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Full Tilt (Full Tilt Duet #1) Emma Scott-SCB

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E m m a S c o t t

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Disponibilização: Eva

Tradução: Equipe Sweet

Revisão Inicial: Renata V.

Revisão Final: Keira

Leitura Final: Miss Marple

Formatação: Eva

Fevereiro/2020

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Full Tilt Duet

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Eu te amaria para sempre, se tivesse essa chance...

Kacey Dawson sempre viveu a vida no limite — impulsivamente, às vezes

perigosamente. E agora, como guitarrista principal de uma boa banda em

ascensão, ela está pronta para a fama e fortuna. Mas está dividida entre

querer ser uma musicista séria e a brilhante sedução dos seus demônios

regados a muito álcool ao se tornar uma celebridade do rock. Um show

arruinado em Las Vegas ameaça destruir inteiramente sua carreira. Ela

acorda com uma ressaca do inferno, sem memória da noite anterior e de

como acabou no sofá do motorista de sua limusine...

Jonah Fletcher está ficando sem tempo. Ele sabe que sua situação é

desesperadora, e prometeu aproveitar ao máximo os poucos meses que lhe

restam. Seus planos incluem ver a exposição de sua obra de vidro em uma

prestigiada galeria de arte... nesses planos não estava incluído se apaixonar

por uma celebridade do selvagem rock, tempestuosa e que desmaiou em

seu sofá.

Jonah vê que Kacey está no caminho da autodestruição. Ele a deixa dormir

com ele por alguns dias para pensar e pôr a cabeça no lugar. Mas nenhum

deles esperava a conexão profunda que estão sentindo, ou que essa

conexão cresceria tão rápido da amizade para algo mais. Algo profundo,

puro e transformador... algo tão frágil como o vidro, que ambos sabem que

será quebrado no final, não importa o quanto tentem evitar.

Full Tilt é uma história sobre o significado de se amar com todo o seu coração, sacrificar,

experimentar o sofrimento terrível e a felicidade. Viver a vida com toda a sua beleza, toda

a sua dor e no final ser capaz de sorrir entre as lágrimas, sabendo que você não teria feito

nada diferente.

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E m m a S c o t t

Playlist

Lightning Crashes - Live

Hurricane - Halsey

Chandelier - Sia

Yellow - Coldplay

My Heart Will Go On - Celine Dion

Like a River - Bishop

Free Fallin - Tom Petty

Chasing Cars - Snow Patrol

Spirits - the Strumbellas

Hallelujah - Rufus Wainwright, lyrics de Leonard Cohen

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E m m a S c o t t

PARTE I

Full Tilt (Pôquer): Jogar com emoção e não com a razão; tomar

decisões precipitadas em vez das lógicas.

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E m m a S c o t t

PRÓLOGO

jonah

Quinze meses atrás...

A luz branca perfura meus olhos. Eu luto para mantê-los

abertos, em seguida, cedo e deixo fecharem novamente. Ouço as

máquinas em vez disso, deixo seu som me tirar da inconsciência.

O pulso apitando é o meu coração. Meu novo coração,

bombeando lentamente dentro do meu peito. Ontem, ele

pertencia a um jovem de vinte e três anos de idade, jogador de

basquete que acabou em um acidente de carro nos arredores de

Henderson. Agora é meu. Tristeza e gratidão permeiam as bordas

da minha consciência.

Obrigado. Sinto muito, e obrigado...

Deus, meu peito. É como se uma bigorna tivesse me

esmagado, quebrado minhas costelas. Em algum lugar no meio

da dor profunda e pesada está meu coração. Uma grande agonia

nasce debaixo do meu esterno que foi aberto como um armário,

então grampeado e fechado novamente.

dor.

Eu gemo e o som sai de mim, formando uma corrente de

“Ele está acordando. Você acordou, querido?”

Forço meus olhos a se abrirem e a luz branca é ofuscante.

Talvez eu esteja morto.

O branco dos lençóis hospitalares e lâmpadas fluorescentes

gritantes queimam meus olhos, então tudo entra em foco. As

Sombras escuras tomam forma. Meus pais pairam sobre mim do

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E m m a S c o t t

meu lado direito. Os olhos da minha mãe estão molhados e sua

mão afasta uma mecha de cabelo da minha testa. Ela ajusta a

cânula nasal que está presa ao meu nariz embora provavelmente

não precisasse de ajuste.

“Você está lindo, querido”, ela me diz com uma voz trêmula.

Eu sinto como se tivesse sido atropelado por um trem de

carga, e antes disso estivesse estado mortalmente doente por

semanas. Mas ela não quis dizer que eu pareço bonito. Ela quis

dizer que pareço vivo.

Por ela, eu forço um sorriso.

“Você se saiu bem, filho”, meu pai diz. “Dr. Morrison disse

que tudo parece muito bom.” Ele me dá um sorriso tenso, então

desvia o olhar, tossindo em seu punho para esconder a emoção.

“Theo?” Eu resmungo e estremeço com a profunda ferida da

dor em meu peito. Respiro superficialmente e olho para ele do

meu lado esquerdo.

Ele está ali, agachado em uma cadeira, seus antebraços

apoiados nos joelhos. Forte. Sério.

“Ei, bro”, ele diz e ouço a leveza forçada em sua voz

profunda. “A mãe está mentindo. Você parece uma merda.”

“Theodore”, ela diz. “Ele não parece assim. Ele está lindo.”

Eu não tenho energia para dar a meu irmão uma piada.

Tudo o que consigo é um sorriso. Ele sorri de volta, mas está

tenso e sério. Conheço meu irmão melhor do que ninguém. Sei

que tem algo que o está comendo por dentro. A ira está

borbulhando como uma luz pulsante e agora está o queimando.

Por quê…?

Lanço meu olhar ao redor da sala e então sei. “Audrey?”

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E m m a S c o t t

O ar fica pesado e minha mãe salta como se alguém a

tivesse cutucado com uma agulha. Olhares são trocados a minha

volta, como pássaros se lançando sobre minha cama.

“É tarde”, meu pai diz. “Ela foi para casa.” Ele é um

vereador da cidade, e ligou a voz do seu eu político, a que usa

quando ele precisa dizer uma verdade desagradável de uma forma

agradável.

Minha mãe, uma professora de jardim de infância e adepta

do conforto, diz. “Mas você deve descansar agora, querido.

Dormir. Você vai se sentir mais forte depois que tiver mais horas

de sono.” Ela me dá um beijo na testa. “Eu amo você, Jonah.

Você vai ficar bem.”

Meu pai pega minha mãe pelos ombros. “Vamos deixá-lo

descansar, Beverly.”

Eu descanso. Entro e saio de um sono irregular,

encharcado de dor, até que uma enfermeira injeta algo via

intravenosa no meu braço e então eu durmo profundamente.

Quando acordo, Theo está lá. Audrey não. Meu novo

coração começa a bater em um maçante ritmo pesado. Todos os

circuitos de adrenalina foram reconectados, ou qualquer

hormônio que aparece quando algo que você achava que poderia

durar para sempre acaba.

“Onde ela está?” Pergunto. “Diga-me a verdade.”

Theo sabe de quem estou falando. “Ela partiu para Paris na

manhã de ontem.”

“Você falou com ela? O que ela disse?”

Ele puxa a cadeira para mais perto. “Alguma história triste

do caralho. Que ela tinha um plano para sua vida e isso...” Seu

olhar varre o quarto.

“Isso não é o que ela queria”, digo.

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“Ela não podia aguentar...” Ele passa a mão pelo cabelo.

“Foda-se, não deveria ter dito nada.”

“Não”, digo, balançando a cabeça um pouco. “Estou feliz

que você me disse. Eu precisava ouvir isso.”

“Sinto muito, bro. Três anos. Três anos você deu a ela, e ela

apenas...”

“Tudo bem. É melhor.”

“Melhor? Como diabos é melhor?”

Agora, meus olhos estão pesados e querem fechar, deixar

cair a cortina e afundar no esquecimento por pouco tempo. Eu

não tenho a força para lhe dizer que não odeio Audrey por me

deixar. Eu já esperava por isso. Mesmo doente com um coração

rapidamente falhando, podia ver quando ela se contorcia e

saltava, olhos correndo para a porta, traçando uma rota de fuga

da minha doença e da vida que ela não queria ter.

Dói — como se cada um desses três anos em que estivemos

juntos foi uma faca empurrada em meu novo coração. Mas não a

odeio. Eu não a odeio porque não a amo. Não da maneira que eu

queria amar uma mulher — com todas as minhas forças.

Audrey foi embora. Theo poderia odiá-la por mim. Meus

pais podem se maravilhar com sua crueldade em meu nome. Mas

eu a deixo ir, porque naquele momento, não sei que ela seria a

última...

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CAPÍTULO 1

kacey

Julho, uma noite de sábado

Estou bêbada.

Por que mais eu estaria com meu celular na minha mão,

meu polegar pairando sobre o número da casa dos meus pais em

San Diego?

Ligação de bêbada, pensei. Não são apenas para exnamorados.

Solto uma risada. Sai mais como um soluço e ecoo pela

escada. Sento no espaço escuro, estreito, com os joelhos puxados

para cima, tentando fazer-me pequena. Invisível. Do outro lado do

muro de cimento onde posso ouvir os gritos abafados e assobios

de três mil pessoas à espera da Rapid Confession subir ao palco.

Nosso empresário, Jimmy Ray, tinha nos dado o sinal para entrar

em dez minutos ou uns bons vinte minutos atrás e meus

companheiros de banda provavelmente estão, procurando por

mim.

Tomo um gole da minha garrafa de água Evian, misturada

com três quartos de vodca — porque eu sou inteligente — e

contemplo o meu telefone. Eu me atrevo a ligar. Seria melhor não,

basta colocá-lo de lado e me juntar à banda no salão verde.

Temos que entrar no palco, tocar para mais um show lotado. Eu

ficaria muito famosa, faria algum dinheiro de verdade e

continuaria a transar com um cara diferente a cada noite.

Porque isso é rock and roll.

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Que piada. Eu não combino com rock and roll. Olho para

mim, especialmente esta noite vestida de minissaia, botas até o

alto das coxas e top. Meus cabelos — descoloridos ou quase

brancos — enrolados em volta dos meus ombros em perfeição

como uma modelo. Meus lábios pintados de vermelho e meus

olhos envoltos em preto. Tatuagens decoram minha pele, dando a

impressão de uma garota roqueira, mas eles não são uma

fantasia. São meus.

Olho para mim, mas me sinto como um pedaço de vidro,

quebrado e espalhado por toda parte. Eu não sei mais quem ou o

que eu sou, mas sempre fico lindamente no centro das atenções.

Tomo outro gole de vodca e quase deixo o meu telefone cair.

Eu me atrapalho para pegá-lo e quando levanto, vejo que cliquei

no grande botão verde de chamada.

“Merda...”

Lentamente, coloco o telefone na minha orelha. Minha mãe

atende no terceiro toque.

“Residência dos Dawson, alô.”

Meu coração cai para meu estômago. Meu queixo se aperta,

mas eu não consigo fazer qualquer som sair.

“Alô?”

“Eu…”

“Olá, posso ajudar você?”

Ela vai desligar!

“Ei mãe. Sou eu. Kacey. “

“Cassandra.”

Odeio esse nome e não o tenho usado durante anos, mas

envolto em torno dessas três sílabas, ouço o alívio na voz de

minha mãe. Posso reconhecer.

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“Sim, oi!” Eu digo incrivelmente, muito alto. “Como uh...

Como estão vocês?”

“Estamos bem”, ela diz. Sua voz fica abafada agora, como

se ela não quer ser ouvida. “De onde você está ligando?”

“Las Vegas” digo. “Porque estamos em turnê. Eu e minha

banda? Viagem rápida? É um show lotado hoje à noite, a segunda

noite seguida. Na verdade, a maioria dos shows da nossa turnê já

estão esgotados. É demais. Estamos em um grande momento.”

“Estou muito feliz por você, Cassandra.”

Ouço a voz do meu pai por trás das palavras de minha

mãe, transformando-a em um robô de merda, jorrando falas que

ela tinha sido forçada a memorizar.

“E o nosso mais recente lançamento? ‘Talk me down’?

Bem...” Mordo o lábio. “É o número seis na Billboard Hot 100. E

eu... bem, eu componho, mãe. Quero dizer, é minha música e eu

a escrevi, mas as palavras... são principalmente minhas. E a

música ‘Wanderlust’? Eu escrevi também. É número doze nas

paradas.”

Nada.

Engulo em seco. “Como está o pai?”

“Ele está bem” responde minha mãe, com a voz quase como

um sussurro agora.

“É... ele está aí?”

Minha mãe suspira, uma pequena exalação. “Cassie... Você

está se cuidando? Você está tomando cuidado?”

“Estou cuidando de mim, mãe” digo. “E eu sou um sucesso.

Esta banda... somos um sucesso.”

Deus, odeio isso. O tom patético da minha voz, a se gabar

das realizações da banda, implorando que minha mãe se sinta

feliz pelo nosso sucesso quando eu quase não sinto qualquer

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coisa eu mesma, exceto a necessidade de ser amada. É como uma

fome que nunca é saciada. A fome desesperada torcida e retorcida

em minhas entranhas, emaranhada em nós vorazes que eu não

posso desfazer.

Eu nunca consigo acabar com esse apetite terrível. Só se

me afogar em álcool por um tempo e tentar vomitar no dia

seguinte.

“Mamãe? Por favor, diga para o Pai...”

“Cassie, eu tenho que ir.”

“Espere, você pode colocá-lo na linha? Ou apenas... pode

dizer a ele que você está no telefone comigo agora? Basta fazer

isso, mãe. Veja o que ele diz.”

Silêncio. “Eu não acho que é uma boa ideia”, ela diz

finalmente. “Ele tem estado... alegre recentemente. Não há

surpresas. Eu não quero perturbá-lo.”

“Ele ainda está com raiva de mim?” Pergunto, com minha

voz vacilante. “Foi há quatro anos, mãe. Eu nem estou mais com

Chett.”

Chett me abandonou em Las Vegas há quatro anos,

deixando-me de coração partido, desolada e cambaleando. Uma

temporada country, um contrato de gravação, inúmeros

encontros de uma noite e duas novas tatuagens depois e lá estou

eu, uma garota rebelde novamente, implorando perdão a seus

pais.

Luto contra as lágrimas. “Eu te contei, mãe. Mas você disse

a ele? Alguma vez você disse ao Pai que eu estava sem casa e

dormindo na rua quando ele me expulsou? Sem teto, mãe. Eu

tinha dezessete anos de idade.”

Ouvi-a engolir em seco. Forçando para baixo as lágrimas e

as emoções e tudo o que ela queria dizer, mas nunca faria. Ela

não tinha dito nada sobre mim a meu pai além de que eu ainda

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estava viva, que ela tinha ouvido falar de mim e eu estava indo

bem. Ela manteve-se no script, não importa quantas vezes

implorei a ela para experimentar algo diferente.

“Você deveria ter pensado melhor antes de trazer aquele

menino para casa”, minha mãe diz, reunindo um pouco de

firmeza. “Você sabia que iria perturbar o seu pai.”

“Tudo o que eu fazia o perturbava”, grito, minha voz

aumentando o volume. “Nada é bom o suficiente. Sim, eu sabia

que levar Chett para casa era uma má ideia, porra, mas eu queria

ser pega. Sabe por que, mãe? Para forçar papai a falar comigo. E

como isso é triste? Sua própria filha. Sua própria filha.”

“Cassandra, eu tenho que ir agora. Vou dizer ao seu pai

que tive notícias suas, e...”

“Que eu estou bem?” Eu termino. “Mais do que bem, mãe”,

eu rebato, e limpo o nariz na parte de trás da minha mão. “Nós

somos uma sensação, porra. Estamos prestes a ter os sucessos...”

“Você sabe que eu não ligo para toda essa linguagem chula,

Cassandra”, ela diz. Agora sua voz está se transformando em

pedra, isolando-me. Mas não posso parar.

“Você diz ao pai ok? Diga-lhe que eu fiz isso, e que eu fiz

isso sem a sua porra de ajuda ou aprovação ou... ou o seu

maldito teto sobre minha cabeça.”

“Eu vou desligar agora, Cassandra.”

Respiro fundo, instantaneamente lamentando cada palavra.

Eu precisava ouvir mais de sua voz. “Mãe, espera. Eu sinto

muito. Eu sinto muito…”

A linha fica muda e penso que ela desligou até que a ouço

respirar instavelmente.

Eu facilito a minha própria respiração e fecho os olhos. “Eu

sinto muito. Diga ao papai...” Eu engulo as lágrimas. “Diga a ele

que o amo. Ok? Por favor?”

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“Eu direi”, ela responde, embora eu não acredite nisso.

Nem por um segundo.

“Obrigada, mãe. E eu te amo também. Como está...?”

“Eu tenho que sair agora. Cuide-se.”

A linha enfim fica definitivamente muda.

Olho para o meu telefone alguns momentos mais. Uma

lágrima derrama em meu rosto e a limpo com o polegar. Eu penso

sobre pressionar o botão de ligar novamente. Eu poderia ligar

para ela novamente e dizer que sinto muito pelos palavrões. Ou

eu posso ligar de volta e dizer que não estou nem ligando para

eles afinal. Eu nunca irei ligar novamente. Estou tão de saco

cheio deles tanto quanto eles estão de saco cheio de mim.

Eles estão de saco cheio de mim?

O pensamento faz meu coração doer. Não, ainda não.

Minha mãe, não. Ela precisa de meus telefonemas. Eu sei. Mas se

nunca ligasse, ela não iria me ligar. Eu também sei disso. Ela

ainda é uma espectadora na vida da sua própria filha.

Caio contra a parede de concreto. Eu posso ouvir a

multidão do outro lado gritando inquieta. Soa como uma

tempestade se aproximando. Se não subir ao palco em breve...

Eu preciso de um cigarro.

Puxo um maço amassado de cigarros da parte superior da

bota de cano longo, e acendo com uma caixa de fósforos dobrado

no celofane.

Eu trago fundo, solto e caio mais baixo contra a parede,

sob o peso de todas as lágrimas que não chorei ao longo dos

últimos quatro anos. Elas ameaçam explodir agora na minha

própria tempestade. Luto para colocar tudo de volta, inalando, me

envolvendo no cigarro e pressiono meu abdômen, onde pareço ter

um peso de chumbo.

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Meu pai não vai falar comigo mesmo.

Exalo o pensamento e recuo. E daí? Quem se importa com o

que ele pensa? Ele nunca deu a mínima em vinte e dois anos, por

que começaria agora? Foda-se ele.

Um discurso cheio de atitude, só que eu teria dado

qualquer coisa para ouvir a voz do meu pai, e não ter que sentir

sua decepção ou raiva. Para ouvi-lo dizer que sente minha falta

ou que me ama. Dizer que eu poderia voltar para casa qualquer

momento que quisesse e a porta estaria aberta...

Mas ele fechou e trancou a porta, talvez para sempre, e a

base sobre a qual construí minha confiança está desmoronando

ao pó.

A multidão grita do outro lado do muro. Eles estão pedindo

por nós. Por mim. Eles me amam.

E, como Roxie Hart diria, eu os amo por me amar.

Tomo outro gole da minha vodca e me levanto, assim que

Jimmy Ray sai por uma porta no patamar acima do meu, olhando

freneticamente e procurando.

Nosso empresário tem quarenta e poucos anos e sofre com

queda de cabelo. Seu terno — sempre Armani, uma vez que uma

gravado de médio porte assinou conosco três meses atrás — está

pendurado um pouco solto sobre seu corpo magro. Seus olhos

selvagens pousam em mim e ele desmorona contra a parede em

alívio exagerado, com a mão sobre o coração.

“Jesus, gatinha, porque não me dar um infarto? O show

deveria ter começado meia hora atrás.”

Jogo fora o cigarro e amasso sob a sola da bota e coloco um

sorriso no meu rosto. “Desculpe, Jimmy. Eu tive um telefonema

importante. Mas estou pronta agora. Pronta para detonar.”

“Bom ouvir isso. Esta multidão vai nos comer vivos se não

chegarmos lá, logo.”

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Passo por ele, mas ele me para, com a mão no queixo,

estudando meu rosto.

“Você estava chorando?”

Eu respiro fundo. Jimmy Ray não é a figura paterna de

ninguém, mas ele tem sido bom para nós. Bom para mim. Sinto

que começo a murchar sob a sua bondade, querendo dizer a ele...

“É que a sua maquiagem está borrada”, ele diz. “Certifiquese

de ajeitar isso antes de ir, sim?”

Eu balanço a cabeça em silêncio.

“Boa menina.”

Ele bate na minha bunda levemente, para me fazer andar e

me segue para fora da escada, de volta para o salão verde, onde o

resto da banda está à espera.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 2

kacey

Eles estão todos vestidos para um show completo: couro,

vinil e um monte de bijuterias grosseiras. Violet, nossa baixista,

usa seu cabelo castanho puxado apertado para um lado,

revelando a pequena tatuagem de corvo negro na pele à mostra de

seu couro cabeludo acima da orelha. Ela me dá um aceno de

cabeça e pisca para mim com o sinal de paz.

Lola, minha melhor amiga, está sentada numa cadeira,

girando suas baquetas habilmente em torno dos dedos. Ela se

levanta e caminha na minha direção, olha para o meu rosto

através do cabelo preto e azul elétrico. Seus olhos escuros são

afiados, atentos e cheios de preocupação.

“Você está bem? Onde você estava?”

Sou poupada da resposta por Jeannie, a nossa vocalista.

Ela estava fazendo seus aquecimentos vocais, mas para no meio

de uma escala.

“Que porra, Kacey?” Seus olhos, delineados com rímel Kohl

tão preto como as calças de couro apertadas, me encaram. Ela é

uma garota bonita, nossa líder destemida, ou seria se não fosse o

olhar perpétuo em seu rosto.

Eu sinto o peso da sala em mim, pesado e acusatório.

Cruzo os braços sobre o peito, e digo com a voz afetada que

lembra uma senhora mais velha do centro oeste. “Olá, Jeannie,

quem está incomodando você agora?”

Lola ri, e Violet abafa uma risada atrás de sua mão.

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E m m a S c o t t

“Quem está me incomodando? Você...” a confusão de

Jeannie suprime a irritação. “Espere, você está citando algum

filme estúpido para mim de novo?”

“Estúpido?” Fico boquiaberta dramaticamente. “Curtindo a

Vida Adoidado é nada menos que um clássico. Um tesouro

nacional...”

Jeannie bate uma mão, suas pulseiras tilintam. “Tanto faz.

Se você dedicasse tanto tempo à banda como você faz para festas

e assiste filmes antigos...”

“Vamos, Jeannie”, diz Violet, com um suspiro. “Não vamos

começar qualquer merda antes do show. Ela está aqui. Estamos

moderadamente atrasadas. E daí?”

Lola concorda. “Apenas calouros iniciam uma apresentação

no horário. Ela está pronta para detonar, certo Kace?”

“Oh, parem de mimá-la, pelo amor de Deus”, Jeannie virase

para Lola, e em seguida Jimmy mergulha e a puxa de lado,

falando suavemente com ela em voz baixa.

Respiro e digo, “Mmm-mmm-mmm, mas que pequena idiota.”

Violet começa a rir, mas os olhos de Lola se voltam para

minha garrafa de Evian. Ela é um bafômetro humano, essa

garota. Rapidamente, jogo a garrafa no lixo antes que fique

sabendo do seu conteúdo e resolva dar mais um de seus sermões

em mim. A vodca já começou a fazer efeito de qualquer maneira,

me colocando um passo gigante para trás da realidade, como se

eu estivesse atrás de um painel de vidro.

“Não vamos brigar, senhoras”, Jimmy repreende, trazendo

Jeannie de volta para o centro da sala verde. “Três mil ingressos

pagos estão esperando.”

“Ele está certo”, disse Jeannie, e faz o que chamamos de

sua expressão de Líder: rígida e séria quando nos olha em volta.

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E m m a S c o t t

“Precisamos manter o foco e dar a eles o desempenho de nossas

vidas. Vamos formar o círculo.”

Formamos um círculo no centro da sala verde, de mãos

dadas, enquanto Jeannie murmura uma espécie de vaga

invocação. Violet é uma budista, Lola ateia, de modo que o grupo

de oração é mais sobre canalizar as nossas energias, ser gratas

por nossas oportunidades, e ter nós quatro em sintonia umas

com as outras para que possamos atuar com uma unidade e em

sintonia.

É isso que quero? Eu medito enquanto Jeannie faz umas

afirmações positivas. Suspeito que a resposta é não, mas cheguei

muito longe agora. Lola está contando comigo. Se não fosse por

ela, eu ainda estaria nas ruas. Ela me salvou, depois que Chett

me abandonou, e nós chegamos a este show juntas. Ela precisa

que eu não ferre com isso, e eu preciso não ser uma babaca.

“Esqueça qualquer outro show”, Jeannie está dizendo, suas

declarações finais típicas. “Esqueça que estivemos na estrada por

meses. Estes fãs merecem o nosso melhor, então até lá e tocar

como se fosse o nosso melhor show. Sangue, suor e lágrimas,

senhoras.”

Fazemos barulhos de acordo para ficar empolgadas, em

seguida, ficamos atentas.

Lola me puxa de lado. “Você está bem? Sério?”

“Claro, estou bem. Totalmente.”

“Onde você estava?”

“Oh, eu... liguei para meus pais.”

Os ombros de Lola caem e ela cobre os olhos com uma

mão. “Oh merda, não. Não, não, não. Eu continuo te dizendo para

desistir. Eles sempre te chateiam, Kace. Toda vez. Você fica toda

chateada, então fica ainda mais destruída do que o habitual.”

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E m m a S c o t t

“Não, não, foi ótimo!” Digo. “Eu só falei com minha mãe,

mas... Bem, meu pai disse oi. Ouvi no fundo. É um começo,

certo?”

É assim que você faz? Mentir para sua melhor amiga depois

de tudo que ela fez por você?

Lola parece chocada. “Sério? Ele falou com você?”

“Ele disse oi, Lola. Ele realmente disse.”

Lola me estuda com os olhos estreitos e, finalmente cede.

“Isso é ótimo, Kace”, diz ela, abraçando-me. “Estou

realmente feliz por você. Para ser honesta, eu estive preocupada

ultimamente. Você faz festa todos os dias da semana e tem um

cara diferente em sua cama todas as noites.”

“Nem toda noite”, digo. “Eu tenho meus períodos de seca.

Como nas terças-feiras.”

Lola bufa.

“Vamos, meninas”, Jimmy reaparece na porta. “Eles estão

esperando.”

Dou um sorriso tranquilizador a Lola. “Nós vamos detonar

neste show hoje à noite. Eu prometo.”

“Eu gostaria que você prometesse que não vai comemorar

muito depois. Talvez você seria capaz de se lembrar de como o

show foi maravilhoso.”

Finjo ficar afrontada. “Essa é a coisa menos rock and roll

que já ouvi na minha vida. Keith Richards rolaria no túmulo se

soubesse que você fala assim.”

Um sorriso se contrai nos lábios de Lola. “Keith Richards

não está morto.”

“Viu? Nada para se preocupar.”

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E m m a S c o t t

Ela revira os olhos e ri, jogando o braço em volta de mim.

Protetora, como sempre.

Hugo Williams, chefe de segurança do Pony Club, aparece

na porta da sala verde para nos levar para o palco. Seus olhos

escuros são quentes e gentis quando ele sorri para mim, os

dentes brancos e brilhantes contra a escuridão de sua pele.

“Oi, Hugo”, digo, ocasionalmente.

“Ei, doce”, ele diz em sua profunda voz de barítono.

Esta é apenas a nossa segunda noite no Pony Club, mas

Hugo parece ter consideração extra de mim, sai do seu caminho

para se certificar que estou segura.

Jimmy passa um braço sobre meus ombros nus. “Soa como

uma multidão agitada, esta noite, Hugo.”

Eu sorrio para o guarda-costas. “Hugo cuida de mim. Ele é

meu herói.”

O grande segurança balança a cabeça, como um soldado

recebendo uma ordem, e nos leva para o palco. Passamos pelos

corredores com tubulações que correm ao longo do teto. Nossos

passos ressoam e ecoam no cimento.

Jimmy vira-se para mim. “Você está pronta?”

“Nasci pronta, Jimmy.”

“Essa é minha garota.”

Me junto a minhas companheiras de banda em um

pequeno lance de escadas que leva para o palco. Um rugido vem

da multidão respondendo ao MC falando no microfone.

“Las Vegas! Vocês estão prontos para Rapid Confession?”

Outra onda de som, como uma avalanche rasgando as

paredes do local.

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E m m a S c o t t

A porta se abre, um retângulo escuro brilhando com as

luzes do palco. Nós subimos o pequeno lance de escadas, indo

para o palco. Minha guitarra Fender vermelha está esperando por

mim em um carrinho. Coloco as alças por cima do ombro e vejo

Jeannie fazer um aceno e um sorriso para mim, um acordo de

paz. Concordo e sorrio de volta, aceitando.

Lola bate suas baquetas sobre a cabeça em uma contagem

para iniciar “Talk Me Down”.

Toco com todo meu maldito coração. Escrevi ‘Talk Me

Down’ para mim. É um hino de tudo o que me assusta sobre

onde eu estava indo e que eu estava fazendo comigo. Ninguém

sabe que é minha. Eu canto no backvocal para dar melodia a

Jeannie. Mas quando eu toco, meu coração salta. A música abre

meu peito, esfola minhas costelas e mostra ao mundo tudo que

está lá dentro.

Eu arraso nos meus solos. Toda a vodca que bebi com o

estômago vazio está transformando as luzes do palco em

manchas borradas de branco. Os rostos na multidão fundidos em

conjunto, tornando-se um rugido, agitando, a massa elétrica. Eu

me alimento da energia, sugando sua aprovação gritando e

cuspindo-o de volta com cada acorde e progressão até que meus

dedos sangram e no final do show, quase quebro minha guitarra

no palco.

Quando as últimas notas da última canção vibram no ar e,

em seguida, desaparecem, a multidão perde a lucidez. Estou

iluminada como o Quatro de Julho, correndo ao longo da borda

do palco, batendo nas mãos do público na primeira fileira. Eles

agarram e alguém me puxa sobre a borda. Eu rio e rio, surfando

em uma onda de mãos me adorando, bêbada como o inferno e

carente de ser amada.

O time de Hugo e sua equipe rola no meio da multidão, me

arrastando para baixo, e me tiram de lá. Mas não quero que isso

acabe. Olho para a multidão em volta de mim.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Eu amo muito todos vocês! Voltem comigo...” Eu aponto

para estranhos aleatórios. “Venha comigo! Vamos continuar a

festa...”

Hugo me arrasta para a sala verde, onde a banda está

comemorando. Champanhe jogado pelo ar em manchas amarelas

e espumosas. Pego uma garrafa da mão de alguém e bebo metade

dela em um minuto. Eu grito para a segurança deixar entrar a

pequena multidão que convidei.

“Eles estão comigo!” Eu digo.

Cerca de duas dezenas entram. Minhas companheiras de

banda estão todas muito embriagadas com o sucesso inebriante

do show para notar. Jimmy parece que vai sair voando em linha

reta fora da terra.

Jogando o champanhe de lado, pego uma garrafa de forma

aleatória na longa mesa de bebida e comida pós-show. Garrafa de

bebida alemã Jagermeister.

Escolha ousada, penso com uma risada, e solto um grito

estridente, depois o licor queima seu caminho na minha

garganta. A sala, repleta de meus novos amigos, aplaude de volta.

Rostos estranhos que não reconheço, de quem nunca terei que

me lembrar de manhã. As pessoas estão aqui pela música, bebida

de graça e entretenimento e eu, sou sua patrocinadora de

diversão. Subo em uma mesa, e eles aplaudem e levantam as

garrafas para mim.

Eles me amam.

A sala começa a girar como se eu estivesse em um

carrossel. Está muito lotado aqui. Sem ar. O segurança está

tentando se espremer através da parede de corpos. Vidro

quebrado. Alguns na multidão aplaude, enquanto outros

amaldiçoam.

Lola grita para eu descer antes que machuque minha

bunda, depois a perco na multidão. A figura enorme, desmedida

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

de Hugo partindo o mar como Moisés. Tento levantar a garrafa

verde esmeralda para os meus lábios para um gole final, mas não

consigo. Imagino-a se partindo, explodindo e a vejo se quebrando

em milhões de pedaços.

Palavras do meu pai, há quatro anos, ressoam na minha

cabeça com tanta clareza como se fosse ontem. Saia! Saia da

minha casa!

“Não”, digo, depois mais alto, com os olhos turvos, minha

boca grossa e desajeitada em torno das palavras. “Você sai. Esta é

a minha casa. Minha casa.”

Levanto a garrafa no ar. “Esta é minha casa!” Grito e uma

centena de milhões de vozes levantam suas próprias garrafas e

me aplaudem até que o som rasga dentro de mim como o vento

através de papel de seda.

Eu rio ou talvez grito, em seguida, cambaleio para o lado. A

garrafa de bebida escorrega dos meus dedos assim como eu

escorrego da mesa, direto para os braços de Hugo. Eu vejo a

escuridão de sua camisa, em seguida, a escuridão atrás dos meus

olhos me engole inteira.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 3

jonah

O letreiro acima de mim pisca e pisca. Vermelho e branco.

Pony Club. As bordas de metal estão enferrujadas e três das

lâmpadas que alinham a borda estão queimadas. Parece barato.

Gosto muito de Vegas. Mas quando reflito...

As luzes piscam e posso imaginar os pisca-pisca de vidro

branco e vermelho. Miçangas de vidro, talvez. Um monte delas

presas com um fio para fazer um buquê. Minha mente imagina as

miçangas vermelhas alongadas, formando pétalas achatadas. Um

copo-de-leite com folhas secas brancas. Uma árvore de Natal de

vidro que nunca precisa se regar. Minha mãe gostaria disso. Ou

talvez Dena. Começo a puxar o pequeno bloco de notas amassado

que coloquei no bolso da frente da minha camisa para anotar a

ideia surgindo, depois paro.

Natal foi há seis meses atrás.

Uma dor suave tenta criar raízes, e a esmago com facilidade

praticada, como um pedaço de chiclete grudado debaixo de uma

mesa.

Mantenha a rotina.

Dobro minha mão e coloco o bloco de notas onde estava.

Está ficando cheio no Pony Club. O show supostamente

terminou uma hora atrás, mas os gritos de uma festa agitada

soam alto e claro — e abafado — pelo cimento da parede na parte

de trás do local.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Puxo o celular do bolso da frente das minhas calças para

verificar a hora. É quase uma da manhã. A limusine foi

contratada só para as duas, mas já posso dizer que essa será

uma noite de horas extras adicionadas.

Mas o que me importa se o trabalho vai até tarde? Eu não

durmo muito estes dias e posso aproveitar o dinheiro. Ficarei até

que a banda e seu empresário cheguem, bêbados e fedidos, e vou

leva-los de volta para a mega mansão em Summerlin onde eu os

busquei às cinco naquela tarde.

A vantagem de dirigir à noite é que me deixa com tempo

para trabalhar durante o dia. A desvantagem é o tempo de

inatividade. Tantas horas vazias gastas esperando ser pago após

um jantar ou um show, ou para, finalmente, sair do cassino,

fedendo a bebida e fumo e — na maior parte das vezes — ouvindo

lamentações de perdas nas mesas de Black Jack ou pôquer.

Motoristas de limusines tendem a se unir em eventos,

alinhados fora do local em um comboio de veículos elegantes

pretos ou brancos. Vejo as mesmas caras em diferentes postos de

trabalho, e alguns são meus colegas na A-1 Limusine. Mas tenho

que evitar o fumo, e não estou interessado em fazer novos

amigos. Eu prefiro ficar sozinho, na minha rotina.

Debruçado contra a limusine, olho para cima. Nenhuma

estrela é capaz de superar as luzes de Las Vegas. Eu teria que

esperar até a viagem do meu melhor amigo, ao acampamento

Great Basin, em algumas semanas para ver estrelas reais. Mas a

avenida principal é o seu próprio tipo de constelação. Uma

profusão de cores neon fluorescente e luzes brilhantes. É bonito à

sua própria maneira, contanto que você não olhe para baixo.

Aos meus pés, bitucas de cigarro estão passando pela

sarjeta entre a rua e a calçada, também há um copo de

refrigerante Dairy Queen destruído e um panfleto de uma

apresentação de Strip. Cacos de vidro verde brilham embaixo de

um poste.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Um dos motoristas de limusine se aproxima de mim. “Tem

um cigarro?”

Esse cara é jovem. Mais jovem do que os meus vinte e seis

anos, de qualquer maneira. O suor escorre na testa quando ele

olha para mim esperançosamente. Mesmo nesse calor de verão,

ele ainda usa o uniforme, um paletó marrom de poliéster com

botões dourado. Novato. Meu paletó preto está no banco da frente

e está lá desde que a banda e o empresário saíram da minha

limusine há quase oito horas atrás.

“Eu não fumo, cara”, digo a ele. “Desculpa.”

A desculpa é um código para finalizar uma conversa, mas

esse cara não percebeu.

“Merda, eu fiquei sem nenhum uma hora atrás”, ele

murmura. Seu crachá está escrito Trevor. “Ei, é motorista de

quem? Eu tenho um bando de doce riquinhas de dezesseis anos

assistindo ao show da Rapid Confession.” Ele dá uma gargalhada.

“Meninas ricas e mimadas. Quer dizer, o que é pior do que isso?”

“Eu nem posso imaginar”, eu murmuro.

Meu telefone vibra com uma mensagem de texto.

Provavelmente meu irmão Theo, com a checagem de cada hora.

Puxo o telefone do bolso da calça. Sim.

E aí? Tudo bem?

Revirando os olhos, tiro um print da tela mostrando a

checagem da meia-noite: exatamente a mesma mensagem da

minha resposta dizendo que eu estava bem. Pressiono ‘enviar’.

Ele manda uma mensagem de volta. Idiota.

Sorrio, digitando. Você faz parecer tão fácil. Vá dormir,

Teddy. Ligarei de manhã.

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E m m a S c o t t

“Eu gostaria de saber quem vai levar a banda”, Trevor diz,

olhando para as limusines. “Se eu levasse essas cadelas, seria

épico. Noite feita.”

Outra mensagem com foto chega, uma com o dedo do meio

de Theo. Ele odeia quando o chamo de Teddy. Quase tanto

quanto eu odeio quando caras chamam as mulheres de cadelas.

Eu me viro para dizer a Trevor para dar o fora quando a

porta traseira do Pony Club se abre e ouço som de gargalhadas,

gritos e vidro se quebrando na rua. Um enorme guarda-costas

corre carregando o corpo inerte de uma mulher, sua saia de

couro subiu até as coxas e sua cabeça está de lado conforme seu

cabelo loiro cai sobre o braço do guarda-costas.

Dou a Trevor um pequeno empurrão para fora do caminho

e abro a porta do passageiro da limusine. O guarda-costas não

para, mas se inclina muito para colocar a menina lá dentro, no

assento de couro perto da porta.

Trevor suspira. “É ela! A loira... A guitarrista do RC.” Ele

olha para mim como se eu fosse seu herói. “Você que vai leválas?”

O guarda-costas ressurge da limusine e se eleva sobre

Trevor, cerrando os punhos. “É da sua conta?”

Trevor se encolhe e recua. “N-não, senhor.”

“Você vai dizer a alguém o que viu aqui?”

“Não. Com certeza, não.”

“Boa resposta.” Ele se vira para mim. “Leve a garota para

casa. Rápido. Antes que os paparazzi apareçam. Está um tumulto

da porra lá dentro.” Ele vira sua cabeça em direção ao local onde

os gritos estão mais altos, com muitos palavrões gritados e vidro

se quebrando. “Eu tenho que voltar.” Ele aponta um dedo no meu

peito. “Tenha certeza que ela chegue em casa com segurança.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Vejo a preocupação nos olhos escuros do cara que estão me

encarando, depois ele está correndo de volta para o local. Sirenes

soam a distância, e aproximando.

Com o enorme guarda-costas longe, Trevor se aproxima,

olhando para dentro da limusine. “Cara. Mano, ela é fodidamente

sexy.”

Tenho que concordar com a avaliação de Trevor, mas ela

também está desmaiada de bêbada. Mulheres precisam estar

coerentes e conscientes para que eu possa me divertir mesmo

com rápidos pensamentos sexuais. A língua de Trevor fica

pendurada para fora da boca, e bato a porta, enojado, tirando sua

visão dela.

“O que você vai fazer com ela?” Trevor pergunta.

Paro na porta do lado do motorista para olhá-lo. “Vou levála

para casa, imbecil.”

Trevor levanta as mãos. “Caramba, calma. Eu não quis

dizer...”

Não ouço o resto, pois já entro no carro e fecho a porta.

Trevor não irá manter a promessa que fez para o guardacostas

sobre a garota no banco de trás. Sem chance. E as notícias

de tudo o que aconteceu no Pony Club vão se espalhar nas ruas

de qualquer maneira.

Basta levá-la para casa, terminar o trabalho, manter a sua

rotina.

Levo a limusine para longe do meio-fio. Fico preso no

trânsito na avenida principal e baixo a divisória para verificar a

menina. Sua saia ainda está puxada para cima, mostrando uma

meia calça arrastão e parte de uma tatuagem. Mais tatuagens se

espalham pela pele pálida de seus antebraços, e uma maior cobre

o ombro direito. Os topos arredondados de seus seios estão meio

pressionados para fora do corpete — ou coisa que ela está

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

usando. Mas estou procurando se o peito está se movendo, para

verificar se ela está respirando.

Eu me pergunto se deveria virar à direita em direção ao

Hospital Sunrise quando a menina dá um gemido e rola para o

lado. Vejo as ruas a minha frente enquanto ouço um barulho que

soa como o um barril de bebida sendo despejado no chão da

limusine. O cheiro de álcool regurgitado preenche o espaço

confinado.

“Maravilha”, murmuro. “É por isso que me pagam um bom

dinheiro.”

Quando ela acaba de vomitar, a menina — a guitarrista, de

acordo com Trevor — cai de volta no assento, gemendo baixinho,

com os olhos ainda fechados, seu cabelo loiro claro grudado à

bochecha.

Viro para fora da avenida principal, encontrando uma rua

escura e vazia, e estaciono. Subo na parte de trás onde minha

passageira está esparramada no assento, piso em torno da

bagunça no chão para sentar-me perto de sua cabeça para tirar o

cabelo do seu rosto.

Odeio concordar com Trevor sobre qualquer coisa, mas

essa mulher é linda. Mesmo desmaiada, bêbada e cheirando a

álcool, vômito, e fumaça de cigarro, ela é impressionante. Olhos

grandes, com longos cílios escuros, ampla boca com lábios

carnudos pintados de um vermelho profundo, e escuras

sobrancelhas, que contrastam com seu cabelo loiro claro.

Lembro que estou aqui para me certificar de que ela não vai

morrer, não para perder tempo admirando-a. Eu tive um monte

de mulheres bonitas em minha limusine ao longo dos últimos

meses. Várias meninas bonitas e bêbadas. Esta não é diferente.

Esta garota — eu gostaria de ter perguntado seu nome para

o guarda costas — está respirando melhor e um pouco de cor está

retornando ao seu rosto. Vomitar uma garrafa de bebida alcoólica

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E m m a S c o t t

provavelmente ajudou. Ciente de que ela não precisa de um

hospital, embora não inveje a ressaca épica que terá ao acordar,

me concentro em chegar à sua casa para que eu possa encerrar a

noite.

Dirijo para noroeste, para o bairro de Summerlin. A

mansão é de uma cor pêssego claro com colunas brancas e passo

pela rotatória, está totalmente escuro.

“Merda.”

Saio da limusine e toco a campainha da frente, esperando

que o assistente pessoal de alguém ou talvez outro segurança

esteja por perto. Nada. Tento a porta da frente na sorte, vai que

tenha sido deixada destrancada. Não está.

Volto para a limusine e tiro meu celular do bolso, e ligo

para a central da A-1. Tony Politino está trabalhando nas linhas.

“Tony? É Jonah. Preciso do número de contato para o

trabalho da Rapid Confession.”

“Você ficou com esse trabalho?” Tony solta um assovio.

“Sortudo.”

“Não tanta sorte como a equipe de limpeza”, murmuro.

“Você tem o número ou não?”

“Espere aí…”

Esfrego os olhos e espero até que Tony volte.

“Jimmy Ray. Ele é o empresário”, ele diz. Ele fala um

número de telefone. “E ei, tente conseguir algumas fotos para

mim, certo? A loira? Ela é muito gostosa.”

Olho para a menina caída no banco de trás. Um

pensamento traiçoeiro penetra. Eu poderia tirar algumas fotos

dela, vendê-las a uma revista de fofocas e fazer uma fortuna. Eu

perderia meu emprego, é claro, mas com o dinheiro das fotos, não

precisaria mais dele. Eu poderia passar o dia todo, todos os dias

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E m m a S c o t t

no Hot shop 1 e nunca precisaria me preocupar se a minha obra

estaria terminada a tempo para a exposição da galeria em

outubro.

É uma bela fantasia, exceto pelo pequeno fato de que eu

nunca me perdoaria por ser um canalha, tão baixo. Só de saber

que eu tive a ideia já é repulsivo. Eu vou jogar a culpa dessa ideia

boba no cansaço, juntamente com a pesada pontada de medo que

se esconde por trás de cada pensamento desperto, pronta para

escapar se eu vacilar. O medo que me diz que estou correndo

contra o tempo e a obra será deixada para sempre inacabada.

“Mantenha-se à rotina”, eu murmuro.

“O que é isso, mano?” Tony pergunta.

“Nada, obrigado pelo número.”

Desligo com Tony e ligo para o Jimmy Ray, o empresário da

banda. Lembro-me dele, ele foi preso como um vendedor de

carros usados chamativo na minha memória. Um cara magro, de

meia-idade que se veste e age como se fosse uma década mais

jovem, tentando ser esperto. Ele fala com as mulheres na banda

como se fossem o seu ticket refeição, em vez de seres humanos.

Jimmy Ray atende o telefone na quinta chamada, mas falar

está impossível. A música alta explode atrás dele, e os sons

caóticos de uma centena de vozes gritando e gritando quase o

abafa.

“Alô, o quê? O quê?”

“Sr. Ray”, tenho de gritar. “Eu sou o seu motorista.”

“O quê? Eu não posso ouvir uma coisa do caralho.”

“Eu sou de A-1 Limusine...”

“Que diabos é isso?”

1 Fabrica de vidro, que faz esculturas e outros objetos decorativos com vidro colorido.

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E m m a S c o t t

Esfrego meus olhos. “Elvis. Elvis Presley. Os rumores sobre

minha morte foram muito exagerados...”

“Olha, seja quem for, tenho uma catástrofe de merda em

minhas mãos. Ligue-me de volta.”

Mais gritos e, em seguida, tudo volta a ficar abafado. O

cara provavelmente colocou o telefone no bolso sem desligar.

Termino a chamada e verifico que horas são. Pouco mais de

duas horas. Na rua escura, sem luzes na minha frente, ninguém

chega em casa. Olho para dentro, para a menina sem nome.

“O que farei com você?”

O desejo de levá-la de volta para o Pony Club e entregá-la

de volta para o guarda-costas é forte, mas o pobre coitado

provavelmente está muito ocupado.

Fecho a porta do passageiro da limusine e volto ao volante.

Esta cena inteira parece decadente e errada. Eu queria levá-la a

algum lugar seguro e ao mesmo tempo leva-la para o meu

apartamento não é exatamente o ideal, mas é melhor do que vê-la

espalhada e bêbada na parte de trás de uma limusine salpicada

de vômito.

“Eu espero que você perceba que isso é altamente

irregular”, eu digo a ela quando dirijo para fora das propriedades

Summerlin. “Não está nem perto do manual do funcionário. Na

verdade, eu me lembro de assistir a um vídeo educativo sobre

esse tipo de coisa, como não ser processado até a extinção. O

primeiro passo: não leve seus passageiros para casa com você,

especialmente se estão bêbados e são mulheres.”

Às duas da manhã, Vegas mostra o seu lado sombrio. As

ruas estão cheias com os mais desesperados: jogadores na

esperança de recuperar algumas das suas perdas, bêbados sem

esperança, traficantes de drogas e prostitutas. Esta é a Vegas que

odeio, mas enquanto atravesso a Strip, indo para o leste, passo

pelo Bellagio. Meu sorriso volta. Há verdadeira beleza em Las

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E m m a S c o t t

Vegas. Você só tem que saber para onde olhar. O teto do átrio do

Bellagio é um lugar. Meu retrovisor é outro.

A menina desmaiada no assento longo joga um braço

tatuado sobre os olhos e solta um pequeno gemido. “Estamos

quase lá”, digo a ela suavemente. “Você vai ficar bem.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 4

jonah

Dirijo a limusine para o meu apartamento. Moro em um

prédio caixa de cimento, com reboco cinza claro e grades tortas

com tinta verde limão descascada.

“Eu sei que não é a mansão de luxo que você está

acostumada”, digo a ela, “mas mendigos não podem escolher,

estou certo?”

A garota, ainda no fundo de seu sono regado a álcool, não

está em condição de escolher qualquer coisa.

Estaciono a limusine no lado do prédio, perto do meu

apartamento no primeiro andar, que eu posso pagar. Estacionado

ilegalmente, mas escondido da rua.

Corro até a minha porta da frente, destranco, abro e

acendo a luz perto da porta. De volta à limusine, entro e sento ao

lado da garota.

“Ei”, digo, cutucando seu braço gentilmente. “Ei. você pode

acordar para mim?”

Ela não se mexe.

“Merda.” Solto um suspiro. “Tudo bem, aqui vamos nós.”

Ela é uma coisa pequena, talvez um metro e cinquenta e

cinco e não parece pesar mais que uma nota de dez dólares, mas

o álcool a transformou em peso morto. Seus membros estão

moles e sua cabeça está pendurada. Eu me esforço para tirá-la da

limusine maldita, sem bater sua cabeça na porta. Esperava que

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eu pudesse meio que carregar, meio que guia-la para dentro, mas

ela é como geleia, escorregando para fora dos meus braços.

Respiro fundo e a levanto pelos seus joelhos e costas,

embalando-a, de modo que sua cabeça descansa contra o meu

peito.

Dr. Morrison teria um acesso de raiva se me visse levantar

um ser humano inteiro. Theo perderia a merda do controle. Mas

nenhum deles está aqui agora. Outra vantagem sobre o turno da

noite: além de uma ou dez mensagens do Theo, estou livre do

escrutínio que só me faz lembrar da minha situação quando tudo

o que quero é coloca-la de lado e manter meu cronograma.

Carrego a menina pela porta aberta do meu apartamento, e

chuto a porta atrás de mim com o calcanhar. Coloco-a no sofá e

sento ao lado dela para recuperar o fôlego. Estou sem fôlego, mas

não é ruim. Algumas respirações profundas e estou de volta à

ativa.

“Isso não foi tão difícil, agora, foi?”

Os lábios da moça se separam e ela está respirando

facilmente, um brilho fino de suor cobre sua testa e o peito. Eu

não consigo imaginar que ela esteja muito confortável nessas

botas e corpete. Não que eu vá fazer algo sobre isso. Já é ruim o

suficiente que a tenha em meu apartamento. Só remover suas

botas já pode adicionar combustível para qualquer pesadelo de

relações públicas que estará me esperando amanhã. Eu me

pergunto se posso perder meu emprego por isso. Por ela.

Agora que está segura, poupo um pensamento para a

minha situação. Preciso do meu trabalho. Tenho uma rotina

perfeita funcionando e não posso deixar uma maldita coisa

estragar. Era para eu voltar para o Pony Club e pegar a banda

como fui contratado para fazer, mas e depois? Trazê-los todos de

volta aqui para recolher sua guitarrista? Em primeiro lugar, é

uma boa ideia deixá-la sozinha?

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E m m a S c o t t

Olho para a garota. A mulher é nova. Imagino que talvez

vinte e dois. Ela está fria, mas seu belo rosto está em paz, as

sobrancelhas relaxadas pela primeira vez durante toda a noite.

Suspiro. Está tarde. Deixe-a dormir.

Ligo para A-1 novamente e digo ao Tony que fiz o trecho e

retornarei para a garagem às sete horas, Tony me avisa que o

nosso patrão, Harry, perderá a cabeça ao saber que um de seus

carros não está na garagem. Sem contar que deixei a banda

esperando no Pony Club.

“Por outro lado, Harry te ama”, Tony diz. “Você é o

motorista favorito dele.”

Isso é verdade, pois foi por isso que me foi confiada a tarefa

de levar e buscar a Rapid Confession, em primeiro lugar. Mesmo

assim, estou tomando um risco enorme fodendo com meu

trabalho e é um trabalho que preciso desesperadamente.

Com um gemido frustrado, jogo o telefone no mesmo velho

lugar em uma mesa de café em frente ao sofá. Ele bate contra ela

soltando um de três pedaços de vidro arranhando a superfície da

mesa, de madeira.

No armário do corredor pego uma almofada e coloco para a

minha hóspede, em seguida, coloco um copo de água e duas

aspirinas da minha mini farmácia pessoal na mesa ao lado dela.

Uma oferta de paz para a garota quando acordar e se perguntar

se foi sequestrada por um motorista maluco e psicopata.

A garota. Se eu a chamar assim mais uma vez, mesmo em

minha própria mente, vou enlouquecer.

Meu laptop está no balcão da cozinha que dá para a sala de

estar. Abro e digito Rapid Confession na barra de pesquisa do

Google. Um monte de fotos e artigos aparece, muitos são tão

recentes quanto ontem. A banda está prestes a ‘explodir no

cenário musical como um coquetel Molotov’ (de acordo com a

revista Spin) e ‘foi a melhor coisa que aconteceu para o rock and

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E m m a S c o t t

roll desde os Foo Fighters’ (segundo a revista Rolling Stone).

Pesquiso mais, até que encontro fotos promocionais atrevidas,

com os nomes de cada membro da banda.

“Kacey Dawson”, murmuro. “Aleluia.”

Olho para a foto promocional. Mesmo lançando um olhar

de ‘eu não dou a mínima’ na expressão de seu rosto, Kacey

Dawson é de tirar o fôlego.

“Se controla, Fletcher.”

Fecho o laptop e vou para o quarto. Na parede da cozinha,

o identificador de chamadas do telefone está piscando

insistentemente. Aperto no botão de reprodução.

“Você tem três novas mensagens.”

Eu deveria ter apenas ido direto para a cama.

“Ei, Jonah, sou eu, Mike Spence. Do Carnegie? Olha... eu sei

que você está passando por alguma merda grande agora, mas...

vamos sair, cara. Vamos tomar uma cerveja para relembrar os

velhos tempos. Ou, pelo menos, me ligue de volta e...”

Aperto ‘delete’ e pulo para a próxima mensagem.

“Olá, querido, é a mamãe. Apenas ligando para ver como

você está. Eu realmente odeio suas horas extras. Sei que pareço

como um disco quebrado, mas... bem, me ligue de manhã. E vamos

vê-lo no jantar de domingo, como de costume? Seu pai quer

churrasco. Me ligue, querido. Eu te amo. OK. Amo você. Tchau.”

Apago essa também, desejando que poder esquecer o tom

hesitante na voz de minha mãe. Parece que ela sempre está

esperando por más notícias.

A mensagem final é reproduzida, tendo chegado em apenas

alguns minutos atrás, talvez enquanto eu estava descarregando a

minha carga inconsciente da limusine. Eu sei que é de Theo antes

mesmo de ouvir sua voz.

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E m m a S c o t t

“Ei bro, apenas checando. Me ligue de volta. Até mais.”

Theo soou casual, mas a hora de sua chamada e as

mensagens anteriores o denunciaram. Irritado, ligo de volta.

Talvez Theo esteja trabalhando até tarde no Vegas Ink. Às vezes

ele tem clientes chegando a toda hora. Ou talvez ele tenha saído

na noite em um encontro — ele não mantém o controle com as

mulheres, elas vêm e vão em sua vida muito rapidamente.

Apago a mensagem, procuro meu celular para responder

apenas com uma mensagem. Pego na mesa de café, enquanto

Kacey Dawson dorme, alheia.

Theo: Ainda no trabalho?

Agora reviro os olhos, com muita irritação. Digito uma

mensagem de texto. Não, estou na rua, fumando um Marlboro

Reds como uma chaminé e comendo um bife cru.

Muito engraçado. Em casa???

Suspiro e contemplo o espaço em branco, meu polegar

coçando para digitar uma mensagem o mandando cair fora, sair

de cima de mim e me deixar em paz. Digito algumas palavras

nesse sentido, então apago, me afastando com um suspiro. Não

estou tão chateado assim. Não por fora, de qualquer maneira.

Não com ele ou meus pais. Toda a minha situação já é uma

merda o suficiente, sem precisar fazê-los se sentirem pior.

Sim, estou em casa agora, digito. Boa noite, Theo.

Vejo você na loja Domingo.

“Tenho certeza que sim”, murmuro.

Coloco o telefone no silencioso e deixo no balcão da cozinha

no caminho para o quarto. Lá, tiro meu uniforme de motorista de

limusine e coloco na cama, que está arrumada e, provavelmente,

um pouco empoeirada. Coloco um pijama branco confortável que

está na cômoda de madeira lisa, em seguida, vou ao banheiro do

corredor para urinar e escovar os dentes.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Enquanto escovo, faço planos.

Levar Kacey de volta para a mansão Summerlin será a

primeira coisa que farei na parte da manhã.

Devolver a limusine para A-1 e buscar o meu carro.

Voltar para minha rotina.

Sem problemas. Um pequeno contratempo, é o que resume

essa noite.

Na sala de estar, Kacey Dawson parece estar dormindo

confortavelmente — ou tão confortável como se poderia estar em

um sofá de couro e vinil. Lembro-me de meus próprios dias de

faculdade, com ressaca e cheirando bebida da noite passada era

uma péssima combinação. Desligo o ar condicionado, e me

acomodo na poltrona reclinável em frente ao sofá.

Tenho que rir com a cena que a minha convidada vai ter ao

acordar no meio da noite: um pequeno apartamento em vez da

sua mega mansão, e um cara estranho dormindo em uma cadeira

a menos de cinco passos de distância, em vez de em uma cama

como uma pessoa normal.

“Stephen King deve tomar notas”, murmuro, ficando no

meio da poltrona deitado do jeito que meu médico recomendou.

“Isso fará você aprender a beber direito, Kacey Dawson”,

murmuro enquanto meus olhos se fecham. “Tudo com

moderação.”

Tal como o meu sono.

Acordo às seis, minha bunda dormente de tanto ficar na

mesma posição durante toda a noite. Não sou capaz de mudar de

posição sentado, mas nunca dormi muito de qualquer maneira, e

eu sempre acordo disposto e alerta. É como se meu corpo

soubesse que tempo já não é um luxo que eu posso desperdiçar.

Guio meus pensamentos em direção a algo positivo. Luz do

sol amarelo e brilhante — aparecendo pela janela da frente. As

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garrafas de vidro e pesos de papel refletem essa luz, e

pulverizando a mesa de centro em tons de vermelho manchado,

azuis e roxos.

“Lindo”, murmuro. E eu tenho o sábado inteiro à minha

frente na Hot Shop para poder criar mais.

A figura no sofá geme e suspira em seu sono, lembrandome

com uma pequena sacudida que tenho alguns negócios

inacabados para cuidar primeiro. Jogo o cobertor de lado e vou

para o sofá. Agachado ao lado da Kacey Dawson, a estudo

dormindo, aproveitando o momento.

“Ei.”

Ela não se mexe. Sua boca está levemente aberta. Morta

para o mundo.

“Estou indo tomar um banho”, digo a ela. “Não roube

nada.”

Penso em escrever um bilhete para dizer que ela não foi

sequestrada, mas, em seguida, imagino que provavelmente não é

a primeira vez que Kacey Dawson acorda sem saber onde está

depois de uma pesada noite de festas. Deixo como está e vou ao

chuveiro.

Ela ainda está desmaiada quando volto, vestido de jeans e

uma camisa lisa. Meu uniforme da Hot Shop. Precisamente às

sete da manhã tomo meus remédios, engulo um comprimido após

o outro. Quinze ao todo. Meu estômago se queixa imediatamente,

e começo preparar o shake de proteína igualmente ruim que bebo

todas as manhãs.

“Desculpe, Kacey, isso vai doer”, murmuro e aperto o botão

no meu liquidificador, enchendo meu pequeno apartamento com

um zumbido horrível.

A Kacey Dawson de ressaca massiva se agita, geme, e,

finalmente, senta, empurrando seu cabelo bagunçado fora dos

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olhos. Ela olha ao redor com os olhos turvos, não me vendo na

cozinha atrás dela, olhando para ela.

Eu não sei — eu não poderia saber — mas, nesse

momento, o resto da minha vida, ou o que resta dela, começou.

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CAPÍTULO 5

kacey

Alguém está cortando uma árvore. Foda-se, toda uma

floresta.

Que tipo de bastardo doente...?

Ergo a cabeça, piscando com força. O zumbido para e meu

olhar nebuloso é atraído para a mesa de centro e sua variedade

de pesos de papel de vidro coloridos. Eles são muito bons —

bonitos mesmo — mas o meu apreço se perde quando eles

refletem a luz do sol direto nos meus olhos.

Olhando em outra direção, vejo um copo cheio de água,

duas aspirinas ao lado dele. Sento, sempre muito devagar, e um

cobertor laranja e verde horroroso de malha cai dos meus

ombros. Olho para mim mesma. Ainda 100% vestida. Até mesmo

com minhas botas.

Dignidade intacta. Um ponto para mim.

Mas o pensamento não me traz qualquer conforto. Aqui

estou eu de novo, acordando em um ambiente estranho depois de

uma noite de bebedeira que não lembro. Em um sofá neste

momento, mas poderia ter sido um beco coberto de lixo. A

sabedoria materna diz para me cuidar sempre que for beber para

não acabar em um lugar qualquer. Eu não sou cuidadosa. Eu

nunca tive esse cuidado.

Dói demais me mexer ou olhar ao redor. Dói até piscar.

Concentro minha atenção ao engolir a aspirina, ajudando com a

água. Minha boca está tão seca e arenosa como o deserto de

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Nevada. Eu teria mastigado vidro se achasse que meu estômago

poderia lidar com isso, mas tenho minhas dúvidas. Tomo

algumas respirações profundas e espero até que a sensação de

agitação no meu íntimo diminui, em seguida, olho em volta do

lugar.

Um pequeno apartamento, parcamente decorado, com

mobiliário simples, que não combina entre si. Do outro lado da

mesa de centro e suas bugigangas de vidro está uma velha

poltrona confortável em frente a uma TV de tela plana. As paredes

estão nuas, a não ser por duas molduras de universidades que eu

não consigo ler do sofá e uma meia dúzia de fotos. As janelas da

frente mostram uma vista de uma rua movimentada de Las

Vegas. Nada sobre o lugar causa qualquer tipo de impressão em

mim. Nem é familiar.

“Bem, não estou acorrentada e a porta é fica a poucos

passos de distância”, eu murmuro para mim mesma, e levanto o

copo de água para outro gole.

“É verdade, em ambos os casos.”

Eu tusso a água por todo o meu peito, e olho em volta.

“Que inferno…?”

Um cara está na pequena cozinha atrás de mim. Seu cabelo

escuro está molhado, fresco de uma chuveirada e seus olhos

castanhos afiados me olham confusos. Ele é alto, super bonito e

totalmente não é meu tipo. Eu gosto das grossas ondas, soltas de

seu cabelo, mas ele é muito certinho para mim. Os meus homens

são tatuados e cheios de piercings e vêm com uma estratégia de

saída logo depois que eu dormisse com eles. O cara na cozinha

parece ser o tipo que faz café da manhã para qualquer mulher

que passe a noite, ou mais, e em vez de expulsá-las, diz para ‘se

sentirem em casa’.

Bom garoto, do tipo bem bonzinho.

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Mas Deus, ele tem um rosto doce. Um rosto que posso

jurar que já vi antes. Procuro nas profundezas da minha

memória... quando e onde...

“Eu sou o motorista da limusine”, ele diz. “Eu levei você e

sua banda ao Pony Club na noite passada?”

“Ah, certo”, digo. “É isso aí.”

O cara vem até a frente do balcão da cozinha, de frente

para a sala de estar, e inclina-se contra ele, com os braços

cruzados. “Jonah Fletcher.”

“O quê?” Minha cabeça lateja atrás de meus olhos de

tempos em tempos.

“Meu nome”, diz ele lentamente, “é Jonah Fletcher. Caso

você se pergunte sobre o dono do sofá que está sentada.”

“Oh, desculpe”, eu respondo, minhas bochechas

queimando. “Eu estava apenas... ouvindo a minha dor de cabeça.

Sou Kacey Dawson. Embora você provavelmente já saiba disso.”

Os olhos de Jonah arregalam ligeiramente, e eu balanço a

cabeça — um movimento do qual me arrependo imediatamente.

“Eu não quis dizer que sou famosa ou qualquer coisa, quero dizer

por causa do seu trabalho. Meu nome está provavelmente em

algum documento... Eh, esqueça isso.”

Seguro a cabeça dolorida em minhas mãos e tento lembrar

algo da noite passada. Uma vaga sensação que algo não muito

bom aconteceu adicionado à miséria da minha ressaca.

Olho para cima para Jonah Fletcher. “Então, uh... na noite

passada. Será que nós...?”

Ele arqueia uma sobrancelha para mim, perfeitamente. A

outra nem sequer se move. “Será que nós... o quê?”

Eu bufo. “Tenho que soletrar?”

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A, expressão afiada dura em seu rosto suaviza ligeiramente.

“Nós não fizemos nada. Você estava desmaiada.” Ele inclina a

cabeça. “Você não lembra de nada?”

“Não muito.”

“Isso acontece muito?”

Bufo. “Eu posso ver que não é da sua conta.”

“E, no entanto, ontem à noite, tornou-se da minha conta.”

Ele dá de ombros. “Parece ser um hábito perigoso, é tudo. Nem

todos os caras são tão legais como eu.”

“Isso ainda está em aberto”, eu murmuro e olho ao redor.

“Este é o seu apartamento? Por que não me levou de volta para a

mansão em Summerlin?”

“Oh, acredite em mim, eu tentei. Trazê-la aqui não é

exatamente protocolo do trabalho. Eu posso perder meu

emprego.”

“O que aconteceu?” Pergunto, principalmente porque devo,

não porque quero saber.

Esse cara, Jonah, coça o queixo pensativo e senta-se em

frente a mim em uma cadeira reclinável. O estofado da cadeira

pode ter sido de couro marrom, mas acho que o mais provável é

que seja de vinil — rachado em alguns lugares e gasto pelo uso.

Jonah se senta nela e apoia os braços em seus joelhos que estão

vestidos de jeans. Uma pulseira pesada de prata está em seu

pulso direito. Sua camisa apertada ao redor de seus ombros e

bíceps. Músculos bacanas. Magro, mas definido.

Meus olhos se desviam para a gola de sua camisa, para

visualizar um pouco do seu peito. Meio centímetro de uma linha

vermelha em sua pele aparece por cima da gola. Algum tipo de

cicatriz grande.

Eu rapidamente desvio os olhos.

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“Eu tentei levá-la de volta para casa”, Jonah diz. “Tentei

entrar em contato com o seu empresário, também. Não tive sorte.

Era trazê-la aqui ou voltar para o Pony Club, mas o seu guardacostas

parecia bastante insistente que eu te afastasse da cena de

lá.”

Um caroço de medo se forma, agitando minhas entranhas.

“Que cena, exatamente?”

“Não tenho certeza. Parece que havia uma espécie de motim

acontecendo.”

“Um motim.”

Seja o que for o sangue foge do meu rosto, drenando para

longe. Uma vaga memória, borrada e mergulhada em álcool

aparece. Eu, pedindo para um monte de fãs virem à sala verde.

Eu não consigo lembrar o momento real, mas o som de tantas

vozes, troveja na minha cabeça e faz doer mais.

“Será que um... Será que Hugo — o guarda-costas. Ele

disse o que aconteceu? Como começou?”

Jonah balança a cabeça. “Você não lembra de nada?”

“Tenho quase certeza que não quero”, digo, minha voz

quase em um sussurro.

Reviro em torno da parte de cima das minhas botas,

buscando meu maço de cigarros. Eu balanço um cigarro que está

junto com a pequena caixa de fósforos quando Jonah limpa a

garganta.

“Esta é uma zona de proibido fumar, se você não se

importa.”

“Tenha misericórdia”, digo com um sorriso pálido. “Além

disso, todos fumam em Las Vegas.”

“Eu não.” O tom duro na voz de Jonah congela minha mão.

Ele oferece um pequeno sorriso. “Desculpa. Regras da casa.”

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Coloco o meu pacote para baixo cuidadosamente sobre a

mesa. “Você escolheu uma cidade difícil para viver se você não faz

como todos e não curte a fumaça do cigarro.”

“E ainda, de alguma maneira, eu consigo.” Ele esfrega a

mão sobre as coxas, impaciente. “Você não precisa ligar para sua

equipe? Elas podem querer saber que você está bem. Na verdade,

eu preferiria que soubessem que você está bem. Estou esperando

uma espécie de equipe da SWAT para arrebentar minha porta a

qualquer minuto pelo seu sequestro.”

“Eu acho que...” A última coisa que eu queria fazer é ligar

‘minha equipe’, mas Jonah está me observando.

Basta acabar com isso.

“Posso usar seu telefone?”

Jonah entrega seu celular e começo a digitar o número de

Jimmy. Tenho quase 99% de certeza que qualquer catástrofe que

tenha acontecido no Pony Club foi culpa minha, e 100% de

certeza que não quero saber o quão ruim a cena realmente foi.

Acovardo-me e ligo para Lola em vez disso.

Ela responde no terceiro toque. “Sim?” Ela diz, sua voz

cheia de sono.

“Lola? Sou eu.”

“Kacey?” Ela boceja. “Onde está você? Você está ligando de

casa?”

“Hum, não”, digo. “Eu não estou lá.”

“Bem isso ajuda”, Lola diz, suspirando. “Jesus, Kace.

Preciso enviar uma equipe de busca? Pensando bem, é melhor

você ficar escondida, onde Jimmy não pode encontrá-la. Ele está

irritado por causa de ontem à noite. Jeannie também. Então,

novamente, ela está sempre irritada.”

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Fecho os olhos com a acusação e me preparo. “Por que ele

está chateado?”

“Você não se lembra, não é? Porra! Você bebeu até o coma

logo após convidar metade do público para a sala verde. Mas, em

vez de se ater ao redor para lidar com a sua confusão, Hugo te

salvou. Ele a colocou na limusine, certo? Sim, tivemos de ir para

casa de táxi. Jimmy não está feliz com isso.”

Giro uma mecha de cabelo em volta do meu dedo. “É por

isso que ele está chateado? Porque ele teve que pegar um táxi?”

“Kace, você acha que ele está preocupado com você?

Querida, ele percebeu que você estava transando com o

motorista.” Uma pausa. Eu posso ouvir as palavras não ditas.

Todos nós podemos.

Meu rosto fica vermelho até o pescoço. Me recuso a olhar

para Jonah.

“Bem, eu não transei. Eu estava em coma alcoólico,

lembra? Você pode dizer isso a ele.”

“Tanto faz. Isso importa? Jimmy liga para a empresa e dá

uma bronca por não nos pegar. Aquele motorista da limusine vai

ter seu rabo arrancado com água quente. Hugo também.”

“Não, não, ele não fez nada de errado.” Eu me remexo no

sofá, para longe de Jonah e baixo a voz. Minha dor de cabeça

aumenta mil vezes. “Nenhum deles fez nada. Diga a Jimmy que

não foi culpa de Hugo. Estou bem.”

Ouço Lola acender um cigarro. Encontro meus dedos

avançando em direção ao meu próprio maço e tenho de cruzar as

mãos.

“Você percebe que destruiu o lugar totalmente, certo?” Lola

pergunta em uma exalação de fumaça. “De acordo com Jimmy, o

Pony Club está falando em uma potencial ação judicial para

pagar os danos.”

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E m m a S c o t t

Quase deixo cair o telefone de Jonah. “Será que alguém se

machucou?” Pergunto em voz baixa.

“Não”, ela diz, a raiva esvaziando de sua voz. “Mas o salão

verde está um lixo. Além de lixo. Parecia uma zona de guerra,

quando saímos.”

“Então... o que está acontecendo agora? O show de hoje

está cancelado?”

Lola bufa. “De jeito nenhum. Não com sessenta por cento

dos ingressos vendidos.”

“Oh.”

“Eu vou dizer a Jimmy que você está bem, mas talvez... não

sei, Kace. Você pode querer demorar algumas horas. Pelo menos

até que Jimmy cure a sua própria ressaca. Quer dizer, para ser

justa, todo mundo estava muito bêbado a noite passada.” Agora

posso ouvir um pequeno sorriso nos lábios da minha amiga. “Foi

um show épico. Épico.”

“Foi?”

“Oh garota, você não sabe mesmo. Estamos à beira do

mega estrelato e você está perdendo. Não, você está quase se

destruindo.”

“Mas eu não me destruí, certo?”

“Não. O show tem que continuar.” Lola suspira novamente.

“Descanse um pouco. Esteja sóbria para o show de hoje à noite.

Você ainda está bem para ir, né?” Ela pergunta, e posso ouvir o

tom de aviso em sua voz. Esta não é apenas a minha grande

chance, mas a dela também.

“Claro”, digo fracamente. “Obrigada, Lola. E diga a

Jimmy...”

“Que você está arrependida? Sim, sim. Hora de mudar o

repertório, Kace. Falo com você mais tarde.”

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E m m a S c o t t

Entrego o telefone de volta para Jonah. “Obrigada.”

“Os policiais arrebentarão a porta a qualquer minuto?” Ele

pergunta sombriamente. “Ou eu vou perder meu emprego? Ou

ambos?”

“Não. Bem... talvez.”

Os olhos de Jonah se arregalam. “Talvez o quê?”

Vergonha e humilhação colorem minha pele de vermelho.

“O segundo. Ouça, eu vou falar com o seu chefe sobre a

limusine...” Começo a falar quando Jonah sai de sua cadeira com

uma maldição.

Ele me ignora e começa a ligar do seu telefone.

“Harry? Sou eu, Jonah. Eu...” Ele me lança um olhar ao

ouvir o que está sendo dito na outra extremidade.

Eu seguro minha cabeça dolorida em minhas mãos quando

Jonah tenta explicar a situação. Finalmente, um telefone celular

aparece na minha linha de visão.

“Você se importaria de dizer ao meu patrão por que eu não

pude concluir o trabalho na noite passada?” Jonah pergunta com

força.

“Sim, claro.” Pego o telefone. “Um oi. Harry, não é? Sou

Kacey. Da Rapid Confession. Eu tive... uma noite ruim e Jonah

foi bom o suficiente para me deixar dormir em seu sofá. Nada

aconteceu”, acrescento, recebendo um olhar estranho de Jonah.

“Ele queria voltar para pegar o resto da minha banda, mas eu não

estava fazendo muito para contribuir então ele cuidou de mim.

Ok?”

Harry promete não despedir Jonah e ladra que quer a

limusine de volta, o mais rápido possível. Em seguida, ele desliga.

Jonah olha para mim. “Bem?”

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“Você não está demitido. Mas Harry quer a limusine de

volta. Tipo, agora mesmo.”

Ele assente. “Certo, tudo bem. Vamos. Vou deixá-la de volta

para a mansão no caminho.”

“Hum...” Eu arranco um fio enrolado no cobertor.

“O quê?” Jonah diz. “Você ouviu o meu chefe. Eu tenho que

devolver o maldito carro.” Ele inclina a cabeça para mim. “Você

não precisa voltar?”

Não, penso. Eu realmente não sei. Eu só não estou

preparada para enfrentar todo mundo. Nada disso. Ainda não.

Ofereço a Jonah um sorriso fraco. “A aspirina não fez efeito

nessa dor de cabeça. Estaria tudo bem para você, se eu tirasse

uma soneca enquanto você leva a limusine de volta? Vou chamar

um táxi depois e darei o fora de sua casa, eu prometo.”

Os olhos escuros de Jonah se arregalam. “Você quer que eu

a deixe sozinha em minha casa enquanto devolvo a limusine em

que você vomitou, de modo que você fique para tirar uma

soneca?”

“Eu prometo que vou tirar uma soneca e depois ir embora”,

eu digo, em seguida, sinto meu estômago ficar gelado. “Espere.

Eu vomitei em sua limusine?”

Parece que Jonah vai retrucar com uma piada, mas ele

deve sentir pena de mim porque diz em um tom mais suave “Você

não tem um show hoje à noite?”

“Eu tenho um tempo antes de voltar.”

Jonah esfrega o queixo, com o olhar confuso. “Depois que

eu entregar a limusine, estava pensando em ir para o trabalho.

Meu outro trabalho”, acrescenta. “Eu tenho uma agenda

apertada, um cronograma muito apertado e preciso me manter

nele.”

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E m m a S c o t t

“Eu sinto muito. Não quero interferir.” Eu olho para ele e

ofereço um sorriso. “O que você faz no seu outro trabalho?”

Jonah acena com a mão para o copo na mesa de café.

