damit alle<br />

Prophezeiungen in Erfüllung gehen. Ich bin jener am hohen Kreuz, das in der Mitte steht, und<br />

die Männer, die mich begleiten, einer zu jeder Seite, sind zwei gemeine Diebe, solche, die<br />

sich mit wenig Beute begnügen, denn wären es solche, die viel stehlen, so bin ich sicher, dass<br />

sie nicht gekreuzigt würden. Der zu meiner Rechten jammert, weil er nicht sterben möchte,<br />

schreit wie ein Wahnsinniger, rüttelt seinen ganzen Körper, als ob er das Kreuz ausreißen und<br />

mit ihm am Rücken davon rennen wollte; der Andere scheint sich bereits mit seinem<br />

Schicksal abgefunden zu haben, sein Haupt ist geneigt, er wimmert nur leicht. Ich glaube, ich<br />

werde ihm ein Trostwort geben müssen, bevor all dies vorbei ist. Der Vorteil dieses Ortes für<br />

die Verurteilten ist, dass Jerusalem das letzte Bild ist, dass sie vom Leben mitnehmen.<br />

Wir sind nicht allein. Unter den römischen Soldaten, den Rechtsgelehrten, den Meistern der<br />

Priester, den Alten und dem gemeinen Volk, die zur Belustigung gekommen sind, erkenne<br />

ich, wenn auch nur schlecht, denn meine Augen sind vor Schmerz getrübt, meine Mutter mit<br />

einigen Frauen, ja, Maria Magdalena ist auch unter ihnen. Und auch Johannes, doch die<br />

Anderen sehe ich nicht, sie dürften geflohen sein. Der Tod sollte von Stille begleitet sein,<br />

nicht von diesem Schimpfgeschrei, diesem Gebrülle, diesem sinnlosen Hass, diesem Hohn:<br />

„Rette dich doch, wenn du der König der Juden bist! Seht, da ist dieser, der den Tempel<br />

zerstören und ihn in drei Tagen wieder aufbauen wollte, soll er doch vom Kreuz absteigen,<br />

damit wir es sehen und ihm glauben!“<br />

Gott, Vater, Herr, war das denn notwendig? Reichte dir der einfache Tod nicht? Da ich schon<br />

mein Leben einbüßen muss, vergebe ihnen diese Aufruhr, denn sie wissen nicht, was sie tun.<br />

Und ich? Werde ich jemals wissen, was ich auf der Welt getan habe? Und du, Gott, Vater,<br />

Herr, wirst du wirklich wissen, was du getan hast?<br />

ZWEITES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, ich weiß nicht, wie ich es gestehen werden kann, so verwirrt und erniedrigt<br />

fühle ich mich im Geiste. Des reumütigen Diebes erbarmt, habe ich zu seinem Trost nichts<br />

besseres gefunden als ihm das Paradies zu versprechen: „Heute wirst du mit mir im Paradies<br />

sein“, waren meine ernsten Worte. Doch dann habe ich mich gefragt, ob Hochmut, Stolz oder<br />

Eitelkeit mich nicht vielleicht dazu verleitet haben, etwas zu versprechen, das mir nicht<br />

zustand anzubieten. Davor hatte mich der unbändige Dieb in einem Wutanfall<br />

herausgefordert: „Bist du nicht der Christus? Hilf dir selbst und uns!“ Doch der Reumütigere<br />

hat ihn mit diesen gerechten, in einem Menschen seiner Art eigentlich unerwarteten Worten<br />

zurechtgewiesen: „Und du fürchtest dich auch nicht vor Gott, der du doch in gleicher<br />

Verdammnis bist? Wir sind es zwar mit Recht, denn wir empfangen, was unsre Taten<br />

verdienen; dieser aber hat nichts Unrechtes getan.“ Und so war es auch.<br />

Gott, Vater, Herr, wie konnte ich, als ich der Versuchung verfiel und sprach: „Heute wirst du<br />

mit mir im Paradies sein“, das jüngste Gericht vergessen, das sehr wohl die Spreu vom<br />

Weizen, das Gute vom Bösen, das Tugendhafte vom Sündhaften trennt? Wie konnte ich die


Worte des Propheten vergessen: „Ich, der Herr, gelange in das Innerste des Menschen, prüfe<br />

sein Herz und gebe Jedem, was ihm gebührt“? Jedenfalls bin ich Diener meines<br />

