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Aspectos da lógica estoica e da lógica em Sêneca - FALE

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Belo Horizonte, nº 3, agosto de 2009<br />

ISSN 19833636<br />

pior”. 31. Alguns estoicos, a essa afirmação, assim respond<strong>em</strong>:<br />

o piloto fica pior por causa do mau t<strong>em</strong>po e <strong>da</strong> tormenta porque<br />

não consegue, como havia proposto, n<strong>em</strong> levar a cabo n<strong>em</strong><br />

manter seu curso; ele não fica pior <strong>em</strong> sua habili<strong>da</strong>de, ele o fica<br />

na execução <strong>da</strong> tarefa. Alguns peripatéticos replicam:<br />

“Portanto, a pobreza tornará pior inclusive o sábio, e também a<br />

dor ou qualquer outro mal s<strong>em</strong>elhante; não lhe arrebatará a<br />

virtude, mas atrapalhará sua execução”. 32. Essa seria uma<br />

afirmação correta se a condição do piloto e a do sábio não<br />

foss<strong>em</strong> diferentes. Pois, ao primeiro, não foi estabelecido que,<br />

na vi<strong>da</strong>, cumprisse s<strong>em</strong> exceção e com perfeição suas ações,<br />

mas que tudo fizesse <strong>da</strong> maneira correta. Ao piloto foi<br />

estabelecido que, <strong>em</strong> qualquer situação, conduzisse o navio até<br />

o porto. As artes são auxiliares, dev<strong>em</strong> cumprir o que<br />

promet<strong>em</strong>; a sabedoria é senhora e governadora. As artes<br />

serv<strong>em</strong> à vi<strong>da</strong>, a sabedoria é rainha. 53 33. Da minha parte, penso<br />

que se deve <strong>da</strong>r ain<strong>da</strong> outra resposta: n<strong>em</strong> a habili<strong>da</strong>de do<br />

piloto fica pior com qualquer mau t<strong>em</strong>po, n<strong>em</strong> seu próprio<br />

exercício. O piloto não te prometeu um bom êxito, e, sim, um<br />

trabalho eficaz e o conhecimento de dirigir o navio. Isso se<br />

torna mais evidente quanto mais acontecimentos fortuitos lhe<br />

surg<strong>em</strong> como obstáculo. Qu<strong>em</strong> pôde dizer “Netuno, nunca<br />

dirigi meu navio a não ser <strong>em</strong> linha reta”, usou de habili<strong>da</strong>de o<br />

suficiente. O mau t<strong>em</strong>po não impede o trabalho do piloto, mas<br />

seu bom êxito. 34. “E então?”, diz-se, “não causa prejuízo ao<br />

piloto essa situação que o impede de chegar ao porto, que torna<br />

seus esforços inúteis, que ora o faz retroceder, ora o retém e o<br />

desarma?” Não lhe causa prejuízo enquanto piloto, mas<br />

enquanto navegante; de outra forma ele não é piloto; não<br />

impede 54 <strong>em</strong> absoluto a habili<strong>da</strong>de de um piloto, mas a<br />

evidencia: pois, como diz<strong>em</strong>, “<strong>em</strong> mar tranquilo todo mundo é<br />

piloto”. Essas situações traz<strong>em</strong> <strong>da</strong>nos à <strong>em</strong>barcação, não a seu<br />

coman<strong>da</strong>nte – enquanto coman<strong>da</strong>nte. 35. De duas pessoas se<br />

compõe o piloto: uma, <strong>em</strong> comum com to<strong>da</strong>s as que<br />

<strong>em</strong>barcaram no navio e através <strong>da</strong> qual ele próprio é<br />

passageiro; outra, que lhe é própria: o piloto. O mau t<strong>em</strong>po lhe<br />

causa prejuízo enquanto passageiro, não enquanto piloto. 36.<br />

Ad<strong>em</strong>ais, a habili<strong>da</strong>de do piloto é um b<strong>em</strong> alheio: diz respeito<br />

aos que transporta, tal como a do médico aos que cura. O b<strong>em</strong><br />

comum é o do sábio: diz respeito àqueles com qu<strong>em</strong> vive e a<br />

ele próprio. Assim, talvez o piloto possa ser prejudicado, cujo<br />

serviço prometido a outros é impedido pelo mau t<strong>em</strong>po. 37. O<br />

sábio não é prejudicado pela pobreza, n<strong>em</strong> pela dor, n<strong>em</strong> pelas<br />

outras t<strong>em</strong>pestades <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. 55<br />

53 Cf. Ep. 53, 9.<br />

54 Sc. a situação que impede o piloto de chegar ao porto, sobre a qual se discorria.<br />

55 Quod malum est, nocet (...) non ab aliis t<strong>em</strong>pestatibus uitae. Por questões de espaço, suprimimos o<br />

trecho completo <strong>em</strong> latim (minha tradução).<br />

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