“Você é um colecionador?”

“Não, eu crio as peças.”

Meus olhos se arregalam enquanto olho para a arte de

vidro com novos olhos. Há dois pesos de papel em forma de

esfera, um que parece que está cheio de vida do mar a partir de

um recife de coral, e a outra segurando um redemoinho

incrivelmente intricado e colorido. Ao lado dos pesos de papel tem

um frasco listrado com pó de ouro com fitas de vermelho.

Pego o peso de papel com a vida marinha nele: anêmonas

com tentáculos brancos e amarelos, fitas de babados coloridas e

—alguma forma — as colorações salpicadas de peixes tropicais.

“Um pedaço do oceano na minha mão”, murmuro. Olho

para ele. “Você fez isso?”

“Sim. É o que eu faço. Não sou um motorista de limusine.

Esse é o meu trabalho noturno. De dia sou um artista industrial.

Iluminação, metal, vidro. Principalmente de vidro.”

“Você é realmente bom”, digo. “Mais do que bom. Isso é

surpreendente.”

“Sim, obrigado.” Ele esfrega a parte de trás de seu pescoço,

me observando segurar a peça.

Ele provavelmente pensa que vou quebrá-lo. Coloco o peso

de papel com cuidado de volta para baixo.

“Então, tenho que ir para a Hot Shop”, Jonah diz. “É onde

eu os faço, o vidro. Eu ficarei lá até por volta das duas da tarde.”

Ele aperta os lábios, pensando. Finalmente, diz, “eu acho... Bem,

acho que você é bem-vinda para ficar aqui até então.”

“Sério? Você não se importa?”

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E m m a S c o t t

“Eu não sei se iria tão longe”, Jonah diz com um sorriso

seco. “Há um pouco de comida aqui na geladeira, para quando

você quiser comer. Sirva-se da água engarrafada, também. Se

você realmente precisar fumar, há um pequeno pátio no meio do

complexo. Você vai ver a calçada apenas para a direita quando

sair. Tem bancos e um cinzeiro.”

“Ok, claro. Entendo”, digo, alívio me inundando já que eu

tenho algumas horas antes de ter que enfrentar as

consequências. Por assim dizer.

No balcão da cozinha, Jonah rabisca algo em um pedaço de

papel e traz para mim. “Este é o meu celular. Se você precisar de

alguma coisa, é só chamar. Telefone está na cozinha.”

Pego o papel e encontro seu olhar. De perto, seus olhos

estão mais quentes. Um profundo, marrom rico.

“Agradeço muito por me deixar ficar”, digo. “Eu realmente

aprecio seu gesto. Muitas pessoas não deixariam um completo

estranho ficar em sua casa sem supervisão.”

Jonah dá um sorriso tenso. “Nem me fale.”

Ele pega suas chaves e sai, fechando a porta atrás de si.

Ele me deixa sozinha em sua casa. Eu. A garota que destruiu o

Pony Club poucas horas antes, vomitei em seu carro, invadi o seu

espaço e quase o fiz perder o emprego. Ele está sendo tão legal

sobre tudo. Mais do que legal.

Ele confia em mim. Algo assim.

Não que eu mereça confiança. Estremeço com o

pensamento de que terei que enfrentar o salão verde esta noite.

Ter que ir e fazer outro show me enche de um estranho tipo de

medo.

O que há de errado comigo?

Acho que poderia entrar em menos problemas se eu

dormisse, e não estava mentindo para Jonah sobre a necessidade

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E m m a S c o t t

de uma soneca de qualquer maneira. Minha dor de cabeça troveja

e quero dormir por um milhão de anos. Deito contra a almofada

do sofá e puxo o velho cobertor sobre meus ombros. Não é tão feio

como eu pensava no início. Seu peso é reconfortante. Como um

bom abraço.

Meu olhar pesado cai sobre o belo arranjo de vidro na mesa

de café. Redemoinhos lindos de cor e design, presos e flutuando

no centro dos pesos de papel, enrolado com fitas ao longo do

corpo da garrafa.

“Lindo”, murmuro. Meus pensamentos imaginam que seria

pacífico e tranquilo dentro de um desses pesos de papel. Eu

poderia flutuar sem peso em um oceano de vidro, suspenso em

beleza, rodeada por cor e quietude. Nenhum ruído. Sem tambores

ou fãs gritando. Apenas... silêncio.

E segurança.

Eu adormeço momentos depois.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 6

kacey

Acordo incapaz de lembrar onde estou até que meu olhar

encontra os pesos de papel de vidro. Apartamento do motorista de

limusine. Jonah Fletcher. Fletch 2 , como no filme de Chevy Chase.

Sorrio para mim mesma e me espreguiço.

A luz que entra pela janela é cortante e branca, do tipo que

chega com meio-dia. O relógio do DVD diz que são treze horas.

Dormi por seis horas seguidas. Meu estômago não está mais

enjoado, mas pede por alimentos.

Eu quero um cigarro. Pego meu maço e vou para fora, em

direção ao pátio que Jonah me falou.

O calor me dá um tapa na cabeça e minha dor de cabeça

ameaça voltar. Eu não sei como alguém pode se acostumar com o

calor do deserto. Nascida e criada em San Diego, onde era quase

sempre 28 graus e ventando, eu não consigo tolerar este tipo de

calor duro, seco por mais de um dia ou dois. É como viver em um

forno. Embora eu meio que deteste a ideia de me reunir com a

banda, estou feliz que estamos deixando Nevada na terça-feira.

Sento em um dos bancos de ferro forjado no pátio

medíocre, à sombra de uma metade do complexo de

apartamentos em forma de L. O pátio é de terra e pedra calcária

esmagada, repleto de cactos e alguma outra planta de deserto que

não reconheço. Nada aqui é verde mesmo, somente verde pálido,

como se fosse revestido de areia do deserto.

2 Fletch é o nome original do filme Assassinato por Encomenda protagonizado por Chevy Chase.

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E m m a S c o t t

Acendo meu cigarro e mentalmente examino meu

pensamento sobre me reunir a minha banda. Será que eu

realmente detesto a ideia? Estamos à beira do estrelato. Baldes de

dinheiro e muita fama está por vir.

Então, por que me sinto como se eu quisesse ir embora?

útil.

Porque você não quer acabar morta, vem em pensamento

Eu tremo, apesar do calor insano, e dou uma longa tragada

em meu cigarro. Uma porta do apartamento de frente para o pátio

abre e uma senhora em um vestido caseiro cor de pêssego,

chinelos e bobes no cabelo curto sai de lá. Ela para quando me

vê.

Aceno. “Quente o suficiente para você?”

A mulher bufa e bate as duas mãos para mim, em seguida,

se retira e fecha sua porta com um estrondo.

Olho para meus peitos que estão saltando para fora do

corpete e tenho que rir. Eu ainda estou vestida em látex e vinil do

meu show e suando como uma cadela. A velha senhora

provavelmente pensou que eu era uma prostituta. O suor escorre

pelas minhas costas e posso sentir ao longo de meus lados onde a

parte superior do espartilho me aperta. Ir para fora no calor foi

uma má ideia.

Apago o cigarro sob minha bota e volto para o apartamento

de Jonah, orando para que não tenha me trancado para fora.

Não, eu não me tranquei para fora, tinha deixado a porta

entreaberta.

Bom, penso. Ele permite que você fique e você deixa a porta

aberta.

O complexo de apartamentos não grita riqueza exatamente,

mas Jonah tem seus belos vidros soprados. Eles parecem valiosos

para mim.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

De volta para dentro do ar condicionado misericordioso,

sento no sofá e tiro minhas botas. Minhas meias arrastão foram

rasgadas em uma dúzia de lugares. Tiro-as também, fecho os

olhos e estico as pernas. O cigarro não fez nada para a minha

ressaca. Minha língua parece grande demais e os meus dentes

parecem que não foram escovados em uma semana. Talvez Jonah

tenha algum antisséptico bucal. Ou eu poderia escovar os dentes

com a pasta de dentes no meu dedo.

Depois de fazer um curto xixi no banheiro, lavo as mãos na

pia. Eu esperava encontrar todos os tipos de merda de um cara

que mora sozinho, tais como espuma de barbear, ou catarro

assustadores. Durante o curto período de tempo que eu vivi com

Chett, ele estava sempre deixando bagunça repugnantes na pia

ou vaso sanitário.

Jonah não é Chett.

Como o resto da sua casa, a pia é limpa e organizada.

Começo a lavar as mãos, mas o reflexo no espelho me para.

O que resta da minha maquiagem dos olhos está manchada

pelo meu rosto, como se tivesse chorado. Meu batom deixou uma

mancha vermelha pálida sob o meu lábio inferior, como algum

tipo de erupção cutânea. Meu cabelo é um emaranhado e minha

pele branca parece pálida sob as luzes fluorescentes. Mortificação

me invade ao pensar que fiquei em torno de Jonah, falando com

ele desse jeito durante toda a manhã, e isso me acerta como um

soco no estômago.

“Deus, Kacey...”

Limpo o delineador e o batom manchado com papel

higiênico, em seguida, abro o armário em busca de creme dental.

Eu gelo com o que vejo.

Pasta de dente e Listerine estão lá, mas eles estão na frente

de um conjunto de medicações. Frascos de comprimidos

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

alaranjados com tampas brancas, tantos quantos os olhos podem

ver.

“Que farmácia é essa, Batman.”

Viro alguns frascos para ler os nomes. Nenhum me parece

remotamente familiar.

Prednisona. Rapamune. Gengraf. Ciclosporina. Norvasc.

“Que porra é essa?” Eu viro mais rótulos. Alguns tem

nomes que imagino reconhecer pelos anúncios de TV:

analgésicos, alguns para pressão arterial elevada, dois para

baixar o colesterol, e um frasco de antibióticos.

Por que um jovem precisa de remédios para colesterol e

pressão arterial?

A costura rosa da cicatriz no peito de Jonah aparece na

minha memória. Algum tipo de problema cardíaco? Isso explicaria

o antitabagismo e a pequena farmácia que tem aqui neste

armário de remédios.

Fecho a porta do armário rapidamente, pasta de dentes

esquecido, sentindo-me como se eu tivesse acabado de entrar e

encontrar alguém nu ou como se tivesse lido um diário altamente

privado. Saio do banheiro e vou para a cozinha em busca de mais

água. Eu preciso dela para lavar o gosto ruim na minha boca de

ter bisbilhotado a vida de Jonah.

Na geladeira, acho a água engarrafada que Jonah tinha

mencionado e não há muito mais. Alguns vegetais murchos,

saladas embaladas, e pelo menos três bandejas de várias

caçarolas cobertas de papel de alumínio. Eu dou uma espiada no

congelador, tomando um momento para apreciar o ar frio, e vejo

mais alimentos embalados: Lean Cuisine e marcas de ‘coração

saudável’ como se Jonah estivesse em uma dieta.

Esta não é a geladeira de um típico solteiro de Las Vegas.

E o armário de remédios é?

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E m m a S c o t t

Meu estômago revira com nervosismo em vez de fome. Eu

nunca fui uma boa pessoa ao redor de doentes. Eu nunca soube

qual a coisa certa a dizer, nunca fui capaz de encontrar o

equilíbrio certo entre simpatia e compaixão. Eu sempre me calo

durante qualquer tipo de discussão sobre saúde e hospitais me

dão calafrios.

Você está sendo estúpida. Você precisa comer. Não comeu

desde...

Não consigo me lembrar da última vez que comi.

Aparentemente, estou em uma dieta também. Uma dieta líquida.

Uma tigela de cereal pode ser seguro. Abro alguns

armários, procurando uma caixa de Cheerios. Em vez disso,

encontro uma merda... toneladas de vitaminas, suplementos e

proteína em pó.

Fecho esse armário com pressa.

“Droga.”

Jonah disse que eu poderia me virar, mas agora o meu

apetite desapareceu completamente. Ele não é apenas um

estranho total; ele é um completo estranho, que tem uma

condição médica séria. Me sinto muito intrusa ao saber de tudo

isso tão cedo. Estou recebendo um curso intensivo sobre sua

merda extremamente pessoal, e ele sabe quase nada sobre mim.

Eu gostaria de ter sido corajosa o suficiente para deixá-lo me

levar de volta para a mansão em Summerlin.

Ando de volta para a sala de estar, não inteiramente certa

sobre o que fazer. A TV pode ter uma reportagem sobre o que

aconteceu no Pony Club na noite passada, então eu a deixo

desligada, e tento deixar o silêncio da casa de Jonah me

contentar.

Não posso ficar parada. Quando criança, minha mãe foi

rápida para me diagnosticar como TDAH — transtorno de déficit

de atenção — utilizando-o como desculpa ao meu pai para o meu

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comportamento exuberante, que ficava irritado com o menor

ruído ou sinal de peraltice. Estou sempre inquieta em minha

própria pele. Quando fiquei mais velha, eu me sentia como duas

pessoas presas no mesmo corpo, uma introvertida que se

esquivava das broncas com raiva de seu pai, e uma pessoa

extrovertida que praticava em sua guitarra elétrica na garagem, o

mais alto possível para irritá-lo. Uma guerra constante comigo

mesma.

Neste momento, a introvertida em mim sussurra para

desfrutar da calma.

A extrovertida quer uma bebida.

Estantes alinhadas em uma parede na sala de estar de

Jonah: artes industriais, história da arte, biografias de artistas —

alguns que já ouvi falar, outros nem conheço. Eu gosto de

romances, horror, e um mistério divertido. Jonah é todo não

ficção. Chato.

Continuo andando.

Na parede oposta, tem pendurado um monte de fotos

emolduradas. A maioria mostra Jonah, sorrindo com o que

parece ser sua mãe e seu pai, e, um cara de boa aparência. Um

irmão, talvez? O cara tem a mesma estrutura facial básica, como

Jonah, o mesmo cabelo escuro, mas é mais curto e mais

volumoso. Suas feições são mais delineadas. Seus olhos são um

tom marrom e mais escuro. Tatuagens escuras serpenteiam em

torno de seus braços musculosos.

Ele parece exatamente o tipo de cara que eu amaria levar

para casa à noite, perder-me em tudo o que é masculino, forte e

poderoso sobre ele. Um cara que correria com os primeiros raios

de sol da manhã seguinte, sem amarras, apenas como eu gosto.

Jonah parece o tipo de cara que você quer encontrar no

lado da estrada à noite, se seu carro der defeito.

Ou se você desmaia de bêbada e destrói um clube em Vegas.

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“Isso também”, murmuro distraidamente, e continuo

olhando.

O mesmo irmão quente e outros dois amigos — um cara

Afro-Americano e uma menina bonita com cabelo longo —

aparecem em um monte de fotos: em um clube, em uma festa,

cercado por árvores verdes altas em um acampamento, ou em

planícies desérticas, com o sol nascente ou poente por trás deles.

Em quase todas as imagens, Jonah está com um sorriso

brilhante, aberto, que faz toda a sua face se iluminar. Tal

contraste com a expressão rígida, séria que ele usava em torno de

mim. Eu não posso deixar de sorrir de volta para ele.

Noto que uma garota — a linda morena com delicadas

características — está ao lado de Jonah em um monte de fotos.

Jonah normalmente está com o braço pendurado ao seu redor, o

mesmo sorriso feliz no rosto, enquanto a mulher que parece

modelo e posa, como se tivesse virado seu ‘melhor lado’ para a

câmera.

Acima das fotos estão os dois diplomas emoldurados que

eu observei esta manhã. Um deles é um diploma da Universidade

de Nevada, Las Vegas, e o outro de Carnegie Mellon.

Carnegie Mellon... É uma universidade grande. Talvez até

Ivy League. Jonah é talentoso e inteligente. Ele parece jovem,

apenas alguns anos mais velho que eu. Ele não deveria ainda

estar na Carnegie Mellon? Ou será que qualquer condição médica

que tem o forçou a sair?

Toco uma foto de um Jonah rindo, sorrindo. “O que

aconteceu com você?”

Ele está bem. Ele está fazendo coisas de vidro em uma loja

apropriada, seja o que for. Você, por outro lado, iniciou um tumulto

e depois desmaiou. A melhor pergunta é, o que aconteceu com

você?

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“Eu estou bem”, digo a ninguém, mesmo que esteja

disposta a dar qualquer coisa por um Bloody Mary nesse

momento.

De repente, esse corpete maldito parece como se é dez

tamanhos menor, em vez de apenas dois. Eu não consigo respirar

e começo a suar mais uma vez. O ar condicionado se mexe

silenciosamente na janela com vista para a rua movimentada. Ao

invés de dar os vizinhos uma emoção, volto para a cozinha,

puxando os cordões que prendem o corpete juntos nas laterais.

Eu o tiro e o deixo cair no chão, ficando apenas com o sutiã sem

alças preto enquanto abro o congelador.

Sou muito baixa. O ar gelado bate no meu rosto, mas não

onde preciso. Avisto um banquinho perto dos armários, arrasto

para a frente do freezer e subo. Levanto o cabelo do meu pescoço

e seguro tudo junto no alto da cabeça, deixando o ar me bater por

baixo dos braços e peito, refrescando minha pele que queima e

amortecendo o meu desejo por uma bebida forte.

“Humm... Olá?”

Jonah. Eu não ouvi nada por causa de todo o zumbido do

congelador. Eu quase caio do banquinho.

“Oh meu Deus, é sério?” Pego meu corpete do chão e

seguro por cima do peito como um escudo. “Assuste uma garota

até a morte, por que não?”

Parece que ele está escondendo um sorriso. “Desculpa. Eu

só estou tentando descobrir o que você está fazendo.”

“Pescando um de seus congelados para fora com meus

seios”, retruco. “O que você acha que estou fazendo? Estou me

refrescando.”

“Tenho certeza que é para isso que serve o ar

condicionado”, ele diz, apontando o polegar atrás de si.

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“Sim, mas é perto da janela, cara inteligente. Eu não queria

ficar assim perto da janela.”

Jonah levanta as mãos. “Tudo bem.”

Um breve silêncio se instala, onde é óbvio que nenhum de

nós sabe o que fazer ou dizer em seguida.

Bufo um suspiro. “Olha, você vai ficar aí olhando para mim

durante todo o dia ou talvez queira me ajudar? Sua vizinha já

pensa que eu sou uma garota de programa. Esta é uma roupa de

show, palco, não de lazer.”

Agora é totalmente óbvio que ele está tentando não sorrir.

“Espere um segundo.” Ele vai para o quarto e volta com uma

camiseta preta lisa. “Esta serve?”

Viro as costas para ele, e puxo a peça sobre minha cabeça.

É muito grande e tem um decote em V, que totalmente não é o

meu estilo, e cheira como ele.

Mais uma vez, a sensação de estar precocemente muito

íntima com esse cara vem sobre mim. Agora estou de pé descalça

em sua cozinha, vestindo sua camisa.

“Obrigada”, digo, virando para encará-lo. Outro curto

silêncio, durante o qual Jonah olha para mim. Não de uma forma

assustadora, mais como se ele estivesse tentando descobrir o que

fazer comigo.

Eu percebo muito isso.

Mudo de pé para pé. “Como é o processo de fazer vidro?”

“Sopro.”

“Perdão?”

“É vidro soprado”, Jonah diz. “Eu não faço o vidro, eu faço

coisas a partir do vidro superaquecido por sopro de ar através de

um tubo...” Ele acena com a mão. “Deixa para lá. É um processo

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longo. Eu não quero aborrecê-la com os detalhes, é melhor

começar a levar você embora.”

“Não parece chato”, digo rapidamente. “Eu não posso nem

imaginar como você faz essas coisas. Tão complicado. O peso de

papel com as criaturas do mar? Quero dizer... como você fez

isso?”

Deus, estou balbuciando como uma idiota, tentando

despistar, porque o pensamento de voltar para Summerlin é como

um peso de chumbo, me arrastando para baixo. Jonah franze a

testa, claramente tentando decidir se eu realmente me importo ou

se estou apenas enrolando.

Ambos.

“Eu poderia explicar”, ele diz, “mas isso levaria o dia todo, e

tenho uma agenda apertada para cumprir, e...”

“Eu estar aqui é uma enorme encheção de saco”, eu

termino, tentando não ceder. “Entendi. Está tranquilo.”

“Você não é uma encheção de saco”, Jonah diz.

Eu levanto a cabeça para ele.

“Ok, talvez um pouco”, ele diz com um pequeno sorriso.

Encaro isso como um bom sinal. “Ei, você sabe o quê? Eu

estou morta de fome. Que tal comer alguma coisa em algum

lugar? Eu ainda tenho cerca de uma hora antes de precisar voltar

e me preparar para o show. O que me diz? Comer alguma coisa?

Por minha conta.”

O rosto de Jonah endurece e os músculos em seus ombros

ficam tensos. “Eu tenho que dirigir esta noite, às seis, e estou em

um cronograma muito apertado...”

“Você continua dizendo isso.” Eu o toco no ombro, como se

fôssemos velhos amigos. “Você nunca quebra sua rotina?”

“Não. Eu não.”

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“Oh.” Mordo o lábio. Estou muito persistente. “Um almoço

gorduroso, pós-ressaca não vai demorar muito tempo, não é?

Meia hora, quarenta e cinco minutos, no máximo.”

Olhos escuros e astutos de Jonah encontram os meus, e

posso sentir que ele está me estudando. Ele é observador, esse

cara, e sinto que minhas inseguranças estão escritas em cima de

mim.

Ou talvez seja porque você parece uma garota propaganda

da caminhada da vergonha.

“Eu disse que você podia comer qualquer coisa aqui”,

Jonah diz finalmente.

“E é educação sua oferecer, mas você não tem muito na

forma de... comida real.”

“Eu tenho muitas restrições alimentares”, ele diz.

“Claro.” Eu tusso. “Mas por que, exatamente?”

Jonah parece estar travando uma luta interna, em dúvida

sobre contar ou não para mim o que eu já suspeito.

“Eu tenho uma doença cardíaca”, ele diz lentamente.

“Oh?” Não é como se eu já não tivesse bisbilhotado o seu

armário de remédios. Meus olhos ardem por olhar para a cicatriz

que começa na sua garganta. Mantenho o meu olhar grudado em

seu rosto. Eu devo parecer como uma pessoa louca, olhando tão

intensamente porque Jonah dá um passo para trás.

“De qualquer maneira. Isso é outra longa história e... sim,

eu acho que nós podemos comer alguma coisa se você estiver

realmente com fome.”

“Faminta!” Coloco minhas botas que vão até a coxa, e fica

estranho com a minha saia de couro e camiseta masculina, mas

pude tirar o corpete, graças a Deus.

“Estou pronta.”

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“Ok”, Jonah diz, hesitante. “Um almoço rápido e então a

levarei de volta para Summerlin.”

“Parece bom.”

Ele provavelmente só concorda em me alimentar para

mudar de assunto, mas não importa o motivo, estou feliz em fazer

uma refeição com ele. Não é muito, mas aceito.

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CAPÍTULO 7

jonah

Levo Kacey para fora através do estacionamento para

minha caminhonete: um pequeno pick-up azul, a sua carroceria

cheia de caixas de papelão. Seguro a porta do passageiro aberta

para ela, o que parece surpreendê-la. Este almoço inteiro me

surpreendeu: não está na rotina de qualquer maneira. Mas,

obviamente, Kacey não tem pressa para se juntar a sua banda.

Depois de toda a catástrofe que causou no Pony Club, ficar

comigo é um ato de autopreservação.

Subo ao volante e os olhos se desviam novamente para as

coxas de Kacey, a pele lisa entre suas botas e a minissaia quase

inexistente. Parte de uma tatuagem colorida é parcialmente

visível em sua coxa e o desejo de ver o resto é ridiculamente forte.

Kacey é um colírio para os olhos. Na verdade, ela é mais do que

isso. É bonita. Mas e daí? Ela é mais do tipo de Theo com o

cabelo muito claro, couro e tatuagens.

Meus olhos se desviam para suas coxas novamente.

Quanto tempo se passou desde que toquei em uma mulher?

Um ano, quatro meses, treze dias, e dezoito horas.

Eu zombo meu lado matemático, embora o número

provavelmente não esteja muito errado. Eu não fiquei com uma

mulher desde a minha ex-namorada, Audrey. Antes de ficar

doente.

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“O que são aquelas caixas na parte de trás?” Kacey

pergunta, tirando-me dos meus pensamentos. “Você está se

mudando?”

“Não, elas estão cheias de vidro”, digo, grato pela distração.

“Frascos velhos e garrafas que derreto para fazer minhas peças.

Vou levá-las até a Hot Shop amanhã.”

“Assim, a Hot Shop é onde você sopra o vidro?” Kacey ri.

Arqueio uma sobrancelha para ela.

“Eu sei, eu sei. Tenho vinte e dois, mas tenho o senso de

humor de um menino de quatorze anos de idade.” Ela se vira em

seu assento para mim. “E como você faz isso?”

“Fazer o quê?”

“Levantar apenas uma sobrancelha. Eu sempre quis.”

Dou de ombros. “Eu não sei. Eu só faço.”

“Faz novamente.”

“Por quê?”

“Porque é legal.”

Arqueio minha sobrancelha para ela. “É isso?”

Ela ri e se recosta em seu assento, satisfeita. O largo

sorriso permanece em seus lábios enquanto observa Las Vegas

passando pela sua janela. Mesmo apenas um pouco virada para

mim, ela tem um sorriso deslumbrante.

“Então no que você está trabalhando?” Ela pergunta depois

de um momento. “Na Hot Shop.”

“Bem... estou trabalhando em uma exposição em uma

galeria local. Ela abrirá em outubro. A exposição, não a galeria.”

Calma, Fletcher. Mas faz meses desde que falei com um

estranho sobre a exposição. Eu tenho diminuído meu círculo

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social para exatamente três amigos, minha família, e o curador da

galeria. Até Kacey, eu não tinha entendido completamente o quão

pequeno esse círculo era.

“Você vai vender o copo nesta exposição?” Kacey pergunta.

“E aqueles belos pesos de papel?”

“Sim, eu vou colocar pequenas peças como aquelas para

venda, mas o foco principal será uma instalação de grande

escala.”

Ela começa a fazer outra pergunta quando entro com a

caminhonete no estacionamento do Mulligan, um restaurante

caseiro. São quase três da tarde, o movimento para o almoço já

acabou, o estacionamento está livre. Paro numa vaga perto da

porta.

“Aqui é bem perto da sua rua”, ela diz. “Nós poderíamos ter

andado.”

“Com este calor?” Eu digo, e desligo o motor.

“Bom ponto. O calor é insuportável. Eu não sei como vocês,

moradores do deserto, lidam com ele.”

Eu seguro a porta do restaurante aberta para ela,

surpreendendo-a novamente. Ela sorri para mim e quase perco

minha linha de pensamento.

“Eu nasci e fui criado no deserto”, digo. “Estou acostumado

a isso, mas algumas pessoas não conseguem suportar. Os

covardes e as maricas, qualquer um.”

Kacey bufa e me dá uma cotovelada leve na lateral

enquanto passa por mim e entra no restaurante. Ela suspira de

alívio quando entramos no ar-condicionado, em seguida, me pego

lhe dando um olhar compreensivo.

“Oh, tudo bem. Eu sou uma covarde”, ela ri. “Consiga uma

mesa, espertinho, enquanto uso o banheiro.”

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Rio no meu caminho para a garçonete. É fácil estar perto

desta garota. E parece que ela acha o mesmo de mim, como se

nos conhecêssemos há anos em vez de horas.

Uma garçonete me cumprimenta. “Quantas pessoas,

querido?”

“Duas”, digo e sinto uma pontada imediata no meu peito.

Ouvi dizer que você pode perder um braço, mas ainda

sentir dor nele. Eu não perdi Audrey, minha última namorada.

Ela me deixou, logo após a minha cirurgia de transplante. Nós

tínhamos planejado uma certa vida juntos, mas quando o vírus

destruiu meu coração e quase me matou, destruiu os nossos

planos e matou o nosso relacionamento.

Audrey não conseguiu lidar com a doença, os hospitais, o

espectro da morte pairando sobre mim até que me ligaram,

avisando que o doador estava disponível. Ela foi embora antes de

eu sequer voltar da anestesia.

Theo nunca vai perdoá-la por ter me deixado, mas eu a

superei rapidamente — mesmo depois de ficarmos juntos por três

anos. Doeu ela ter terminado, e a escolha do momento certo

poderia ter sido melhor, mas eu a perdoo por me deixar para

encontrar outra pessoa, alguém saudável com quem poderia estar

loucamente apaixonada e construir uma vida real.

Eu não sinto falta dela. No entanto, em resposta a uma

pergunta inofensiva da garçonete, percebo que perdi o ‘nós dois’.

Ser parte de um casal, segurar uma porta para alguém, pedir

uma mesa para dois, brincar, provocar, ser engraçadinho com

alguém... O meu pequeno círculo social não inclui uma namorada

e não incluirá nunca mais. Eu pensei que tinha me conformado,

mas uma parte de mim, enterrada lá no fundo, diz o contrário.

Afundo na cabine e pego um menu para me distrair dos

pensamentos que não quero ter. Mulligan tem a típica comida

caseira — que sua mãe faria todos os dias, e uma variedade de

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hambúrgueres e sanduíches para o almoço. Infelizmente, mais da

metade dos itens são estritamente proibidos para mim.

Kacey ocupa o assento na minha frente, com o rosto lavado

e brilhante. Tento não pensar no fato de que ela está usando a

minha camiseta, como as namoradas às vezes fazem com a roupa

do seu namorado.

A garçonete traz duas águas para a mesa. “Café?”

“Sim, por favor”, Kacey diz. “Desesperadamente.”

“Descafeinado para mim”, digo.

A garçonete se vira e Kacey me lança um olhar engraçado.

“Eu não posso ter cafeína.”

“Que tragédia.” Ela se inclina sobre a mesa. “Você sabe o

que dizem sobre o descafeinado. Há um momento e um lugar:

Nunca e no lixo.”

Eu rio com ela. “Vou ter que me lembrar disso.”

Kacey estuda o menu. “Estou com tanta fome, poderia

comer um pouco de tudo. E você? O que você vai pedir? Espera...”

Ela deixa o cardápio na mesa. “O que você pode comer?”

“Não tenho certeza ainda. Minhas opções são limitadas.”

“Por causa de suas restrições alimentares.”

“Sim.”

“Bem, merda, Jonah, por que você me trouxe aqui?” Ela

bate a mão no menu. “Tudo aqui é massa e gordura.”

Eu rio e levanto minhas mãos em sua súbita explosão. “Ei,

aqui é legal. Vou encontrar alguma coisa.”

Ela morde o lábio. “Sim, mas...”

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“Eu vim aqui por você. Este é o alimento perfeito para a

ressaca”, digo. “Eu costumava vir aqui com amigos quando estava

na UNLV — Universidade de Nevada.” Toco no canto do menu.

“Peça o que quiser. Está tudo bem, eu juro.”

Ela ainda parece em dúvida quando a garçonete volta com

os nossos cafés, colocando uma toalhinha de papel laranja,

escrito descafeinado, debaixo da minha caneca.

“Está pronta para pedir, querida?”

Kacey morde o lábio.

“Peça”, eu digo a ela. “A menos que prefira voltar para a

minha casa e comer alguns congelados?”

“Quando você coloca dessa forma...” Kacey se vira para a

garçonete e diz com uma voz profunda, “Sim, muito bem, eu quero

um Bloody Mary, e um sanduíche de bife e um sanduíche de bife.”

A garçonete lhe dá um olhar estranho e faço uma careta

para o Bloody Mary.

Kacey pisca os olhos, olhando entre nós. “É Fletch? Do

filme?” Ela aponta um dedo na mesa. “Você, Jonah Fletcher, não

pode me dizer que você não viu o melhor filme do Chevy Chase de

todos os tempos?”

“Desculpe, eu perdi”, digo.

“É um clássico”, Kacey diz. “Eu tenho uma coisa por filmes

dos anos oitenta.”

A garçonete pigarreia. “Eu também, querida, mas não

tenho sanduíches de bife ou Bloody Mary.”

Kacey pede um X-burguer e batatas fritas, e eu peço uma

salada Cobb, sem o bacon e uma fatia de pão de trigo, sem

manteiga.

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E m m a S c o t t

Quando a garçonete se vira, Kacey sacode a cabeça. “Sem

bacon? A única coisa boa em uma salada Cobb é que você

começa colocando o bacon nela.”

Dou de ombros. “Não está na lista.”

“Isso é péssimo. O que mais você não pode comer?”

“Nenhuma carne vermelha, nenhum chocolate, nenhum sal

em qualquer coisa...”

Kacey quase engasga com seu café. “Ei, ei, ei. Sem

chocolate?”

“Eu sinto mais falta do sal”, eu digo. “E manteiga. E coisas

gordurosas” eu rio secamente. “Em suma, eu não estou

autorizado a comer qualquer coisa deliciosa.”

Kacey sacode a cabeça. “Não sei como consegue.”

“Não é como se eu tivesse escolha. E há coisas piores.”

“Estou tentando imaginar algo pior do que não ser capaz de

comer chocolate.” Ela congela, em seguida, coloca sua caneca de

café para baixo, seu sorriso desaparecendo. “Oh meu Deus, isso é

uma coisa terrível de se dizer a alguém com uma doença

cardíaca. Eu sinto muito. Faço muito isso — deixar escapar o que

aparece na minha cabeça.”

“Ei, isso é legal. Também não posso usar cocaína, mas que

acabou por ser uma bênção disfarçada com todo o dinheiro que

estou economizando.”

Seu embaraço some, afastando-se com um sorriso. “Sim,

você parece um usuário de cocaína para mim.”

“Drogado total. Reformado.”

Kacey relaxa e se recosta em seu assento. “Então, você foi

para a UNLV? Foi lá que você estudou artes industriais?”

“Sim, meu irmão e eu estudamos arte lá.”

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E m m a S c o t t

“E Carnegie Mellon?”

Tomo um gole de café. “Com certeza você faz um monte de

perguntas.”

“Você tem um monte de fotos e diplomas em sua parede.

Antes de eu decidir refrescar meus seios em seu freezer, tive

algum tempo para matar.”

Coloco a caneca para baixo antes de derramar. “Isso não é

algo que você ouve todos os dias.”

“É no meu mundo”, Kacey diz com um sorriso triste, como

se fosse uma velha piada que ela estivesse cansada de ouvir. Mas

ela acena.

“Carnegie Mellon é... onde?” Ela pergunta.

“Pensilvânia. Sem falar no choque climático. O primeiro

inverno que tive lá eu quis hibernar.”

“Humm”, ela diz sobre a borda de seu café. “Mas de um

covarde para outro, costa leste tem um clima estranho também.

Eu nasci e cresci em San Diego, onde se chover, as pessoas

perdem a cabeça.”

A garçonete chega com a nossa comida. Eu nunca deixei

qualquer um alterar sua dieta a minha volta, mas o cheiro

flutuando do prato de Kacey se enrola no meu nariz, saboroso, de

carne e grelhados. Olho para a minha salada que cheira a nada e

dou uma bocada, principalmente por causa de Kacey.

“Então você tem uma galeria para expor em outubro?”

Kacey, pergunta, enxugando a boca com um guardanapo. “É

muito ruim eu não estar por perto para vê-lo. Estarei em turnê

pelo próximo ano.”

“Um ano... isso é uma longa turnê. Eu espero que você

goste de viajar.”

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E m m a S c o t t

Ela encolhe os ombros. “Eh. Não é tudo tão bom como

parece.”

“Não?”

“Parece ingrato. A maioria dos músicos daria seu rim

direito para ser contratado por uma gravadora e turistar por

várias cidades, certo?”

“Como eu não tenho rim para dar, direito ou esquerdo, não

poderia dizer com certeza”, digo com um sorriso. “Mas do meu

ponto de vista profissional — como seu motorista — não parece

que você está tendo o melhor momento de sua vida.”

Os olhos dela vão até o teto. “O que me dedurou? O local do

show ser ruim ou desmaiar e vomitar em sua limusine?”

“Empate.”

Ela sorri. “Sinto falta da música honesta, sem todos os

shows, sabe? Eu costumava amar ficar apenas sentada com a

minha guitarra e escolher uma canção. Encontrar um ritmo ou

uma melodia, entrar no clima de escrever as letras.”

“Você foi para a escola de música em San Diego?”

“Não, eu não fiz faculdade”, ela diz. “Mas... eu tenho tocado

desde que era criança. Minha avó me deu uma guitarra quando

eu tinha dez anos. Eu gostava de jogar, mas na maior parte eu

gostava de escrever músicas. A guitarra foi uma maneira de

colocar a melodia por trás de minhas palavras. Poderia ter sido

qualquer coisa — um piano, bateria... eu só queria escrever e

cantar.”

“Você canta também?”

“Só backvocal atualmente”, ela diz, não encontrando meus

olhos. “E eu não escrevo minhas próprias coisas mais. Apenas o

material para a banda.”

“Por quê?”

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E m m a S c o t t

Ela traça a linha da uma sobrancelha escura, distraída

com o dedo. Seu cabelo é loiro, mas as sobrancelhas são mais

escuras. E perfeitas.

“Somos uma equipe agora. Eu escrevo para nós”, Kacey

está dizendo. “Mas de uma maneira que é melhor para mim. Eu

preciso da banda.” Ela olha para mim através dos cílios

abaixados. “Eu não me dou tão bem sozinha.”

Balanço a cabeça, lutando por algo construtivo a dizer.

Para manter o foco em suas palavras e não nos pequenos

detalhes de seu rosto.

“Eu sinto que tudo está se movendo tão rápido”, Kacey

continua, “e não tenho tempo para sentar e resolver as coisas.

Como o que quero fazer? É isso que eu quero fazer? Ser uma

estrela do rock? Metade de mim diz ‘Claro que sim!’ A outra

metade de mim está com medo.”

“Medo de quê?”

“O estilo de vida. As festas. Eu sinto como se estivesse

fazendo isso para não ter que tomar quaisquer decisões reais.

Basta seguir a banda, tocar música bem alto, e beber muito,

porque...”

“Por que...?” Pergunto delicadamente

Ela dá de ombros casualmente, mesmo que suas palavras

não sejam assim. “Porque eu não tenho outro lugar para ir.”

Uma imagem do guarda-costas levando-a para fora do

clube na noite passada passa pela minha mente, assim como a

foto promocional dela, mostrando o dedo médio ao mundo.

Vulnerável e difícil ao mesmo tempo.

Ela parece perdida...

Kacey senta ereta e acena com a mão, como se suas

palavras fossem fumaça do cigarro para dissipar. “De qualquer

forma, essa é a minha história angustiada de ressaca.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Eu sei que não é tudo. Tenho a impressão de que ela tem

uma tonelada mais de histórias e uma tonelada mais de músicas

nela.

O silêncio cai entre nós enquanto bebo o meu café

descafeinado que está esfriando. Meia dúzia de vezes que comecei

uma frase, querendo compartilhar algo com ela. Algo

profundamente pessoal, como se houvesse algum placar cósmico

que precisasse ser igualado.

Mas a minha coisa mais pessoal é demais. Muito sombria.

Kacey Dawson é luminosa e não posso suportar a ideia de ver a

minha verdade mais profunda envolve-la como um manto,

escurecendo sua luz com o seu terrível caráter definitivo.

Eu brinco com o meu bracelete de alerta médico debaixo da

mesa. Poderia, pelo menos, dizer que é por isso que tenho que

comer a porra de uma salada em vez de um hambúrguer.

Começo, em seguida, a garçonete aparece com sua garrafa de

café. Ela reabastece a caneca de Kacey, em seguida, começa a

encher a minha.

A mão de Kacey dispara e cobre minha caneca. “Espere! É

do mesmo? Ele só pode ter descafeinado!”

A garçonete puxa a garrafa de volta com um pequeno grito.

“Droga, querida, eu quase queimei você.”

“Sinto muito”, Kacey diz. “Eu só... é importante.” Ela olha

para mim.

“Não vale a pena você se queimar”, digo. Mas o gesto me

tocou.

“Eu vou pegar a outra garrafa”, a garçonete diz, e retira-se

num acesso de raiva.

A mão de Kacey está de volta no colo e suas bochechas

estão rosadas. “Desculpa. Fiquei um pouco animada.”

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E m m a S c o t t

“Você alcança até o onze”, digo, relembrando uma das

citações do filme dos anos oitenta para acalmar as coisas.

Sua cabeça sobe, colocando um sorriso como a aurora em

seu rosto. “Isso é Spinal Tap”, ela diz. “Um clássico.”

Eu me fixo em seus olhos, sinto o momento entre nós,

quente e denso. “Obrigado por salvar o meu café”, digo. “É

importante.”

Seus olhos se suavizam. “Você vai me dizer o porquê?”

“Eu uh... fiz um transplante de coração”, digo.

“Oh”, ela diz, sentando-se ereta em seu assento. Seus olhos

olham para longe por um momento, então ela dá uma sacudida

brusca em sua cabeça. “Um transplante de coração. Mas... você é

tão jovem. Vinte e cinco?”

“Vinte e seis. O vírus que destruiu o meu coração não deu a

mínima para quantos anos eu tinha.” Eu sorrio com tristeza. “Os

vírus são idiotas.”

Kacey não sorri. Ela aponta para meu pulso e o bracelete

de alerta médico. “Posso ver?”

Deslizo meu braço em direção a ela sobre a mesa. Ela gira o

bracelete, da cruz em vermelho para as palavras inscritas no

outro lado.

“Paciente transplante cardíaco. Veja o cartão na carteira.”

Kacey olha para mim. “O que tem no cartão da carteira?”

“Minha informação de contato de emergência, o meu tipo de

sangue, blá, blá.”

Seu olhar me pressiona. “‘Blá, blá?’”

“O que fazer no caso de eu ficar em apuros.”

Ela assente com a cabeça. Em seguida, acho que ela vai

perguntar que tipo de problema que eu poderia ter, e eu ia falar,

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E m m a S c o t t

algo sobre medicação e efeitos colaterais, que é um inferno de

muito mais fácil de ouvir do que ter a insuficiência cardíaca total.

Em vez disso, ela pergunta “Foi recente?”

“Quase um ano e meio atrás.”

Seus olhos se arregalam. “Isso é muito recente.” Ela solta o

bracelete e sua mão esbarra na minha. O momento congela, em

seguida, sua mão escorrega para trás, palma com palma. Seus

dedos se curvam ao redor da minha mão e seguram firme. Eu

encaro quando meu polegar desce em cima de seus dedos e se

move lentamente para frente e para trás.

A garçonete volta com o café descafeinado. O olhar em seu

rosto é azedo, até que vê nossas mãos. Ela sorri completando

minha caneca.

“Eu sinto muito em ouvir tudo isso”, Kacey diz, quando a

garçonete segue em frente. Ela dá um aperto final nos dedos e

solta.

Eu coloco minha mão vazia, confusa, no meu colo. “Eu

também sinto.”

Kacey brinca com a colher. “É difícil falar?”

“Sim”, admito. “Somente as pessoas mais próximas sabem.”

“E eu sou a recém-chegada invadindo em seu espaço

pessoal e fazendo a todos os tipos de perguntas.”

“Sim”, digo, “você é uma maldita intrometida.”

Ela grita e joga uma batata frita em mim. Rio e a tiro do

meu colo.

“Espere, merda! Você não pode comer isso!” Kacey se

inclina sobre a mesa para pegá-la de volta. “Eu não acabei de

quase me queimar com o seu maldito café, para você comer uma

batata frita em vez disso.”

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E m m a S c o t t

“Seu sacrifício foi devidamente anotado.” Eu ponho a coisa

toda na minha boca, e quase gemo em êxtase. Tinha esquecido

quão bom pode ser uma batata frita. Salgada, gordurosa,

perfeição. “Santo Deus, que gosto bom.”

Kacey move seu prato fora do meu alcance. “Isso é tudo que

terá, amigo. Eu não vou ser responsável por quebrar sua dieta. Já

quebrei sua rotina, que você vive mencionando, certo? Eu sou

uma má influência para você...”

Minha risada morre e meu sorriso congela. Ela está certa.

No espaço de um almoço, Kacey não só quebrou minha dieta,

mas ela estragou minha rotina que é cuidadosamente trabalhada.

Não apenas ocupando o meu tempo que poderia ter sido gasto na

Hot Shop. É isso. Almoço. Riso fácil e dividir informações. Confiar

no outro com segredos. Dedos curvados suavemente juntos...

Isso é um item proibido no menu.

Isso é ruim para o meu coração.

Limpo a boca com um guardanapo e o coloco sobre a mesa.

“Sim, falando da minha rotina”, digo. “Eu só tenho algumas

horas antes de começar o meu turno na A-1 e você tem um show

hoje à noite. Temos que te levar de volta para Summerlin.”

O sorriso de Kacey desaparece e seu queixo se inclina para

minha mudança óbvia de comportamento. “Oh. Claro.” Sua luz

luminosa esmaece. “Pronta, quando você quiser.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 8

jonah

Eu nos levo de volta ao meu apartamento para Kacey poder

recuperar seu corpete e os restos de suas meias arrastão. Mas

quando paro dentro do estacionamento, ela não sai da

caminhonete, fica sentada ali, imóvel.

“Jogue fora o corpete estúpido”, ela diz finalmente.

“Tem certeza?”

“Vamos continuar”, ela diz, mas soou mais como, vamos

acabar logo com isso.

Levo Kacey de volta para a mansão em Summerlin em

silêncio. Paro a caminhonete na grande entrada circular. Kacey

sai da caminhonete e fica de frente para a casa.

“Eu odeio Las Vegas”, murmura tão baixo que quase não

ouço. Ela se vira para mim, inclina-se para a janela do

passageiro. “Obrigada por cuidar de mim na noite passada.”

“Sem problema”, digo. Diz mais alguma coisa. Diga algo

melhor. Mas as palavras estão presas na minha garganta.

“E obrigada por pagar o almoço. Deveria ser por minha

conta, mas eu não tinha dinheiro comigo. Naturalmente.” Ela

balança a cabeça. “Se você esperar um segundo, posso correr lá

em cima e conseguir algum dinheiro.”

“Esqueça”, digo. “Eu comi uma batata frita, pela primeira

vez em um ano. Valeu a pena os vinte dólares.”

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E m m a S c o t t

Ela levanta os olhos para os meus. “Obrigada por isso,

também.”

“O quê? Comer uma batata frita?”

“Por me alegrar. Toda vez que me sinto um pouco para

baixo, você faz uma piada para levantar meu astral.”

Eu balanço a cabeça como um idiota mudo, não sei o que

sairia da minha boca, uma piada ou a verdade: fazê-la rir é como

ganhar na loteria.

Ela arrasta os pés. “Ok, bem. Eu tenho que voltar.”

“Quebre uma perna esta noite”, eu finalmente consigo

proferir.

“Vou ter sorte se isso for tudo que eu quebrar”, ela diz, com

uma risada fraca. Ela começa a fechar a porta e depois para.

“Obrigada por ser um bom rapaz, Jonah. Está em falta no

mundo.”

Ela fecha a porta e se afasta, brilhando com o seu cabelo

claro como vidro fiado no sol. Observo sua caminhada até a

entrada — para certificar-me de que ela entrou — nos limites

escuros da casa. As sombras a engolem e a porta se fecha atrás

dela.

Sem Kacey, meu apartamento parece sem ar e selado. E

em silêncio. Se for sempre assim tranquilo? Eu vou para o sofá

para dobrar o cobertor. Restos de perfume de Kacey emanam e eu

quase coloco a maldita coisa em meu nariz para inspirar.

Você não tem tempo para isso.

Tenho que reconstruir minhas fortificações, reforjar a

armadura que preciso para chegar até outubro. Tenho que apagar

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E m m a S c o t t

a noite passada e esta tarde, enterrar junto com a memória dos

olhos de Kacey quando sorrir, ou como sua coxa nua em sua saia

curta tentou acordar o desejo físico que eu neguei que ainda

existia...

Com um pedido de desculpas silencioso para a minha avó

já falecida, dobro o cobertor e o jogo no armário. Para o meu

desejo, eu tomo uma ducha muito fria.

Depois, estou na minha cozinha em silêncio, bebendo a

droga de um shake de proteína repugnante que não é páreo para

a batata frita que Kacey jogou em mim...

Pelo amor de Deus, esqueça.

Morar com esta mulher, ou qualquer mulher é uma perda

de tempo. Eu não sou do tipo de cara de uma noite só. Nunca

fiquei ligado dessa maneira, e começar um relacionamento agora

está fora de questão. Nem com Kacey Dawson, nem com

ninguém.

Não estarei mais tendo belas mulheres em casa, ou mesmo

para o almoço. Não mais.

Eu verifico meu telefone: são cinco horas na noite de

sábado e estou vestido para o trabalho. Tenho duas mensagens

de texto de Theo e uma mensagem de voz do meu pai, como de

costume. Amanhã passarei o dia todo na Hot Shop, em seguida,

jantar com a minha família. Tudo como deve ser. Minha rotina foi

abalada um pouco, mas permanece intacta.

No meu caminho para fora da porta, pego o corpete de

Kacey e a meia arrastão rasgada, em seguida, jogo no lixo do

estacionamento.

“Nós agora retornamos a nossa rotina regular.”

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E m m a S c o t t

Meu chefe, Harry Kelton, tinha saído quando devolvi o

carro, mas ele está aqui nesta noite. Eu suspeito que ele vá

reiterar pessoalmente que levar meninas bêbadas para casa não

está no meu contrato.

“Fletcher”, ele diz por meio de saudação, e puxa minha

papelada para a noite da bagunça de sua mesa. Ele me joga um

conjunto de chaves de carro. Pego com uma mão enquanto

estudo a atribuição da noite sob as lâmpadas fluorescentes

piscando, e fico boquiaberto com o que eu leio.

“Rapid Confession? Mais uma vez?”

Kacey...

Harry entrelaça as mãos atrás da cabeça, círculos redondos

de suor escurecendo o ponto debaixo dos braços. “O empresário

pediu especificamente por você.”

“Depois da noite passada?”

“Eu acho que ele nos perdoou”, Harry diz. “Sorte também.

É um bom frete.”

Balanço a cabeça em frustração. “Não é sorte se ele está

chateado e tentando me ferrar com outra gorjeta.”

“Você os abandonou ontem à noite”, Harry diz, inclinandose

para a frente e apontando o dedo gordo para a bagunça em

sua mesa. “Tenho sorte que ele contratou — e pagou — outro

frete. Ele poderia ter cancelado o pagamento, estaria dentro dos

seus direitos, não importa sua gorjeta.” Ele se inclina para trás

em sua cadeira, a fazendo ranger. “Lucro para nós dois, Fletcher.

Mantenha o seu negócio e você tem uma segunda chance.”

“Chefe…”

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E m m a S c o t t

Harry se vira espetando o dedo na minha direção. “Você é

meu melhor motorista, Jonah, mas não estou muito feliz sobre a

noite passada. Termine o trabalho, se você quiser manter o seu.”

Saio do escritório de Harry em um deslumbramento, suas

palavras ecoando na minha cabeça.

Uma segunda chance...

“Maldição”, eu murmuro. Eu quase viro para enfrentar

novamente o escritório e dizer para Harry esquecer isso, alguém

poderia ficar com a gorjeta. Exceto que Harry está prestes a me

despedir, e não posso dar ao luxo de perder meu emprego.

Caminho através da garagem, passando por fileiras de

limusines pretas e brancas, carros de cidade e sedans, reforçando

a mim mesmo.

Eu posso ser profissional. Vou fazer o meu trabalho, e

passar por esta noite.

“Ei, Fletcher...”

Viro-me para ver Kyle Porter, um outro motorista, que foi

para seu carro.

“Eu ouvi que você tem o show Rapid Confession. Por duas

vezes, seu bastardo de sorte. A guitarrista é gostosa.”

Subo ao volante da minha limusine preta e bato a porta.

“Nem me fale.”

Depois de seis horas, estou de volta na mansão em

Summerlin, estacionado na rotatória, esperando a banda sair. O

sol apenas começou a se pôr, riscando o céu alaranjado e roxo no

horizonte. Normalmente, estudo o jogo de luz, pensando em como

poderia recuperar essas cores em redemoinhos no vidro derretido.

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E m m a S c o t t

Mas estou muito distraído. O que direi a ela? Fazer uma piada?

Dar um sorriso e pronto? Ou apenas ficar calmo. Manter a

rotina...

“É você!”

Saio dos meus pensamentos para ver a banda e o

empresário, com malas na mão, quase no carro. E Kacey...

Ela aparece com leggings, botas até o tornozelo, e uma

camiseta preta, enorme, escrita Ziggy Stardust na frente. Ela

arrumou o cabelo no topo de sua cabeça em um nó confuso e seu

rosto está limpo, livre de maquiagem, e se ilumina com uma

combinação de alegria e alívio que envia ao meu coração

emprestado, um ataque de batidas rápidas.

Ela coloca as mãos nos quadris, dando-me um olhar

brincalhão. “Você está me perseguindo?”

Antes que eu pudesse responder, Jimmy Ray se aproxima

de Kacey e coloca o braço em volta dela. “Portanto, este é o

motorista heroico que tomou conta da minha garota na noite

passada. Contratei ele de novo, gatinha, como um agradecimento

pessoal.” Ele pisca para mim. “Ela é um pouco falante, não é?”

Eu tinha visto caras como esse um milhão de vezes,

durante meus seis meses como motorista de limusine em Las

Vegas. Eu sempre os tratei com cortesia. Mas a mão de Jimmy

paira sobre o seio direito de Kacey e uma vontade de socar seu

rosto presunçoso toma conta de mim como uma onda.

“Vá em frente, entre”, Jimmy diz para Kacey. Ele retira o

braço e bate de leve na bunda dela a apressando para entrar na

limusine.

Um sorriso envergonhado cintila sobre os lábios de Kacey, e

ela não olha para mim quando entra.

Jimmy Ray estende a mão para mim, e eu aceito como um

hábito profissional.

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E m m a S c o t t

“Tudo está perdoado, amigo.” Ele me puxa para perto. “Eu

espero que você tenha se divertido com minha garota na noite

passada, mas não vamos fazer um hábito disso, sim? Não vamos

gastar todas as cartas.”

Sua mão escorre para fora da minha, deixando uma nota

de cem dólares na minha mão.

Amasso o dinheiro em meu punho enquanto ele sobe na

parte de trás. Apenas a ameaça de perder o meu trabalho me

impede de jogá-lo no chão. Fecho a porta da limusine com força

— colocando o cabelo para trás — e acondiciono as malas da

banda no porta-malas.

Uma vez atrás do volante, meus olhos ardem para

encontrar Kacey no espelho retrovisor, mas a partição sobe,

abafando os sons de conversas e risos. Saio de Summerlin e os

levo para a Strip, já brilhando no crepúsculo que cai.

A leste do Flamingo, perto do centro de convenções, que dá

para a avenida e manobro para o estacionamento traseiro do

Pony Club, assim como fiz na noite anterior. Abro as portas e

descarrego as malas, uma por uma, assim como na noite

anterior. Mas agora estou plenamente consciente de Kacey atrás

de mim, esperando sua vez. Ela vem por último, e viro para

entregar sua bolsa. Seus olhos são azuis-celestes e iluminados

pela luz âmbar sombria do poste que se acende acima de nós.

“Então, Jimmy pediu por você pessoalmente”, ela diz em

voz baixa, enquanto os outros esperavam na porta.

“Ele pediu.”

“Espero que ele não tenha sido um saco para você. Ele pode

ser…”

“Imbecil?”

“Sim. Mas ele é um bom empresário.”

Eu fecho o porta-malas. “Isso é tudo que importa.”

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E m m a S c o t t

Uma dos membros da banda, uma menina com o cabelo

azul e preto, enfia a cabeça para fora da porta. “Kace?”

“Já vou.” Kacey diz por cima do ombro. “Essa é Lola, minha

melhor amiga. Ela me meteu nessa banda. Se não fosse por ela,

eu provavelmente estaria nas ruas. Não posso decepcioná-la, você

entende?”

Ela parece que estava tentando se virar sozinha até fazer

algo assustador. Meu instinto é de consolá-la ou protegê-la, mas

de quê? Como?

“Posso ajudar?” Eu digo.

“Você vai estar aqui depois do show?” Ela pergunta, com o

rosto aberto e esperançoso, um sorriso triste.

“Sim, Kacey. Estarei aqui”, digo suavemente. “Eu vou te

levar para casa.”

“Estou tão feliz”, ela diz. Ela arrasta os pés, não muito ao

encontrar meus olhos. “Estão falando de uma festa depois, em

Summerlin. Uma tonelada de pessoas está vindo... os caras do

show de abertura. Você deveria vir. Quer dizer, se você quiser. Se

você puder.”

Eu não poderia. Nós não somos autorizados a

confraternizar com nossas cargas, mas o desejo de protegê-la é

feroz e nem a política da empresa, nem as minhas regras estritas

sobre rotina poderiam mudar isso.

Sua amiga, Lola, surge na porta novamente. “Kacey. Você

não pode nos atrasar de novo, querida. Estou falando sério.”

“Eu tenho que ir.” Kacey estende a mão e aperta a minha

mão. “Vejo você depois?”

Ela corre para se juntar a sua banda, e tento imaginar esta

menina tocando sua guitarra elétrica no palco, na frente de uma

plateia gritando. Ela parece pronta para rachar em pedacinhos, e

além de sua amiga com o cabelo em dois tons, parece que ela não

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E m m a S c o t t

tem a porra de uma pessoa no mundo para ajudar a resolver

tudo.

Limpo a mão no bolso da calça do uniforme como se eu

pudesse limpar o seu toque e os sentimentos que vieram com ele,

mas ainda posso sentir sua pele macia contra a minha.

Deslizo atrás do volante para esperar o show. A fila de

limusines atrás da minha cresceu, e aposto que Trevor está entre

eles, ainda não aprendeu a tirar o paletó maldito enquanto espera

no calor.

Ao contrário da monotonia da noite passada, eu passo esta

noite com os meus nervos a flor da pela, esperando para ver se

Kacey está bem, e chateado comigo mesmo por estar preocupado.

Cada ondulação abafada da multidão me fez estremecer e eu meio

que espero Hugo correr para fora da porta de trás com ela em

seus braços novamente.

Depois de duas horas, o meu nervosismo se resume em

uma pontada surda na boca do estômago. Um homem sem-teto

vem até mim, pedindo uns trocados. Entrego a ele a cédula

amassada de cem dólares que Jimmy Ray tinha me dado. Os

olhos do homem sem-teto estão cansados e aprofundados no osso

fundo. Ele arregala os olhos quando me oferece um sorriso

banguelo de profundo alívio antes de esgueirar de volta para a

noite.

São os cem dólares mais bem gastos.

É perto de vinte e três horas quando o show termina.

Através do beco que dá para a rua, vejo uma corrente de

frequentadores do bar indo embora. Eu coloco meu paletó de

volta e espero na porta da limusine pela banda.

Uma hora depois, eu ainda estou esperando, suando como

o Trevor.

Finalmente a porta se abre, a Rapid Confession sai e os

caras da banda que fez o show de abertura. Todos eles bêbados,

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E m m a S c o t t

chapados e rindo com um pós-show elevado. Eu procuro por

Kacey. Ela está em sua roupa de show agora: calças de couro

pretas apertadas, e um top preto frente única decotado que revela

um vale de pele lisa entre a curva suave de seus seios. Tatuagens

em seus braços contrastam contra sua pele pálida, o cabelo ainda

está amarrado bagunçadamente na cabeça, mechas caindo soltas

para enquadrar o rosto.

Kacey parece desgastada do show — suada, desgrenhada e

bêbada. O baterista tem um braço pendurado em seu pescoço.

Ambos cambaleiam. Como Kacey subiu não muito graciosamente

para a limusine, seus olhos encontram os meus, vidros com licor.

Ela me dá um sorriso amuado antes de desaparecer lá dentro.

Jimmy e empresário da outra banda entram por último,

sem olhar na minha direção. Eu fecho a porta atrás deles, blindo

a cacofonia de risos e conversas altas.

No trajeto para Summerlin, meus olhos continuam se

desviando para o espelho retrovisor e duas vezes eu mal consigo

evitar bater na traseira do carro na minha frente. Mas, enquanto

a divisória está baixada, fico tentando pegar um vislumbre de

Kacey, para me certificar de que ela está bem.

Por que você se importa? Ela é uma estrela do rock. Isso é o

que eles fazem.

Mas eu me importo. Ela bebeu até o esquecimento na noite

passada e ficou tão perdida novamente esta noite. Ela me disse

no almoço hoje que estava com medo, mas de quê? Do que

aconteceu na festa? Ou algo mais? E por que, no espaço de vinte

e quatro horas, seus medos tornaram-se tão importantes para

mim?

Paro na rotatória da entrada da mansão cor de rosa em

Summerlin. Desta vez, as luzes estão acesas em cada janela.

Quando abro a porta da limusine, um grande emaranhado de

corpos cambaleantes e risos derramados saem. Arrisco um

palpite que o minibar foi invadido até os cubos de gelo.

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O baterista da banda de abertura está em cima de Kacey, e

quando o grupo vai para a casa, eu a vejo tentando empurrá-lo.

“Saia”, ela diz, e cambaleia para trás. O cara ri e diz algo

que eu não posso ouvir. Ele vai para cima dela novamente, um

braço serpenteando ao redor da cintura para prendê-la a ele.

“Não”, ela diz, com a voz abafada contra o peito do rapaz

quando ele a prende perto. A cabeça inclinada, a boca em seu

pescoço e sua outra mão desliza para baixo contra o peito.

“Ryan... pare...”

“Ei!” A amiga de Kacey, Lola tenta afastar ela do cara e

começa a cambalear em direção a Kacey para ajudar.

Eu sou mais rápido.

Pego o baterista pelo ombro e empurro para longe de Kacey

tão forte que ele tropeça em seus calcanhares e cai de bunda no

chão.

“Ela disse para parar, imbecil”, digo. O baterista fica de pé,

sua expressão transformando de confusão para a raiva. Olho para

baixo, e quando Kacey cai em mim, com o rosto enterrado contra

minha jaqueta, meu braço vai ao redor dela.

“Quem diabos é você?” Os lábios do baterista se curvam em

um sorriso de escárnio. “O motorista…”

“Ok, ok”, Jimmy Ray diz, movendo-se entre nós. “Vamos

todos nos acalmar. Somos todos amigos aqui...”

“O inferno que somos”, digo, não tirando os olhos de Ryan.

Um braço mantém Kacey apertada, o outro está com a mão em

um punho ao meu lado. A adrenalina corre em minhas veias e me

sinto bem pra caralho, e imprudente. Eu não sou cara violento,

mas se esse bastardo quer uma luta, darei a ele.

Os membros da banda, com alguma insistência de Jimmy,

vão para a casa. Ryan está bêbado demais para brigar e acho que

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ele sabe disso. Ele me mostra o dedo e se deixa ser puxado por

seus companheiros. Lola fica para trás.

“Estamos todos bem?” Jimmy pergunta. “Você está bem,

gatinha?”

Kacey afasta-se do meu braço, mas fica perto, segurando a

manga do meu casaco. Ela dá um sorriso duro. “Claro, Jimmy.

Estou bem.”

“Que se foda isso”, Lola diz, olhando para seu empresário.

“Se Ryan tocá-la mais uma vez eu vou cortar o pinto dele fora.

Livre-se deles, Jimmy. Encontre outra banda para a abertura.”

Eu gosto dessa Lola.

Kacey acena com a mão. “Não, não, não é um grande

negócio. Está bem…”

“Não, não está tudo bem”, eu digo.

Jimmy coça o queixo. “Isso tem que ser uma grande coisa?

Agora mesmo? Eu tenho uma centena de pessoas vindo a esta

festa...”

Enquanto fala, os outros carros chegam, táxis e limusines

— um fluxo constante de pessoas. Se eu não mover logo a

limusine, vou acabar ficando travado.

Olho para Kacey. Ela está bêbada, e se eu deixá-la ir para

dentro daquela casa, ela só irá ficar mais bêbada. Ou desmaiar.

Ryan pode decidir pegar o que ele quer de qualquer maneira, e

em uma casa desse tamanho, com uma festa em fúria, quem

saberia?

Mantenha a rotina, eu penso, mesmo quando minhas mãos

se movem por conta própria. Tomo o rosto de Kacey e inclino

suavemente, fazendo-a olhar para mim. Sua ampla boca treme

sob batom vermelho. Maquiagem escura puxa seus olhos em

safiras azuis, azul pálido com um anel mais escuro ao redor da

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íris. Eu não notei isso antes. Bonita. Ela não pertence a esse

lugar.

“Você quer ir embora?” Pergunto.

Seus olhos seguram meu olhar, o álcool escureceu o brilho

que eu tinha visto neles durante o nosso almoço. Mas sua voz é

firme quando responde “Sim, eu quero.”

Eu sorrio para ela, estranhamente orgulhoso. “Feito.”

Seus olhos vidrados se arregalam de surpresa, em seguida,

com uma rajada de ar encharcada de uísque, ela murcha contra

mim. “Está tudo bem, Jimmy”, ela murmura. “Jonah... Ele é

muito bom para mim.”

Eu a levo para o banco da frente da limusine e a ajudo. Sua

cabeça pende contra o encosto de cabeça, os olhos fechados, e eu

afivelo o cinto de segurança nela para mantê-la segura.

“Faça uma mochila por favor?” Digo a Lola, fechando a

porta.

Ela estreita os olhos para mim, me avaliando, em seguida,

balança a cabeça e entra na casa.

Jimmy olha atrás dela, em seguida, vira-se de volta para

mim. “Fazer uma mochila?”

“Ela vai ficar comigo alguns dias”, digo.

Ele solta o ar as bochechas. “Nós estamos indo embora

daqui na terça-feira.” Ele está bêbado como o inferno também,

mas tentando manter alguma autoridade. “Eu tenho vinte e cinco

cidades mais agendadas e ela está sob contrato. Só para você

saber.”

“Eu sei”, digo, minha voz dura. Elevo sobre ele todo o meu

um metro e oitenta. “Ela está fazendo uma pausa desse

escândalo.”

E depois? A voz da razão me pergunta. Eu ignoro.

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“Uma pausa. Sim, está bem.” Jimmy acende um cigarro e

aponta os dois dedos para mim. “Eu sei onde você trabalha. Se

você deseja manter o seu emprego, você cuida dela.”

“Melhor do que você tem cuidado”, eu digo.

“Você acha que é especial para ela? Seu herói?” Ele bufa

uma risada. “Entre na fila, amigo.”

Ele se retira para a casa que está enchendo rapidamente.

Lola volta com uma mochila e uma pequena bolsa de couro. Pego

e vou até o porta-malas.

“Qual é o problema aqui?” Lola pergunta. “Vocês dois

estão...?”

“Não.” Jogo as bolsas no porta-malas. “Ela precisa de

algum tempo longe. Obviamente.”

“Então, ela fica alguns dias em seu sofá, e depois nos

reencontra antes de deixarmos Vegas?”

“Esse é o plano.” Eu bato a porta do porta-malas. “Se você

está preocupada ou não se ela estará segura comigo, ela está. Eu

juro pela minha vida que nunca iria machucá-la, ok?”

Lola balança a cabeça lentamente. “Certo, tudo bem. Isso

pode ser bom. Não mataria Kacey permanecer sóbria durante

quarenta e oito horas consecutivas. Eu a amo muito, mas ela é

uma porra louca. Esta é a nossa grande chance. É a minha

grande chance, e se ela mantiver seu juízo tempo suficiente, verá

que é sua grande chance também.”

Eu duvido. Vou para o lado do motorista.

“Eu vou ligar para ela”, Lola me diz, seguindo. “Para ter

certeza de que ela está bem.”

“Espero que sim”, eu respondo, e bato a porta.

Você não pode cantar pneu com uma limusine, mas chego

perto, e a mansão rosa desbotada fica fora do meu retrovisor.

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E m m a S c o t t

Eu dirijo de volta para A-1 para entregar a limusine,

apressando Kacey através da garagem para minha caminhonete.

Por algum milagre ninguém nos vê. De volta ao meu apartamento,

assim como ontem à noite tudo de novo, exceto que Kacey não

cheira a vômito e fumaça. O aroma de seu perfume, seu suor e

um tom de uísque impregna o ar enquanto eu a ajudo a sair da

caminhonete.

Desta vez, ela não está fria, mas está nadando em

embriaguez, às vezes profundamente e dificilmente capaz de

manter seus pés, às vezes chegando a caminhar comigo. Duas

vezes ela joga os braços em volta do meu pescoço e murmura em

meu ouvido como ela está grata por tê-la salvado. Minha pele

eclode em arrepios e minha virilha aperta quando a deito na

minha cama.

“Jonah”, ela suspira, ainda agarrada a mim, tentando me

puxar para baixo na cama com ela. “Você é tão bom para mim. O

último bom homem na terra.”

“Kacey, calma...”

Tento erguer suavemente os braços do meu pescoço, mas

ela é tenaz. Seus lábios roçam minha pele acima do meu

colarinho do uniforme. Beijos quente e molhados ela deposita sob

meu ouvido, trabalhando até os dentes roçar minha orelha, e

tenho que cerrar os dentes. Ela lambe e brinca, sua boca uma

força gravitacional e estou sendo sugado para dentro, pronto para

entrar em colapso sobre ela, dentro dela. Minhas mãos querem a

suavidade de sua pele e cabelo, a curva completa de seus seios

sob a palma da mão...

“Kacey”, eu digo. “Nós não podemos ...”

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“Nós podemos”, ela sussurra contra minha bochecha. Sua

boca se move ao longo da minha mandíbula, lábios abrindo

caminho através da pele que não tinha sentido o toque de uma

mulher em mais de um ano. Suas mãos emaranhadas no meu

cabelo, pequenos barulhos ofegantes saem de sua garganta. Sua

boca já está quase na minha, quando uma rajada forte de uísque

enche meu nariz, trazendo-me a lucidez como um tapa.

Que diabos está fazendo?

Eu me afasto antes que seus lábios encontrem os meus e

eu saio de seu abraço.

“Você não é divertido”, ela murmura, e depois estende os

braços sobre a cabeça, os dedos abertos na cabeceira de madeira.

Seus seios empurrando contra o frágil tecido reluzente de seu top

preto de frente única. “Não seja assim. Vamos para a cama,

baby.”

Realidade cai sobre mim como um balde de água gelada.

Eu poderia ser qualquer um no momento.

“Você precisa dormir”, digo. Abro o zíper da mochila que

Lola embalou para ela, e procuro lá dentro até que encontro uma

camiseta e um short leve. Eu os coloco na cama e vou para a

porta.

Assim que desligo a luz, em seguida, sua voz ressoa,

pequena e frágil no escuro.

“Espere. Jonah...? “

Paro, mas não me viro, meus ombros curvados. “Sim?”

“Fique. O teto... ele está girando...”

Não faça isso.

Eu faço. Que droga.

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E m m a S c o t t

Viro e me movo lentamente de volta para a cama. A única

luz vem da rua, uma luz branca lançando um brilho prateado

sobre a cama e através de seu cabelo que escapou do nó. Ela

estende sua mão. Pego, e me sento ao lado dela.

Kacey esgueira-se perto de mim, aperta sua bochecha

contra a minha coxa e coloca o braço em volta dos meus joelhos.

“Onde estou?” A voz dela está enrolada um pouco, fraca como o

sono. “Onde estou, Jonah?”

“Você está segura, Kacey”, murmuro. Seguro-a por um

tempo, então a ajudo a vestir suas roupas confortáveis com o

cuidado de manter meus olhos desviados, tanto quanto possível

de seu corpo, pálido e suave e estendido diante de mim.

Puxo as cobertas. E porque eu penso que ela não irá se

lembrar disso de manhã, eu acaricio seus cabelos até que ela

adormece. Então eu saio, fechando a porta suavemente atrás de

mim.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 9

kacey

Alguém está usando aquela maldita motosserra novamente.

Eu me levanto, acordada, piscando na luz do amanhecer

que surge a partir de uma pequena janela. Ele ilumina um

quarto: cama, armário, mesa de cabeceira, toda planície em uma

espécie de facho de luz. No chão ao lado da cama estão a minha

mochila e a pequena mochila de couro que serve como minha

bolsa. Fora da porta, o zumbido continua.

Jonah e seu liquidificador barulhento.

Levo um minuto para montar as peças do quebra-cabeça

da noite passada. Memórias vêm a mim como fotografias

espalhadas: o baterista da banda Until Tomorrow, o nosso show

de abertura, me acariciando antes que Jonah batesse em sua

bunda.

“Você quer sair daqui?”

E eu me senti tão segura...

Sento lentamente e empurro para trás as cobertas para

encontrar uma camisa e short. Uma vaga lembrança vem até

mim: Jonah me ajudando a tirar meu jeans de couro, ajudandome

a trocar de roupa...

Eu o beijei. Apenas seu pescoço e orelha... Mas ele cheirava

tão bem. Tentei puxá-lo para a cama e...

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E m m a S c o t t

“Oh meu Deus.” Vergonha corre escarlate sobre a minha

pele e eu seguro minha cabeça doendo em minhas mãos. “Não,

não, não... Não Jonah. Ele não.”

Não era o álcool. Não inteiramente. Foi a maldita insaciável

necessidade de conexão, tentando encontrar conforto em

qualquer lugar e de qualquer maneira que posso. Jonah tomou

conta de mim, me protegeu, e eu o reduzi ao mesmo nível que os

caras sem nome que jogo na minha cama.

Eu olho para a mesa de cabeceira. Um copo de água, duas

aspirinas.

As lágrimas saltam dos meus olhos.

O rádio relógio marca 07:04. Jonah irá partir para a Hot

shop a qualquer minuto. Levanto, abro a porta do quarto e

caminho para o corredor estreito. O liquidificador fica em silêncio

e ouço vozes masculinas conversando. Outra pessoa está aqui.

Eu me mexo na ponta dos meus pés, congelados. Parte de mim

pede para escorregar de volta para o quarto e me esconder, fingir

que nada disso aconteceu. A outra metade, doente de se esconder

atrás de vodca e uísque, empurra-me para a cozinha.

Jonah parece completamente bonito em jeans e uma

camisa azul claro. Ele toma uma pílula do compartimento de

domingo em um desses recipientes de medicação de dia-dasemana.

O resto dos compartimentos foram abastecidos, suas

tampas em cúpulas. Ele toma a pílula com o que parece ser um

copo de lama e terra. A careta que torce seus lábios me diz que a

bebida não tem um gosto melhor do que sua aparência.

Uma tosse rouca me sacode dos meus pensamentos. O cara

quente das fotos na parede da sala de estar se apoia no balcão,

vestido com uma camiseta preta e jeans. Seus braços

musculosos, coberto com tatuagens tribais, cruzados contra um

peito largo. Seu cabelo escuro está cortado curto e uma barba

fina cresce ao longo de sua mandíbula. Ele é uma versão mais

volumosa, mais robusta de Jonah. Tem que ser seu irmão. Mas

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E m m a S c o t t

onde o rosto de Jonah é bonito em seu aberto comportamento,

amigável, seu irmão é fechado, tenso e sombrio. Seu olhar

irritado dispara entre mim e os medicamentos de Jonah, como se

ele não pudesse acreditar que as duas coisas possam coexistir no

mesmo espaço.

O sentimento de ser uma intrusa novamente torce meu

estômago já instável, em seguida, Jonah vira-se para mim. O

sorriso que abre em seu rosto quando me vê me aquece como um

sol de verão.

“Hum, oi”, eu digo. “Bom Dia.”

“Ei.” Jonah avista a expressão espantada de seu irmão, e

muda sua própria expressão rapidamente de volta para a posição

neutra. “Kacey, este é meu irmão, Theo. Theo, esta é Kacey

Dawson. Ela vai ficar aqui por alguns dias.”

“Prazer em conhecê-lo, Theo.”

Apesar de seu olhar mortal do inferno, meu instinto é de

abraçar Theo; eu sou de fortes abraços. E porque ele é irmão de

Jonah eu imediatamente sinto uma sensação de afinidade por ele.

Mas seu olhar frio me prende no meu lugar.

Os olhos de Theo me analisam de cima a baixo, fixando-se

em meu cabelo bagunçado, minha camiseta longa que cobre meu

short e faz parecer que não estou usando nada por baixo. É

bastante óbvio que Theo assumiu que está acontecendo algo

entre seu irmão e eu, e ele não gostou.

“Quando isso aconteceu?” Ele exige de Jonah, nem sequer

se preocupar em esconder o tom de acusação em sua voz.

Isso? Eu sou um isso? Eu acho que não, amigo.

Antes que Jonah possa responder, eu digo, “Isso aconteceu

na noite passada. Nós nos casamos em uma dessas capelas vinte

e quatro horas, não foi... Johnny? Jordan?” Eu bato meus dedos,

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E m m a S c o t t

meu rosto franzido em confusão. “Espere, não me diga... é

definitivamente um nome com J.”

Jonah sufoca uma risada.

Theo olha com raiva, mas me ignora. “Ela vai ficar aqui?

Por quanto tempo? Quando você ia me contar?”

“Sim, até terça-feira, e eu ia agora mesmo, mas Kacey

chegou antes de mim”, Jonah diz. “E Jesus, você está sendo rude

pra caramba. Até mesmo para você.”

A mãe de todos os silêncios constrangedores desce sobre

mim, quando os irmãos se encaram e trocam uma conversa

privada; Eu praticamente posso ouvir os pensamentos passando

entre eles como palavras.