Versprechens, dieser Mann wird mit mir kommen, vor deinem Tor erscheinen, und du, Gott,<br />

Vater, Herr, wenn du mich empfangen möchtest, wirst auch ihn empfangen müssen, denn ich<br />

werde nicht allein eintreten. Ehre das Versprechen, das ich geleistet, da du mich mit dieser<br />

Qual entehrt hast.<br />

DRITTES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, als du die Sprache der Menschen verwirrtest, um den Hochmut derer zu<br />

strafen, die jenen Turm bauten, der bis zum Himmel reichen sollte, hast du vielleicht nicht<br />

alle Folgen dieser Tat in Erwägung gezogen, zu der dich die gleiche Wut wie die des Herrn<br />

des Weinberges bewog, als er die Bösewichte entdeckte, die ihn ausrauben wollten. Vielleicht<br />

ist dieser anscheinend unangemessene Gedanke eine Folge des Wahns, der Angst und der<br />

schrecklichen Schmerzen, die mich peinigen, doch zu dieser letzten Stunde meines Daseins<br />

auf Erden wäre es ungut, dass sich Vater und Sohn Dinge verschweigen. Diese Frau, die du<br />

dort siehst, zwischen Johannes und Maria Magdalena, ist meine Mutter, das weißt du wohl am<br />

besten. Während all dieser Jahre habe ich nicht bemerkt, dass du dich jemals um sie gesorgt<br />

hättest, doch möchte ich nicht darüber mit dir sprechen. Meine Gedanken liegen woanders.<br />

Als du die Sprache der Menschen verwirrtest, gab es Worte, die verloren gingen, andere<br />

nahmen einen falschen Weg und andere wiederum gehörten nicht mehr ihren ehedem<br />

rechtmäßigen Herren. Es gab eine Zeit, vielleicht im goldenen Zeitalter, als die Sprache<br />

gesprochen wurde, die du verwirrtest, in der die Frauen genau so gerecht und fromm wie die<br />

Männer sein konnten, doch es nicht mehr waren, als ich auf die Welt kam, denn im<br />

Hebräischen beispielsweise gibt es keine weibliche Form für gerecht und fromm. Wurde ich<br />

doch unweigerlich aus einer Frau geboren, wie kann es denn sein, Gott, Vater, Herr, dass du<br />

nicht bemerkt hast, dass sie meiner Zeugung nicht würdig war, da sie weder fromm noch<br />

gerecht ist? Ich bitte dich um eine Erklärung, wenn wir einander begegnen.<br />

Ich sehe keinen meiner Brüder. Und dieser Johannes, ich weiß nicht mehr, ob er mein Jünger,<br />

ob er der Sohn des Zebedäus ist, der den selben Namen trägt. Wie dem auch sei, ich werde die<br />

Worte sprechen, die von mir erwartet werden: „Frau, siehe, das ist dein Sohn! Johannes,<br />

siehe, das ist deine Mutter!“ Hoffentlich kommen sie gut miteinander aus.<br />

VIERTES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, die Worte drängen sich in meinem Kopf, und ich weiß nicht einmal, ob sie<br />

von mir entstammen oder ich sie woanders gelesen oder gehört habe und sie jetzt wie ein<br />

Kind, dass mühsam sprechen lernt, einfach mechanisch wiederhole. Wenigstens habe ich die<br />

Gewissheit, dass die Worte, die ich nun sprechen werde, nicht bloß von meinem Mund zu<br />

hören sein werden, damit morgen verkündet werden kann, dass die Schriften wieder einmal<br />

erfüllt wurden. Höre sie und sage, ob ich Recht habe: „Mein Gott, mein Gott, warum hast du<br />

mich verlassen?“ Wer mich hört, wird glauben, dass es das erste Mal ist, dass du jemanden<br />

verlässt und es daher rechtens sei, dass diese Frage gleich einer Warnung an die Menschen<br />

von diesem Kreuze hoch in alle Himmelsrichtungen gestellt wird. Denn du, Gott, Vater, Herr,<br />

hast seit dem Anfang der Welt nichts Anderes getan als uns zu verlassen. Denke an Jene, die<br />

du wegen eines Apfels und einer Schlange vom Paradies auf Erden vertrieben hast, denke an<br />

die Rachsucht, mit der du die Cherubim vor die Tür gesetzt hast, und mit ihnen ein


flammendes Schwert, damit sie nicht zurückkehren könnten. Glaubst du wirklich, Gott, Vater,<br />

