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Dependência Química - Revista Anônimos

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uando descobrimos que Juliano,<br />

“Qnosso filho, estava fumando maconha,<br />

nosso mundo caiu. Parece que eu e<br />

meu marido sabíamos o que estava por vir.<br />

Meu marido, mais enérgico e radical, queria<br />

chamar um resgate e levá-lo para uma<br />

clínica. Como toda boa codependente, não<br />

deixei. Pedi para ele deixar eu resolver.<br />

Fizemos um acordo verbal e ele se propôs<br />

a parar. Sossegamos um tempo, ou talvez,<br />

quisemos acreditar que as coisas seriam simples.<br />

Uma noite ele chegou em casa trazido<br />

por amigos, estava à beira de um coma alcoólico<br />

e tinha apenas 15 anos.<br />

Procuramos uma psicóloga, ele começou<br />

a fazer terapia. Nós também. Fomos todos<br />

indicados para procurar um grupo de apoio.<br />

Nós fomos, ele não. Começamos a pressionar.<br />

Ele dizia que ia, nós acreditávamos.<br />

Um dia achamos cocaína em seu quarto. Ele<br />

estava com apenas 17 anos. Daí pra frente,<br />

nossa vida passou como um raio. Até os seus<br />

18 anos tudo aconteceu. Ele passou a usar<br />

crack, foi preso, roubou em casa, tentou me<br />

agredir para obter a dinheiro para a droga.<br />

Nem parecia mais o “meu Juliano”.<br />

Porém, conforme evoluíamos em nossa<br />

trajetória no grupo de apoio, começamos<br />

a mudar comportamentos e tivemos a coragem<br />

de pedir para ele se afastar de nós,<br />

caso não aceitasse o tratamento. Com a<br />

prepotência característica dos dependentes<br />

de drogas no uso, ele resolveu sair de<br />

casa, certo de que poderia levar a vida<br />

daquela forma. Passamos as semanas mais<br />

difíceis de nossas vidas, imaginando onde<br />

ele estaria, enfrentando nossos medos de<br />

perdê-lo, de estarmos errados, mas, com<br />

4<br />

Minha história,<br />

sua história<br />

o apoio do grupo, ficamos firmes.<br />

Uma noite, ele bateu na porta. Chorava<br />

muito e pedia ajuda. Ligamos para companheiros<br />

de caminhada, agilizamos a internação<br />

e levamos Juliano para uma Comunidade<br />

Terapêutica. Deixá-lo naquele lugar só<br />

foi possível para mim porque eu já tinha o<br />

apoio do grupo, pois a dor era imensa. Onde<br />

foi que que errei? Por que comigo? Por que<br />

com ele? Será que vão tratá-lo bem? Estou<br />

fazendo certo? Não estamos exagerando?<br />

Não seria melhor tentar ajudá-lo em casa?<br />

Essas eram algumas das indagações que eu<br />

fazia na volta para casa, naquela estrada que<br />

parecia não ter fim, como a dor que eu sentia<br />

a cada quilômetro que me afastava do local.<br />

No grupo, nos fortalecemos. Na comunidade,<br />

encontramos o apoio necessário para<br />

nossas dúvidas e passamos a sentir mais segurança,<br />

a cada dia. Juliano ficou seis meses<br />

internado. A cada visita, uma nova família.<br />

Os comportamentos eram diferentes, as<br />

conversas, os planos. O amor adoecido havia<br />

se curado. Quando ele voltou para casa,<br />

reforçamos as nossas sessões com psicólogos,<br />

participações em grupos e terapia familiar.<br />

Hoje, Juliano está com 21 anos, está limpo<br />

há quase 3. Ele tem consciência de sua<br />

doença e está se esforçando muito, dedicando-se<br />

ao estudo, ao trabalho, à familia,<br />

à sua recuperação. Só por hoje, toda essa<br />

caminhada tem valido a pena e sei que sem<br />

o apoio desta rede de ajuda – equipe da comunidade,<br />

grupo de ajuda, psicólogos – não<br />

teríamos conseguido nada sozinhos”, G.,<br />

mãe de Juliano, um dependente químico<br />

em recuperação.

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