Finalmente, limpo minha garganta e aponto para um saco

de mantimento no balcão, cercado por cremes e açúcares. “O que

é tudo isso?”

Os olhos de Jonah lentamente deixam Theo. “Eu saí e

comprei algumas coisas.”

“É gentil de sua parte, assim tão cedo.” Eu cheiro o ar.

“Descafeinado não cheira tão bem...”

“Isso é porque é o normal.” Jonah puxa uma caneca UNLV

de um armário, enche e me entrega.

“Obrigada.” Eu ando cuidadosamente passando por Theo.

Sua antipatia por mim ainda emanando dele como o calor de uma

fornalha. Sento em um banco do outro lado do balcão, colocando

a minha camisa um pouco para cima para provar que estou

vestindo shorts.

Vejo o olhar de Theo pousando na caveira tatuada na

minha coxa esquerda. Por um breve momento, sua expressão se

solta, aguça a sua curiosidade. Tento iniciar uma conversa sobre

suas tatuagens, quando o seu olhar de morte volta, como uma

porta batendo na minha cara.

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E m m a S c o t t

Ele sai do seu assento do balcão. “Você está pronto,

mano?” Ele diz. “Vamos acertar isso.”

Jonah termina seu shake de proteína e joga o copo na pia.

“Eu estarei de volta em poucas horas”, ele diz para mim. “Então

você não ficará abandonada para o almoço.”

Os olhos de Theo se arregalam. “Você não está indo para o

trabalho durante o almoço?”

“Primeira vez para tudo”, Jonah responde.

“Não, eu não quero estragar sua agenda”, eu digo. “Você

tem um monte de trabalho a fazer. Eu vou ficar bem aqui,

realmente.” Eu olho para o Theo. “Sério.”

“Sério”, Theo diz, inexpressivo.

“Sério, estarei de volta para o almoço”, Jonah diz. “Se você

precisar de mais alguma coisa, há uma loja de conveniência aqui

na rua, a cerca de dez minutos a pé. Dê-me seu número de

celular, e vou ligar se acabar me atrasando.”

Theo observa atentamente como Jonah e eu trocamos

números de celulares. “Você ainda está vindo para jantar hoje à

noite, certo?” Ele diz. Ele olha para mim, com fogo em olhos

castanhos duro e difícil. “Fazemos isso todos os domingos.

Somente família.”

Jonah esfrega as mãos sobre o rosto. “Jesus Cristo, Theo.”

Por meio segundo, Theo parece arrependido, então se

transforma em pedra novamente. “Estarei esperando na

caminhonete.” Ele caminha até a saída do apartamento e fecha

com força a porta atrás dele.

“Prazer conhecê-lo”, digo para minha xícara de café.

“Eu sinto muito. Ele realmente se tornou uma dor na

bunda desde...” Jonah ri. “Desde o nascimento, na verdade.”

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E m m a S c o t t

“Ele trabalha com vidro também? É por isso que ele está

indo para a loja?”

“Não, ele é um artista de tatuagem.”

“Sério? Eu estava pensando em fazer outra tatuagem. Pena

que ele me odeia.”

“Ele não te odeia. Ele é apenas... protetor. Ele me ajuda na

loja às vezes. Eu tenho uma assistente também. Tânia. Mas ela

está de folga aos domingos.”

“Então, ele dirigiu aqui para buscá-lo?”

Jonah passa a mão pelo cabelo. “Sim, estamos... Somos

próximos. E ele gosta de passar tempo comigo.”

“Assim, apesar de latir e rosnar, ele é um molenga.”

Lá fora, um carro buzina, alto e em bom som.

Começo a rir.

Jonah ri também e depois um breve silêncio cai. Acho que é

agora ou nunca, se vou pedir desculpas pela noite passada.

“Isso foi bom, você me deixar dormir na sua cama na noite

passada. Eu estava... muito bêbada. Não queria despejá-lo. Ou...”

“Você não me despejou”, Jonah diz. “Eu não durmo na

cama. Eu não tenho dormido lá cerca de quatro meses.”

Pisco. “Hum, bem, eu vou perguntar. Onde você dorme?”

Ele acena com a cabeça em direção a sala de estar atrás de

mim. “Na cadeira. Meu médico quer que eu durma semiinclinado.

Para respirar melhor. Não é um grande negócio”,

acrescenta rapidamente.

Eu faço uma careta. Soa como um grande negócio. O que

aconteceria se ele dormisse deitado? Ele pararia de respirar? Eu

não posso perguntar, então ao invés disso eu digo “É...

confortável?”

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E m m a S c o t t

“É apenas mais um ajuste.”

“Por que você não compra uma dessas camas chiques,

reclináveis? Que você pode elevar a cabeça?”

“Não cabe no orçamento”, Jonah diz e um olhar azedo

contorce seu rosto. Ele se inclina para a frente, as mãos no

balcão, com a cabeça pendurada entre seus braços.

Meu coração pula uma batida. “Jonah?” Cada músculo do

meu corpo fica tenso. “Você está bem?”

“Tudo bem”, ele diz para o chão, inspirando grandes

lufadas de ar. “Só náuseas.”

“Você quer um pouco de água?” Eu já estou fora do banco e

vasculhando seu gabinete atrás de um copo. Encho até a metade

da torneira e pressiono em sua mão.

Ele aceita e bebe um pouco. “Obrigado”, ele diz. “Está

passando.”

Eu sinto o cheiro da sua loção pós-barba — limpo e

masculino. A memória de sua pele sob a minha boca faz meus

joelhos tremerem. Eu sento de volta no meu banco, com as

bochechas queimando.

Jonah dá um último suspiro, profundo e põe a água de

lado. “Obrigado novamente.”

“Isso acontece muito?” Pergunto. “Quando você toma essas

pílulas?”

Ele assente. “Elas são imunossupressoras. Elas evitam que

o meu organismo rejeite o coração, mas seus efeitos colaterais

não são divertidos.”

Tento pensar em algo melhor para dizer, algo reconfortante,

ou algo engraçado para fazê-lo rir, mas tudo que consigo pensar é

que sinto muito que ele tenha que sofrer tudo isso.

Do lado de fora, o carro buzina novamente.

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E m m a S c o t t

“Meu irmão, a epítome da paciência”, Jonah diz. “Vejo você

depois.”

Ele está na porta, girando a chave. Em poucos segundos,

irá embora e eu ainda tenho negócios inacabados. Reúno a minha

coragem. “Jonah?”

Ele para, se vira. “Sim?”

“... sinto muito sobre a noite passada.”

Ele endurece. “Está bem. Nada demais.”

Molho meus lábios que estão secos, e deslizo para fora do

banco, movendo-me para ficar atrás do sofá, uma barricada.

“Não, isso é um grande negócio. Para mim. Eu realmente

sinto muito que tentei... não é uma coisa sexual.” Eu arranco um

pedaço de tecido inexistente no estofamento. “Ok, é um pouco de

uma coisa sexual. Quem não gosta de sexo, certo?” Eu rio

fracamente, então tusso. “Mas, principalmente, é apenas pelo

conforto. O depois. Ser abraçada por um homem enquanto

durmo. Tenho certeza que soa patético, mas é o que eu gosto, e

sinto muito que tentei fazer isso com você. Você é mais do que

isso.”

Jonah balança a cabeça, com uma expressão de dor. “Eu

não posso ser mais do que isso, Kacey.”

“Não, eu quis dizer, você é um amigo. Ou talvez possamos

ser amigos. Se você quiser. E isso é tudo que eu quero.

Honestamente, não posso estar com alguém agora, mesmo se eu

quisesse. Caso você não tenha notado, eu sou uma bagunça.”

“Você é uma bagunça como qualquer outra pessoa”, ele diz

em voz baixa.

Meu peito se aperta, empurrando lágrimas aos meus olhos.

“Obrigada por dizer isso, embora não seja verdade.”

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E m m a S c o t t

Ele sorri, e mesmo que não seja o sorriso megawatt que

ilumina todo o seu rosto e me emociona, é amável e gentil. E

reconfortante.

“Eu realmente tenho que ir”, ele diz. “Estou atrasado.”

“Obrigada”, digo enquanto abro a porta da frente. “Pelo café

e por me deixar ficar aqui. Obrigada por tudo. De verdade.”

“Você é bem-vinda”, ele diz. “De verdade também.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 10

jonah

O carro Chevy Silverado preto de Theo já está ligado

encostado no meio-fio. “Mais do que na hora”, meu irmão diz,

carrancudo quando entro. “Essa garota já está te trazendo

problemas.”

“Não foi ela”, digo. “Foi a maldita Gengraf.”

“Náusea?” Theo diz, seu tom instantaneamente mudando

da raiva para a preocupação. “Você está bem?”

Eu lanço um olhar a ele. “Essa garota pegou um pouco de

água para mim e eu me senti melhor.”

Theo bufa. Seus olhos me inspecionam, uma vez mais, em

seguida, ele manobra a caminhonete através do semáforo na

manhã de domingo para o estúdio de vidro. Eu assisto o norte de

Las Vegas passando pela janela — centros comerciais e postos de

gasolina, conjuntos de apartamentos mais pequenos e mais

velhos do que o meu — mas meus pensamentos estão no pedido

de desculpas de Kacey.

Eu não posso estar com ninguém agora ...

Perfeito. Nem eu posso.

Então, por que meu peito dói como um velho hematoma?

“Você pensa sobre ela?” Theo diz.

“Kacey?”

“Não, Madre Teresa. Sim, Kacey. Quem diabos é ela?”

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E m m a S c o t t

“Por que está tão hostil? Ela é apenas uma menina que está

no meu sofá.”

Theo observa a estrada, os ombros sacudindo-se em um

encolher de ombros. “Eu não quero ver outra situação fodida

como você teve com Audrey.”

“Eu estava com Audrey por três anos. Conheço Kacey por

vinte e quatro horas. Você pode relaxar.”

“Quanto você contou a ela sobre a sua situação?”

Mais do que eu deveria. Eu me mexo no meu lugar. “Ela

sabe que eu passei pela operação.”

Theo se enfurece comigo tanto tempo que penso que ele irá

bater sua caminhonete. Ele volta os olhos para a estrada, sua

expressão sombria. “Ok, fala. Qual é o problema com ela?” Ele

diz. “Sério.”

Eu descanso meu cotovelo na porta, esfregando o queixo.

“A questão é que ela tem alguns dias de folga até sua banda sair

da cidade em turnê. Ela está dando um tempo. É isso aí. Sério.”

“Por que ela não fica apenas em um hotel? E desde quando

você conta a estranhos sobre a operação?”

“Ela não fica muito bem por conta própria.” Eu olho para

ele. “Não é grande coisa. Estou dando-lhe uma pausa e ela é boa

como companhia. Ela tem um bom senso de humor. Nós nos

damos bem.”

Nós apenas... nos conectamos.

“Você a conheceu ontem.” A voz de Theo é baixa, mas posso

ouvir o temperamento estrondoso dentro dele, como uma

tempestade distante. Ele mantém seu olhar firme na estrada.

“Você está transando com ela?”

“Jesus, Theo.” No entanto, a imagem de Kacey espalhada

nua na minha cama tenta me alcançar. Eu queria ficar com ela

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E m m a S c o t t

na noite passada, queria ter braços e pernas de uma mulher em

volta de mim mais uma vez. Eu queria sentir o corpo macio de

uma mulher sob o meu, estar no topo dela e dentro dela e...

“Cara. Você está transando com ela?”

Esqueci que Theo pode ler meu rosto como a primeira

página de um jornal. “Não”, digo. “Não que seja da sua conta. Ela

está deixando de trabalhar até terça-feira, em seguida, vai voltar

para a turnê com sua banda. Ela estará viajando por todo o país

por meses.”

“E você está bem com isso?”

“Claro que estou bem com isso. O que poderia acontecer

entre nós? Ou entre mim e qualquer uma, já que estamos nesse

assunto?”

A mandíbula de Theo se aperta. “Não comece com essa

merda do fim do mundo. Você não sabe ao certo se...” Ele balança

a cabeça, sem vontade de expressar a possibilidade. “Os remédios

podem estar fazendo efeito. Eles provavelmente estão

funcionando.”

“Então por que você estava sendo um idiota com Kacey?”

Ele sacode os ombros num encolher de ombros. “Eu não

dou a mínima. O médico disse que você tinha que ter cuidado.”

“Ele disse que eu não poderia me cansar. Ele não disse que

eu deveria virar um monge. E sinto falta de estar com uma

mulher. Ser íntimo.”

“Você é que não faz sexo de uma noite só...” Theo diz. “Algo

que eu nunca vou conseguir.” Ele passa a mão pelo cabelo. “Olha,

se você quiser transar, transe. Eu só não quero outra situação

Audrey. Eu não quero que uma garota te traia quando você

precisar dela por perto, merda.”

“Nem eu”, digo. “O que Audrey fez... doeu, mas eu não

estava apaixonado por ela.”

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E m m a S c o t t

Paramos no semáforo vermelho. Theo se vira em seu

assento. “O quê?”

“Eu amei Audrey, mas não estava apaixonado por ela.” Eu

escuto minhas próprias palavras, à espera de um pouco de dor.

Mas a única dor não é pelo o que tive com Audrey, mas por algo

que eu nunca tive. “Eu nunca me apaixonei.”

Os olhos de Theo se arregalam. “Você não estava

apaixonado por Audrey? Realmente? Porque com certeza você

passou uma porrada de tempo com ela.”

“Eu a amava, mas ela não... me consumia. Eu não perdia

meu raciocínio quando ela entrava em uma sala, ou sentia aquela

sensação que começa...” Eu balanço a cabeça, procurando as

palavras. “Formamos uma boa dupla.” Como um par de sapatos,

penso. “Mas não tenho esse sentimento.”

“Esse sentimento?” Theo pergunta em dúvida.

“Esse sentimento que deveria ter quando se está com a

mulher que você está apaixonado. Eu não posso descrever esse

sentimento, porque nunca senti. E você?”

Theo me dá um olhar. “Estou me guardando para o

casamento.”

Eu solto uma risada. “Eu acho que você entendeu tudo ao

contrário.”

Os olhos de Theo endurecem novamente. “Então você não

estava apaixonado por Audrey. E você está tendo esta revelação

agora? Devido a Kacey?”

Viro meus olhos para minha janela. “Acabei de conhecer

essa garota pelo amor de Deus. Não, eu só queria dizer... já que

estamos no assunto. É algo que eu perdi. Estar apaixonado.”

“Você não perdeu”, Theo diz. “Você pode não ter perdido

nada. Se você quiser voltar para Morrison e fazer outra biópsia...”

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E m m a S c o t t

Eu suspiro, exausto de ter essa mesma conversa pela

milionésima vez.

“O que aconteceria se eu fizesse? Eu acharia um milagre

esperando por mim? A aterosclerose não vai se inverter.”

“Não, mas poderia ter abrandado a porra, ou parado

completamente. Talvez tenha mais tempo do que você pensa.

Muito mais tempo. Se não fosse assim tão pessimista...”

Ele mantém a esperança de que não está lá, mas sei a

verdade. Eu sinto na medula dos meus ossos, em cada pulso

enfraquecido do meu coração, suas paredes e passagens se

endurecem lentamente como o vidro esfriando.

“Para fazer outra biópsia”, digo, “eu perderia pelo menos

um dia inteiro na loja.”

Theo não diz nada e raiva fervente inflama em mim.

“Eu vou voltar depois da exposição da galeria, ok? Droga,

Theo, só estou tentando falar sobre algo real para fazer uma coisa

diferente, maldição. Eu sinto falta de ter alguém na minha vida.

Eu não sou egoísta; sei que é tarde demais. Mas eu perdi e é um

saco, ok?”

“Sim, cara”, Theo diz, mudando para um tom mais calmo.

“Isso é legal. Nós nunca conversamos sobre isso antes. Sobre o

que você quer.”

“Você quer dizer o que eu quero antes de morrer? Você

pode dizer, Theo. Gostaria que você falasse.”

“Para quê?” Retruca. “Que bem que isso faz a alguém?”

“Eu. A mim faz bem. Então, não me sinto como...”

“O quê?”

Assim tão sozinho.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Nós paramos dentro do estacionamento da Hot Shop e Theo

desliga o motor. Ele senta em ereto, olhos para a frente enquanto

fala.

“Olha, se você quiser ou precisar de alguma coisa... digame,

está bem? Você está sempre falando sem lista de desejos.

Mas se há algo que você queira e que eu posso dar a você, digame,

está bem? Qualquer coisa mesmo.”

Morrer, aprendi que não é um esporte de equipe. É um

esforço solitário. Todo mundo que amo está de pé em terra firme,

enquanto eu estou sozinho em um barco, que lentamente se

afasta da costa, e não há nada que alguém possa fazer sobre isso,

somente observar acontecer.

Imediatamente me sinto péssimo por jogar a minha raiva

em Theo, ou dizer a ele o que perdi ou quero ou nunca poderia

ter. O que eles estão tendo, mas isso é somente apenas mais um

fardo para ele carregar? Só mais uma coisa que ele não pode

evitar. A dor que está em cada linha de seu rosto.

“Ok, obrigado, Theo. Fico grato por cuidar de mim.” Dou

um sorriso, e bato em seu ombro. “Vamos. Vamos ao trabalho.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 11

jonah

Theo poderia ser um artista de vidro se quisesse. Ele é

talentoso, e totalmente destemido. Ama o fogo, mas odeia a

fragilidade do vidro depois. Theo gosta de permanência. Ele

trabalha com tinta preta espessa que perfura sua pele, faz

sangrar, então permanece embutida para sempre. Nosso pai acha

que ele está perdendo sua incrível capacidade de desenhar e

esboçar trabalhando com tatuagens, mas é apenas o certo para o

meu irmão.

Nós trabalhamos em silêncio; mas mesmo com o rugidochiado

do forno, a Hot Shop é tranquila e os meus pensamentos

voltam à nossa conversa, para Theo, que tem estado comigo

através dessa doença, através da traição de Audrey. Ela não

terminou comigo, ela disse ao Theo, e em seguida saiu da cidade,

deixando a ele a incumbência de me dar a notícia.

Eu rolo o tubo na mão, observo enquanto as chamas o envolvem,

fazendo brilhar quente e branco...

Sentei em uma cadeira no escritório do Dr. Morrison. Não é a

sala branca de exame de onde ele normalmente me recebe, com

sua longa mesa, forrada de branco e a pequena bandeja de

instrumentos, luvas de látex, e seringas individualmente

embrulhadas. Aquele quarto é para os pacientes que estão

recebendo tratamento. Os pacientes que ainda estão na luta.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Hoje, eu estava no escritório do cirurgião Dr. Conrad

Morrison — cardiovascular e especialista em transplante cardíaco.

Em vez de um campo de batalha, foi onde o champanhe da vitória

estalou... ou onde as bandeiras brancas da rendição foram

jogadas.

Theo sentou ao meu lado, largado para baixo, roendo a unha

do polegar, sua perna sacudindo. Eu podia sentir a energia que

irradia do meu irmão mais novo. Ele pegou o brilho amarelo de seu

medo e queimou-o até que ficou vermelho quente e pronto para

entrar em combustão.

Eu esperava ser sacudido com medo. Não senti nada. Sem

medo. Nem mesmo o medo. Eu estava sob o medo. Entorpecido.

Esperamos por cinco minutos no consultório — vi o círculo do

relógio fazer cada volta. Cinco minutos que pareceram anos e

também nenhum segundo. A porta abriu e Dr. Morrison entrou,

uma pasta de arquivo debaixo do braço e um olhar sombrio no

rosto. Meu coração emprestado bateu contra minhas costelas,

quebrando a dormência. Imediatamente queria voltar. Sentir nada

era melhor do que este terror até os ossos.

Dr. Morrison tinha a aparência de um professor em seus

cinquenta anos, calvície, alto e um tanto desengonçado. Seus olhos

eram estreitos. Olhos de cirurgião, com uma vasta riqueza de

conhecimento e perícia médica por trás deles.

Ele me deu um sorriso fino e estendeu a mão trêmula.

“Jonah. Bom te ver. Desculpe tê-lo feito esperar.”

Eu meio que me levantei com as pernas instáveis e apertei

sua mão. “Sem problemas”, disse, olhando para a pasta de arquivo

debaixo do braço.

Esse arquivo que conta uma história absurda de um homem

— um jovem perfeitamente saudável, que nunca ficou doente em

sua vida, mas teve um ataque de amigdalite na quinta série —

atingido por um vírus que destruiu seu coração. Era grosso agora,

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

cheio de análises de tipos de tecido, diagnósticos, exames de

sangue, exames laboratoriais, uma cirurgia de urgência, uma lista

muito longa de medicamentos imunossupressores, e, finalmente, os

resultados da biópsia. Dezessete deles. A de número dezoito foi

feita no dia anterior. Seus resultados ficam no topo.

“Theo”, o Dr. Morrison disse com um aceno de cabeça. Ele

não ofereceu a mão e Theo não se levantou de seu assento, apenas

acenou com a cabeça em retorno. Sua perna balançou mais rápido.

Dr. Morrison se voltou para trás da grande mesa de mogno

para sentar-se na cadeira de couro. Ele colocou a pasta sobre a

mesa, mas não abriu. Cruzou os longos dedos. Aquelas mãos que

tinham removido o coração doente do meu corpo há quinze meses,

e depois colocado um novo. Ele gentilmente baixou o órgão para o

espaço vazio, recolocando tudo o que foi necessário recolocar,

colocando a minha caixa torácica de volta em seu lugar e me

costurou.

Em vez de receber com alegria o novo coração, e apesar dos

vários coquetéis de drogas imunossupressoras que eu estava

tomando religiosamente nos últimos treze meses, meu corpo

atacou. Um ataque lento, mas implacável, mexendo com aquele

pedaço de intrusão estrangeira, deixando para trás feridas que se

tornaram cicatrizes. Em última análise, eram as cicatrizes que

estavam matando o novo coração. E me matando.

Dr. Morrison inspira. “Os resultados da sua mais recente

biópsia não são o que estávamos esperando, é...”

Ele fala e ouço as palavras, uma série de jargões médicos

que já eram para mim infinitamente familiares ao longo do último

ano, de modo que não pedi a tradução para um leigo. Palavras

como aterosclerose, estenose, doença vascular e isquemia

miocárdica. Um grupo de palavras em latim e emendadas com o

Inglês, costuradas com a ciência e autoridade, e acabando com a

última tentativa e chegando ao fim da linha.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Sinto muito, Jonah”, Dr. Morrison diz, com sua voz pesada e

baixa. “Eu gostaria de ter notícias melhores.”

mãe.

Balanço a cabeça em silêncio. Eu vou ter que contar à minha

O pensamento se enterra profundamente em minhas

entranhas como um veneno fervendo, queimando a última

dormência. Eu quase vomitei no meu colo. De alguma forma, falei

em vez disso.

“Quanto tempo?”

Dr. Morrison juntou os dedos sobre a mesa. “Dada a rápida

progressão do CAV, seis meses seria uma estimativa generosa.”

Eu balancei a cabeça, mentalmente fazendo a matemática.

Seis meses.

Minha obra de arte estava prevista para estar concluída

para a galeria nas exposições em outubro, cinco meses a partir de

agora.

Isso é muito, muito perto...

Theo levantou da sua cadeira, trazendo-me de volta ao

presente. Ele andava atrás de mim como uma pantera, seus olhos

escuros fixos no Dr. Morrison. A angústia em sua voz me atingiu

com cada sílaba.

“Seis meses? O que acontece em seis meses? Nada. Foda-se

seus seis meses. Ele volta para a lista, certo? A lista de doadores?

Se este coração está falhando, então você dá outro a ele.”

Dr. Morrison franziu os lábios. “Há algumas implicações

éticas...”

“Foda-se as implicações”, Theo diz. “Se ele estiver na lista,

ele está na lista. Um coração novo surge, e ele recebe. Certo?” Ele

vira para mim com os olhos ardentes. “Certo?”

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E m m a S c o t t

Eu não poderia ficar com outro coração de outra pessoa na

lista que poderia viver uma vida longa e feliz com ele. Eu tinha um

tipo de tecido raro. O mais raro. Encontrar um doador com

compatibilidade era quase impossível. Treze meses, em uma

corrida para salvar a minha vida, que me deu o melhor coração que

podiam, a compatibilidade mais próxima, e meu sistema

imunológico estava destruindo o órgão. Ele só faria o mesmo com

outro.

Eu não era assassino de nenhuma espécie, e não tinha

necessidade de ser. Ética e procedimentos médicos levariam a

decisão para longe das minhas mãos. As próximas palavras de Dr.

Morrison confirmaram.

“Sim, Jonah está de volta à lista de doadores.” Ele se vira

para mim. “Mas o seu tipo de tecido raro voltará a ser um fator, e a

rejeição crônica manifestada aqui, bem como a forma como os seus

rins estão lidando com os medicamentos imunossupressores. Eu

não posso dizer que estou otimista de que o Conselho vá aprovar

um reimplante...”

Eu podia sentir a raiva de Theo como um vento quente em

minhas costas. “O que quer dizer que não vai aprová-lo? Eles...

eles vão apenas deixá-lo...”

Ele estava no limite, eu podia ouvir isso e não aguentava

mais. Eu tinha que proteger o meu irmão mais novo, assim como

sempre protegi. Mantê-lo seguro.

Levantei, com minhas pernas fortes agora. “Obrigado, Dr.

M.” Eu ofereci minha mão. “Manteremos o contato.”

Dr. Morrison levantou, mas não apertou a minha mão. Em

vez disso, bateu no meu rosto igual um avô. “Você estará em

minhas orações, Jonah. Hoje à noite e todas as outras.”

“Orações.” Theo cospe a palavra no estacionamento. “Que

porcaria as orações irão fazer? Ele é um cientista. Ele precisa

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E m m a S c o t t

colocar sua bunda no laboratório ou algo assim e descobrir como

parar essa maldita rejeição.”

Então percebi. Tudo isso. Como um raio atingindo o topo da

minha cabeça e rasgando para baixo, quase me rasgando em dois.

Segurei o braço de Theo e ele parou com um solavanco.

“O que é isso? Jonah? Fale comigo…”

Puxo Theo para perto, o sangue inundando meu cérebro e

minhas palavras saindo em baforadas de ar rasas. Minha cabeça

inchada. Eu podia sentir o tempo correndo por mim, segundo a

segundo, e não poderia morrer ainda. Eu ainda não tinha acabado.

“Ajude-me, Theo.”

“O quê?”

“Você tem que me ajudar.”

“Você... Você precisa de um médico...?” Sua cabeça virou

para as fileiras de carros estacionados, pronto para pedir ajuda.

“Não há médicos. Não mais. Theo, me escute. Preciso da sua

ajuda.”

“Diga”, ele disse. “O que você precisa? Qualquer coisa,

Jonah. Qualquer coisa.”

“Ajude-me a terminar”, eu disse, meus olhos perfurando os

seus. “Eu tenho que terminar, Theo. A exposição. Não importa o

que. Eu tenho que deixar algo para trás.”

“Não fale assim”, ele disse. “Você não vai a lugar nenhum...”

Eu tinha que fazê-lo enxergar. Abracei meu irmão, agarrei-o

com força. Ele era sólido e real, enquanto eu já estava me

dissipando no ar, partícula por partícula. “Não me deixe

desaparecer, Theo. Por favor. Ajude-me…”

Os olhos de Theo queimavam com as minhas palavras, e seu

aperto em meus braços se tornou doloroso. “Eu vou ajudá-lo” ele

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disse com os dentes cerrados. “Vou te ajudar. Qualquer coisa que

você quiser ou precisar... Eu estou aqui. E você também. Você não

vai desaparecer, Jonah. Maldição, você não vai.”

Balancei a cabeça e inspirei por várias correntes de ar.

“OK. Ok, obrigado. Sinto muito, entrei em pânico, mas estou

bem agora. Desculpa. Vamos. Podemos ir agora.”

Comecei a andar e Theo não teve escolha a não ser seguir.

Eu podia sentir que estava me observando como um falcão. A

solidez dele me acalmou mais. Não sua raiva, que era um escudo

entre ele e o mundo, mas o que estava por baixo. Sua devoção

aqueles que amava. Inabalável e indestrutível. Permanente.

O sangue drenado da minha cabeça e meu coração

emprestado se estabeleceu. Ainda assim, o tique-taque suga meu

tempo a cada batida. Eu tinha um número finito de pulsos que

poderiam ser contados e medidos.

Seis meses.

Eu posso fazer isso, pensei quando subimos na pick-up de

Theo. Se eu fizesse uma rotina e me mantivesse nela. Se eu

trabalhasse tanto quanto eu podia, sem escalas, tinha que fazer

isso. Eu deixaria algo para trás. Não iria desaparecer no ar. Eu

usaria meu ar para infundir e moldar o vidro fundido, colocar

minha respiração dentro dele, e quando endurecido, uma parte de

mim permaneceria presa lá dentro para sempre.

Para sempre, pensei, sentindo um peso forte, uma

diminuição da sombra escura me arrastando, mesmo na luz do sol

brilhante do deserto. Um pouco de esperança para me levar. Uma

proposta.

Era hora de começar a trabalhar.

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E m m a S c o t t

A coleta de vidro no meu cano escorre de volta para a

fornalha, me tirando dos pensamentos. Como o vidro, minha vida

tinha sido derretida, maleável e cheia de potencial. Agora que está

solidificada; é resistente e endurecido. Nada de remoldar. Sem

começar de novo com alguém novo, porque não haveria tempo

para alguém novo se tornar alguém significativo. Eu tenho a

minha obra. Algo que vai perdurar, que não irá murchar e

morrer. Algo que vai ficar para sempre. A memória tem mais de

um ano, mas nada havia mudado. Era hora de começar a

trabalhar.

“Vamos almoçar e continuar” Eu digo ao Theo.

Ele levanta as sobrancelhas. “Sim? Eu pensei que você

iria...”

“Eu vou mandar uma mensagem a Kacey dizendo que

tenho que trabalhar. Ela pode pedir uma pizza ou algo assim”, eu

digo, ignorando o sentimento feio no meu íntimo, a culpa que

paira pesadamente no meu coração com a imagem dela.

Theo esfrega o queixo, parecendo alguém que lutou para

obter sua razão e agora se sente mal. “Se você tem certeza...”

“Eu tenho certeza”, digo, pegando meu telefone. “Eu tenho

que manter a agenda.”

E essa é a verdade.

Fim da história.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 12

kacey

Tomo um banho para lavar a noite passada de mim. Tudo:

o show, a bebida, e como me joguei em cima de Jonah. Depois,

me enrolo em uma toalha, faço um turbante sobre o meu cabelo

com a outra e saio do vapor. Limpo o espelho do nevoeiro que

está sobre a pia para ver meu reflexo. Minha mão permanece no

vidro quente. Dentro estão os medicamentos de Jonah.

Ele confia em mim com eles, e isso me faz sentir bem

comigo mesma de uma maneira que não sentia há muito tempo.

Mas pensar sobre transplante de coração de Jonah faz a minha

coragem diminuir, como se eu tivesse engolido algo superforte

com o estômago vazio. Catástrofes médicas terríveis atingem

jovens inocentes todos os dias, mas isso parece como uma

bagunça cósmica. Um erro terrível. Eu não podia nem entender

porque a situação parecia tão errada.

Trago minha mão para a pele nua em acima da minha

toalha. Tento imaginar como seria ter um coração de alguém

batendo no meu peito. Ele sente como se fosse seu próprio? Ele

pode sentir que não é? Uma vez, quando era criança, eu

acidentalmente engoli um cubo de gelo. Senti a pedra dura e fria

no meu peito enquanto descia. Gostaria de saber se Jonah se

sente assim — não o frio, mas a presença de algo duro, pesado e

estranho em seu peito.

Você está sendo estúpida, digo a mim mesma. Tenho certeza

de que ele não sente nada diferente. Ou que se sente melhor. Seu

velho coração estava doente. O novo lhe deu vida.

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E m m a S c o t t

O pensamento me acalma um pouco, embora a suspeita de

que algo não está muito bem não me deixa.

Coloco um short e um top, e saio do banheiro. Mas o ar

condicionado se agita na janela e o apartamento fica em silêncio.

Pacífico. Sento no sofá para admirar o vidro bonito de Jonah na

mesa de centro. Pego o peso de papel com motivos marinhos, a

vida no mar sempre suspensa em um oceano calmo.

Mundos distantes.

Vinte e quatro horas atrás, minha residência era um dos

cinco quartos na mansão em Summerlin, os salões ecoando com

dezenas de vozes, música alta e risadas de bêbados em todas as

horas. Eu não sou a única festeira no nosso grupo — apenas a

mais dedicada. Meu quarto naquela casa está destruído: roupas

espalhadas por toda parte, maquiagem remexida no banheiro. O

único vidro ao redor não é uma arte delicada, mas cinzeiros sujos

ou garrafas vazias espalhadas pelo chão.

A paz do apartamento de Jonah se infiltra em mim. Eu

absorvo tudo isso, tento guardar em mim, para mais tarde,

quando tiver que pegar a estrada novamente.

Meu peito fica apertado com o pensamento de dizer adeus a

Jonah. Eu só o conheço há um punhado de horas, mas parece

ser mais tempo. Em torno dele, sou diferente do que sou com

outros homens. Em vez de me envolver em um desastre,

agarrando um corpo nu em uma névoa bêbada, nós conversamos.

Parece que estabelecemos uma base para algo mais duradouro.

Jonah tem alguma mágica em si, que me faz sentir como eu

mesma. Gosto de ficar perto dele e acho que ele gosta de passar

tempo comigo. Dado o tempo, quem sabe o que poderia

acontecer?

Só que não tem tempo. Qualquer coisa que começar apenas

vai acabar quando eu partir na terça-feira.

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E m m a S c o t t

“Nós podemos ficar em contato”, murmuro para mim

mesma. A louca, incansável agenda de turnê aparece na minha

frente como uma estrada sem fim, mas uma mensagem de texto

ou telefonema de Jonah poderia torná-la mais suportável. Só de

pensar nisso faz com que sair pareça um pouco menos

assustadora.

O toque do meu celular quebra o silêncio. Corro para o

quarto e tiro o telefone da minha bolsa para ver o número de

Lola.

“Oi.”

“Ei, garota”, ela diz, parecendo cansada na outra

extremidade. “Você ainda está viva?”

“Sim, mas você parece mal”, digo. “Como foi a festa?”

“Oh Deus, não consigo nem...”

Ouço o clique de um isqueiro, e me ocorre que eu não

fumei desde o show da noite passada. E nem senti vontade.

“Foi épico”, ela diz, exalando. “Bebida foi consumida. A

polícia foi chamada. Sexo foi praticado por muitos, incluindo esta

que vos fala.”

“Ah, é?” Estou sentada na beira da cama de Jonah.

“Quem?”

“Jason Hughes. O baixista da nossa breve-ex-banda de

abertura. É muito ruim, realmente. Ele é gostoso. Você deve

apreciar os sacrifícios que fazemos por você.”

“Por mim?” Então me lembro de Ryan Perry, o baterista,

ficando cheio de mãos comigo ontem à noite. Jonah entrou em

cena e Lola exigiu que Jimmy os mandasse embora até amanhã.

“Sim, por você”, Lola diz.

“Talvez nós possamos...”

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“Nós temos vinte e cinco cidades mais e cerca de seis meses

de turnê com esses caras. Você quer arriscar a sua sorte?”

Olho para as mãos no meu colo. “Tenho certeza de que

Ryan estava bêbado e sendo estúpido.”

“Sim, para ambos. Isso não é desculpa.” Lola exala, sua voz

acelera no modo sermão. “Você fica bêbada e estúpida também,

Kace, e seria apenas uma questão de tempo antes que ele se

aproveitasse da situação. Inferno, estou surpresa que ainda não

tenha acontecido.”

“Puxa, obrigada”, digo, minhas bochechas queimando. Eu

quase digo a ela que eu sei cuidar de mim, mas tenho zero

evidência para apoiar isso. Lola presta atenção em mim desde que

eu tinha dezessete anos de idade, quando o sucesso da banda se

transformou em um turbilhão de gravações e sem parar a turnê.

Eu nunca estive em meus próprios pés e nunca fiquei sóbria o

suficiente para tentar.

Mas eu poderia tentar. Se tivesse coragem...

“Desculpe eu estou aborrecida, querida”, Lola diz. “Eu não

quero que nada aconteça com você. Não quero que nada destrua

isso, Kace.”

“Eu sei”, digo. “Mas começar um novo ato de abertura é um

aborrecimento.”

Poderia ser mais fácil para a Rapid Confession arranjar uma

nova guitarrista.

As palavras se formam de repente na minha língua, me

chocando. Mas não posso fala-las.

“Eu não vejo uma alternativa”, Lola brinca, “a menos que

nós tenhamos Hugo com você o tempo todo.”

Para ser minha babá.

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E m m a S c o t t

De repente eu não quero mais falar com Lola. Eu tenho

esta noite e amanhã inteira antes de ter voltar e não quero perder

um segundo.

“Eu tenho que correr”, digo para minha melhor amiga.

“Falamos mais tarde?”

“Claro, eu vou te mandar uma mensagem de texto. Oh ei,

como está indo com o motorista? Ele é adorável. E gostoso. Não

são muitos caras que têm essa combinação. Vocês dois estão se

dando bem?”

Eu praticamente posso vê-la sorrindo e minha irritação

queima. Ela não entenderia se dissesse a ela que estamos

construindo uma potencial amizade e ela definitivamente não

acreditaria que não dormi com ele. Inferno, se Jonah não fosse o

cavalheiro que foi na noite passada, eu teria dormido com ele.

Um súbito arrepio agradável corre pela minha espinha ao

pensar nisso e cruzo as pernas.

Não. Isso é diferente. Jonah é diferente. Ele não é um cara

que eu com quem eu transaria aleatoriamente. Ele é...

“Ele é maravilhoso”, digo. “Adeus, Lola.”

Eu desligo e enfio o telefone na minha bolsa, até o fundo.

Nem mesmo um instante depois, ouço uma mensagem de

texto entrando. Reviro no fundo e meu coração dá um pulo

quando vejo o número de Jonah. E mais um salto quando leio as

palavras:

Vou ter que deixar você hoje. Muito trabalho, em

seguida, jantar em família. Talvez você possa pedir pizza?

Desculpa.

“Merda”, digo. Minha mão deixa o telefone cair de volta na

bolsa. A decepção aprofunda, não apenas por ele estar

cancelando, mas o próprio texto.

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E m m a S c o t t

Eu digito Sem problemas. Vejo você mais tarde e

examino a mensagem satisfeita por soar negligente e casual.

Como deve ser, eu me lembro. Ele tem um cronograma a cumprir

e ele está se mantendo a sua agenda.

Clico em enviar.

As horas passam lentamente. Eu não sei como posso sentir

saudades de alguém que só conheci há um dia e meio.

Ao meio-dia, faço o que Jonah sugeriu e peço uma pizza

vegetariana, no caso dele querer um pouco mais tarde e um

pacote com seis cocas diet de um local que faz entregas. Passo

pelos canais enquanto fico enrolada no sofá de Jonah. Quando

fico com frio, saio à procura do cobertor verde e laranja,

finalmente encontrando-o dentro do armário do corredor.

Tenho uma segunda rodada de pizza para o jantar, e

encontro Harry e Sally, Feitos Um para o Outro em um canal a

cabo. Um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, mas fico

à deriva, meio adormecida por volta das nove horas. Meus

próprios padrões de sono são um mistério, já que, normalmente,

fico até qualquer festa acabar, e depois vou embora. Mas nove

parece cedo como o inferno. Imagino que eu tenha um monte de

sono para recuperar.

Balanço a cabeça despertando do cochilo e acordo no final

do filme, quando Sally e Harry estão na festa da véspera de Ano

Novo. Sally está a ponto de declarar como odeia Harry, com o eco

da palavra ‘amor’ retumbando por trás de cada ‘ódio’. Começo a

chorar, como sempre faço. Demorou muito tempo para aqueles

dois encontrarem o caminho para o outro, mesmo estando ali o

tempo todo.

Minha fantasia é o oposto. Eu sempre sonhei que meu

amor verdadeiro entraria de repente em minha vida, varrendo-me

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fora de meus pés em um gesto heroico. Eu o reconheceria de uma

vez só — a chama queimaria entre nós imediatamente. Não

haveria dúvidas ou jogos. Amor — e luxúria — à primeira vista.

Ele me livraria de toda a dor e solidão e eu nunca duvidaria que

era amada.

Pensei que Chett fosse esse cara. Eu fui a borboleta de sua

chama, atraída pela sua luz, apenas para ser queimada quando

se provou que tudo era a porra de uma mentira. E então eu não

tinha nada. Nenhum trabalho. Sem dinheiro. Nem mesmo um

diploma do ensino médio. Deus sabe o que teria acontecido

comigo se não tivesse conhecido Lola.

Eu deixei de me pendurar na aba de Chett e me pendurei

na dela, e agora estou abrigada sob o teto de Jonah. Isso nunca

tinha me incomodado antes, mas incomoda agora.

Isso me incomoda muito.

Desligo a TV. Agora, a única luz vem de uma pequena

lâmpada. Penso em ir para a cama, mas meus olhos ficam

pesados e estou muito cansada para...

“Kacey?”

Uma mão suave no meu ombro.

“Hmm?” Eu pisco e acordo. Jonah está sobre mim e então

se agacha ao lado do sofá. “Você está de volta”, digo.

“Estou de volta.” Sua expressão é de dor, seus olhos

castanhos ricos escuros. “Me desculpe, eu te deixei sozinha o dia

todo. Tinha uma coisa de merda para fazer.”

“Não...” Sento, mais acordada agora. “Você tem seu

trabalho e sua família.”

“Foi uma merda. Você só está aqui por pouco termo e eu

deveria ter voltado para o almoço.”

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Um calor se espalha no meu peito e fico tão ciente de que

apenas cerca de trinta centímetros nos separam. “Eu sobrevivi.

Eu comi pizza. Um monte de pizza.”

Ele sorri um pouco. “Estava pensando que talvez você

gostasse de ir buscar a sobremesa. Sorvete ou algo assim. Eu sei

que é tarde...”

“Eu adoraria”, digo e esse calor se aprofunda a um rubor

que colore minhas bochechas. “Você pode comer sobremesa?”

O sorriso brilhante de Jonah volta, uma inclinação lenta de

seus lábios para um sorriso satisfeito que faz seus olhos se

iluminarem. “Eu vou pensar em alguma coisa.”

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CAPÍTULO 13

jonah

Dirijo para Springles Cupcakes e estaciono na rua de trás.

Harrah’s Cassino está à nossa direita e a Strip está há uma

caminhada em linha reta a oeste da pequena loja de cupcake.

Está fechado há esta hora, e o rosto de Kacey fica triste até que

eu lhe mostro o drive thru de cupcakes

“Tem um drive thru de cupcakes?” Ela diz, olhando para a

imagem rosa brilhante embutida na parede da loja fechada. “Oh

meu Deus, é a melhor coisa do mundo.”

“Achei que você ia gostar.” Enfio meu cartão do banco na

máquina de pagamento e a tela de menu se ilumina. “Continue.”

Ela digita seu pedido na tela. Uma máquina no interior da

loja cantarola e uma pequena porta desliza para cima para

revelar seu cupcake: red velvet, bem vermelho, com cream cheese

de cobertura.

“Isso é tão legal.”

Eu peço um Cupcake simples de baunilha. Eu me viro da

máquina, fazendo malabarismos com minha carteira e

sobremesa, então Kacey parte um pedaço do seu cupcake e

oferece para mim.

“Quer experimentar?”

“Espere...” Tento enfiar minha carteira no bolso de trás da

calça jeans, mas a maldita coisa não vai. Kacey fica na ponta dos

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pés e segura o pequeno pedaço de bolo perto da minha boca. Eu

não tenho escolha, além de comê-lo de seus dedos.

A cabeça inclina, os olhos brilhantes e elétricos sob os

postes de luz âmbar. “Boa escolha?”

Eu concordo, embora não tenha provado nenhum bolo há

muito tempo.

“Você tem um pouco de cobertura...” Ela chega perto de

novo, e as pontas dos dedos roçam o canto da minha boca. Um

toque singelo que estala como uma pequena corrente elétrica, em

linha reta até a minha virilha, onde está tudo duro e quente.

Ofereço o meu. “Quer?”

Isso é tudo o que consigo. Quer. Eu zombo internamente.

Eu Tarzan, você Jane.

Kacey dá uma pequena mordida no meu cupcake, e vejo

como ela lambe os lábios, olhando para sua boca.

“Como está?” Eu digo, e paro de olhar uma fração de

segundo antes de meu olhar fosse necessária uma explicação.

“Muito bom.” Kacey recua e me dá um sorriso. “Você tem

bom gosto, Fletcher.”

Nós vamos para o oeste, na direção da Strip, passando ao

longo de uma passagem entre lojas e restaurantes, alinhada com

vasos de plantas e árvores. São mais de vinte e três horas em um

domingo, mas Vegas está bem acordada. Casais, grupos de

amigos rindo e turistas que falam outras línguas passa por nós

ou andam em torno de nós. Nós passeamos e comemos as nossas

sobremesas, atravessando a avenida em direção ao Caesar’s

Palace. Então andamos para o sul.

Quero mostrar a ela o Bellagio Hotel.

“Vamos parar por aqui”, sugiro. Nós inclinamos nossos

braços no muro de cimento branco que cerca a lagoa em frente ao

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Bellagio. Além da água, o hotel é iluminado em ouro e rosa,

curvando-se em direção às estruturas menores do cassino abaixo

dele como um livro aberto.

“É lindo”, Kacey diz. Ela se vira para olhar a Strip. A

pequena vista da Torre Eiffel brilha na frente do Paris Hotel e

Cassino do outro lado da rua. “A Itália, de um lado, a França, do

outro”, ela diz.

“Você realmente nunca entrou em um cassino?”

Ela balança a cabeça. “Nossa programação da banda é tão

louca, não tivemos qualquer tempo livre até o fim do show na

noite passada. É por isso que vamos ficar aqui até terça-feira,

assim Jimmy pode ir aos clubes de strip e fazer algumas apostas.

A última vez que estive aqui, era muito jovem para poder entrar

em qualquer lugar divertido.”

“Você veio aqui com seus pais?”

“Não”, Kacey diz, seu olhar ficando imóvel na água escura

na frente de nós. “Eu não os vejo muito agora.”

“Muito ocupada com a banda? Será que a sua turnê vai

passar por San Diego?”

Eu dou uma mordida do bolo, e quando olho para cima,

todo comportamento de Kacey mudou. Ela se abraça mesmo com

a noite quente, com uma brisa suave, e a luz em seus olhos tinha

diminuído quando ela lança seu olhar sobre a água escura.

“Não, isso não está na minha agenda”, ela diz. “Eu não vejo

os meus pais há quatro anos. Meu pai me expulsou de casa

quando eu tinha dezessete anos.”

Quase deixo cair a minha sobremesa e a mordida na minha

boca parece uma pedra irregular. Eu engulo com dificuldade. “Ele

a expulsou de casa? Aos dezessete anos?”

Meu tom é demasiado alto e duro. Estou exigindo uma

resposta de seu bastardo pai, não dela. Mas Kacey não vacila ou

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recua. Eu acho que ela entende a minha indignação, talvez até se

sinta um pouco impulsionada por ele.

“Eu coloquei meu namorado de vinte e dois anos de idade

para dentro de casa através da janela do meu quarto uma noite.

Meus pais nos pegaram... em uma posição comprometedora, e foi

isso. Meu pai nunca aprovou qualquer coisa que eu fazia; ele

odiava a minha guitarra, mas isso foi a última gota. Ele me

deixou fazer a mala e fechou a porta atrás de mim. Eu ainda não

tinha concluído o ensino médio.”

Lanço o que resta do meu cupcake em uma lata de lixo nas

proximidades, perdendo o apetite. “Que tipo de idiota joga sua

filha na rua? E a sua mãe? Ela não ajudou?”

Os ombros de Kacey erguem em um encolher de ombros

enquanto pega em seu bolo. “Ela não disse uma palavra. Ela

nunca fez nada. Ela é tranquila e mansa. Meu pai não é abusivo

com ela, não fisicamente. Mas ele pode se desligar completamente

de alguém, permanece em um silêncio profundo e frio por vários

dias se está realmente chateado e minha mãe não sabe lidar com

isso.”

“Então, ela deixou você ir?”

Talvez eu não devesse ter perguntado, mas não consegui

evitar. Eu não entendo como as pessoas podem abandonar os

seus próprios filhos. Esse tipo de falha dos pais — não, violação

— é completamente estranho para mim. Minha infância foi

ridiculamente livre de problemas. Claro, papai era duro com Theo

e minha mãe era uma pessoa compulsivamente preocupada, mas

essa é a extensão das minhas queixas. Meus pais eram pessoas

boas.

Eles deveriam ter sido a sua família, penso, olhando para

Kacey. Em uma torção estranha do destino, cada um de nós

acabou com pais errados. Os meus teriam amado e adorado ela.

Eles teriam nutrido sua música e ficado orgulhoso de suas

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realizações. Eles lhe dariam uma apropriada e firme reprimenda,

em vez de jogá-la para fora da casa.

Uma criança doente terminal é algo que os pais dela

mereciam. Minha situação, dado que o pai é cruel e a mãe é

covarde, faria mais sentido. Se Kacey e eu trocássemos de

famílias, eu não teria medo da carga emocional que estou

deixando para trás e ela seria sempre valorizada.

“Minha mãe não lutou por mim”, Kacey diz. Ela joga seu

cupcake longe também. “Ela perdeu a voz quando se casou com o

meu pai. Eu não sei se já posso perdoá-la por isso. Mas, mesmo

assim, ainda ligo para ela algumas vezes. Ela não diz muito, mas

acho que gosta quando ligo. De saber que eu ainda estou viva,

pelo menos.”

“Como você sobreviveu nas ruas?”

“Eu não fiquei nas ruas. Segui Chett, o namorado com

quem meus pais me pegaram. Ele disse que queria casar comigo,

então eu fiquei com ele enquanto ele tentava um esquema de ficar

rico rapidamente após o outro. Segui-o aqui. Ele estava ficando

sem dinheiro, então teve a grande ideia que eu poderia ser uma

modelo.” Ela fez aspas no ar em torno da palavra. “Mas cortei

essa merda imediatamente.”

“Bom.” Minhas mãos se fecham em punhos e eu as coloco

em meus bolsos.

“Mas, uma vez que eu disse a Chett que eu não iria

cooperar, foi tudo ladeira abaixo. Eu era menor de idade. Não

podia beber, jogar, ou mesmo entrar em um clube. Ele se cansou

de mim bem rápido. Dei por mim quando ele conheceu outra

pessoa. Alguma showgirl.”

“O que você fez?”

“Eu voltei para a Califórnia, pensando que teria outra

chance com meus pais. Voltaria para a escola. Eu sempre fui boa

na escola, na verdade.”

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“Eu acredito nisso”, digo.

Kacey sorri agradecida. “Eu fui até Los Angeles. Fiquei

hospedada na YMCA — associação cristã — e conheci Lola. Ela

tinha dezenove anos, e estava no mesmo barco afundando como

eu. Tinha acabado de juntar um dinheiro servindo mesas,

esperando conseguir um apartamento barato e me deixou ficar

com ela. Quando fiz dezoito anos, consegui um emprego no

mesmo restaurante, e passamos os dias de folga tocando em

parques. Eu cantava e tocava meu violão enquanto Lola tocava

bateria. Alguns meses mais tarde, encontramos um anúncio à

procura de uma garota que quisesse formar uma banda, e o resto

é história.” Ela levanta as mãos. “E é por isso que, até hoje, que

nunca pisei em um cassino.”

Eu balanço a cabeça, distraído, minhas emoções se agitam

em uma raiva espumosa para os homens na vida de Kacey que

tinham falhado com ela pra caralho. “O que aconteceu com

Chett?”

“Não sei. Não me importo.” Ela diz isso com calma o

suficiente, mas já aprendi que tudo que Kacey sente é revelados

em seus grandes olhos luminosos. Ela se preocupa com tudo,

apaixonadamente.

Ela sempre vai até o fundo.

Esse pensamento ajuda a conter a raiva que está pairando

em meu íntimo.

“Sente isso?” Kacey pergunta. “Essa é a noite morrendo

uma morte lenta e dolorosa graças à minha história triste.”

“Me desculpe por me intrometer.”

Ela acena com meu pedido de desculpas. “Eu não me

importo. Gosto de conversar com você. Eu normalmente não falo

sobre a minha vida. Nunca. Depois, isso fica reprimido e eu faço

algo estúpido como ligar para os meus pais. E me sinto rejeitada,

rejeição me faz beber até chegar em um estado de estupor, eu

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começo um motim em um salão verde e a próxima coisa que sei, é

que estou acordando no sofá do meu motorista de limusine.”

“Um ciclo vicioso.”

“Oh, não sei”, Kacey diz. “A parte do sofá não foi tão ruim.”

Um breve silêncio paira. Apesar de todos os argumentos

para manter a minha rotina e não chegar perto de uma garota

que está partindo em dois dias, sinto-me ceder, querendo segurar

a dor que ela me confiou. Querendo dar-lhe algo em troca.

“Você quer vir para o estúdio de vidro amanhã?” Pergunto.

“Você pode ver como tudo funciona, ou talvez me ver fazer alguma

coisa...”

Sinto a minha nuca avermelhar. Eu pareço completamente

arrogante e totalmente chato, ao mesmo tempo. Como se tivesse

pedido a ela para me assistir polir a minha coleção de moedas.

Mas, em seguida, Kacey bate palmas. “Você está de

brincadeira? Eu adoraria.”

“Sério?”

Ela usa seu dedo indicador para levantar uma de suas

sobrancelhas escuras em um arco. “Sério.”

Eu me inclino para trás, rindo muito mais do que ri em

meses. As engrenagens oxidadas dentro de mim rangem por falta

de uso, e meu constrangimento desaparece.

“Eu estava morrendo de curiosidade para ver como você faz

aqueles belos vidros”, Kacey diz. “Eu estava começando a pensar

que era apenas uma exibição, Fletcher. Que você encomenda as

peças e passa como sendo suas, apenas para impressionar as

garotas.”

“Eu sou legitimo, eu juro.”

Sua risada ecoa em todo o oceano e dentro dela, ouço

traços de uma bela voz para cantar. Ela começa a dizer outra

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coisa quando a música enche a praça em frente ao Bellagio: a

introdução em flauta da música ‘My Heart Will Go On’.

Kacey agarra meu braço. “É a música do Titanic? Oh meu

Deus, é. Por que eles estão...?” As palavras dela somem enquanto

a voz de Celine Dion se levanta e as fontes do Bellagio começam,

dando seu show.

Jatos de água formam um arco acima da lagoa, balançando

no tempo. Eles se movem delicadamente no início, quase

timidamente, como casais em um primeiro momento, tocam e

depois desmoronam sobre a extensão de água. Luz azul os

iluminando de baixo. Como a canção ganha força, mais jatos

sobem mais alto e caem rapidamente, criando nuvens de névoa.

As cores mudam para vermelho, roxo claro, e branco, em seguida,

prateado. A canção atinge o seu auge e o aperto de Kacey no meu

braço fica mais firme. Seus olhos se suavizam e ela assiste a

dança da água, mas não posso olhar nada, só para ela. O show

está ocorrendo na minha zona periférica, mas é só um pano de

fundo para ela.

A canção percorre suas notas finais, e os jatos de grande

altura de água formam arcos graciosos novamente, cruzando-se

em pares, como dançarinos ou amantes, em seguida, deslizando

sob a superfície quando a música termina.

Kacey funga e enxuga os olhos. “Eu não estava esperando

por isso.” Ela olha para mim. “Foi lindo.”

“Sim” digo suavemente. “Linda.”

No meu apartamento, abro a porta e a seguro aberta para

Kacey. Ela sorri quase timidamente para mim quando entra.

Puta merda, isso é um encontro, eu pensei, travando. Eu

levei Kacey em um encontro e agora... é o fim do encontro.

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“Obrigado pelo cupcake”, ela diz da sala de estar. “E o show

de água. Você planejou isso?”

“Eu conheço esta cidade. Além do meu tempo na escola, eu

vivi aqui toda a minha vida. E é parte do meu trabalho saber

onde estão os melhores shows.”

“Você é bom em seu trabalho”, Kacey diz. “Você está acima

e além, na verdade.” Ela se aproxima de mim, apoia as mãos em

meus braços e se estica para beijar minha bochecha. “Boa noite.”

Eu espero até que ela ande de volta para falar, não

confiando em mim para abrir a boca, enquanto a dela está tão

perto da minha.

“Boa noite”, respondo. Fico olhando enquanto ela vai para o

meu quarto. Em poucos minutos, ela estará na minha cama, os

cabelos espalhados em meu travesseiro...

Isto é ruim. Muito, muito ruim.

Troco para as calças de pijama e camiseta que guardei no

armário do corredor, e me recosto na cadeira. Coloco a mão sobre

o meu coração doente que sofre por razões que nada têm a ver

com a minha condição médica ou diagnóstico, ou qualquer

biópsia terrível. Dói porque eu ainda posso sentir os lábios

macios de Kacey na minha bochecha, e sinto falta dela.

Ela está a quatro metros de distância, e ainda não deixou

Vegas com sua banda, mas já sinto falta dela mesmo assim.

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CAPÍTULO 14

kacey

Jonah trabalhou toda a manhã seguinte, na Hot shop. Ele

voltou ao meio-dia e nós almoçamos em um lugar chinês,

conversando e rindo sobre tudo e nada. Depois de dois almoços e

um Cupcake, eu me sinto um pouco como se fizesse parte da

rotina de Jonah. Não é verdade, mas fico feliz em pensar assim.

Ele nos leva para uma parte industrial da cidade, nos

arredores de Las Vegas. O cenário da minha janela é preenchido

com mais deserto do que civilização. Vários armazéns e edifícios

em ruínas, com revestimento de alumínio. Ele estaciona a

caminhonete na frente do que parece ser um pequeno hangar de

companhia aérea com três chaminés. A pesada porta de metal

range quando a desliza para abrir para o lado, e ele me conduz

para dentro do espaço.

Jonah ri ao ver a minha expressão. “Eu sei que não tem

muito para se ver.”

Eu não posso discutir com ele. O Hot shop é cerca de

trezentos metros quadrados de cimento e aço, mais quente que o

calor de Nevada e com cheiro de madeira queimada. Um aparelho

de ar condicionado está travando uma batalha perdida contra

dois fornos — um grande e um pequeno — alinhados em uma

única parede. Na frente de um forno furioso fica um banco que

tem trilhos em ambos os lados, como altos braços feitos de aço

inoxidável. Ao lado do banco está uma mesa sobre a qual há um

espesso dicionário carbonizado, e ferramentas de imersão em um

balde de água: pinças, copos e panelas de aparência estranha.

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“Você deixa o forno aceso?” Pergunto, abanando-me

quando o calor em volta de mim aumenta.

“Eu diminuo a noite”, Jonah diz, e aumento de volta

durante o dia. Leva muito tempo para que fiquem suficientemente

quente. “O sistema de alarme fica lá...”, ele acena com a cabeça

para uma unidade na parede com luzes piscando, “...alerta o meu

telefone, se houver algum problema.”

Vagueio passando por uma prateleira de tubos de aço

inoxidável na parede, cerca de noventa centímetros de

comprimento. Além de que é uma mesa de metal pequena com

nada sobre ela.

“Portanto, aqui é onde a mágica acontece”, digo.

“Em um bom dia.”

“O que faz em um dia ruim? Você quebra alguma coisa?”

Meus pés rangem sobre cacos de vidro no chão de cimento

enquanto ando entre os fornos e a mesa de metal.

“Quebrar uma peça acabada com certeza poderia ser

caracterizado dessa forma.” Jonah bate os dedos sobre a mesa de

madeira com as ferramentas de aparência estranha.

“Principalmente um dia ruim é aquele em que eu não consigo

fazer o suficiente.”

“A galeria deu a você um prazo muito apertado?”

Jonah tem uma expressão estranha em seu rosto, um

sorriso suave, que não chega aos seus olhos castanhos quentes.

“Você poderia dizer isso.” Ele olha para o relógio. “Tania está em

sua pausa para o almoço. Ela vai estar de volta em breve e você

pode conhecê-la.”

“Sempre precisa de duas pessoas para fazer uma peça?”

“Nem sempre”, Jonah diz. “Eu faço a maioria das peças

individuais sozinho, aquelas que estarão à venda na galeria. Mas

para as seções maiores da exposição, eu preciso de ajuda.”

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Olho em volta. “Onde está a sua obra?”

“Depois dessa porta.” Jonah indica uma porta na parede

distante. “Ali é onde guardo todas as peças acabadas.”

“Então...” Eu balanço para trás em meus calcanhares.

“Posso dar uma espiadinha? Como eu não estarei aqui em

outubro para a exposição da galeria, acho justo.”

“Eu vou te mostrar, mas não será muito impressionante.”

Ele me leva para a sala dos fundos. Pouca luz entra pelas

janelas, iluminando dezenas e dezenas de caixas de papelão,

algumas abertas e cheias de bolhas de embalagem ou de

pequenos cachos de isopor. Outras caixas estão seladas e

empilhadas, não mais do que noventa e um centímetros de

altura, com FRÁGIL carimbado por todas elas. Outras caixas de

papelão achatadas estão empilhadas em pilhas ou inclinadas

contra as paredes de cimento, esperando para serem

preenchidas. Uma longa mesa de trabalho — facilmente com seis

metros de comprimento — exibe as peças da obra de Jonah.

Eu me movo lentamente em direção à mesa, paranoica por

quebrar alguma coisa, mesmo sem tocá-las.

Longas ondas de vidro amarelo e laranja estão dispostas ao

lado com fitas de azul e verde, infundido com manchas de ouro e

redemoinhos de roxo escuro. Branco, vidro cremoso ocupa outra

seção na mesa, perolado com incandescência. A última seção é de

esculturas de vidro que me tira o fôlego: delicados cavalos do mar

e dragões do mar, medusa branco brilhante suspensa em esferas

pretas, e até mesmo um polvo, seus tentáculos ondulando com

uns quarenta e cinco centímetros de comprimento e sua pele

ondulando com fitas coloridas.

Cuidadosamente, deixo meus dedos traçarem a ponta

chanfrada de um pedaço de vidro que parece ser um grande cubo

de gelo com folhas de coral. Dentro nada uma tartaruga —

perfeitamente esculpida.

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Olho para Jonah, tantas perguntas tentando escapar da

minha boca aberta que não faço nenhuma.

Ele enfia as mãos nos bolsos da frente da calça jeans. “Não

há muito para olhar agora. A maior parte já está embalado e

empilhado.”

Eu balanço minha cabeça. “Estes são surpreendentes. Eu

nunca vi nada assim na minha vida.”

“Obrigado.”

“O resto está nas caixas? Para enviar à galeria?”

Ele assente. “Eu não vou ser capaz de conectar todas as

peças juntas até que esteja no próprio espaço da galeria.”

“Mas como você sabe o que trabalhar, se você não pode ver

a coisa toda? Isso é como... escrever uma canção, mas nunca

tocá-la inteiramente até a hora do show.”

Jonah dá de ombros e bate na têmpora. “Eu tenho tudo

aqui guardado.”

Eu acho que ele confunde a minha expressão chocada

porque acena com a mão como se estivesse se livrando de um

mau cheiro. “Deus, isso soa pretensioso como o inferno.”

“Não, eu acho que entendo.” Faço um gesto para a mesa.

“Esta parece ser uma escavação arqueológica da Atlântida. Como

se você estivesse encontrando as peças todas, uma de cada vez, e

não fosse capaz de colocá-las todas juntas ainda.”

“Sim, eu gosto de pensar assim.” Seus olhos percorrem

sobre os pedaços de sua arte. “Eu acho que parte de trabalhar

com vidro é que você não sabe exatamente como será. A forma e o

fluxo dele... O fogo dita muito do que o vidro faz, como ele muda a

cor e a forma. Com algumas peças, como a vida marinha, eu os

projetos de cima para baixo, obviamente. Mas para a obra como

um todo, tento segui-lo, em vez de forçá-lo a ser o que não quer

ser.”

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Um breve silêncio recai. Ele olha para mim e sua

sobrancelha sobe. Riso explode de mim e dou uma cotovelada na

sua cintura. Eu adoro ouvir Jonah falar sobre sua arte. Arte. Eu

não sei nada sobre o assunto, mas é tão incrivelmente bela,

mesmo todas espalhadas sobre uma mesa em pedaços.

“Ok, me mostre”, digo. “Estou morrendo de curiosidade

para ver como você faz isso. Você pode trabalhar e divertir-me ao

mesmo tempo.”

Ele fica pensativo por um minuto, em seguida, balança a

cabeça, como se respondendo a um pensamento particular.

Voltamos para o piso principal da Hot Shop. Jonah pega

um dos tubos de aço inoxidável de uma prateleira na parede e eu

tomo um assento no banco com os dois trilhos.

“Eu vou precisar disso”, ele me diz. Ele puxa uma cadeira

da parede oposta e ajeita para mim perto do banco.

“Você vai fazer alguma coisa para a exposição?”

“Não”, ele diz. “Uma peça pequena. Para vender na galeria.

Eu acho que um frasco de perfume.”

“Eu amo garrafas bonitas de perfume.”

“E você?” Ele pergunta, seu rosto se vira, quando coloca

uma extremidade do tubo no maior dos dois fornos, girando-o em

suas mãos e para trás, o tempo todo. Quando ele puxa o tubo do

forno, uma pequena esfera fundida se agarra a ponta, do

tamanho de uma bola de tênis. Ele vai até a mesa de aço

inoxidável e rola o copo sobre ele, e para trás até que se

assemelha a uma ponta de seta grossa, em seguida, coloca na

fornalha menor, como se estivesse assando um marshmallow

sobre uma fogueira. O fogo dentro desta fornalha menor brilha

dez vezes mais de tão quente com o maior, que faz todo o vidro

ser derretido.

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Jonah rola o tubo em suas palmas mais e mais. O suor

aparece ao longo de seu pescoço e bíceps e observo os músculos

se movendo enquanto ele trabalha.

“Kacey?”

Eu tiro meus olhos de seus braços. “Desculpa, o quê?”

“Cor?” Ele leva o tubo com a sua seta brilhante de vidro

para uma prateleira cheia de bandejas. Eu mantenho uma

distância segura da tocha em suas mãos e vejo que cada bandeja

está cheia de pedaços de esmagados vidro em várias cores.

“Vá em frente”, ele diz.

“Violeta”, digo solenemente. “Como o Prince 3 .”

“Boa escolha.”

Jonah pressiona um lado estreito da forma de seta

brilhante na bandeja do vidro esmagado cor de violeta.

Habilmente, ele vira o tubo, e pressiona o vidro aquecido para

baixo do outro lado. Parece esponjosa quando ele pega os pedaços

de vidro. Com duas faixas de roxo diferentes agora presas ao

vidro derretido, Jonah leva o tubo para o pequeno forno, sempre

rolando em suas mãos. Quando o puxa de volta para fora, o vidro

esmagado está derretido.

“Por que você rola o tubo para frente e para trás?”

Pergunto.

“Se eu não o mantiver sempre em movimento, o vidro vai

explodir em uma confusão quente lancinante de dor líquida que

queima tudo o que toca dentro de um raio de seis metros.”

Cruzo os braços e lhe dou um olhar bravo.

“É pra manter o centro no lugar certo.”

“Alguém já te disse que você é um espertinho?”

3 Referência à música Purple Rain do Prince.

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Ele sorri. “Algumas pessoas. Uma ou duas vezes.”

Eu tinha que concordar com Lola — ele é muito adorável.

Tomo meu assento na cadeira e Jonah coloca a

extremidade do tubo na boca e sopra uma respiração curta.

“O vidro é feito com a boca”, digo, rindo.

“Se você acha que é engraçado, o pequeno forno é chamado

de buraco da glória.”

“Sério?”

“Sério.” Ele se senta no banco com os trilhos de metal. “Tire

sua mente da sujeira, Dawson.”

“Não é possível. Ela gosta de lá.”

Jonah sorri para mim, os olhos quentes. Ele senta virado

para a frente no banco, como se estivesse sentado em um cavalo,

e define o maçarico ao longo dos trilhos para que a bola brilhante

de vidro fique na frente dele. Ele usa o trilho para rolar o tubo

com uma mão e pega uma concha de madeira no balde de água.

O vidro afunda e envia vapor quando é embalado na concha de

madeira, rolando em conjunto para que a forma de seta se torna

uma pequena esfera.

“Quando você soube que era isso que você queria fazer?”

Pego um par de pinças que parecem feitas de duas lâminas de

faca. “Como é que alguém se apaixona pelo vidro soprado?”

“Ao beber o meu peso em cerveja e doses de uísque e quase

ser preso por embriaguez e desordem”, ele diz. “E isso, em Las

Vegas, não é pouca coisa eu poderia acrescentar.”

“Ok, essa eu tenho que ouvir.”

“No meu vigésimo primeiro aniversário, um grupo de

amigos e eu ficamos bêbados e fomos a caça de um cassino. Nós

jogamos e bebemos e depois bebemos um pouco mais, até que eu

fiquei muito bêbado.”

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“Eu estou tentando imaginá-lo bêbado e não consigo”, digo.

“O que realmente não é justo, considerando todas as coisas.”

“Você é uma bêbada muito mais bonita”, ele responde,

nossos olhos conectando. “Considerando todas as coisas.”

Sinto o rubor subir em minhas bochechas, e Jonah limpa a

garganta. “De qualquer forma”, disse ele. “Meu melhor amigo,

Oscar, era o líder de toda a expedição. Ele tinha cinco cassinos no

itinerário, seguido de um clube de strip.”

“Um clube de strip? Que vergonha.”

“Não é a minha coisa, para ser honesto”, Jonah diz. “Mas

eu nunca cheguei lá de qualquer maneira. Nós fomos ao Bellagio

e deitei no chão, no meio do lobby e me recusei a levantar.”

“No chão?” Bato palmas. “Isso me faz sentir muito melhor

sobre vomitar em sua limusine. Por favor, continue.”

Ele ri. “Eu não me lembro muito, exceto que o teto estava

girando. Mas puta merda, o que é aquele teto. Vinte e um metros

de arte em vidro soprado. Uma profusão de cores que foi de

alguma forma harmonizada. Caos planejado, se isso faz sentido.”

Eu descanso o queixo na minha mão. “Faz sentido.”

“Sinceramente, pensei que estava tendo alucinações”, ele

diz. “Eu aprendi nas minhas aulas na UNLV sobre Dale Chihuly,

um mestre soprador de vidro, e que seu trabalho estava aqui em

Las Vegas. Mas eu nunca tinha estado sob ele. Ou até mesmo no

Bellagio. Mas naquela noite, mesmo bêbado, a exposição mexeu

comigo. Eu queria saber como era possível fazer vidro assim.

Fazer com que pareça um jardim de flores entrando em erupção

lá no alto, no teto.”

“Eu voltei para o Bellagio no dia seguinte. Com uma

ressaca do inferno, para ver se era impressionante como eu me

lembrava, ou se fui um idiota bêbado, hipnotizado por cores

bonitas.”

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“Você não foi um idiota bêbado.”

“O Júri ainda não decidiu sobre isso”, Jonah diz com um

sorriso, ficando de pé para reaquecer a peça. “Mas eu não estava

hipnotizado, fiquei obcecado. Eu li tudo o que pude sobre Dale

Chihuly. Ele se tornou meu ídolo, e ainda é. Eu mudei meu foco

para vidro naquela semana e a primeira vez que pus as mãos em

um maçarico e vi um pedaço vir à vida, eu soube que era o que eu

faria para o resto...” Ele tosse e limpa o queixo suado em seu

ombro. “Pelo resto de meus estudos.”

“Eu adoro ouvir como alguém descobre sua paixão”, digo.

“Ou como a paixão o encontra.” Eu olho ao redor do espaço. “Mas

isso não é como a pintura onde você pode simplesmente pegar

pincel e uma lona. Posso ser intrometida?”

“Você quer saber como mantenho este espaço, as

ferramentas, um assistente, e todos os vidros que um cara pode

ter com um salário de motorista de limusine?”

“Algo assim.”

“Eu não pago por nada disso. Ganhei uma bolsa da

Carnegie Mellon.” Ele volta ao banco e desliza o vidro pelo

dicionário úmido, queimado e rolando o vidro, como se estivesse

polindo. O cheiro de papel queimado enche o espaço, e mesmo

que o vidro quente derretido esteja a meras polegadas da sua mão

nua, isso não parece incomodá-lo nenhum pouco. Ele rola e

molda com a facilidade praticada de alguém que já fez isso

milhares de vezes.

Ele é um profissional, penso. Um mestre. Eu me sinto

estranhamente orgulhosa de vê-lo. “Não me surpreende que você

ganhou uma bolsa.”

“Era uma espécie de prêmio de consolação, na verdade”,

Jonah diz. “Eu fiquei doente no meu terceiro ano no Carnegie e

não pude me formar. Eu estava no hospital cerca de cinco meses,

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e quando saí... não voltei. Meus pais queriam que eu ficasse aqui.

Minha mãe especialmente.”

“Eu posso imaginar”, digo em voz baixa, pouco acima do

constante silvo-rugido do fogo.

“Mas eu tinha uma bolsa de estudos integral na CM e

quando lhes disse que não poderia ficar para ganhar meu

diploma, eles me deram uma bolsa para fazer esta exposição.

Como uma espécie de projeto de tese.”

“Você deve ser muito bom, Fletcher, para jogarem tanto

dinheiro em você.” Enfio uma mecha de cabelo atrás da minha

orelha. “Mas é uma pena que você tenha tido que deixar

Carnegie. Posso perguntar…?”

“Como fiquei doente?” Ele vai para o forno para outra

rodada.

Eu balanço a cabeça. “Eu não entendo como um cara de

vinte e cinco anos de idade, acaba precisando de um transplante

de coração.”

Jonah balança a cabeça, e quando fala sua voz é

monótona. “Um bando de nós fez uma viagem à América do Sul

no verão passado. Peru, Colômbia, Venezuela. Eu peguei um

vírus ao acampar em Caracas. Eles acham que foi de nadar em

um rio, embora meus amigos e namorada na época tenham

nadado lá também. Mais tarde eu soube que tinha uma

predisposição genética que me fez suscetível ao vírus.”

Ele volta ao banco, rolando e polindo.

“Eu também aprendi que tenho um tipo de tecido raro, o

que faz encontrar um doador de coração um pouco complicado.

Eu estava muito mal quando recebemos a ligação que um doador

havia sido encontrado, o mais próximo de compatível que eles

poderiam obter. Eu tinha o transplante, e... tudo está bem

quando acaba bem, certo?”

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“Estou feliz que terminou bem”, digo suavemente.

Ele não diz nada, mas desliga o maçarico de cabeça para

baixo de um gancho no teto acima dele. Parece que tem uma

lâmpada de incandescência no final. Ele leva um segundo tubo

para o grande forno que segura o copo e volta com uma pequena

colher.

“O que isso vai ser?” Pergunto, feliz por ser capaz de fazer

uma inofensiva mudança de assunto.

“O gargalo da garrafa.” Ele senta no banco, rolando o tubo,

e pega um par de pinças que parecem ser de grandes dimensões.

Ele pressiona um alicate no vidro, um pedaço pequeno,

esvaziando-o para fora, e então começa a puxar o vidro, formando

um lábio.

“Parece um caramelo”, eu digo.

“Bastante.”

Ele trabalha um pouco, esticando o pescoço para fora, em

seguida, cortando a fim de fazer uma abertura perfeitamente

redonda.

“Muito silêncio aqui”, Jonah diz, e seu sorriso é quente

novamente. “Estou sentado com uma famosa guitarrista prestes a

ser mais famosa na minha frente, mas não ouço música. Não faz

sentido.”

Giro minhas pernas na frente de mim para examinar as

botas. “Meu violão está em uma caminhonete com o resto do

equipamento da banda. Eu acho.”

“Se eu ligar o rádio, vou ouvir uma de suas músicas?”

“Provavelmente”, digo. “‘Talk Me Down é uma espécie de hit

agora.”

“Já ouvi. Eu não sou um fã da música, para ser honesto,

mas as letras são muito boas.”

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“Eu escrevi.”

Jonah para e me olha bruscamente. “Você escreveu essa

música?”

“Surpreso?”

Ele pensa por um segundo. “Não.”

Minhas bochechas aquecem e tenho que desviar o olhar.

“Uau.”

Jonah dá o primeiro golpe com o maçarico que estava

pendurado no teto, em seguida, se senta no banco. “Posso te fazer

uma pergunta?”

Eu sorrio. “Não.”

Ele olha para mim, depois volta para o seu trabalho. “Você

não parece muito interessada em ser uma estrela do rock, então

por que não faz sua própria coisa? Escrever o que você quer e

cantar você mesma?”

“Eu canto um pouco. Como Back vocal. Rapid Confession

já tem uma vocalista e Jeannie nunca vai deixar você esquecer

disso.” Eu sorrio com tristeza. “Ela não se importa se escrevo

canções de sucesso, desde que ela seja a única a cantar. É sua

banda. E eu estive em sua banda praticamente desde que meu

pai me expulsou. É tudo que sei fazer.”