Herr, dass die Menschen nicht mindestens einmal in ihrem Leben, wenn nicht gar jeden Tag<br />

und jederzeit einen Grund haben, dir die selbe Frage zu stellen: „Mein Gott, mein Gott,<br />

warum hast du mich verlassen?“ Du bist weit entfernt, wirst du entgegnen, du kannst nicht<br />

überall sein, der Mensch wurde geschaffen, um sein Leben zu meistern, ohne von Gott oder<br />

den Göttern abhängig zu sein, doch in deinem Namen wird behauptet, wenn nicht gar du<br />

selbst es tust, dass wir als Diener geboren wurden und bis zu unserem Lebensende Diener<br />

bleiben werden, denn du bist der Hauptgrund dafür und haltest uns mit deiner Hand fest,<br />

während du uns, einen nach dem anderen, verlässt. Ich selbst habe mich diese Frage gestellt<br />

und von dir keine Antwort erhalten. Recht hatte der, der sprach, dass Gott die Stille des<br />

Universums und der Mensch der Schrei ist, der dieser Stille Sinn verleiht. Der Mensch wird<br />

vorbei sein und mit ihm auch alles. Verlassen sind wir schon, sie, ich, vielleicht sogar auch<br />

du, denn du kannst nicht einmal dir selber helfen. Sogar zur vermeintlichen Rettung der<br />

Menschheit musstest du mein Blut vergießen.<br />

FÜNFTES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, obwohl es außergewöhnlich, ja sogar unglaublich erscheinen möge, dass<br />

jemand am Rande des Todes wie ich Durst hat und Zeit und Kraft zu haben glaubt, um einen<br />

Becher Wasser zu trinken, so ist es doch geschehen. Vielleicht hatte ich nicht wirklich Durst,<br />

vielleicht war es die plötzliche Erinnerung an die Frische eines Wassers, das ich für immer<br />

verlieren werde, das Gefühl zu erfahren, wie es einen Rachen hinunter fließt, der sich in<br />

Kürze für immer schließen wird, was mich zu diesem Ausruf führte: „Mich dürstet.“ Ohne es<br />

zu erwarten, berührte sofort ein nasser Schwamm meinen Mund, und der Geschmack des<br />

Wassers vermischt mit Essig gab mir für einen Augenblick die Kraft zurück. Als ich nach<br />

unten blickte, sah ich einen Mann, der ein Rohr hielt, an der die barmherzige Rettung<br />

befestigt war, denn wir alle, die niemals Eis zur Kühlung von Wasser in der Sommerhitze<br />

gehabt haben, wissen sehr wohl, dass ein Schuss Essig im Wasser ein ausgezeichnetes Mittel<br />

gegen den schlimmsten Durst ist. Der Mann senkte das Rohr, füllte wieder den Schwamm und<br />

reichte ihn wieder an meine Lippen. Da die römischen Soldaten daraufhin näher kamen und<br />

mit ihren Speeren drohende Gebärden machten, zog der Mann davon, hielt das Rohr auf einer<br />

Schulter und trug den Eimer Wasser mit Essig in der anderen Hand. So ist es geschehen und<br />

nicht wie die Geschichten zukünftig erzählen werden, als ob das Leiden des zum Tode am<br />

Kreuze Verurteilten nicht für das Buch ausreichen würde. Vielleicht fällt jemandem ein es zu<br />

schreiben und in allen erdenklichen Weisen widerzugeben, dass man mir Wein mit Honig<br />

oder Myrrhe reichen wollte. Das stimmt nicht.<br />

Und nun, Gott, Vater, Herr, bitte ich dich um einen letzten Gefallen. Lasse diesen Mann nicht<br />

bis zum Tag des jüngsten Gerichts warten, rufe ihn zu dir, sobald er stirbt, und empfange ihn<br />

persönlich an den Toren des Paradieses. Du wirst ihn leicht erkennen. Er trägt ein Rohr auf<br />

einer Schulter und einen Eimer mit Wasser und Essig in der anderen Hand.<br />

SECHSTES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, alles ist vollbracht. Es wird nicht mehr lange dauern, bis am Kreuz, an das<br />

ich genagelt wurde, eine Leiche hängt, so wie du seit dem Anfang der Welt beschlossen hast,<br />

dass es geschehen sollte. Wird dieser Tod, da es meiner ist, zur Rettung der Menschheit<br />

ausreichen? Um sie wovor oder vor wem zu retten? Vor sich selbst? Vor der Hölle, die du


selber zurechtgebildet hast, da es sonst niemand tun könnte? Bin ich das Lamm, das Abel dir<br />

zum Opfer brachte, während du den Weizen und Roggen abwiesest, den dir Kain bot?<br />

