Edição Junho de 2012 - Versão em PDF - Revista Anônimos
Edição Junho de 2012 - Versão em PDF - Revista Anônimos
Edição Junho de 2012 - Versão em PDF - Revista Anônimos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ANÔNIMOS VIRTUAL ED 8 Pg Dupla:miolo Anonimos ed. 14.qxd 6/7/<strong>2012</strong> 15:32 Page 5<br />
Por Marco Leite<br />
A maria-mole (ou maria mole) é um doce típico<br />
brasileiro, feito com açúcar, claras <strong>em</strong> neve e gelatina<br />
incolor. Po<strong>de</strong>–se também usar o côco ralado para a cobertura.<br />
Depois <strong>de</strong> pronta fica mole, com a consistência<br />
esponjosa s<strong>em</strong>elhante a do marshmallow, mas não tão<br />
pegajosa. L<strong>em</strong>brei <strong>de</strong> comentar sobre este doce pois o<br />
reencontrei dia <strong>de</strong>sses <strong>em</strong> um passeio e porque estamos na<br />
época das festas juninas, quando ele é muito consumido<br />
nas celebrações <strong>de</strong> nossa cultura popular.<br />
Este doce foi criado <strong>em</strong> São Paulo, por Antonio<br />
Bergamo. Ele, um <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> italianos, pensou nisso<br />
na tentativa <strong>de</strong> aproveitar as claras <strong>de</strong> ovos, com o que<br />
conseguiu um “suspiro” e resolveu acrescentar gelatina à<br />
receita. Em seus testes teve a grata satisfação <strong>de</strong> notar que<br />
o doce, mesmo esfriando, não endureceu, ficou mole. Daí<br />
surgiu o nome maria-mole.<br />
Os leitores <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar surpresos com minha seção <strong>de</strong><br />
culinária <strong>de</strong> doces!<br />
É que este doce t<strong>em</strong> muito a ver com relação à minha<br />
caminhada <strong>de</strong> recuperação do comportamento.<br />
Qu<strong>em</strong> olha ou come uma maria-mole, <strong>em</strong> um primeiro<br />
momento, não sente prazer nenhum. É preciso saborear o<br />
doce para gostar. Ele <strong>de</strong>ve ser mastigado com calma, lentamente,<br />
para que se possa extrair o sabor do côco e a textura<br />
da gelatina.<br />
Em recuperação é assim mesmo. Muitas vezes a vida<br />
parece não ter gosto <strong>de</strong> nada, as coisas parec<strong>em</strong> não dar<br />
certo, e os objetivos parec<strong>em</strong> que não serão atingidos.<br />
Mas não é assim que acontece, é preciso paciência e<br />
perseverança para se chegar a pegar gosto por uma vida<br />
s<strong>em</strong> álcool e drogas. A maria-mole da recuperação precisa<br />
O gosto da maria-mole<br />
ser <strong>de</strong>gustada com calma. Mas, como todos sab<strong>em</strong>, um<br />
adicto não t<strong>em</strong> paciência para atingir seus propósitos. A<br />
falta <strong>de</strong> paciência gera uma intranquilida<strong>de</strong> e, por isso, ele<br />
não consegue atingir a parte mais doce <strong>de</strong> um caminha da<br />
recuperação.<br />
Durante muito t<strong>em</strong>po, minha vida esteve no início da<br />
maria-mole. Eu não tinha paciência e n<strong>em</strong> a ousadia <strong>de</strong><br />
chegar à doce paz <strong>de</strong> saborear a parte boa da minha caminhada.<br />
Hoje, parece que as coisas estão mais calmas e tenho a<br />
corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mudar e a paciência necessária para chegar aos<br />
meus objetivos. E graças a Deus tenho conseguido isso<br />
s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r o foco <strong>de</strong> uma vida correta.<br />
Como uma maria-mole b<strong>em</strong> mastigada, eu consegui<br />
pegar gosto pelas coisas <strong>de</strong> recuperação. Tirar as lições <strong>de</strong><br />
um simples doce a ser <strong>de</strong>gustado é uma grata surpresa,<br />
pois é assim mesmo. São nas pequenas coisas que tenho<br />
tirado as lições <strong>de</strong> uma vida melhor para mim e para os<br />
outros que me ro<strong>de</strong>iam.<br />
O gosto vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> como eu preparo minha<br />
expectativa. Se eu <strong>de</strong>cidir que vou gostar é o que vou fazer.<br />
Pois essa é uma <strong>de</strong>cisão que tomo todos os dias quando<br />
acordo.<br />
Estamos no fim do mês <strong>de</strong> junho e as festas juninas<br />
estão terminando, mas espero que pelo resto <strong>de</strong> minha<br />
vida tenham marias-moles... e que, se Deus me permitir, eu<br />
tenha a paciência necessária para <strong>de</strong>gustar a doçura <strong>de</strong> uma<br />
vida <strong>em</strong> recuperação.<br />
Marco Antônio Machado Leite<br />
Jornalista<br />
http://lampiaogaucho.blogspot.com/<br />
55<br />
Coluna do Marco