Jonah casa o gargalo com a bola rodada de vidro, em

seguida, interrompe a peça inteira a partir do primeiro maçarico.

Ele leva para a grande fornalha, explicando que está adicionando

outra camada de vidro transparente sobre ele. Então volta ao

banco para mais polimento e rolamento.

“Estou começando a ver uma pequena garrafa”, digo. “Já

está bonito. Você é tão talentoso.”

“Assim como você”, ele diz, sem olhar para cima de seu

trabalho. “Mas todas as peças do seu talento — cartar, guitarra,

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composição... Estão espalhadas, como a minha peça. Ou uma

constelação. Colocar tudo junto...” Agora ele olha para cima, com

seu sorriso gentil. “O todo pode ser muito espetacular.”

Uma centena de emoções diferentes ferve em mim. As

palavras de Jonah são fragmentos de meus próprios

pensamentos. Ideias que eu nunca tive a coragem de encarar e

dizer. Eu quase falo com ele para se preocupar com sua própria

vida, e na próxima pulsação quero jogar meus braços em volta do

pescoço dele e agradecer...

Pelo quê?

Eu não faço ideia.

E quero desesperadamente uma bebida.

“Está feito”, Jonah diz, levantando-se. Ele soltou toda a

peça do maçarico, embalando-a em uma luva de tamanho grande,

como uma luva de apanhador, e a leva para um terceiro forno.

“Este é o forno. Tem que arrefecer lentamente. Vai estar pronta

amanhã.”

Ele fecha a porta e se vira para me encarar onde estou

sentada, não tendo se mudado da minha cadeira.

“Desculpe-me se fiquei muito pessoal.” Ele esfrega a mão

sobre a parte de trás do seu pescoço, suor molhando sua testa.

“É muito fácil esquecer, que só a conheci ontem.”

“Eu sei o que você quer dizer”, digo. Meus pensamentos

turbulentos resolvidos, juntamente com a sede de uma dose de

algo forte. Levanto para ficar ao lado dele no forno. “Com você é

fácil de conversar, Fletcher.” Eu lanço um olhar para ele. “Talvez

um pouco fácil demais.”

“Também me sinto assim com você, Dawson.”

Olho pela janela blindada. “Eu não posso mais ver a peça.”

Viro, fico cara a cara com ele, apenas trinta centímetros de

espaço entre nós. “Eu quero vê-la antes de partir de Vegas.”

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“Eu vou ter certeza disso”, ele diz calmamente.

Nossos olhos se encontram, como se nossos olhares fossem

aproximando um do outro. Eu não posso me mover. Eu não

quero. Quero ficar no seu espaço, sentindo o olhar suave em

mim, respirando o cheiro de sua pele e roupas. Sua presença

desliza tudo para cima e para baixo do meu corpo. Os segundos

passam e parecem se expandir e cristalizar. Se eu me mexesse,

quebraria o encanto.

Eu não quero ir.

Eu quase digo ele. As palavras estão na minha boca.

Então não vá, ele responde em minha mente e sinto um

alívio tangível como se tivesse falado em voz alta. Como se eu

tivesse uma vida diferente esperando por mim em dois dias.

“Devemos voltar”, ele diz, com sua voz pesada e, para os

meus ouvidos, misturado com pesar.

Eu balanço a cabeça. “Ok…”

A porta da frente se abre, e uma voz de mulher ecoa. “Olá?

Desculpe estou atrasada. Você não vai acreditar... oh. Oi.”

Uma jovem mulher com pele caramelo e olhos escuros se

aproxima de nós. Ela usa jeans e regata de ginástica. Seu cabelo

é uma explosão de cachos escuros, presos por uma faixa colorida.

Ela é linda.

“Tania King”, Jonah diz, “esta é Kacey Dawson. Ela é

uma... amiga.”

“Então prazer em conhecê-la, Kacey”, Tania diz, oferecendo

sua mão e um fácil, sorriso amigável. “E onde vocês se

conheceram?” Ela pergunta, suas sobrancelhas arqueadas quase

até a cabeça com curiosidade.

“Kacey está na cidade por alguns dias com sua banda”,

Jonah diz. “Ela vai ficar comigo até terça-feira.”

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Agora os olhos de Tania parecem que estão prestes a

explodir de seu crânio. “Sério? Isso é maravilhoso. E

inesperado...”

“Eu estava apenas dando Kacey uma excursão da Hot

Shop”, Jonah fala.

Balanço a cabeça. “É incrível. Jonah fez uma peça para a

exposição da galeria para me mostrar como se faz. Ele é

incrivelmente talentoso.”

“Eu concordo”, Tania diz. “E amo dizer a ele o quão

talentoso é, porque ele não aceita. Olhe só para ele.”

Jonah revira os olhos e balança a cabeça quando o rubor

se arrasta até seu pescoço. Sua modéstia é genuína e, portanto,

sexy como o inferno.

Merda, agora estou corando...

“Então, qual peça você fez?” Tania pergunta ele. “Eu vou

riscá-la da lista.”

Jonah esfrega a mão pelo cabelo. “Hum, é...”

“Um frasco de perfume”, digo. “É lindo.”

Tania franze a testa. “Um frasco de perfume. Não me

lembro de...”

“Eu tenho que levar Kacey de volta para a minha casa”,

Jonah diz rapidamente. “Vou voltar para terminar o dia.”

“Claro, claro”, Tania diz. Ela fixa seus olhos em Jonah um

momento, depois se vira para mim. “Será que vou vê-la

novamente antes de ir?”

“Não”, digo. “Nós viajaremos amanhã.”

Mais uma vez, os olhos de Tania se voltam para Jonah. A

conversa silenciosa parece passar entre eles, lembrando-me da

conversa entre Jonah e Theo na cozinha ontem.

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E m m a S c o t t

“Bem, isso é ruim”, ela finalmente diz.

“Tania não se expressa muito bem”, Jonah diz secamente.

“E você não tem sorte?” Ela diz. “Foi um prazer conhecê-la,

Kacey.”

Ela oferece a mão novamente, mas eu a abraço dessa vez.

“Você também, Tania. Talvez eu venha visitar em breve.”

“Sim” ela diz. “Eu acho que seria muito, muito boa ideia.”

“Tania é incrível” digo enquanto dirigimos de volta para

casa. “Ela é sua assistente há muito tempo?”

“Desde que comecei a exposição”, Jonah diz. “Cerca de dois

meses atrás. Ela é uma sénior na UNLV. Especialistas em artes

industriais e todos os tipos de talento. Eu tenho sorte de tê-la.”

“Ela parecia feliz em me ver. Isso foi bom.”

Jonah se mexe no assento. “Ela é assim. Amigável.” Ele

olha para mim, em seguida, volta para a estrada. “A verdade é

que... Eu meio que me fechei para um grande número de pessoas

desde que comecei minha obra.” Ele fala lentamente, como se

tivesse inspecionando cada palavra antes de deixá-lo fora. “Eu

tenho Tania, Theo, meus pais e meus melhores amigos, Oscar e

Dena. Eles são tudo que cabe no meu tempo. Eu acho que Tania

está feliz que trouxe alguém novo para a Hot Shop.”

“Oscar e Dena são os amigos que eu vi em suas fotos? O

cara Afro-americano com um belo sorriso? E Dena é a garota

bonita que parece do Oriente Médio?”

“Isso, são eles. Os pais de Dena são do Iraque. Ela e Oscar

estão juntos há muito tempo. Eu realmente deveria sair com eles

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E m m a S c o t t

esta noite. Nós nos reunimos a cada semana. É parte da minha

rotina, como o jantar com meus pais.”

“Oh.” Eu torço minhas mãos no colo. “Isso é legal. Eu acho

que vou...”

“Mas estava pensando que, uma vez que é a sua última

noite aqui, talvez eu cancele.”

“Não, não”, digo, mesmo que a felicidade floresça em meu

peito. “Eu não quero interferir...”

“Eu gostaria sair para vermos um filme.” Chegamos em um

semáforo vermelho e Jonah se vira para mim, com um sorriso

repuxando seus lábios. “Tem algum clássico dos anos oitenta em

cartaz?”

“Pode ter.”

O sinal fica verde, e ele vira os olhos de volta para a

estrada. “Parece bom.”

“Sim” digo, descansando meu queixo na minha mão para

esconder o sorriso idiota na cara. “Soa perfeito.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 15

jonah

Quando meu celular toca por volta das oito horas, já sei

que é o Theo. Eu já tinha dado uma bronca em Tania quando eu

voltei para a Hot shop naquela tarde: Pergunta após pergunta

sobre Kacey. Eu contei a história resumida, ela está indo embora

no dia seguinte.

“E o frasco de perfume?” Tania perguntou, seus lábios se

curvaram em um sorriso cúmplice. “Eu não me lembro disso

estar listado nas obras da galeria.”

“Eu adicionei.”

“Você que manda, chefe”, ela diz, e deixa o assunto morrer.

Theo por outro lado...

“Oscar me mandou uma mensagem”, ele diz agora. “Você

está cancelando esta noite?”

“É a última noite de Kacey...”

“Então, é por causa da garota.”

“Kacey. Sim. Eu...”

“Você vai dormir com ela?”

“Jesus, Theo.”

“Você vai?”

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E m m a S c o t t

Sento em uma das duas cadeiras na cozinha, que serve

como minha mesa de jantar, afastando-me do corredor e do

banheiro onde Kacey está lavando seu rosto.

“Eu estou sendo educado com minha hóspede. Não quero

convidá-la para sair, ela está tentando não beber, e não quero

deixá-la sozinha e entediada durante toda a noite. E, a

propósito...” Baixo a voz e ouço que a água ainda corre na pia...

“Não é da sua conta com quem eu durmo ou não.”

“Você sabe o que o Dr. Morrison diz”, Theo diz. “Você tem

que ter cuidado. Não exagere.”

“Theo…”

“E você tem que usar preservativo, sem exceções.”

“Eu vou desligar agora.”

Mas, claro, eu não desligo. Porque ele é meu irmão e

debaixo de sua conversa dura, ele está com medo enorme por

mim. “Eu disse a Oscar e Dena que nós vamos sair na quartafeira

para compensar. Você está livre?”

“Estou na loja quarta-feira”, Theo diz. “Ela está indo

embora amanhã?”

“Amanhã.”

Há um silêncio na outra extremidade.

“Olá?” Eu digo. “Quer que eu diga a ela que você disse

adeus? Boa viagem? Que tal um autógrafo?”

“Eu vou falar com você mais tarde”, Theo diz, sua voz de

repente dura. O telefone fica silencioso.

Kacey sai do banheiro, vestindo uma camiseta que vai até o

meio da coxa e nada mais. Olho para suas longas pernas nuas e

a borda inferior de uma tatuagem que espreita para fora debaixo

da bainha.

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E m m a S c o t t

“Não fique tão escandalizado, Fletcher”, Kacey diz,

levantando sua camisa. “Eu estou vestindo shorts.”

Pisco. Sim, na verdade, ela está vestindo shorts. Short

curto.

“Sua tatuagem”, digo. “O que é? Uma caveira mexicana?”

“Uma caveira mexicana vodu. Vê a cartola? Eu amo a

mitologia vodu e magia. Marie Laveau. Vevé.” Ela levanta a perna

para inspeção e finjo estudar o crânio que foi feito em cores

vibrantes e duas grandes flores azuis nas órbitas oculares.

“É bom.” Eu tusso. “Então... filme?”

Kacey bate palmas. “O original A Hora do Pesadelo. 1984.

Eu vi duas vezes. Johnny Depp é um bebê neste clássico.”

Eu a vejo caminhar para a minha cozinha e começar a se

movimentar ao redor das panelas, abrindo armários, e ligando

um queimador no fogão, como se tivesse feito isso uma centena

de vezes.

“Você está cozinhando também?”

Ela inclina um saco de grãos de pipoca. “Caseira. Sem

gorduras ou conservantes ou...”

“Sabor?” Eu termino e depois rio de sua expressão

ofendida. “Eu tinha pipoca escondida em algum lugar?”

“Não, comprei hoje”, Kacey diz. “Não é possível assistir a

um filme de terror sem pipoca. Mas estou usando óleo de coco.

Baixo colesterol, coração saudável. E tenho isso...”

Ela me entrega uma caixinha do balcão. No rótulo está

escrito substituto de sal Milton.

“Livre de sódio”, Kacey diz, sacudindo a panela tampada em

solidariedade. Oh, e bebidas.”

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E m m a S c o t t

Kacey remexe na geladeira, e isso proporciona uma visão

generosa da pele lisa, sem falhas das costas e suas pernas antes

de ela se virar e me entregar uma garrafa de chá verde com limão

e mel.

“O chá verde é a coisa mais saudável que existe,

aparentemente. Pessoalmente, nunca bebi chá gelado a menos

que fosse da variedade Long Island, mas pensei que seria bom

dar uma chance.”

Eu coloco a minha garrafa no balcão e observo ela agitar a

panela que está agora repleta de pipoca. “Quando você fez

compras?”

“Enquanto você estava na Hot shop esta tarde. Eu amei a

Tania, por falar nisso. Ela é um ser humano de qualidade.”

“Sim, ela é”, digo.

“Pipoca está pronta”, Kacey diz. Ela joga tudo em uma

tigela grande, olhando-me de cima a baixo. “O que há com você

esta noite, afinal?”

“O que você quer dizer?”

“Você está meio disperso. Algo em sua mente?”

“Estou chocado que você fez tudo isso.”

“Que eu fui ao supermercado? Ou que enfrentei o calor? Eu

acho que você tem um monte de trabalho a fazer que eu ter a

responsabilidade de comprar pipoca e bebidas vem como um

choque.”

“Choque é a escolha errada de palavra. Eu quis dizer, que

estou tocado que você fez tudo isso. Para mim.”

“É o mínimo que eu poderia fazer desde que você me deixou

ficar aqui.”

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E m m a S c o t t

Ela sorri para mim e sorrio de volta, até o momento passar

do limite de tempo para dois amigos estarem sorrindo um para o

outro. Eu tento comer algumas das pipocas.

“Como está o sal falso?” Ela pergunta.

“Não é ruim.”

Nós colocamos nossa comida e bebida no sofá. Penso em

sentar em uma extremidade e Kacey sentar na outra. Em vez

disso, ela coloca a tigela de pipoca no colo e se enrola ao meu

lado, dobrando as pernas sob o corpo. Ela está encostada contra

mim, ombro a ombro, o peito esquerdo suave contra o meu braço.

“Está tudo bem?” Ela pergunta, pegando o controle remoto

da TV. “É um filme de terror, afinal. E eu sou medrosa.”

“Eu percebi.” Posso sentir cada lugar em que ela está

tocando. “Por quê?”

“Pronto para uma conversa psicológica? Meu pai é um

grande crente em não conceder contato físico. Ele quase nunca

me tocava ou me abraçava. E ele estava sempre insistindo com a

minha mãe em não me mimar. Que só me faria fraca e molenga.”

“Você está falando sério?” Minha imaginação conjura uma

menina doce, correndo para seu pai com um joelho arranhado ou

com um A em um teste de ortografia e sendo friamente rejeitada.

“Seu pai nunca te abraçou?”

Ela balança a cabeça. “Mas seu plano saiu pela culatra. Em

vez de me fazer fria, eu fui para o outro lado. Quero tocar todos.

Fazer contato, sabe?”

“É por isso que abraça as pessoas quando você as

encontra? Como a Tania, hoje?”

“Eu não abraço todos. Só as pessoas boas. Tenho um sexto

sentido sobre isso.”

“Você não abraçou Theo ontem”, digo. “Ele é um cara bom.”

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E m m a S c o t t

“Você pode me culpar? Parecia que ele queria arrancar

minha cabeça.” O brilho da TV torna os olhos de Kacey azul

elétrico. “Mas ele é um cara bom. Quis abraçá-lo, mas não acho

que ele teria gostado disso. Acho que ele não gosta de mim.”

“Ele não confia facilmente”, digo. “Tenho certeza que ele

gosta de você.”

Kacey se vira para olhar para mim, e porque ela está

praticamente sentada em meu colo, seu rosto fica a centímetros

do meu. O rosto dela está limpo, ela parece ainda mais

impressionante de perto, sem a maquiagem elaborada que

normalmente usa.

“Por que ele precisa confiar em mim?” Ela pergunta.

Merda. Boa pergunta. “Ele não confia em ninguém novo em

torno de mim”, digo, infundindo minhas palavras com tanta

indiferença quanto possível. “Desde a minha cirurgia, ele se

tornou ridiculamente superprotetor.”

“Por quê? Quero dizer, além das razões óbvias.”

“Minha rotina é muito séria e ele se preocupa que vou ficar

distraído.”

“Ele está preocupado que vou te corromper? Levá-lo para

carnes e bebidas?”

Olho para esta menina que não está acostumada a ser

confiável e me ouço dizer “Ele não confia em mulheres em torno

de mim. Por causa da Audrey. Minha última namorada.”

Agora Kacey senta ereta e vira sua atenção para mim.

“Audrey. Ela é a garota...?” Ela aponta para uma foto emoldurada

de Audrey e eu no Carnegie que está pendurada na parede ao

lado do ar condicionado.

“É ela”, digo. “Nós ficamos juntos por três anos. Nós

viajamos muito e planejamos viajar depois da formatura. Para ver

as grandes cidades do mundo e ser inspirados por sua arte.”

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E m m a S c o t t

“Ela trabalha com vidro também?”

“Não, com pintura. Tínhamos uma vida planejada, e então

ela se desfez, não sabia como lidar com o caos. Ela estava comigo

na América do Sul, quando fiquei doente, e voou para casa

comigo enquanto eu esperava um coração do doador. Mas ficar

em torno da doença ou em torno de hospitais não era a sua

coisa.”

Kacey se recosta, uma sombra cruzando seu rosto. “O que

aconteceu?”

“Ela foi embora logo que recebi o telefonema de que um

coração tinha chegado e estava disponível.”

Os olhos de Kacey se arregalam, “Ela foi embora? Quando

você estava prestes a ter um transplante de coração?”

“Mais ou menos”, digo. “Mas o resultado é, ela disse ao

Theo que estava partindo e isso o transformou em um cão de

guarda paranoico...”

“E você?” Kacey corta.

Eu fico tenso. “Eu?”

“Ela foi embora É por isso que você se atém de forma

religiosa a sua rotina? Para se proteger?”

Palavras ficam presas na minha garganta e posso apenas

acenar.

“Sinto muito se isso é pessoal”, ela diz. “Eu estava

pensando sobre como nós dois fomos feridos por pessoas que

deveriam nos amar. Eu me protegi também. Ao beber, festas,

fazendo música alta.” Ela se vira para enfrentar a televisão. “Eu

odeio as pessoas que vão embora quando é deveriam ficar.”

Eu balanço a cabeça, sem palavras. Nós assistimos ao filme

e comemos a nossa pipoca, enquanto os minutos passam mais

perto de amanhã.

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E m m a S c o t t

Na tela, uma jovem mulher é espancada em sua cama. O

namorado dela grita quando a menina tem uma morte sangrenta,

seu corpo arrastado até a parede e cortado em tiras por mãos

invisíveis.

Kacey enterra o rosto no meu ombro. “Diga quando

acabar”, ela diz, com a voz abafada.

“O que, esta cena?”

Ela assente com a cabeça contra mim, segurando meu

braço. Seu cabelo é suave contra minha bochecha.

Na TV, os gritos do namorado cessam. “Ok, ele é um caso

perdido”, digo.

Kacey vira a cabeça para espiar a tela com um olho, depois

ambos. “Desculpa. Eu sou uma covarde completa com filmes de

terror.”

“Foi ideia sua.”

“É um grande filme.”

“Mas você está assustada até mesmo de ver.”

“Então?” Seus olhos desafiantes são brilhantes e vibrantes,

como se fossem iluminados com uma luz azul celeste. “Onde você

quer chegar?”

“Não, nada”, eu rio, balançando a cabeça. “Faz total

sentido.”

Kacey dá uma cotovelada no meu lado, depois se enrola em

mim novamente.

Ela está tão suave e quente contra mim, enquanto eu estou

uma parede de tijolos com as mãos enfiadas debaixo dos meus

braços cruzados para não tocá-la. Eu queria encher minhas mãos

de Kacey; segurar a mão dela, ou colocar a palma da mão sobre a

pele nua da coxa que está pressionado contra a minha. Ou

colocar meu braço em torno dela porque — Meu Deus — essa não

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E m m a S c o t t

é a última vez que sento em um sofá com uma menina e assisto a

um filme novo? Ela esconde a cabeça no meu ombro durante as

partes assustadoras, ou compartilha uma tigela de pipoca? Esta é

a minha vida, o que resta dela, e estou perdendo.

Eu tento me perder no filme. Minutos passam. Na tela, um

jovem, de cabelo emplumado como Johnny Depp não consegue

ficar acordado, apesar de uma morte certa. “Você tinha um

trabalho, Johnny”, eu falo.

Kacey enterra o rosto no meu ombro, seus dedos apertam

meu braço, quando Johnny é sugado para dentro de sua cama e

uma fonte de sangue irrompe para pulverizar o quarto.

“Diga-me quando acabar.”

isso.”

“Como posso saber se acabou?” Eu digo, rindo. “Você já viu

“Duas vezes.”

“Tudo bem, os gritos pararam, você pode espiar.”

Kacey levanta a cabeça e Jesus, ela está tão bonita. Seus

olhos risonhos, como se tivesse acabado de descer uma

montanha-russa.

Sua beleza suga meu fôlego. Se eu continuasse aqui

sentado com ela, ia fazer algo estúpido. Algo injusto para nós

dois.

Levanto, resmungando sobre a necessidade de ir ao

banheiro. Todo o tempo, sinto no lado direito do meu corpo uma

frieza desagradável onde ela estava me tocando e agora não está.

No banheiro, olho para o meu reflexo no espelho.

“Mantenha a rotina, Fletcher. A porra de rotina.”

Esse mantra é uma ponte frágil, frágil entre o que quero e o

que eu nunca terei. Seria cair aos pedaços em um vento forte,

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E m m a S c o t t

mas é a única ponte que tenho. Sem ela, iria em queda livre para

coisa nenhuma.

“Volte. Para. A. Rotina.”

Quando volto para a sala de estar, Kacey está sentada,

bocejando e se espreguiçando. Ela sorri quando me vê. Um

sorriso surpreso. Como se já não tivesse passado toda a noite

juntos. Como se eu tivesse saído há anos para a África e não dois

minutos no banheiro.

Mas sinto isso também. Sinto a falta dela. Toda vez que

fecho os olhos porra, eu sinto a falta dela.

Estou longe dela, olhando, enquanto em minha mente eu

fecho a distância entre nós, a deito sobre as almofadas do sofá

novamente, mas desta vez, estou sobre ela. Beijando sua boca

deliciosa, provando sua língua quando ela desliza sobre a minha.

Suas coxas se separam para mim, revelando a calcinha que está

úmida quando toco nela...

Jesus Cristo…

Me abrigo atrás do balcão da cozinha para que Kacey não

veja a fúria de tesão proeminente na frente das minhas calças de

flanela.

“Estou ficando com sede, quer mais um pouco de gelo para

o meu chá”, eu murmuro. “Precisa também?”

“Certo.”

Abro o freezer e fico lá, inalando o ar frio até meu sangue

ter esfriado e ser seguro me virar.

Ou talvez eu pudesse bater meu pau na porta...

“Como é que a bebida está?” Pergunto, encolhendo quando

as palavras saem da minha boca. Claramente, o sangue ainda

precisa voltar para o meu cérebro. “Quero dizer, como é que é

beber algo sem álcool como chá gelado?”

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“Não é ruim”, ela diz. “Na verdade, tem sido muito fácil de

ficar sem as bebidas nos últimos dias. Eu pensei que seria ruim,

mas aqui, sinto que posso relaxar. Eu não preciso do barato.”

“Barato?”

“Barato da bebida. Aquele que sobe entre você e a vida real

quando está bêbado. Tudo é muito mais fácil de aceitar. Mais fácil

de não dar a mínima. Você pode ficar a uma distância segura.”

“Distância segura de quê?”

Ela encolhe os ombros e olha para as almofadas do sofá

debaixo dela. “Vida. A vida que encontrei-me vivendo. Uma vida

que me aconteceu, em vez de uma que escolhi.” Ela pega uma

mecha de cabelo e fica enrolando no dedo. “Vegas é diferente do

que eu pensava que seria. Depois de toda essa merda que

aconteceu com Chett, eu pensei que seria assombrada. Mas não é

tão ruim. Melhor do que estar na estrada com a banda. Eu posso

ver isso agora. Então, pensei que poderia...” O fio no dedo dela

está girando e girando. “Ficar.”

O sangue é drenado do meu rosto tão rápido que tenho que

segurar o balcão.

Fique.

A palavra paira no ar. A bolha de cristal perfeita.

Ela vai ficar. Poderei vê-la todos os dias, posso falar com ela,

eu posso tocá-la...

Meus pensamentos correm desenfreados, na rápida maré

de meu pulso que está zumbido nos ouvidos. É tão alto, que eu

mal posso ouvir as palavras seguintes de Kacey. Mas eu os sinto.

Sinto cada palavra; pequenas frases que me surpreendem, cada

uma com uma nova emoção: medo, alegria, culpa e algo

extremamente próximo à felicidade.

“Eu acho que quero sair da banda”, ela diz, ainda

concentrada no seu fio solto. “Estou sob contrato e não tenho

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E m m a S c o t t

ideia se é mesmo possível sair dela sem ser processada. Mas acho

que poderia tentar. Acho que eu poderia fazer o que você disse.

Tentar colocar todas as peças juntas. Escrever minhas próprias

canções e cantá-las eu mesma. Claro, teria que conseguir um

emprego regular de meio período, mas isso será bom para mim

também.”

O rosto dela... está com um olhar de convicção que eu

nunca tinha visto antes, sua voz é clara e forte, como se

construísse uma vida para si mesma aqui.

Uma vida comigo?

“Eu arranjaria meu próprio apartamento e cuidaria de mim

mesma”, ela está dizendo. “Em vez de deixar Lola lidar com toda a

responsabilidade. Pagar minhas próprias contas, voltar para o

supletivo. Ficar sobre meus próprios pés pelo menos uma vez...”

As palavras dela somem e ela olha para mim. E vê minha

expressão aflita e toda a sua esperança desaparece. Ela escorrega

de sua convicção como uma máscara e a luz de esperança em

seus olhos esmaece.

“De qualquer forma”, ela diz, e limpa a garganta. “Como eu

disse, não sei se é possível. Provavelmente estou amarrada ao

meu contrato.”

Ainda assim, eu não digo nada, mil pensamentos em

guerra, mil palavras bloqueadas na minha boca.

Kacey engole em seco, e ergue o queixo contra o meu

silêncio. “Não importa, é uma ideia estúpida.” Ela joga o

travesseiro de lado e voa para fora do sofá, em direção ao quarto.

“E não estou me sentindo bem. Estou indo dormir cedo. Boa

noite.”

O fechar da porta batendo religa meu raciocínio. “Kace,

espere.”

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E m m a S c o t t

No meu quarto, ela tem sua mochila sobre a cama e está

arrancando roupas das gavetas.

“Espere”, digo. “Pare. Eu sinto muito. Precisamos conversar

sobre isso.”

“Você não precisa dizer nada”, ela diz. “Eu entendi, porra.

Eu li no seu rosto. Só que você está errado. Completamente

errado.”

“Errado?”

“Você tem esse olhar assustado que os caras exibem

quando a menina começa a falar de casamento e bebês no

primeiro encontro.” Ela joga suas roupas na mochila, peça por

peça. “Mas deixe-me dizer uma coisa: eu querer mudar para cá

não é uma proposta de casamento. Eu não quero seus bebês. Nós

não estamos nem mesmo namorando. E não quero sair com você.

Neste momento, a última porra de coisa que quero fazer nesta

terra é ficar com você.”

As palavras doem, mas quase não sinto. A possibilidade de

ela se mudar para cá tanto me assusta até meus ossos quanto me

ilumina em lugares sombrios do meu coração.

É meu coração, cara, e você está desperdiçando.

Deus, a esperança caótica e o temor da situação estão me

deixando tonto, e agora estou tendo alucinações com a voz do

meu doador. Eu balanço a cabeça para clarear as ideias.

“O que... você realmente sairia da banda?”

“Sim, Jonah, eu realmente sairia.” Ela coloca as mãos nos

quadris. “Você está surpreso? Eu lhe disse coisas que eu não

contei a ninguém. Eu te contei tudo. Como estou infeliz... e com

medo...”

“Você contou. E eu esperava que você fosse sair. Mas não

achei que você se mudaria para cá.”

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E m m a S c o t t

Ela se encolhe com isso, e sua mandíbula se aperta contra

as lágrimas em seus olhos.

“Droga.” Esfrego minhas mãos sobre o rosto. “Eu não quis

dizer isso.”

“Não? O que você quis dizer?”

Nós nos encaramos, ela espera por uma resposta e eu tento

acabar com o caos que se alastra em mim. A influência da força

da atração em querer que ela fique e o que está por vir, se ela

ficar.

“Você odeia o deserto”, digo finalmente. “E o calor. E esta

cidade.”

“Eu nunca disse isso.”

“Eu acredito que suas palavras exatas foram, Eu odeio Las

Vegas.”

Ela olha para mim, a dor gravada em cada contorno de seu

rosto. Meus argumentos são estúpidos e vazios e nós dois

sabemos disso. Nós nos conhecemos apenas há alguns dias, mas

temos uma conexão.

“Olhe, deixe-me explicar”, digo. “Eu não quis dizer...”

“Não se preocupe com isso”, ela diz. “Não importa o que eu

disse, ou o que você disse. Nada do que alguma vez dissemos um

ao outro significa alguma coisa. Então, você está seguro, certo?

Eu não vou mais distrair o seu trabalho ou interromper sua

rotina preciosa.”

“Kace...”

“Eu não pensava em me mudar para cá por você”, ela diz,

com voz embargada agora. “Vamos apenas deixar isso claro. Eu

tinha essa ideia louca que realmente queria enfrentar toda a dor

de cabeça horrível que Chett me causou, na cidade onde ele me

abandonou. Ou escrever sobre o meu pai e exorcizar essa porra

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particular de demônio com uma canção. Ou dez. Ou cem. No

entanto, isso tudo demora até que eu termine. Pensei em tentar

ficar por conta própria, pela primeira vez na minha vida. Pensei

em levar a sério a minha música. E pensei, talvez, que teria um

amigo que poderia chamar e sair com ele algum dia.” Ela fecha a

bolsa. “Mas estou errada.”

“Você não está errada”, digo, esfregando os olhos cansados.

“Não? Você tem um jeito engraçado de mostrar isso.” Ela

pega a sua mochila e empurra a bolsa, ainda vestindo seu short

de dormir e uma camisa. Com os pés descalços, à uma da manhã

e lágrimas ameaçando derramar.

“Kace”, eu digo suavemente. “Onde você vai?”

“Eu não vou ficar aqui”, ela diz. “Eu vou pegar um táxi de

volta para Summerlin. De volta…”

As lágrimas transbordam e seus ombros afundam com o

peso da sua vida que se encaixa totalmente em uma pequena

mochila.

Vou para perto dela, pego a mochila de sua mão e a bolsa

do ombro, e as deixo cair no chão. Então passo meus braços em

torno dela. Ela endurece, então derrete contra mim. Abraço-a

enquanto ela chora contra o meu peito. Um grito feio vem de sua

garganta, porque ela sabe que é bom chorar assim. Comigo.

“Estou com tanto medo”, ela sussurra. “Estou com medo do

que eu quero... de ir atrás dele e foder tudo de novo. Medo de ter

que ligar para meus pais ou Lola... rastejar de volta para eles

para me ajudarem, porque eu tive a oportunidade de uma vida na

palma da minha mão e a joguei fora.” Ela se segura em mim mais

apertado. “Estou com medo de que estou tão ocupada em estar

com medo e que nunca serei nada.”

Acaricio seus cabelos. “Você irá. Você vai encontrá-lo. Você

pode estar com medo e ainda se encontrar. Eu sei que você pode.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

E não quero que você pense que eu não seria feliz por ter você

aqui em Vegas. Eu seria. Quero que você fique, mas...”

“Eu não espero que você cuide de mim”, ela diz. “Eu só

preciso de um amigo para me dizer que não estou louca. E eu

estava esperando que esse amigo fosse você.”

“Eu posso ser esse amigo, mas...”

Oh merda, aqui está...

Meu coração bate forte e adrenalina corre por minhas

veias.

“Eu tenho que te contar uma coisa.”

“O quê?”

Minha mandíbula se aperta e não sai nenhum som. Eu não

tenho nada planejado. Um discurso padrão. Mantive as pessoas

afastadas para que não tivesse que contar a elas. Mas agora aqui

está Kacey...

Ela olha para mim. Seus olhos são bonitos, brilhantes e

cheios de confiança, que eu não conquistei. Eu quase digo a ela

para esquecer. Que sou um idiota e ela ficará melhor se não falar

comigo nunca mais.

Mas uma parte de mim — a parte que pula de alegria com a

possibilidade dela ficar — quer algo mais com esta mulher linda,

enérgica, impulsiva. Meu mundo estava desaparecendo no cinza

até que ela explodiu como uma bomba de cor e luz, e caramba, eu

quero. Eu quero tê-la em minha vida, mesmo que apenas como

amiga. Tem que ser apenas como uma amiga, e mesmo que me

sinta egoísta e errado. Mas talvez, diz esta pequena voz, eu

poderia ser honesto com ela e deixá-la decidir por si mesma.

Mas não aqui. Não no meu simples e pequeno apartamento.

Eu tenho que levá-la a algum lugar bonito, para mostrar a ela o

que estou escondendo e por quê.

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E m m a S c o t t

“Você está pronta para uma viagem de campo?”

Ela balança a cabeça lentamente. “Ok.”

Dou um suspiro, mas ele não me traz qualquer alívio.

“Vista-se. Eu quero te mostrar uma coisa.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 16

kacey

No caminho para onde Jonah está me levando, minha

mente trabalha em centenas de possibilidades sobre o que ele

está planejando me contar. Algo grande. Algo que justifique essa

excursão. E, a julgar pelo olhar assombrado em seus olhos, não é

algo bom.

Meu coração acelera contra o peito.

Acalme-se. Pode não ser tão ruim quanto você pensa.

Seja o que for, estou dentro. Quando disse que estava

pensando em ficar em Vegas, um futuro nasceu entre nós. Não

um romântico. Apenas... estar juntos. Um vínculo. Temos uma

ligação inegável.

Logo a Torre Eiffel aparece à nossa direita. Do outro lado

Las Vegas Boulevard, o Bellagio Hotel e o Cassino iluminado

majestosamente por trás do lago. Jonah vira para a entrada do

cassino e estaciona.

“Outro show de águas?” Pergunto.

Ele dá um sorriso rápido, que aparece em sua boca. “Não

essa noite.”

A água ainda está escura quando caminhamos ao longo

dela. Nenhuma luz colorida ou jatos dançantes. Arrepios

percorrem meus braços nus, apesar do calor. Ao meu lado, Jonah

está bonito em jeans e uma camiseta preta. O bracelete de alerta

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médico em seu pulso direito brilha com as luzes cintilantes do

hotel.

O hall de entrada climatizado do Bellagio me faz tremer

ainda mais. Algumas pessoas andam pelos pisos de mármore ou

esperam nos balcões de check-in. O alerta refinado de um

elevador ecoa. Sob os meus pés, um mosaico lindo se espalha em

todas as direções, levando a uma área de estar luxuriante, com

plantas em vasos. Além da área de check-in ficam alguns arcos

elegantes de creme pálido e ouro. Um teto em formato de abóboda

me faz sentir como se eu tivesse entrado em um palácio romano.

Então, meu olhar é atraído para cima, para a peça central

do lobby Bellagio, e sem dúvida, a razão pela qual Jonah me

trouxe aqui. Vigas do teto fluem na direção de uma obra-prima de

luz e vidro. Centenas e centenas de o que parece ser guardachuvas

de cabeça para baixo, ondulando ao longo do teto em

turbilhão de cores.

“Fiori di Como”, Jonah diz, caminhando ao meu lado.

“Flores de Como de Dale Chihuly.”

“O seu ídolo”, murmuro, olhando para o magnífico buquê

de flores de vidro delicados que brotam do teto.

“Vinte e um metros de comprimento e nove metros de

largura”, Jonah diz, com sua voz baixa e reverente. “Mais de duas

mil peças.”

“É incrível”, digo, então olho para Jonah. “Sua obra é

melhor.”

Ele sorri, mas é um sorriso carregado com algo além de

tristeza. Algo tão forte e profundo, que desejo voltar atrás, para

encontrar uma saída e fugir de tudo o que ele quer me dizer.

“Dale Chihuly é um verdadeiro mestre”, Jonah diz. “Um

virtuoso. A minha esperança é poder criar algo como ele criou.

Algo mais do que apenas uma bela peça de vidro.”

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“Como o quê?” Pergunto em voz baixa.

“Um legado”, Jonah responde. “Vamos sentar por um

minuto.”

Ele me leva para os sofás marrons diretamente debaixo do

vidro soprado de Chihuly. O sofá é suave e me instiga a relaxar

em suas almofadas, mas me sento ereta, me preparando.

Jonah se inclina para frente, apoiando os antebraços nas

coxas e girando o bracelete de alerta médico ao redor. Eu posso

vê-lo medindo palavras e montando frases, articulando até ter a

coragem de me dizer algo que irá mudar tudo.

“Se você vai me pedir em casamento, a resposta é não”, eu

digo. “Nós mal nos conhecemos. Eu preciso de pelo menos mais

três cupcakes.”

Jonah ri levemente.

“Não é isso?” Eu digo, tentando aliviar o momento, mas

minha voz não ajuda muito. “Você é gay?”

Jonah olha para mim, em seguida, seus olhos escuros

ficam quentes e suaves. “Segundo erro”, ele diz.

“Ok”, digo, engolindo em seco. Minha próxima e última

questão presa na minha garganta. Uma vez feita e respondida,

minha vida nunca mais será a mesma. “Você está doente?”

“Sim, Kacey.”

“Quão doente?”

“Doente Terminal.”

As palavras caem no espaço entre nós como uma granada

pronta para explodir. Meu peito se aperta como se eu tivesse

inalado ar abaixo de zero. Eu balanço a cabeça vigorosamente,

enquanto tento processar e rejeitar a notícia.

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“Ok”, digo. Mexo minhas mãos pelo cabelo e as mantenho

cruzadas por trás do meu pescoço. “OK. É o seu coração?”

“Sim”, Jonah diz. “Rejeição crônica de transplante.”

Meu cérebro percorre tudo que eu já ouvi falar sobre a

rejeição de órgãos, o que não é muito. “Eu pensei que fosse algo

que já teria acontecido até agora.”

“A rejeição aguda, por vezes, acontece logo após a cirurgia.

Eles dão medicamentos para acalmar o sistema imunológico, e

normalmente eles funcionam.”

“Mas você toma todas as drogas.”

Ele assente. “Eu tomo. Mas em vez de um protesto

eventual, meu sistema imunológico tem estado combatendo meu

coração ao longo do tempo, rejeitando-o lentamente, apesar dos

remédios.”

Seus braços rodeiam minha cintura, agarrando punhados

de minha camisa e me abraçando apertado. “Como você sabe que

é o que está acontecendo? Você não parece doente.”

“Receptores de transplante de coração tem que fazer uma

biópsia a cada mês para testar esse tipo de coisa. Na minha

terceira biópsia, há oito meses, eles encontraram evidências de

aterosclerose, e...”

“O que é isso?” Eu digo, com minha voz áspera e acusando,

como se ele estivesse inventando as palavras.

“Endurecimento das artérias”, ele diz. “O diagnóstico real é

cardíaca doença vascular do enxerto. CAV. O sistema imunológico

ataca o coração, a partir de tecido de cicatriz. O tecido cicatricial

acumula e começa a desgastar o coração até que, eventualmente,

ele falha.”

Eu odeio o teto então. Todas as cores brilhantes e alegres e

bonitas. Uma festa em fúria sobre o horror e injustiça me

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estrangulando. Eu olho para o chão lustroso e liso, tentando

respirar.

“Como...?” Mais uma vez, tenho que engolir o caroço duro

depositado na minha garganta. “Quanto tempo?”

“Quatro meses, neste momento. Talvez mais. Talvez

menos.”

Meu coração entra em queda livre, e minha pele fica fria, da

cabeça aos pés como se eu tivesse sido mergulhada em água

gelada. “Quatro meses?”

Quatro meses.

Dezesseis semanas.

Cento e vinte dias.

Quatro meses é nada.

“Oh meu Deus”, eu sussurro, as palavras espremidas para

fora do meu peito. Sinto as lágrimas molhadas no meu rosto.

Sinto uma lâmina gotejando sob meu queixo e rastejando pelo

meu pescoço. Estou chorando. Estou respirando, pulsando e viva.

E Jonah está morrendo.

Ele estende a mão como se quisesse me confortar, mas a

deixa cair. “Sinto muito”, ele diz.

Uma gargalhada escapa de mim, ecoando os arcos de

mármore. “Por quê? Por que você está pedindo desculpas a mim?

E por que você não me contou antes?”

“Se você pudesse ver seu rosto agora, você saberia o

porquê.”

As lágrimas escorrem do meu queixo, ainda mais. Eu só o

encaro, boquiaberta e perplexa.

“Foda-se”, ele diz, esmagando um punho no braço do sofá.

“Eu odeio fazer isso com as pessoas. Eu odeio o que isso faz com

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você, e o que faz comigo. Torna tudo tão real, quando tento

manter minha cabeça baixa e sobreviver. Superar. Chegar até

outubro com uma obra acabada e...” Ele aponta para o teto

acima. “Isso. Um legado. Eu só quero deixar uma parte de mim

para trás que signifique algo.”

“Sua rotina...” Eu digo, usando um pouco de minha manga

para limpar meu rosto. “Agora entendo. Mas não entendo por que

você afastou todos os seus amigos. Para poupá-los? Você não

acha que eles preferem decidir por si mesmos? Você não acha que

eles gostariam de estar com você...?”

“Eu sei que eles gostariam”, ele diz. “Eu tive que dizer a

minha mãe o que eu te disse. Eu tenho que ver minha família e

amigos e contar os minutos, sempre que estão comigo. A dor em

seus olhos, as palavras cuidadosas, os abraços de despedida que

duram um pouco de tempo demais. Percebo através do Oscar,

Dena e Tania, percebo pelo Theo e meus pais... vejo neles, o

porquê tenho que fazer. Qualquer outra pessoa... não suportaria.

Eu tenho o meu círculo e é isso. Eu não quero dizer às pessoas

que estão fora desse círculo. Não quero que elas tenham que

descobrir. Eu não deixo ninguém entrar...”

“E ainda assim”, digo, engolindo o ar, tentando obter

autocontrole. “Aqui estou.”

“Aqui você está...”, Jonah diz, com os olhos varrendo meu

rosto. “Acredite em mim, eu não queria te deixar entrar. Mas foi

quase como se...”

“O quê?” Eu sussurro.

“Como se eu não tivesse escolha”, Jonah diz. “Eu tentei

manter o círculo fechado e minhas paredes erguidas, manter a

minha rotina... Mas você entrou de qualquer maneira.” Ele

gentilmente limpa uma lágrima do meu queixo. “Você sente isso

também, certo?”

Eu balanço a cabeça. “Sim.”

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“Kace...” Ele balança a cabeça, passa as mãos pelo cabelo,

lutando consigo mesmo. “Eu não quero que você tenha que

passar... pelo que vai acontecer. É por isso que agi como um

idiota mais cedo esta noite. Vi isso se desenrolar até o fim, e...

não posso fazer isso com você.”

Ficamos em silêncio. As pessoas iam e vinham passando

pelo nosso sofá, alheias ao que estava acontecendo.

“Como é que sabem que são quatro meses?” Eu digo.

“Como podem ser tão específicos?”

“Eles podem dizer. Apesar…”

“Apesar do quê?” Digo, agarrando a cada palavra como uma

mulher se afogando, agarrando um pedaço de bote salva-vidas.

“Eu deveria fazer uma biópsia a cada mês. Assim, os

médicos poderiam ser ainda mais específicos. Mas eu parei de ir.”

“Por quê?”

“Porque é um processo terrível de merda e isso me derruba

por quarenta e oito horas. Eu tenho muito trabalho a fazer na loja

para perder esse tempo. Em segundo lugar, não preciso de uma

biópsia para saber. Os sintomas vão aparecer.”

“Quais sintomas?” Pergunto.

“A fadiga e falta de ar, principalmente.” Jonah brinca com o

bracelete de alerta médico. “Eu tenho isso por agora, mas é

pouco. Eu não posso mais correr, ou ir na academia como eu

costumava fazer. Mas quando começar a ficar cansado fazendo

pequenas coisas, ou achar que é difícil recuperar o fôlego, sem

motivo, eu vou saber. Não preciso contar os dias no mesmo

período.”

Um raio de esperança, uma pequena chama no meio da

tempestade, vem à tona no meu coração. “Então... você não sabe

de verdade. Você não tem ideia de quão ruim — ou não — a

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cardio... a coisa CAV é. Talvez tenha sido interrompido. Talvez os

remédios que está tomando estejam funcionando.”

“Não...”, ele diz.

Não dou ouvidos. “Você é como o gato de Schrödinger.

Enquanto não fizer outra biópsia, a tampa da caixa está fechada.

Você poderia viver um longo tempo. Anos, mesmo. Felizmente no

escuro.”

Ele sorri um pouco. “A ignorância é felicidade, certo? Mas

eu não tenho falsas esperanças, e não quero que você tenha. Eu

não estou em negação, mas não estou convidando à luz dura e

fria do dia para me torturar. Você pode ver a diferença?”

Eu balanço a cabeça, e ele pega minha mão. Seus dedos

enrolados em torno dos meus e segura firme. Sua mão... forte e

sólida. A cicatriz de queimadura na ponta do polegar... mas fora

isso, saudável. Ele tem que ser saudável...

“Eu tentei me convencer que os médicos estão errados”,

Jonah diz. “Mas você não pode fugir da verdade. Não estou sem

esperança, mas sou realista. Eles podem estar errados. Eles

provavelmente não estão. Essa é a minha conclusão.”

“Mas e se estiverem errados? E se...?”

Ele balança a cabeça. “Tudo o que posso fazer é viver dia a

dia... Eu tomo medicamentos extras para tentar retardar o CAV.

Faço a minha dieta rigorosa ainda mais rigorosa e durmo em uma

cadeira em vez de uma cama. Qualquer coisa para conseguir um

pouco mais de tempo para fazer o meu trabalho e ver a exposição

da galeria.”

Eu luto por um outro argumento, mas não tenho nada.

Exalo profundamente. “Pode ficar registrado que passei por essa

conversa sem uma bebida ou um cigarro?”

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Ele ri e nossos olhos se encontram, um momento, num

piscar de olhos, e então nós estamos nos braços um do outro,

segurando forte.

“Jonah...” Eu sussurro contra o seu pescoço.

“Eu sei.”

“Eu não... Eu não posso...”

Ele me embala gentilmente. “Eu sei.”

Ficamos lá um longo tempo, até que Jonah me dá um

aperto final e me segura pelos ombros. “Vamos voltar. Está tarde.

Vamos dormir um pouco e na parte da manhã...”

“Jimmy vem para me levar ao aeroporto”, digo. “O que faço,

então?”

“Você vai com ele. Fale com Lola. Decida se quer ficar com

a banda ou encontrar uma maneira de sair se é isso que você

precisa fazer. Você vai encontrar um caminho.”

“E você?”

“Não se preocupe comigo.”

Eu olho para ele bruscamente. “Um pouco tarde para isso,

amigo.”

Seu sorriso é suave e tranquilo, e sua voz treme enquanto

fala. “Você pode manter contato comigo ou não. Se quiser

continuar, eu estarei aqui para você. E se você não fizer, vou

entender. Eu prometo que vou entender. Ok?”

Eu não respondo que tudo bem. Nada disso está bem.

Minha mente não processou tudo, porém; tenho mais lágrimas

para chorar, mas agora os meus olhos se sentem drenados e

dormentes. Nós caminhamos para fora do Bellagio de mãos

dadas, para fora sob as flores de vidro; um jardim que nunca vai

murchar ou morrer.

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Voltamos para a sua casa. Sem discussão, eu empilho os

travesseiros no alto da cama para que ele fique inclinado, então

deito enrolada ao lado dele.

Eu entendo por que ele não conta a todos sobre sua

situação. Dor como esta, está além do âmbito privado ou pessoal.

Fica lá no fundo, abaixo de tudo que é superficial, e convoca a

todos que sabem para ir lá no fundo com ele. Fecha distâncias.

Nós ficamos enrolados um no outro, e coloco minha cabeça

contra seu peito.

“Será que isso dói?” Eu sussurro.

O estrondo de sua voz no meu ouvido está sonolento. “Não.

Estou bem.”

“Alguma coisa está doendo agora?”

“Não, Kacey.” Jonah acaricia meu cabelo, me segura mais

apertado. “Neste momento, nada dói.”

Ele sobe e desce com a respiração fácil. Sob o meu ouvido,

seu coração bate forte e constante.

Um lampejo de esperança em mim queima, determinado a

perdurar por toda a noite.

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CAPÍTULO 17

kacey

Olho pela janela para ver um sedan preto no

estacionamento da casa de Jonah. Jimmy Ray sai, encosta-se ao

para-choque e acende um cigarro.

Viro para ficar de frente para Jonah no balcão da cozinha.

“Ele está aqui”, digo.

“Ok.”

“Tenho que ir”, digo, tentando reunir forças para a decisão

que está por vir. Eu fui dormir na noite passada flutuando sobre

a paz, esperança, e acordo me sentindo enjoada. O impacto da

revelação de Jonah desce como uma tempestade uivando pela

minha cabeça. Na noite passada eu pensei que sabia o que fazer.

Esta manhã, não sei onde eu estou e não confio em mim mesma

para ser forte o suficiente por qualquer um. A banda, Jonah, nem

sequer eu mesma.

Minha única certeza é de que se não continuar a turnê

enquanto tento descobrir as coisas, vou quebrar o meu contrato,

e serei deixada sem opções.

Viro para a janela. “Vamos.”

fora.”

Jonah toca meu ombro suavemente. “Eu vou levá-la lá

Ele carrega minhas bolsas para mim até o estacionamento,

onde Jimmy espera com impaciência, o enjoativo calor, o torna

ainda mais ansioso do que o habitual.

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Eu me inclino para perto de Jonah. “Não quero dizer adeus

com ele assistindo.”

“Nem eu.”

“Preciso de mais de um minuto, Jimmy”, eu falo, minha voz

áspera com o eco das lágrimas.

Jimmy olha para o relógio e murmura algo enquanto Jonah

coloca as bolsas na beira do estacionamento. Nós caminhamos

para o pequeno pátio e eu noto que ele usa uma jaqueta leve

embora a temperatura deva estar em torno dos 37°C. Ele puxa

uma caixa pequena do bolso e a estende para mim.

“Um presente de despedida”, ele diz, com um tremor na

borda de sua voz.

Pego a caixa e abro. O sol brilha sobre vidro e lágrimas

turvam meus olhos. É o frasco de perfume, acabado e perfeito.

Faixas elegantes de violeta e índigo giram em torno de seu corpo

pequeno e achatado. O pescoço aberto em um círculo plano e a

rolha é um belo mármore, claro. Seguro, deixando o sol brilhar

através do interior vazio.

Não está vazio, penso. Ele carrega a respiração de Jonah.

Medo de que eu deixe cair, coloco a garrafa de volta em sua

caixa e seguro firmemente para mim. Olho para ele. “Estou com

medo”, sussurro. “Eu tenho medo de que se eu for embora, esteja

falhando. Se eu ficar, estarei falhando com a banda. E com você.

Você disse que rodear em torno dos hospitais não era coisa da

sua ex-namorada. Não é a minha também. Estou com tanto medo

de deixar você se eu ficar.”

Seu sorriso é tão doce e quente, mas triste também.

Amarelo tingido com azul. “Você não pode me deixar. Não espero

nada de você, Kacey. Apenas amizade, muito ou pouco, o quanto

você quiser dar.”

“Eu não sei o que fazer.”

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“Você saberá”, Jonah diz. “Vá para o seu quarto em sua

próxima casa ou no hotel, longe da banda. Feche a porta e

tranque-a, e com calma, pergunte-se o que você realmente quer

fazer. Você, Kacey Dawson. O que você quer para si mesma? Não

pense em mim, em Lola ou Jimmy ou qualquer outra pessoa. Só

pense em você.”

O que eu quero. Eu achava que sabia, mas poderia voltar

aqui para isso? Eu poderia encontrar força para ficar sozinha? E

se eu fizesse, o quão rápido os quatro meses passariam? Eu

poderia assistir Jonah...?

Estremeço, disposta até mesmo terminar o pensamento, e a

covarde em mim sussurra que não tenho fibra para o que quero.

“Os contratos são quase impossíveis de quebrar”, digo. “Eu

poderia ser presa, não importa o quê.”

“Você pode. Mas a coisa certa vai sempre encontrar um

caminho.” Ele dá um passo mais perto. “Cuide-se, ok? Acima de

tudo, cuide de si.”

Eu balanço a cabeça e me inclino contra ele. Seus braços

me rodeiam e viro meu rosto em seu peito, inalando

profundamente. Eu quero levar algo de Jonah comigo, a parte que

me mantém firme, calma e tranquila.

Nós caminhamos de volta para o estacionamento, onde

Jimmy está andando na frente do sedan e puxando a gola de sua

camisa com o calor.

“Jesus, gatinha, estou morrendo aqui fora. Vamos ir logo.

Temos que estar no aeroporto em duas horas.”

Ele e Jonah olham um para o outro enquanto o motorista

do sedan leva minhas bolsas e as arruma no porta-malas. O

motorista abre a porta para mim, e Jimmy faz sinal para eu

entrar.

Jonah nivela um dedo para Jimmy. “Você, cuide dela.”

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“Claro. Temos uma banda de abertura completamente

nova, como prometido.” O sorriso de Jimmy é brilhante e falso.

“Eu cuido das minhas meninas. São como filhas para mim.”

Jonah levanta uma sobrancelha, e seu olhar endurece

como gelo.

Jimmy tosse. “Não importa”, ele diz, subindo no carro.

“Temos um horário a cumprir.”

Viro para Jonah. Ele olha para mim e nossos olhos se

encontram. No segundo seguinte eu estou de pé na ponta dos pés

e pressionando meus lábios nos dele. Ele faz um som dentro do

seu peito, como tivesse dor, e sinto a dor em mim. Eu me afasto

antes do beijo suave se tornar uma promessa forte que eu não

poderia manter.

Eu me viro e entro no carro e sem olhar para trás. Nem

mesmo para acenar.

Eu não estou pronta para dizer adeus.

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CAPÍTULO 18

kacey

A mansão em Summerlin está destruída. Estou no centro

do meu quarto, olhando para a bagunça. As queimaduras de

cigarro no carpete, o resíduo de maquiagem na pia, manchas não

identificáveis sobre o tapete.

“Eu fiz suas malas”, Lola diz da porta.

Eu pulo, meu coração acelerado. “Você me assustou.” Meus

nervos estão em frangalhos. Sento na cama desfeita e aliso o

edredom, como se ajudasse. “Este lugar está um desastre.”

Lola dá de ombros. “É para isso que servem os depósitos de

caução.” Ela cruza os braços. “Então... Você está com a gente?”

“Estou aqui, não estou?”

“Você está aqui, mas você está com a gente. Eles não te

chamam para fazer parte de uma banda para nada, você sabe.

Precisamos tocar como um todo. Você está pronta para fazer isso

agora?”

Dou de ombros, sem olhar para ela. “Certo.”

Ouço Lola suspirar e deslocar sobre os calcanhares. “É o

cara? O motorista da limusine?”

“O que tem ele?”

“Ele é um outro Chett? Outro cara que vai te foder sabe

Deus quantos anos? Porque, honestamente, Kacey...”

“Ele está morrendo.”

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Os braços de Lola caem em suas laterais. “O que quer dizer

com ele está morrendo?”

Olho para ela, balanço a cabeça.

O queixo inclinado. “Quer dizer, como, morrendo,

morrendo?”

Eu balanço a cabeça.

“Câncer?”

“Insuficiência cardíaca. Lenta falência cardíaca.”

Lenta falência que vai levá-lo rápido pra caralho...

“Merda.” Lola senta ao meu lado na cama. “Oh, querida, eu

sinto muito.” Ela coloca os braços em volta de mim, embora

quase não a sinta. “Bem. Você o conheceu na sexta-feira à noite,

certo? Ou sábado de manhã? Quando você recuperou a

consciência em seu sofá?”

“Sim”, digo. “E daí?”

“Então... É chato que ele esteja doente, mas você o

conheceu há quatro dias. Se isso.”

Eu pisco para ela. “E?”

“Eu só estou dizendo, você descobriu antes de ficar muito

profundo. A última coisa que você quer é se envolver com alguém

que não pode te dar um futuro.”

“Não.” Eu me levanto da cama, balançando a cabeça

vigorosamente agora. “Não, você não vai fazer isso.”

“Fazer o quê? Trazer você de volta à realidade?”

“Falar sobre ele. Você não o conhece.” Aceno minhas mãos.

“Deixa para lá. Não vou falar com você sobre ele. Ou sobre esses

quatro dias. Eles são meus. Então, vamos... porra, logo. Temos

que pegar um avião.”

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“Fico feliz em ouvir isso”, uma voz diz da porta. Jeannie se

encosta na moldura, com braços cruzados sobre o camisa preta,

mostrando o sutiã de renda preto. Ela afasta uma mecha de

cabelo escuro de seus olhos. “Você está pronta para se juntar a

nós?”

“Nós estamos bem, Jeannie”, Lola diz, olhando para mim,

seus olhos suaves com compaixão, mas rígidos dizendo para não

foder com isso. “Ela está pronta. Certo? Só precisava de uma

pequena pausa. Algum tempo para relaxar. Nada de errado com

isso.”

“Sim, eu descansei”, digo. “Agora estou pronta.”

“Bom” Jeannie responde. Quando passo por ela, a garota

lança para fora a ameaça vazia que vem jogando em mim desde

que entrei para a banda: “Porque há uma centena de guitarristas

que morreriam para ter o seu trabalho.”

Eu murmuro, “Não diga?”

Sexta-feira é o primeiro concerto em Denver e faço o show

sóbria.

Dizer que foi um desastre seria gentil.

Eu fodi o meu solo em “Talk Me Down” entrei tarde demais

em três músicas diferentes, e errei os acordes da introdução de

“Taste This” no final do compasso, esquecendo que já tinha

tocado. Jeannie teve que parar o show e fazer uma piada sobre

um refrão precoce, enquanto me lançava um olhar mortal.

“Que porra é essa, Kacey?” Ela grita para mim na sala

verde. “Você vai e tira um tempo por quatro dias, supostamente

para se recompor, e depois volta mais esquisita do que antes.

Você está tentando nos arruinar?”

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Violet e até mesmo Lola estão à espera de uma resposta.

“Sinto muito”, digo. “Eu estava fora de mim esta noite. Vou

ficar bem amanhã, prometo.”

Mas não fico. Não lá dentro, de qualquer maneira. Eu

consigo acertar no show na noite seguinte, sem foder, mas no

segundo que acaba, me afogo na bebida da sala verde.

O primeiro gole queima com o uísque que quase me faz

vomitar. O segundo é melhor. Até o quinto, a dor no meu coração

não sumiu totalmente, mas fica suportável.

Nós festejamos de volta no nosso hotel, com a banda — e

cinquenta dos nossos mais próximos amigos lotam as suítes que

Jimmy alugou. Eu nunca fui claustrofóbica, mas sinto isso

aquela noite. Muitos corpos, falando muito alto e bebendo

demais. Fumaça — de maconha e cigarros — paira no ar como

uma névoa cinzenta, e a música está tão alta que eu mal posso

ouvir o cara pendurado meu ombro. Ele é alto, bonito como um

espécime masculino deveria ser. Como um mafioso. Sua barba

arranha meu rosto quando ele se inclina. Não é um fã ou parte da

equipe. Um amigo dos executivos de gravadoras, talvez. Ou não.

Eu não sei quem ele é e eu estou bêbada demais para descobrir.

Será que isso importa?

Ele poderia ser qualquer um, e eu poderia ser qualquer uma

para ele.

“Qualquer um, mais ninguém é igual a ninguém”, eu

divago.

“Você está perdida”, ele ri. E se inclina, sua respiração

molhada com vodca na minha orelha. “Você quer sair daqui?”

“Sim”, digo. “Eu realmente quero. Eu realmente quero sair

daqui, porra.”

Ele sorri com os olhos meio entreabertos e começa a me

puxar. Eu resisto e me afasto dele, cambaleando um pouco.

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“Vou retocar a maquiagem”, eu digo.

Isso o anima ainda mais. “Você tem um pouco de pó?”

“Eu tenho que fazer xixi”, digo em voz alta.

Passo por Jimmy, Violet e Lola, todos conversando e rindo.

Eu abaixo e me esquivo para evitar ser notada. Ignorando o

banheiro, corro para fora da suíte, até o fundo do corredor, para o

meu quarto. O desenho padrão de roda no tapete me faz ficar

tonta. Eu espero que o mafioso apareça qualquer momento atrás

de mim, como se fosse um filme de terror ruim que eu já tinha

visto e sabia o que ia acontecer.

Eu me atrapalho com o cartão chave na fechadura e

praticamente caio lá dentro. Bato a porta, tranco e jogou o cartão.

A força se esvai de mim e deslizo pela porta, com lágrimas

escorrendo pelo meu rosto. Esfrego meus olhos e meu rímel

mancha a parte de trás das minhas mãos.

Mesmo a dois quartos de distância, ainda posso ouvir a

festa. Eu cubro meus ouvidos, olhando para a bolsa no meu colo,

meu celular deslizando para fora. Eu o pego, vou para meus

contatos e encontro o número de Jonah. Meu polegar paira sobre

o botão de chamada, mas não o toco. Não posso ligar para ele

bêbada e histérica. Isso iria preocupá-lo até a alma e o que ele

poderia fazer de qualquer maneira?

É muito humilhante, porra. Nós fomos separados antes

mesmo de estarmos juntos, e eu já caí fora. Ele provavelmente já

terminou mais oito peças de sua obra. Seu legado. Estou bêbada

em um quarto de hotel.

Tiro meus sapatos de salto alto preto e me esforço para

ficar em pé, minha visão focada no minibar. Abro, pego uma

pequena garrafa de algo marrom e começo a torcer o topo, pronta

para virar a noite no esquecimento.

Então meu olhar turvo pousa no frasco de perfume. O belo,

perfeito desenho com suas faixas delicadas de espiral roxo em

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torno do seu meio. Eu encaro. Não por acaso a minha pessoa

sóbria colocou essa peça em cima do pequeno armário acima do

minibar, em vez de deixá-la no banheiro com o resto do meu

perfume.

Eu solto a bebida, mas não pego o frasco de perfume.

Jonah fez para mim. Se o quebrar, não teria nada dele.

Faço uma respiração profunda, pego uma garrafa de água

do bar e fecho a porta com força.

Então vou para a cama.

Por trás de minhas pálpebras fechadas, meus pensamentos

nadam em uma infusão borrada: água e luzes dançantes, fogo e

vidro, e um verde e laranja em torno dos meus ombros. Eu me

enrolo com as cores e, finalmente durmo.

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CAPÍTULO 19

jonah

“Oi. Jonah.”

Eu levanto meu olhar das bolhas flutuando à superfície da

minha cerveja sem álcool. Oscar olha para mim.

“Você ainda está conosco?” Pergunta.

“Desculpa?”

“Você está bem, cara?”

“Certo. Estou bem.” Tomo um gole e finjo estar interessado

nas pessoas que se deslocam e falam em torno de nós. Theo teve

que trabalhar até tarde na Vegas Ink, então são só Oscar e Dena

sentados à minha frente em uma mesa no Aria Hotel, um dos

poucos que não é permitido fumar em qualquer lugar nas

instalações.

The Lift está bem longe de ser os restaurantes pequenos

que normalmente íamos, ou da pequena casa que Oscar e Dena

alugaram em Belvedere. O elevador tem enormes colunas grossas

do que parecia casca de árvore como se fosse ouro, se erguendo

de um tapete redondo roxo e violeta. Os clientes bebem coquetéis

de $12 em mesas e cadeiras roxas, e tem uma parede de ouro

maciço apoiada no bar. É elegantemente berrante, na minha

mente, mas preciso da distração.

Ou pelo menos foi o que eu disse a mim mesmo. Nunca

fiquei insatisfeito com as nossas saídas habituais antes, mas

Kacey Dawson jogou cor e luz em minha vida, e o que era

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E m m a S c o t t

habitual para mim agora parece simples e monótono. O elevador

não é nada simples e monótono, mas o roxo me faz pensar em

Kacey. Esfregando sua ausência na minha cara.

Quem estou enganando? Tudo me faz pensar em Kacey.

“Conte-me sobre a menina”, Oscar diz. “Eu ouvi de Theo

que você tinha uma estrela do rock dormindo com você. Rapid

Confession está na rádio o tempo todo no trabalho. São a grande

sensação do momento, homem, e você estava com a guitarrista

em seu sofá?”

“Não é grande coisa. Ela precisava de uma pausa das festas

e agora está de volta com sua banda.”

“Mas ela ficou com você por quatro dias.” Oscar balança as

sobrancelhas. “Qualquer coisa interessante que você gostaria de

relatar aconteceu durante esse período de tempo?”

Eu esperava que Dena repreendesse o namorado por ser

grosseiro, mas seu olhar escuro não tinha essa intenção. “Ela foi

uma boa companhia? Você gostou de tê-la ali? Conte-nos tudo.”

Eu sei que o interesse de Dena é ligeiramente mais

refinado: ela estudou literatura clássica e poesia do Oriente

Médio, e é uma verdadeira romântica. Ainda assim, é uma

anomalia ter deixado alguém entrar no meu círculo, e a

curiosidade flui deles em ondas, me atingindo de todos os lados.

Eu tomo um gole da minha falsa cerveja para ajudar a acalmar a

minha irritação. Eles têm boas intenções, mas me sinto como

uma criança voltando para casa para relatar a primeira paixão.

“Não há muito para dizer”, explico. “Ela principalmente

descansava enquanto eu trabalhava na Hot shop ou na A-1. Eu

fui jantar com minha família no domingo e ela pediu uma pizza

sozinha.”

“Você cancelou com a gente, embora, para ficar com ela”,

Oscar diz. Ele sorri conscientemente sobre sua cerveja. “E Theo

disse que ela é gostosa.”

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E m m a S c o t t

“Ele disse?” Eu tomo um gole de cerveja. “Isso é

interessante.”

“Ele disse.” Oscar recosta-se na cadeira. “Então você teve

uma estrela do rock linda em seu apartamento durante quatro

dias. Por favor, me diga que você não deixou uma situação como

essa terminar com um abraço ou um aperto de mão.”

Dena golpeia o braço de Oscar. “Você vai vê-la novamente?”

“Eu não sei. Acho que não. Ela quer romper seu contrato

com a banda, mas não é fácil. Se é mesmo algo que ela quer

fazer...”

“Você gostaria de vê-la de novo?”

Com tudo o que eu...

“Não tenho muito a dizer. Ela vai estar em turnê por

meses.”

“Existem dispositivos mágicos chamados telefones.” Dena

descansa a palma da mão em seu queixo, com as sobrancelhas

levantadas. “Você pode ligar para ela, não pode? Mensagens?

Skype?”

“Ela precisa de espaço para descobrir o que quer, sem

minha interferência”, digo. Oscar começa a responder, mas eu o

interrompo. “Olha, não sei o que vai acontecer daqui em diante,

ok? O que eu sei é que tenho um monte de trabalho a fazer antes

da exposição da galeria. Portanto, é melhor não ter distrações.”

Um curto e tenso silêncio paira, seguido pela culpa que

sempre me golpeia nos raros momentos que brigo com alguém.

Começo a pedir desculpas por ser uma companhia de merda, mas

Oscar e Dena não são meus melhores amigos atoa. Suas

preocupações comigo são palpáveis nesse bar chamativo e

barulhento. Oscar se inclina para mim, com a expressão séria,

enquanto Dena desliza a mão por cima da mesa pegando a dele.

“Conta pra gente.”

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E m m a S c o t t

Coloco o meu copo de cerveja na mesa, fico girando e

girando sobre a mesa roxa. “Ela teve que ir”, digo calmamente.

“Eles acabariam com ela se quebrasse o contrato. Kacey precisa

decidir o que é melhor para ela, e de qualquer maneira eu não

podia pedir para ela ficar.”

“Por que não?”

Dou a eles um olhar. “Você sabe o motivo. Você sabe por

que não me envolvo. Não tenho nada para oferecer, somente a

amizade com uma data de expiração.” Esfrego minhas mãos pelo

cabelo. “Foi estúpido. A coisa toda. Imprudente e estúpido.”

“E sobre o que você quer, Jonah?” Dena pergunta. “O que

você quer?”

Olho para os meus amigos que estão juntos durante o

tempo que eu os conheço. A procura de Dena por significados

mais profundos é o contrapeso perfeito para Oscar, que percorre

a vida somente na superfície como um jet-ski. Ela o castiga, ele a

faz rir. Meu olhar se desvia para as mãos dadas, sua pele escura

contra a pálida, seus dedos entrelaçados. Lembro da mão de

Kacey na minha no restaurante.

Não foi o suficiente. Eu quero mais…

Mas eu não posso ter mais.

Dou um sorriso. “Quero terminar a minha obra, e quero

outra cerveja sem álcool de oito dólares.”

Oscar começa a rir e parece contente em deixar o assunto

morrer. O sorriso de Dena é direcionado a mim o resto da noite, e

sei que ela não irá me deixar escapar tão facilmente.

Sendo sempre o motorista da rodada, deixo Oscar e Dena

em sua casa.

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E m m a S c o t t

“Não se esqueça”, Oscar diz, apertando a minha mão e me

puxando para um meio abraço antes de ir embora. “Great Basin,

viagem de acampamento em três semanas. Certifique-se de tirar

um tempo do trabalho.”

“Já está agendado”, eu digo.

A alegria na minha voz é forçada: estou preocupado com a

perda de trabalho no Hot shop e a perda de dinheiro do meu

trabalho, mas Oscar e Dena planejaram esta viagem há meses.

Eles querem passar tempo comigo e não posso dizer não. São

meus amigos mais antigos, os únicos amigos que eu não posso

deixar de lado quando meus últimos resultados da biópsia já são

conhecidos. Eles estão enraizados em minha essência, não

importa quanto tempo minha vida ainda vá levar.

Dena dá a volta para o lado do motorista, usando o olhar

maternal que significa que vem um sermão, geralmente precedido

por uma citação de seu poeta favorito, Rumi.

“O que é falso incomoda o coração, mas a verdade traz uma

alegre tranquilidade”, ela diz.

“E o que isso significa, amor?”

“Significa que você sente falta desta garota. Não finja que

não. Você vai se sentir melhor sendo fiel a seus sentimentos.” Ela

apoia as mãos na janela aberta. “Eu não gosto de falar sobre sua

agenda, você sabe disso.”

Balanço a cabeça. ‘Minha agenda’ tornou-se um eufemismo

para o tempo que me resta. A ‘exposição da galeria’ é a linha de

chegada que preciso atravessar.

“E sei que você quer deixar uma bela peça de arte para

trás. O seu foco está apenas no destino, não na jornada.” Dena

coloca a mão na minha bochecha. “Você não deveria também

tentar fazer a coisa mais importante ao longo do caminho?”

Eu cubro sua mão com a minha. “O que é?”

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E m m a S c o t t

“Ser feliz.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 20

kacey

Cidade: Salt Lake

Nove dias sem Jonah. Cinco dias sem bebida.

Observo as bolhas dançarem na minha taça de

champanhe, mas eu não bebo. Nem uma gota desde a última

noite de bebedeira no quarto de hotel de Denver. Cada nervo do

meu corpo grita por um gole, mas só giro o copo delicado dando

voltas e voltas. Dão fichas de sobriedade por cinco dias? Eu

duvido disso, mas deveriam. Cada porra de hora em que não cedo

à necessidade é uma batalha.

Sento em uma enorme cabine com formato de meia-lua

com dez outras pessoas na seção VIP do clube. A música é alta e

implacável; posso sentir as batidas na base do meu peito. Corpos

se contorcem na pista de dança um nível abaixo. Em nossa

cabine, conversa e risos giram em torno de mim. As meninas do

RC estão flertando com os caras da nossa nova banda de

abertura. Todo mundo está feliz que nosso mais recente conjunto

de shows correu bem, mas tudo que eu consigo pensar é que

estou no lugar errado, fazendo a coisa errada com as pessoas

erradas.

Sento apertada entre Jimmy Ray e Phil Miller, o

proprietário deste clube e, por acaso, do Pony Club, em Las

Vegas. Ele se vira para mim agora, mudando o volume em minha

direção com uma rajada de suor e muita colônia.

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E m m a S c o t t

diz.

“Então você é a pequena criadora de problemas, não é?” Ele

Ele fuma um charuto que cheira vagamente como alcaçuz.

Eu odeio alcaçuz. Meus ombros se retraem e fico lá. Tem quatro

pessoas à minha direita, cinco à minha esquerda. Estou presa e

espremida no meio da cabine.

“Sabe, vai me custar uma pequena fortuna para consertar

meu salão verde.”

“Desculpe por isso”, eu murmuro.

Jimmy vira em nossa direção. “Vamos lá, Phil. Não vamos

pular direto para os negócios sem um pouco de prazer em

primeiro lugar, certo?” Ele passa o braço em volta de mim, sua

mão deslizando em meu braço nu. Estou usando um top de seda

em camadas sobre o outro, parte superior mais apertada, tanto

como o de baixo. O olhar de Phil parece permanentemente colado

ao meu decote. “Kacey gosta de se divertir, isso é tudo. Às vezes

um pouco demais.”

O proprietário do Pony Club mastiga com a boca molhada

seu charuto. “O inferno, eu não posso culpá-la, querida. Eu gosto

de me divertir também.” Sua mão direita pousa na minha coxa

sobre a calça de couro. Humilhação e raiva aquecem meu rosto.

Phil e Jimmy trocam um olhar que eu não gosto, e, em

seguida Jimmy sussurra em meu ouvido. “Uma ação judicial

seria muito ruim agora, gatinha. Nossa gravadora não tem os

bolsos cheios de uma Sony ou Interscope.” Ele dá um aperto no

meu ombro. “Você estaria fazendo a todos nós um grande favor se

colocar Phil Miller em um humor realmente bom.”

Minha cabeça vira para ele lentamente. “E como,

exatamente, você gostaria que eu fizesse isso, Jimmy?”

Ele se inclina um pouco para trás, rindo. “Que brilho de

aço azul é esse? Só... tome algumas bebidas com ele. Talvez uma

dança ou duas. Veja o que acontece.”

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E m m a S c o t t

“Veja o que acontece.”

De repente, sentada naquela cabine, cercada por pessoas

em um clube lotado, eu me sinto completamente sozinha. Se

Jonah estivesse aqui ele quebraria o nariz de Jimmy e os dedos

assanhados de Phil. Isso é o que iria acontecer.

Mas ele não está aqui. Eu tenho que me defender.

Eu não acerto Jimmy no nariz — eu não quero ferir a

minha própria mão que preciso para tocar guitarra e escrever

canções. Em vez disso, pego o gin de Jimmy e jogo no rosto dele.

Os outros na mesa cessam suas conversas imediatamente e ficam

em silêncio sob a música pulsante, olhando para nós, ou — no

caso dos caras da banda de abertura — rindo ato.

Jimmy tira um lenço. Cubos de gelo pequenos e gin

brilham nas lapelas de seu casaco. “Isso foi um pouco

precipitado, gatinha...”

“Foi atrasado”, digo, e empurro minha bolsa pequena. Fico

de pé na minha cadeira, minhas botas cavando rasgos afiados no

estofamento, e depois subo na mesa. Copos derrubados e

derramo tudo pelo meu caminho.

“Que diabos está fazendo?”

“Estou desistindo, que é que parece que estou fazendo?” Eu

pulo para fora da mesa e aterrisso sem quebrar um tornozelo, que

teria estragado a minha saída, e vou embora do clube. Vozes

gritam atrás de mim, Lola grita mais alto, mas continuo sem

olhar para trás.

Deixo o clube e chamo um táxi. O percurso até o hotel

parece uma eternidade, minutos passando lentamente, mais

tempo gasto fora do contato com Jonah. Nem uma palavra em

nove dias, ou até mesmo uma mensagem de texto. Meu telefone

mudo se ilumina com textos abundantes de Lola, de Jimmy, e

depois telefonemas de ambos. Eu ignoro todos.

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E m m a S c o t t

Na minha suíte, com a porta fechada e trancada, sento na

cama, meu coração batendo forte. O telefone na mão, olho para a

garrafa de vidro roxo na minha mesa de cabeceira. Agora ela

contém um pouco de meu perfume favorito.