Warum? Warst du es vielleicht, Gott, Vater, Herr, der Kains Hand bewaffnete, damit bereits<br />

das erste Kapitel der Geschichte der Menschheit eine Ankündigung der Zukunft sein sollte,<br />

die sie erwartete, nämlich Blut, Tod, Zerstörung und Folter von da an und für immer? Und<br />

warum blieb Kains Verbrechen ungestraft? Warum musste Abel sterben? Weißt du, Gott,<br />

Vater, Herr, was das Gewissen ist? Warum durfte der Mörder entgegen der eindeutigen<br />

Gerechtigkeit in Wohlstand leben und sogar eine Stadt gründen und Nachkommen haben wie<br />

jeder gewöhnliche Mensch, dessen Hände frei von fremdem Blut sind? Ohne dir näher treten<br />

zu wollen, aber du bist immer ein doppeldeutiger Gott mit zwei Gesichtern, zwei<br />

Waagschalen und zwei Maßstäben gewesen.<br />

Ich glaube nicht, dass mein Tod dazu dienen wird, die Menschen zu retten, noch dass ohne<br />

diesen sie noch verdorbener würden, als sie schon sind. Du kannst dir nicht vorstellen, Gott,<br />

Vater, Herr, wie kompliziert und unverständlich die Menschen sind. Wie dem auch sei, ich<br />

habe alles getan, was du mir geboten hast. Daher stirbt jetzt ein Mann am Kreuze.<br />

SIEBENTES WORT<br />

Gott, Vater, Herr, ich befehle meinen Geist in deine Hände, denn das Fleisch, das ihn trug,<br />

das bleibt am Holz haften, solange meine Überreste nicht in das Grab gelegt werden, von wo<br />

ich am dritten Tage wieder auferstehen werde, sofern die Worte stimmen, die du mir in den<br />

Mund legtest, auf dass sie meine Anhänger hörten. Petrus rügte mich, rief mich zur Seite und<br />

sprach zu mir: „Gott bewahre dich davor. So etwas wird nie zustande kommen.“ Und ich<br />

antwortete ihm: „Geh weg von mir, Satan! Du bist mir ein Ärgernis, denn du verstehst nicht<br />

die Dinge gemäß Gottes Bestimmungen, sondern so wie die Menschen.“ Das sagte ich ihm,<br />

doch jetzt, Gott, Vater, Herr, jetzt, da mein Geist in deinen Händen sein wird, möchte ich<br />

auch danach trachten, die Dinge so wie die Menschen zu verstehen. Wird mein Körper ohne<br />

einen ihn beseelenden Geist imstande sein aufzustehen, den Stein zu verschieben, der den<br />

Eingang zum Grab versperrt, und herauszutreten? Und noch eine Frage: Was wird mir<br />

während dieser drei Tage geschehen? Werde ich verderben? Werde ich, mit den ersten<br />

Anzeichen des Verderbs in Gesicht und Händen, vor Maria Magdalena erscheinen? Dreißig<br />

Jahre lang lebte ich auf der Welt als Mensch, zunächst ein Kind, dann ein Jugendlicher, dann<br />

ein Erwachsener, bis zu diesem Tag. Wenn ich dir Dinge sage, die du bestens kennst, so ist es,<br />

damit du verstehst, weshalb ich zu allererst vor Maria Magdalena erscheinen werde.<br />

Kommen wir zum Schluss. Ich habe meine Rolle gespielt, so gut ich konnte. Die Zukunft<br />

wird weisen, ob dieses Schauspiel der Mühe wert war. Und jetzt, Gott, Vater, Herr, noch eine<br />

letzte Frage: Wer bin ich? Jetzt wirklich, allen Ernstes: Wer bin ich?<br />

Übersetzung: Gilbert Bofill i Ball

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