Inspiro fundo quando meu dedo escolhe o número de

Jonah, mas meu fico pairando sobre o botão de chamada. São

duas da manhã de uma sexta-feira.

Ele ainda pode estar no trabalho. Ele pode não ser capaz de

falar. Eu poderia mandar uma mensagem de texto em vez disso.

E se ele estiver melhor agora? Talvez ele tenha seguido em

frente, voltado à sua agenda, focado e determinado, sem mim

para distraí-lo.

Talvez ele estivesse falando sério quando disse ser melhor

se eu não entrasse em contato com ele novamente?

Meu olhar volta para o frasco de perfume — a minúscula

bolha de vidro, mas que tem sido meu talismã de força e de

vontade nestes últimos nove dias. Eu tenho que contar ao Jonah

que saí da banda, mas prometi lhe contar: uma mensagem de

texto era fácil de ignorar, e se ele não respondesse, eu não iria

enviar outra.

Saí da banda. Espero que você esteja bem. <3 Kacey

Eu aperto o enviar antes que possa me arrepender do emoji

de coração. Vejo quando o status do texto muda de ‘entregue’

para ‘lido’. Aparecem os pontos que uma mensagem está sendo

digitada.

“Ok. Isso é bom”, digo, com minha voz tremendo, e então

solto um grito assustado quando meu telefone se ilumina com o

número de Jonah.

“Oi”, digo, piscando através das lágrimas estranhas e

súbitas nos meus olhos.

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E m m a S c o t t

“Você está bem?” Sua voz profunda cheia de preocupação e

—tenho certeza — felicidade.

“Eu estou. Estou realmente bem. Eu fiz isso. Saí da banda.

Agora mesmo. Esta noite. Jimmy tentou me prostituir para o

dono do Pony Club...”

“Ele o quê?”

“... mas eu joguei uma bebida em seu rosto. Sério. Foi

incrível.”

“Bom para você”, Jonah diz, mas posso ouvir a raiva por

trás das suas palavras.

“Então, agora eu posso ter arruinado minha vida, ou eu

posso ter me descontrolado. Eu não sei ainda, mas sei que era a

coisa certa. Posso sentir isso. E eu não teria tido a força para

fazer se não fosse por você.”

“Não”, ele diz. “Você teria conseguido. Eu sabia que você

seria capaz.”

Uma risada emocionada explode de mim. “Eu não sabia.”

“Estou realmente feliz por você, Kacey”, Jonah diz

calmamente, e o imagino do lado de fora de sua limusine, à

espera de uma corrida, de costas para o mundo para que pudesse

falar comigo. E ele estaria sorrindo.

“Eu também”, digo. “Mas agora sou uma mendiga semteto.”

Eu respiro enquanto as lágrimas enchem os olhos de novo,

me empurrando em uma onda de emoção que mal posso conter.

“Tem alguma boa dica imobiliária?”

Jonah não diz nada por um momento, e quando fala, sua

voz é grossa e rouca. “Ouvi dizer que Las Vegas é legal nessa

época do ano.”

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E m m a S c o t t

Minha mão dispara para o coração, e preciso de um

segundo antes de conseguir dar uma resposta sussurrada. “Eu

estava esperando você dizer isso.”

“Eu estava esperando você pedir.”

“Eu ainda estou com medo que vou deixar você assim como

Audrey fez.”

“Você não vai me deixar”, ele diz. “Você não é nada

parecida com a Audrey.”

A intensidade em suas palavras me atinge no coração e

envia um formigamento sobre mim. Limpo minhas lágrimas,

reforçadas por sua crença em mim.

“Não haverá erros, de qualquer maneira”, Jonah diz. “Você

vai ser minha amiga e eu serei o seu, e vamos devagar dia após

dia. Ok?”

Eu balanço a cabeça contra o telefone. “Dia após dia.

Momento a momento. Ok”, respondo, e solto um suspiro. “Eu

posso fazer isso.”

“Eu também”, ele diz. “Meu passageiro está vindo. Eu tenho

que ir…”

Sinto como se um fardo tivesse sido tirado dos meus

ombros, e todas as dúvidas que eu tinha sobre largar a banda

viraram cinzas.

“Vejo você em breve, Jonah. Boa noite.”

“Boa noite, Kacey.”

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E m m a S c o t t

PARTE II

Não nos lembramos dos dias, lembramo-nos dos momentos.

—Cesare Pavese

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 21

kacey

Estou em casa. Rua Banks, Número 212, Apartamento 2C,

Las Vegas, Nevada.

Da minha janela da sala, tenho uma visão da Flamingo

Avenue, e a poucos quarteirões depois fica a Strip. Eu posso ver o

vermelho da enorme placa do hotel e cassino Harrah’s. Eu tenho

um quarto, um banheiro, uma pequena cozinha e uma pequena

sacada. É todo meu.

E fica a três quadras de onde Jonah mora.

Eu encerrei tudo com o Rapid Confession há quatro dias,

com duas malas de roupas, minha guitarra e um acordo de US $

30.000.

Jimmy — com a ajuda involuntária de uma muito chateada

Jeannie — foi capaz de me tirar do meu contrato. Um executivo

da nossa gravadora tem uma sobrinha que pode tocar guitarra, e

eles reservaram um voo para ela antes das palavras “estou fora”

terem deixado minha boca. O nosso recente sucesso rendeu

algum dinheiro e para mim sobrou o valor de US$ 30.000. Foi o

que restou depois que meu adiantamento foi pago, dedução das

taxas, os custos dos danos ao Pony Club e contando com os

royalties projetados em vendas de turnês até agora.

Jimmy disse que eu tive a sorte de conseguir alguma coisa,

mas tenho uma sensação que fui roubada de seis maneiras

diferentes desde terça-feira, com o contrato quebrado ou não.

Lola confirmou. Ela ligou enquanto eu estava atarefada com o

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E m m a S c o t t

meu novo apartamento, esperando a minha última peça de

mobiliário — um sofá — chegar.

“Você foi roubada, porra”, ela me disse de Vancouver.

“Trinta mil? Você está brincando comigo? Jimmy disse que vamos

ficar com, pelo menos, um milhão cada depois dessa turnê. Para

cada uma.” A ouço exalar um cigarro. “Eu não sei, Kace...”

Sinto uma pontada no ‘milhão para cada’. Sou humana,

afinal. Mas, principalmente, eu me sinto feliz. “Está tudo bem,

Lola. Eu tenho um novo apartamento e comecei em um novo

emprego.”

“Você me disse. Servindo coquetéis no Caesar’s Palace?

Você honestamente acha que ficar perto de bebidas de graça

durante toda a noite vai ser melhor para você do que continuar

na banda?”

“Sim. Eu não bebia álcool porque estava lá”, digo. “Eu

bebia porque tornava mais fácil fingir.”

“Fingir o quê?”

Dou de ombros, e passo os dedos ao longo do azulejo

barato. Mas é o meu azulejo barato do meu balcão da cozinha.

“Finja que estou fazendo o que eu queria fazer. Ficar por conta

própria é o melhor para mim.”

Lola solta um suspiro. “Ninguém colocou uma arma na sua

cabeça para entrar na banda.”

“Lola”, digo com firmeza. “Eu te amo. Você é minha melhor

amiga. Você salvou a minha bunda e eu nunca vou ser capaz de

pagar por isso. Se continuasse daquele jeito, eu teria acabado

morta ou extremamente depressiva. Você sabe disso.”

Outro suspiro, este mais suave. “Sim, eu sei. Assim como

sei o simples fato que estou uma porcaria porque sinto sua falta?”

Eu sorrio. “Também sinto sua falta. Como está a nova

garota?”

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E m m a S c o t t

“Ela vai bem. A Jeannie não a odeia. Ainda.”

“Dê-lhe um tempo.”

“Como está a sua casa nova? Você não vai exagerar com

sua enorme fortuna, não é? Trinta mil parece muito, mas acaba

rápido. Especialmente com um salário de garçonete.”

“Sem brincadeiras. Eu tive que comprar um carro — usado

— e abastecer minha pequena casa. Abriram uma IKEA aqui no

mês passado. Meu apartamento parece um anúncio ao vivo.”

Eu não tive a coragem de dizer a ela que eu também gastei

US $5.000 em uma cama top de linha, neste momento a caminho

— ou talvez, já entregue — na casa de Jonah. Com ajuste para

levantar a cabeça ou pé, assim uma pessoa pode dormir em

qualquer posição que queira. Eu não posso suportar a ideia de

Jonah passar mais uma noite em uma maldita cadeira apenas

para manter o peito elevado, e sei que ele nunca compraria uma

cama como esta por conta própria.

“Então, o que acontece depois?” Lola pergunta. “Você irá

escrever suas próprias canções de novo? Tornar-se uma estrela

do YouTube? Eu não estou sendo irônica — você é realmente

talentosa, querida. Este poderia ser o começo de algo grande.”

“Obrigada, Lo”, digo, meu olho virando-se para o frasco de

perfume no peitoril da janela. Eu sorrio. “Vou devagar. Ver o que

acontece.”

Uma pausa. “E como está seu amigo? O cara com a doença

cardíaca?”

“Ele está bem. Ele e seu irmão vieram sempre que podiam

para me ajudar a montar os móveis.”

O pensamento faz meu sorriso ampliar. Jonah tinha

tomado o seu tempo pessoal entre a Hot shop e A-1 para me

ajudar, arrastando Theo com ele sempre que seu irmão não

estava trabalhando no Vegas Ink.

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E m m a S c o t t

As palavras seguintes de Lola matam o meu sorriso. “Seu

amigo, Jonah... ele pode levantar coisas pesadas como móveis?”

Deus, todo mundo é médico.

“Claro”, digo. “Ele está totalmente bem.”

“Totalmente bem? Uma semana atrás, você me disse que

ele estava morrendo.”

Eu cerro os dentes. Poderia controlar as palavras quando

estão na minha cabeça. Ouvir alguém dizer em voz alta faz a

emoção surgir dentro de mim.

“Eu estava passando por maus momentos quando disse

isso”, eu digo. “Péssima escolha de palavras.”

“Kacey...”

“Ele está bem. Ele é forte...”

“Puta que pariu...”

“Estou falando sério, Lola. Eu tenho que ir.”

“Para onde?” Lola exige. “Voltar para enterrar a cabeça na

areia? Isto não é como uma conta que você não pode pagar, que

se joga no lixo e finge que nunca recebeu. E quando perceber,

cortam suas luzes e você é deixada no escuro. Eu sei que é o que

você faz, Kacey. Você só deixa as coisas de lado e finge que está

tudo bem até que não tenha mais como fingir.”

“Não é assim”, eu sussurro.

“Não? Soa claramente desse jeito.”

“Ele está bem. Ele realmente está.”

Meus pensamentos se voltam para quando Jonah me pegou

no aeroporto há dez dias. Ele levantou uma grande placa com o

meu nome escrita nela e brincou que era a última vez que ele

seria meu motorista de limusine. Eu joguei meus braços em torno

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dele e o abracei apertado, e senti seu coração contra o meu peito,

forte e estável...

“Então ele está curado?”

“Cale a boca, Lola. Ele está bem agora. Eu não vou gastar o

tempo que temos com o se e talvez. E é fodidamente terrível de

que você tente arruinar a minha felicidade.”

“Eu não estou tentando estragar nada para você, Kacey. Eu

estou tentando protegê-la.”

“Bem, não preciso de sua proteção. Eu sei o que estou

fazendo.”

“Você sabe? Porque parece que você saiu de uma situação

de merda e entrou bem no meio de outra.” Uma pausa. “Vocês

dois estão... juntos? Por favor me diga que você não é louca o

suficiente para se envolver com um cara que está... realmente

doente.”

“Nós somos apenas amigos. Bons amigos. Um dos melhores

que já tive em um tempo. Ele me faz sentir que eu posso ser eu

mesma.” Soo petulante, mas fiz um plano em viver momento a

momento. E não estou pronta para encarar quatro meses a

frente. Ainda não.

Talvez nunca mais. Talvez seus remédios estejam fazendo

efeito...

“Bem, eu estou feliz por você, Kacey”, Lola diz, me puxando

para fora dos meus pensamentos. “E eu quero o melhor para

você. Mas não quero que fique perdida.”

“Perdida?”

“Quando as luzes finalmente se apagarem.”

Mordo o lábio, tentando encontrar algo a dizer, alguma

réplica. A campainha toca. “Eu tenho que ir, Lola. Pessoal do

IKEA está aqui.”

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“Ok, querida. Cuide-se.”

“Te amo. Tchau.” Eu desligo e coloco o telefone no balcão.

Em seguida, coloco no modo silencioso. Depois, viro a tela para

baixo.

E atendo a porta da frente, não para a IKEA, mas para

Jonah. Meu rosto se abre em um sorriso enorme como se eu não

tivesse visto o garoto dois dias antes, e o sangue corre para

minhas bochechas.

Caramba, se controla.

Ele está bonito como o inferno de jeans e uma camisa verde

escura. Está com as mãos enfiadas nos bolsos da frente da calça

jeans, com um olhar divertido no rosto.

“Você não é o meu sofá”, digo, fingindo confusão.

“Não desde a última vez que verifiquei. Mas, falando de

grandes móveis domésticos, eu recebi uma entrega muito

interessante ontem”, ele diz, balançando-se nos calcanhares.

“Você recebeu?”

“Sim. Você não sabe nada sobre uma cama cara como o

inferno que você pode dormir sentado, com controle remoto que

encontrei na minha porta, saberia?”

Finjo estar assustada. “À sua porta? Deus, eu espero que

não. Aquela cama parece incrível. Eu imaginaria que viesse com

pessoal treinado para ajudar na instalação.”

“Oh, ela veio. Toda uma equipe de técnicos que estavam

‘sob ordens’ para não aceitar um não como resposta.” Ele suspira

e balança a cabeça, sua expressão ficando séria. “Kace, é demais.

Muito caro. Você não precisa fazer isso.”

“Sim, preciso”, digo. “Eu não teria saído da banda se você

não tivesse me dado um lugar para dormir e colocado minha

cabeça no lugar. Este é o meu agradecimento.” Coloco uma mão

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E m m a S c o t t

no quadril. “Você vai ficar na porta durante toda a tarde? Você

está deixando tudo quente.”

Jonah olha para mim por mais um momento, com os olhos

apertados.

Olho para trás. “O quê?”

“Estou debatendo se vai adiantar discutir com você.”

“Não vai”, digo. “Dentro ou fora? Você é como um maldito

gato.”

Ele cede com uma pequena risada e um aceno de cabeça, e

se abaixa para pegar algo do chão ao lado dele. “Então, esse é o

seu presente de bem-vinda a casa, do qual eu me orgulhava

muito até que você me enviou a Mega cama.” Ele arqueia uma

sobrancelha. “Eu deveria ter feito um candelabro.”

Ignoro o sarcasmo, muito ocupada olhando para a bela

lâmpada em suas mãos. São duas lâmpadas, na verdade, feitas

de antigas garrafas âmbar uísque em forma de quadrados. A

parte inferior de cada uma foi cortada, e lâmpadas de Edison

retangulares foram anexadas dentro. Os cabos saem dos pontos

de estrangulamento e foram tecidos através de pequenos elos de

uma corrente de ferro que ligam as duas lâmpadas como um par.

“Oh meu Deus.” Eu olho para as luminárias, em seguida,

para ele. “Que lindo! Você fez isso? O que estou dizendo? Claro

que você fez.”

“Quer testar?”

Mordo o lábio, olhando ao redor. “Eu não sei onde... Oh, a

varanda.”

Vamos para a porta de vidro que leva a minha pequena

varanda com vista para a rua. “Eu pretendo montar uma área de

estar aqui fora. Vasos de plantas e uma pequena cadeira e mesa

para tomar café da manhã.”

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E m m a S c o t t

Jonah me dá um olhar. “Você? Com este calor?”

“Eu preciso me acostumar com ele. Ninguém gosta de

alguém que resmunga sobre o tempo a cada minuto.”

“Você tem esse direito”, ele murmura.

Dou-lhe um pequeno empurrão em direção a porta da

varanda. “Fora. Luzes. Pendurar.”

Ele pendura as lâmpadas de garrafa de uísque em dois

ganchos e um pouco menor do que o outro e os conecta em uma

tomada, ao ar livre. Iluminado por dentro, o vidro âmbar brilha

como se ainda estivesse preenchido com uísque.

“Que lindo”, digo. “Mal posso esperar para ver à noite.” Eu

olho para ele ao meu lado. “Agora eu tenho duas obras originais

Jonah Fletcher. Não vou ter que trabalhar no Caesar’s para

sempre, afinal. EBay, aqui vou eu.”

Seus olhos rolam. “Eu não pediria demissão ainda.”

“Eu nunca me separaria de suas peças de qualquer

maneira. Mas acho que é apenas uma questão de tempo antes

que o mundo descubra como você é talentoso.”

Ele olha para mim. “Eu poderia dizer o mesmo sobre você.”

O ar pesa entre nós, e seus olhos castanhos são suaves.

Quando seus olhos se rendem aos meus, eu me sinto como se ele

estivesse olhando profundamente, para um lugar que eu

raramente me examino, mas onde poderia ter uma boa música à

espreita, se olhasse.

Os segundos passam. Deveria olhar para longe, mas não

desvio o olhar e nem ele, até que um carro passando freia em

uma luz vermelha no semáforo, o som rasgando o momento.

Jonah enfia as mãos no bolso e meus olhos procuram algo para

olhar para além dele.

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“Então, as garrafas de uísque”, digo, apontando para as

luzes. “Você está redirecionando meus maus hábitos?”

Ele sorri. “Não, apenas um lembrete amigável.”

“Sobre o quê?”

“Que se pode encontrar beleza em toda parte, mesmo nas

coisas que mais te assustam.”

Um calor se espalha no meu peito, e quase brinco com ele

por ser profundo, mas o telefonema com Lola se volta para mim, e

como ela expressou o que realmente me assustou mais: ficar

perdida no escuro.

Viro meus olhos para as novas luminárias, em seguida,

para o homem que as fez. Lola está errada. Seja como for, de

alguma forma, suas luzes permanecerão acesas e eu nunca estarei

perdida no escuro.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 22

jonah

Quando o sofá de Kacey chega, toma dela, do Theo e de

mim metade da noite para montá-lo. Quando terminamos e a

caixa vazia e as páginas de instruções são jogadas fora, seu

apartamento está completo.

“Bem”, ela diz, examinando o produto acabado. “É

definitivamente como uma daquelas salas modelo na loja IKEA.

Eles deveriam me pagar pela publicidade gratuita.”

Theo dá sua versão de um sorriso. Ele começou a gostar

dela — ligeiramente — nos últimos dez dias. Seus olhos não

rolam automaticamente quando ela fala com ele e Theo realmente

se envolveu em um par de suas observações provocantes.

Agora, à medida que se prepara para sair, ela joga os

braços em volta do pescoço dele. “Obrigada, Teddy”, ela diz e beija

sua bochecha. “Tudo bem chamá-lo assim?”

Definitivamente não está bem. Eu me preparo para

repreensão dura de Theo contra ser chamado de Teddy, mas ele

só murmura algo sobre esperando por mim na caminhonete, e vai

embora.

De olhos arregalados, eu o observo ir, então viro meu olhar

de volta para Kacey. “Ele odeia Teddy. Ninguém o chama de

Teddy.”

Ela sorri, encolhe os ombros. “Não pareceu se importar

vindo de mim. Além disso, se encaixa. Ele tem um lado suave.”

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“Sim, ele tem”, digo. Um breve silêncio se desenrola entre

nós. Acontece muitas vezes desde que ela voltou. As piadas e

provocações acabam, e somos apenas Kacey e eu no espaço um

do outro, esperando algo acontecer a seguir. Uma palavra ou um

toque que poderia mudar tudo...

Mas não pode. Eu não posso levá-la por esse caminho

comigo porque eventualmente nós vamos chegar ao ponto em que

tenho que seguir em frente, e ela não pode ir comigo.

“Ok”, digo. “Eu vou antes de Theo ficar bravo.”

Kacey coloca os braços em volta do meu pescoço e me dá

um beijo na bochecha, assim como fez com Theo. Eu sinto o

corpo dela ao longo do meu, e minha respiração fica presa. Meus

próprios braços estão rígidos e cheio de cuidados, como se eu

pudesse quebrá-la.

Ou me quebrar.

“Obrigada por me ajudar esta noite e todas as outras

noites”, ela diz, suas mãos deslizando pelos meus ombros antes

de cair fora.

“De nada”, digo. “Tenha uma boa noite, Kace.”

“Você também. Oh, ei, eu estava pensando em passar pela

Hot shop algum tempo esta semana. Posso levar vocês para

almoçar?”

“Mais uma vez? Isso vai ser a quinta vez em duas semanas.

Você não tem que nos alimentar.”

“Eu sei”, ela diz. “Mas eu quero. Deixe isso comigo,

Fletcher. Eu cuidarei de você.”

É muito. Diga não. Mantenha a rotina...

Grande chance. Kacey está aqui agora, e parte da minha

rotina. Eu disse-lhe para voltar a Vegas porque sentia falta dela, e

a queria na minha vida, mas não tinha ideia de quão difícil seria

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mantê-la a uma distância segura. Eu sou um homem morrendo

de fome, exposto a um banquete, com fome todos os dias e

cobiçando o que está bem na minha frente.

“Parece ótimo, então”, digo, e de lá antes de fazer algo

estúpido.

Theo se senta ao volante de sua caminhonete. Mas em vez

de uma carranca ou uma queixa sobre fazê-lo esperar, ele só me

olha entrar, estuda o meu rosto como se estivesse procurando

algo.

“O que é agora?”

Theo se vira para a frente. “Nada.”

Ele nos leva ao longo das ruas laterais principalmente

vazias em complexos de Vegas — de apartamentos residenciais e

pequenas casas de ambos os lados. A Strip não é visível, mas eu

posso ver o seu brilho acima dos telhados.

Nós paramos no semáforo vermelho e Theo diz “Ela está a

fim de você.”

Olho para o meu irmão, minha boca seca. “Você acha?”

“Não é óbvio?”

“Esclareça.”

Ele encolhe os ombros. “O jeito que ela olha para você.”

Meu coração pula no peito. Eu faço o melhor para parecer

casual como o inferno e não como um garoto no colegial. “Como

ela estava olhando para mim?”

Theo olha para mim de lado. “Como se não pudesse parar.

E você também. Estou espantado que conseguiu montar o sofá.”

Olho para a frente, meus pensamentos correndo com essa

revelação. Claro, meus olhos são atraídos para Kacey a qualquer

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E m m a S c o t t

hora que ela estava na sala. Eu não consigo evitar. Ela estava

radiante. Mas ao saber que estava fazendo o mesmo por mim...

Um grande calor se espalha através de mim, um brilho

suave de esperança que me esforcei em manter sufocado.

“Ela tem medo de me abandonar”, digo lentamente. “Como

Audrey.”

“Então, você já falou sobre isso?” Theo pergunta. “Estar

juntos? É por isso que ela se mudou de volta?”

“Não, nós somos apenas amigos. É tudo o que podemos

ser.” Esfrego o lugar na minha bochecha, onde Kacey me beijou.

“É difícil o suficiente.”

“Mas você tem sentimentos por ela”, Theo diz. Não é uma

pergunta, e sua voz está curiosamente calma.

“Eu... talvez. Eu não sei”, digo. “Às vezes acho que não

deveria ter lhe dito para voltar aqui.”

“Mas você disse”, Theo diz no mesmo tom baixo, “porque

você tem sentimentos por ela.”

Eu suspiro, parcialmente com surpresa por poder falar

sobre isso com Theo quando esperava receber outro sermão. É

bom falar sobre isso com o meu irmão em vez de ser emparedado

por sua preocupação.

Ela olha para você como se não pudesse parar...

Nós chegamos ao meu apartamento. Theo estaciona a

caminhonete no local reservado e se vira para mim. “O que você

quer fazer?”

“O que eu posso fazer? Não tenho tempo, e ela sabe disso.

Eu disse a ela sobre a última biópsia.”

“Bem, lá vai você”, ele diz, acenando com a mão. “Você

contou a ela.”

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E m m a S c o t t

“Sim? E?”

“E ela ainda está aqui.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 23

jonah

Noite de sexta-feira. Eu estava deitado na minha cama,

lendo. Ou tentando. Meu foco sempre vacilante. Três da manhã é

a hora mais silenciosa, mais sossegada da noite, mesmo em uma

cidade como Las Vegas, e o silêncio amplifica os pensamentos

chocalhando na minha cabeça e no coração. Eles enchem a sala,

exigindo reconhecimento, implorando por respostas.

Kacey...

“Pare com isso”, digo baixinho.

O que ela está fazendo agora?

Ela teria saído de seu turno uma hora atrás. Já estaria em

casa há vinte minutos, se não estiver atrasada.

“Ela está dormindo”, digo. “É o que você deve fazer.”

Jogo o livro de lado, desligo a lâmpada e me ajeito em

minha cama.

Ela comprou uma cama para mim.

“Eu estou ciente”, digo.

A cama é infinitamente mais confortável do que a cadeira,

mas ainda não consigo dormir. Deito no lado direito. O lado

esquerdo parece se estender por milhas, como tundra nevada.

Frio e estéril.

Eu sinto falta dela.

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E m m a S c o t t

“Cale-se, Fletcher. Vá dormir.”

Fecho os olhos, sabendo que é inútil. Então meu celular na

mesa de cabeceira apita com uma mensagem de texto.

“Droga, Theo.”

Mas não é Theo. Sento, com o coração batendo no peito.

Kacey.

Está acordado?

Eu consigo esperar dez segundos antes de responder.

Sempre. E aí?

Liguei para o meu pai.

“Puta merda”, eu sussurro, sabendo o que isso significa

para ela. Espero para ver se vai dizer mais. Não há pontos

pequenos piscando, indicando que está escrevendo. Eu hesito,

mil respostas prontas. Respostas que poderiam confortar a partir

de uma distância segura. Como foi? Você está bem? Fale mais

sobre isso?

Mas mando uma mensagem de volta, Eu posso ir aí.

Sem pontinhos na tela. Nem uma pergunta, nem um

comunicado. Vaga o suficiente, ela poderia me dizer não.

Pontos rolam, e, em seguida, a resposta dela:

Ok.

Eu poderia ter caminhado para o apartamento de Kacey,

mas são só três minutos se for dirigindo. Do lado de fora de sua

porta, eu hesito.

O que você está fazendo?

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E m m a S c o t t

“Sou um amigo.” O ar da noite sufocante mastiga a palavra

‘amigo’ e a lança de volta para mim. “Um amigo que faz visitas em

domicílio.”

Bato na porta e ouço um abafado, “Entre.”

O apartamento recém-mobiliado de Kacey cheira a seu

perfume e às velas perfumadas que ela ama. Inspiro

profundamente, tanto para recuperar o fôlego por causa do lance

de escadas, como me encher com ela.

Ela está sentada, enrolada em seu sofá, com as pernas

debaixo do corpo. A mesa de centro na frente dela cheia de lenços

amassados. Apenas a lâmpada ao lado do sofá está acesa,

amarelo brilhante sobre os ombros curvados. Seu olhar é

direcionado para mim enquanto sento na cadeira em frente.

Mesmo com olhos vermelhos e um rosto inchado de tanto chorar,

ela é incrivelmente bonita.

“Você quer alguma coisa?” Ela pergunta. “Alguma coisa

para beber ou...?”

Eu balanço minha cabeça. “Estou bem.”

Limpo a garganta, meus nervos no topo do sofá, olhando.

Tanto a pele suave de suas pernas e a forma como elas foram

dobradas em um canto do sofá, acordam algum impulso

primitivo, do sexo masculino em mim. Eu quero protegê-la.

Segurá-la e protegê-la de tudo o que a machuque. Colocar o meu

corpo entre ela e o mundo, e enquanto estiver com ela, quero que

enrole as pernas em volta de mim e deslizarei dentro dela...

“Sinto muito, é tão tarde”, ela disse.

“Eu estava acordado de qualquer maneira.” Eu me inclino

para a frente. “Diga-me o que aconteceu.”

“Você... não importa.”

“O quê? O que eu posso fazer?” Qualquer coisa. Eu faria

qualquer coisa por você.

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E m m a S c o t t

Seus olhos encontram os meus e sua voz é pequena, uma

vez que pergunta “Você se importaria de sentar ao meu lado? Eu

prometo que não vou tentar pular em você ou qualquer coisa.”

“Claro”, digo. Troco a cadeira pelo sofá, deixando alguns

centímetros entre nós, mas ela fecha a distância de uma vez,

ficando ao meu lado. Automaticamente, o meu braço vai ao redor

de seus ombros.

Porque é isso que os amigos fazem quando um amigo está

chateado.

Só que minha amiga tem um cheiro incrível. E estou bem

consciente de tocar a pele da minha amiga, e do jeito que posso

sentir o arredondamento suave de seus seios contra o meu peito.

Eu esperava que ela fosse chorar. Saúdo a mim mesmo — por

reforçar a minha insistência que estou apenas sendo um tipo, de

amigo solidário. Mas ela se aconchega mais perto e coloca o braço

em volta da minha cintura, e quando fala, sua voz é aguada, mas

calma.

“Eu não tinha planos de ligar para o meu pai”, ela diz. “Eu

nem estava pensando nele hoje. Acidentalmente reservaram meu

turno junto com outra garota, então saí do trabalho cedo. Por

volta das oito. Cheguei em casa e liguei a TV, passei pelos canais

por algum tempo, e parei em um sobre o vestido ideal.” Ela

inclina a cabeça para olhar para mim. “Você já viu?”

“Nunca ouvi falar”, digo.

“É tão estúpido, bobo, reality show fabuloso onde eles

seguem diferentes noivas fazendo compras para o seu vestido de

casamento. Elas levam uma melhor amiga para ajudá-las a

escolher. Ou um grupo de amigos mal-intencionado. Ou sua mãe

dominadora. Mas hoje à noite, o episódio...” Kacey funga. “Uma

noiva levou alguns amigos. E seu pai.”

Ela inspira, e sinto o tremor oscilante de sua respiração

contra meu peito. Eu a seguro mais apertado.

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“Então ela está provando os vestidos, e todos eles são

lindos, mas nenhum é bom o bastante. Até que finalmente ela

tenta por um. E todo o seu grupo sabe que é O vestido, porque

todos eles começam a chorar. A noiva chora, e depois seu pai

chora, e depois eu choro porque queria tanto ter o que ela tinha.”

“O vestido?”

Kacey me dá uma cotovelada no lado. “Espertinho. O

vestido era terrível, na verdade. Estilo sereia. Parecia que estava

enrolada em bandagens. O ponto é, eu queria o que ela tinha com

o pai.”

O corpo dela murcha, inclinando-se mais forte contra mim.

“Conte mais”, digo.

“Este pai... ele tinha sido um fuzileiro naval, aposentado

agora, e parecia ser super sério. Mas um fofo total, quando se

tratava de sua filha. Ele não se preocupava em esconder seus

sentimentos. Ele disse para a câmera que ela seria a sua menina

para sempre. Ele disse o quanto a amava e que tinha orgulho

dela.” A voz de Kacey engasga, em seguida, ele desaba. “Esta

menina tem um belo relacionamento com seu pai, e eu nunca vou

ter com o meu. Isso dói. Eu odeio como dói. Eu quero não me

importar, mas não consigo parar de se importar. Eu não posso.

Ele é meu pai. Eu o amo. Ele não deveria sentir o mesmo?”

“Ele sente”, digo. Ainda abraçando-a, pego a caixa de

lenços em cima da mesa e arrancou um.

“Obrigada”, ela diz, enxugando os olhos.

“Então você ligou para ele?”

“Como uma idiota. Eu pensei, não posso ter o que essa

menina e seu pai tem, mas posso começar em algum lugar. Eu

posso tentar. Não pensei demais, apenas peguei meu telefone e

liguei para ele. E ele atendeu, sem minha mãe, e pensei, isso é um

sinal.”

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E m m a S c o t t

Ela pega outro lenço. “Sim, foi um sinal de tudo bem. Que

eu sou uma idiota.”

“Você não é uma idiota”, digo. “O que ele disse?”

“Ele ficou quieto, como de costume. Mas eu estava nervosa,

então comecei a balbuciar como uma idiota. Eu lhe disse que

larguei a banda de rock de sucesso e joguei fora milhões de

dólares e fama e fortuna. Assim eu poderia servir coquetéis no

Caesar’s, porque sabia que isso é mais saudável para mim. Eu

sou melhor para ele. Eu disse a ele que estava vivendo em meu

próprio apartamento, pagando minhas próprias contas, e

escrevendo minha própria música. Eu disse que estava feliz,

mesmo que as minhas músicas não estejam vendo a luz do dia e

nem saindo do notebook ainda.” Ela funga e enterra seu rosto

mais perto do meu peito.

Enfio minha mão em seu cabelo. “O que ele disse?”

“Ele disse, ‘Ok, então’.”

Eu espero por mais, mas nada vem.

“Ok, então o quê?” Eu digo.

“É isso. Ok, então. E desligou. Ele... desligou na minha

cara.”

Minha boca está entreaberta e não serve para nada

enquanto ela soluça contra o meu peito, as lágrimas molhando

minha camisa. Eu coloco o meu outro braço em torno dela, bem

apertado e segurou-a perto. “Sinto muito”, digo. “Eu sinto muito.”

Ela se solta e joga os lenços de papel molhados por toda a

sala. “Estou cansada de me sentir assim. Eu me sinto tão

patética querendo que meu próprio pai precise de mim em sua

vida.” Ela olha para suas mãos vazias. “Ele não precisa de mim.”

“Eu preciso de você.” É a verdade, e às vezes a verdade se

recusa a ser contida. Ela explode, normalmente quando é menos

conveniente, mas também quando é mais necessária.

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E m m a S c o t t

Ela dá um sorriso pálido, coloca a mão sobre o peito, onde

as lágrimas haviam umedecido minha camisa. “Você é doce. Eu

não tinha ninguém e você me deu amizade e um lugar para viver.”

“Eu preciso de você”, digo novamente.

Seus olhos pousam nos meus. “Você precisa?”

Balanço a cabeça. Deus, ela está tão perto de mim, posso

sentir o cheiro de sua pele. Doce, como caramelo. “Amigos servem

a propósitos diferentes, certo? Algumas coisas que você só pode

dizer a certas pessoas, algumas coisas que você pode dizer para

os outros.”

O olhar de Kacey é inabalável. “Diga-me algo que você não

pode dizer a seus outros amigos”, ela diz suavemente. “Algo que

você só pode me dizer.”

Por alguns segundos fico perdido nas piscinas azuis de

seus olhos, atingido por milhares de coisas que eu queria dizer a

ela.

“Estou com medo”, digo.

Sua mão se entrelaça na minha. “Ok.”

“Mas quem não estaria?”

Ela não diz nada. Sinto sua aceitação e confiança entrando

em mim de seus olhos. Eu poderia derramar minhas tripas para

ela e ela ouviria, ou eu poderia manter a mim e ela iria entender.

“Todo mundo está me olhando, o tempo todo. Eu me sinto

como... se não pudesse fazer ou dizer qualquer coisa sem pensar

cuidadosamente. Porque tudo o que faço significa alguma coisa,

mesmo quando isso não significa. Eu não posso levantar a minha

voz ou ficar zangado ou irritado porque não posso deixar esse tipo

de memória. Tenho apenas uma quantidade finita de palavras

para dizer. Tenho que escolhê-las com cuidado.”

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Ela assente com a cabeça e me deixa continuar. O que eu

faço, dizendo-lhe mais do que pretendia, dizendo-lhe coisas que

não posso contar a ninguém. As palavras saem de mim e vão para

o colo de Kacey.

“Minhas ações também. Estou sendo constantemente

vigiado, estudado, analisado. Estou cansado depois de um longo

dia na loja, ou é algo pior? Todos me tratam como se eu fosse

quebrável. Como se o mundo inteiro é uma ameaça potencial.

Alguém pode dizer a coisa errada e me perturbar, e Deus me livre

de ser perturbado. Mas estou chateado.”

Kacey assente.

“Eu fico com medo ou chateado que isso aconteça comigo”,

digo. “Eu cuidava de mim mesmo, sabe? Fazia exercício como um

bastardo, comia bem, e eu ainda fiquei realmente muito doente.

Como ser atingido por uma caminhonete, embora sempre olhe

para os lados e a rua esteja vazia.”

Eu esfrego minha mão com força no joelho, para não fechála

em um punho. Aperto a outra mão de Kacey. E me preocupo

que possa estar ferindo os dedos, mas não consigo soltar.

“Então, sim... estou com medo”, digo. “E isso é algo que não

posso dizer aos meus outros amigos.”

Ela solta minha mão e então está em meus braços,

abraçando ao redor do pescoço. “Obrigada por me dizer.”

Eu congelo, meus sentidos infundidos com ela. A suavidade

de seu cabelo na minha bochecha, o aroma de caramelo de sua

pele quente. Meus braços vão ao redor dela, rigidamente no

começo, mas ela é tão macia. Ela derrete em mim, querendo ser

abraçada. E como dizer a ela o que eu não posso contar a

ninguém, que quero abraçá-la como nunca abraçarei mais

ninguém. Acariciar seu cabelo, inalar sua doçura. Beijá-la e

nunca parar...

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E m m a S c o t t

Sua cabeça levanta do meu ombro, mas seus braços ainda

rodeiam meu pescoço. Ela olha para mim, os lábios entreabertos

com expectativa, seus olhos quentes e suaves. No silêncio, Kacey

levanta a mão, e coloca sobre meu peito. Meu coração bate forte

de volta sob seu toque, e um leve sorriso vem aos seus lábios.

“É uma sensação tão forte”, ela murmura.

O topo da minha cicatriz é visível na barra do meu

colarinho. Kacey engancha o dedo indicador na borda da minha

gola e puxa para baixo, revelando outro centímetro de vermelho.

Cabeça inclinada, ela estuda, corre seu polegar sobre a curva

brilhante.

Eu luto para não puxar para trás... ou inclinar para a

frente em seu toque. A meio caminho entre o pânico e desejo, eu

congelo, mas o meu coração está galopando.

“Você é a primeira mulher... a primeira pessoa a tocar a

minha cicatriz.”

“Isso não está certo”, ela murmura, e se inclina para

pressionar um beijo suave na cicatriz. Então se enrola contra o

meu peito, exausto e gasto, segura entre mim e as almofadas do

sofá.

Deito, levando-a comigo. Abraço-a, saboreando a sensação

de seu corpo junto ao meu, memorizando a suavidade de seu

cabelo caindo pelos meus dedos. Fecho os olhos, deixando todos

os meus outros sentidos absorverem o calor e o conforto de ter

uma mulher em meus braços. Essa mulher.

Estou tentado a ficar a noite toda. Beijá-la de manhã e que

se fodam as consequências. Mas quando a primeira luz da aurora

aparece pela janela, reflete o meu relógio. Eu tenho quarenta

minutos para chegar em casa e tomar meus imunossupressores.

Se atrasar, essas consequências me alcançariam.

Eu escorrego para fora do sofá, cubro Kacey com um

cobertor, e calmamente vou embora.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 24

jonah

Dena e Oscar estão em êxtase sobre Kacey estar de volta à

cidade. Eles insistem em fazer algo especial para recebê-la em

Vegas. Sinto que há um motivo oculto, mas fico comovido por

quererem levá-la para nossos encontros regulares de segundafeira.

“Kacey está saindo com a gente hoje à noite”, digo a Theo

no telefone. “Será um jantar de boas-vindas. Você deveria trazer

Sally.”

“Holly”, Theo corrige.

Holly Daniels é a sua namorada vai e volta. Ou a coisa mais

próxima que ele tem de uma namorada em sua vida. Uma mulher

pequena com uma risada alta e, cabelo escuro e curto, ela foi

uma das clientes de Theo no Vegas Ink. Brinco com ele que Holly

queria apenas uma pequena tatuagem, mas continuou voltando

até que ganhou Theo. Toda vez que vejo suas tatuagens ao longo

dos braços inteiros, tenho que segurar uma risada.

“Então, é uma coisa de casais?” Theo diz.

“Não. Bem...” Minha mão vai até o colarinho, e no topo da

minha cicatriz, onde ainda podia sentir o beijo de Kacey. Um

pequeno toque de seus lábios marcado na minha pele e na minha

mente. Eu continuo pensando nisso.

“Olá?”

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Eu paro. “Não, não é uma coisa de casais. É uma coisa de

amigos. Traga Holly, traz mais alguém ou traz ninguém. Você

decide.”

“Aonde vamos?”

“Kacey quer ir jantar e depois um cassino. Eu pensei que o

MGM Grand seria bom para...”

“Você não pode ir a um cassino e ficar perto de qualquer

fumaça. Será que ela não sabe disso?”

“Ela sabe”, digo, “mas foi ideia minha. Ela nunca foi a um

cassino, e o MGM tem excelente ventilação. Eu pesquisei isso.”

Ele resmunga algo incoerente.

“Vamos, bro. Oscar e Dena também irão. Vai ser divertido.

Algo diferente.”

“Diferente”, Theo diz. “Cristo, isso não vai dar certo.”

“Eu estou sendo otimista”, digo com um sorriso. “Vamos lá,

Teddy.”

Uma pausa. “Onde vamos comer?”

“Seu favorito, o New Orleans Fish House”, digo. “Todos os

camarões de água doce picante-como-inferno que você possa

comer. Oito horas.”

Isso o conquistou. Ou talvez ele queira cuidar de mim como

uma mãe maldita toda a noite, mas concorda em ir.

Digo a Kacey que irei buscá-la às 7:45. Ela abre a porta

vestindo uma blusa de um ombro só em algum tipo de material

brilhante. A peça desliza sobre sua pele como prata derretida,

deixando um ombro nu e pendura até as coxas, onde uma saia

preta curta espreita. Mas são as meias pretas que ela usa até

pouco acima do joelho que drenam o sangue do meu cérebro.

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Ela tem seu cabelo amarrado e fixado com algum tipo de

grampo ou presilha com uma grande rosa preta de seda sobre

sua orelha direita. Suas feições marcantes foram contornadas,

maquiagem de olhos de gato e lábios vermelhos brilhantes. Uma

nuvem de seu perfume — o seu favorito e aquele que ela mantém

no frasco que fiz para ela — flutua por mim.

Estou tão ocupado olhando para ela que não percebo que

ela está olhando para mim.

“Uau, Fletcher”, ela diz. “Você... você está lindo.”

Estou vestindo um terno cinza-escuro com uma gravata

azul brilhante que pode ou não ser a mesma cor dos olhos de

Kacey.

“Você está...” Eu paro, olhando, porque as palavras não

existem.

Ela sorri e se move para endireitar a minha gravata.

“Obrigada.”

Quando chegamos no Emeril’s New Orleans Fish House, a

anfitriã nos leva através da elegância cor âmbar do restaurante

para a mesa onde Dena, Oscar, Theo e Holly estão sentados.

Kacey, é claro, abraça Dena e Oscar, dizendo o quanto tinha

ouvido falar sobre ela, e sem dúvida ela fica vermelha de

vergonha. Ela brilha com a felicidade sob a luz da recepção

calorosa de Dena e Oscar e nunca pensei que eu pudesse amar

meus amigos mais.

“Você está lindo”, ela diz para Theo, alisando o colarinho da

sua camisa. “Oi, eu sou Kacey”, ela diz para Holly, cujos braços

estão cheios de tatuagens em exibição com uma blusa sem

mangas. Eu prendo um sorriso enquanto Kacey puxa a mãos de

Holly para admirar a tinta.

“Uau, incrível.” Ela se vira para Theo. “Suas?”

Ele balança a cabeça, dá de ombros.

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No momento em que terminamos nossos aperitivos,

qualquer escrúpulo que eu tinha acerca de Kacey nesse encontro

desapareceu. Ela e Holly falam sobre tatuagens, e ainda tem o

Theo que arregaçou a manga para comparar as tatuagens, antes

de Kacey cair em uma conversa com Dena sobre poesia e

composição.

Oscar inclina-se ao meu lado esquerdo. “Você vai comer ou

olhar para Kacey a noite toda?”

Nenhum ponto em negá-lo. Eu nem sequer tento. “Eu vou

olhar para ela a noite toda.”

Oscar sorri e bate no meu braço. “Faça isso.”

Na sobremesa, Oscar lidera a conversa sobre acampar

mudando o tema, e pergunta a Kacey se ela já acampou.

“Nunca”, ela diz. “Eu não sou uma pessoa de natureza,

exceto praia. Onde você acampa?”

“Great Basin National Park.”

“É bastante impressionante”, Dena diz. “É um pouco de

tudo — deserto, floresta, lago. Você vai adorar.”

“Você deveria vir com a gente”, Oscar diz.

“Você deveria”, Dena diz. Ela se vira para Holly. “Você

também. Então, seríamos seis.”

“Estou dentro”, Holly diz, enquanto por trás do seu ombro,

Theo olha furiosamente para Dena.

“Parece ótimo”, Kacey diz, em seguida, se vira para mim. “O

que você acha? Será que você... gostaria da companhia?”

Talvez eu devesse ser mais cuidadoso ou cauteloso, mas

estou apenas feliz. Hoje à noite, estou seguindo o conselho de

Dena. Ser feliz. Ser normal. A parte do círculo, sobre não estar

sozinho no centro.

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E m m a S c o t t

“Eu adoraria a companhia.”

As bochechas de Kacey ficam lindamente avermelhadas, e

ela se vira para Oscar. “Obrigada por me convidar.”

“Não me agradeça até ter usado a floresta como banheiro e

ouvir os leões de montanha do lado de fora da sua tenda. Esta é a

sua iniciação, garota.”

“Manda ver”, Kacey ri.

E seu sorriso é a coisa mais linda que já vi.

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CAPÍTULO 25

kacey

“Então, quem está a fim de um pouco de jogo?” Eu digo

quando saímos do restaurante. “Eu tenho quarenta dólares

queimando um buraco no meu bolso.”

Dena troca um olhar com Oscar, então boceja. “Eu exagerei

no crème brulee”, ela diz. “Meu travesseiro está chamando.”

“Sim, eu também”, Oscar diz, olhando para Jonah. “Por que

vocês não vão em frente sem nós? Faremos isso novamente em

outro momento.”

“Tem certeza?” Digo.

“Da próxima vez”, Dena diz, me abraçando.

“Eu vou jogar”, Holly diz. “Não tenho em anos.” Ela puxa o

braço de Theo. “Você quer?”

Agora Theo ricocheteia um olhar entre Oscar e Jonah, e

sacode a cabeça. “Não tenho vontade. Estou encerrando a noite.”

Holly faz beicinho antes de me abraçar e dizer adeus. Theo

desliza seus braços duros em torno de mim e inclina a boca ao

meu ouvido. “Tente ficar no máximo uma hora no cassino. Ele

não deve ficar perto do fumo.”

“Entendi”, digo.

Theo parece hesitar, seus olhos passando para Jonah, em

seguida, de volta para mim. “Divirtam-se”, ele diz. Ele se vira

abruptamente, deixando Jonah e eu sozinhos.

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E m m a S c o t t

Vejo Holly correr para alcançá-lo.

“Ele e Holly estão juntos há muito tempo?” Pergunto.

“Pelos padrões dele, sim.”

“Oscar e Dena são pessoas maravilhosas.”

Jonah faz uma careta. “Eles são como um ato Vaudeville

ruim.”

Eu rio. “Vamos. Prometi a Theo que só ia ficar uma hora no

cassino.”

“Jesus, ele é ridículo.”

Enfio a mão na dobra do cotovelo. “Ele é protetor com seu

irmão.”

O cassino fica a uma curta caminhada do restaurante.

Entramos no ambiente ligeiramente escuro, aonde a maioria da

iluminação vem de máquinas caça-níqueis, filas e filas delas.

Uma legião de incandescência, luzes piscando. Cones de luz

brilhante soam nas mesas de Black Jack, refletindo camisas

brancas dos Croupiers e as cartas brancas no feltro verde.

“O que vai querer?” Jonah diz. “Blackjack? Roleta? Poker?”

“Blackjack”, digo.

O cassino está lotado e temos que perambular antes de

encontrar uma mesa com um assento disponível, à direita do

funcionário.

“É uma mesa de cinco dólares”, Jonah diz. “Vá em frente.”

“Não há espaço para você.”

“Eu vou assistir e ajudar de longe.”

“Não preciso de ajuda.”

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E m m a S c o t t

A sobrancelha dele sobe. “O assento à direita do Dealer é o

lugar mais importante na mesa. Está pronta para esse tipo de

responsabilidade?”

Aperto os olhos para ele. “Eu nasci pronta.” Sento e, em

seguida, faço uma pausa. “Espere. As cartas que tem caras valem

dez, certo?”

Jonah ri e tomo o lugar vago. Ele fica para trás para ver a

mão em progresso ser jogada.

À esquerda do Dealer estão sentados dois rapazes que

parecem sérios sobre seus cinco dólares. Ao lado deles, duas

senhoras mais velhas conversam sem parar e jogam quase como

uma reflexão tardia — contando totais de suas cartas e batendo

ou continuando no jogo automaticamente. Ao lado deles e à

minha direita está sentado um senhor mais velho com um

chapéu de vaqueiro. Ele puxa um maço de Marlboro Reds do

bolso da frente.

“Senhor”, digo. “Vou ganhar uma mão e depois irei embora.

Será que se importaria de não fumar até lá? Por favor?”

Ele me olha através da pele grisalha e enrugada em volta

dos olhos, e ri. “Você está na berlinda, garota. Você sabe como

jogar para ganhar?”

“Observe-me”, digo. O cowboy coloca os cigarros longe e eu

me inclino para trás em Jonah. “Como é que você joga para

ganhar?”

“Você precisa de fichas. Deite o dinheiro sobre a mesa.”

Eu coloco uma nota de vinte dólares no feltro verde. “Vou

querer uma ficha”, digo ao Dealer e ele me dá uma única ficha

listrada azul-e-branco com um 20 gravado em dourado na frente.

“É só uma aposta de cinco dólares”, Jonah diz.

“Vá com tudo ou vá para casa, certo?”

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E m m a S c o t t

“Você tem esse direito, garota.” O cowboy puxa uma ficha

vermelha de cinquenta dólares de uma das várias pequenas

torres de fichas, e coloca como sua aposta. “Faça o certo por mim

agora, querida. Estou contando com você.”

Jonah ri por trás de mim.

Eu me inclino para trás. “Dobro para baixo em onze,

certo?”

“Oh, agora você quer treinar?” Ele estala a língua.

O Dealer— um homem sem expressão em seus vinte e

tantos anos — habilmente desliza as cartas para fora do monte

para cada um de nós, viradas para cima. Ele se deu uma, para

cima — a três de paus.

O resto dos jogadores teve sorte: nada inferior que

dezessete, e o Cowboy divide a sua oito, e coloca outra ficha de

cinquenta dólares ao lado de sua primeira. Ele é recompensado

com dois dezoitos, e se acha sortudo.

Amargo com um três de ouros e um dois de coração.

“Você está brincando comigo”, eu murmuro.

O Cowboy faz uma careta para minhas cartas. “Não é bom,

menina.”

“Se você está me dizendo. Quero mais uma carta”

Dois de espadas.

“Mais uma”, digo novamente.

Cinco de paus.

“Merda.”

O resto da mesa começa a resmungar.

Jonah se inclina sobre mim. “Você está com doze. O Dealer

deve ter treze — provavelmente.”

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E m m a S c o t t

“Como você sabe? Você é o Rain Man?”

O sorriso de Jonah colore suas palavras. “Não, mas sou um

excelente motorista.”

“Ha ha. Socorro.”

Jonah se abaixa para que seu queixo fica pouco acima do

meu ombro nu. Sua respiração está quente no meu pescoço,

enviando agradáveis pequenos arrepios pela minha espinha.

“É uma estratégia segura assumir que a próxima carta do

Dealer vai valer dez. Os que estão na mesa vão ultrapassar.”

“Ok…”

“Então ele tem treze, nós assumimos. Você tem doze, e sua

próxima carta vai ser uma carta que vale dez...”

“Como... como você sabe?” Eu tento manter o foco, mas

Deus, Jonah cheira bem. E sua mão repousa sobre minhas

costas, esfregando o polegar em um círculo suave. Eu acho que

ele nem sabe que está fazendo isso. Aperto minhas pernas.

“Probabilidade”, ele responde. “Você recebeu um monte de

pequenas cartas. Boa chance de a próxima valer dez. Deixe que a

mesa pague. Não peça mais cartas.”

A dica é veementemente ecoada pelos outros jogadores.

“Não peça mais.”

“É provável, não definitivo.” Olho ao redor da mesa.

“Desculpe, gente, mas não posso ficar com este patético doze.”

Protestos altos são ouvidos enquanto esfrego meus dedos

ao longo do feltro verde. “Mais uma.”

O Dealer mostra um oito de ouros.

“Vinte.” Eu agarro o braço de Jonah e aperto. “Eu tenho

vinte.”

Ele balança a cabeça, rindo. “Sim, você tem.”

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E m m a S c o t t

“Você tem muita sorte, é o que você tem”, o Cowboy diz com

uma risada. “Agora pare, garota.”

“Isso, pare”, os outros jogadores ecoam.

Aceno minhas mãos sobre minhas fichas. “Paro.”

A mesa fica tranquila quando o Dealer vira sua carta para

baixo. Uma rainha que dá treze.

“O Dealer tem que passar do dezessete”, Jonah murmura

em meu ouvido.

Meu coração bate rápido enquanto observo o Dealer bater

com o Valete de diamantes. A mesa irrompe em aplausos.

Jonah agarra o meu ombro. “Puta merda.”

“Eu ganhei”, digo, quando o funcionário do cassino coloca

uma segunda ficha de $20 listrada de azul e branco ao lado da

minha primeira.

“Você não só ganhou”, Jonah diz. “Se você tivesse parado

com o seu doze, o Dealer teria tomado a sua oito e a sua treze.”

“E daria vinte e um”, digo.

“Toda a mesa teria perdido.”

“Ele está certo, garota”, Cowboy diz. “Você é uma

impostora, não é?”

“Pode ser.” Pego os meus ganhos e desocupo meu lugar.

“Boa sorte a todos! Prazer em conhecê-los.” Eu bato na aba do

chapéu do cowboy quando saímos da mesa. “Você pode fumar

agora, senhor.”

“Você arrancou de mim duzentos dólares, senhora

sortuda”, ele diz, rindo atrás de nós. “Talvez eu deva parar

enquanto posso.”

“E agora?” Digo a Jonah, pegando sua mão. “Para onde? Eu

juro que nunca me diverti tanto estando sóbria na minha vida.”

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E m m a S c o t t

Eu paro nas longas filas de máquinas caça-níqueis, cheias de

zumbido e ruídos e muito brilhantes. “Caça-níqueis. Oh meu

Deus, você quer? Apenas algumas vezes, depois vamos embora,

eu juro.”

Jonah ri. “Como eu poderia dizer não?”

Vou até a cabine de troca e volto com quatro rolos de

moedas.

“Você quer jogar nos caça-níqueis?” Jonah pergunta.

“Eu quero jogar em algum tipo de máquina, mas

desembolsar moeda após moeda em uma máquina parece um

desperdício. Desta forma, fico com a experiência sem sentir que

estou jogando uma tonelada de dinheiro fora.”

Jonah estreita os olhos e coça o queixo, pensativo. “Muito

esperta.”

“Engraçadinho.” Pego a mão dele novamente. “Vamos jogar

como grandes jogadores.”

Encontramos um único banco de níquel do cassino e me

instalo. Jonah tira o paletó e gravata e as joga sobre uma

máquina vaga. Então me entrega um balde de plástico de uma

pilha entre as máquinas.

“Para os seus ganhos”, ele diz.

“Melhor me dar dois”, digo, rasgando meus rolos de

moedas. “Estou com sorte... idiota.”

As máquinas de caça-níqueis têm botões de empurrar,

além das alavancas que fazem rolar imagens de cerejas,

diamantes e barras. Jonah aperta o botão, mas insisto em puxar

a alavanca.

“Para obter o efeito completo”, digo.

“Você realmente nunca jogou antes? Nem mesmo no

Caesars?”

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E m m a S c o t t

“Estou muito ocupada entregando bebidas gratuitas, e

quando o meu turno acaba, só quero sair de lá e trocar de roupa.

Puta merda, você deve ver a roupa que nos colocam para usar.

Togas, sandálias douradas e tiaras de folhas.”

O mergulho metálico de um pequeno punhado de moedas

atinge a bandeja de Jonah. Uma pequena vitória. Eu tenho o

mesmo; apenas o suficiente para nos manter jogando.

“É engraçado que temos o mesmo horário de trabalho”, ele

diz. “Quarta a sábado à noite, de dezoito a duas horas da manhã?

Exatamente a mesma programação.”

“Eu pedi por esse horário.” Viro o rosto para a máquina,

puxo a alavanca. “Porque são os melhores turnos.”

Com o canto do meu olho vejo Jonah sorrindo. “São os

melhores.”

Enfio a última moeda na máquina e nada vem.

“Eu estou fora”, digo com um suspiro. “Acho que o sistema

está viciado.”

Jonah ri. “Eu garanto que está. Estou quase com muito...”

Ele deixa cair uma moeda, aperta o botão e as imagens na

máquina giram e giram. Um desenho solitário de diamante com

jackpot escrito para bem no meio. Em seguida, dois. Em seguida,

três, todos alinhados em uma fileira perfeita. A máquina inteira

se ilumina com luzes piscando e música, e uma torrente de

moedas em cascata cai na bandeja que fica embaixo.

Salto da minha cadeira, minhas mãos voando para boca.

“Oh meu Deus, você ganhou. Você ganhou!”

Jonah olha, um meio sorriso de choque ao redor de sua

boca aberta. “Puta merda, olhe para isso.”

As moedas continuam caindo, transbordando a bandeja e

caindo sobre o tapete em uma avalanche tilintante.

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E m m a S c o t t

Agarro seu ombro. “Oh meu Deus, o quanto você ganhou?”

Olho para o topo da máquina para os pagamentos. “Diz que três

diamantes são... cinco mil moedas. Espera... Isso é...”

“Duzentos e cinquenta dólares”, Jonah diz, de pé, com as

mãos na cabeça.

“Você ganhou o jackpot”, digo, jogando meus braços em

volta do pescoço dele.

Ele olha para mim, com as mãos caindo lentamente. As

luzes da máquina refletem vermelho, azul e verde em seus olhos.

O ruído das moedas caindo desaparecem em meus ouvidos. Todo

o cassino desaparece ao fundo.

“Eu ganhei”, ele sussurra. Suas mãos pegam meu rosto e

ele me beija.

Congelo quando seus lábios cobrem os meus, então me

derreto contra ele. Sua boca quente, macia rouba a força das

minhas pernas e cambaleio para trás. Ele segue, apertando-me

contra o banco da máquina, moedas caindo sob os nossos pés.

Um pequeno gemido escapa de mim, um som inconsciente de

desejo emergindo. Eu não sabia o quanto queria isso até que

estava acontecendo.

Jonah passa os lábios sobre os meus e, em seguida, se

aproxima, pressionado com mais força. Meus lábios se abrem, e

eu gemo novamente no primeiro gosto de sua língua deslizando

contra a minha — um toque de calor doce e picante do nosso

jantar. Eu quero mais, mas ele se retira para beijar meus lábios,

sugando levemente, explorando todos os lugares, antes de voltar

a mergulhar mais fundo.

Minhas mãos encontram um caminho para seu cabelo

macio. Puxo levemente, trazendo-o para perto de mim, abro mais

a boca para aproveitar todo o seu beijo. Seu corpo pressiona o

meu, e desejo senti-lo na minha pele e em minhas veias.

Isso. Isso... O tempo todo tem sido isso.

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E m m a S c o t t

Jonah geme baixinho, suas mãos percorrem sobre cada

centímetro de pele disponível: meu pescoço, meu ombro, meu

rosto. Deus, a maneira como ele segura meu rosto, segurando

meu queixo nas mãos... Ele me beija como se eu fosse algo

delicado e precioso, algo que ama e quer manter com reverência.

O meu primeiro beijo. Este é o meu primeiro beijo de verdade.

O barulho de moedas para. Os lábios de Jonah roçam os

meus mais uma vez antes de ele se afastar. Ele abre os olhos.

E o meu coração se parte.

“Kace”, ele sussurra, com o rosto cheio de dor. “Oh droga,

eu não deveria ter feito isso.”

Todo sentimento bom e belo do nosso beijo é arrancado de

mim. “Jonah...”

“Eu não posso fazer isso com você. Ou comigo mesmo.”

Agarro-me a ele, puxando as mãos, ainda sem fôlego. “O

que você está dizendo...”

dele.

“Esta é sua máquina?” Ouvimos uma voz estridente atrás

Jonah abaixa as mãos e se vira. Uma velha senhora com

um olhar fixo para a luz amarela piscando no topo da nossa

máquina.

“Vão passar por aqui para preencher a máquina outra vez”,

ela diz. “Você vai querer o seu dinheiro ou não?”

“Queremos, obrigado.”

Jonah se ocupa em colocar as moedas nos baldes de

plástico. Eu ajudo, e cada vez que nossas mãos se tocam, o

desejo estala os meus braços. Eu o quero. Quero suas mãos sobre

mim, sua boca na minha, seu corpo em mim. Jonah, porém, não

olha para mim e sua boca está pressionada em uma linha fina,

como se ele estivesse tentando não respirar.

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E m m a S c o t t

Meus sentimentos batem em mim como um turbilhão de

dor, humilhação e confusão. Tinha apenas começado a provar

algo bom e perfeito e então foi arrancado.

Trocamos as cinco mil moedas por US$ 250. Jonah tenta

colocar o dinheiro na minha mão. “Pegue. Ou, pelo menos,

metade. Eram suas moedas para começar.”

“Foi o jackpot.”

Eu era o seu jackpot.

Ele balança a cabeça, mudo e relutante. A miséria exalando

dele é como mil pequenas lanças penetrando no meu coração.

“Vamos sair daqui”, digo, puxando seu braço. “Longe da

fumaça.”

“Sim”, ele diz com um sorriso amargo. “Não é bom para o

meu coração. Tudo o que faço é para o bem do meu coração

estúpido.”

Saímos do cassino e caminhamos em silêncio, pelas

calçadas movimentadas para sua caminhonete estacionada. No

caminho para o meu apartamento ficamos em silêncio. No

estacionamento, ele deixa o motor ligado e aperta o volante com

tanta força, que os nós dos dedos estão brancos.

“Eu sou um idiota”, ele finalmente diz. Ele se vira para

olhar para mim pela primeira vez desde que saímos do MGM

Grand, e seus olhos estão pesados e exaustos. “Kace, eu sinto

muito.”

“Por quê?”

“Eu não deveria ter te beijado. Foi errado e é estúpido, e

sinto muito. Nós somos amigos. Temos que continuar sendo

amigos. Só fui pego no momento, e você estava... tão linda.”

“Jonah ...” Estendo a mão para ele, mas ele se afasta.

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E m m a S c o t t

“Por favor, não. Estou fodido o suficiente por uma noite.

Minha força de vontade está pendurada por um fio maldito.”

Um breve silêncio se instala até que ouço apenas o meu

próprio coração, batendo com força contra meu peito. Chego

perto novamente e tiro a sua mão do volante. Seu bracelete de

alerta médico brilha.

“Você não tem que se desculpar. Não se desculpe. Aquele

beijo foi lindo. Você não sente? Pareceu certo e perfeito, e isso

significa algo. Jonah...”

“Deus, Kace”, ele sussurra, com sua voz embargada. “Você

deve ir. Por favor. Apenas vá.”

“Eu não quero”, digo, com minha voz embargada. “Eu não

quero desperdiçar mais um minuto. Estive longe de você durante

doze dias, quando saí da banda. Doze dias que nunca terei de

volta.” Lágrimas escorrem pelo meu rosto livremente agora.

“Escute. Tenho mais medo de não estar com você do que de estar

com você. Ou do que pode acontecer daqui a quatro meses.”

A mão de Jonah agarra a minha com força e seus olhos

brilham.

“Quatro meses”, ele diz, balançando a cabeça. “Você sabe

por que eu mantenho a minha agenda tão restrita? Por que eu

mantenho minha cabeça para baixo e trabalho todos os dias para

deixar a obra pronta para a exposição? Não é só para terminar o

trabalho. É porque quando faço só isso, mantenho o tempo que

falta como uma ideia abstrata. Em vez de um trecho linear de

dias é... uma esfera. Uma esfera de vidro a qual eu me mantenho,

visitar a minha família, ter bebidas com os amigos, mais e mais,

voltas e voltas. Cada semana não é diferente da seguinte. É assim

que sigo com o tempo.”

Lágrimas salpicam minha saia. “E agora eu estraguei

tudo?”

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E m m a S c o t t

Ele balança a cabeça, os olhos transbordando, sua voz

rouca e trêmula. “Não. Você tem sido uma luz brilhante no meu

mundo escuro e monótono. Mas se você me deixar te beijar de

novo... Se começarmos algo agora, o tempo não vai ficar parado.

Ao final, o meu fim, não vai ser alguma coisa insignificante à

distância. Ele virá em minha direção, porque...”

Sua voz é sufocada, e eu seguro sua mão com mais força,

as nossas lágrimas caindo juntas.

“Porque o quê?” Sussurro.

“Porque, Kace, os dias serão uma contagem regressiva até

que apenas uma saída exista”, ele diz com os dentes cerrados.

“Aquela em que eu tenho que dizer adeus a você.”

As palavras machucam meu coração, que racha e se

quebra.

É real. Como disse Lola. Eu não posso fingir que está longe.

Jonah inspira e se afasta, enxugando o rosto na manga de

sua camisa. “Vai ser difícil o suficiente como amigos”, ele diz, sua

voz embargada. “Vai ser muito pior se tentarmos ser mais. Se

fizermos amor. Se nós entrarmos...” Ele balança a cabeça,

frustração colore a sua expressão de agonia agora.

“Jonah...”

“É tarde. Eu tenho um monte de trabalho para fazer

amanhã.”

Não me passa despercebido a frieza em seu tom. Eu

balanço a cabeça em silêncio e alcanço a porta. “Tudo certo.

Obrigada pelo jantar e pela minha primeira vez em um cassino...”

E o meu primeiro beijo.

Jonah estende a mão sobre o assento para segurar a minha

mão novamente. Ele a segura com força, aperta meus dedos sobre

os lábios, em seguida, me deixa ir.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 26

jonah

Nas primeiras horas da manhã da sexta-feira da viagem de

acampamento, meu celular vibra com uma mensagem de texto de

Kacey.

Ontem no almoço, Tania me disse que encontrou um

bônus de US$ 250 em seu salário.

Quem disse que as máquinas de caça-níqueis não

pagam? Eu digito de volta.

Não eu. Espertinho. :P

Solto um suspiro de alívio. As coisas não estão tensas entre

Kacey e eu desde a semana passada, mas não estão 100% de

volta ao normal também. Ela está tão doce como sempre, ainda

levando Tania e eu para almoçar ou me enviando textos

aleatórios, engraçados como este. Ela está fazendo o que pedi

para fazer: ela está sendo minha amiga. Cumprindo sua parte do

acordo, enquanto eu estou sendo o bastardo egoísta, que a beijou

e quase fodeu tudo entre nós.

Nenhum de nós — Oscar, Theo, ou eu — tem um carro ou

caminhonete grande o suficiente para comportar seis passageiros

e nosso equipamento de acampar, por isso, cada um de nós

decidiu ir em duplas. O caminho para Great Basin National Park

é de quatro horas e meia. Tenho certeza de Kacey e eu

passaremos o tempo todo em um silêncio constrangedor, devido

ao beijo que quase fodeu tudo entre nós.

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E m m a S c o t t

Mas silêncios longos e Kacey Dawson não se misturam. Ela

é toda sorrisos quando vou buscá-la em seu apartamento, e

conversa sem parar sobre vários assuntos, e o camping em si.

“Eu nunca passei uma noite ao ar livre”, ela diz. “Será que

vamos ver estrelas?”

“Você vai ver muitas estrelas, será incrível”, digo a ela.

“Eu nunca vi um céu repleto com elas. As luzes da cidade

sempre as escondem.”

“Eu sei. A primeira vez que fui, eu não podia acreditar no

céu. Você vai amar.”

“Eu sei que vou”, Kacey diz, sentando em seu assento,

chutando as botas no painel. “Mas eu ainda não sei se trazer

minha guitarra foi uma boa ideia. Eu serei aquela garota que

invade a festa com música.”

“Você já nos privou de seu talento o suficiente. Você nos

deve pelo menos uma música. Considere o preço da admissão.”

Ela me joga dezenas de outras perguntas sobre a viagem,

nenhuma delas é sobre como iremos dormir. Não que eu sequer

sabia de alguma coisa. Oscar me garantiu que ‘iria cuidar disso’ e

murmurou algo sobre Holly e Kacey partilharem uma tenda.

Quando chegamos no parque de campismo, o carro preto

de Theo e a SUV prata do Oscar já estão estacionados lado a lado,

de frente para uma clareira de terra plana em Upper Lehman

Creek. Árvores — pinheiro, pinho e carvalho — se impõem no

meio com sua altura, gramas verdes cobrem o chão da floresta.

Posso ver o riacho do nosso lugar. Ele serpenteia através de todos

os acampamentos, correndo suavemente sobre a pedra lisa. Uma

peça de metal está no centro do lugar, e Theo já está montando

sua tenda laranja no lado leste.

Kacey salta para abraçar todos, e Oscar me puxa de lado.

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E m m a S c o t t

“Holly mudou os nossos planos, mano”, ele diz. “Ela não

pode ficar separada de Theo. Parece que você e Kacey vão ser

parceiros na barraca.”

Cruzo os braços sobre o peito e levanto uma sobrancelha.

“Você está tão cheio de merda.”

Oscar ri. “Você e Kacey. Uma barraca. Essa é a pura

verdade.”

“Eu sei, mas... não importa.”

“Uau, isso é incrível”, Kacey diz, se juntando a nós, seu

olhar varrendo a vista. Ela está adorável em sua despojada calça

jeans tamanho grande, botas pretas, uma camiseta branca

apertada e uma camisa xadrez verde aproximadamente dez

tamanhos maior. Considere a temperatura do dia uns trinta

graus. Kacey usa um gorro de malha na cabeça de qualquer

maneira, como se estivesse fazendo treze graus Celsius.

“Oscar, este lugar é tão bonito.”

“Não é?” Seu sorriso é nostálgico. “Eu costumava vir aqui

com os meus pais todos os anos quando era criança. Eles

eventualmente se cansaram, mas eu nunca parei de vir. Forço

meus amigos mais próximos e minha garota preferida, pelo

menos quatro vezes por ano.”

“Pelo menos”, Dena diz, envolvendo os braços em Oscar por

trás, o queixo contra seu ombro. “Mas amo isso aqui. Acho que é

inspirador.” Ela vira seus olhos escuros para Kacey. “Espero que

você ache o mesmo. Ouvi dizer que você trouxe sua guitarra?”

“Sim.” Kacey olha para baixo, chuta uma pedra. “Talvez eu

toque alguma coisa. Sei tocar Kumbaya.”

Oscar empurra o queixo para mim. “J, por que você não

mostra a ela o nosso lugar, leve-a para se familiarizar com a área.

Nós vamos chamar o Theo para montar sua barraca para você.”

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E m m a S c o t t

“O inferno que eu vou”, Theo resmunga por trás, de joelhos

em uma poça rasa de nylon laranja, orientando Holly sobre como

ajudá-lo.

Viro para Kacey. Seus olhos azuis aparentemente mais

impressionantes na neblina do lugar, em vez do branco calor

implacável de Vegas.

“Você quer ver o riacho?” Pergunto.

“Quero ver tudo.”

Levo-a para dar uma volta no local, através dos bosques e

ao longo do riacho. Tem apenas alguns centímetros de largura,

mas com uma corrente contínua de água limpa, fria. Kacey põe as

mãos nela e salta para trás com um grito. Então agita as mãos

secas e as envolve em sua camisa.

“Por favor, não me diga que tenho que tomar banho aqui”,

ela diz, rindo.

“De modo nenhum. Na cidade de Baker tem chuveiros

pagos.”

“Graças a Deus.”

“Apenas a uma curta caminhada, de quatro horas descendo

a montanha.”

Seu sorriso desaparece. “Sério?”

“Oscar gosta de tudo ou nada. Estamos metidos nisso,

menina da cidade, por dois dias inteiros.”

Kacey morde seus lábios. “É melhor que apareçam algumas

estrelas incríveis hoje à noite.”

“Eu garanto.”

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E m m a S c o t t

Caminhamos por entre as árvores, o barulho do riacho

sendo o único som.

“Você sabe onde está indo, Fletcher?” Ela pergunta,

pisando com cuidado sobre uma árvore caída.

Eu paro de andar. “Achei que você tinha trazido o mapa?”

“Muito engraçado. Se você se perder, eu não vou comer

insetos ou musgo ou... líquen. Digo isso desde já.”

“Você não terá que comer. O pé grande provavelmente vai

chegar até nós antes disso.”

Kacey congela. “Por favor, não brinque. Pé Grande? Sério?

Existem Pé grandes? Grande... aqui em cima?”

“Pés grandes?” Minha risada começa como um ruído,

ganha força, e então estou rindo com lágrimas picando em meus

olhos.

“Cala a boca!” Kacey diz, dando-me um empurrão

brincalhão ao tentar esconder sua própria risada. “Eles me

assustam. E são reais, sabe”, ela insiste, apontando o dedo para

mim. “Você não pode me dizer que não são. Uma vez vi um

documentário... não dormi por uma semana.”

“Vamos”, digo, enxugando os olhos. “Eu vou te mostrar o

lugar, por isso que estamos aqui. Território livre de pés grandes,

eu prometo.”

Caminhamos até as árvores desbastadas, e depois dá lugar

a uma clareira com grama longa, parecida com cabelo, na borda

do mundo. As montanhas se levantam em todos os lados,

vestidas do verde claro, cheio de árvores de verão, não mais o

verde vibrante da primavera e ainda não os dourados e vermelhos

do outono. Abaixo de nós, a bacia se espalha por quilômetros, um

lago azul prateado escondido entre mais verdes. Não há

velejadores ainda para perturbar a superfície; é ainda como como

vidro.

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“É tão bonito”, Kacey murmura, seu olhar varrendo todo o

perímetro, e depois o céu nublado. “Se as nuvens passarem,

devemos ver as estrelas esta noite.”

Eu balanço a cabeça. “Se for claro o suficiente, você poderá

ver a borda da Via Láctea.”

“Sério? Isso seria incrível.”

Vejo seu olhar seguir um falcão quando ele sobe por toda a

bacia. Ver as estrelas refletidas em seus olhos... seria incrível. A

oportunidade de uma vida.

O crepúsculo vem e nós seis nos sentamos em cadeiras

dobráveis ao redor da fogueira, assamos cachorros-quentes e

marshmallows. Discussão e risos cruzam o círculo, histórias

terminadas e outras deixando seu rastro. Vejo que a luz do fogo

lança um brilho nos rostos das pessoas que mais gosto. Capturo

esses momentos em imagens mentais.

O rosto engraçado do Oscar, a luz do fogo captura o brinco

de Dena, um grito de alarme de Holly quando seu marshmallow

pega fogo, Theo segurando um cachorro-quente para cima e

virando a cabeça de lado para mordê-lo. E Kacey inclinando o

queixo sobre a palma da sua mão, olhando de soslaio para mim,

inclinando-se para mim...

Guardo esses momentos na memória com a esperança de

que possa levá-los comigo aonde quer que eu vá depois.

Logo, a única luz é do nosso fogo baixo. As árvores

dobradas sobre nós para formar um dossel, e enquanto parece

que as nuvens haviam passado e apenas um punhado de estrelas

é visível.

Alimentos ingeridos e lixo limpo, Dena abre a parte artística

da noite recitando alguns poemas: um pouco de Walt Whitman,

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E m m a S c o t t

alguns versos de Thoreau. Ela fecha, como sempre faz com Rumi,

e enquanto a maioria das poesias não me emociona, Dena recita

um verso que chama a minha atenção:

“Você não é uma gota no oceano. Você é todo o oceano em

uma gota.”

Olho para Kacey sentada ao meu lado. Ela não é apenas um

oceano. Ela é um universo inteiro.

Oscar convida Kacey para tocar para nós.

“Estrela do rock na casa”, Holly diz.

“Sério?” Ela diz de sua cadeira ao lado de Theo, de mãos

dadas.

“A ex-estrela do rock”, Kacey diz. “E não acho que você

pode me chamar de ‘estrela’ quando saí da banda oito nano

segundos antes de ficar famosa.”

Ela está certa. Ouvi no rádio da Hot shop que sua antiga

banda estava rasgando as cidades e adicionou mais quatro shows

à sua série de concertos esgotados.

“Qual banda?” Holly pergunta.

“Rapid Confession”, digo enquanto Kacey está buscando

sua guitarra para fora da tenda.

Holly quase cospe a cerveja de sua garrafa. “Você está de

brincadeira? Porra, eu amo essa banda.”

Theo lança a ela um olhar irritado. Kacey apenas sorri

enquanto coloca a correia da guitarra em seu ombro.

“Por que você desistiu?” Holly pergunta.

“Não era pra mim.” Kacey está sentada no chão na frente

de sua cadeira, perto de minhas pernas. A luz do fogo faz seu

rosto brilhar. “Então”, ela diz, afinando sua guitarra. “Algum

pedido?”

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E m m a S c o t t

“Hum, sim, o que acha de ‘Talk Me Down’?”

Kacey sorri ligeiramente, mas mantém os olhos em sua

guitarra. “Eu não toco mais essa.”

Estou nervoso pra caramba por algum motivo. Além de

alguns sons de guitarra altos — mas intrigante — elétricos no

rádio, eu nunca ouvi Kacey tocar. Ou cantar. Meu coração bate

rápido como se eu fosse o único no centro das atenções, e minhas

mãos estão tão suadas que tenho que limpá-las na frente do meu

jeans.

“Que tal um clássico?” Dena diz. “Tom Petty?”

Kacey assente enquanto dedilha algumas notas. Em

seguida, os dedos batem os cinco acordes da introdução ‘Free

Fallin’.

“Ótimo”, Dena murmura.

Os acordes são repetidos, então Kacey começa a cantar.

Depois de dois versos, fecho os olhos, bloqueando tudo,

exceto sua voz. Pura e doce, mas um pouco rouca também.

Resistente como o inferno, tingida de vulnerável. Ela canta sobre

uma boa garota que amava sua mãe e um menino mau que

quebrou seu coração. A mão de Kacey dedilha as cordas mais

difíceis quando o verso termina, e ela atinge uma nota alta e

complexa, com uma boa afinação no final.

Antes do próximo verso, Kacey sorri para Dena,

murmurando, “Don’t leave me hanging (Não me deixe

esperando)…” Dena se junta a ela, em seguida, nós todos estamos

cantando. Pelo resto de ‘Free Fallin’ e em ‘I Am Yours’ de Jason

Mraz, ‘Brass in Pocket’ dos Pretenders, e ‘Wonderwall’ do Oasis.

Por último, Kacey canta ‘Chasing Cars’ de Snow Patrol’s

sozinha, sua voz enchendo a noite. Debruço-me na minha

cadeira, apenas a lateral do seu rosto visível para mim, iluminada

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com a luz do fogo enquanto sua voz doce, forte pede a alguém

para se deitar com ela e esquecer o mundo.

A dor em meu coração sobe para a minha garganta, e sinto

algo mudar dentro de mim. Uma mudança. A esperança egoísta e

imprudente que talvez, se Kacey ainda estiver disposta, eu

poderia deitar com ela esta noite e todas as noites depois dessa, e

todas as outras que eu ainda tiver.

A música termina. Seguida pelo silêncio.

Holly funga e enxuga os olhos. “Você tem uma bela voz.”

Kacey sorri enquanto os outros murmuram em acordo.

Com um estalar de sua cabeça, Theo sai do seu devaneio como

um homem esteve sob hipnose. Todas as suas paredes voltam

para cima. Seu rosto endurecido, com a testa franzida e ele toma

um longo gole de sua garrafa de cerveja.

Os olhos de Kacey encontram os meus, suaves e serenos à

luz do fogo.

“Tudo bem, garotos”, Oscar diz, pegando um jarro de água

para apagar o fogo. “Hora de dormir.”

Boa noite é dito, e nos retiramos para as nossas tendas.

Kacey e eu nos revezamos esperando do lado de fora enquanto o

outro se troca para as roupas de dormir. Ela veste leggings e um

blusão azul masculino bem comprido. A temperatura cai para

quinze graus ou menos, e ela estremece enquanto se aconchega

em seu saco de dormir.

Vestindo calças de flanela e uma camisa, deslizo para o

meu saco. Ficamos deitados em silêncio olhando para o teto da

barraca, um raio de luz prata das estrelas é a nossa única

iluminação.

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“Holly está certa”, digo. “Sua voz é bonita. Você poderia ter

uma carreira solo, se quisesse.”

Ela rola de lado para mim. “Se eu quisesse...”

“Você quer?”

“Eu não sei. Ainda esta manhã tentei terminar uma canção

que comecei há vários anos. Sobre Chett. Eu a escrevi na estrada.

Toda a dor dele me largando. Puxo as palavras do meu coração

para pôr na página. Deus, a dor sentida foi tão real naquela

época. Mas quando li hoje... pareceu vazio. Bobagem, até.” Ela dá

um suspiro. “Acho que não vale a pena escrever qualquer canção

de Chett. Irônico, já que é por isso que voltei para Vegas. Para

escrever sobre ele.” Ela mexe em sua bolsa. “Acho que é hora de

encontrar algum material novo.”

Balanço a cabeça, lutando por algo mais a dizer.

Kacey deita de volta. “Esta tenda é a pior.”

“Como?”

“Esta é a pior tenda que existe”, ela diz, apontando para o

teto de nylon angular sobre nossas cabeças. “Olhe para ela. Que

diabos adianta dormir na natureza, se você não pode vê-la?”

“Para protegê-la contra os elementos”, digo. “Apenas uma

fina tira de nylon separa você da chuva, vento... do pé grande.”

“Cale-se.”

“O pior que a mãe natureza tem para oferecer.”

“E o melhor”, ela diz. “Quero dizer, não há nem mesmo

uma janela para ver as estrelas. As tendas não têm geralmente

uma tela ou algo assim?”

“Algumas tem”, digo. “Essa não.”

Kacey sai do seu saco e o enrola em um monte

desengonçado e o enfia debaixo do braço.

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E m m a S c o t t

“Onde você vai?”

“Eu quero as estrelas.” Ela para na porta da tenda e olha

por cima do ombro para mim, uma pergunta em seus olhos.

Você vem?

Ela não espera por uma resposta, mas sai. Para onde eu

não faço ideia, mas se não a seguir, ela pode se perder na

escuridão da floresta. Pelo menos, é isso que digo a mim mesmo,

quando junto o meu próprio saco de dormir e a sigo para fora.

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CAPÍTULO 27

jonah

O chão está frio e duro sob meus pés descalços quando

sigo o brilho do cabelo claro de Kacey pela floresta, para longe da

clareira de tendas escuras onde meus amigos dormem. Ela segue

o riacho e eu acho que sabe para onde está indo. O único lugar

que ela conhece para ir; a clareira perto da borda do vale, cerca

de noventa metros de distância do acampamento.

Apenas algumas árvores cortam a clareira, elevando-se em

colunas no escuro. Abaixo, o vale se espalha em colinas de verdeescuro

que parecem quase preto no meio da noite, e um dossel de

estrelas que brilham como diamantes. A lua está enorme e cheia,

e lança luz prateada sobre tudo.

Ela deixa o saco de dormir cair na parte mais suave do

chão, amortecida por agulhas de pinheiro secas e macias, grama

longa. Kacey para por um momento, de costas para mim, esbelta

e luminosa ao luar. Sua cabeça se vira, tendo a vista do vale à

sua frente, e depois se inclina para as estrelas acima. Seus

ombros sobem e descem com uma inspiração profunda. A

respiração enche meus próprios pulmões, juntamente com uma

vontade desesperada de me mover atrás dela, trazer seu corpo ao

meu, colocar minha mão em seu cabelo e beijar a pele macia de

seu pescoço.

Kacey sacode o saco de dormir e entra nele. Eu coloco o

meu ao lado do dela, e juntos nos deitamos, olhando para as

estrelas.

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“Tão incrivelmente bonito”, ela diz. “Incrível como tudo isso

está aqui, em todos os céus noturnos, mas raramente podemos

ver.” Ela se vira para olhar para mim. “Você está muito quieto

esta noite. O que você está pensando?”

Em você. Meus pensamentos estão preenchidos com você.

Sempre.

“Posso dizer o que eu estou pensando?” Ela diz antes que

eu possa responder. “Estou pensando agora, que estamos

deitados aqui com menos de um centímetro entre nós, mas em

sacos de dormir separados. Porque nós somos amigos. Você está

aí, e eu estou aqui, e nós estamos fingindo amizade que nos

mantém a uma distância segura.”

Meu coração começa a bater. “Eu sei. Não deveria ter dito a

você para voltar a Vegas. E eu não deveria ter te beijado.”

“Eu tinha que voltar”, ela diz. “Eu nunca deveria ter ido

embora. Se tivesse mudado para alguma outra cidade, eu estaria

sozinha e infeliz e sentindo sua falta. Perdemos doze dias quando

parti. Eu quero que o tempo volte e não quero perder mais.”

“Kacey...”

“Eu não posso continuar assim, Jonah”, ela diz, virando-se

para olhar para mim. “Como amigos. Eu sei que deveria tentar,

mas não posso. Eu não consigo... não tocar em você. Eu quero

poder beijá-lo se eu sentir vontade, e acho que você quer isso

também. Tal como o nosso primeiro beijo no cassino. Foi tudo

para mim. Tudo.”

“Foi para mim também”, digo. “Eu quero te beijar

novamente. E quero te beijar tanto, que não posso respirar. Eu

quero estar com você a cada segundo da minha vida, mas... Deus,

Kacey, quanto tempo é isso? Como faço para colocá-la nisso?”

“E você? Você continuará sozinho?” Ela balança a cabeça.

“Você pode confiar em mim. Confie em mim quando digo que

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posso aguentar. Você e eu. Eu consigo. Aconteça o que

acontecer.”

“Eu confio em você. Eu me afastar nunca foi sobre

desconfiar de você. Foi sobre não querer machucá-la. Isso é tudo

que eu sempre quis, desde o primeiro momento que a vi. Protegêla.

Mantê-la segura.”

Ela sorri, com os olhos cheios de felicidade. E Deus, de

alguma forma, mesmo com todas as coisas loucas acontecendo

na minha vida, tudo se resume à possibilidade ou não de Kacey

estar feliz. Quero fazê-la feliz de qualquer maneira que eu possa,

porque é isso que ela faz por mim. Pouco a pouco, dia a dia, como

a luz solar que escoa através das rachaduras de uma casa

abandonada, Kacey está me invadindo. Derrubando as persianas,

arrancando as placas e iluminando tudo.

“Venha aqui”, digo.

Ela se contorce em seu saco de dormir por um momento

antes de sair dele. Meu coração acelera ao ver suas pernas nuas,

um flash da roupa íntima rosa, e o contorno de seus seios sob o

blusão. Seguro meu saco de dormir aberto e ela desliza dentro,

seu corpo curvando-se perfeitamente no meu, certo e perfeito

assim como o nosso beijo.

Ela suspira, vibra quando coloca as mãos no meu rosto.

“Sinto muito por ter te deixado.”

“Eu lhe disse para ir.”

“Eu deveria ter ficado. Nunca deveria ter deixado todos. E

prometo a você, Jonah, nunca vou deixá-lo novamente. Nunca

mais.”

“Eu vou deixar você”, digo, minha voz pouco mais alta que

um sussurro. As palavras penduradas entre nós, o ponto crucial

de toda a nossa dor, lágrimas e hesitação.

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Mas Kacey sorri — sorri — com lágrimas correndo pelo seu

rosto. “Ainda não. Não essa noite. Podemos não ter meses ou

anos, mas nós temos momentos. Milhares e milhares deles.

Vamos dar a cada momento, o nosso melhor. Ok?”

Olho para ela. “Ok.”

“Este é um bom momento”, ela sussurra.

“Um dos melhores...” Deixo minha cabeça afundar na

direção dela. Nossos lábios se encostam e os dela se separam

para mim imediatamente. Nossas línguas se encontram e eu

tremo como uma vibração correndo através de mim, queimando

através de mim como um fusível.

“Deus”, sussurro contra sua boca.

“Isso”, ela respira de volta. “Este momento.”

Ela me puxa para o beijo e estamos um sobre o outro. Ela

fica perfeita debaixo de mim, se encaixando perfeitamente contra

mim, e nossas bocas se movem em perfeita sintonia, nossas

línguas percorrendo e se tocando tão suavemente. A necessidade

que esteve crescendo e fervendo entre nós desperta e pega fogo.

Minhas mãos são gananciosas. Ela geme e se contorce com meu

toque, enquanto suas próprias mãos percorrem —meu cabelo,

minhas costas, em volta da minha cintura. Ela me encontra duro

e me acaricia através das calças de flanela.

“Jonah...” Ela se empurra contra mim, puxando-me para

perto com a perna. “Eu quero. Tanto. Você pode?”

“Oh, eu posso”, digo. “E eu vou.”

Ela deixa escapar um pequeno som em minha boca

enquanto a beijo muito, enquanto minhas mãos procuram os

seios sob a blusa. A sensação deles, o peso deles e sua pele suave

contra as palmas das mãos ásperas. Tudo dela, a respiração, o

cheiro, o jeito como me beija... Eu nunca quis uma mulher assim.

Nunca.

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“Não pare de me beijar”, ela sussurra contra a minha boca

quando tomo uma respiração. “Eu vou morrer se você parar...”

Minha boca toma a dela novamente, enquanto os nossos

corpos balançam juntos, seus quadris subindo para encontrar o

meu. Puxo-a com força, pressionando com vontade, como se já

estivéssemos nus e eu dentro dela.

Seus dedos lutam com os botões de sua camisa. “Tira isso”,

ela sussurra.

Eu a rasgo em vez disso, botões voando, e ela dá um

pequeno grito de surpresa, quando os seios se libertam. O ar frio

endurece seus mamilos imediatamente e coloco minha boca em

um, sugando e girando minha língua. Desejo percorre da minha

virilha até minha cabeça. Tonto de desejo e necessidade, sigo

para o outro seio enquanto ela arqueia as costas em minha boca.

“Oh Deus, sim...” A voz está ofegante e sua mão desliza sob

o cós da minha calça. Seus dedos se fecham ao redor da minha

dolorosa ereção, me acariciando.

“Se você continuar fazendo isso”, digo, minha boca em seu

pescoço, chupando e beliscando, “não será uma noite muito

divertida para você.”

“Não”, ela diz. “Você vai gozar comigo. Nós gozaremos

juntos.”

“Você é otimista.”

“E você não está nu suficiente”, ela responde. Ela puxa

minha camisa para fora e a joga de lado. Pele com pele, os seios

pressionados contra o meu peito. Minhas mãos emaranhadas em

seus cabelos, segurando sua cabeça enquanto eu beijo o doce

gosto de caramelo de sua boca.

“Eu quero isso... você...” Eu quero sentir toda a sua

suavidade requintada e calor em toda parte.

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E m m a S c o t t

Tiro minha calça e a cueca boxer. Ela tira a calcinha e me

puxa de volta. Sua boca toma a minha novamente e suas pernas

se abrem e estou tão duro...

“Merda, eu não tenho nada...”

“No bolso da camisa”, ela sussurra em meu pescoço.

Eu poderia chorar de alívio, mas isso teria levado muito

tempo. Pego um preservativo do bolso da frente da blusa rasgada

que ela está parcialmente vestindo e rasgo a embalagem. Em

questão de segundos, estou pronto.

“Jonah”, Kacey sussurra, abrindo suas coxas e me pegando

com a mão para me guiar. “Eu te quero tanto...” As palavras se

desfazem quando ela arqueia as costas e deslizo dentro dela.

Eu não tenho palavras. Sem pensamentos. Só a pura

sensação, o perfeito aperto quente e molhado levando-me a

entrar, me segurando, prendendo e envolvendo-me até que estou

enterrado tão profundamente quanto posso ir. Em seguida, suas

unhas se cravam em meus ombros, ela inclina os quadris, e estou

ainda mais profundo.

“Jesus, Kace”, eu gemo. Seguro seu quadril com uma mão,

levantando seu corpo para encontrar o meu. Empurrando para

baixo dentro dela, pressionando-a em meus impulsos, mantendo

lento. À luz da lua, com o rosto contorcido de prazer, os olhos

fechados, a boca aberta, garganta e costas arqueadas para me

levar todo o caminho de cada vez.

“Jonah”, ela respira. “Mais por favor…”

Seus quadris sobem e descem mais rápido agora, e eu

combino com seu ritmo, mantendo simultâneo sem pensar. Suas

pernas se enrolam ao redor da minha cintura, empurrando o saco

de dormir para fora de nós. Eu não sinto frio. Somente sua pele

na minha, o doce calor de seu corpo e os sons de seu prazer

sufocados no meu ombro.

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“Você é tão gostosa”, digo a ela, movendo mais rápido

agora. “Como você pode ser assim?”

“É você. Deus...” Seus olhos se arregalam por cima do meu

ombro. “Você precisa ver as estrelas.”

Eu passo meus braços ao redor dela e viro de costas,

puxando-a em cima de mim. Ela se levanta contra o céu, me

montando. E Deus Santo, as estrelas... Milhões delas em um

cenário brilhante para a beleza de Kacey. Elas não são nada se

comparadas a ela. Nada.

Ela encolhe os ombros saindo de sua camisa rasgada e a

joga longe. Sua pele nua brilha e irradia, a tinta escura de suas

tatuagens enlaça seus braços como uma trepadeira. Seus seios,

cheios e bonitos quando se levantam e caem, com as costas

arqueadas, o cabelo como seda branca derramando pelas costas.

Eu luto para não gozar, agarro-me ao mundo para esperar

por ela, para fazer com que seja tão incrivelmente bom para ela

quanto posso. Seus suspiros viram choramingos, meu nome é

sussurrado cada vez mais alto em sua boca. Ela se inclina para

trás, e coloca as mãos nas minhas coxas atrás dela, seu corpo

arqueado e aberto para mim. Isso acaba comigo. Não aguento

mais. Eu meio que sento, agarrando seus quadris com força e a

levo para baixo quando gozo dentro dela, uma e outra vez.

“Goze, Kace”, rosno entre os dentes. “Deixe-me vê-la gozar.”

Ela grita e seu corpo estremece e aperta em volta de mim. A

visão de seu rosto enquanto ela goza, a beleza inacreditável do

mesmo, o fato de que fiz isso com ela, a trouxe para esse prazer,

me toca profundamente.

Impulsiono uma última vez e gozo mais forte do que já

gozei na minha vida. Gozo, explodindo em Kacey, que está

choramingando agora, com a voz embargada, e então finalmente o

silêncio é quebrado apenas pela nossa respiração forte.

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E m m a S c o t t

Kacey olha para mim, um sorriso desconcertado em seu

rosto. Lentamente, se deixa cair sobre mim, seus seios

pressionados contra o meu peito arfante. Ela enfia a cabeça

debaixo do meu queixo e a suavidade de seu cabelo cai sobre o

meu pescoço. Com esforço, levanto meus braços trêmulos e a

abraço, a pele sedosa de suas costas nuas sob minhas mãos.

Olho para o dossel de estrelas no céu, me perdendo.

E me encontrando.

“Você está bem?” Ela sussurra.

“Oh sim.”

“Seu coração está batendo tão rápido.”

Enfio a mão entre nossos peitos. “Então, é culpa sua.”

Eu a sinto rir e suspirar por toda a minha pele nua. “Isso

foi incrível”, ela sussurra. “Eu nunca... Quero dizer, eu já, mas

não assim. Nunca como agora.”

Uma estrela cadente desce em todo o profundo azul-negro

do céu, cruzando o dossel repleto de diamantes. “Sim”, sussurro.

“Nunca assim.”

“Você acha que os outros nos ouviram?”

“Eu tenho certeza que toda a área estadual nos ouviu.”

Minhas mãos arrastam preguiçosamente sobre suas costas. “Um

guarda do parque vai vir por aquela colina a qualquer momento

para investigar quem estava torturando um leão da montanha.”

“E quem é o leão da montanha neste pequeno cenário?”

isso.”

“Você, é claro. Eu tenho as marcas de garras para provar

Kacey se aconchega mais contra mim. “Eu não me importo

que ouviram”, ela murmura depois de um momento. “Eles

querem isso para você, de qualquer maneira. Oscar e Dena.”

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E m m a S c o t t

“Todos querem que eu fique com alguém?”

“Todos eles querem que você fique com alguém.”

Eu balanço a cabeça. “Sim. Eu acho que querem.”

Kacey levanta a cabeça. “E agora você está comigo.” Seus

olhos se voltam para baixo por um segundo e, em seguida, para

encontrar os meus. Hesitante.

Eu sorrio suavemente para ela, essa linda mulher deitada

nua comigo, sua pele nivelada com a aresta dura da minha

cicatriz e ela não tem medo.

“Estou com você, Kacey. Não posso não ficar com você.”

“Não há volta, ok? Sem dúvidas. Se o fizermos, nós apenas

perderemos tempo. Eu não quero desperdiçar um único momento

com você. Nenhum.” Ela se levanta sobre os cotovelos. “Você me

promete? Não vai voltar atrás?”

Seguro seus ombros e a puxo para cima de mim, então

coloco minhas mãos em seu cabelo. Seus olhos estão arregalados

e intensos, e sei que ela ainda está me pedindo para confiar nela,

quando ninguém mais confiou.

“Não há volta”, digo, e selo o voto com um beijo que é suave

e gentil, mas no fundo com intenção. Minhas melhores intenções,

apesar de meus piores medos.

Pequenos momentos, de dia após dia. Isto é o que eu tenho

para dar.

Beijo Kacey mais profundamente e a necessidade de tê-la

me consome novamente. Ela geme baixinho na minha boca e

sinto que seu corpo começa a se mover contra o meu.

“Eu suponho que você não tenha um segundo preservativo

no bolso mágico, tem?” Pergunto entre beijos. “Por favor diga que

sim.”

Kacey ri contra os meus lábios. “Veja por si mesmo.”

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E m m a S c o t t

Minha mão direita serpenteia para fora e pega sua camisa

descartada. Sinto um estalo no bolso e minha cabeça cai para

trás.

“Você sabia que íamos dormir juntos esta noite?”

“Eu tinha esperanças que sim.”

Levanto uma sobrancelha enquanto abro o pacote. “Duas

vezes?”

Sua voz, seus olhos e seu sorriso suavizam. “Eu tinha

muita esperança...”

Ela me coloca dentro dela, e quando meu corpo é sacudido

com prazer, sinto a mais agridoce emoção, subindo e caindo ao

mesmo tempo: alegria, por ter essa mulher na minha vida, e uma

profunda dor por tê-la conhecido tarde demais.

Eu te amaria para sempre, Kacey, se tivesse a chance.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 28

kacey

O sol está bem acima do horizonte quando Jonah e eu

caminhamos de volta para o acampamento, de mãos dadas. Agora

que posso tocá-lo, não quero mais parar. Meu corpo ainda

cantarola como um passarinho, e em vez de se sentir saciada

depois de dois orgasmos alucinantes, eu só quero mais.

Chegamos às barracas para encontrar todos os outros

sentados em torno de um fogo baixo, tomando café. Todos param

para olhar para nossa abordagem. Oscar começa a bater palmas

até Dena lhe dar uma cotovelada na lateral, escondendo um

sorriso por trás da mão, enquanto nos observa com os olhos

calorosos. Holly enterra um risinho constrangido em seu ombro,

embora pareça cansada, como se não tivesse dormido muito na

noite anterior. Theo é o único boquiaberto, com sua expressão

ilegível. Retorno seu olhar com um pequeno sorriso que ele não

corresponde, e rapidamente desvia o olhar.

Jonah para, encarando todos os olhares. “Será que vocês

ouviram algo na noite passada? Leão da Montanha. Um alto

demais.”

Todo mundo começa a rir. Exceto Theo.

Golpeio o braço de Jonah e tomo o meu lugar ao redor do

fogo. O olhar escuro de Theo me segue, formigando na minha

pele. Dena me entrega uma garrafa térmica de café preto e

quente. Nossos olhos se encontram, os dela cheio de calor e algo

como gratidão.

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E m m a S c o t t

Sento no chão entre os pés de Jonah, inclinando-me para

trás com os cotovelos sobre os joelhos. Um ajuste perfeito.

Tudo isso, penso, tomando meu café. Tão perfeito.

Todos nós caminhamos pela floresta, nessa manhã,

seguindo uma trilha íngreme para baixo em direção a um

pequeno lençol de água chamado Stella Lake. Os caras ignoram

as rochas em toda a superfície, insultando um ao outro em uma

competição afetuosa, mas implacável. Holly, Dena, e eu andamos

em torno do perímetro sob um céu de chumbo que ameaça com

chuva.

Holly tem estado tranquila durante toda a manhã. Ela fica

perto de nós durante a caminhada, mas diz pouco, as mãos

enfiadas na frente de seu moletom.

“Eu traí a regra ‘sem telefones celulares’ e dei uma olhada

na previsão do tempo”, ela finalmente diz. “Uma enorme

tempestade vai rolar por aqui.”

Dena e eu olhamos para cima, ao mesmo tempo. O céu está

plano e cinza, e à distância, nuvens mais escuras e mais pesadas

aparecem.

“Então, queria saber se vamos embora mais cedo”, Holly

diz. “Como hoje. E se formos, será que eu poderia pegar uma

carona com um de vocês?”

A expressão de Dena demonstra preocupação. “Por quê? O

que aconteceu?”

“Theo e eu terminamos”, Holly diz.

“Quando?” Pergunto.

“Na noite passada.” Ela puxa o piercing na sobrancelha.

“Logo depois que todos foram para a cama.”

Dena olha para mim, depois de volta para Holly. “Eu sinto

muito, Holly. Posso perguntar o porquê?”

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E m m a S c o t t

“Ele é um idiota, é por isso”, ela diz com fogo súbito. “Ele

me disse que estava cansado de tentar fazer isso dar certo,

quando obviamente não queria. Ele sempre foi meio... quente e

frio comigo. Mas desta vez parece mesmo... que chegou ao fim.”

Seus olhos se enchem de lágrimas que ela rapidamente afasta.

“De qualquer jeito. Não quero passar tanto tempo dirigindo de

volta apenas com ele no carro.”

“Não, claro que não”, Dena diz, colocando o braço ao redor

dela. “Você pode ir com a gente. Vou descobrir com o Oscar o que

ele pensa sobre esta tempestade em potencial e nós vamos

resolver isso, ok?”

Holly assente. “Muito obrigada. Eu agradeço. Vou voltar a

subir. Estou farta de acampar.” Ela olha para mim, sua voz

endurecendo em petulância. “Você tem o irmão bom.”

Dena e eu observamos a sua partida de volta para a trilha,

então trocamos olhares de olhos arregalados.

“Bem, por um lado”, Dena diz enquanto nós continuamos

no caminho, “é uma merda Theo romper com ela enquanto ela

está presa, centenas de quilômetros de casa. Por outro lado, eu

não sei por que ele a trouxe em tudo. Ela é o mais próximo que

ele chegou de ter uma namorada, mas ela nunca fica.”

Dou de ombros. “Ela não é especial.”

“Definitivamente não. Ele não está procurando por uma. E

ele não deveria.”

“Não?”

“Os amantes não se encontram finalmente em algum lugar.

Eles estão um no outro o tempo todo”, ela recita.

Eu sorrio, um calor expandindo lá em baixo no meu íntimo,

juntamente com uma memória sensorial de Jonah deslizando

dentro de mim. “Eu gosto disso”, digo.

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E m m a S c o t t

“Eu também”, Dena diz com sua voz suave, o tipo de tom

tranquilo que faz você se sentir como se estivesse lhe dizendo algo

que apenas significa para você ouvir. “Rumi, novamente. Nunca

deixa de me surpreender como suas palavras ainda são tão

verdadeiras e potentes, centenas de anos depois que viveu.”

Paramos e observamos os caras pulando as pedras. Mesmo

a quarenta e cinco metros de distância, eu posso ver o riso em

Jonah e a posição de Oscar, e o carrancudo de mau humor em

Theo.

“Jonah é um dos melhores homens que já conheci”, Dena

diz. “Tem sido difícil vê-lo fechar a parte dele que anseia por amor

e querer cuidar de alguém. Quando ele fez essa última biópsia...

Ele tomou uma decisão de não se envolver com alguém

novamente. Ele usou o rompimento de Audrey como desculpa.

Mas agora ele está com você. Ele desfez essa decisão. Agora tem

uma chance.”

“Chance de quê?”

“De ser feliz. Ele está feliz com você.” Os olhos escuros de

Dena encontram os meus atentamente. “Ele não vai saltar de

aviões ou visitar lugares distantes da terra. Ele não tem nenhuma

lista de coisas a fazer. Ele só quer terminar a sua obra. E eu me

preocupei — todos nós nos preocupamos — que isso não fosse o

suficiente. Não tenho dúvidas de que ele vai termina-la. Mas eu

queria que ele compartilhasse sua linda arte com alguém. E agora

ele compartilha.”

Ela coloca a mão na minha, dá um aperto. “Você não tem

que me dizer. Tenho certeza que ele lutou para protegê-la. Para

manter você...”

“A uma distância segura”, digo.

Ela suspira, acena com a cabeça. “Ele empurrou tantos

amigos para longe pelo mesmo motivo. Mas não foi capaz de se

manter afastado de você, não é?”

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E m m a S c o t t

Balanço a cabeça, um sorriso espalhando meus lábios.

“Não, ele não conseguiu.”

“Claro que não”, Dena diz com uma risada, e volta seu

olhar sobre Jonah. “Vocês estavam um no outro o tempo todo.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 29

jonah

Oscar confirma que uma tempestade está vindo em direção

a nós em Basin. Pelas nuvens escuras no céu, ele acha que temos

uma hora no máximo.

“Eu vi a previsão do tempo antes de sairmos”, Oscar diz,

“mas esperava que fosse se dissipar então arrisquei uma

oportunidade. Desculpem amigos.”

“Isso é péssimo”, Kacey diz para mim. “Acontece que gostei

de acampar. É calmo aqui. Longe da cidade, carros e outras

pessoas. E eu queria mais tempo aqui com você.” Ela olha para

mim e acaricia a linha da minha mandíbula, em seguida, seus

olhos vão em direção aos outros que estão fazendo as malas.

“Podemos ficar? Eu quero ver a chuva.”

Coloco meus braços em volta da sua cintura. “Trovoadas

aqui são muito fortes”, digo. “Você tem certeza?”

Ela assente com a cabeça. “Eu sou de San Diego, lembra,

onde uma garoa que dura mais de cinco minutos é um

aguaceiro.” Ela aperta meu corpo mais perto do seu, roça os

lábios sobre a minha boca. “Quero dançar na chuva.”

Eu a encaro, todo o sangue no meu cérebro escoando para

o sul. “Ficaremos.”

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E m m a S c o t t

“Apenas atentem para os leões da montanha”, Oscar diz.

Suas sobrancelhas se erguem duas vezes. “Você sempre pode

perceber por onde eles estão vindo pelo volume de seus rugidos.”

Ela golpeia o ombro dele. “Eu nunca vou ficar me livrar

disso, vou?”

“Nunca.”

Theo anda a passos largos, nos puxando de lado.

“Acho que não consigo te fazer desistir?”

“Ela quer sentir a chuva”, digo.

“Chuva real”, Kacey. “Eu nunca vi chuva de verdade antes.

Sou uma idiota, eu sei...”

“E eu sou um maldito mala, preocupado com o sistema

imunológico de Jonah que não pode lidar com a chuva fria. Todos

nós temos um trabalho aqui.”

“Eu juro, Teddy”, Kacey diz. “Quero ele saudável, tanto

quanto você.”

“Jesus, estou de pé aqui, gente”, digo.

Theo olha para mim por um longo tempo. “Sim, você está.”

Ele agita a cabeça e aponta um dedo para mim. “Fique seco.”

“Palavra de escoteiro”, digo, levantando a mão.

Theo bufa e começa a se afastar. “Você nunca foi um

escoteiro.”

“Disso você pode ter certeza”, digo. Puxo Kacey para perto

de mim assim que os carros desaparecem descendo a colina. Eu a

abraço com força, a beijo com força.

“Você tem que esperar a chuva”, ela diz contra os meus

lábios.

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E m m a S c o t t

“Não quero”, digo, minhas mãos deslizando por sua camisa.

Agora que posso tocá-la, eu não consigo manter as mãos longe.

Não é possível me cansar de sua proximidade, seu corpo, seus

beijos...

“Você tem que ficar seco”, ela diz, levando-me para a

barraca. “Prometemos ao Teddy.”

Lá dentro, eu a dispo de tudo o que ela usa, exceto o blusão

de botão. Quando ela se derrete contra mim, pronta para desistir,

o céu se abre. Um flash de luz ilumina o mundo do outro lado da

tenda. Kacey se senta e puxa a aba da tenda, observando as

folhas inclinadas com a chuva lá fora.

“Meu Deus. Isso é chuva de verdade.”

Ela escorrega para fora da tenda e dá um pequeno grito

quando a água fria a acerta, encharcando-a instantaneamente.

“Oh merda, Theo estava certo. É frio como o inferno.”

“Volte”, digo.

“Ainda não”, ela diz, deixando a chuva cair sobre seu corpo,

seus quadris balançando levemente. “Eu gostaria que você

pudesse vir dançar comigo.”

“Você vai me agradecer mais tarde, quando estiver

tremendo de frio e eu seco.”

“Você vai me aquecer com o calor do seu corpo?”

“Pode ter certeza.”

Ela fecha os olhos e deixa a chuva cair sobre si, com o

rosto para o céu. Seus seios ficam visíveis através do tecido

molhado de sua camisa, com seus mamilos duros, e posso ver

todos os contornos, cada linha e curva. A água corre em riachos

por suas bochechas como lágrimas, mas seu sorriso é calmo e

reservado.

“Eu poderia ficar sozinha aqui fora.”

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E m m a S c o t t

“Estou vendo você”, digo. “Eu gosto de observar você.”

“Gosto de você me observando”, ela diz. E levanta seu

cabelo de seus ombros e seus seios sobem muito.

Eu respiro fundo, e luto contra o desejo de ir até lá. De

colocar minhas mãos sobre ela.

Espere. Basta esperar... E assistir.

Kacey deixa as mãos cair e abre os olhos. Seus lábios estão

entreabertos, a água escorre pelo queixo, e ela lentamente passa

a língua ao longo de seu lábio inferior. Seus olhos nunca

deixando os meus, suas mãos sobem novamente, desta vez para

sua camisa. Ela desabotoa os quatro botões de cima, mas não

mais, revelando o vale perfeito de pele lisa entre seus seios. As

pontas dos dedos puxam de lado o tecido encharcado e traçam

sobre um mamilo duro.

“Jesus...” Digo, com minha voz rouca de desejo.

Sua mão escorrega para baixo, até a barra da camisa,

levantando-a. Uma enorme dor se estabelece em minha virilha, e

minha boca fica seca como se estivesse morrendo de sede, e lá

está ela, encharcada de água da chuva.

“Venha aqui”, digo.

“Se eu fizer isso, você vai me tocar?” Ela pergunta, seus

dedos roçando a carne nua entre as coxas.

“Sim”, digo, de joelhos.

“Você vai colocar a sua boca em mim?”

“Sim.”

Seus dedos se movem em um círculo lento. “Aqui?”

“Deus, sim.”

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E m m a S c o t t

Ela lentamente vem em minha direção, com as mãos

desfazendo o resto dos botões. O último se desabotoa quando ela

chega à beira da tenda, e a camisa cai de seus ombros até o chão.

“Você está certo”, ela diz, caindo na toalha que estou

segurando. “Estou com frio.”

A enrolo e puxo, até os joelhos, a minha boca encontrando

a dela imediatamente. Sua pele está fria, mas o calor de sua

língua desliza contra a minha...

“Kacey... quero você...”

Beijo-a, minhas mãos percorrendo a toalha sobre seu

corpo, secando sua pele e a deixando quente e macia.

“Você cheira a chuva”, digo, movendo minha boca entre os

seios. Ela geme baixinho quando tomo um mamilo, aquecendo-a

com a minha língua e, em seguida, beliscando e sugando para

mantê-lo duro.

“Jonah... Deus, o que está fazendo comigo?”

Seus dedos envolvem meu cabelo enquanto eu mudo para o

outro seio, sugando e alisando meus dentes enquanto seco suas

costas e quadris. Então ponho um braço em volta da cintura dela

e coloco-a no chão da tenda. Esfrego a toalha sobre a barriga,

para baixo, entre as coxas, para baixo de cada perna, em seguida,

jogo a toalha de lado. Ela está aberta e se espalha diante de mim,

os lábios ligeiramente entreabertos e os olhos vidrados de desejo.

Quero me despir e mergulhar nela, satisfazer o desejo. Mas há

algo elétrico e poderoso sobre eu estar completamente vestido

enquanto ela está nua embaixo de mim.

E ainda assim sou completamente dela. Ela me pertence.

Nenhuma outra mulher jamais me fez sentir assim: desfeito,

completamente desvendado e ainda completo. Kacey me curou.

Saudável. Invencível. E meu corpo está desesperado para mostrar

isso a ela.

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E m m a S c o t t

Ajoelho por cima dela, abaixo minha boca na dela, e nossas

línguas se encontram em um beijo rude, cru. Ela estende a mão

para a minha ereção, me acaricia através da minha calça e gemo

com o toque. Quero apertar a mão em torno de mim com força,

encontrar essa liberação...

“Eu quero que seja bom para você...” Eu suspiro.

“Isso já é bom”, ela diz, mordendo meu lábio inferior.

Eu balanço minha cabeça. “Eu posso fazer melhor do que

bom.” Abaixo minha boca para sua orelha. “Eu quero fazer você

gozar tanto que todo o vale vai te ouvir.”

Pego os pulsos dela e os prendo acima de sua cabeça.

Nossos olhos se encontram e nos encaramos, os dela refletindo o

desejo em mim. Beijo-a de novo, forte e áspero, e ela se contorce

debaixo de mim, seus quadris se esforçando para encontrar os

meus, empurrando contra as minhas mãos que a prendem.

Liberando os pulsos dela, arrasto minha língua e os dentes

para baixo, para a pele suave de sua garganta, entre os seios,

distribuindo beijos de boca aberta ao longo de seu estômago.

Quando chego em suas coxas, ela está choramingando, e levo um

momento para respirar, reservo o momento de um meio segundo,

antes de dobrar a cabeça para ela e saboreá-la.

Ela grita, seus quadris sobem, as costas se arqueiam. Giro

a minha língua sobre sua pele mais sensível, esquecendo a

necessidade furiosa que corre em minhas veias como um rastilho

de pólvora. Mergulho mais profundamente, mais forte, minha

boca a explorando até que ela grita meu nome.

Sim, imagino. Sim. Mais forte... Seu corpo fica tenso, com

as costas arqueadas. Sua mão vai para a minha cabeça e me

puxa mais perto dela enquanto goza na minha língua, a voz

preenchendo a tenda. Eu poderia ter ficado ali, mas, em seguida,

ela se empurra sobre os cotovelos, sem fôlego e exausta.

“Jonah”, ela engasga. “Venha aqui. Por favor…”

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E m m a S c o t t

Afasto minha boca dela, deixando-a trêmula e molhada, em

seguida, tiro minha camisa e jeans. As mãos trêmulas me ajudam

a colocar um preservativo — Senhor, eu alguma vez estive tão

duro na minha vida? — então rastejo sobre seu corpo.

Ela me segura pelo pescoço, me puxando e me beijando,

saboreando seu próprio sabor nos meus lábios, enquanto as

coxas estão bem abertas para mim.

“Eu quero você tanto”, digo.

Ela assente em silêncio, com os lábios apertados. Eles se

abrem para além de um grito quando empurro profundamente

dentro dela.

“Sim....”, ela grita. “Oh, Deus, sim...”

Sim, meu corpo concorda. Sim para como eu me encaixo

perfeitamente dentro de seu calor. Sim como é bom pra caralho

tê-la em torno de mim. Sim para quão doce sua boca é. Sim para

quão bom é entrar e sair de nossos corpos em direção ao limite. E

Deus, sim ela, essa mulher que caiu em minha vida como uma

bola de demolição, esmagando a minha rotina, trazendo-me de

volta à vida quando eu já tinha me resignado à morte. Sim para o

seu caos, sua emoção crua, sua necessidade desesperada de ser

tocada e amada. E sim, mais do que tudo, porra sim, que sou o

que ela quer, sim ao que ela desencadeia em toda a sua

imperfeição confusa em mim.

“Sim”, sussurro. Para tudo isso. Para nós. A ela. “Sim…”

Sinto a construção lenta nela, ouço seus gritos assumindo

um ritmo, cada um mais alto do que o último. Suas mãos

apertam meu pescoço, as pernas enroladas em torno da minha

cintura. Empurro profundamente, forte e lento, preso em meu

próprio ritmo, mas me segurando para ela. Ela está gozando de

novo, construindo outro orgasmo a partir do primeiro,

alimentando as chamas de volta. É necessário todas as minhas

forças para esperar, mas, finalmente, ela joga a cabeça para trás

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E m m a S c o t t

e levanta seus quadris para mim como uma oferenda. Seguro

Kacey com força e mergulho fundo e se nós não gozamos juntos

foi bem perto.

A chuva finalmente cede um pouco depois do meio-dia, e

Kacey e eu embalamos nossa barraca e os nossos pertences.

Nossos olhos se encontram enquanto trabalhamos. O ar é

espesso entre nós, cheio de amor pelo que fizemos. E meu

coração está crescendo completo com ela.

Mandamos uma mensagem para Theo, para que ele saiba

que estamos vivos e secos, em seguida, dirijo de volta para Las

Vegas. Mantenho minha mão direita sobre sua coxa e ela enrosca

a mão esquerda no meu cabelo. Nós conversamos e rimos como

de costume, mas entre isso temos grandes silêncios calorosos que

não precisam ser preenchidos com qualquer coisa.

Dificilmente fechamos a porta da frente do meu

apartamento, quando ela está em meus braços de novo e eu a

tenho contra a parede, beijando, minhas mãos rasgando suas

roupas. Ela ainda cheira a chuva e café quente da nossa parada

para o almoço. Eu queria tomar um banho, lavar a estrada de

mim. De nós. Somos um casal agora, e isso alimenta meu desejo,

quase tanto como o corpo de Kacey.

De alguma forma, entramos no banheiro e na ducha, quase

incapaz de ficar limpo, já que não conseguimos parar de tocar um

ao outro. Nós nos beijamos entre beijos roubados e um

ensaboando o outro. Tento colocá-la contra a parede, mas ela

escorrega por entre meus braços e cai de joelhos. Meus ombros

batem na parede. Olho fixamente para o teto cheio de vapor

quando sua boca deliciosa tira o que resta da minha sanidade.

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E m m a S c o t t

Fora do chuveiro, seco sua pele como fiz na tenda, em

seguida, a coloco em cima da bancada, para que eu possa abrir

as suas coxas e colocar minha boca sobre ela. Fico ali

saboreando-a até que ela está batendo nas coisas e as jogando

para baixo, seus gritos fazendo o armário de remédios tremer.

Quero ir mais fundo e mais forte para que ela possa gritar mais

alto. Preciso dela preenchendo minha boca e ouvidos, quero-a

tanto que nem consigo processar direito. Quero todos os

momentos que puder agarrar antes que eles escorram pelos

meus dedos.

Famintos, pedimos comida de um restaurante japonês e

conseguimos ficar vestidos tempo suficiente para comer.

“Agora vamos para a cama”, ela diz.

Deito sobre os travesseiros, e ela se arrasta para cima de

mim. Agarra a cabeceira sobre minha cabeça, o cabelo caindo

sobre mim como chuva clara, seus seios balançando enquanto

me cavalga, descendo forte enquanto levanto para encontrá-la. E

dessa vez, sem dúvida, gozamos juntos.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 30

kacey

Acordo enrolada nele. Minha cabeça apoiada em seu

ombro, o braço jogado sobre o peito. Agitada, olho para cima para

ver que Jonah já está acordado. Ele quase não dorme, meu

Jonah, mas nunca parece cansado. Mesmo na noite passada, ele

sentiu falta de ar após o nosso amor, mas se recuperou

rapidamente.

Meu Jonah, penso. Ele é meu agora, e eu sou sua.

Percorro meu dedo ao longo de sua cicatriz. Na luz da

manhã, nu para mim, posso examiná-lo pela primeira vez. O

comprimento do seu coração em seu peito, um pouco acima das

linhas fracas de seu órgão de quinze centímetros que já foram

mais proeminentes antes dele ficar doente. Eu tinha visto uma

foto dele na América do Sul, sem camisa. Possivelmente no

mesmo lugar onde contraiu o vírus. Seus músculos já foram mais

definidos, mas ainda são.

Porque ele é forte, penso fortemente.

Jonah pega a mão que toca a cicatriz. “Não é muito bonito,

não é?”

“Não é ruim”, digo suavemente.

“Isso é lindo”, ele diz, virando a mão para inspecionar a

tatuagem que começa no meu pulso e vai até o interior do meu

braço, quase até ao cotovelo. É uma guitarra, toda a tinta em

branco, feita de claves e notas musicais. “Mostre-me as outras.

Me apresente-as.”

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E m m a S c o t t

Sento, para mostrar as flores subindo no meu ombro

direito, envolvidas em videiras espinhosas e botões que se

arrastam pelo meu braço. “Eu fiz essa em Seattle. A caveira

mexicana fiz em Portland, e essas pequenas estrelas”, eu lhe

mostro o punhado de pequenas estrelas negras no meu dedo

médio direito “foi em San Diego. Meu segundo ato de rebeldia

contra o meu pai. O primeiro foi tocar uma guitarra elétrica. O

segundo, esta tatuagem impossível de esconder, especialmente

quando se toca guitarra.”

ele.

Jonah ri levemente enquanto me aconchego de volta contra

“Que horas são?” Pergunto.

“Quase sete.” Ele aperta um beijo suave contra a minha

testa. “Eu tenho que ir trabalhar um pouco. Depois, essa noite é o

jantar de domingo na casa dos meus pais.”

“Ah sim. Lembro do primeiro domingo, quando Theo

distintamente me desconvidou para o jantar de família.”

Jonah faz um som que pode ter sido uma risada. “Bem,

estou convidando você agora. Você quer ir?”

Levanto sobre um cotovelo. Ele é tão bonito, seu cabelo

escuro contra a fronha branca. “Você quer que eu conheça seus

pais?”

Ele balança a cabeça e torce uma mecha do meu cabelo em

seus dedos. “Eu quero que eles te conheçam. Além disso, não

quero ficar longe de você por mais tempo do que o necessário.”

“Você realmente quer ter esta conversa agora?”

“Eu tenho praticado, você pode perceber?”

“Muito sutil.”

Ele silencia meu riso com beijos. Deus, a primeira coisa na

manhã e ele tem um gosto tão bom. Tão limpo. Paro com um

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E m m a S c o t t

pequeno suspiro, descanso o queixo no peito. “Eu adoraria

conhecer seus pais. Na verdade, retiro o que disse — estou

nervosa como o inferno para conhecer seus pais, mas não posso

esta noite. Eu tive que pegar o turno de outra moça no Caesar’s

para cobrir o fim de semana. Eu vou distribuir bebida de graça

vestindo uma toga de uma hora até as nove.”

“Próximo domingo?”

“No próximo domingo com certeza”, digo. “Isso vai me dar

uma semana para me preparar. E uma semana para o Theo se

acostumar com a ideia. Ainda não tenho certeza se ele gosta de

mim. Nenhum pouco.”

Jonah usa um sorriso engraçado. “Eu acho que ele gosta

muito de você.”

“Ele não mostra isso bem. E a pobre Holly — a maneira que

ele apenas terminou com ela no meio da floresta?”

“Sim, isso foi uma merda”, Jonah diz. “Um dos Pé Grande

poderia ter agarrado a garota e a levado para lhe fazer

companhia.”

“Oh, não é engraçado?” Inclino para beijá-lo novamente,

simplesmente porque posso. O beijo se aprofunda e começa a se

transformar em algo mais, então o alarme do relógio de Jonah

desperta na mesa de cabeceira.

“Os seus remédios”, digo, beijando ao redor de sua boca.

“Sim, meus remédios.”

Visto uma camisa comprida e calcinha, ele coloca calça de

pijama e uma camiseta branca. Vamos juntos para a cozinha, e

ele me apresenta seu esquema.

Ele me dá o rápido resumo de como fazer o seu shake de

proteína. Começa a engolir um comprimido após o outro,

enquanto misturo os pós e os suplementos. Logo, ele tem que se

segurar no balcão e respirar por causa de uma onda de náusea.

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E m m a S c o t t

“Não sei o que é pior”, ele diz, com a cabeça abaixada.

“Quando aparece ou que eu sei que está por vir.”

Dou-lhe um copo de água e esfrego suas costas.

Isso é real. Isto é o que significa estar com ele.

Um sussurro em minha mente me diz que não tenho

coragem de lidar com qualquer coisa ruim. Engulo, silencio o

pensamento. Eu quero estar com ele. Não apenas por um

momento romântico sob um céu estrelado, mas respirando ladoa-lado

com ele através das náuseas.

“Você tem outros efeitos colaterais?” Pergunto.

Ele assente, tomando um longo gole de água. “Tesão

insaciável.”

Solto uma risada. “Percebi. O que mais?”

“Os esteroides causam crescimento excessivo de pelos. Em

toda parte. Passo umas boas duas horas por dia raspando.”

Aperto os olhos para ele.

“Na verdade, estou feliz que você está aqui”, ele diz. “Minha

bunda tem alguns lugares que são difíceis de alcançar.”

“Espertinho.” Reviro os olhos e beijo a ponta do seu nariz.

“Vamos, estou falando sério. Ou tentando.”

“Tenho náuseas, às vezes meus tornozelos incham, mas

não muito.” Ele dá de ombros. “Eu não tenho muitos outros

efeitos colaterais. Tenho sorte a esse respeito.”

Balanço a cabeça enquanto ele se ocupa fazendo café para

mim. Sento no banco para tomar o café, mesmo em frente à

Jonah engasgando com o seu shake de proteína. Déjà vu. Menos

a grande ressaca.

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E m m a S c o t t

Jonah encontra meus olhos. Seu sorriso é quente, quase

orgulhoso. “Olhe para você, aqui”, ele diz suavemente. “Assim

como antes, mas tudo está diferente.”

“Diferente e melhor”, digo, e subo do outro lado do balcão

para beijá-lo.

“Espera...”, ele começa a dizer, mas meu beijo é mais

rápido.

Faço uma careta e sento no meu lugar.

“Eu tentei avisá-la”, ele ri.

“Humm, tem gosto de grama e galhos, uma pitada de leite

em pó, e leve sabor de bunda.” Limpo a boca com as costas da

minha mão, enquanto Jonah ri. “Vou aprender a fazer algo com o

gosto melhor do que... seja lá o que for isso.”

“Descubra isso e você será muito recompensado.”

“Na cama?”

“Na cama. Em cima do balcão. Piso, sofá...”

“Isso não é recompensa, é a nossa vida agora”, digo, saindo

do meu banquinho para ir para perto dele e beijá-lo novamente.

Não dou a mínima para o gosto ruim. Sempre que a vontade de

beijá-lo surgir, vou satisfazer e beijá-lo. Não há mais vidas pelo

caminho. Temos que ir a toda velocidade, assim como os

jogadores de cartas fazem. Vou apostar em vez de esperar.

Sempre.

Vestimos roupas e Jonah me leva de volta para o meu

apartamento. Saio de seu carro e dou a volta para o lado do

motorista. “Tenha um ótimo dia, me ligue mais tarde.”

“Eu ligo”, ele diz.

Beijo-o profundamente, minha mão desliza para a parte de

trás do seu pescoço enquanto a sua segura meu rosto.

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E m m a S c o t t

“Já sinto sua falta”, digo.

Ele passa o polegar pela minha mandíbula e diz

suavemente. “Falo com você em breve, Kace.”

Observo-o dirigir, e é como se algum relógio invisível

começasse a funcionar na minha cabeça. Contando os segundos

e, ao mesmo tempo, adicionando para formar minutos, e,

eventualmente, as horas até que eu possa vê-lo novamente.

“Momentos”, murmuro para mim mesmo enquanto o calor

de Nevada me atinge. “Teremos milhares de momentos.”

Às onze mais ou menos, estou assistindo um filme na TV

enquanto enxugo meu cabelo depois banho quando alguém bate

na porta, com força suficiente para fazê-la sacudir. Coloco a TV

no mudo e pego meu telefone, pronta para apertar o botão de

emergência.

“Quem é?”

“Theo.”

Bem, merda. Jogo o telefone para baixo e abro as

fechaduras. Theo aparece na porta, com os braços tatuados,

musculosos cruzados sobre o peito largo.

Cruzo os braços também. “Da próxima vez traga um aríete. 4

É mais eficaz.”

“Posso entrar ou não?”

“Está convidado.”

4 Aríete é uma arma antiga para derrubar portas, edificações etc..

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E m m a S c o t t

Ele passa por mim determinado, mas uma vez que está lá

dentro, parece inseguro. Ele enfia as mãos no bolso da frente da

calça jeans.

Assim como Jonah faz, penso.

Theo olha para a minha TV silenciada onde Jon Cryer está

dançando como uma aberração em uma loja de discos.

“É Pretty in Pink”, digo ao Theo. “Você já viu?”

Ele bufa negando.

“Filme clássico! Todo mundo fica tudo puto que Andie

termina com Blaine no final, em vez de Ducky. Mas,

honestamente, se o filme tivesse passado por mais um ano,

Blaine teria quebrado seu coração. E Ducky estaria lá para ela,

assim como sempre esteve. Não estou dizendo que Blaine é ruim

para ela. De modo nenhum. Eles fazem o outro feliz, mas Ducky?

Ducky estará com ela por um longo tempo.”

Assisto mais alguns segundos antes de perceber

suavemente que Theo está olhando para mim como se eu fosse

uma forma de vida alienígena.

“Desculpe”, digo. “Eu adoro filmes dos anos oitenta. Eles

sustentam a filosofia de vida para mim.” Desligo a TV. “Então.

Posso pegar algo para você beber?”

“Não.”

Ele tem um brilho assustador, mas não me intimido.

Mesmo agora, quando seu olhar endurece para algo perto de

raiva.

“Ok, então”, digo. “Você quer me dizer o propósito desta

visita? Tenho certeza que você não veio aqui para ver Pretty in

Pink 101.”

“Você e Jonah”, ele diz. “Vocês estão dormindo juntos.”

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E m m a S c o t t

“Pensei que isso tivesse sido esclarecido na volta do Grand

Basin.”

Theo começa a andar na minha pequena sala de estar, sua

mão esfregando o cabelo. “Ouça, há alguma merda que você

precisa saber se você vai ficar... com ele. Merda, ele não irá te

dizer porque é muito teimoso.”

“Como?”

“Seu sistema imunológico está ferrado, ok? Por causa das

drogas que ele tem que tomar. Se ele pega um resfriado ou uma

infecção, não é como você ou eu quando ficamos doentes. Poderia

matá-lo.”

“Estou ciente”, digo. “Ele parece saudável agora...”

“Sim, agora. Quatro meses atrás, ele pegou um resfriado de

algum lugar, e se transformou em pneumonia. Ele ficou no

hospital por dois dias.”

Tremo involuntariamente. “Oh. Tudo bem.”

“Então você tem que ter cuidado. Se você achar está

ficando doente, você tem que ficar longe dele. Você não pode...

beijá-lo ou dormir na mesma cama. Prometa.”

Balanço a cabeça. “Claro. Jonah falou comigo sobre isso e

eu entendo. Tomarei cuidado.”

“E quanto a sexo...” O rosto de Theo fica vermelho e ele

olha para qualquer lugar da sala, menos em mim. “Você tem que

ter calma sobre o sexo.”

“Tudo bem, esse tipo de assunto entra na categoria de não

é da sua conta.”

“Não se a vida dele está em jogo”, Theo grita. “Tudo que ele

faz é da minha conta.”

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E m m a S c o t t

“Eu acho que ele pode lidar com os assuntos do quarto, seu

mandão”, digo, tentando aliviar a energia entre nós. “Ele sabe o

que pode. Sem trocadilhos.”

O rosto de Theo fica ainda mais vermelho. “Ele pode, ou ele

não pode”, ele diz. “Como eu disse, Jonah é um bastardo

teimoso.”

E você é a epítome da graça e tato, Theodore. Mantenho a

frase para mim mesma. “Parece que ele está fazendo um trabalho

muito bom em ter cuidado”, digo. “E também vou. Eu vou, Theo,

prometo.”

Ele balança a cabeça, seu olhar duro e implacável. Seguro

seu olhar, deixando que veja que não estou brincando. Apesar de

seu jeito áspero, gosto do Theo. Ele é família de Jonah e quero

que goste de mim também, especialmente agora que Jonah e eu

estamos juntos.

“Eu prometo”, digo novamente.

Suas mãos vão para trás, nos bolsos. “Tudo certo.”

“Tem outra coisa te incomodando?”

“Eu quero saber quais são suas intenções.”

Pisco. “Minhas intenções? Se vou fazer dele um homem

honesto?”

Eu rio e dou-lhe um empurrão brincalhão, mas ele se

afasta. “Você vai fugir?”

Eu congelo, meu riso engasgando na garganta. “Não, eu

não vou”, digo suavemente. “Eu nunca…”

“Essa é uma coisa importante”, Theo diz. “Esse é o resto de

sua vida. Você entende isso? O resto de sua vida. Se você o

machucar...”

Inclino meu quadril na parte traseira do sofá como suporte.

“Feri-lo é a última coisa que quero.”

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E m m a S c o t t

Nos olhamos através do espaço da minha pequena sala de

estar. Lentamente, o brilho de aço nos olhos de Theo se suaviza.

Suas mãos relaxam, procura algo para fazer, e então ele cruza os

braços sobre o peito. “Ok. E o que acontece quando ficar ruim? O

que você vai fazer?”

“Eu não estou pensando assim”, digo, e sinto minha

própria raiva crescendo. “E quanto a esperança? E quanto a não

estar assim tão certo de que ele não tem uma chance?”

“Ele tem uma chance. Ele tem…”

Os braços de Theo caem para os lados, e seus ombros caem

um pouco. Seu rosto parece rasgar ao meio, revelando a dor ali

embaixo. Lembro de Jonah me dizendo que Theo tem estado ao

seu lado a cada minuto de sua doença. Ele estava lá quando

Audrey foi embora. Ele estava sentado ao lado de Jonah, quando

os resultados da última biópsia foram entregues. Ele teve um

assento na primeira fila para todas as coisas terríveis na vida de

Jonah. Eu teria que estar cega para não ver que ele assumiu a

responsabilidade por seu irmão da única maneira que sabia.

“Você é um ótimo irmão para ele”, digo suavemente. “Você

não precisa me dizer, mas vou. Você é.” Vou para perto dele,

descanso minha mão em seu braço. Seu ombro vai para cima e

para baixo com desdém, mas ele não hesita ao meu toque.

Eu hesito. “Como você está?”

Ele faz uma cara. “O quê?”

“Eu acho que... talvez não te perguntem ultimamente...

como você está? Especialmente recentemente. Então, estou

perguntando. Como vai você?”

Ele olha para mim, as sobrancelhas grossas franzindo,

como se eu estivesse falando uma língua estrangeira. Sob a

minha mão, sua pele se arrepia, os cabelos finos de seu

antebraço se levantam. Nós dois notamos ao mesmo tempo, e ele

se afasta.

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E m m a S c o t t

“Estou bem”, ele diz, caminhando em direção à porta. “É

dele que precisamos cuidar.” A porta bate quando sai.

“Ok”, digo para o espaço vazio. “Boa conversa.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 31

kacey

No dia seguinte, uma segunda-feira, chego à Hot shop

prontamente ao meio-dia, com dois sacos da SkinnyFATS na

mão: saladas de frango com rúcula e alcaparras para mim e

Jonah, uma salada de frango à milanesa com búfala para Tania.

Tenho que fazer malabarismos com o saco e com uma bandeja de

três smoothies quando arrasto a porta de correr aberta. A porta

grita e protesta, e por algum milagre consigo não derramar nada.

Tania e Jonah estão trabalhando em extremidades opostas

de um maçarico. Os olhos de Jonah se estreitam em

concentração enquanto ele rola e molda.

“Ar”, ele diz.

Atrás dele, Tania sopra no tubo. O vidro incha.

“Logo ali”, Jonah diz, olhando para a peça. “Perfeito.”

Quando é seguro interromper, me aproximo. “Ei, estão com

fome?”

“Famintos!” Tania me envolve em um abraço que cheira a

suor e papel queimado. “Você está nos estragando com essas

visitas na hora do almoço. Não que eu esteja reclamando...”

Eu a abraço de volta, pensando, tenho cinco amigos aqui

agora. Nunca tinha ficado em um lugar tempo suficiente para ter

tantos.

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Olho por cima do ombro de Tania para Jonah. Ele sorri

para si mesmo, como se estivesse satisfeito, e desliga o maçarico

do teto. Ele se junta a nós e me beija dizendo olá.

“SkinnyFATS”, Tania diz, cutucando os sacos. “Eu amo

essa lanchonete.” Sua cabeça se move. “Espere, o que

aconteceu?”

“Nada”, Jonah diz, dando-me um segundo beijo.

“Aconteceu de novo.” Tania olha dele para mim e para trás.

“Quando isto aconteceu?”

Eu rio. “No final de semana.”

“Duas vezes no domingo”, Jonah acrescenta.

“Oh meu Deus.” Reviro os olhos para ele.

“Puta merda!” Tania me abraça de novo, então se junta a

Jonah. “Estou tão feliz por vocês. Isso é incrível.”

“Não, é apenas o almoço”, Jonah diz, remexendo no saco e

achando uma vitamina de laranja. Ele levanta uma sobrancelha

para mim. “Eles estavam sem folhagem?”

“Fruta fresca, espertinho” eu provoco.

Seu celular toca. Ele o tira do bolso de trás e olha para o

número. “É Eme”, ele diz. “Oi, é Jonah...” Ele sai da loja com seu

chiado constante de fornos queimando e produzindo ar para

atender a chamada.

“Quem é Eme?” Pergunto para Tania, enquanto arrumamos

o almoço na mesa e cadeiras dobráveis, bem longe do fogo e

bandejas de vidro soltas.

“Eme Takamura”, Tania diz, dando uma mordida em sua

salada. “Ela é a curadora da galeria que vai exibir a obra de

Jonah no Wynn.”

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Meus olhos se arregalam. “Sua obra no Wynn? Isso não é

um hotel importante?”

“Super famoso”, Tania diz. “Jonah não lhe contou?” Ela

inala quando balanço a cabeça. “Figura. Ele é modesto a ponto de

ser irritante. De qualquer forma, Eme ficou sabendo dele através

da Carnegie e depois de ver alguns de seus trabalhos, arranjou

tudo para abrigar seu projeto na Wynn Galleria.”

“Isso é incrível.”

“O que é incrível é você e Jonah. Estou tão feliz por vocês,

não posso aguentar.”

“Você parece surpresa”, digo.

“Você está brincando?” Ela diz em torno de uma boca cheia

de verduras. “Estou chocada. Sinceramente, pensei...” Ela para

enquanto limpa a boca com um guardanapo.

“Você pensou o quê?”

Tania olha para mim, então para a porta onde se pode ver

Jonah andando e falando. “O Jonah eu sei que sempre foi muito

sério. Com a intenção com seu trabalho, sabe? Desde que você

está de volta na cidade ele tem sido diferente. Ele sorri mais. Ri

mais. Ele sempre foi um espertalhão, mas agora é... um

espertalhão mais gentil. Ele ainda trabalha muito duro — e eu

também — mas é como se algum tipo de peso ou sombra tivesse

ido embora. E agora, descobrir que você dois estão juntos...” Ela

balança a cabeça. “Não é todos os dias que ele permite a entrada

de alguém em sua vida. Você é a primeira que eu conheço. É uma

grande coisa. Talvez agora ele possa repensar e deixar todo

mundo de volta.”

“Pelo menos para a sua obra”, digo. “Eu quero que todos

vejam isso.”

“Eu também. Ele é tão talentoso. E realmente um bom

rapaz. Altruísta. Talvez muito abnegado, tentando proteger a

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todos com quem se preocupa, tanto que negligencia a sua própria

felicidade.”

A porta abre e Jonah volta, com as mãos inquietas com o

seu celular. “Eme queria um relatório de progresso. Eu disse a ela

mais duas semanas e podemos começar com a caixas de

mudança para o espaço.”

“Duas semanas é o suficiente”, Tania diz.

Mas observando seu telefone, Jonah parece pálido.

“Algo errado?” Pergunto.

“Eme disse que enviou convites para a abertura da

exposição”, ele diz, com a voz tensa. “Grandes nomes, um monte

de seus contatos foram convidados. Ela enviou um para o Studio

Chihuly.”

Os dedos de Tania sobem para os lábios. “E?”

O olhar de Jonah percorre entre nós. “Ela recebeu uma

resposta dizendo que Dale estaria muito ocupado no início de

outubro, mas que vai tentar o seu melhor para vir.” Jonah esfrega

a mão pelo cabelo. “Eme enviou um convite para o estúdio. Eu

pensei que talvez eles quisessem enviar um representante,

mandar alguém.”

“Mas Dale pode vir?” Tania se levanta. “Pessoalmente?”

“Puta merda”, digo.

“Oh meu deus, puta merda.” Tania joga os braços ao redor

de Jonah, que parece atordoado por cima do ombro. “Santo...” Ela

sai, pega o seu garfo e colocando algumas mordidas na boca.

“Coma. Se apresse. Vamos voltar ao trabalho. Há um monte de

coisas com a água que ainda quero terminar.”

“E os raios de sol”, Jonah diz.

“E puta merda, Dale Chihuly. Em pessoa.” Uma última

mordida e Tania se apressa para a sala, deixando Jonah e eu

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sozinhos. Levanto e coloco os braços em volta do seu pescoço, o

abraçando com força. Deixo minhas mãos entrelaçadas em seu

cabelo, e fecho os olhos com ele.

“Olhe para o meu namorado talentoso.”

“Namorado, hein?” Ele passa os braços em volta da minha

cintura. “Eu...” Ele desvia o olhar com uma risada curta. “Eu ia

fazer uma piada, mas gosto muito de namorado.”

“Dale Chihuly”, digo.

“Eu sei. É surreal. Mas não é certeza. Ele está ocupado.

Talvez não consiga...”

“Ou talvez ele venha.” Olho para baixo, passo a mão sobre o

peito de Jonah. “O que posso fazer para ajudar? Talvez entrar em

contato com alguns de seus velhos amigos da UNLV ou

Carnegie?”

Jonah fica tenso. “Eu não sei. Veremos. Tenho muito

trabalho a fazer no momento. “

“Farei isso.” Eu o puxo para perto. “Você vai fazer uma

exibição no Wynn, pelo amor de Deus. É um grande negócio. Você

não acha que seria fantástico ter todos os seus velhos amigos lá?”

“Eu não falo com eles há um ano”, Jonah diz. “A primeira

coisa que ouvem de mim é um convite para uma mostra da

galeria? Eles vão pensar que sou um idiota pretensioso.”

“Não se você me deixar lidar com isso.”

Jonah se inclina para trás, deslizando as mãos pelos meus

braços para tirar as minhas mãos dele. “Eu não posso ser

distraído com reuniões agora, Kace. O fato de que Dale Chihuly

pode vir e olhar está embaralhando o meu cérebro o suficiente.

Eu agradeço, mas tenho muito que fazer. Ok?”

“Ok”, digo. “Só me prometa que vai pensar sobre isso.”

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“Eu vou.” Ele me responde e me beija longo e forte.

“Namorado”, ele murmura.

“Você sabe o que as garotas fazem para seus namorados?”

“Isso é uma pegadinha?”

“Elas cuidam deles. Você tomou conta de mim desde o dia

em que nos conhecemos. Deixe-me fazer isso também.”

Ele suspira com um pequeno sorriso. “Veremos.”

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CAPÍTULO 32

kacey

O resto da semana passa voando em um borrão. Jonah

trabalhou duro na Hot Shop. Servi bebidas no Caesar’s à noite e

comecei a escrever uma meia dúzia de canções durante o dia,

nenhum das quais me tocou. O convite feito a Chihuly deixou

Jonah uma pilha de nervos. A aproximação do jantar de domingo

com seus pais tem o mesmo efeito em mim.

Faço compras em um brechó local, procurando algo mais

claro do que minhas habituais roupas. Algo que cubra minhas

tatuagens e não seja feito de couro ou vinil. Passando pelas

prateleiras, determinada a causar uma boa impressão. Tudo o

que encontro são ecos de meu pai, dizendo-me a decepção que

sou. Todos os velhos demônios me seguem até os vestiários

enquanto tento encontrar algo. Eu me sinto como uma fraude em

tudo. Volto para casa sem nada.

“Ou eles gostam de mim ou não”, murmuro para mim

mesma de volta em casa, vestida com minhas próprias roupas e

aplico o meu delineador preto olho de gato como de costume e

batom vermelho. Tomo um Coca Diet, desejando que tivesse um

gole de rum nele.

Amarro meu cabelo em uma trança lateral e coloco um

vestido preto sem mangas. Olho para o meio da coxa, e encontro

as minhas botas pretas altas que ficam um pouco mais para cima

do meu joelho.

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Jonah chega em minha casa vestindo calça jeans e uma

camisa escura enrolada no braço, com o cabelo ainda úmido do

chuveiro.

“Você está maravilhoso”, digo, observo um longo colar com

um pingente de prata de aspecto celta. “Como sempre.”

“Essa fala é minha”, ele diz, com seus olhos me analisando

de cima e baixo. “E você... tão fodidamente bonita.”

Minhas bochechas queimam enquanto aliso as dobras

onduladas do vestido. “Pensei em usar um vestido normal. Mas

pareceu errado. Quer dizer, esta é quem eu sou. Com tatuagens e

o cabelo e a maquiagem... não uma performance de estrela de

rock, sou eu.”

Jonah se aproxima para me levar em seus braços. Sua mão

corre pelo meu braço tatuado. “Gosto disso”, ele diz. “Eu gosto de

você.”

“Só quero que eles gostem de mim. Temo que pode não ser

o que eles estão esperando.”

“Ouça.” Ele me segura mais apertado. “Meus pais não

esperam ninguém. O simples fato de que estou levando alguém

para o jantar é algo em seu favor. Confie em mim, minha mãe vai

pirar em você.”

Olho para ele. “E seu pai?”

Jonah gentilmente tira uma mecha de cabelo do meu olho.

“Ele vai te amar.”

Os Fletchers vivem em uma modesta casa de dois andares,

em um bairro bonito, suburbano de Belvedere. Nós dirigimos

passando por fileira de casas, todas separadas por gramados e

cercas de ferro forjado. A caminhonete de Theo já está

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estacionada junto ao meio-fio em frente da casa Fletcher. Eu não

vi ou falei com ele desde a sua visita inesperada na semana

passada. Outro nó torce meu íntimo quando saio do carro.

São dezoito e quinze numa tarde de julho, o calor abrandou

a uns suportáveis trinta e dois graus. Las Vegas tem sido a minha

casa oficial por três semanas e eu já me acostumei com o clima.

Agarro o braço de Jonah quando ele me leva até a curta

distância para a porta da frente. “Merda, eu não trouxe nada para

sua mãe”, digo. “Podemos voltar? Eu vi uma loja de flores na...”

A porta da frente se abre e uma baixinha, senhora parruda

sorri para nós do limiar. Ela está em meados dos seus cinquenta

anos, com cabelos castanhos na altura do queixo, vestida com

calça e uma blusa de manga curta.

“Pensei ter ouvido vozes”, ela diz.

“Oi, mãe”, Jonah diz.

Ela o abraça apertado e segura seu rosto por um momento,

o observando. “Você está maravilhoso”, ela diz. Ela se vira para

mim. “Ele não está maravilhoso? E você deve ser Kacey.”

Ela se aproxima para me abraçar. “Estou muito feliz em

conhecê-la.”

O abraço dela cheira como pão quente e acalma os meus

nervos. “Estou feliz em conhecê-la também, Sra. Fletcher” digo,

lágrimas inexplicáveis enchem meus olhos. Não consigo me

lembrar da última vez que minha própria mãe me abraçou.

“Por favor, por favor, me chame de Beverly.” Ela começa a

voltar para a casa, nos chamando para dentro. “Theo já está aqui,

e a lasanha está praticamente pronta. Você gosta de lasanha,

Kacey?”

“Eu amo”, digo, deslizando minha mão em Jonah.

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“Esqueci de mencionar que ela é uma abraçadora?” Ele

sussurra para mim.

Balanço a cabeça. “Eu amo sua mãe.”

Beverly nos leva através da sala de estar. É decorada com

simplicidade, um pouco desordenada, com belas peças de vidro

de Jonah exibidas em mesas laterais, estantes e janelas. Uma

galeria de fotos em uma parede mostra a arte do Theo — ele é

talentoso desde criança — e Theo e Jonah em todas as fases da

vida: Beisebol infantil, retratos escolares, fotos de formatura.

fotos da pré-escola até a adolescência, um sorrindo

brilhantemente, o outro fazendo uma careta ou carrancudo.

“Você foi adorável toda a sua vida”, digo, fazendo uma

pausa para examinar uma foto do ensino médio, com os dentes

de Jonah obscurecidos por aparelho.

“Vamos seguir em frente, nada para se ver aqui”, ele diz,

gentilmente me arrastando para a cozinha.

Theo está sentado à ilha com bancada de granito marrom

que combina com a decoração. Os armários são de um tom

branco caloroso, desgastado. Como a sala de estar, a cozinha é

simples e desordenada. O coração da casa, repleto de aromas,

cheiros reconfortantes e boa comida. Meu nervosismo se esvai, e

envolvo meus braços por trás de Theo e beijo sua bochecha.

“Bom te ver, Teddy.” Ele cheira bem — limpo, uma colônia

sobre o cheiro suave de seu sabonete.

Ele tolera meu abraço e o beijo, e se debruça sobre sua

garrafa de cerveja.

Beverly fecha a porta do forno e me lança um sorriso.

“Theodore tem o nome do bisavô de meu marido, que todos

chamavam de Teddy. Mas Theo se recusa a aceitar. Não é

querido?”

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A mandíbula de Theo se aperta. “Não que alguém me

escute, porra.”

“Vocabulário”, diz uma voz na porta da cozinha. Sr.

Fletcher se junta a nós na ilha. Ele é um homem alto, magro, com

o cabelo escuro grisalhos nas laterais. Ele estende a mão para

mim como se eu fosse um potencial parceiro de negócios. “Henry

Fletcher”, ele diz, dando um aperto firme. “Um prazer, moça.”

Jonah me lança um olhar divertido, mas assinto

educadamente. “Obrigada, senhor. Prazer em conhecê-lo.”

“Não há senhores aqui. Você pode me chamar de Henry ou

Henry.” Ele pisca. “O que você preferir.”

“Alguma coisa para beber, querida?” Beverly pergunta,

abrindo a geladeira. “Eu tenho cerveja, refrigerante, vinho.

Comprei O'Douls para você, Jonah.”

“Eu vou querer um desse, também” digo.

Beverly entrega as garrafas verdes para nós. “A noite está

tão linda, pensei em comermos no quintal. Você se importa,

Kacey? Podemos ficar em casa, se você preferir.” O nervosismo

presente em suas palavras. E suas mãos nunca param de se

mover. Arrumando, organizando, fazendo.

“Ao ar livre é perfeito”, digo.

“Maravilhoso”, ela diz. “Vou acender as lanternas que

Jonah fez no seu primeiro ano no Carnegie. Você nunca viu nada

tão bonito em sua vida.”

“Elas são mesmo”, Henry diz.

“Acredito nisso”, digo. “O trabalho de Jonah é

surpreendente.”

Jonah acena com a mão. “Já chega.”

“Maravilhoso, sim”, Beverly diz, seus olhos descansando em

seu filho.

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“E um amplo retorno do investimento da faculdade”, Henry

acrescenta.

“Pai”, Jonah diz calmamente.

Os ombros musculosos de Theo se curvam e ele pega com

calma, deliberadamente a sua garrafa de cerveja.

“Estou apenas afirmando um fato”, Henry continua. “As

artes não são um setor fácil de ganhar a vida. A pessoa tem que

direcionar seus talentos de forma adequada.”

“E não desperdiça-lo trabalhando em um estúdio de

tatuagem”, Theo diz.

Como um galho preso em uma engrenagem, a leveza do

ambiente chega a um ponto insuportável. Henry e Theo trocam

longos olhares duros.

“Quem quer me ajudar a pôr a mesa?” Beverly pergunta,

sua voz assumindo um tom estridente. Ela abre em um armário e

levanta uma pilha de pratos.

“Eu.” Theo toma os pratos das suas mãos e sai em direção

ao pátio.

“Eu vou ajudar também”, digo, pegando guardanapos,

talheres e os sigo.

Sra. Fletcher agradece, e a noite está rolando novamente.

“Maravilhoso”!

A mesa de jantar ao ar livre fica debaixo de uma pérgola,

aglomerados de globos de vidro pendurados nela como frutas

elegantes. Ali nós comemos lasanha, pão e uma salada verde. Boa

e verdadeira comida caseira. O tipo de refeição que minha mãe

fazia quando eu era criança. Mas a hora do jantar em minha casa

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era um evento soturno, frio onde eu estava sempre falando muito

alto, mesmo quando não estava falando. A presença dura e fria do

meu pai, a presença opressiva transformava uma boa comida em

pó na minha boca.

A mesa dos Fletchers é cheia de risos, falando sem parar e

implicâncias normais. Um pouco de tensão silenciosa permanece

entre Theo e Henry, mas Beverly neutraliza com histórias da

juventude de seus filhos, que me fazem engasgar com o meu pão.

“Eu juro”, ela diz, servindo-se de um copo de cabernet. Seu

terceiro, reparo. “Lake Tahoe tem uma enorme praia. Muita areia

para todos. Milhões de grãos, e estes dois brigaram inúmeras

vezes.”

Eu cutuco Jonah à minha direita. “Você brigou pela areia

na praia?”

“Era apenas uma criança”, Jonah diz. “Areia é um

brinquedo educacional apropriado e fundamental para quatro e

seis anos de idade.” Ele olha para Theo com um sorriso malicioso.

“Assim como borboletas imaginárias.”

Theo aponta o garfo na direção de Jonah. “Nem comece.”

Jonah ignora. “Uma vez, Theo ficou chateado comigo

porque pegou uma borboleta imaginária e eu a deixei ir embora.”

Theo o alcança através da mesa para cutucar seu irmão

com o garfo. “Cale. A. Boca.”

“Eu amo essa história”, Beverly suspira.

“Pelo menos um de nós”, Theo diz.

Jonah limpa o garfo, e apoia os cotovelos sobre a mesa,

encarando seu irmão com carinho. “Theo levantou as mãos e me

disse que tinha capturado uma borboleta. Eu pedi para ver, mas

ele estava com medo que ela fosse voar.”

“Quando foi isso?” Pergunto.

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“Na semana passada”, Jonah diz.

“Tente vinte anos atrás, idiota”, Theo murmura.

“O vocabulário, por favor”, Henry diz.

A voz de Jonah aumenta um pouco, a provocação vazando

por seus poros. “Finalmente, ele disse que eu podia segurá-la.

Colocou as mãos na minha, durante todo o tempo descrevendo as

asas brilhantes da borboleta azul, bordadas em preto. Abrindo e

fechando, como se estivesse respirando. Ele mesmo me contou

como suas pernas pareciam cabelos pretos contra a minha pele.

Lembra, Theo?”

Olho para o alto homem duro, tatuado sentado na minha

frente, olhando com se pudesse disparar canivetes para o irmão.

No entanto, posso facilmente ver o menino doce que tinha sido,

descrevendo esta borboleta inexistente, mas preciosa.

“Mas eu não fui cuidadoso o suficiente”, Jonah diz. “Eu

abri minhas mãos muito e Theo disse que a borboleta voou para

longe. Ele chorou e chorou.”

“Você está satisfeito, porra?” Theo diz.

“Vocabulário”, Henry murmura.

Toda a provocação desapareceu do rosto de Jonah agora.

“Eu nunca pedi desculpas por deixá-la escapar”, ele diz. “Eu

tentei dar-lhe outra — uma monarca laranja e preta, mas era a

borboleta azul que ele queria. E ela se foi para sempre. Eu sinto

muito por isso, mano.”

Theo se recosta na cadeira. “Você está falando sério?”

Jonah dá de ombros. “Só esclarecendo as coisas.”

Os irmãos se olham em silêncio. Um silêncio cheio de amor,

apesar do tom duro de Theo. Cheio de uma memória e milhares

como essa.

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“Então”, Beverly junta as mãos. “Quem tem alguma coisa

boa para compartilhar?” Ela se vira para mim. “Eu acredito que

todo mundo tem uma boa notícia em relação à semana anterior,

mesmo que seja só um pouco.”

“Jonah tem uma notícia surpreendente.” Coloco minha mão

sobre a dele e dou um aperto. “Certo?”

Sua mãe se inclina. “O que é, querido?”

Jonah brinca com o garfo, seu olhar piscando para Theo e,

em seguida, para baixo para o seu prato. “Então, Eme Takamura

— a curadora da galeria? Ela disse que Dale Chihuly vai tentar

vir assistir à exposição da minha obra.”

A mão de Beverly voa para a garganta. “Sério? Querido, isso

é uma notícia maravilhosa.”

“Notável”, Henry diz. “Muito bem, filho.”

Jonah se ajeita na cadeira. “Bem, espere, ela não disse que

ele vai estar lá. Só que ia tentar.”

“Ainda assim, o fato dele mesmo considerar isso”, Henry

diz. “Isso significa que ele reconhece seu trabalho.”

“Eu acho”, Jonah diz.

“É impressionante para caralho”, Theo diz. “Ele deveria

aparecer. Seria um idiota se não viesse.”

Pela primeira vez, seu vocabulário não é contestado. Um

outro olhar carregado passa entre os irmãos e me vejo sorrindo,

como se houvesse me tornado uma tradutora das suas trocas não

ditas.

“Theo tem uma boa notícia”, Jonah diz. “Um de seus

clientes vai ser fotografado pela revista Inked. Ele vai ser

creditado em um dos projetos.”

O sorriso sincero cintila sobre os lábios de Theo.

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“Isso é maravilhoso”, Beverly diz.

“Uma poluição do corpo, é o que é”, Henry diz.

Jonah abaixa sua garrafa vazia com força. “Jesus, pai.”

Eu me inclino na cadeira, lutando contra o desejo de cobrir

as tatuagens em meus braços nus.

“O quê?” Henry diz. “Ninguém maior fã dos talentos de

meus filhos. Theo é um artista excepcional, mas confunde a

minha mente ao pensar em passar a vida colocando tinta em

outras pessoas.”

“Porque é arte”, Theo diz. “É a arte permanente que as

pessoas carregam consigo. E quando eu tiver meu próprio

estúdio, serei um empresário legítimo.”

“Você estará assumindo um risco”, Henry responde.

“Será que podemos não discutir isso agora?” Jonah diz.

Enquanto os homens Fletcher encaram um ao outro, penso

que Henry está longe de ser tão intimidador como meu pai, mas

sua desaprovação com Theo deixa o mesmo gosto ruim na minha

boca.

“Nem todo cara que sabe desenhar pode ser um tatuador”,

digo no silêncio. “É uma habilidade especial, ser capaz de tomar a

visão de uma pessoa e transformá-lo em uma realidade. E você

está absolutamente certo que é um risco. O artista tem que

colocar a tinta perfeita na primeira vez, porque não há uma

segunda chance. Jonah pode reciclar o vidro e recomeçar. Theo

só tem uma única chance. Sem consertos.”

Sinto todos os olhos em mim, mas só olho para Theo, que

olha de volta dessa maneira que ele tem, como se não pudesse

acreditar que sou real.

“Obviamente, eu sou suspeita”, digo, passando a mão pelo

meu braço. “Mas não vejo isso como uma poluição no meu corpo.

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E m m a S c o t t

É expressão. Cada uma das minhas tatuagens significa alguma

coisa. E começar a tatuagem é tanto uma parte dela como tendo

uma. Por causa da confiança e colaboração com o artista.” O

silêncio se aprofunda. Dou de ombros e tomo um gole da minha

falsa cerveja. “Apenas o que eu acho.”

Henry se mexe na cadeira. “Acho que essa é uma maneira

de olhar para isso.”

Todo mundo parece exalar de uma só vez. A mão de Jonah

encontra a minha debaixo da mesa e ele me dá um aperto.

Beverly se levanta, recolhendo os pratos. “Quem quer

sobremesa?”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 33

kacey

São quase vinte e três horas quando nos despedimos.

Beverly me puxa para um longo abraço. “Estou tão feliz de ter te

conhecido. Volte no próximo domingo. Todos os domingos. Você

pode?”

Eu balanço a cabeça, me derretendo em seu abraço.

“Gostaria muito.”

Ela me solta, e se vira para Jonah. “Vejo você na próxima

semana, querido?”

“É claro”, ele diz.

Ele beija a bochecha dela e ela bate no ombro dele. Ela

ainda o segura então, seu olhar assumidamente memorizando

cada detalhe de seu rosto.

Eu desvio o olhar, meus olhos ardendo. Sinto uma

mudança na minha alma presenciando este momento entre uma

mãe e seu filho. Durante todo o caminho de carro, até a minha

casa eu não consigo pensar em nada para dizer. Palavras não

descrevem. Elas podem até mesmo arruinar...

“O que você disse sobre o Theo foi incrível”, Jonah diz.

“É verdade.”

“Mas isso é novo. Meu pai é muito duro com T e ele não dá

ouvidos ao que eu digo quando tento defendê-lo. Ele precisava de

uma nova perspectiva.”

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E m m a S c o t t

“Eu estava preocupada que tivesse ultrapassado algum

limite.”

“De modo nenhum.”

“Vi semelhanças de meu pai em seu pai. Não me interprete

mal, o seu é nada parecido com o meu. E só eu sei como Theo se

sente.”

“Nunca ser bom o suficiente.”

“Para dizer o mínimo. Será que ele realmente deseja abrir

sua própria loja?”

“Ele quer, mas a menos que receba uma grande quantia de

dinheiro para uma entrada, ele precisa de um fiador para um

empréstimo. Isso é um enorme ponto de discórdia entre ele e

papai. Meus pais tiveram que tirar uma segunda hipoteca para

ajudar a cobrir as minhas contas de hospital porque meu seguro

não foi tão longe.”

“Oh.”

“Theo nunca reclamaria sobre isso, é claro. É apenas que

nossos pais sempre foram cem por cento favoráveis comigo, e

menos com ele. O equilíbrio está totalmente distorcido.”

Jonah dirige em direção ao meu apartamento e estaciona.

“Deve ser difícil para ele”, digo.

Jonah roça os nós dos dedos sobre a minha bochecha. “Eu

acho que você o ganhou um pouco esta noite. E os meus pais

amaram você. Eu sabia.”

“Foi uma boa noite”, digo. Solto o cinto de segurança e

subo em seu colo, abraçando-o. “Vamos terminar com uma

explosão.”

“No sentido literal ou figurativamente?” Jonah murmura,

suas mãos deslizando para cima das minhas coxas enquanto

nossas bocas se encontram.

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E m m a S c o t t

“Nos dois.” Nossos beijos rapidamente se tornam mais

quentes, até que um carro passa e ilumina o interior do carro e o

volante cravado nas minhas costas.

“Isto não é tão fácil quanto parece nos filmes”, Jonah diz,

respirando com dificuldade. “Mudança de local?”

Balanço a cabeça. “Lá em cima”, digo, e acrescento com um

sotaque rouco sulista, “Leve-me para a cama ou me perca para

sempre.”

A testa de Jonah fica franzida. “Body Heat?”

“Top Gun.”

“Passei perto.”

No meu quarto, humor de Jonah some e ele pega fogo. Eu

nunca me senti tão desejada por um homem na minha vida. Seus

beijos viram hematomas, com as mãos tirando minha roupa.

Seus olhos estão dilatados, o marrom profundo deles quase preto.

Ele arranca sua camisa, se atrapalha no zíper da calça jeans.

“Deixe isso”, ele diz, quando toca as meias até as coxas que

uso sob as minhas botas. “E o colar.”

A emoção quente passa através de mim com a sua

necessidade e sua voz roupa e apressada. Sua respiração se torna

mais rápida quando ele olha para mim, nua, mas com a meia

preta ao longo de minhas pernas, e o curvo, colar de prata entre

os meus seios.

“Kacey...”

Deixo escapar um pequeno suspiro, minhas pernas

enfraquecendo. Agarramos um ao outro novamente e ele me

empurra contra a parede do quarto, a sua língua, dentes e lábios

devorando minha boca. Posso senti-lo entre as minhas coxas,

duro e pronto. Eu me atrapalho na mesa de cabeceira ao lado de

mim e cegamente pego um preservativo.

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E m m a S c o t t

Ele agarra meus quadris, mal se contendo, enquanto rasgo

o invólucro do preservativo e rolo sobre ele. Então suas mãos

escorregam debaixo de mim, me levanta, e envolvo minhas pernas

com a meia em torno de sua cintura enquanto ele geme em

minha boca. Meus braços vão ao redor de seu pescoço, minhas

unhas arranhando sua pele e os dentes mordendo o músculo

entre o pescoço e o ombro. Já, a sensação dele dentro de mim é

tão intensa, tão estonteante e quente, que estou delirando.

“Nunca foi assim. Eu juro...” Digo em sua pele, agarrandoo,

abraçando ele.

“Nem eu”, ele diz encontrando minha boca novamente.

“Tudo que eu quero é isso. Você…”

Seu corpo se move contra o meu rápido e forte. Ele me

preenche, a forte pressão alimentando uma dor de doce prazer em

algo que ruge e consome. Me seguro com toda a força que posso,

recebendo suas estocadas profunda, enquanto o brilho de

necessidade na minha barriga queima mais que o vidro fundido.

Meus ombros batem contra a parede com a força dele.

Sussurro seu nome, e depois grito enquanto ele estoca em mim

uma e outra vez, até que estou no ápice e caio drasticamente.

Meu corpo estremece e aperta em torno dele. Ele solta seus

próprios gemidos masculinos com o clímax, do fundo de seu peito

e Deus, se isso não é o som mais sexy que já ouvi na minha vida.

Os quadris de Jonah desaceleram. Ele solta minhas

pernas, deixando meus pés encontrarem o chão, mas seu corpo

ainda segura o meu contra a parede, com as mãos fechadas em

torno dos meus pulsos. Dentro do aperto, sua boca é gentil,

acalmando a queimadura de sua barba por fazer e a mordida de

seus beijos anteriores na minha pele. Necessidade carnal e suave

cuidado. Desejada e valorizada.

Amada.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Jonah faz amor comigo, penso, beijando-o de volta, meus

dedos acariciando suavemente sua pele onde o arranhei. Não

importa quão duro ou áspero sejamos, ele ainda está fazendo

amor comigo.

“Você me faz sentir tão bem, Jonah”, sussurro. “Melhor do

que bem. Como se eu pudesse começar tudo de novo.”

“Kacey.” Ele segura meu rosto em suas mãos, seus olhos

escuros com intensidade. “Você me faz sentir vivo.”

Ele me beija de novo, lenta e suavemente, enquanto queimo

com a esperança, com certeza não há milhares de momentos nos

sobrando, mas milhões.

Milhões.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 34

kacey

“Alguma vez você já foi a uma praia?” Pergunto ao Jonah.

“Não a um lago, mas um verdadeiro oceano?”

Nós estamos deitados na cama, em uma noite de terça —

normalmente é a nossa noite de encontro, mas nós optamos por

ficar em casa e dar uns amassos.

“Certo. Por quê?”

“Tenho saudade. Na infância, a praia era uma parte da

minha vida diária. Eu costumava matar a escola no período da

manhã, e meu melhor amigo e eu íamos a um dos cafés ao longo

do calçadão na Pacific Beach, ou um lugar no café da manhã que

tinha pranchas penduradas nas paredes. Ficávamos na praia até

depois do almoço, em seguida, voltávamos para a escola, para

não perdermos a última chamada. Às vezes isso nos levava a uma

viagem à sala do diretor. Na maioria das vezes isso não acontecia,

mas sempre vale a pena.”

Jonah passa a mão sobre a minha bochecha. “Você é muito

branca para uma amante de praia.”

“Chapéus grandes e filtro solar 1000”, digo. “E eu preferia

nadar ou fazer bodyboard na medida em que entrava no mar.

Grande e interminável. Se você acha que as estrelas são

espetaculares no Great Basin, espere até ver a lua sobre o

Pacífico.”

Ele acaricia minha orelha. “Parece que você está planejando

uma viagem.”

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E m m a S c o t t

“Eu realmente quero levá-lo para San Diego. Andar na

praia e te levar em todos os pontos legais que eu costumava

amar.”

“E ver seus pais?”

Estremeço. “Não. Deus, não. Seria apenas estranho e

desconfortável...”

“Posso lidar com estranho e desconfortável. Se você quiser

vê-los, você deve.”

“Não. Quero estar com você nos lugares que eu costumava

amar.” Levanto minha cabeça para olhar para ele. “Você pode?

Dois dias. Voos são muito baratos e ainda tenho alguma reserva

da Rapid Confession...”

“Você deve guarda-la. Não gastar comigo.”

“Eu quero gastar conosco. Mas se você não pode perder

qualquer tempo na Hot shop eu entendo.”

“Eu posso.”

Acaricio seu rosto. “Sério?”

“Se é importante para você, eu posso.”

Deixo escapar um pequeno grito de emoção e o beijo.

“Vamos na próxima segunda-feira e terça-feira. Então, não

tomaremos o tempo com seus pais. Naturalmente, Theo vai ter

um ataque...”

Jonah ri. “Ele pode, mas te ver lindamente feliz como você

parece agora mais do que vale a pena.”

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E m m a S c o t t

A demonstração de segurança de voo que Theo faz durou

meia hora. Desde o que fazer se a pressão da cabine do avião cair,

até ter certeza que trouxemos todos os remédios de Jonah e que

os armazenamos corretamente para que não sejam confiscados

pela TSA — a agência de segurança. E, claro, onde fica o hospital

mais próximo do nosso hotel. Mas nunca tomei a preocupação de

Theo por Jonah como algo fútil. Encosto em seu rosto e digo a ele

que vou cuidar bem do seu irmão.

Eu reservei um lugar com o nome mais perfeito de San

Diego sempre: o Beach Hotel Surfer da Pacific Drive. A sua

proximidade com a praia o torna um pouco mais caro para o meu

orçamento, mas quero que sejamos capazes de caminhar ao longo

do mar à noite, na parte da manhã, ou a qualquer momento que

o impulso nos atinja. O preço vale a pena.

No aeroporto, Jonah me leva até um conversível Ford

Mustang preto.

“Você não achou que toda essa viagem seria por sua conta,

não é?” Ele pergunta, segurando a porta aberta. “Eu tenho uma

poupança. Em dois, podemos fazer estes dois dias muito

impressionante.”

Descemos a capota, acionamos a música, e Jonah liga o

motor com um grito de gargalhada. Cantando alto, nós dirigimos

ao longo de um trecho de estrada tranquila e chegamos no hotel

por volta das dez. Temos todo o restando do dia livre para nós.

“O que você quer fazer primeiro?” Pergunto, amarrando a

parte superior do meu biquíni preto.

“O que você quer fazer em segundo?” Ele responde, me

jogando para cima da cama.

“Sim”, sussurro, enquanto ele deposita beijos no meu

pescoço, suas mãos trabalhando o nó na parte de trás do meu

biquini. “Isto primeiro.”

É depois das onze quando nós chegamos à praia.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Ficamos perto da costa, e tiro meus chinelos para enterrar

os pés na areia quente e macia.

“Você sente o cheiro?” Pergunto, inalando profundamente.

“Alga?” Jonah pergunta, olhando para um conjunto de

algas que está na areia e rodeados por moscas.

“O oceano”, digo.

Seus braços deslizam em volta de mim por trás. “Eu quero

cheirá-lo em seu cabelo depois de nadar”, ele murmura. “E sobre

os lençóis mais tarde...”

Viro e o beijo, minhas mãos deslizando sobre seu peito e

braços. Sua pele está quente, escorregadia com protetor solar.

Puxo Jonah para a água.

O frio do oceano bate com força, tirando o fôlego antes de

relaxar em seu frescor suave. Eu mergulho sob a espuma de uma

onda, assim como costumava fazer quando era criança. A água

fria no meu rosto e a força do oceano são exatamente como eu me

lembrava, e a nostalgia é tão forte, tenho que me orientar por um

minuto. Mas tenho Jonah. Meu, aqui e agora, e no momento me

sinto tão grande como o oceano.

Jonah mergulha para trás com uma onda que quebra e

desaparece sob a superfície. Ele emerge na água, com o sol

brilhando nas gotas de água ao longo de seu peito. Água escorre

pela sua cabeça quando ele chicoteia o cabelo de seus olhos.

Mordo o lábio quando um arrepio sobe pelas minhas coxas.

Jonah nada para cima e me beija. Deus, ele tem um gosto

tão bom. Como ele mesmo — limpo e quente — mas com o sabor

de mistura de água salgada. Ele geme em minha boca, em

seguida, para com um suspiro.

“Puta merda”, ele diz. Posso sentir sua ereção lutando

contra o short. “Você tem gosto de caramelo salgado.” Ele me

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E m m a S c o t t

beija de novo, e pressiono meus quadris para os dele. “Nós vamos

ter que viver aqui.”

“Ah, é?” Digo, colocando meus braços em volta do pescoço.

sair.”

“Literalmente aqui mesmo na água. Eu vou ser preso se eu

Eu rio e ando para trás, mais profundo no oceano,

protegendo a frente de seu corpo com o meu. Caio para trás,

levando-o comigo, e nos beijamos acima da superfície e abaixo

dela, antes de voltarmos para descansar na água, nenhum de nós

falando.

Jonah me segura enquanto eu flutuo nas minhas costas,

minha cabeça na curva de seu ombro, e tenho o desejo fugaz que

pudéssemos viver aqui. Não em San Diego, mas neste dia, estes

momentos, uma e outra vez, para sempre.

Jantamos no Chart House, um restaurante à beira-mar que

é caro, mas a vida é curta e dinheiro é para gastar hoje. Depois

disso, caminhamos ao longo da ressaca, de mãos dadas, levando

nossos sapatos. A lua cheia paira sobre o horizonte. Sua luz

derramando sobre o oceano preto em um cone de prata derretida.

“Essa foi uma boa ideia”, Jonah diz. Ele para de andar e

lança o seu olhar para fora sobre as ondas. “Todas as decisões

que fiz desde que conheci você têm sido boas. Te levar para casa

naquela primeira noite, comer naquele restaurante, permitir que

você ficasse por alguns dias, te pedir para voltar quando você foi

embora.”

“Eu fui um pouco persistente em algumas coisas”, digo.

“Graças a Deus.” Ele se vira para olhar para mim e seus

olhos se enchem de ferocidade. “Minha família e amigos me

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E m m a S c o t t

perguntam o que eu quero. O que quero fazer ou ver além de

fazer vidro. E só digo a eles o que não quero. Não quero viajar

para algum lugar longínquo, só para dizer que fui. Eu não quero

escalar uma montanha ou saltar de um avião. Um pouco de

alegria e depois de volta ao chão de novo — aqueles momentos

fabricados não são o que eu quero.”

Ele passa a mão sobre o meu cabelo, me puxando para

perto.

“Isso é o que eu quero. Você e eu, em um lugar como este.

Do lado de fora, no tempo. Sair para um passeio ao longo da

praia, comer ou nadar ou fazer amor quando nos sentimos

vontade.” Ouço a sua respiração e suas próximas palavras saem

roucas. “Isso é viver, Kace. É exatamente o que eu queria, mas

não sabia a quem pedir.”

Sinto as lágrimas ardendo em meus olhos, e deixo escapar

uma risadinha ofegante. “Foi a mim.”

“Foi você.” Ele segura meu rosto em suas mãos, roça os

lábios sobre os meus. “Sempre, só você.”

Nós fizemos muito no dia seguinte, começando com um

passeio de manhã cedo na praia e café da manhã no café

Pannikin.

“Esse é o lugar onde eu e minha melhor amiga, Laura,

costumávamos vir quando matávamos a aula”, digo. “Este edifício

foi outrora uma estação de trem.”

Jonah arranca o canto do guardanapo, rasgando em tiras

cuidadosas. “A casa dos seus pais deve ser perto.”

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E m m a S c o t t

“Dois quilômetros e meio a leste”, digo. “Mas não estamos

aqui para isso. As coisas que gosto sobre San Diego estão longe

da minha casa.”

Jonah sorri gentilmente. “Mostre-me todas.”

Eu o levo para provar meu taco de peixe favorito para o

almoço, seguido de um donut da melhor loja de donuts no

mundo. Fazemos um passeio no calçadão da Pacific Beach, cheio

de pedestres e skatistas.

“Você quer ver o lugar onde eu tive meu primeiro beijo?”

“Não especialmente.”

“O quê? Pense assim, você pode se comparar a um garoto

de quatorze anos de idade, Ricky Moreno com seu aparelho e mau

hálito?”

A torção da boca de Jonah é presunçosa quando desliza a

mão ao redor da parte de trás do meu pescoço e me beija. Beijo

de um homem, exigente e profundo, deixando-me sem fôlego.

“Ricky quem?” Murmuro.

Ele arqueia a sobrancelha da forma que amo. “Isso

mesmo.”

Começamos a andar de novo, os braços dados.

“O beijo no MGM Grand foi o meu primeiro beijo de

verdade”, digo.

“Meu beijo de sorte grande?”

“Foi a primeira vez que um homem me beijou porque era o

momento perfeito e lugar para um beijo. O momento certo. Não

porque esperava que fosse conseguir algo mais.”

Nós.”

“Mas eu queria que levasse a outra coisa”, Jonah diz. “Isso.

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E m m a S c o t t

Sorrio para o calor que se espalha através de mim com

essas palavras. “É a primeira vez, também.”

O dia passa rápido enquanto passeamos por San Diego, em

seguida, voltamos ao hotel. Para fazer amor, para dormir um

pouco. Tomamos banho e vamos jantar em um pequeno Crab

Shack, e depois, subimos no alugado conversível quando o

crepúsculo se aprofunda em noite.

“Ainda há tempo, se você quiser ver os seus pais”, Jonah

diz. “Não vá por minha causa, Kace. Não é sobre mim.”

Eu suspiro. “Eu realmente não quero ver ou falar com eles.

Mas talvez... Podemos passar pela casa. Eu não me importaria.” A

verdade: Quero — preciso — saber se a casa ainda é a minha

casa.

Jonah liga o motor. “Vamos lá.”

“Tudo certo. Mas... pode colocar capota para cima, ok?

Assim eles não podem me ver.”

Ele sorri e aperta o botão. Eu guio Jonah pelo bairro de

Bridgeview, onde as casas são menores do que os grandes

gigantes de Mission Hills, a oeste.

“Aquela”, digo, meu coração martelando em meus ouvidos.

“Pare aqui.”

Jonah para no meio-fio. Do outro lado da rua e um pouco

para baixo está a casa de dois andares em tinta azul pálida com

guarnição branca. O velho Subaru dos meus pais está

estacionado na rua.

“Eles não podem usar a garagem”, digo, distraída. “Está

cheia de móveis antigos e antiguidades que meu pai herdou

quando minha avó morreu.” Meus olhos percorrem a casa, se

demorando sobre os quadrados amarelos de luz das janelas da

frente. “Eles estão em casa”, digo suavemente.

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E m m a S c o t t

Jonah se inclina sobre o console, a cabeça no meu ombro.

Ele pega minha mão e dá um aperto. “Tudo o que você quiser

fazer, Kace.”

A casa fica borrada enquanto as lágrimas enchem meus

olhos. “Estou tão orgulhosa que você está comigo, Jonah. Seria

difícil assistir o meu pai elogiar coisas maravilhosas sobre você,

porque ele tem vergonha de mim.”

“Você quer ir sozinha?”

“Eu acho que não posso.”

“Talvez ele tenha mudado”, ele diz. “Ele é frio no telefone,

mas talvez, se vir seu rosto, cara a cara... Talvez veja como você é

linda, e quanto o ama. Porque está tudo em seus olhos, Kace. Ele

pode enxergar e as coisas seriam diferentes.”

“Eu não sei”, digo lentamente.

A porta da frente se abre e meus pais saem.

Agarro a mão de Jonah bem apertada enquanto eles

descem a calçada em direção ao seu carro. À luz dos postes posso

ver minha mãe, pequena e frágil, com um vestido azul com uma

bolsa preta. Ao lado dela, meu pai está alto e magro em um terno

azul-marinho e gravata amarela.

“Eles vão sair”, digo.

“Você pode fazer isso”, Jonah diz suavemente.

Reúno a minha coragem, minha vontade, acrescentando o

esmagador desejo de falar com os meus pais. Vê-los depois de

quatro anos me inunda em nostalgia, mesmo que tão pouco do

meu pai tenha sido bom.

“Ok”, digo, e estendo a mão para a maçaneta da porta.

Mas, em seguida, meu pai para na porta do passageiro da

Subaru. Ele se vira para minha mãe.

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E m m a S c o t t

“Espere”, sussurro, colocando a mão sobre Jonah.

Meu pai está dizendo alguma coisa. Estamos estacionados

muito longe para ouvir, mas posso ver minha mãe inclinar a

cabeça para cima. Seu jeito frágil, seu sorriso floresce em algo

espontâneo e alegre. Ela joga a cabeça — como um gesto

despreocupado, quase de menina que eu nunca vi antes. A risada

dela flutua para o outro lado da rua e meu pai passa o polegar

acariciando seu queixo como um amante. Romântico.

“Pai.” Minha boca está em forma da palavra sem um som

quando ele abre a porta do passageiro para minha mãe. Quando

vai para o lado do motorista, seu passo é quase um passo de

dança, o seu rosto angular, suave e divertido.

“Kace, eles vão”, Jonah diz.

“Deixe-os ir”, eu sussurro.

“Você tem certeza?”

Mas o carro se afasta do meio-fio e desaparece na rua.

Meus dedos levantam da janela em um pequeno aceno.

Os dedos de Jonah acariciam a minha nuca. “Por quê?”

“Eles pareciam tão felizes”, sussurro. “Eu nunca os vi... Foi

um grande momento, sabe? Se eu tivesse saído e surpreendido os

dois, teria arruinado.”

Sua mão é suave no meu cabelo. “Eu sinto muito.”

“Talvez ele esteja melhor”, digo, “agora que fui embora. Não

estou tentando ser a mártir. Eu só quero dizer... talvez ele esteja

mais feliz. O que os torna melhor em conjunto. Eu não gostaria

de estragar tudo. Deus, eles pareciam tão apaixonados...” Exalo, e

olho para Jonah com um sorriso fraco. “Vamos voltar para o

hotel. Temos um voo de manhã cedo.”

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E m m a S c o t t

Jonah liga o carro, dirige três metros, em seguida, freia e

estaciona em um parque. Ele se vira para mim, com uma mão no

volante, a outro ao longo das costas do meu assento.

“Quando estiver pronta, você vai voltar”, ele diz. “E o seu

pai pode falar e reconciliar, ou ele pode continuar com sua raiva

estúpida e manter você afastada. Se ele fizer isso, então é um

idiota maldito. Você querer ser amada por ele não te torna alguém

quebrada, Kace. Ele é o único que está perdendo em deixá-la ir. É

sua perda. Eu quero odiá-lo pelo que ele fez com você, mas em

vez disso, só sinto pena dele.”

Ele me beija então, ferozmente, como se selasse um pacto,

sua mão apertada no meu cabelo.

“Precisava tirar isso do peito, não é?” Pergunto.

“Sim”, ele diz.

“Sente-se melhor?”

“Muito.” Ele coloca o carro em movimento e se afasta do

meio-fio novamente.

Viro para a janela para ver a minha antiga casa ficando

para trás. “Eu também.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 35

kacey

Final de setembro

Sento na minha cama, guitarra no colo e caderno aberto

ao meu lado. Bato a caneta na parte inferior do corpo acústico da

guitarra Taylor, suspirando nas páginas em branco. Não há fluxo

lírico hoje. Não está rolando. Chett é um assunto morto para

mim, e eu não quero escrever sobre o meu pai. Basicamente,

estou muito feliz para revirar os poços escuros de meu passado.

ter.

O que, bem vistas as coisas, é um bom problema para se

Durante seis semanas, Jonah e eu estivemos juntos. Um

casal. Quase todas as noites depois do trabalho ele veio para o

meu apartamento, ou eu fui para o dele. Ele não precisa dormir

muito e eu sou uma coruja com nenhum lugar para estar de

manhã. Passamos as horas profundamente perdidos um no

outro, fazendo amor — às vezes duro e áspero, às vezes lento e

suave — então conversando, comendo e rindo, antes de cair de

volta na cama.

Temos nossas pequenas rotinas. Noites de domingo na casa

dos Fletchers, jantares ao ar livre debaixo de lâmpadas de

incandescência de Jonah. Muitos risos, boa comida e melhor

conversa. Terças-feiras são os nossos encontros. Cupcakes na

máquina automática, show da fonte do Bellagio ou apenas ficar e

assistir a um filme.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Ele deixou um estoque de seus medicamentos na minha

cozinha, e comprei um liquidificador em um mercado para que

pudesse fazer suas vitaminas. E quase todos os dias, levo o

almoço para a Hot shop onde Jonah e Tania dão duro no trabalho

de acabamento das peças da obra. A exposição no Wynn está

apenas a duas semanas de distância, mas Jonah diz que se sente

confiante de que vai conseguir cumprir seu cronograma.

Ele vai conseguir, penso. E além. Ele está saudável. Seu

corpo é forte.

Sinto a força em seu corpo quase todas as noites. Minha

pequena chama de esperança é uma tocha agora, e nem mesmo

um furacão pode extingui-la.

Meu celular toca na mesa de cabeceira, me tirando dos

meus pensamentos.

“Alô?”

“Kacey Dawson?” Pergunta uma voz de mulher.

“Sim, sou eu.”

“Senhora Dawson, sou da revista Sound Addiction. Eu

queria saber se você tem quaisquer comentários sobre os recentes

abalos na sua antiga banda, Rapid Confession?”

Faço uma careta. “Abalo recente?”

“Dizem que a banda está em perigo de cancelamento de

shows devido a disputas entre Jeannie Vale e a nova guitarrista,

Elle Michaels. Isso é verdade?”

“Eu não faço ideia.”

“Há também boatos de um processo por mau

comportamento com um proprietário do clube. Os fãs estão se

queixando de que os shows ao vivo não são tão sólidos como

eram quando você estava no palco.”

“Bem, merda, é bom ouvir isso.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Dado o fato de que sua substituto, Ms. Michaels, agora

está declaradamente à beira de desistir, ou ser demitida —

dependendo de quem está dando a notícia — me pergunto se você

tem qualquer pensamento em voltar?”

Eu sorrio. “Nem um segundo.”

“Isso é interessante, Dawson. Ninguém foi capaz de

conseguir um comentário de você sobre a sua saída da banda.

Gostaria de fazer uma declaração agora?”

“Não, mas obrigada pela oportunidade.”

Desligo e dou um clique no número de Lola. Caixa de

mensagens.

“Lola, sou eu”, digo. “O que diabos está acontecendo?

Acabei de receber um telefonema de uma revista sobre a banda

estar cancelando os shows? Me liga.”

Termino a chamada e olho para o meu laptop velho. Eu só

o uso para assistir tutoriais de maquiagem no YouTube. Com

poucos comandos em uma barra de pesquisa do Google, posso

obter respostas às minhas perguntas, mas agora não tenho

certeza se eu quero saber. Os meus dias como guitarrista da

Rapid Confession parecem distantes agora. E gostaria que

continuasse assim.

Chega uma mensagem da Lola: Não posso falar agora.

RC está prejudicada s/ você. Jimmy quer conversar. Apenas

para sua informação.

Merda, a última coisa que quero é minha antiga vida se

intrometendo na nova. Além de telefonemas ocasionais com Lola,

deixei a banda no retrovisor. O dinheiro está apertado, e não

estou perto de fazer nem mesmo uma música decente, mas...

Estou feliz.

Mando uma mensagem de volta, Diga a ele para

esquecer.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Nenhuma resposta. Lola está ocupada ou pegando um

avião, mas espero que transmita a minha mensagem. Penso sobre

mensagens de texto de Jimmy para mim, mas isso é como levar

um martelo na minha pequena bolha de vidro da felicidade.

“Sem chance”, murmuro. Vejo que horas são. É quase o

almoço. Arrumo sanduíches e saladas e levo tudo para a Hot

Shop.

Jonah sai, quando paro o carro. “Como você está?” Digo

através do pequeno estacionamento.

“Feito”, ele diz.

“Feito?” Digo, confusa.

Tania sai também. Ela abre os braços, repetindo,

“Terminado.”

“Vocês terminaram?” Digo. “A obra? Tudo?”

“Feito”, Jonah diz. “Com nove dias de sobra.”

Tania solta uma risada. “Eu preciso abraçar alguém —

além do chefe, aqui — ou vou explodir.”

“Eu”, choro, avançando em correr. Abraço Tania, em

seguida, viro para lançar meus braços ao redor do pescoço de

Jonah.

“Puta merda”, ele diz. “Está feito.”

De repente, não gosto dessa palavra. De repente, o chão

desaparece debaixo dos meus pés. Inundado com milhares de

emoções, seguro Jonah perto, puxando-o com força contra mim,

estranhamente com medo de soltar. Com medo de algo que eu

não posso nomear ainda.

Feito.

Acabado.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Eu me afasto o suficiente para procurar os seus olhos.

“Você está feliz com isso?”

“Eu acho que ainda estou em choque. Tenho me

empenhado nisso por tanto tempo...” Ele esfrega suas bochechas

e dá um sorriso vacilante. “Eme diz que vai enviar um

caminhonete para buscar as últimas peças e todo o material que

estará à venda.”

“Eu não posso acreditar.” Eu tomo seu rosto e o beijo.

“Estou tão orgulhosa de você.”

“Obrigado”, ele diz, mas seus olhos parecem espelhar a

emoção estranha que transborda no meu coração. Seu olhar

perplexo se prende ao meu enquanto balança a cabeça

lentamente. “Está acabado…”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 36

jonah

“Jonah”, Eme Takamura diz, apertando a minha mão.

“Estou tão contente de vê-lo novamente.”

A curadora da Wynn Galleria é leve e inteligente, usa terno

escuro risca de giz, impecavelmente sob medida. Ela é chefe de

negócios da cabeça aos pés, mas tem uma flor de hibisco de seda

vermelha dobrada atrás da orelha conferindo-lhe uma explosão

artística de cor.

“Isto é tão excitante”, ela diz enquanto caminhamos pelo

saguão. A voz dela está alegre e ligeiramente acentuada. “Minha

equipe está no espaço, aguardando sua orientação para montar a

obra-prima. Sua assistente enviou um fax sobre os esboços e do

diagrama, e Wilson — ele é meu líder de equipe — disse que as

especificações estão dentro do orçamento. Um ajuste perfeito.”

“Isso é ótimo. Realmente uma boa notícia.”

“Você está bem, Jonah?” Ela pergunta, olhando para mim.

“Você parece um pouco pálido.”

“Estou nervoso demais”, digo com uma risada curta. “Eu

quero que não seja uma porcaria.”

Ela ri, um som formal, delicada na parte traseira de sua

garganta. “Sim, prefiro que não seja uma porcaria também. Mas a

partir das peças que vi — ainda nas caixas, e com você —

acredito que você tenha evitado esse destino.”

“Falando nisso, ouviu algo mais do Sr. Chihuly?”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Infelizmente, não. Mas, para mim, isso significa que ele

ainda tem o objetivo de ver a exposição na noite de abertura.

Conto nenhuma notícia como uma boa notícia.”

“Eu também.”

Ela me leva para a galeria, um pequeno espaço em forma

de L, explicando como a minha exposição de vidro será exibida. A

longa asa irá segurar as peças individuais para venda, e a obra

seria exposta na ala mais curta.

Andaime já havia subido na curta asa, e uma equipe de

dois homens e uma mulher está cuidadosamente trazendo caixas

a partir de uma sala de armazenamento adjacente. Cada caixa foi

marcada com números e o seu local para a instalação.

Eme me apresenta a Wilson, o líder da equipe. Imagino que

ele está na casa dos cinquenta, um cara enorme e musculoso

como um barril que parece que ele quebraria mais vidro do que

não.

Ele deve ter lido os meus pensamentos, porque dá uma

risada quando aperta minha mão, dizendo: “Fui emprestado de

um estúdio de vidro em Los Angeles. Eu sei que pareço como um

lenhador, mas não vou quebrar nada.”

“Eu confio em você”, digo. Não que tivesse outra escolha.

Nervosismo está disparando pequenos arrepios em minhas mãos

e pés, tornando-os dormentes.

É isso. Isso está realmente acontecendo.

“Minha assistente deve chegar a qualquer minuto”, digo.

“Deixe-me ligar para ela para ver onde está.”

“Ela está aqui”, Tania grita, apressando-se. “Eu sinto

muito. Acidente na avenida. Terrível pelo visto. Complicou tudo.”

Ela é apresentada para a equipe e, em seguida, todos os olhos se

voltam para mim. “Pronto?” Tania diz.

Tomo um fôlego enorme. “Vamos fazer isso.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Saímos em torno das quatro horas. Os outros

trabalhadores já foram, e Tania e eu afundamos em um banco,

examinando o trabalho até agora.

“Vai ser brilhante”, ela diz. “Olhe para isso. Nem mesmo a

terceira peça está montada e já está de tirar o fôlego. Você fez

isso.”

“Nós fizemos isso. Isso não aconteceria sem você.”

Olho para a minha obra, nas bobinas amarelas e as fitas

azuis que tinham sido ligados entre si e suspensas do teto até o

momento. “Você acha que Kacey vai gostar?”

“Querido, Kacey vai perder a cabeça com isso.” Ela coloca o

braço sobre os meus ombros. “E se você não se importa que eu

diga, estou tão feliz que ela esteja aqui para compartilhar isso

com você. Que você a tem para compartilhar sua arte.”

“Eu também”, digo. Durante todo o dia, através dos

meandros mentais e físicos necessários à criação do vidro, meus

pensamentos nunca deixaram Kacey. Ela esteve comigo o tempo

todo. Cem vezes parei o trabalho para olhar por cima do ombro,

ter certeza que ela estava lá assistindo.

Sinto a falta dela.

Tania dá um puxão na minha camisa. “Quer sair? Pegar

um jantar mais cedo?”

“Não estou com fome”, digo. “Eu tenho que chegar na A-1

logo de qualquer maneira.”

“Merda, você deveria parar. Em uma semana, você vai ser

famoso.”

Reviro os ombros. “Não sei nada sobre isso.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Eu sei. Você já viu a lista de convidados da Eme?” Ela

assobia baixo em seus dentes. “Mesmo sem Chihuly, será uma

multidão de ouro, e todos aqui para vê-lo.” Ela se levanta do

banco e estica as costas. “Talvez você devesse tirar a noite fora.

Levar Kacey em algum lugar e comemorar.”

“Boa ideia. Eu posso fazer isso.”

Ela bagunça meu cabelo. “Ou talvez você devesse tirar a

noite apenas para dormir um pouco. Parece que precisa.”

Depois que ela sai, fico sentado por alguns momentos mais,

olhando ao redor da sala.

Está acontecendo.

Levanto. Ou tento. Minha respiração fica presa duramente

em meus pulmões, e depois desaparece sem que eu mesmo

expire. Tento conseguir ar e não consigo por causa da minha

garganta, é como se tivesse uma faixa de aço enrolado em volta

do meu peito.

Ah Merda…

Sento de volta, puxando lufadas rasas de ar.

Leve. Leve e fácil, digo a mim mesmo, assim como meu

coração soa no meu peito. Meu olhar corre de um trabalhador de

rua ou para o zelador. Pego meu telefone para ligar para a

emergência...

Não! Não é tão ruim. Não é…

Gradualmente a faixa que aperta em torno de minhas

costelas alivia. Finalmente, passa e consigo respirar mais fundo.

Fadiga. Estou trabalhando pra caramba. Isso foi tudo.

Balanço a cabeça, levanto cuidadosamente do banco e

deixo a galeria. Meu caminho está certo, minha respiração

profunda e regular. Mas cada terminação nervosa grita por Kacey.

Preciso dela. Cada inalar e exalar marcam os segundos que se

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passam sem ela, e sinto-os deslizando através de meus dedos

como areia.

Aceito alguns dos conselhos de Tania e digo que estou

doente na A-1. A minha primeira vez nos cinco meses que

trabalho lá. Harry fica chateado que estou avisando em cima da

hora, e me pergunto por que não me incomoda mais, e se posso

deixar o trabalho de vez.

Porque Kacey é mais importante do que dirigir para cima e

para baixo na rua toda a noite.

Tenho uma necessidade quase desesperada de vê-la.

Esfrego as palmas das mãos sobre as coxas do meu jeans como

se eu fosse um viciado buscando uma dose. Ligo para ela e

mesmo tendo muito que trabalhar, ela consegue sair.

Eu levo a minha linda namorada a um restaurante chique

no Mandalay Bay, que tem vista para a brilhante Strip. Ela á

mais radiante do que todas as luzes além das janelas, e me

provoca por ficar encarando-a mais de uma vez.

A comida é deliciosa e é o que eu precisava depois de um

longo, emocional e fisicamente desgastante dia. No momento em

que saio do restaurante, a minha necessidade de estar com Kacey

se transformou em um forte desejo de tê-la sozinho. Tínhamos

planejado ver outro show da fonte no Bellagio, mas enquanto

esperamos a conta chegar, deslizo ainda mais perto dela em

nossa mesa.

“Eu quero te levar para casa”, digo ao seu ouvido, minhas

mãos deslizando pelo tecido liso do vestido. Ela usa elaboradas

botas altas atadas à frente e um vestido preto de botões. O tecido

revela o vale suave de seu decote e termina aberto logo acima

suas botas quando ela anda.

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“Sem show das águas?” Ela pergunta.

“Você se importa se a gente pular isso?”

Sua mão desliza entre as minhas pernas, sobre as minhas

calças. Ela encontra minha ereção crescente e dá um aperto

suave.

“Eu quero isso mais”, ela sussurra de volta.

No meu apartamento, desfaço os laços de suas botas —

uma de cada vez — e os botões do seu vestido — também um de

cada vez — até que ela está apenas em seu sutiã e calcinha

pretos. Então nós comemoramos a exposição da obra.

Comemoramos muito e bem para a noite, até que caio sobre os

travesseiros, exausto e saciado. Meu corpo está pesado e

vibrando com o clímax. Kacey está suave e mole, enrolada ao meu

lado, a cabeça apoiada no meu ombro. O rádio relógio marca

duas e quinze da manhã.

“Você está intenso esta noite”, ela diz.

“Eu não te machuquei, não é?”

“Deus, não.” Ela se aconchega mais perto. “Eu posso não

ser capaz de andar amanhã, mas valeu a pena.”

Estico-me para beijar seu cabelo. “Basta fazer o que você

disse no Great Basin. Tomar cada momento e torcer para tudo

valer a pena.”

“Eu estava pensando...” Ela percorre os dedos sobre meu

peito, em toda a minha cicatriz, e ao longo do meu ombro. “Se

você tivesse pensado melhor sobre me deixar convidar alguns de

seus antigos amigos da universidade para a exposição na próxima

semana. Carnegie também, no entanto, será a curto prazo. Eu sei

que você não...”

“Sim”, digo sem pensar. “Vamos convidar alguns. Os

amigos que eram mais próximos.”

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Kacey levanta a cabeça para olhar para mim, seu sorriso

radiante. “Sério?”

Balanço a cabeça. “Vou tentar desenterrar alguns

endereços de e-mail para você. Eu tenho certeza que eles vão

pensar que sou um babaca por esperar até agora...”

“Eu fazer com que não pensem isso. Vou explicar que você

estava ocupado, no fim do prazo, mas agora o seu projeto está

pronto.” Kacey se apoia em seus cotovelos, a elevação de seus

seios empurrando contra o meu peito. “Estou tão feliz que você

mudou de ideia. Posso perguntar o porquê?”

Penso em dizer a ela que estou bem em fazê-la feliz, ou que

eu realmente queria ver meus velhos amigos. Digo a ela a

verdade, no entanto.

“Eu não sei. Já não faz tanta diferença mantê-los longe. “

Ela traça o dedo no meu peito. “Talvez seja porque você

conseguiu o que se propôs a fazer. Sem distrações.” Ela sorri

timidamente. “Bem, com exceção de uma.”

“Uma bela, distração incrível.” Puxo sua boca com a minha,

beijando-a suavemente no início, depois mais profundo.

Você precisa ter calma...

“Espere assim um pouquinho”, murmuro contra seus

lábios. “Eu preciso de água. Quer um pouco?”

“Certo.”

Levanto e caminho nu para o banheiro. A luz explode em

meus olhos quando a acendo, e eles se encolhem com o brilho

áspero. Eu tento pegar um dos dois copos na pia e erro por causa

das luzes brancas subitamente dançando por toda a minha visão.

Agarro o balcão quando o chão gira sob os meus pés e minha

respiração volta a ficar superficial.

Mas que…?

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O episódio, ou o que quer que fosse, passa em instantes.

Minha visão clareia, e respiro fundo algumas vezes até que meu

equilíbrio está restaurado. Um efeito colateral dos medicamentos,

provavelmente. Ou, mais provavelmente apena exagerei com

Kacey. Isso, provavelmente é isso. Mesmo quando estava

tomando-a como um louco, eu sabia que era demais. Mas hoje

não consegui me saciar dela. Precisava preencher as minhas

mãos com ela, tocá-la em todos os lugares, inspirá-la, absorvê-la,

como se pudesse levá-la comigo, mesmo quando estávamos

separados.

Leve e fácil. Fique frio. A obra está pronta e você tem todos

os dias livres para vê-la.

Encho dois copos de água com mãos firmes e volto para o

quarto.

“Obrigada”, Kacey diz e bebe quando volto para a cama. Ela

coloca o copo sobre a mesa de cabeceira e toma o meu quando

acabo. “Agora... Onde estávamos?”

Ela me beija docemente, então sedutoramente, mas eu

gentilmente recuo. “O dia finalmente me cansou. Ou isso, ou você

me desgastou. Certeza que é o último.”

Ela bufa um suspiro dramático. “Provocação.”

“Eu sei. Venha aqui.”

Enrolo Kacey em meus braços, acomodo sua cabeça

debaixo do meu queixo, e beijo seu cabelo. Mesmo após o sexo

suado, voraz, ela ainda cheira a caramelo. Encho meus pulmões

com ela, levando-a comigo para dormir, onde sonho com um

barco balançando suavemente e uma costa rapidamente ficando

para trás.

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CAPÍTULO 37

kacey

É a noite de abertura da exposição de Jonah na Wynn

Galleria. Eu não fico tão nervosa e animada desde a noite antes

do primeiro grande concerto da Rapid Confession.

Milagrosamente, não quero uma bebida. Eu não tomei uma

bebida desde que deixei a banda e não fumei um único cigarro

também. Tenho vontade de vez em quando, mas nunca irei fumar

perto de Jonah, e se fumasse no meu apartamento, estaria tudo

contaminado quando ele viesse.

ele.

Então me livrei de dois maus hábitos. Um por mim, um por

Coloco um vestido preto que vai até o meio da coxa na

frente, com alças largas e uma saia que cobre os meus joelhos.

“É um vestido reverse mullet”, disse a Jonah no telefone

mais cedo naquele dia. “Indecente na frente, profissional nas

costas. Você acha que vai ser apropriado?”

“Eu não sei”, ele diz. “Minha principal preocupação é a

facilidade com que ele sai.”

A piada é um alívio. Jonah tem estado distraído, nervoso e

estressado essa última semana. Eu ainda não vi o produto final, e

antecipação corre através do meu ventre enquanto arrumo meu

cabelo no alto da cabeça, deixando algumas mechas soltas. Aplico

a minha maquiagem de costume, com olhos esfumados e lábios

vermelhos brilhantes, e depois passo pela minha pequena sala de

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estar, esperando. Um olhar para fora da janela revela uma

limusine o meu telefone soa com uma mensagem:

Aqui, mas atrasado. Pode me encontrar lá embaixo?

Corro para baixo e chego ao meio-fio, assim que o motorista

abre a porta do passageiro e Jonah sai. Ele congela quando me

vê, fica de queixo caído.

“Eu cuido disso”, ele diz ao motorista, que tira o quepe e

volta a se sentar atrás do volante.

“Boa noite”, digo.

“Você está...” Ele balança a cabeça quando se aproxima e

passa os braços em volta da minha cintura.

“Você não precisa”, digo. “Eu amo seus elogios silenciosos.”

“Toda vez que te vejo, eu penso, é isso. Ela não pode parecer

mais bonita do que ela está agora. E então vejo você na próxima

vez.”

Lágrimas saltam aos meus olhos enquanto percorro minhas

mãos pelas lapelas de seu terno cinza-escuro. “Você parece... tão

bonito, Jonah. Deus, o que há de errado comigo?” Eu pressiono a

parte de trás do meu pulso cuidadosamente sob um olho, depois

pelo rosto do meu rosto. “Eu não sei do que se trata. É uma noite

especial para você e estou tão feliz e orgulhosa... Animada para

ver o seu belo vidro. Merda, eu deveria ter uma caixa de lenços

para levar comigo. Eu sei que vou precisar.”

Jonah se inclina e beija a minha boca. “Obrigado por estar

aqui comigo.”

Posso sentir a tensão em seus músculos. Sua expressão é

perturbada, como se ele tivesse milhares de pensamentos na sua

mente e quisesse dizer mais. Mas as luzes da rua se acendem

acima de nós. A noite já começou a cair, e Jonah se vira para me

direcionar para dentro da limusine.

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“Cortesia de A-1?” Pergunto.

“Deus, não”, Jonah diz, deslizando ao meu lado. “Eme

enviou para mim. É ridículo, mas não posso dispensar e arruinar

a noite do motorista. Mas estou feliz que não seja da A-1 ou eu

ouviria piadas dos caras de lá para sempre.”

“Eu amo Eme por fazer isso”, digo. “Você merece.”

“Eu não sei nada sobre isso”, Jonah diz.

A limusine se afasta do meio-fio e Jonah se vira para

observar Vegas de fora da janela. Sua perna balança e escorrego

minha mão na sua. Ele a segura firmemente toda a viagem, e, em

seguida, dá um aperto quase doloroso quando chegamos ao

Wynn.

“Puta merda”, ele murmura.

A frente do hotel é uma cavalgada rotativa de sedans,

limusines e carros, derramado convidados vestidos com trajes

semi-casual.

“Eu não achei que haveria tanta gente”, Jonah diz. “Eme

deve ter convidados metade de Las Vegas.” Ele se vira para mim,

seu belo rosto torcido pelo pânico. “O que faço se odiarem?”

Começo a dizer-lhe que eles ninguém vai odiar nada, mas

sei por experiência própria como é colocar minha alma em

exposição, derramar o meu coração em uma canção e, em

seguida, entregá-la a outra pessoa. É claro que ninguém vai

detestar, mas não há muito paliativo contra esse tipo de

ansiedade.

“Você ama o que fez?” Pergunto. “É a exposição que você

imaginou?”

Jonah concorda. “Sim é.”

Sorrio e encolho os ombros. “Aí está.”

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Ele solta uma risada curta. “Bem, isso foi fácil.” Ele acaricia

minha bochecha, estudando-me atentamente, e abre a boca para

dizer algo mais. Ele me beija em vez disso, assim que o motorista

abre a porta para nós e é hora de ir.

A longa ala em forma de L da galeria exibe as peças

individuais para venda, cada uma em pé, em stands, de

diferentes alturas. Garrafas e vasos ricocheteiam com cores nos

complexos padrões ainda precisos. Esferas e cubos que contém

inacreditáveis buquês de flores. Um grupo de flores silvestres em

roxo e amarelo tem abelhas pairando sobre ele. Outro parece

como se tivesse sido suspenso debaixo d'água, turvo e fluido na

sua forma. Outras peças penduradas no teto em torções de vidro

multicolorido. Algumas são luminárias, as suas lâmpadas

escondidas entre as bobinas.

Tenho que morder o interior da minha bochecha enquanto

caminhamos pelas pessoas formalmente vestidas que apreciam o

lindo trabalho de Jonah. Eles tomam champanhe em taças de

cristal ou comem alimentos delicados pegando com os dedos das

bandejas de garçons que estão passando. Uma corrente de

murmúrios, conversa se passa entre a multidão. Todas as

direções que viro minha cabeça ouço os convidados exclamarem

como é belo o vidro e quanto apreciariam a ter uma peça

daquelas em seu lar.

Jonah olha para a frente, sua mão segurando a minha com

força, enquanto seguimos para a extremidade curta do L, onde

sua obra está pendurada. Viramos no canto da sala e nos

juntamos à multidão reunida, todas as vozes e suspiros

apontando para cima, em direção ao teto.

Um mar…

Olho para cima, também. Três metros de uma cachoeira de

vidro em todos os tons de azul. Fitas e cachos caindo dele, em

uma espuma opalescente. Jogados debaixo de uma esfera

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ajustada no centro. Um sol em laranja, vermelho, dourado e

amarelo. Uma bola de fogo cheia de lava derretida.

Na parte inferior da cachoeira, a água foi transformada em

um azul plácido feito a partir de erupções de vidro, como placas

em forma de quadrados com bordas ondulantes, bastante

compridas e bem amplas. As almofadas de lírio em verde,

cobertas com cachos de flores de cristal cor de rosa, pontilham o

lago azul espalhado ao longo do chão. Luzes escondidas em locais

estratégicos iluminam a vida animal entre a água e vegetação:

peixes de vidro com escamas de bronze, cubos de corais e algas, e

até mesmo um polvo com seus tentáculos se espalhando e

tentando agarrar alguma coisa.

Minha mão em Jonah aperta tão forte, meus dedos doem.

“Jonah, é...” Eu não tenho uma palavra para dizer o que é.

Ele se vira para olhar para mim e só posso olhar para trás.

“Obrigado”, ele diz.

Meus olhos lentamente encontram Tania, Dena e Oscar, os

pais de Jonah e Theo no meio da multidão. Então Eme Takamura

nos vê. Sem uma palavra, ela aponta, espera que os olhares a

sigam, em seguida, começa a bater palmas. O resto da multidão

se junta quando percebe que o artista está entre eles. Logo, o

espaço é preenchido com aplausos e Jonah dá um passo para

trás, emocionado. Eu gentilmente cutuco-o para frente.

“É tudo para você”, sussurro. “Aproveite.”

O resto da noite é meio que um borrão. Dena, Oscar, e

Theo ficam comigo, enquanto Jonah, Tania, e os Fletchers são

levados ao redor por Eme, conhecendo vários artistas,

colecionadores e críticos. Meus olhos não se cansam de ver Jonah

ser recebido e parabenizado por seu belo legado. Então amigos da

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UNLV se aproximam e Jonah é cercado e abraçado, uma e outra

vez, por pessoas que não via em quase dois anos.

“Seu trabalho é impressionante”, Dena diz, admirando uma

grande escultura, em forma de ovo cheia de cacos geográficos,

como um prisma, pedras preciosas flutuando entre eles. “Nós

vimos o seu trabalho na UNLV, mas isso... Ele levou para um

nível totalmente novo.”

“Ele é um maldito gênio”, Theo diz. Ele é quem está menos

bem vestido, mas ainda penso que parece extremamente bonito

em uma camisa de botão preto enrolada até um pouco abaixo dos

cotovelos, revelando seus antebraços cheios de tatuagem.

“Veio sozinho, T?” Oscar pergunta.

Theo sacude a cabeça.

“Essa é a primeira vez.”

Theo dá de ombros e murmurou alguma coisa ininteligível

contra a boca de sua garrafa de cerveja.

“Chihuly está aqui?” Pergunto. Se o ídolo de Jonah chegar,

a noite seria completa.

Dena examina a multidão para cima e para baixo ao longo

do L. “Eu não creio. Pelo menos, ainda não.”

“Ele vai aparecer”, Oscar diz.

“É melhor”, Theo diz.

Mal ele diz isso quando a multidão se separa, e um homem

atravessa, acompanhado por uma comitiva. Ele é baixo, rotundo e

parrudo, todo vestido de preto. Seu cabelo prateado roça seus

ombros e uma mancha negra cobre o olho esquerdo.

“Theo...?” Eu sussurro, pegando sua mão.

“É ele”, Theo diz.

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Minha mão na sua aperta com mais força e minha

respiração fica presa frente a este homem, este mestre de vidro,

esta lenda que caminha até Jonah e bate em seu braço. Jonah se

vira. Seu rosto fica surpreso, assustado e cheio de espanto,

choque e reverência.

“Jesus, olhe para ele”, Theo diz suavemente.

Pisco as lágrimas quando Dale Chihuly oferece a Jonah sua

mão e Jonah sacode. Estou de pé muito longe para ouvir todas as

palavras, mas Chihuly está animado enquanto fala, os braços

gesticulando, os dedos apontando para diferentes peças. A cabeça

de Jonah balança. Sua boca pronuncia obrigado mais e mais.

Então ele e Chihuly se movem em torno da curva do L e

desaparecem de nossa vista.

“Oh, meu Deus, Theo”, eu sussurro.

Olho para cima para vê-lo piscando com força, sua

mandíbula cerrada de modo que os músculos estão contraídos.

Ele olha para mim, suas pupilas dilatadas, agora deixando as

lágrimas se acumularem.

“Ele veio”, Theo diz. “E ele gostou do trabalho de Jonah.

Vimos isso acontecer.”

Eu balanço a cabeça, lutando contra as lágrimas.

“Vimos”, ele diz. “Você sabe o que eu quero dizer?”

Eu sei. Jonah conheceu seu ídolo. Seu herói elogiou seu

trabalho. Theo e eu testemunhamos isso. Esse seria para sempre

um dos mais preciosos momentos de nossas vidas.

Durante uma hora, Jonah e Dale Chihuly ficam sentados

em um banco na frente da cachoeira de vidro, em uma conversa

profunda, enquanto a multidão é dizimada em torno deles.

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Finalmente, o mestre se levanta, troca um aperto de mãos

caloroso com Jonah, depois com Eme e Tania, e deixa a galeria

com sua pequena comitiva.

“Esgotado”, Eme diz, consultando seu iPad. “Toda a obra

está esgotada. Cada peça. Tudo vendido.”

Jonah passa a mão pelo cabelo, olhando para o seu

trabalho, com o rosto feliz, atordoado, e um pouco cansado.

“Parabéns”, digo, abraçando-o com força. “Mas precisava

encontrar uma palavra melhor. Uma palavra maior.”

“Mesmo sem palavras”, Oscar diz, apontando o polegar

para Dena. “Nem mesmo uma citação Rūmī.”

A mão cobre metade de um sorriso, Dena sacode a cabeça.

“Estou sem palavras.”

Oscar fica boquiaberto. “Vocês ouviram isso, senhoras e

senhores? Jonah se reúne com velhos amigos, que ficaram

durante toda a exposição, conheceu seu ídolo, e — maravilha de

todas as maravilhas — Dena Bukhari está sem palavras.”

Dena o empurra. “Infelizmente para você é apenas uma

falha momentânea.” Ela levanta a taça de vinho. “Rūmī diz: Deixe

a beleza do que você ama ser o que você faz. Eu brindo ao nosso

querido amigo, Jonah, cuja exposição é a incorporação dessas

palavras. Você criou tanta beleza, meu amigo, que o mundo não

pode deixar de ser grato a você por isso.”

Na limusine a caminho para casa, sento descansando

minha cabeça no ombro de Jonah. “Dena está certa, sabe.” Digo.

“O mundo da arte vai perder a cabeça com sua obra. E você

merece cada pedacinho do que está acontecendo.”

Ele acena com a cabeça contra a minha cabeça. “Um

legado”, ele diz. “Isso é tudo o que eu queria.” Seus dedos pegam

meu queixo para cima e ele me olha, as sobrancelhas franzidas

na penumbra. “Eu nunca pensei em pedir mais.”

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Uma pontada de mal-estar infecta minha felicidade, como

uma gota de tinta preta em uma bacia. “Você está bem? Você

parece um pouco...”

“Cansado”, Jonah diz. “Esta noite foi... surreal. Mais do que

eu tinha imaginado. Eu me sinto um pouco desgastado.”

“Vamos para o seu apartamento”, digo, minha mão sobre

sua coxa. “Celebrar.”

Ele sorri e pega a minha mão na sua. “Tem algo específico

em mente?”

“Eu posso pensar em algumas coisas.”

Mas de volta em casa, depois de ter trocado seu terno e

saído do banheiro em suas calças de pijamas, é uma questão

diferente.

“Eu sei que vou me arrepender disso mais tarde”, ele diz,

com o olhar à direita em cima de mim enquanto estou deitada na

cama, com uma calcinha vermelha de renda. “Mas estou pronto

para dormir. Pode me dar algumas horas para recarregar?”

Vou em sua direção e o beijo para dar boa noite. Eu me

enrolo ao lado dele e fecho os olhos, esperando acordar na parte

mais profunda da noite com beijos ao longo do pescoço — a sua

habitual forma de ataque. Em vez disso, meus olhos se abrem em

plena luz do dia. O relógio na mesa de cabeceira diz que são seis

horas e Jonah ainda está dormindo, seu hálito quente flutuando

sobre mim.

Não é grande coisa, penso. Ele esteve trabalhando sem

parar durante meses. Nenhuma surpresa, a ficha caiu. Ele precisa

— e merece — um longo descanso.

Eu cochilo até o alarme despertar uma hora mais tarde,

indicando que é hora de tomar os remédios. Ele vai até a cozinha

e eu mergulho entre estar acordada e dormindo, agradavelmente

antecipando seu retorno, certa de que faríamos amor agora. Mas

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ao invés disso ele volta para a cama, passa os braços em volta de

mim, e volta a dormir.

Agora estou bem acordada, ouvindo-o respirar. Inspirando

e expirando, um metrônomo sussurrando, mantendo o tempo, a

contagem regressiva em minutos.

Quando ele finalmente se agita e acorda já são durante a

oito e quarenta e cinco, ele franze a testa para o relógio como se

não pudesse acreditar no que vê. Vejo uma lasca de medo em

seus olhos, e sinto o seu medo deslizar em meu coração.

“Venha aqui”, sussurro. Beijo-o com força, e ele responde

imediatamente, fico agradecida. Nós caímos um no outro, nos

agarramos e balançamos até a cabeceira bater na parede.

Depois digo a mim mesma que foi a intensidade do nosso

amor que fez Jonah cair no sono novamente.

Nada mais.

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CAPÍTULO 38

kacey

Dois dias após a exposição. Duas manhãs depois de Jonah

dormir até tarde, acordar apenas para tomar seus remédios, em

seguida, voltar para a cama. Dois dias dele andando por aí,

mexendo no Facebook em seu telefone, mal dizendo uma palavra

para mim, ou assistindo o ruído sem sentido na TV. Dois dias de

crescente tensão entre nós, que não tinha nenhuma fonte, mas

que me assustou até os ossos.

No terceiro dia, Jonah e eu tomamos café no Baby Stacks,

uma casa de panquecas perto da Strip. Lá, tem sido meu hábito

sempre encomendar os mesmos tipos de alimentos que Jonah

come, parcialmente por solidariedade, mas também porque, em

última análise, me sinto mais saudável. Tudo o que fiz desde que

me mudei para Las Vegas foi melhorar a minha saúde, mental e

física.

A garçonete vem anotar nosso pedido.

“Eu vou querer uma omelete de clara de ovo...”, começo.

“Jesus, Kace, você pode comer panquecas, se quiser”,

Jonah diz. “Peça o que quiser.” O sorriso dele vem um pouco

tarde demais. “Aqui tem panquecas maravilhosas.”

Olho quando ele se vira para a garçonete. “Eu vou querer

uma panqueca, um descafeinado, e batatas fritas da casa.”

“Batatas fritas são muito gordurosas”, digo.

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Ele entrega o seu menu para a garçonete, não olhando para

mim. “Uma porção não faz mal.”

Peço uma omelete de clara de ovo com frutas e café. A

garçonete pegas nossos menus e sai. Os olhos de Jonah estão

sobre a mesa, sobrancelhas franzidas enquanto rola a colher

entre as mãos, como um mini maçarico.

“Ei”, digo suavemente.

São necessárias três tentativas chamando seu nome antes

que ele olhe para cima.

“Desculpe, Kace, o que foi?”

“Diga você. Tem andado estranho ultimamente.”

“Eu tenho?”

“Sim, você tem. Eu me sinto atordoada tentando entender.”

Ele se contrai um pouco e estende a mão sobre a mesa

para pegar a minha. “Sinto muito. Estou um pouco distraído

ultimamente. Não estou acostumado a passar tanto tempo sem

ter o que fazer. Eu não sei o que fazer comigo mesmo. Acho que

isso está me deixando um pouco irritado.”

Sim, ok. Isso faz sentido.

Aperto sua mão. “Por que não vai para a Hot shop de

qualquer maneira? Faça algo apenas para você?”

Ele dá de ombros e murmura algo que parece como,

“Talvez”, e leva a mão para trás.

Silêncio.

“Tania me disse que três galerias diferentes querem a sua

obra”, eu finalmente digo. “Londres, Paris e Nova York. Esse é o

tripé do mundo da arte, não é?”

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“Por quê? Vegas não é bom o suficiente?” Ele acena com a

mão. “É vidro. Como é que pensam que podem carregar isso

através do oceano está além de mim, mas podem tentar.”

Endireito-me na minha cadeira, sentindo como se estivesse

tomando café da manhã com um estranho. Ou pior, com meu pai.

Mais dez minutos de silêncio passam antes da nossa

comida chegar. Olho para a minha omelete, meu apetite

desaparece. Jonah olha para o seu prato de comida e, finalmente,

parte uma fatia de batata. Observo por baixo dos meus cílios

enquanto mastigo devagar, como se fosse um pedaço de barro

cinza. Ele engole em seco e toma um gole de água. Em seguida,

ele empurra o seu prato.

“Acho que não estou tão com fome.”

Depois do que eu sempre chamarei do pior café da manhã,

vamos para o Vegas Ink. Quero uma nova tatuagem e tirei um

tempo para visitar o estúdio de Theo e ver seu trabalho.

Jonah diz quase nada no decorrer da viagem até lá. Mas só

quando o silêncio está começando a ser opressivo, de repente ele

encontra um sorriso, pega minha mão e a beija.

Vegas Ink está localizada em um minisshopping bem perto

da Strip. Suas paredes são vermelho fogo e coberta de exemplos

emolduradas dos trabalhos dos artistas de tatuagem de lá. As

cadeiras são estofadas de couro falso, também em vermelho, e

três artistas estão inclinados sobre os seus clientes, Theo entre

eles. O zumbido das agulhas quase é abafado pelo jateamento de

metais pesados no sistema de som. A recepcionista com a cabeça

raspada nos diz que vai avisar Theo que estamos aqui. Tomamos

um banco na área de espera, o que é realmente nada mais do que

um banco estofado perto da porta da frente, de frente para uma

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parede de fotografias. Clientes passam, revelando tatuagens

frescas, a pele ainda vermelha.

Jonah afunda pesadamente no banco e pega uma edição da

revista Inked.

“Tem alguma ideia do que você está querendo?” Ele

pergunta. É a primeira vez que ele fala voluntariamente durante

toda a manhã.

“Nada”, digo. “Mas estou ansiosa para ver o trabalho do seu

irmão.”

“Ele é talentoso como o inferno”, Jonah diz. “Meu pai fala

muita merda para ele. Você vai ver quando verificar o seu

portfólio.”

Balanço a cabeça e espero até que Theo aparece de canto,

chamando, “Oi, pessoal.”

O simples fato dele parecer otimista e animado me enche

de alívio e tudo, mas me levanto. “Ei. Obrigada por arranjar um

tempo para mim.”

Theo empurra o queixo em direção ao Jonah. “Você vem?”

“Vocês podem ir em frente”, Jonah diz. “Preciso ligar para

Eme. Ver o que está acontecendo com as peças que foram

vendidas.”

“Você não vai me ajudar a escolher alguma coisa?”

Pergunto, incrédula. Forço meu sorriso. “Ou onde no meu corpo

devo fazer?”

Atrás de mim, Theo tosse.

“Surpreenda-me”, Jonah diz. Ele pega seu telefone celular,

a conversa acabou.

Meu rosto queima, sigo Theo para a sua cadeira, passando

pelos outros artistas. Um deles é um cara enorme, corpulento,

com uma cabeça careca tatuada, que está colocando um spray

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feminino de flores violetas no braço de uma mulher. O outro

artista é uma jovem em roupas pretas e maquiagem pesada. Ela

tem grandes olhos verdes claros, quase de desenho animado em

seu rosto pequeno. Parece uma fada gótica. Ela me dá um aceno

enquanto pinta um sangue escorrendo de uma presa de uma

cobra sibilante na parte de trás da panturrilha da jovem.

Eu me sento na cadeira de Theo e pego um lenço de papel

da caixa que ela usa para limpar o sangue. Enxugo os olhos, mas

não tenho lágrimas. Minhas emoções estão muito confusas para o

meu corpo saber o que fazer, então eu me sento, ansiosa e

nervosa. Na minha frente, Theo se encosta ao pequeno armário

espelhado onde está sua pistola, agulhas e tinta.

“Vocês tiveram uma briga?” Ele pergunta em voz baixa.

“Não”, digo. “Ou sim. Quer dizer, talvez eu tenha feito algo

para irritá-lo, mas não sei. Ele está agindo de modo estranho

ultimamente. Desde a inauguração da exposição.”

A expressão petrificada de Theo endurece, mas seus olhos

vão em outra direção, enchendo-se de preocupação e algo que

parece com medo. Percebo que estou assustando Theo sem uma

boa razão, e aceno com a mão rapidamente.

“Você sabe o quê? Esta manhã ele disse que se sente

distraído. Sem ter que estar na Hot shop durante todo o dia, ele

não tem certeza do que fazer com o tempo livre. Acho que está

apenas descomprimindo.”

Theo balança a cabeça lentamente. “Faz sentido.”

“Posso ver o seu trabalho agora?”

Theo me entrega um fichário espesso de três anéis, cheio de

fotos e amostras de sua arte. Jonah estava certo: o talento de

Theo é incrível. Já vi a minha dose de tatuagens. Cada uma das

minhas tatuagens veio de alguém diferente, cada uma é linda e

perfeita para mim.

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E m m a S c o t t

Theo abrange a todos. Seu livro tem tudo: representações

básicas contorno preto, letras em qualquer fonte ou script que

você possa querer. Tatuagens de motoqueiro — rosas, crânios e

cobras. Retratos realistas, formas abstratas e complexas, góticos,

animais fantásticos, ícones da cultura pop. Página após página

cheia de arte. Se eu estivesse em um melhor estado de espírito,

poderia passar horas debruçada sobre o seu trabalho, certa de

que poderia filtrar uma ideia ou um conceito.

“Você é incrível, Teddy”, digo. “Este é o melhor portfólio que

já vi. Quero algo que ninguém mais tem, mas você torna difícil eu

ser mais específica.”

Quero Jonah sorrindo novamente.

Fecho a pasta e a entrego de volta para ele. “Deixe-me

pensar sobre isso, ok? Vou ligar ou mandar mensagem assim que

tiver uma ideia.”

“Claro”, ele diz, jogando o fichário na gaveta superior do

armário e fechando.

“Desculpe se desperdicei o seu tempo”, digo, levantando da

cadeira.

“Você não fez, Kacey”, ele diz. É a primeira vez que diz o

meu nome.

Nós voltamos para a sala de espera. Jonah está sentado à

vontade, passando o polegar distraidamente sobre o seu telefone.

Ele olha para cima quando nos aproximamos.

“Encontrou algo?” Ele pergunta.

Me abaixo ao lado dele e beijo sua bochecha. “Ainda não.

Seu irmão é tão incrivelmente talentoso, tenho que vir com algo

digno dele.”

Theo sacode a cabeça, braços grossos cruzados sobre a

camisa preta.

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E m m a S c o t t

“O que você quiser, ele consegue”, Jonah diz, finalmente,

colocando o telefone para longe.

Os irmãos trocam olhares, fico examinando o olhar de

Theo. “Esta noite é dia de sair com Dena e Oscar”, ele diz. “Você

ainda vem?”

Jonah sorri amargamente, uma expressão tão diferente

dele, tenho que piscar duas vezes. “Não há necessidade de manter

qualquer rotina agora”, ele diz. “Qual é o ponto? Eu te mando

uma mensagem e te aviso.”

Os braços de Theo caem para os lados. “Oscar e Dena estão

esperando sair...”

“Eu não disse que não, eu disse que vou te avisar.”

Os irmãos se enfrentam e, em seguida, Jonah dá a si

mesmo um aceno e um riso estranho. Ele se levanta e sai pela

porta sem nem dar um olhar para mim.

Sorrio fracamente para Theo. “Eu falo com você em breve.”

Ele agarra meu braço com força, então afrouxa o aperto,

mas não solta. “Se precisar de mim... Se ele precisar de mim,

ligue imediatamente. Ok?”

Penso em protestar e, em vez disso me encontro acenando.

“Ok”, digo em voz baixa.

Deixo Vegas Ink e subo na caminhonete de Jonah, que já

deu ré no espaço de estacionamento.

Ele não olha para mim quando fecho a porta e, finalmente,

não aguento mais.

“Que diabos está acontecendo?” Exijo. “Você acabou de sair

e me deixar lá?”

“Estava quente pra caralho”, Jonah diz. “Vim ligar o ar

condicionado.”

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E m m a S c o t t

“É outubro”, rebato. “Talvez uns 23 graus.”

“Então está aqui há três meses e de repente virou uma

especialista?”

Meus olhos se arregalam. Ele nunca falou assim comigo.

Nem uma única vez. “O que aconteceu com você?” Pergunto.

“Você está diferente desde a exposição na galeria. Aconteceu

alguma coisa? Dale Chihuly disse alguma coisa que o

incomodou?”

Jonah balança a cabeça. “Não”, ele diz, sua voz suavizando.

“Não, nada disso. Ele disse coisas surpreendentes sobre o meu

trabalho... Eu nem me lembro as palavras, mas ainda posso

senti-las, se isso faz sentido.”

“Então o que está te incomodando? Você pode me dizer.”

Jonah encontra meus olhos pela primeira vez no que

parece ser dias, e por uma fração de segundo, são quentes do

marrom rico do homem que eu conhecia. Em seguida, um muro

se ergue e ele dá um aperto na minha mão.

“Nada está me incomodando. Só não tenho nada para fazer.

Não há mais trabalho. Estou no humor para ficar em casa hoje e

assistir a um filme. Tem algum filme clássico dos anos oitenta

para assistir?”

Balanço a cabeça lentamente. “Aluguei um DVD de

Airplane!”

“Certamente você não pode estar falando sério?”

“Estou falando sério”, respondo sem entusiasmo. “E não me

chame de Shirley.”

É uma versão dolorosa e desajeitada do nosso humor

habitual. A imitação pobre da nossa brincadeira típica.

Talvez ele só precise de uma boa risada, penso.

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E m m a S c o t t

De volta ao meu apartamento, vamos até as escadas de

concreto no exterior, que levam ao segundo andar. Minhas chaves

da casa migraram para o fundo da minha bolsa. Só quando as

localizo percebo que Jonah não está mais atrás de mim.

Eu me viro. A pequena área de frente está vazia. “Jonah?”

Volto para trás da mesma maneira que vim, quase na ponta

dos pés.

Ele está sentado no meio da escada, de costas para mim. A

forma como seus ombros sobem e descem rapidamente trazem

um terror ao meu íntimo, como um vapor venenoso.

Ele não consegue respirar.

Desço as escadas com as pernas pesadas como chumbo,

agarrando o corrimão de metal enferrujado. Sento ao lado dele,

tentando manter a calma e não alimentar o pânico.

“Ei.”

Seus cotovelos estão apoiados sobre os joelhos, as mãos

balançando, assim como sua cabeça enquanto ele tenta aspirar o

ar. “Eu tentei subir muito rápido”, ele diz entre as respirações. E

joga a cabeça para trás, parecendo como um corredor que acabou

de fazer um sprint de quarenta e cinco metros.

“Tudo bem”, digo. “Estou aqui.”

Minha mente corre através das memórias de todas as

outras vezes que Jonah subiu aquelas escadas, ou levantou um

maçarico pesado, ou fez amor comigo vigorosamente. Em todos as

ocasiões ele ficou sem fôlego, por causa do dano que a doença

está fazendo em seu coração. Mas nunca foi assim. Ele sempre se

recuperava rapidamente.

Sempre.

“Eu menti”, Jonah diz, como se estivesse lendo meus

pensamentos. Ele recupera o fôlego lentamente, uma inspiração

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de cada vez. “Eu não estava subindo rápido demais. Eu estava

subindo.”

Ele olha para mim, a respiração, o suor escorrendo pela

testa, e seus olhos... Oh Deus, o medo que vejo neles. Um

pressentimento que me aterroriza no núcleo da minha alma. Ele

desvia o olhar e sem outra palavra, se ergue para levantar e

começar a subir novamente. Um pé em um degrau. Em seguida, o

outro. Quero tocá-lo, ajudá-lo, mas não posso. Eu não posso

admitir para mim mesma que ele precisa de ajuda.

Uma vez no meu apartamento, Jonah vai para a cozinha e

se serve um pouco de água. Então cai contra o balcão, inspirando

profundamente e até mesmo respirando.

“É a primeira vez que isso acontece?” Pergunto, minha

própria respiração descendo mais profundo do que a minha

garganta.

“Não”, ele diz. “De vez em quando. Desde a exposição.”

“Isso foi há nove dias”, digo. “Você fez...?”

Minhas palavras são sufocadas em um grito, quando Jonah

varre o recipiente de comprimidos do dia para fora do balcão. Os

comprimidos e cápsulas caem espalhadas em cores de azul,

branco e laranja, rolando e fazendo barulho sobre o meu chão de

linóleo barato.

Eu congelo na sala de estar, incapaz de falar.

“Eu pensei...” Jonah arranca suas palavras, engolidas,

depois cospe as próximas rapidamente. “Eu pensei que seria

suficiente. Mas é apenas uma porra de vidro. É areia aquecida,

porra. Quem se importa?”

“O que você está falando?” Digo, encontrando a minha voz.

“Seu trabalho? É lindo...”

“É besteira. E não significa nada. Não é importante.”

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“Claro que é.”

Ele dá um risinho de descrença. “Não, Kace. Não. Você é

importante. Você é a coisa mais importante na minha vida e sou

tão estúpido por pensar... a esperança...”

Suas palavras se apagam, e ele sacode a cabeça, lábios

apertados, olhos brilhando.

“Não fale assim”, consigo dizer depois de um curto silêncio.

“Você se cansou, e daí? Você teve uma semana desgastante,

depois de um grande evento. Eu me senti da mesma forma depois

do meu primeiro grande show.”

Vou para a cozinha e me agacho, recolhendo as pílulas.

Elas estão por toda parte, as lágrimas nos meus olhos borram as

pequenas manchas azuis, brancas ou laranja. Eu alcanço o

recipiente que deslizou sob a geladeira e coloco nele os remédios.

Todas as pílulas erradas em todos os dias errados, mas posso

corrigir isso depois. Posso consertar tudo. Eu sei qual é sua dieta.

Eu sei o que deve ir para onde. Eu posso corrigir isso.

“Você não pode simplesmente jogar isso fora”, digo,

fungando e limpando os olhos. “Você precisa dos remédios. Eles

são importantes.”

Jonah se vira para encostar a palma de suas mãos no

balcão atrás dele, com a cabeça pendendo, suas palavras caindo

no chão. “Eles não estão funcionando.”

“Sim, estão.”

“Kacey...”

“Você não desiste”, grito, fazendo-o recuar. Fazendo-me

recuar na histeria que está à espreita logo abaixo da superfície.

Olho para baixo — cheia de hostilidade. “Você está cansado, isso

é tudo. Vá tirar um cochilo. Empilhe os travesseiros na minha

cama e tire um cochilo. Vou limpar isso e pedir o jantar. Vamos

ver esse filme e dar grandes gargalhadas, ok?”

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E m m a S c o t t

Ele não me tranquiliza ou me diz que estou certa. Apenas

se desencosta do balcão e vamos para o meu quarto. Empilhamos

os travesseiros e ele deita sem protestar, afundando pesadamente

sobre a cama.

Porque ele está cansado e precisa de uma soneca, penso,

fechando a cortina. Isso é tudo.

Jonah joga o braço sobre os olhos, sem dizer nada. Estou

na porta quando ele chama meu nome.

“Sim?” Agarro-me no batente da porta.

“Sinto muito”, ele diz debaixo do braço. Agora ele parece

genuinamente arrasado. Exausto até o osso. “Lamento muito,

porra.”

“Não há nada para se desculpar. Apenas descanse. Você vai

se sentir melhor depois de um cochilo.”

Volto para a cozinha. Ainda há pílulas espalhadas por toda

parte. Eu as persigo, pego e amontoo dentro do recipiente, como

posso. As tampas não fecham. Pílulas caem das minhas mãos

trêmulas, rolando novamente. Fugindo de mim. Tudo está ficando

longe de mim. Deslizo até o chão na frente da geladeira e me

curvo em uma bola, chorando com as mãos tapando minha boca.

Choro fortemente, grandes soluços arfando estrangulados,

e sufocados. Choro até meu rosto doer. Sei que está vermelho e

feio, meus olhos inchados. Tenho que sair antes que Jonah

acorde e me veja assim.

Pego os últimos comprimidos soltos e fico trêmula ao

levantar de pé. Coloco o recipiente com cuidado sobre o balcão,

em seguida, lavo o rosto na pia com água fria. Seco com um pano

de prato, rastejo de volta para o meu quarto.

Jonah dorme agora, seus olhos já não estão cobertos pelo

braço. Suas pálpebras fechadas estão lisas, sua respiração

profunda e regular. Apenas um pequeno sulco em sua testa,

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E m m a S c o t t

como se o que o estivesse perturbando estivesse junto com ele no

sono.

Volto para a sala e procuro o celular da minha bolsa. Peço

uma pizza. Vegetariana. Que é melhor para ele. Ou talvez

saladas. Muito queijo em uma pizza...

Abro minha tela de agenda e clico em um nome. A voz

profunda e rouca atende.

“Teddy”, sussurro, lágrimas inundando meus olhos

novamente. “Está começando.”

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E m m a S c o t t

PARTE III

Um homem que vive plenamente está preparado para morrer a

qualquer momento.

— Mark Twain

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 39

kacey

No dia seguinte, Jonah vai para o Sunrise Medical para

uma biópsia do miocárdio. Alguém me diz — não consigo me

lembrar quem — que é um procedimento de laboratório de

mesmo dia, mas o seu médico, Dr. Morrison, quer que Jonah

permaneça durante a noite para mais exames. Exames de rim,

fígado e um eletrocardiograma.

“Namorada dele?” Dr. Morrison pergunta no corredor do

lado de fora da sala de Jonah. Theo fica ao meu lado.

“Sim”, digo, abraçando meus braços. “Kacey Dawson.”

“É bom conhecê-la, Kacey”, Morrison diz. Ele é um homem

adorável, com uma barba grisalha e olhos amáveis e atentos.

Gosto dele de cara, mas ao mesmo tempo em que trocamos

gentilezas eu grito com ele na minha mente...

CONSERTE ISSO.

FAÇA-O MELHORAR.

TRAGA-O DE VOLTA.

Dr. Morrison explica o que será necessário para Jonah

enquanto se recupera de uma biópsia. “Seria ideal se alguém

ficasse com ele nas vinte e quatro horas após o procedimento.

Presumindo que seja liberado amanhã de manhã como

planejado.”

“Por que ele não seria liberado?” Pergunto.

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E m m a S c o t t

“Não há razão neste momento. Vamos deixar os resultados

dos exames voltarem e veremos, tudo bem?”

Nós somos autorizados a ir ao quarto de Jonah então.

Deitado e reclinado na cama, um fluido intravenoso claro paira

sobre ele e está ligado na parte de trás da sua mão direita, a

agulha cravada logo acima de seu bracelete de alerta médico. Ele

nos lança um olhar de saudação. Ele tem estado mal-humorado e

silencioso durante toda a manhã. Inacessível. Quando Theo e eu

tomamos um assento em cada lado da cama, ele olha para

nenhum de nós, mas encara distraidamente a TV na parede que

está silenciada.

“Mamãe e papai estão a caminho”, Theo diz.

“Eles não precisam vir.”

“Você está no hospital”, seu irmão responde, mal mantendo

a ponta afiada de sua voz. “Você acha que a mamãe vai ficar

longe?”

Jonah dá de ombros e não diz nada.

“Oscar me mandou uma mensagem”, Theo continua. “Ele

está no trabalho e quer vir. Ele e Dena. Eu disse que não é uma

emergência.”

“Bom.”

Coloco minha mão sobre a de Jonah, consciente do

intravenoso. Ele não reage, não se mexe para pegar minha mão

ou olhar para mim. Eu engulo a dor rugindo dentro de mim, não

sou forte o suficiente para isso. Eu não sou, não sou, não sou...

Os olhos de Theo encontram os meus, penetrantes. Assim

como Lola, está pronto, apenas esperando que eu dê um grande

show, só que as apostas são um bilhão de vezes mais altas.

Você sabia que isso ia acontecer, digo a mim mesma. Você

sabia que não ia ser só longas caminhadas na praia em San Diego

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E m m a S c o t t

e fazer amor a noite toda, todas as noites. É isso. Isso é real, e

agora você vai ficar e aguentar.

Só que não acredito que nós realmente estamos aqui. Eu

sempre tive uma pequena chama de esperança e agora ela está se

apagando.

Um enfermeiro ou técnico traz um carrinho de rodas, e

Theo se levanta para dar espaço. Quando o Dr. Morrison e o

técnico se movimentam em torno das máquinas, o coração e o

pulso monitorado de Jonah apitam mais rápido, traindo a

expressão estoica no seu rosto.

“Ei”, sussurro.

Ele balança a cabeça, os olhos para a frente.

“Você quer segurar minha mão?”

“Eu vou esmagá-la.” Ele vira a cabeça no travesseiro e olha

para mim pela primeira vez durante toda a manhã. Dentro das

linhas frias planas de seu rosto, seus olhos estão cheios de terror.

Porque isso está acontecendo. Nós, nesse lugar terrível, e é pior,

muito pior, do que eu jamais poderia ter imaginado.

Eu não posso, não posso, não posso...

Solto a mão dele. “Talvez Theo, então...”

O queixo de Jonah se levanta, em seguida, desce.

Passo o meu lugar para Theo. Ele pega a mão de Jonah na

sua e vejo que trocam um olhar. Compaixão. Theo sabe o que

fazer, e Jonah confia nele.

O técnico dá a Jonah uma injeção de anestésico no

pescoço, logo acima de sua clavícula, enquanto o Dr. Morrison

prepara um instrumento de aparência horrenda.

“Tudo bem, Jonah”, Morrison diz, “você vai sentir uma leve

picada e depois uma pressão.”

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“Mentiroso”, Jonah diz, seu corpo inteiro está tenso e os

nós dos dedos estão brancos na mão que Theo segura.

“Culpado”, Morrison diz, seus olhos passando rapidamente

entre as mãos e o monitor que mostra a pequena câmera agora

enfiada dentro da jugular de Jonah. E posso ver tudo. Posso ver

dentro do corpo de Jonah, avistando um caminho estreito e

escuro para dentro do coração que está falhando.

“Quase lá”, Morrison diz. “Você está indo bem. Tente ficar

relaxado.”

“Respire”, Theo murmura. “Não prenda a respiração.”

Jonah deixa o ar sair pelo nariz, mantendo os dentes

cerrados. O monitor do coração continua a apitar a noventa e oito

pulsos por minuto.

“Aqui estamos”, o médico diz, e Jonah fecha os olhos.

Através do cateter, Morrison insere um biótomo — um

dispositivo com pequenas garras na ponta. Ele belisca um pedaço

do tecido do coração de Jonah, em seguida, recua de volta pela

veia.

Jonah faz um som profundo em seu peito, e tenho que

colocar minha mão sobre a boca para não fazer o mesmo.

“Eeeeee acabamos.” Dr. Morrison se direciona para a mesa

com a bandeja. O técnico guarda e rotula o pequeno pedaço de

tecido cardíaco para levar para o laboratório, enquanto uma

enfermeira se ocupa com o local da incisão. Morrison arranca as

luvas de látex azul e as joga em um recipiente de resíduos

hospitalar.

“Você foi muito bem”, ele diz, batendo na perna de Jonah.

“Ah, e aqui estão os seus pais.” Ele sorri calorosamente para

Henry e Beverly na porta. “Acabamos de terminar. Devemos ter os

resultados a qualquer hora amanhã de manhã.”

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“Maravilha”, Beverly diz através de um sorriso nervoso e

tenso. Ela acena para mim em saudação, em seguida, passa para

o lado de Jonah. “Como você está, querido? Você está tão bem.”

“Estou cansado”, Jonah diz, olhando para o nada. “Eu

gostaria de descansar um pouco agora.”

“Oh.” Beverly engole. “Mas nós chegamos aqui...”

Henry diz “Ele precisa descansar.” E pega sua esposa pelos

ombros. “Vamos, Beverly. Todos. Vamos deixá-lo dormir.

Podemos visitar em algumas horas...”

“Não”, Jonah diz. “De manhã. Voltem pela manhã.”

“De manhã?” A mão de Beverly se arrasta até o decote de

seu casaco.

“Enquanto aguardamos os resultados de vários exames,

vamos manter Jonah pelo restante do dia”, Morrison diz.

“Puramente como precaução.”

Ninguém se mexe. Olhares são trocados aqui e ali até que o

médico limpa a garganta e faz um gesto firme em direção à porta.

Todos nós saímos, e espero Jonah olhar para mim ou me chamar.

Ele não faz nada.

No corredor, os Fletchers perguntam. Theo responde. Dr.

Morrison explica. Fico em silêncio dormente, ouvindo o barulho

de sapatos com sola de borracha em linóleo quando os

enfermeiros passam. Máquinas apitam alarmes e uma voz ecoa

por um intercomunicador médico.

“Kacey?”

Eu pulo. Eles estão todos olhando para mim. O sorriso de

Beverly uma careta congelada enquanto seus olhos começam a

entrar em pânico. “Você vai ficar com Jonah depois que ele tiver

alta amanhã?”

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“Claro”, digo, consciente dos olhos de Theo em mim. “Na

verdade, eu deveria ir para casa e arrumar algumas coisas para

ficar mais...”

Os olhos cor de uísque de Theo encontram os meus. Em

seu olhar suplicante, posso ouvir um eco de uma conversa

anterior.

Você vai dar o fora...

Balanço a cabeça para ele, como se tivesse falado em voz

alta. “Estou indo arrumar uma bolsa”, digo. “Então voltarei. Eu...

Eu...”

Então Beverly coloca a mão no meu braço. “Sabe, Kacey, eu

adoraria um pouco de café. Você quer se juntar a mim?”

Eu respiro fundo e concordo. “Sim claro. Claro.”

Sua mão ainda está dobrada em meu cotovelo, nós saímos

para a primeira cafeteria mais próxima. Um espaço que

normalmente é associado com a escola, cheio de risos, gritos e

altas conversas cruzadas. A cafeteria do hospital é pouco povoada

e tranquila, como uma biblioteca. Apenas algumas pessoas

ocupam as mesas, comendo em silêncio. Um ou dois pacientes

em cadeiras de rodas se sentam com enfermeiros ou membros da

família.

Beverly pega uma pequena mesa perto da janela, enquanto

eu compro dois copos de café. Sentamos sem beber por um longo

tempo em silêncio, observando pequenos pássaros pretos em

torno do pátio exterior.

“É difícil para você estar aqui, não é?” Beverly diz depois de

um momento. “É difícil para todos nós, mas ao contrário de você,

a gente conhece Jonah a nossa vida toda. Antes do vírus. Antes

do transplante. Mas você o conheceu há apenas alguns meses.

Quando ele já estava doente.”

Balanço a cabeça.

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“E aqui está você”, ela diz. “Ele estava doente quando o

conheceu, mas aqui está você. Isso é uma coisa extraordinária,

penso, começar tão perto do fim.”

“Eu... estou com medo.” Coloco a minha xícara de café na

mesa antes de minhas mãos trêmulas derramarem-no. “Eu não

acho que sou forte o suficiente.”

“Posso te contar uma história, querida?” Seu tom diz, eu

vou lhe contar uma história e você vai me ouvir. Mas aprecio.

Preciso de distração. Preciso das palavras de outra pessoa para

empurrar para fora o medo e o pânico que ricocheteiam em torno

de meus pensamentos como um raio.

“Quando Jonah nasceu, eu mudei. Profundamente. Para

sempre. Acho que é assim com cada nova mãe. Você gasta nove

meses carregando esse pequeno ser dentro de você, isso é pouco

estranho, até que finalmente nascem, e você vê seu rosto...”

Ela olha fixamente para além da janela, além dos

passarinhos, a um momento de vinte e seis anos atrás. “Quando

vi o rosto de Jonah pela primeira vez, foi como ver alguém

novamente depois de uma longa ausência. Não é um encontro,

mas uma reunião.”

Ela estende a mão e brevemente acaricia a minha. “Eu amo

os meus filhos também, é claro. Mas eles são tão diferentes. Theo

e eu passamos nossas vidas inteiras conhecendo um ao outro e

nem sempre tem sido fácil. Mas com Jonah, é fácil.”

As sobrancelhas de Beverly arqueiam, como se ela estivesse

tentando lembrar alguma coisa agora esquecida. “Eu conheci o

Jonah antes. Eu sei que sim. Pode chamar de reencarnação ou o

que quer que você goste. Não sou religiosa ou mesmo

particularmente espiritual. Mas não posso deixar de sentir que o

universo é um lugar vasto, e a alma de um ser humano é infinita,

mesmo se o corpo for temporário.” Ela assente com a cabeça para

si mesma, certa agora. “Conheci Jonah antes, e sei que vou vê-lo

novamente. E isso me dá conforto. Não muito, mas um pouco.”

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Ela se vira para mim. “E você, Kacey. Você me dá conforto.

Bastante conforto nos dias de hoje, mais do que qualquer outra

coisa.”

Engulo o caroço irregular na minha garganta, mas não

posso me mover de jeito nenhum. As palavras de Beverly

embrulham em torno de mim e apertam até que tudo que posso

ouvir é a voz do meu próprio coração batendo no meu peito.

“Tenho certeza que você sabe que Jonah tinha uma

namorada séria na faculdade”, ela diz.

“Audrey.”

“Sim. A menina legal, mas séria. Orientada. Ela era...

precisa sobre como ela queria que sua vida fosse.” A boca de

Beverly se torna uma linha fina, e sua voz endurece. “Eu fiquei

zangada com ela por deixar Jonah quando ele mais precisava

dela. Furiosa. Mas você quer saber algo estranho? O dia depois

que ela voou para fora do país, no dia seguinte, recebemos uma

ligação dizendo que haviam localizador um doador. Não é alguma

coisa?”

Eu não digo nada. Nenhuma resposta é necessária, de

qualquer maneira.

“Jonah estava em cirurgia, e ela foi embora. Eu tentei

pensar em maneiras de contar a notícia e consolá-lo. Eu pensei

que certamente ele ficaria arrasado. Traído. No entanto, quando

pensava em seu tempo juntos, não podia me lembrar de qualquer

coisa que pudesse ser considerado uma grande perda. Nada de

importante em três anos. Seus olhos não brilhavam quando ele

olhava para ela em nossa mesa de jantar. Sua voz não se alterava

quando ele dizia o nome dela. Ele nunca falou dela com...

reverência. Apenas fatos. Audrey e eu estamos pensando em voar

para Cabo. Audrey e eu estamos participando da exposição na

galeria. Audrey e eu vamos jantar com amigos... Era uma

reportagem de acontecimentos.” Ela olha para mim, seu sorriso

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E m m a S c o t t

envolvido com uma tímida culpa. “Isso é mesquinho e cruel, mas

é verdade.”

“Eu entendo.”

“Seu coração não está bem agora, mas ele é muito saudável

de outras maneiras. Maneiras que eu sempre esperava ver

quando ele estava com Audrey, mas nunca foram observadas.”

Sinto um aperto no peito, uma antecipação de algo que

preciso ouvir, algo que irá me salvar da minha coragem vacilante.

“Jonah sempre insistindo em não falar sobre listas de

projetos”, Beverly diz. “‘Não faça lista de desejos para mim, mãe’.

Mas as mães... todas nós temos nossa própria lista para os

nossos filhos — esperança que temos para eles. Sonhos e

aspirações. Minha lista é completa, e todas as coisas que Jonah

nunca poderá fazer ou experimentar pesam sobre mim. São bem

pesadas. Um casamento, filhos...”

Ela olha para mim, com os lábios trêmulos, seus olhos

brilhando. “Apaixonar-se e ser amado em troca. Esse é o mais

pesado. Mas você está aqui agora. E a maneira como ele fala de

você...” Seus olhos se enchem e transbordam. “Seus olhos se

iluminam e ele muda sua voz quando diz seu nome. Seu sorriso

quando você entra em uma sala é uma das coisas mais bonitas

que já vi.”

Um calor formigante começa a se espalhar através de mim,

aquecendo-me contra o frio gelado de medo e dor. Beverly estende

a mão e afasta uma lágrima do meu rosto e segura meu queixo.

“E sabe ainda o que é mais bonito que isso, Kacey? Os seus

olhos se iluminam quando o meu filho está próximo. Sua voz

muda quando você diz o nome dele. E o sorriso que você estampa

quando está olhando para ele e acha que ninguém está vendo...

Esses são os presentes que eu nunca vou ser capaz de lhe

agradecer. Por saber que meu Jonah é amado. Ele vai deixar esse

mundo sendo amado, não vai?”

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E m m a S c o t t

Balanço a cabeça, com lágrimas em meus olhos. “Sim”, eu

sussurro. “Ele é amado e será amado para sempre.”

O sorriso de Beverly brilha em meio às lágrimas, como um

raio de sol através da chuva. “Muito bem.” Ela toca no meu rosto

e deixa sua mão cair. “Risque isso da minha lista, então.”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 40

jonah

Seis semanas.

Dr. Morrison explica para mim. Os resultados da biópsia

são como eu esperava: o endurecimento das artérias está

acelerando, e exames de sangue mostram que a quantidade de

anticorpos do meu sistema imunológico está se desenvolvendo em

disparada contra o coração do doador. A insuficiência cardíaca é

iminente. Estou de volta à lista de doadores com pedido de

emergência, mas para adicionar insulto à injúria, os

medicamentos imunossupressores tem cobrado um pedágio dos

meus rins, comprometendo minhas chances de um segundo

transplante. Aos olhos do Conselho, eu não sou um candidato

viável.

Seis semanas. Não mais meses.

Questão de dias.

Dificilmente mais de mil horas.

Mas dentro dessas horas, milhares e milhares de

momentos...

Olho para as partículas de poeira que dançam em um raio

de luz da manhã na janela. Realmente, a luz está quente contra

as lâmpadas fluorescentes acima de mim.

Dr. Morrison chega perto da cama para colocar a mão sobre

o meu pulso. “Jonah?”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Eu respiro fundo e exalando em um suspiro tempestuoso

de alívio, como se algo pesado tivesse sido pressionado no meu

peito e agora se foi.

O doutor aperta a mão no meu braço. “Jonah?”

“Estou bem”, digo, virando para ele. “Eu estou bem, na

verdade. Conhecer a verdade brutal... é melhor. Eu me sinto

melhor.”

Estranhamente, posso respirar novamente. A emoção

torcida de ansiedade, medo e pavor foram desaparecendo. Minhas

emoções têm estado em queda livre por uma semana, quando o

primeiro ataque de fadiga indevida me bateu pouco antes da

exposição na galeria. Kacey disse que andei estranho, lhe dando

com uma gama de emoções. Quente e frio, raiva e culpa, cheio de

medo e lutando para conseguir a paz. Passei através dos cinco

estágios do luto, um após o outro — cada etapa com duração

inferior a um minuto — em seguida, volto para o início para

começar novamente. Eu tive que mandar todos embora na noite

passada — até Kacey para que eu pudesse lidar com o inevitável.

Olho para o Dr. Morrison agora, uma sensação de paz em

cima de mim, e profundo alívio das emoções caóticas dos últimos

dias.

“Gostaria de falar com alguém?” Dr. Morrison pergunta.

“Um psicólogo, talvez? Ou o padre?”

“Eu quero apresentar uma queixa junto ao Conselho

Médico”, digo. “Pior. Biópsia. De todos os tempos.”

Ele ri. “Você sempre foi um dos meus pacientes favoritos,

Jonah. Sempre.” Sua risada se acalma. “Eu já tomei a liberdade

de explicar a situação para todos.”

“Obrigado”, digo. “Não é a melhor parte de seu trabalho,

presumo.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Nunca. Mas eles sabiam que essa era uma probabilidade e

estão levando tudo muito bem. Tão bem quanto possível, melhor

dizendo. Eles estão esperando por você lá fora.”

“Dena e Oscar?” Pergunto.

Dr. Morrison assente. “Tania também.”

Eu balanço a cabeça. “E a minha namorada?”

Ele sorri. “Ela está aqui.”

“Estou aqui”, ecoa uma voz na porta. Kacey está com a mão

na porta. Seu rosto pálido, os olhos inchados e vermelhos, o

cabelo num rabo de cavalo desleixado caindo solto. Ela parece tão

fodidamente linda que mal posso respirar.

“Desapareça, doutor”, digo.

“Com prazer.” Ele se levanta e Kacey passa por ele vindo

em minha direção, e me abraça o melhor que pode sobre a cama e

enterra o rosto no meu pescoço.

“Preciso te dizer uma coisa”, ela diz, com a voz abafada.

“Preciso te dizer uma coisa também.” Eu a puxo para longe

o suficiente, também olhando para ela, afastando o cabelo que

ficou preso às lágrimas em suas bochechas, como vidro fiado. “Eu

tenho sido tão babaca com você, Kace. Sinto muito. Estava

pirando. Cada minuto que estava sentindo uma emoção diferente

e eu...”

“Eu te amo”, ela diz.

Olho para ela.

“Eu te amo”, ela diz. “Estou apaixonada por você.”

Suas palavras penetram no meu coração. Não o órgão no

meu peito, mas a parte de mim que quer bater para ela, viver por

ela. Eu me sinto saturado com calor e uma felicidade que não

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

acho que é possível experimentar. Não em um momento como

este. Não em um lugar como este.

A mão de Kacey desliza contra a minha bochecha, os olhos

se enchendo. “Seu rosto agora? Nunca, em milhões de anos eu

poderia imaginar um homem olhando para mim do jeito que você

está me olhando agora. Eu te amo”, ela diz novamente. “Eu sei

que você quer me proteger e não facilito o seu trabalho. Só te amo

ainda mais por isso. Você não pode me manter a uma distância

segura. Eu te disse, não há distância segura. Nunca houve.”

“Você está certa”, sussurro. “Nunca houve. Eu te amo,

Kacey. Eu te amo tanto…”

Ela deita a cabeça para baixo outra vez, logo no ponto

sensível da minha incisão, mas não me importo. Amor e dor,

quero tudo.

“Eu te amo”, digo. “Deus, nunca pensei que isso iria

acontecer comigo.”

“Mas aconteceu”, ela sussurra. “Foi o que aconteceu e tudo

o que podemos fazer agora é cuidar uns dos outros. Viver os

pequenos momentos, certo? Assim como prometemos. Os

pequenos momentos. Temos tantos. Milhares e milhares deles.”

“Demais para contar”, digo. Aperto forte com meus braços

ao redor dela e a abraço. Tão perto de mim quanto posso, meus

lábios beijando seu cabelo. “E esse aqui... O melhor momento da

minha vida.”

Nos abraçamos por um longo tempo, e penso sobre as

escolhas de Kacey feitas para chegar a esse momento. Para estar

aqui comigo, sabendo que não iria durar.

“Você é tão valente” digo. “Você é a pessoa mais corajosa

que conheço.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Eu não”, ela diz. “Corajosa ou com muito medo, não tenho

uma escolha, mas sim amá-lo.” Ela levanta a cabeça e funga. “É

tudo culpa sua, realmente. Você é tão amável.”

Rio um pouco. “Eu pensei que fosse um espertalhão

teimoso.”

“Isso também.” Ela enxuga os olhos. “Há um monte de

outras pessoas na sala que querem dar a você um pouco do que

se passa em suas mentes. Eu posso ir buscá-los?”

Balanço a cabeça, sorrio. “Sim. Todos eles. Eu quero

todos.”

Todos vieram, meus melhores amigos, meus pais, meu

irmão. Olho para o círculo de pessoas que mais amo e chamo a

atenção deles para o discurso que ensaiei uma centena de vezes

nos últimos seis meses. Eu pensei que estaria sozinho. Que teria

que enfrentar o inevitável com uma mão vazia. Mas Kacey

Dawson está lá, seus dedos entrelaçados com os meus. Não estou

sozinho e minha mão não está vazia.

Limpo a garganta dolorida. “Ok, pessoal, o plano é: não há

nenhum plano. Sem viagens. Nenhuma aventura. Sem lista de

desejos. Isto é o que eu quero: sair juntos. Vamos ter churrascos

e pequenos almoços. Um bom jantar em um restaurante chique

ou um almoço no Mulligan. Ou cupcakes de uma máquina

automática. Vamos conversar e contar piadas estúpidas e rir

muito e... viver.”

Acenos e murmúrios concordando.

“O que eu não quero é que alguém me pergunte como me

sinto uma centena de vezes por dia”, digo. “Prometo que vou dizer

se precisar de alguma coisa, mas tudo o que eu posso precisar ou

querer está bem aqui nesta sala. Vocês são os amores da minha

vida. Eu não quero nada, apenas ficar juntos o máximo que

pudermos. Dessa forma, quando chegar a hora...”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Engulo em seco, a minha visão borrando os rostos das

minhas pessoas favoritas. “Vocês não precisam se preocupar se

eu estava feliz. Ou se eu tenho arrependimentos. Eu não tenho

nenhum.” Olho para Kacey, minha linda menina, e toco seu rosto

manchado de lágrimas. “Sem arrependimentos.”

“Não”, ela sussurra. Ela beija a ponta dos dedos e toca em

meus lábios.

Levo um momento para me recompor e, rapidamente, limpo

os olhos.

“Então esse é o meu grande discurso. Amo todos vocês e é

isso. Vamos dar o fora daqui.”

Meu público ri suavemente através de fungadas ou tosse, e

é como se uma tensão horrível tivesse sido afastada. Não quero

conformismo ou restrição. Quero ser eu mesmo e nada mais.

Eu quero os momentos.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 41

jonah

Dois dias depois, Theo vem ao meu apartamento no final da

tarde.

“Onde está Kacey?” Ele pergunta.

Entrego a ele uma cerveja da geladeira e pego um chá verde

para mim. “Ela está fazendo compras no supermercado.”

Theo assente, caindo sobre o sofá. “Você não está

trabalhando hoje à noite?”

“Eu pedi demissão hoje”, digo, sentado na outra

extremidade. “Harry perguntou se fui roubado para uma outra

empresa de limusine.”

“O que você disse a ele?”

“Que a empresa dele é o único serviço de limusine que

trabalharei em toda a minha vida.”

“Merda, Jonah...”

“O quê?” Digo, sorrindo. “Vamos lá, foi um pouco

engraçado.”

Theo bufa, vira a cerveja em torno de sua mão. “Morrison

disse que seus rins estão comprometidos.”

“Aparentemente, sim”, digo.

Ele olha para mim. “E isso é o que está impedindo você de

ficar mais no começo da lista de transplante.”

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E m m a S c o t t

“Eu sei onde isso vai dar.”

“Só estou dizendo que eu poderia dar-lhe um rim”, Theo

diz. “Seria compatível. Seu corpo não vai rejeitar porque temos o

mesmo sangue. Nós somos irmãos. Você é meu irmão...” Sua voz

falha. Ele senta curvado, os cotovelos apoiados nos joelhos.

Espero até que ele se recompõe e coloco minha mão em seu

braço.

“A medicação acabaria destruindo esse rim, enquanto o

meu corpo destruiria um segundo transplante do coração graças

ao meu tipo raro tipo de tecido.” Eu lhe toco no ombro. “Portanto,

mantenha seus malditos órgãos internos para si mesmo.”

Ele ri. Uma pequena risada, mas verdadeira. “Bem. Mas é

só dizer uma palavra e ele é seu. Tudo o que você quiser ou

precisar... se eu puder dar a você, ele é seu. Ok?”

“Eu poderia ter um favor a lhe pedir.”

Sua cabeça dispara. “Qualquer coisa. Nome, me dê alguma

coisa...”

Mas a maçaneta sacode. Olho para ele, levantando um

dedo. “Agora não…”

Kacey aparece na porta, com os braços carregados de

sacolas de supermercado. “Ei, meus dois homens favoritos no

mundo em um só lugar. Deve ser meu dia de sorte.”

Theo se levanta para pegar as sacolas. Ela sorri e brinca

com ele por ser secretamente cavalheiresco. Em seguida, eles

guardam as compras, brigando levemente o tempo todo, enquanto

estou sentado no sofá e viro o meu sorriso, para eles não verem.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Jantamos na casa dos meus pais naquela noite, como

fazemos quase todas as outras noites agora. Oscar, Dena e Tania

sempre são convidados. Quero meu povo em torno de mim o mais

rápido possível.

Logo no início, Kacey conversa com Tania, e Dena está

ajudando meus pais com o jantar. Oscar olha sorrateiramente

para a cozinha e puxa a cadeira para mais perto do mim. Ele

esfrega as mãos para cima e para baixo em seus jeans como se

suas mãos estivessem suadas.

“E aí, cara?” Pergunto. “Você está queimado com Dena?”

Um sorriso cintila sobre seus lábios, em seguida, vai

embora novamente. “Não, mas posso ficar se eu não fizer isso

direito.” Ele incha suas bochechas com ar e diz, “Eu vou pedi-la

em casamento.”

Endireito-me na minha cadeira, meu peito inundado com a

felicidade. Mas Oscar está nervoso o suficiente sem eu ficar

emocional sobre ele. Finjo choque total. “Mas Oscar, só se

passaram seis anos. Você tem certeza? Você não quer se apressar

para isso...”

“Eu sei, eu sei.” Ele ri e passa a mão sobre seu cabelo

curto. “Eu não quero estar com mais ninguém, mas não acho que

preciso — ou quero — alguma cerimônia ou um pedaço de papel

para deixar tudo oficial. Mas vê-lo com Kacey nestas últimas

semanas...” O sorriso de Oscar congela em seu rosto, seus olhos

sem piscar, como se pudesse bloquear a emoção para baixo antes

que posse se revelar. “Se você ama alguém tanto quanto eu amo

Dena, então você mantém essa pessoa com você, certo? Contanto

que consiga, o mais forte que conseguir.”

“Sim, cara”, digo suavemente. “Parece exatamente correto.”

Oscar balança a cabeça e espera um momento; Ele toma

um gole de cerveja e espero até que esteja pronto para falar

novamente.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Então, quando é o grande dia?” Pergunto.

“Ela tem que dizer sim primeiro”, Oscar diz, e limpa a

garganta. “Mas isso é outra coisa que eu queria falar com você. A

data. Eu quero que você esteja lá. Meu melhor amigo. Vegas é a

capital dos casamentos rapidinhos.” Ele para quando agito a

cabeça e as mãos. “O quê?”

“Você não pode ter um casamento apressado com Dena

Bukhari”, digo. “Você pode imaginar a nossa menina em um

vestido tradicional iraniano, em uma capela berrante sendo

oficiada por Elvis? Não, não. Ela precisa do pacote completo.”

Oscar se mexe na cadeira. “Eu sei isso. Mas os pais dela

estão em Londres e avós no Irã. A situação de visto, vai levar seis

meses.”

Eu me inclino para a frente e bato no ombro do meu amigo.

“É o suficiente para mim, saber que vai acontecer. Estou feliz por

você, cara. Por ambos. Dê a ela o casamento que ambos

merecem. Estarei lá em espírito.” Eu lanço um braço sobre ele.

“Literalmente.”

Oscar dá uma gargalhada e olha para longe. “Eu vou sentir

sua falta, cara”, ele diz para sua garrafa de cerveja.

“Obrigado por dizer”, digo, porque eu sei o quão difícil é

para ele admitir. “Sentirei sua falta também. Vocês dois. E estou

realmente muito feliz em saber que tomarão conta um do outro.”

“Ela vai cuidar de mim”, Oscar diz. “Eu vou passar o resto

da minha vida tentando não se um mimado.”

Rio e ele ri, e pulamos o obstáculo emocional, como uma

roda de carroça, finalmente, balançando sobre uma rocha. Eu

não preciso de lágrimas do Oscar para saber que ele se importa

comigo, ou esperar um monte de palavras sentimentais. Só

preciso estar perto dele e isso é o suficiente.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Depois da sobremesa, meu pai bate a faca na lateral do seu

copo de vinho e pega um pedaço de papel dobrado do bolso da

camisa.

“Isto chegou pelo correio esta tarde”, ele diz. “Da Carnegie

Mellon. Presumi que era lixo eletrônico ou uma carta de

formulário. Ainda bem que eu abri.” Ele limpa a garganta e

começa a ler. “Prezado Senhor. Esta carta é para informá-lo, Jonah

Miles Fletcher, que você atingiu o grau de Mestrado de Belas Artes

da Universidade Carnegie Mellon e todas as honras, benefícios e

direitos conferidos na presente decisão...”

Há mais, mas a mesa explode em gritos e aplausos,

abafando meu pai. Os braços de Kacey passam ao redor do meu

pescoço, em seguida, ela empurra a cadeira para trás e se arrasta

bem no meu colo. Eu seguro seu rosto, olho para as profundezas

azuis de seus olhos. Ela é muito. Eu poderia passar um milhão

de vidas completas e nunca me cansaria dela.

Ela é um universo...

Percebo naquele momento que meu legado de vidro é

lamentavelmente incompleto. A noite se aproxima do fim, aos

poucos todos começam a sair, com abraços e apertos de mão, e

recolhendo os casacos. Puxo Tania lado.

“Sim, Mestre das belas artes?” Ela diz. “Como posso servilo?”

“Pare com isso”, digo. “Eu não teria feito nada se não fosse

por você.”

Ela acena com a mão. “Não foi nada.”

“Foi tudo. Devo-lhe muito, Tania. E eu…”

Ela se inclina para frente. “Sim…?”

Eu sorrio. “Percebi que eu poderia muito bem pedir-lhe

mais uma coisa.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Tania bufa uma risada e dá um tapa no meu braço. “Sou

muito boa, sabe.”

Tomo suas mãos nas minhas. “Encontre-me na Hot shop

amanhã?”

Seu rosto se ilumina. “Uma nova peça?”

“Uma última peça”, digo. “A peça mais importante da

minha vida.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 42

kacey

Dirijo de volta para o apartamento de Jonah com um

friozinho na barriga.

“O que você está rindo?” Ele pergunta.

Olho para ele. “Eu fico pensando sobre a sua confirmação

de grau.” O que é apenas parcialmente verdadeiro. Tenho planos

para a noite, e uma vez dentro do apartamento, o levarei para o

sofá.

“Eu tenho uma surpresa para você”, digo.

“Será que isso envolve você nua?”

“Talvez”, digo sobre meu ombro no caminho para o quarto.

“Me dê um minuto.”

Puxo uma caixa que guardei debaixo da cama. Há uma

dúzia de velas que coloco ao redor do quarto: em seu armário e

mesa de cabeceira, duas no parapeito da janela. Uma vez que

desligo a lâmpada, o quarto brilha com esferas de luz amarela

suave.

Tarefa feita, chamo Jonah para se juntar a mim.

Na porta, ele para e observa as velas, depois a mim. Ele

inclina seu antebraço alto no batente da porta, sua sobrancelha

arqueada. “Você não está nem remotamente nua.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Ainda não”, digo, movendo-me para ele e passando minhas

mãos sobre sua camisa. “Eu sei que nós temos que ter calma,

então andei fazendo algumas pesquisas.”

“Pesquisa”, Jonah diz, tocando os braços em volta da

minha cintura. “Por algo erótico. O que você tem pesquisado?”

“O sexo tântrico”, sussurro. Então uma risada irrompe de

mim. “Oh meu Deus, isso soa brega demais. Mas eu li sobre isso

e acho que vai ser bom para nós. Seguro.”

Dr. Morrison não proibiu exatamente o sexo, mas já se

foram os dias de Jonah me levando contra uma parede em um

sexo de paixão desenfreada. Nós só dormimos juntos duas vezes

desde que ele teve alta do hospital, e apesar de nossos esforços

para ir devagar, em ambas ele sentiu uma assustadora falta de

ar. Era como se o coração acelerasse, como uma pedra que

lentamente é derrubada de uma colina íngreme e agora está

rolando, e ganhando velocidade a cada momento que passa.

“Quer tentar?” Pergunto.

“Como se eu fosse dizer não para você.” Ele estende a mão

para mim e nós nos beijamos, despimos um ao outro.

“Vem sentar na cama”, digo a ele. “Posição de Lotus.”

“Eu não falo Tantra.”

“De pernas cruzadas.”

Ele senta no meio da cama, conforme as instruções. Seus

olhos à luz de velas estão amplos e pesados de desejo quando eu

me arrasto para ele. Sento em seu colo, envolvo minhas pernas

em sua cintura, mas não o coloco dentro de mim, e de alguma

forma isso parece mais íntimo do que se eu tivesse.

“Eu gosto disso”, ele diz contra o meu pescoço. Sua boca se

move sobre meu queixo. “Me beije.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Ainda não”, digo. “Nós temos que passar por todas as

etapas primeiro.”

“Etapas? Existe um manual que eu possa consultar?”

“Pare de rir.”

“Certo. Desculpa. O sexo tântrico é um negócio sério. O

primeiro passo é...?”

“Passo um: me segurar confortavelmente e olhar nos meus

olhos. Em nenhum outro lugar.”

Jonah descansa suas mãos nas minhas coxas, e seguro

seus braços que me prendem. Olho para os ricos de veludo

marrom de seus olhos.

Por todos os três segundos.

Nós dois quebramos o contato rindo, nossos corpos

inquietos com o nervosismo. Tentamos novamente, rimos

novamente, e continuamos tentando. Aos poucos, os risos

recuam. Eu relaxo e me sinto afundar em seu olhar. Com cada

piscar de olhos, a minha memória relembra um momento que

tivemos — milhares e milhares compartilhados — a primeira vez

acordando em seu sofá, agora, a cintilação da luz de velas em

torno de nossos corpos.

“E agora?” Ele diz suavemente.

“Agora nós compartilhamos a respiração um do outro”,

digo, aproximando os meus lábios, roçando nos dele. “Encontrar

o ritmo.”

É o que acontece rapidamente. Dentro de instantes

estamos respirando um para o outro, respirando como um. Ele

inala o que eu exalo. Eu respiro o que ele deixar sair, enchendo

meus pulmões com Jonah. O mundo e suas necessidades se

afastam. Tempo deixa de existir. Somente agora. Este momento.

E não preciso de nada, mas somente do que ele me dá.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Com cada respiração, meus pensamentos se afastam.

Quando mergulho mais fundo na beleza de seus olhos, sinto eu

mesma deixar de existir. Não há eu. Sem ele. Somente nós. Nossa

pele se funde, criando uma terceira presença, compartilhando o

ar, a partilha de nossos corpos.

Seu domínio sobre meus quadris aumenta e ele me levanta

em cima dele. Uma pausa no ritmo da nossa respiração quando

Jonah desliza dentro de mim.

“Sim.” Sua boca forma a palavra sem um som.

Sim, isso…

Empurro para a frente, meus seios pressionados contra o

peito cheio de cicatrizes. Meus braços em volta de suas costas, as

pernas em torno de seus quadris, levando-nos tão profundamente

quanto posso.

Jonah desliza um braço em volta da minha cintura. Sua

outra mão desliza contra o meu rosto, seu polegar roçando meus

lábios. Nossa respiração em sincronia novamente. Nós não nos

movemos, apenas para respirar.

“Você”, ele sussurra.

“Você...” Tudo o que sei ou sinto ou vejo. Você. O mundo

inteiro em meus braços. As profundidades desdobram de seus

olhos. Um calor intenso dele dentro de mim. Um prazer macio,

pulsante que cresce a cada momento, até que começamos a nos

mover.

Nossos lábios se encontram em um delicado beijo,

profundo. Inspiro, reviro os quadris para trás. Expiro, empurro

para a frente. Jonah me segue, balançando sua pélvis contra a

minha. A maré, fluindo e refluindo. Ondas do mar que caem

suavemente sobre a costa quando nos beijamos e a respiração

compartilhada. Olhos abertos, nunca quebrando o contato, a

pesada dor de prazer toma mais peso, cresce mais intensa.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Kace”, ele sussurra.

Enfio os dedos pelo seu cabelo, adicionando novos pontos

de contato, novas conexões. Eu o sinto em cada poro, cada

respiração e bater do nosso coração. Eu nunca experimentei nada

assim na minha vida. Ele é um universo. Meu amor por ele é tão

sem limites.

Lágrimas enchem os olhos quando os nossos corpos rolam

e deslizam em direção a um prazer agridoce. Lágrimas de amor.

Para a perda. Para as semanas que ainda temos e os anos que ele

não tem. Para a alegria e o riso, a mágoa e tristeza. Para este

homem solitário e a mulher perdida que ele resgatou. Para nós, e

o tempo se aproximando rapidamente, quando haverá apenas eu.

Fecho os olhos, mergulho em seu beijo, e vou em direção ao

clímax. Ele se ergue e rola através de nós, em suaves estocadas

em câmera lenta, em vez de um rebentar.

“Olhe para mim”, ele sussurra. “Não pare.”

Abro os olhos.

“Eu te amo, Kacey.”

“Jonah.” Meus olhos são apenas ele. Minha respiração é

para seus pulmões, minhas lágrimas umedecem sua pele. Minhas

mãos são feitas para ser envolvidas em seu cabelo. Nasci para

senti-lo em cima de mim para sempre.

“Jonah ... Meu Jonah...”

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 43

jonah

Giro o maçarico para frente e para trás. O vidro na

extremidade é do tamanho de uma bola de boliche infantil, mas

sinto uma centena de vezes mais pesado. Minha respiração é um

chiado raso dentro e fora do meu peito — não consigo respirar

fundo a menos que esteja sentado.

“Tania...”

Ela tira o maçarico da minha mão enquanto sento

pesadamente no banco e o coloco sobre os trilhos. Recomeço

rolando e moldando. Meus braços parecem chumbo quando pego

os valetes e os serro. Tania está lá, suas mãos cobertas com luvas

grossas, em forma de concha sob a esfera.

“Pare se você tiver que parar”, ela me diz.

Eu não respondo. Não tenho fôlego e não teria parado de

qualquer maneira. O globo de vidro solta do tubo e Tania o pega

habilmente em suas mãos. Ela o leva para o forno, mas é muito

grande para que consiga segurá-lo e abrir a porta.

Usando o maçarico como uma bengala, me impulsiono para

levantar e ando tão rápido quanto posso nos três metros. Abro a

porta do forno e Tania coloca cuidadosamente o vidro dentro,

enquanto caio contra a parede, tentando recuperar o fôlego.

Ela arranca as luvas para definir o temporizador de

resfriamento, em seguida, pega-me pelos braços.

“Diga-me…”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Temos um acordo de pé, eu e meu círculo de pessoas. Eles

não perguntam se preciso de ajuda, desde que prometi dizer se eu

precisasse.

“Estou bem”, digo, e é verdade. Meu coração é como um

coelho no meu peito, rápido e irregular, mas está se acalmando.

Meus pulmões sugam mais e mais ar e, finalmente, sou capaz de

me empurrar para fora da parede.

Tania engancha seu braço no meu e ajuda. Juntos,

olhamos através da porta de forno de vidro.

“Está feito”, digo. Levou duas horas por dia, durante quatro

dias, mas está pronto.

“É a melhor coisa que você já fez”, Tania murmura.

“Porque amá-la foi a melhor coisa que já fiz.”

Desligamos tudo, limpo a mesa de trabalho e nos dirigimos

para as portas de correr da frente. Paro e me viro, observando o

espaço que é como uma segunda casa para mim.

“Você se esqueceu de alguma coisa?” Ela pergunta.

“Não. Estou apenas…”

Me despedindo.

“... lembrando.” Olho para a minha assistente. Há lágrimas

em seus olhos. “Você vai cuidar da última peça?”

Ela assente com a cabeça. “Tem sido uma honra e um

privilégio trabalhar com você.”

“Pra mim também, Tania. Eu só queria poder ficar por aqui

para ver a sua brilhante carreira.”

“Eu também, caramba”, ela diz ferozmente, e joga os braços

em volta do meu pescoço. “Embora não tenho certeza sobre o

brilhante...”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Eu sei. Ela se inscreveu para o Studio Chihuly em Seattle.

Sei que o representante de Dale recebeu a minha carta de

recomendação, e sei que eles estão ‘extremamente

entusiasmados’ com o trabalho de Tania. Sei que estarão a

notificando em breve para marcar uma rodada de entrevistas e

uma avaliação em estúdio.

Eu poderia lhe contar o que está por vir, mas alguns

momentos — quando ela abrir aquela carta do Studio — são para

serem vividos no momento em que acontecem.

Eu também sei disso.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 44

kacey

Numa manhã, Jonah está mais lento para sair da cama, e

quando levanta é só para ir à cozinha antes de parar para

descansar as mãos no balcão, recuperando o fôlego. Ele passa a

maior parte do dia na cadeira na sala de estar.

A velocidade do seu declínio me aterroriza. Segundos

escorregam, levando nossos momentos com eles. Luto para

agarrá-los. Para fazer deles alguma coisa que seja mais do que o

medo, a dor e agonia. Perder Jonah é uma agonia, e se eu pensar

nisso devagar, por um momento, me afogaria.

Tenho que me manter em movimento. Ficar à frente, pelo

amor de Jonah e pelo meu. Faço telefonemas, preparo seus

medicamentos e faço as nossas refeições. Acompanho os banhos,

o ajudo a lavar o corpo e o cabelo, em seguida, ajudo a sair. Faço

um jogo de paquera dele, mas além de alguns beijos quentes, o

corpo de Jonah está desligado.

Larguei meu emprego no Caesar’s alguns momentos atrás,

e estou vivendo do último dinheiro da Rapid Confession. Esses

fundos estão diminuindo também, mas não há nenhuma chance

de deixar Jonah agora. Se eu perder meu apartamento, que assim

seja. Por agora, estou vivendo na casa de Jonah e, mais tarde

tenho muitos amigos em Las Vegas com quem posso ficar até

poder caminhar com meus próprios pés.

Como se o universo estivesse me testando, Jimmy Ray me

ligou uma tarde e me ofereceu tudo o que eu poderia desejar: um

novo contrato com a RC, um contrato de solo adicional para

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

escrever e produzir o meu próprio álbum, e um adiantamento que

teria me deixado estabilizada por anos.

“A gravadora está desesperada por você”, ele diz. Sua voz é

amorosa, mas praticamente posso sentir seu desespero através

do telefone. “Elle é uma boa menina, mas não é você. Você esteve

lendo os jornais? Os fãs a querem de volta. Nós queremos você de

volta.”

Eu quis rir do ridículo. Jimmy conversa como um

negociante de carro usado ou um feirante. O que ele oferece é tão

superficial e barato em comparação com o que tenho com Jonah.

Por toda a dor que está vindo — e que Deus me ajude, pois será

uma avalanche — valeu a pena. Jonah vale tudo.

“Não, obrigada, Jimmy.”

Ouço um grito e uma gagueira. “Não, obrigado? Você vai

arruinar tudo para quê? Pelo motorista da limusine?”

“Sim.”

“Ouça, gatinha, este é o meu ato de desespero. Não quero

jogar sal em uma ferida, mas Lola disse que ele está morrendo. E

você vai escolher ele ao invés de tudo o que estou oferecendo?”

“Não”, digo. “Não estou escolhendo nada. Não há escolha.

Nunca houve.”

Silêncio nunca soou tão bom.

Eu desliguei.

Na manhã seguinte, verifico meu saldo bancário no laptop

com um olho quase fechado, preparando-me mentalmente para

ver um monte de zeros, ou dígitos vermelhos com um grande

sinal negativo na frente deles. Em vez disso a minha tela mostra

US $ 5000. Um depósito foi feito, vindo de uma conta da Wynn

Galleria.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Encontro Jonah descansando no sofá, assistindo When

Harry Met Sally — eu o converti completamente para a religião

dos filmes dos anos oitenta. Estou na frente dele, coloco as mãos

nos quadris e tento o meu melhor para levantar uma

sobrancelha, sem a ajuda do meu dedo.

Ele olha para a minha tentativa fraca. “Ou você está com

uma dor de cabeça muito ruim... ou você está tentando ler algo

impresso a um quilômetro de distância.”

“Cinco mil dólares misteriosamente apareceram na minha

conta corrente.”

O sorriso de Jonah desaparece. “Lamento, isso não é

muito.”

“Muito?” Afundo no sofá ao lado dele. “O que é? De onde

vem?”

“É o que restou da venda na exposição da galeria depois

que paguei a hipoteca dos meus pais e dei ao Theo o suficiente

para começar seu próprio studio de tatuagem.”

“Seu próprio studio. Puta merda, você é um manda chuva.”

“Eu acredito nele”, Jonah diz simplesmente. “Acredito em

você. Cinco mil não é muito, mas desse modo você pode

continuar a viver aqui, conseguir um novo emprego, e continuar

trabalhando em seu álbum. O que você quiser fazer.”

“Não preciso disso”, digo, minha garganta se enchendo de

lágrimas. “Posso pensar em alguma coisa...”

“Eu sei que você pode”, ele diz. “Você pode ficar por conta

própria, mas se posso tornar mais fácil para você, farei isso.”

Balanço a cabeça, piscando as lágrimas. Não posso chorar

muito estes dias. Depois que começo, tenho medo de que nunca

consiga parar.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Jonah me puxa para baixo e fico deitada enrolada com ele,

minhas costas contra seu peito. Na TV, a cena está em New Year’s

e Harry corre para a festa, para Sally, para declarar seu amor por

ela. Porque ele queria que o resto de sua vida começasse o mais

cedo possível.

“Minha vida começou neste sofá”, sussurro. “No momento

que acordei naquela manhã.”

Ele acena com a cabeça contra a minha cabeça. “A minha

também, Kace. A minha também.”

Naquela noite, deitamos juntos na cama, nos beijando

suavemente. Minhas mãos percorrem sua pele, tentando

memorizar cada linha e contorno. Esperando, querendo que

chama baixa de desejo se desperte e pegue fogo.

“Querida, estou tão cansado”, diz ele.

“Isso não é problema”, digo, sorrindo largamente,

esforçando-me para transformar a minha voz trêmula em

sedutora e brincalhona. Passo as mãos pelo seu peito, em direção

à cintura de suas calças de pijama. “Talvez, um pouco de

estimulação oral?”

Jonah balança a cabeça contra o travesseiro. “Não essa

noite, Kace.”

Foi o décimo ‘não essa noite’ consecutivos, e o sorriso

escorrega do meu rosto como a máscara frágil que é.

Não essa noite. Mas por trás dos olhos de Jonah, por trás

do calor, tristeza e as infinidades de pensamentos, leio o que ele

está realmente dizendo.

Não essa noite.

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E m m a S c o t t

Não qualquer noite.

Nunca mais.

“Ok”, digo, com a respiração apertada no meu peito que, de

repente pesa quatrocentos quilos, lágrimas queimam meus olhos

e estou muito lenta para me virar e fraca demais para segurar.

“Eu odeio essa parte”, ele diz.

“Shh.”

“Eu sinto muito.”

“Não. Não se desculpe, Jonah. Lamentar significa que você

gostaria que não tivesse acontecido, e não o perdoaria por isso.

Você lamenta?”

Ele balança a cabeça, seus próprios olhos cheios. “Estes

últimos meses têm sido tudo.”

“Tudo. Eu não estou arrependida. Mas vou chorar um

pouco agora, ok? Não posso evitar. Eu não posso...”

Não posso te perder, é o que eu queria dizer, mas vou

perdê-lo, e então choro e ele me abraça até que eu paro.

Limpo meus olhos, em seguida, tiro minha camisa e solto o

sutiã.

“O que você está fazendo?” Ele murmura com uma voz

sonolento, moderando sua voz para dizer qualquer coisa, para ter

ar suficiente para falar.

“Quero estar perto de você.” Aconchego-me abraçada contra

ele. Ele cheira a calor e sabão e seu próprio perfume que é

exclusivamente dele.

Jonah me segura perto e cai no sono rapidamente, está tão

terrivelmente cansado o tempo todo, mas fico acordada por

longas horas, a minha forte batida do coração contra o seu não

tão forte. Eu quero toda a força que tem dentro dele. Tento

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E m m a S c o t t

visualizar uma corrente de energia, vibrante e dourada, que

emana de, se infiltrando nele. Fazendo-o melhorar. Deixando-o

bem.

Não me deixe.

Na manhã seguinte, ele acorda com falta de ar, mal

conseguindo sentar sem ajuda. Nossos olhos se conectam e ele

passa os dedos ao longo da minha bochecha. “Está na hora.”

Pensei que fosse desmoronar contra ele, em seguida, chorar

e lamentar deixando a tristeza sair de mim. Deus sabe o quanto

quero. Mas então eu teria que levá-lo para o hospital e este último

momento, aqui na nossa cama, teria sido desperdiçado em choro.

Em vez disso, eu o beijo como amante — com profundidade

e duradouro, com tudo o que tenho. Com cada gota de amor

infinito que habita em mim.

Beijo Jonah Fletcher com todo o meu coração, e com cada

pedaço da minha alma que irá amá-lo para sempre.

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E m m a S c o t t

CAPÍTULO 45

kacey

Eles colocam Jonah em um quarto privado, perto do

elevador, da capela, máquinas de venda automática e dos

banheiros. Nosso círculo de amigos e familiares — os sete, liguei

para eles — têm acesso a tudo o que precisamos, nos permitindo

acampar na sala de espera.

Ninguém vai embora por mais de algumas horas de cada

vez, e sempre verificando por mensagem a cada poucos minutos:

Ele está bem?

Qualquer notícia sobre um doador?

O que o médico disse?

As respostas permanecem as mesmas durante as primeiras

vinte e quatro horas: Jonah está descansando, não há notícias de

um coração para transplante e o médico disse que não é

susceptível de obter um. Jonah, com seus rins — devastados

pelos medicamentos — está falhando e ele foi colocado em diálise,

o que está sendo bom para ele, mas não o elege para um segundo

transplante de coração.

“Se você me deixar dar um dos meus...”, Theo diz. Ele

parece terrível — com anéis escuros sob os olhos vermelhos. Ele

não teve uma noite de sono decente em semanas.

“Isso não ajudaria”, Morrison diz. “A contagem de

anticorpos dele está muito elevada. A doença está muito

implacável.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Então, simplesmente o tiram da lista?”

“Nem um pouco”, Morrison diz. “Jonah nunca foi removido

da lista de transplante. Mas se um novo coração estivesse

disponível, já teríamos ouvido. Sinto muito.”

Ele se vira para ficar de frente com nós sete. “Neste

momento, a melhor coisa para Jonah é permanecer confortável e

passar tempo com vocês.”

“Ele não está com dor, não é?” Henry diz.

“Não”, Dr. Morrison diz gentilmente. “E farei tudo ao meu

alcance para garantir que ele continue assim. Eu prometo.”

Nos próximos dois dias, permanecemos em seu quarto,

conversando e relembrando. Rindo perto dele e saindo para

chorar no corredor. No terceiro dia, quando Jonah está lutando

através dos minutos, alguma realização instintiva toma conta do

grupo.

É hora de dizer adeus.

Tania, Oscar e Dena se revezam sozinhos em seu quarto.

Em seguida, os Sete se tornam Quatro: os Fletchers e eu.

“Como você está?” Pergunto a Theo. Sentados em cadeiras

na sala de espera, enquanto Henry e Beverly estão com Jonah.

“Meu irmão morrendo e não há uma maldita coisa que eu

possa fazer sobre isso. É assim que estou.”

Olho para as minhas mãos durante um momento de

silêncio.

“Como você está?” Ele pergunta.

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E m m a S c o t t

“Eu realmente não posso ficar aqui sozinha”, digo. “Posso

segurar sua mão?”

Theo se senta ao meu lado. Sua mão grande, forte

engolindo a minha. Estudo as tatuagens que serpenteiam em

torno de seus antebraços.

“São projetos seus?”

“Algumas.”

“O que o atraiu à tatuagem?” Minha voz soa como se

tivesse gritado por horas — chorado — rouca.

“Permanência”, Theo diz. “Tatuagem é a arte que corrói

profundamente. Deixa sangue. Nunca pode ser lavada. Ela dura.”

Ele olha para mim com seus olhos cor de uísque. “Você ficou.”

Eu sorrio. “Eu quero uma tatuagem sua.”

“É só dizer.”

“Não tenho certeza ainda. Vou pensar sobre isso.”

Ele balança a cabeça e esperamos, de mãos dadas. Os

Fletchers saem com Beverly parecendo frágil e delicada, Henry

ereto, estoico e duro com sua dor fervendo abaixo da superfície.

“Theo, querido”, Beverly diz em uma voz trêmula. “Ele quer

ver você.”

Theo entra, e eu me sento apertada entre os Fletchers,

segurando suas mãos, descansando minha cabeça em seus

ombros. Eles não são os meus pais, mas eu os amo. E me sinto

amada por eles de uma forma que nunca fui com meus próprios

pais. Mesmo Henry, com seu carinho reservado, é um milhão de

vezes mais quente do que meu pai.

Eu não pensei nele desde San Diego. Ou em minha mãe.

Eles nunca conheceram Jonah, e agora eles nunca o

conheceriam.

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E m m a S c o t t

Eles quem perdem, penso amargamente, mas no instante

seguinte a amargura se transforma em um orgulho feroz, e até

mesmo alegria. Eu conheci Jonah Fletcher. Fui amada por ele, e

foi um privilégio e gostaria de levar comigo para o resto da minha

vida.

Theo surge, parecendo confuso. Ele me dá um olhar

estranho, não consigo distinguir, em seguida, diz “Ele está

chamando por você.”

Jonah está deitado na cama de hospital, reclinado assim

como fazia em sua cadeira no seu apartamento. A cânula nasal

corre abaixo de seu nariz, fornecendo oxigênio, mas sua

respiração é irregular. Ele toma pequenos goles de ar, o peito

sacudindo em vez de subir e descer. Seus olhos escuros estão

gritantes contra o seu rosto pálido. Seu cabelo grosso agora está

fino e quebradiço. Tubos e fios instalados em seu braço direito,

fixados com fita branca. A máquina de diálise apita

continuamente do lado da cama. Outra monitora seu coração. Eu

não entendo os números de pressão arterial, mas o salto, tic

elétrico de seu pulso no monitor soa rápido e agitado nos meus

ouvidos.

“Você mandou me chamar?” Digo, enquanto afundo na

cadeira ao lado da cama. Eu me inclino em meus cotovelos no

colchão e pego a mão dele na minha.

“Estou arrancando promessas”, ele diz, entre respirações

curtas e superficiais. “Ninguém... pode dizer não para um cara...

na minha posição.”

Tento encontrar uma resposta inteligente, mas não tenho

nenhuma. Somente o desejo dele estar em outra situação que não

essa.

“Você quer alguma coisa?” Pergunto. “Qualquer coisa

mesmo.”

“Não, Kace. Só você. Aqui comigo.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Balanço a cabeça. “Estou aqui. Não estou indo a lugar

nenhum.”

Ele sorri com um tique fraco de seus lábios. “E que que

você me prometa uma coisa.”

“Qual é?”

“Prometa-me”, Jonah diz. Sua voz é fraca e suave, mas uma

intensidade desesperada envolve seu olhar.

“O que, baby...”

“Amar de novo.”

Olho um instante, depois sacudo a cabeça.

Ele luta para conseguir um fôlego. “Há muito mais para

você do que nós, Kace. Por favor... não se prenda. Você tem muito

para dar. Tanto amor, Kacey... tanto.”

Meu peito se aperta. “Eu não posso sequer pensar nisso

agora, Jonah...”

“Com o tempo”, ele diz. “Prometa-me. Se você encontrar

alguém...”

“Nunca.”

Seus dedos tecem os meus. “Não. Você vai. Ame o cara.

Ame-o com tudo. Como você me amou. Ame-o mais.” Seus olhos

se fecham. “Estou tão feliz, Kace. Como nunca antes em minha

vida. É um presente. Você sabe?”

Acaricio com os meus dedos ao longo de seu rosto. “Eu sei.”

Seus olhos se abrem lentamente. “Faça outra pessoa... tão

feliz como sou agora. Ok? Promete?”

Eu quero balançar a cabeça e dizer que não posso prometer

isso. Nunca poderei cumprir. Eu nunca mais sentirei por

ninguém o que sinto por ele.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Eu te amo, Kace”, ele diz entre soluços rasos de pouco ar.

“Eu te amo tanto. Prometa…”

“Eu amo você, Jonah. E... Ok. Sim. Eu prometo.” Lágrimas

derramam sobre o meu rosto enquanto eu concordo. “Eu

prometo.”

Seus olhos se fecham novamente. Seu corpo se acomoda

nos travesseiros e sua inspiração seguinte parece suave, exalando

aliviado. Os cantos de sua boca se elevam, em seguida, se

estendem ainda mais. Ele sorri. Ele está bonito, então. Pacífico.

Sereno.

“Eu preciso te dizer uma coisa”, digo. “Eu sei que você está

cansado. Apenas descanse e ouça.”

Ainda sorrindo, ele assente. “Ainda aqui.”

“Eu te amo”, digo. “Você é a melhor coisa que já aconteceu

para mim. Eu não mudaria um segundo de nosso tempo juntos.

Nenhum.”

“Kace...” ele suspira. Sua mão na minha sacode, tentando

levantá-la. Levo-a para ele e aperto minha bochecha na palma da

mão. As pontas dos dedos esfregam lentamente no meu cabelo.

“Meu coração está destroçado”, digo. “E estou tão feliz.

Você me faz tão feliz. Seu amor me deixou forte. Você me fez uma

pessoa melhor...” Soluços são como pequenas facas na minha

garganta, palavras tentando se esquivar ao seu redor. “Ser amada

por você, Jonah... é a maior honra da minha vida.”

Ele olha para mim, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto

pálido. “Deus, você... Tão linda”, ele sussurra. “Tão bonita. Não

quero parar de olhar para você... mas... cansado.”

“Durma”, digo, puxando o lençol. “Estarei aqui quando você

acordar. Eu vou estar aqui o tempo todo.”

Debruço-me sobre ele, beijo seus lábios suavemente, e

seguro seu rosto em minhas mãos. “Eu te amo.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

“Eu te amo, Kace. Te amo...” Seus olhos se fecham, e

dentro de um minuto, ele dorme.

Eu descanso minha cabeça dolorida na cama ao lado dele,

exausta além de qualquer coisa que já tinha conhecido. Sinto-me

vazia de tudo. Nenhuma alegria, nem dor, nem esperança e sem

arrependimento.

Deixo nenhuma palavra não dita.

Minha cabeça no quadril de Jonah, afundo no sono, onde

sonho que estou flutuando em um mar de vidro. Suspensa e sem

peso, beleza que me rodeia nas fitas coloridas e redemoinhos de

luz. Silêncio. Pacífico.

Feliz.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 46

jonah

Kacey...

Sem arrependimentos.

Apenas amor.

Só você.

Posso ver uma praia recuando sob um céu cheio de

estrelas. Milhões e milhões de estrelas. Milhões e milhões de

momentos. Todos eles com o nome dela.

Eu a amo mais do que amei alguém e sou amado em troca.

O reconhecimento está gravado em mim, trancado em meu

coração, e quando paro de lutar contra ela e deixo meus olhos se

fecharem...

Não posso mais ver a praia, mas sei que está lá.

Um vento sussurra, como um sopro. Minha última

respiração.

Eu te amarei para sempre.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

CAPÍTULO 47

kacey

Quatro dias depois...

Sento na cama, ainda usando meu vestido preto, embora o

funeral tenha acabado há muito tempo. Minha mão agarra um

lenço enrugado e úmido de lágrimas e enegrecido com rímel.

A partir dos pedaços que eu posso lembrar, foi um belo

funeral. Amigos de Carnegie vieram, juntamente com professores

e instrutores. Um representante da Chihuly Estúdio trouxe uma

escultura de vidro requintado de lírios brancos para a mãe de

Jonah e uma nota de condolências do próprio Dale. O mundo

tinha perdido um novo talento vibrante muito cedo, ele escreveu.

Um padre falou, Dena recitou um poema, e todos se

revezavam falando sobre Jonah: contando histórias engraçadas, a

partilha de memórias comoventes. Mais e mais, ouvi as pessoas

dizendo como ele as fez rir, como ele trouxe o melhor de todos.

Como sua crença neles os fez serem valentes. Eu acho que eu

também fui.

Depois, Beverly veio para onde Theo e eu ficamos juntos,

com uma pequena urna de bronze em suas mãos.

“No deserto, à noite, sob as estrelas”, ela diz, pressionando

a urna nas mãos de Theo. “É o que ele queria. Mas não consigo

fazer. Eu não posso...”

Eu não posso, penso, sentada sozinha na minha cama. Não

quero ficar aqui sem você. Preciso de você.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Apenas uma batida na minha porta me desperta e me

obriga a me mover. Tania do lado de fora, ainda em seu vestido

preto do funeral, com os olhos avermelhados. Em seus braços

está uma caixa de papelão.

“Eu não posso entrar”, ela diz. “Vou para Seattle amanhã e

ainda tenho uma tonelada de coisas para embalar.” Ela coloca a

caixa em minhas mãos. “Mas isto é para você.”

“O que é?”

“Jonah fez isso para você. Eu ajudei, mas ele fez o trabalho.

Deus, sua arte... Ele era um mestre. Ele soprou sua vida na sua

obra. Eu nunca vou trabalhar com alguém melhor que ele.”

Nós nos abraçamos em despedida, as duas rígidas com a

dor, sabendo que se demorássemos aqui, desmoronaríamos.

Fazemos planos para ver uma à outra, quando ela voltar de sua

entrevista. Se voltar.

Levo a caixa para o sofá e o coloco na minha mesa de

centro para abrir.

Dentro há uma esfera de vidro, do tamanho de um melão,

pesada e escura. Estrelas de cristal estão espalhadas em cores

azuis escuros e preto. Um planeta — vermelho, verde e preto —

paira no centro, cercado por redemoinhos e espirais de luz em

azul pálido que parecem possuir a sua própria iluminação. Um

pedaço do céu da noite preso em uma esfera.

“O universo”, murmuro, embalando a esfera no meu colo,

passando minhas mãos sobre sua superfície lisa. Sua rara beleza

prende minha respiração. Com medo de quebrar, procuro na

caixa de algum tipo de suporte para colocá-la.

Um bilhete está na parte inferior da caixa.

Cuidadosamente, coloco a esfera de lado e tiro o papel dobrado

com as mãos trêmulas. Meus olhos se enchem de lágrimas

quando vejo sua caligrafia. Toco as palavras, ouço sua voz

falando por trás de cada traço de caneta.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Kacey,

Se você está lendo isto, significa que eu estou (espero) em

algum restaurante celestial, enchendo minha cara de bacon e

batatas fritas, e bebendo cerveja de verdade. Quando eu terminar,

vou pagar ao garçom em rolos de fichas. Porque qualquer um pode

fazer um jackpot, certo? Você apenas tem que jogar.

E você tem que viver. Você me ensinou isso. Minha vida era

parada e fechada até você. Incolor e monótona, até você. Eu

mantive meu coração quebrado para mim, até que você veio e o

levou em suas mãos suaves e deu vida a ele. A mim.

Você me ensinou a encontrar a vida em cada momento. Você

curou meu coração, Kacey, quando nada mais podia.

Esta esfera de vidro e fogo é o mais perto que eu vou

conseguir chegar de mostrar o que você tem sido para mim. Tentei

colocar tudo o que somos e tudo o que sinto por você em um só

lugar. Mas capturar a enormidade do que você é, é impossível. Não

é o suficiente. Nada jamais será suficiente.

Você é um universo, Kacey.

Fiquei esperando encontrar o final do seu amor e da sua

beleza, o fim do seu coração generoso. Eu nunca consegui. E nunca

vou. Eu não sei como ou por que você me escolheu para amar, mas

escolheu. Você poderia ter me afastado e se salvado. Em vez disso,

você escolheu ficar, e assim me salvou. Esse é o meu legado: Eu te

amei e fui amado por você.

Estou em paz, e espero que Deus lhe dê a mesma alegria

que você me deu. Espero que o amor que temos supere a dor

quando eu me for.

Viva plenamente, cante alto. Partilhe a sua beleza com o

mundo e saiba que estarei olhando por você do outro lado.

Todo o meu amor para você, Kacey. Meu anjo, meu coração.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Seu Jonah.

Seguro a carta perto do meu coração, protegendo-a contra

as lágrimas pingando da borda do meu queixo.

Que o amor que temos supere a dor...

Sinto-me balançando a cabeça enquanto um sorriso se

espalha debaixo das minhas lágrimas. Se tivesse que fazer tudo

de novo, eu faria. Não mudaria um minuto, a não ser para dizer

mais cedo a Jonah que o amava e que estar com ele não era mais

uma escolha, assim como comer ou respirar.

“Sem arrependimentos, Jonah”, Digo a ele, com minha mão

deslizando sobre a peça de vidro. “E te amarei para sempre.”

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

EPÍLOGO

kacey

Theo nos leva para oeste, no coração do deserto em County

Road 20555. Nenhum farol de carro passa por nós. Nenhuma rua

ou luzes da cidade ou até mesmo a lua escurecida com o céu

cheio de estrelas. Não é o dossel de diamantes estrelados do

Great Basin, mas há centenas de pontinhos prateados na lona da

meia-noite acima de nós.

Ficamos em silêncio no carro através do terreno sinuoso,

colinas escuras ao nosso redor em todos os lados.

“Aqui parece ser bom”, Theo diz, enquanto os faróis

iluminam uma pequena parada de descanso com vista para o

deserto. À luz das estrelas, a terra é ondulante de formas

indistintas, estendendo-se por quilômetros.

Theo estaciona no acostamento de terra, em seguida, dá a

volta para abrir a porta do passageiro para mim. Seguro a urna

em meus braços, seu peso de bronze quente na minha pele, e

pesado. Lá fora, o vento sopra frio e cortante.

Os faróis da caminhonete projetam cones amarelos de luz

em torno de nós, brilhando junto a urna enquanto Theo a pega

suavemente dos meus braços. Nenhum de nós fala enquanto ele

remove a tampa e deixa o vento levar as cinzas. Pela luz da

caminhonete, observo o vento levantar as partículas para o céu,

onde são levadas em tufos — como fumaça — e, em seguida,

desaparecem.

F u l l T i l t # 1


E m m a S c o t t

Sinto-me sem amarras, como se o vento fosse me levar

também. Me levantando e me destruindo em um milhão de

pequenos pedaços jogados contra o céu.

Em seguida, sua mão se fecha ao redor da minha.

“Fique aqui”, Theo diz suavemente. Sinto sua pulsação

através da palma, quente e forte contra a minha, me impedindo

de levantar voo. Mantendo-me inteira.

Meus dedos se apertam ao redor dele enquanto olhamos em

direção à borda do universo, onde Jonah agora vive.

“Eu vou ficar.”

F u l l T i l t # 1

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